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Texto Complementar Disciplina: Recreação Professor: Adriana Morbin Pais que dão mais espaço aos filhos não devem ser castigados CLEMENS WERGIN DO "NEW YORK TIMES" 28/03/2015 02h00 Compartilhar26 Mais opções Na primeira manhã que passou nos EUA, no ano passado, minha filha saiu para percorrer seu bairro novo –sozinha, sem sequer avisar a mim ou à minha mulher. É claro que ficamos preocupados: tínhamos acabado de nos mudar de Berlim, e ela tinha apenas oito anos. Mas, quando ela voltou para casa, percebemos que não tínhamos motivos para nos apavorar. Orgulhosa, ela contou a nós e à sua irmã mais velha que tinha descoberto um parque pequeno quase ao lado e feito amizade com algumas pessoas que tinham cachorros. Ela tinha tomado posse do novo ambiente e estava feliz por nos ensinar coisas que não sabíamos. Quando essa história é mencionada em conversas com amigos americanos, a reação mais comum é de descrença educada. A maioria das pessoas fica chocada com a ideia de seus filhos andarem sem supervisão adulta. Em Berlim, quando morávamos no centro da cidade, nossas meninas andavam de metrô sozinhas. Iam sozinhas ao playground e andavam sozinhas até a aula de piano, um trajeto de um quilômetro. Aqui, num subúrbio sossegado de Washington, com trânsito tranquilo, elas nem sequer encontram outras crianças na rua com quem brincar. Um estudo feito pela Universidade da Califórnia em Los Angeles constatou que as crianças americanas passam 90% de seu tempo livre em casa, com frequência diante da TV ou jogando videogames. Mesmo quando as crianças são fisicamente ativas, são vigiadas por adultos. Esse tipo de estreitamento do mundo da criança aconteceu em todo o mundo desenvolvido. Mas na Alemanha, de modo geral, aceita-se muito mais que os pais deixem seus filhos correr alguns riscos. Para este pai alemão aqui, a impressão é que a classe média americana levou a proteção paterna a um novo nível, enquanto o governo exerce o papel de superbabá. Tome-se o caso dos irmãos Rafi e Dvora Meitiv, de dez e seis anos, de Silver Spring, Maryland, apreendidos pela polícia recentemente porque seus pais ousaram deixar que voltassem do parque sozinhos, andando. Por tentar promover a autonomia de seus filhos, o Serviço de Proteção Infantil do Estado considerou os pais culpados de "negligência infantil não comprovada". Algo que uma geração atrás era normal –as crianças gozarem de certa medida de autonomia– hoje é visto quase como um crime. Os pais americanos de hoje tiveram uma infância completamente diferente. Pesquisadores da Universidade da Virgínia recentemente entrevistaram cem pais e mães. Jeffrey Dill, um dos pesquisadores, escreveu: "Quase todos os entrevistados recordaram uma infância de liberdade quase irrestrita, em que podiam andar de bicicleta e percorrer bosques, ruas e parques sem estarem na companhia dos pais". Quando se trata de seus próprios filhos, contudo, as mesmas pessoas se mostraram apavoradas com a ideia de lhes permitir uma parcela minúscula da liberdade que eles próprios tiveram. Muitas delas falaram do medo de sequestros, apesar de os índices de criminalidade terem caído. Em 1999, o dado mais recente disponível, apenas 115 crianças no país foram vítimas de sequestro cometido por um desconhecido. A maioria avassaladora foi levada por um membro de sua família. No mesmo ano, 2.931 menores de 15 anos morreram em acidentes de carro, como passageiras. O desenvolvimento motor é prejudicado quando a maior parte do tempo livre da criança é passado sentado em casa, em vez de correndo ao ar livre. O desenvolvimento emocional também é prejudicado. "Estamos privando as crianças de oportunidades de aprender a assumir o controle de suas próprias vidas", escreve o professor e pesquisador Peter Gray, do Boston College. Para ele, isso aumenta "as chances de elas sofrerem futuramente de ansiedade, depressão e várias outras desordens mentais" cuja incidência vem subindo nas últimas décadas. Gray enxerga as brincadeiras arriscadas de crianças, ao ar livre e sem supervisão adulta, como uma maneira de aprender a controlar emoções fortes como raiva e medo. Não sou psicólogo, como Gray, mas sei que não estarei presente para sempre para proteger minhas filhas dos desafios que a vida lhes reserva. Logo, quanto antes elas desenvolverem a maturidade necessária para se orientarem na vida, melhor. Quando deixamos as crianças ter mais controle sobre suas vidas, elas aprendem a ter mais confiança em sua própria capacidade. Não é fácil aprender a equilibrar o desejo de proteger os filhos com o desejo de promover sua autonomia. Mas os pais que preferem manter os filhos sob controle deveriam refletir sobre as consequências dessa escolha. No mínimo, os pais que quiserem dar mais espaço a seus filhos não deveriam ser castigados. Casos como o dos Meitiv reforçam a ideia de que filhos são objetos frágeis a serem protegidos sempre e que os pais que pensam de outro modo são irresponsáveis ou culpados de negligência criminosa. Além de superar os impulsos protetores naturais sobre nossas filhas, minha mulher e eu agora também temos que levar em conta a possibilidade de sermos punidos pelas autoridades. E pensávamos que tínhamos vindo ao país da liberdade. http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2015/03/1609278- pais-que-dao-mais-espaco-aos-filhos-nao-devem-ser-castigados.shtml Apesar de redução nos riscos, pais têm medo de criar filhos com liberdade DO "NEW YORK TIMES" 31/01/2015 02h02 Compartilhar12 Mais opções Lenore Skenazy, mãe de duas crianças, foi apelidada de "a pior mãe dos EUA" depois de contar num jornal que deixava seu filho mais novo, de nove anos, andar de metrô sozinho em Nova York. A crítica que sofreu, incluindo uma ameaça de prisão por colocar menores em risco, intensificou seu desejo de incentivar pais a deixarem seus filhos com a liberdade para desenvolver a autoconfiança e a perseverança. Um dos resultados foi o livro "Free Range Kids: How to Raise Safe, Self-Reliant Children (Without Going Nuts With Worry)" ["Crianças soltas: como criar filhos seguros e autoconfiantes (sem pirar de preocupação)", inédito no Brasil]. O outro é o Projeto Free Range Kids e uma série de TV em 13 episódios, intitulada "World's Worst Mom" ("a pior mãe do mundo"). Nela, Skenazy resgata filhos da superproteção dos pais, orientando as crianças a fazerem atividades antes proibidas e mostrando como elas se saem. O casal Danielle e Alexander Meitiv, de Washington, adota o mesmo estilo de Skenazy. Recentemente, eles viraram notícia por permitirem que seus filhos Rafi, 10, e Dvora, 6, fossem sozinhos a pé até um parque local. As crianças foram abordadas pela polícia, e a família está sendo investigada por uma instituição social. No primeiro episódio de "World's Worst Mom", a mãe de Sam, 10, não o deixa andar de bicicleta ("Ela tem medo de que eu caia e me machuque"), cortar o bife nem praticar esportes como o skate. O apelo de Sam: "Só quero fazer as coisas sozinho". Numa entrevista, Skenazy disse que "depois de sofrermos uma lavagem cerebral com todas as histórias que ouvimos, há um medo de que toda vez que você não está supervisionando diretamente o seu filho você está colocando a criança em perigo". A divulgação dada a determinados crimes gerou temor exagerado quanto aos riscos que as crianças enfrentam ao andarem ou brincarem sozinhas por aí. Mas o psicólogo Peter Gray, do Boston College, disse que "a taxa real de estranhos que sequestram ou molestam crianças é muito pequena". "É mais provável que isso aconteça nas mãos deum parente ou amigo da família. As estatísticas não mostram nenhum aumento nos perigos da infância. No mínimo houve uma redução", afirmou. Gray disse que "se as crianças não puderem assumir riscos rotineiros, ficarão menos propensas a lidar com os riscos reais quando eles ocorrem. O consultório de orientação da sua faculdade observou que os chamados de emergência duplicaram nos últimos cinco anos, "principalmente para problemas que as crianças costumavam resolver sozinhas", como serem xingadas por colegas. No passado, as crianças inventavam suas próprias brincadeiras e assim adquiriram habilidades importantes. "Em jogos improvisados", disse Gray, "as crianças fazem as regras, negociam e descobrem o que é justo para manter todos felizes. Elas desenvolvem a criatividade, a empatia e a capacidade de ler a mente dos outros jogadores". Gray vincula o aumento da depressão e ansiedade infantis às limitações nas brincadeiras. "Os jovens de hoje estão menos propensos a ter um senso de controle sobre suas próprias vidas e mais propensos a se sentirem vítimas das circunstâncias", disse ele. Como disse Skenazy, "se os pais realmente acreditam que as crianças devem ser supervisionadas a cada segundo, então elas não podem ir a pé para a escola, brincar ou pegar suas bicicletas e ir atrás de uma aventura". http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2015/01/1583162- apesar-de-reducao-nos-riscos-pais-tem-medo-de-criar-filhos-com- liberdade.shtml Brincar para aprender a viver Por Gisela Wajskop - atualizada em 22/12/2015 17h32 Onde quer que se vá, hoje em dia, discute-se sobre a importância da brincadeira para o desenvolvimento infantil. É sabido que, até os 6 anos, o brincar tem valor inestimável no âmbito da educação não formal e afetiva, principalmente no que se refere às interações humanas e ao desenvolvimento da linguagem. Diversos são os significados para definir o brincar, muitas vezes confundidos com comportamentos inatos, herdados naturalmente e para os quais não é necessária nenhuma intervenção adulta. Alguns dizem que, assim como aparece no bebê, vai embora como crescimento. Outros o concebem como atividades físicas diversas, sempre espontâneas e necessárias ao gasto de energia de crianças aprisionadas em grandes cidades e pequenos apartamentos. Mais do que a constatação de que brincar é importante, estudos atuais têm demonstrado que, quando os familiares adultos (pais, mães e outras pessoas de contato próximo) brincam com seus bebês, estes brincam por mais tempo do que quando o fazem sozinhos. Por isso, ao serem apresentados, desde o nascimento, a situações como essas, desenvolvem habilidades comunicativas, aprendem a resolver problemas e ficam com outras crianças por mais tempo, interagindo. Por meio de gestos, sons e uso de objetos variados, as crianças entram, pela primeira vez, em contato com a linguagem humana. A gestualidade usada nesses momentos, assim como as onomatopeias ou os sons que imitam animais, máquinas e movimentos contribuem para que elas compreendam e adentrem, muito cedo, nessa lógica. E como fazer isso? * Converse com seu filho, oferecendo a linguagem oral como ferramenta de mediação entre as pessoas. Encoraje-o a brincar ao oferecer pequenos objetos para que ele observe, possibilitando focar a atenção e desenvolver a própria curiosidade. * Ajude a empilhar, sentir, cheirar, amassar, pintar e manusear materiais diversos, estimulando-o a fazer sozinho ou com outras crianças. * Ofereça objetos domésticos, como panelas, carrinhos, baldes e tecidos, e estimule a criar espaços e a se fantasiar para a imitação e o faz de conta. * Crie espaços diferentes para se esconder ou se aninhar, como cantos e cabanas. Com o tempo, a presença da família se fará dispensável e a brincadeira será aprimorada, construindo similaridade com a linguagem teatral. Mães e pais, ao observarem seus filhos brincando, ficarão surpresos e contentes quando os virem se colocar no lugar de outras pessoas, assumindo características com a ajuda de chapéus e fantasias e com falas estereotipadas de maneira diferente da usual para se expressarem, experimentarem ou comunicarem uma ideia ou uma necessidade. Essa prática pode se constituir em uma atividade rica de significados, além de ajudar na construção das linguagens oral e escrita (que vai acontecer mais para frente). Envolvendo-se na brincadeira dos filhos, desde o início, para gradativamente se afastar dela, é possível sentir prazer em ter oferecido situações nas quais eles vão se tornando criativos, curiosos e colaborativos. Gisela Wajskop é mãe de Felipe, 32 anos, e Marcelo, 18, é socióloga e especialista em educação infantil, com diversas pesquisas sobre o brincar. Aqui, ela fala sobre os desafios da educação das crianças. E-mail: redacaocrescer@gmail.com http://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Educar-para-a-Vida/noticia/2015/12/brincar-para- aprender-viver.html
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