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Ética na Saúde Profª. Beatriz Acampora Aula 7 Ética e epidemias Em 2017, o Brasil vivenciou um surto de febre amarela: Alguns dados relevantes: O casos da febre amarela silvestre ocorrem, geralmente, em maior quantidade na floresta amazônica, em pessoas não vacinadas; Em 2009 o vírus afetou populações de áreas com baixas coberturas vacinais, como as regiões: Centro-Oeste, Sudeste e Sul do país. 02 Ética e epidemias Em 2016, três países relataram casos de febre amarela silvestre: Brasil, Peru e Colômbia. Em Angola, uma epidemia de FA urbana (transmitida por Aedes aegypti) acometeu o país a partir de dezembro/2015, com 373 óbitos e mais de 800 casos confirmados. 03 Ética e epidemias A origem do vírus é africana. O primeiro relato de epidemia de uma doença semelhante à febre amarela é de um manuscrito maia de 1648 em Yucatan, México. Na Europa, a febre amarela já havia se manifestado antes dos anos 1700, mas foi em 1730, na Península Ibérica, que se deu a primeira epidemia, causando a morte de 2.200 pessoas. 04 Ética e epidemias No Brasil, a febre amarela apareceu pela primeira vez em Pernambuco, no ano de 1685, onde permaneceu durante 10 anos. 05 Ética e epidemias Qual é a diferença entre a febre amarela silvestre (FAS) e febre amarela urbana (FAU)? É O VETOR. Na cidade a doença é transmitida pelo Aedes aegypti, o mesmo mosquito que transmite a dengue. Na mata, os mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes transmitem o vírus. Desde 1942 (quando a doença ocorreu no Acre), o Brasil não registra casos de febre amarela urbana. 06 Ética e epidemias Como a doença é transmitida? A febre amarela silvestre é transmitida através da picada de mosquitos Haemagogus e Sabethes, que vivem em matas e vegetações à beira dos rios. Quando o mosquito pica um macaco doente, torna-se capaz de transmitir o vírus a outros macacos e ao homem. 07 Ética e epidemias Como a doença pode ser evitada? A única forma de evitar FAS é através da vacinação. A vacina está disponível durante todo o ano nas unidades de cuidados de saúde de forma gratuita e deve ser administrada pelo menos 10 dias antes do deslocamento para áreas de risco. A vacina é válida por dez anos. 08 Ética e epidemias A febre amarela silvestre é contagiosa? A doença não é contagiosa, ou seja, não há transmissão de pessoa a pessoa, entre de animais a pessoas. É transmitida somente pela picada de mosquitos infectados com o vírus da febre amarela. Fonte: Ministério da Saúde, 2017. 09 Ética e epidemias Vídeo sobre febre amarela com Dr. Drauzio Varela https://www.youtube.com/watch?v=KoHm4I_epdQ 10 Ética e epidemias Ao longo da história doenças se espalharam e mataram milhares de pessoas. Bactérias, vírus e outros microorganismos já causaram estragos tão grandes à humanidade quanto as mais terríveis guerras, terremotos e erupções de vulcões. Veremos agora algumas dessas doenças: Fonte: OMS e Fundação Oswaldo cruz 11 Ética e epidemias PESTE NEGRA 50 milhões de mortos (Europa e Ásia) - 1333 a 1351 Contaminação: transmitida para o homem pela pulga de ratos contaminados. CÓLERA Centenas de milhares de mortos - 1817 a 1824 Contaminação – Por meio de água ou alimentos contaminados. 12 Ética e epidemias TUBERCULOSE 1 bilhão de mortos - 1850 a 1950 Contaminação – Altamente contagiosa, transmite-se de pessoa para pessoa, através das vias respiratórias. VARÍOLA (erradicada desde 1980) 300 milhões de mortos - 1896 a 1980 Contaminação – o vírus era transmitido de pessoa para pessoa, geralmente por meio das vias respiratórias. 13 Ética e epidemias GRIPE ESPANHOLA 20 milhões de mortos - 1918 a 1919 Contaminação – Propaga-se pelo ar, por meio de gotículas de saliva e espirros. MALÁRIA 3 milhões de mortos por ano - Desde 1980 Contaminação – Pelo sangue, quando a vítima é picada pelo mosquito Anopheles contaminado com o protozoário da malária. 14 Ética e epidemias AIDS - 22 milhões de mortos - Desde 1981 Contaminação – O vírus HIV é transmitido através do sangue, do esperma, da secreção vaginal e do leite materno Destrói o sistema imunológico, deixando o organismo frágil a doenças causadas por outros vírus, bactérias, parasitas e células cancerígenas. Não existe cura. Coquetéis de drogas inibem a multiplicação do vírus, mas não o eliminam do organismo. 15 Ética e epidemias Qual a diferença entre Endemia, Epidemia e Pandemia? Endemia: É uma doença localizada em um espaço limitado denominado “faixa endêmica”. Ou seja, é qualquer doença que ocorre apenas em um determinado local ou região, não atingindo nem se espalhando para outras comunidades. Exemplo: a febre amarela sempre foi considerada endêmica, pois localizava-se principalmente na região amazônica. 16 Ética e epidemias Epidemia: É uma doença infecciosa e transmissível que ocorre numa comunidade ou região e pode se espalhar rapidamente entre as pessoas de outras regiões, originando um surto epidêmico. Isso pode ocorrer por causa de um desequilíbrio (mutação) do agente transmissor da doença ou pelo surgimento de um novo agente (desconhecido). Exemplos: Gripe aviária, Malária, AIDS, Sarampo etc 17 Ética e epidemias Pandemia: é uma epidemia que atinge grandes proporções, podendo se espalhar por um ou mais continentes ou por todo o mundo, causando inúmeras mortes ou destruindo cidades e regiões inteiras. Exemplos: A gripe espanhola se espalhou por quase todo o mundo e matou milhões de pessoas. 18 Ética e epidemias O equilíbrio entre os direitos pessoais e a justiça social É preciso considerar os sujeitos e suas manifestações de vontade pessoal; Levar em conta as condições históricas e temporais inerentes aos sujeitos; As possibilidades de atuação são sempre dependentes das condições do momento da ação. 19 Ética e epidemias A Declaração Universal dos Direitos Humanos (adotada na Assembleia Geral das Nações Unidas – ONU – em 1948) e nossa Constituição de 1988, estão fundamentados nas garantias individuais, coletivas e transpessoais. Os direitos individuais incluem a vida, a privacidade, a liberdade e a não-discriminação, entre outros. 20 Ética e epidemias Todos estes direitos devem ser preservados. Contudo, em situações excepcionais como de uma epidemia ou pandemia, estes direitos individuais podem ser suplantados pelos direitos coletivos. Em condições normais, os atendimentos de saúde devem refletir direitos pessoais e posturas que podem não ser consideradas viáveis e oportunas em condições especiais. 21 Ética e epidemias A saúde da população em larga escala é um bem maior do que a manutenção da liberdade de locomoção individual se esta implicar em risco aos demais. A liberdade de ir e vir, por exemplo, podem ser suprimidos se a pessoa doente precisar ser posta em regime de quarentena ou isolamento para não contaminar outras pessoas. 22 Ética e epidemias Controle epidemiológico - comunicação compulsória das informações de pacientes acometidos por doença contagiosa às autoridades sanitárias (não se considera quebra da privacidade individual). Em situações epidêmicas - a manutenção dos direitos individuais fica sempre condicionada à preservação dos direitos coletivos. 23 Ética e epidemias Pânico Efeito social em situações epidêmicas que acomete a população em geral. O desconhecimento sempre nos faz superdimensionar os riscos de uma situação. O profissional de saúde, precisa atuar de modo a contribuir para a restauração da calma e da ordem pública. 24 Ética e epidemias A melhor forma de lidar com estas situações e tranquilizar as pessoas é através do esclarecimento das dúvidas mais frequentes e divulgação de informações claras, objetivas e em linguagem acessível ao público leigo. 25 Ética e epidemias Princípio da Precaução Hans Jonas, filósofo alemão contemporâneo (falecido em 1993) - importantes contribuições à Bioética: Expõe a necessidade de que os efeitos de nossas ações precisam ser sempre compatíveis com a permanência da vida humana; Um dos conceitos mais atuais e fortemente influenciados pelas ideias de Jonas é o Princípio da Precaução. 26 Ética e epidemias Relação entre o risco existente em uma ação e as medidas necessárias para prevenir os efeitos negativos advindos desta ação. Na ausência de absoluta certeza científica sobre os riscos ou danos envolvidos em uma ação, é necessário que tomemos medidas eficazes preventivas de evitação de todas as possibilidades possíveis de danos. 27 Ética e epidemias Alocação de recursos em Saúde Sempre se tornam escassos em relação à demanda em condições epidêmicas. Instalações sanitárias, equipamentos, medicamentos, recursos humanos especializados, precisam ter seus critérios de distribuição e priorização claramente definidos. 28 Ética e epidemias O critério individual considera o benefício que o tratamento resultará no sujeito doente; o critério coletivo implica na prevenção ou imunização de sujeitos ainda não contaminados, para que estes não venham a desenvolver a doença. 29 Ética e epidemias Classificação da tipologia dos recursos a serem utilizados: Um recurso a ser alocado pode ser classificado quanto a dois grandes critérios: ser divisível ou não, ser homogêneo (aquilo que diz respeito a um único elemento) ou heterogêneo (composto por elementos diferentes). 30 Ética e epidemias Medicamentos a serem distribuídos para um grupo de pacientes com a mesma patologia é um recurso homogêneo e divisível, na medida em que todos irão dividir o estoque do mesmo remédio. 31 Ética e epidemias Já o estoque de sangue, é um exemplo de recurso que, apesar de ser divisível, pois muitos utilizarão o mesmo estoque, é heterogêneo, na medida em que nem todos terão necessidade dos mesmos componentes. Os leitos hospitalares são recursos indivisíveis homogêneos, pois apenas um paciente pode usufruir do mesmo recurso que todos necessitam por igual. 32 Ética e epidemias Um órgão a ser implantado em um paciente é um recurso indivisível e heterogêneo, na medida em que cada órgão atenderá a apenas um paciente e nem todos os pacientes podem se beneficiar do mesmo órgão. 33 Ética e epidemias Critérios de priorização para utilização destes recursos: Igualdade de Acesso: duas correntes se um recurso não pode ser acessível a todos que dele necessitam, então não pode ser ofertado a ninguém; escolha através de sorteios, filas de espera e outras formas aleatórias de definição de beneficiados. 34 Ética e epidemias Benefício Provável: critério que considera a probabilidade que cada indivíduo em particular ou um grupo de indivíduos tem em se beneficiar do recurso que está sendo disputado. Efetividade: critério orientado para o futuro - os recursos escassos devem ser alocados para aqueles pacientes que possam fazer o melhor uso para si ou para os outros, como, por exemplo, a priorização a agentes de saúde e demais profissionais de serviços essenciais. 35 Ética e epidemias Merecimento: critério voltado para o passado - os recursos devem ser alocados prioritariamente para pessoas que já demonstraram efetiva contribuição para a sociedade. Necessidade: vincula a disponibilização de recursos escassos àqueles que deles mais necessitam em uma condição presente: estado de saúde mais grave. Obs: O mais importante é evitar a falta de ética e as injustiças. 36* Beatriz Acampora e Silva de Oliveira Drd. Saúde Pública (UA-PY), Mestre em Cognição e Linguagem pela UENF/RJ (2006), Pós-graduada em Arteterapia em Educação e Saúde - FAMESC / ISEC (2013), Pós-graduada em Hipnose Clínica, Organizacional e Hospitalar SPEI - IBHA (2010), Pós-graduada em Psicologia Humanista Existencial pela UNESA (2006), Pós-graduada em Cultura, Comunicação e Linguagem pela FAFIC (1998), Graduada em Psicologia pela UNESA (2005), Graduada em Comunicação Social - Jornalismo - FAFIC (1996). Professora da área de saúde da Universidade Estácio de Sá desde 2006. Diretora do ISEC. Autora de vários livros pela Amazon e Wak Editora. Link Lattes: http://lattes.cnpq.br/8083783572894169 Ética e epidemias Obrigada!
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