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Disciplina Linguística: Funcionalismo Coordenador da Disciplina Prof.ª Márcia Teixeira Nogueira 6ª Edição Copyright © 2010. Todos os direitos reservados desta edição ao Instituto UFC Virtual. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, dos autores. Créditos desta disciplina Realização Autor Prof.ª Márcia Teixeira Nogueira Sumário Aula 01: Pressupostos Teóricos Funcionalistas ...................................................................................... 01 Apresentação .......................................................................................................................................... 01 Tópico 01: Concepções de língua e gramática ....................................................................................... 03 Tópico 02: Competência comunicativa .................................................................................................. 05 Tópico 03: A polissemia do termo função ............................................................................................. 06 Tópico 04: Sistematicidade e funcionalidade ........................................................................................ 08 Tópico 05: Integração entre sintaxe, semântica e pragmática ............................................................... 09 Aula 02: Funcionalismo Praguense ......................................................................................................... 11 Tópico 01: Funções da linguagem ......................................................................................................... 11 Tópico 02: Perspectiva funcional da frase ............................................................................................. 15 Tópico 03: Dinamismo comunicativo .................................................................................................... 17 Tópico 04: Níveis de análise da frase ..................................................................................................... 18 Aula 03: Funcionalismo Britânico ........................................................................................................... 20 Tópico 01: Concepções de Língua e Gramática em Halliday ................................................................ 20 Tópico 02: As Relações Entre Sistema e Função ................................................................................... 21 Tópico 03: Gramática e Texto ............................................................................................................... 25 Aula 04: Funcionalismo Holandês ........................................................................................................... 29 Tópico 01: Um modelo teórico de Gramática Funcional ....................................................................... 29 Tópico 02: A descrição da expressão linguística na Gramática Funcional ............................................ 32 Tópico 03: A Gramática Discursivo-Funcional ..................................................................................... 36 Tópico 04: Níveis e camadas ................................................................................................................. 38 Aula 05: Funcionalismo Norte-Americano ............................................................................................. 42 Tópico 01: Os Princípios de Iconicidade e Marcação ............................................................................ 42 Tópico 02: Transitividade e Relevo Discursivo ..................................................................................... 45 Tópico 03: Estrutura Argumental e Fluxo de Informação ..................................................................... 49 Tópico 04: Gramaticalização ................................................................................................................. 51 APRESENTAÇÃO MULTIMÍDIA Ligue o som do seu computador! OBS.: Alguns recursos de multimídia utilizados em nossas aulas, como vídeos legendados e animações, requerem a instalação da versão mais atualizada do programa Adobe Flash Player©. Para baixar a versão mais recente do programa Adobe Flash Player, clique aqui! [1] PALAVRA DA COORDENADORA DA DISCIPLINA DE LINGUÍSTICA: FUNCIONALISMO VERSÃO TEXTUAL Olá, pessoal! Meu nome é Márcia Teixeira Nogueira. Sou professora conteudista e coordenadora da disciplina Linguística: Funcionalismo. Sou professora da Universidade Federal do Ceará desde 1991. Tenho atividades de ensino, pesquisa e orientação na Graduação em Letras e na Pós-Graduação em Lingüística, nos cursos de Mestrado e Doutorado, e também coordeno o Grupo de Estudos em Funcionalismo (UFC/CNPq). Bem, a disciplina Linguística: Funcionalismo, que será ofertada neste semestre, prevê o estudo de um dos grandes paradigmas da ciência Linguística: o Funcionalismo. Nela, vocês farão um estudo abrangente do Funcionalismo em Linguística. Aprenderão sobre os pressupostos teórico-metodológicos desse paradigma, as suas principais vertentes, e também as possibilidades de aplicação do Funcionalismo à descrição e à análise da língua portuguesa. Essa disciplina é muito importante para sua formação linguística, como professores e pesquisadores. Ela poderá orientá-los na investigação da relação existente entre os aspectos formais (fonológicos, morfológicos, sintáticos) e funcionais (semânticos e pragmáticos) associados ao uso efetivo da linguagem. Iniciaremos a disciplina com uma discussão em torno de alguns pressupostos teóricos funcionalistas, tais como as concepções de língua, gramática, função etc. Em seguida, faremos um estudo das vertentes funcionalistas (praguense, britânica, holandesa e norte- americana), distinguindo quais os principais postulados teóricos e metodológicos, os aspectos programáticos, a natureza e o nível de formalização das teorias, quais os principais fenômenos linguísticos investigados etc. Em cada uma dessas vertentes, estaremos sempre avaliando as possibilidades de aplicação à descrição e à análise linguística, bem como ao ensino de língua. LINGUÍSTICA: FUNCIONALISMO AULA 01: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS FUNCIONALISTAS 1 Saibam que os objetivos centrais da disciplina Linguística: Funcionalismo são: 1. Conhecer os pressupostos e conceitos teórico-metodológicos do Paradigma Funcionalista e suas principais vertentes. 2. Analisar e descrever, como aplicação do funcionalismo linguístico, alguns aspectos sintáticos, semânticos e pragmáticos de fenômenos linguísticos do português. 3. Discutir a aplicação do Funcionalismo à aula de análise linguística. Olha, pessoal, a disciplina Linguística: Funcionalismo é mesmo muito rica. E, por conta da quantidade e da complexidade de conteúdos novos, sugerimos que vocês estudem, de modo regular, os conteúdos de cada aula, fazendo as leituras recomendadas, participando dos fóruns e chats planejados, resolvendo os exercícios propostos. Estejam atentos e sempre conectados às orientações dos tutores. Não guardem suas dúvidas, nem acumulem tarefas para o final do semestre. Tenho certeza de que vocês terão um excelente desempenho e proveito nessa disciplina! Desejo-lhes muito sucesso! Grande abraço a todos. FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.adobe.com/products/flashplayer/ 2. http://www.denso-wave.com/en/ Responsável: Prof.ª Márcia Teixeira Nogueira Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 2 TÓPICO 01: CONCEPÇÕES DE LÍNGUA E GRAMÁTICA Enquantoas gramáticas estruturais descrevem as estruturas gramaticais, tais como os fonemas, morfemas, e as gramáticas formais projetam modelos formais de linguagem, UMA GRAMÁTICA FUNCIONAL ANALISA A ESTRUTURA GRAMATICAL EM CORRELAÇÃO COM A SITUAÇÃO COMUNICATIVA, O QUE COMPREENDE O PROPÓSITO DE CADA EVENTO DE FALA, SEUS PARTICIPANTES E O CONTEXTO DISCURSIVO. Para o funcionalista, a situação comunicativa motiva, restringe, explica, ou, de outro modo, determina a estrutura gramatical (NICHOLS, 1984). No paradigma funcionalista, concebe-se A LÍNGUA COMO INSTRUMENTO DE INTERAÇÃO SOCIAL ENTRE OS SERES HUMANOS, UTILIZADO COM A INTENÇÃO DE ESTABELECER INTERAÇÕES COMUNICATIVAS. Essa concepção não reduz a língua a um mero instrumento pronto para o uso. Mais complexo do que qualquer outro produto cultural, a língua varia e muda (conforme a região, a idade, a escolaridade, o estrato social, o contexto discursivo etc), pelo uso que dela fazem os indivíduos em sociedade. Numa visão baseada no uso da língua, a gramática é vista como organização cognitiva da experiência de alguém com a língua. Aspectos da experiência (por exemplo, a frequência de uso de certas construções ou exemplos particulares de construções) têm representação na memória dos indivíduos, o que pode ser evidenciado no conhecimento de sintagmas convencionalizados, bem como na variação e mudança linguísticas. Assim, exemplos particulares de construções podem adquirir suas próprias características pragmáticas, semânticas e fonológicas (BYBEE, 2006). SIMON DIK O funcionalista investiga por que uma expressão linguística é utilizada de uma determinada maneira, em dado contexto, tendo em vista as funções comunicativas que ela realiza (DIK, 1989). HALLIDAY A língua é um sistema para produção de significados; é, portanto, um sistema semântico. E a relação entre os significados e a LINGUÍSTICA: FUNCIONALISMO AULA 01: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS FUNCIONALISTAS 3 formulação desses significados não é vista como arbitrária. Assim, entende-se que a forma da gramática relaciona-se naturalmente aos significados que estão sendo codificados (HALLIDAY, 1985). TALMY GIVÓN Para cumprir propósitos mais gerais, de que nem sempre se tem consciência, o sistema linguístico tem natureza adaptativa, pois é sensível às pressões do uso. (GIVÓN, 2001) FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.denso-wave.com/en/ Responsável: Prof.ª Márcia Teixeira Nogueira Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 4 TÓPICO 02: COMPETÊNCIA COMUNICATIVA O Funcionalismo caracteriza-se por considerar a competência comunicativa no uso da língua. Para Dik (1997), o usuário assume papel central numa abordagem funcionalista, uma vez que a investigação deve voltar-se para o intuito de explicitar como falantes e destinatários comunicam-se uns com os outros, de forma eficiente, por meio da expressão linguística. Ao considerar a competência comunicativa, e não apenas linguística, dos usuários da língua, uma gramática funcional procura investigar as relações entre as expressões linguísticas e as capacidades: a) linguística, de produzir e interpretar corretamente as expressões linguísticas em diferentes situações de comunicação; b) epistêmica, por meio da qual o usuário constrói, mantém e explora uma base de conhecimento organizado; c) lógica, que possibilita o emprego de regras de raciocínio para a extração de novos conhecimentos a partir de conhecimentos prévios; d) perceptual, mediante a qual o usuário percebe seu ambiente e dele deriva conhecimentos; e) social, que determina o uso da linguagem em conformidade com o interlocutor, a situação e os objetivos comunicativos. Esse pressuposto teórico-metodológico tem grande importância para as análises funcionalistas. Com efeito, o entendimento ou desentendimento (ou desentendimento) entre os indivíduos nas interações verbais não depende só dos sentidos que são codificados pela expressão linguística, mas dos conteúdos que são socialmente compartilhados (portanto, não precisam de explicitação), das informações que podem ser inferidas ou percebidas nos gestos, olhares, expressões faciais. Uma teoria linguística funcionalista é uma teoria das expressões linguísticas, mas é uma teoria das expressões linguísticas em uso. E, no uso efetivo da linguagem, as expressões não garantem por si mesmas, a eficácia da interação entre os indivíduos. FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.denso-wave.com/en/ LINGUÍSTICA: FUNCIONALISMO AULA 01: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS FUNCIONALISTAS Responsável: Prof.ª Márcia Teixeira Nogueira Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 5 TÓPICO 03: A POLISSEMIA DO TERMO FUNÇÃO A essência do funcionalismo é que a língua encontra fins comunicativos. E o que se comunica não é apenas um conteúdo (intelectual, cognitivo), mas também a natureza e o propósito do evento de fala como um fenômeno cultural e cognitivo. Segundo Nichols (1984), o termo função envolve um conjunto bastante variado de acepções, todas elas significando, de um modo geral, alguma dependência de algum dado elemento estrutural com elementos linguísticos de outra ordem ou domínio (estrutural ou não). Todas essas acepções têm a ver com o papel exercido por um dado elemento estrutural no todo mais amplo da linguagem e da comunicação. Convém destacar aqui alguns sentidos do termo função citados pela autora. 1 - FUNÇÃO COMO PROPÓSITO 2 - FUNÇÃO COMO CONTEXTO 3 - FUNÇÃO COMO RELAÇÃO 4 - FUNÇÃO COMO SIGNIFICADO 1 - FUNÇÃO COMO PROPÓSITO Uma das acepções mais comuns, ligada aos objetivos comunicativos gerais dos usos da linguagem. Exemplos: Funções referencial, emotiva, conativa, fática, metalinguística e poética. O uso do imperativo na frase Venha cá! Tem função conativa ou apelativa. 2 - FUNÇÃO COMO CONTEXTO Indica como a língua reflete os contextos de discurso. Pode ser: a) em relação ao evento, indicando as categorias que indiciam os papéis do discurso e participantes. Exemplos: Falante, ouvinte, polidez. No enunciado Eu li o texto, o pronome de primeira pessoa Eu indicia o enunciador. b) em relação ao texto, indicando as categorias que indiciam a organização do discurso, progressão textual. Exemplos: Pedro leu o texto. Mas ele não gostou. O pronome ele e o apagamento do objeto direto na segunda oração têm função de coesão textual. 3 - FUNÇÃO COMO RELAÇÃO Indica uma relação (contribuição, papel) de um elemento estrutural com uma unidade de ordem superior. É uma das acepções mais utilizadas e conhecidas. LINGUÍSTICA: FUNCIONALISMO AULA 01: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS FUNCIONALISTAS 6 a) Na configuração da sentença, a relação entre uma forma e outra forma recebe o nome de função sintática. Exemplo: Na oração Pedro fugiu, Pedro tem a função sintática de sujeito. b) Na configuração semântica de uma predicação, a relação entre as formas e os significados que elas desempenham recebe o nome de função semântica (caso ou papel temático). Exemplo: Na predicação Pedro fugiu, Pedro tem a função semântica de agente. c) Na configuração pragmática de um enunciado, a relação entre as formas e o contexto discursivo (tipo de informação, interlocutores, propósitos etc) recebe o nome de função pragmática. Exemplo: No enunciado Pedro fugiu, Pedro tem função pragmática de tema. 4 - FUNÇÃO COMO SIGNIFICADO Indica o significado ou tipo de significado com respeito à pragmática dos propósitos e contextos. Exemplo: Na frase Pode chover amanhã, o verbo poder indica possibilidade. FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.denso-wave.com/en/ Responsável: Prof.ª Márcia Teixeira Nogueira Universidade Federal do Ceará -Instituto UFC Virtual 7 TÓPICO 04: SISTEMATICIDADE E FUNCIONALIDADE No paradigma funcional, a descrição da língua se faz pela investigação das relações sistemáticas entre formas e funções, considerando-se os contextos de uso. Em Halliday (1985), tem-se que: 1. Todos os elementos da língua são construídos como configurações orgânicas de funções. 2. A língua, como qualquer outro sistema semiótico, é interpretada como um sistema de significados (redes de opções engrenadas), acompanhados por formas por meio das quais esses significados podem ser atualizados. O modelo sistêmico-funcional de Halliday concebe a gramática de uma língua como uma rede de estruturas sistêmicas que representam escolhas significativas determinadas pelas diferentes funções da linguagem. Em outras palavras, gramática é uma codificação das opções que produzem sentido. A gramática codifica, através de uma rede sistêmica, os significados produzidos pelas opções que derivam dos diferentes propósitos no uso da linguagem. Para Halliday, uma gramática funcional é essencialmente semântica, e os componentes fundamentais do significado são componentes funcionais, relacionados aos propósitos de entender o ambiente (função ideacional), de interagir com o outro (função interpessoal) e de dar relevância a esses dois outros propósitos (função textual). FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.denso-wave.com/en/ LINGUÍSTICA: FUNCIONALISMO AULA 01: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS FUNCIONALISTAS Responsável: Prof.ª Márcia Teixeira Nogueira Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 8 TÓPICO 05: INTEGRAÇÃO ENTRE SINTAXE, SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA Os estudos funcionalistas se caracterizam pelo interesse em investigar a relação entre FORMA e FUNÇÃO no uso da língua, com prioridade para a FUNÇÃO. Por esse motivo, uma característica importante do paradigma funcionalista consiste na proposta de integração dos componentes de análise, ou seja, dos domínios da Sintaxe, da Semântica e da Pragmática. Segundo Dik (1989), a Semântica deve ser vista como instrumental em relação à Pragmática, e a Sintaxe, como instrumental em relação à Semântica. No modelo teórico da Gramática Funcional, a relação entre os diferentes componentes da organização linguística tem a Pragmática como componente que comanda os estudos sobre os aspectos sintáticos e semânticos. Isto significa compreender a FUNÇÃO como condicionadora da FORMA. OLHANDO DE PERTO Colocar a Pragmática como componente que comanda a análise linguística não significa descartar os aspectos sintáticos, nem apenas acrescentar a consideração dos aspectos pragmáticos às descrições isoladas dos aspectos sintáticos e semânticos. A integração dos componentes de análise, como pressuposto teórico- metodológico do Funcionalismo, prevê a observação da SINTAXE COMO CODIFICAÇÃO DOS CONTEÚDOS SEMÂNTICOS E DISCURSIVOS. ATIVIDADE DE PORTFÓLIO 1. Como o Funcionalismo se caracteriza quanto à concepção de língua? 2. Qual o interesse do linguista funcionalista na descrição e análise linguística? 3. O Funcionalismo entende que o uso da língua não depende somente de uma competência linguística, mas de uma competência comunicativa. Explique como as capacidades que constituem a competência comunicativa podem ser consideradas numa análise funcionalista da expressão linguística. 4. Explique como você entende a integração entre Sintaxe, Semântica e Pragmática no Funcionalismo linguístico. FÓRUM No paradigma funcionalista, a gramática é investigada nos contextos de uso efetivo da língua, ou seja, em situações concretas de interação social. A partir dessa afirmação, reflita e discuta com seus colegas sobre a relação entre Discurso e Gramática. LINGUÍSTICA: FUNCIONALISMO AULA 01: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS FUNCIONALISTAS 9 CHAT Compare essas duas concepções de sistema linguístico. Reflita e discuta sobre as diferenças entre essas duas concepções. I. É um sistema autônomo, abstrato, homogêneo e estável. II. É um sistema maleável, adaptativo, heterogêneo e sensível às pressões do uso. FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.denso-wave.com/en/ Responsável: Prof.ª Márcia Teixeira Nogueira Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 10 TÓPICO 01: FUNÇÕES DA LINGUAGEM Os estudos linguísticos desenvolvidos pelo chamado Círculo Linguístico de Praga são reconhecidos como um “estruturalismo funcional”. Opondo-se aos neogramáticos e assumindo postulados saussurianos, os integrantes do Círculo também concebiam a língua como dotada de uma estrutura, mas destacaram o caráter teleológico (de finalidade) do sistema linguístico. Nas Teses do grupo, registram-se os primeiros usos dos termos função e funcional, e uma concepção de língua como sistema funcional, em que dois aspectos, o estrutural (sistêmico) e o funcional, são postos lado a lado. Nas palavras de Fontaine (1978, p.22), lemos como a língua era concebida pelos participantes do Círculo. A língua deve ser concebida como um ‘sistema funcional’. Ela possui caráter de finalidade como os demais produtos de atividade humana, quer dizer, os meios por ela utilizados o são em vista de um fim. ‘A língua é um sistema de meios de expressão adequados a um objetivo’. Tal objetivo pode ser a comunicação ou a expressão. Em ambos os casos, a intenção do locutor apresenta-se como a explicação ‘mais natural’ em análise linguística: essa intenção do locutor é que fundamenta o discurso. Fontaine (1978, p.22) A palavra função, bastante comum na produção ligada ao funcionalismo praguense, tem ora a acepção finalista (teleológica) de meio, fim, instrumento; ora um significado indicial, comum na descrição linguística, de traço distintivo, expressivo. Na consideração das funções dos meios linguísticos, tendo em vista as necessidades de comunicação e expressão dos indivíduos, ficaram conhecidas as propostas classificatórias das funções externas da linguagem. Para Bühler, as funções da linguagem, em correlação com os integrantes de uma situação comunicativa, são três: a) de representação (Darstellung) - ligada ao contexto, ao referente; b) de expressão (Ausdruck) - ligada ao emissor de uma mensagem; c) de apelo (Appell) - ligada ao destinatário de uma mensagem. Também a partir da consideração do foco em cada um dos elementos de um esquema de comunicação, Jakobson assume as três funções já definidas LINGUÍSTICA: FUNCIONALISMO AULA 02: FUNCIONALISMO PRAGUENSE 11 por Bühler e acrescenta outras três. Segundo Jakobson, as principais funções no uso da linguagem são seis. Veja exemplos de cada uma delas. A) - REFERENCIAL - CENTRADA NO REFERENTE OU CONTEXTO - NOTÍCIAS POLÍCIA FEDERAL APREENDE 10 KG DE COCAÍNA NO AEROPORTO A droga, escondida em bicicletas, seria remetida à Serra Leoa, na África, para, posteriormente, abastecer o mercado europeu 19 Jan 2010 - 11h15min Cerca de 10kg de cocaína foram apreendidos na madrugada desta segunda-feira, 18, em Fortaleza. O material foi encontrado pela Polícia Federal, no Aeroporto Internacional Pinto Martins. A droga, escondida em bicicletas, seria remetida à Serra Leoa, na África, para, posteriormente, abastecer o mercado europeu. A apreensão foi feita por agentes da Delegacia de Repressão à Entorpecentes (DRE). O titular da DRE, delegado Gleidston Araújo, deve apresentar os detalhes da apreensão logo mais, à tarde, na sede da Superintendência da Polícia Federal, no bairro de Fátima, em Fortaleza. Redação O POVO Online com informações do repórter Diego Lage B) EMOTIVA - CENTRADA NO REMETENTE. POEMAS E MENSAGENS EM BLOGS O que sinto... O que sinto e porque sinto este instinto… Que meremete a ti a cada momento, Que me invade e ocupa Permanentemente o pensamento! O que sinto… E porque sinto esta dependência… Que me toma, Que me faz sentir desenfreadamente a tua ausência!? É tão forte… Algo que enlouquece! Algo que constantemente na minha mente estremece… Que para a realidade me desperta, Que o meu simples ser completa… Não sei… porém… Se o soubesse… não o sentia! E o que sei…é que o sinto! Sinto-o profundamente… Sinto-o perdidamente… Por ti… só por ti eu sinto! Este sentimento… Que vai para além Da minha capacidade de expressão! 12 Que me devolve o sentido E me faz perder a razão! Só tu… Só tu me fazes voltar a sentir, sorrir, querer, desejar, amar… Só tu me fazes voltar a viver! És o meu primeiro… O meu último Amor! Publicado por patypinheiro às 09:24 (http://patypinheiro.blogs.sapo.pt [1]) C) CONATIVA - CENTRADA NO DESTINATÁRIO GANHE DINHEIRO EM POUCOS DIAS!!! GANHE DINHEIRO EM POUCOS DIAS!!! Se você procura uma oportunidade de ganhar dinheiro na Internet de forma rápida e segura. A solução para seus problemas financeiros está aqui! Acesse agora mesmo o site e confira esse fantástico sistema de fazer dinheiro...Essa é a sua grande oportunidade. NÃO PERCA TEMPO! SAO JOSE DO RIO PRETO - SP Fonte: http://www.dindimania.com/102 [2] D) FÁTICA – CENTRADA NO CONTATO (PARA ESTABELECER, MANTER OU SUSPENDER O CONTATO) Expressões de saudação como Alô! Oi! Olá! Expressões que pedem ou fornecem retorno conversacional, tais como: Certo? Certo. Né? Tá? Expressões de despedida, como Tchau! Até logo! E) METALINGUÍSTICA - CENTRADA NO PRÓPRIO CÓDIGO LINGUÍSTICO Exemplo: “Solecismo é uma inadequação na estrutura sintática da frase com relação à gramática normativa do idioma, ou seja, são erros Gramaticais”. Fonte: Wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Solecismo [3]) Definições de termos em dicionários e enciclopédias, explicações definidoras, reformulações. H) POÉTICA - ORIENTADA PARA A MENSAGEM O Cometa Olavo Bilac Um cometa passava... Em luz, na penedia, Na erva, no inseto, em tudo uma alma rebrilhava; Entregava-se ao sol a terra, como escrava; Ferviam sangue e seiva. E o cometa fugia... Assolavam a terra o terremoto, a lava, A água, o ciclone, a guerra, a fome, a epidemia; Mas renascia o amor, o orgulho revivia, Passavam religiões... E o cometa passava. 13 E fugia, riçando a ígnea cauda flava... Fenecia uma raça; a solidão bravia Povoava-se outra vez. E o cometa voltava... Escoava-se o tropel das eras, dia a dia: E tudo, desde a pedra ao homem, proclamava A sua eternidade ! E o cometa sorria... FONTES DAS IMAGENS 1. http://patypinheiro.blogs.sapo.pt 2. http://www.guis.com.br/funcoes/clique.php? codanu=21571&site=http://www.dindimania.com/102 3. http://pt.wikipedia.org/wiki/Solecismo 4. http://www.denso-wave.com/en/ Responsável: Prof.ª Márcia Teixeira Nogueira Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 14 TÓPICO 02: PERSPECTIVA FUNCIONAL DA FRASE Perspectiva funcional da sentença e dinamismo comunicativo são duas noções ligadas ao Funcionalismo de Praga. O Círculo Linguístico de Praga dedicou especial atenção ao estudo da sentença. Todavia, contrariando a prática de análise formal da frase, um dos integrantes do Círculo, Mathesius, decompôs a frase em duas unidades comunicativas: • tema (dado), o ponto de partida que enuncia o que é conhecido pelo interlocutor, seja pelo compartilhamento geral, seja pelo contexto precedente; • e núcleo (rema/novo), que constitui o elemento com informação nova sobre o tema. Existem diferentes tipos de tema. Alguns temas indicam um personagem conhecido ou uma circunstância de tempo ou lugar, por exemplo; e algumas frases podem ser vistas como destituídas de tema, tais como as orações existenciais que introduzem uma narrativa (Era uma vez uma princesa...). Para Mathesius, o tema ou ponto de partida do enunciado não coincidia necessariamente com o início da oração, embora isso seja muito frequente. Orientado por uma perspectiva funcionalista, Mathesius distingue uma ordem objetiva na frase em que o tema se encontra no início; e uma ordem subjetiva, quando, numa ordem inversa, o locutor apressa-se pelo desejo de conceder uma informação nova, antes mesmo da informação conhecida. Os estudos sobre a articulação tema-rema voltaram-se, sobretudo, para a investigação dos meios de expressão da Perspectiva Funcional da Sentença, tais como a entonação e a ordem de palavras, e o emprego dessa noção à análise de diferentes tipos de textos ficou amplamente conhecido como progressão temática ou como estratégias de tematização. Combettes (1977) cita alguns exemplos de progressão temática nos textos. 1. TEMATIZAÇÃO LINEAR LINGUÍSTICA: FUNCIONALISMO AULA 02: FUNCIONALISMO PRAGUENSE 15 EXEMPLO Pedro comprou uma casa. A casa tem um grande quintal. No quintal, havia muitas árvores... 2. TEMA CONSTANTE EXEMPLO Pedro juntou algumas economias, comprou uma casa e está muito feliz. 3. TEMAS DERIVADOS (HIPERTEMA) EXEMPLO A festa foi muito animada. A música tocava sem parar, os convidados conversavam à vontade e a aniversariante estava muito feliz. FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.denso-wave.com/en/ Responsável: Prof.ª Márcia Teixeira Nogueira Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 16 TÓPICO 03: DINAMISMO COMUNICATIVO O conceito de dinamismo comunicativo está ligado, sobretudo, ao nome do linguista checo Firbas. Por esse conceito, entende-se que os elementos linguísticos contribuem em medida diferente com o processo de comunicação. Isso significa que os constituintes da frase distribuem-se com diferentes graus de relevância comunicativa. Ao tratar da relevância comunicativa dos constituintes oracionais, os funcionalistas praguenses revelam o interesse em tratar a sentença como uma peça de comunicação, e não apenas como uma estrutura formal. Como já se disse, o tema estava associado à informação dada, isto é, à informação compartilhada pelo emissor e pelo destinatário em um processo de comunicação. Ele era, portanto, o elemento mais baixo numa escala de dinamismo comunicativo, já que não representava o núcleo do interesse em comunicar algo. OLHANDO DE PERTO Como veremos nas aulas seguintes, muitas propostas, inspiradas nesse importante parâmetro pragmático da informação, buscam estabelecer relações entre a estrutura de constituintes da sentença e o fluxo de informação. FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.denso-wave.com/en/ LINGUÍSTICA: FUNCIONALISMO AULA 02: FUNCIONALISMO PRAGUENSE Responsável: Prof.ª Márcia Teixeira Nogueira Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 17 TÓPICO 04: NÍVEIS DE ANÁLISE DA FRASE A sintaxe funcional desenvolvida pelo Círculo Linguístico de Praga acrescenta à clássica divisão da sentença em sujeito e predicado, a articulação tema-rema. Verificou-se, portanto, que a oração deveria ser analisada em diferentes níveis, com aplicação de critérios distintos. Essa consideração dos níveis de segmentação da frase foi desenvolvida por autores mais recentes inspirados na Escola de Praga, tais como Firbas, Danes e Combettes. Segundo Combettes (1977), para evitar confusões na análise da frase, é necessário distinguir-se três níveis de organização: I. O nível da estrutura gramatical (sintático) II. O nível da estrutura semântica (semântico) III. O nível da organização temática e contextual (pragmático) Numa perspectiva funcionalista, essa separação, apenas de natureza metodológica, não implica a autonomia dos níveis, mas, ao contrário, permite que se identifique a influênciade um sobre o outro. No nível da estrutura gramatical, identificam-se as funções sintáticas de sujeito, objeto, adjunto adverbial recorrendo-se a regularidades formais relativas, por exemplo, à concordância. No nível da estrutura semântica, identificam-se as funções semânticas relativas aos papéis na cena descrita pela oração, tais como agente, paciente, instrumental, locativo. No nível de organização temática e contextual, observa-se a distribuição da informação relativa ao processo de comunicação, identificando-se o tema (informação conhecida pelo interlocutor) e rema (informação nova veiculada). Ilustremos esses três níveis na análise da oração A criança colheu flores em um parque. Oração A CRIANÇA COLHEU FLORES EM UM PARQUE. Nìvel I Sujeito Verbo Objeto direto Adjunto Nível II Agente Ação Paciente Locativo Nível III Tema Rema Se, em outro contexto, a oração fosse comunicada na ordem No parque, uma criança colheu flores, teríamos: Oração NO PARQUE UMA CRIANÇA COLHEU FLORES. Nìvel I Adjunto Sujeito Verbo Objeto direto Nível II Locativo Agente Ação Paciente LINGUÍSTICA: FUNCIONALISMO AULA 02: FUNCIONALISMO PRAGUENSE 18 Nível III Tema Rema Se, em outro contexto, tivéssemos a voz passiva, As flores foram colhidas por uma criança em um parque, analisaríamos assim: Oração AS FLORES FORAM COLHIDAS POR UMA CRIANÇA EM UM PARQUE. Nìvel I Sujeito Verbo Complemento agente da Passiva Adjunto Nível II Paciente Ação Agente Locativo Nível III Tema Rema Procedendo à análise da sentença nesses três níveis, é fácil perceber que nem sempre há correspondência entre uma função sintática e uma função semântica ou pragmática. Desse modo, nem sempre o sujeito é “aquele que pratica a ação”, isto é, o agente; e nem sempre o sujeito é “aquele sobre o qual se fala”, ou seja, o tema. FÓRUM A linguagem cumpre diferentes funções na vida dos indivíduos. Para você, qual é a função da linguagem mais importante? É a expressão do pensamento? É a interação social? Reflita e discuta com seus colegas sobre esse tema. FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.denso-wave.com/en/ Responsável: Prof.ª Márcia Teixeira Nogueira Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 19 TÓPICO 01: CONCEPÇÕES DE LÍNGUA E GRAMÁTICA EM HALLIDAY Halliday (1985) filia-se ao Funcionalismo linguístico e, com os seguintes argumentos, justifica porque sua gramática é de natureza funcional. 1. É uma gramática funcional, porque se trata de uma investigação de como a língua é usada. É, portanto, uma gramática “natural”. 2. É uma gramática funcional, porque os componentes de significado são componentes funcionais. O componente ideacional relaciona-se com a função de entender o ambiente e falar de experiências; o componente interpessoal diz respeito à função de agir sobre o outro; e o componente textual relaciona-se à função instrumental de dar relevância e materialidade às funções anteriores. 3. É uma gramática funcional, porque cada elemento na língua é explicado pela referência a sua função no sistema linguístico como um todo. Desse modo, todos os elementos da língua são construídos como configurações orgânicas de funções. Halliday afirma que o termo sintaxe está associado a gramáticas formais, o que leva à interpretação da língua como sistema de formas. Mas, para o funcionalista, a língua é antes um sistema de significados acompanhados por formas por meio das quais esses significados podem ser atualizados. A proposta do linguista é de uma teoria sistêmico-funcional do significado como escolha, por meio da qual a língua, como qualquer outro sistema semiótico, é interpretada como redes de opções engrenadas que os falantes podem fazer. Vale ressaltar que, numa perspectiva funcionalista, assume-se que as opções disponíveis em uma língua para a produção dos sentidos são histórica e culturalmente construídas, estando sujeitas à variação e mudança. FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.denso-wave.com/en/ LINGUÍSTICA: FUNCIONALISMO AULA 03: FUNCIONALISMO BRITÂNICO Responsável: Prof.ª Márcia Teixeira Nogueira Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 20 TÓPICO 02: AS RELAÇÕES ENTRE SISTEMA E FUNÇÃO No modelo sistêmico-funcional de Halliday, a gramática de uma língua é entendida como uma rede de estruturas sistêmicas (interligadas) que representam as escolhas significativas (porque produzem significado) determinadas pelas diferentes funções da linguagem. Em outras palavras, a gramática codifica, através de uma rede sistêmica, os significados produzidos pelas opções que derivam dos diferentes propósitos no uso da linguagem. Ou seja, a gramática de uma língua é a codificação das escolhas que produzem os sentidos na vida dos indivíduos de uma cultura. A metafunção Experiencial diz respeito à interpretação e à expressão de nossa experiência. Está, portanto, relacionada ao uso da língua para representação de nossa experiência não apenas com o mundo externo, mas também com o mundo interno, pensamentos, crenças, sentimentos. Essa representação se faz pelo acionamento do sistema de transitividade. Se, nas gramáticas tradicionais, a transitividade consiste numa propriedade dos itens (verbos, substantivos, adjetivos) de implicarem ou não a presença de complementos, a transitividade é tratada por Halliday como a realização de escolhas entre tipos de processos (representados por elementos verbais), participantes (em geral, grupos nominais) e circunstâncias (geralmente, grupos adverbiais com caráter opcional). Para Halliday, há seis tipos de processos: material, mental, relacional, comportamental, verbal e existencial. OS PROCESSOS MATERIAIS OS PROCESSOS MENTAIS OS PROCESSOS RELACIONAIS OS PROCESSOS COMPORTAMENTAIS OS PROCESSOS VERBAIS OS PROCESSOS EXISTENCIAIS Os PROCESSOS MATERIAIS representam nossa experiência no mundo exterior, ações que, para serem realizadas no mundo físico, demandam algum tipo de energia. São os processos do fazer. Os participantes de tais LINGUÍSTICA: FUNCIONALISMO AULA 03: FUNCIONALISMO BRITÂNICO 21 processos são, em geral, Ator, Meta, Escopo e Beneficiário. Ator é aquele que faz a ação. Meta é aquele para quem o processo é direcionado. É o participante diretamente afetado pela ação do processo material. Escopo é o participante que complementa a ação, especificando-a, sem ser afetado por ela. Beneficiário é aquele que se beneficia, de alguma forma, da ação verbal. Os processos mentais representam experiências em nosso mundo interior, ligadas à imaginação, ao pensamento e à emoção. São os processos do sentir, que incluem processos de percepção (tais como ouvir, ver, perceber); de afeto (como amar, odiar, gostar, agradar etc); e de cognição (tais como conhecer, saber, pensar, compreender, imaginar etc). Nesse tipo de processo, os participantes são o Experienciador, aquele que experimenta um sentir, e o Fenômeno, isto é, o fato que é percebido, sentido ou compreendido. Os processos relacionais representam significados ligados à identificação e à classificação. Servem para caracterizar (atributivos) ou identificar (identificativos) as entidades. Nos processos relacionais atributivos, faz-se a atribuição de uma qualidade, que se atualiza como um participante - o Atributo, a outro participante - o Portador. Já nas orações identificativas, faz-se a identificação, ou definição, de uma entidade - a Característica, por meio de um termo definidor ou identificador - o participante Valor. Os processos comportamentais encontram-se em posição intermediária entre os processos materiais e os mentais, e dizem respeito a ações do nosso mundo interior que sãoexteriorizadas. Tais processos representam comportamentos humanos, o que inclui tanto atividades mentais (olhar, ouvir) como verbais (conversar, discursar). Apresentam, necessariamente, um participante consciente, o Comportante, e, opcionalmente, um participante Fenômeno. Os processos verbais estão na fronteira entre os processos mentais e os relacionais e, por meio da linguagem, estabelecem relações simbólicas, construídas na consciência humana. Os processos verbais referem-se aos verbos que expressam o dizer, tais como informar, comunicar, afirmar, perguntar etc. Os participantes desse tipo de processo são o Dizente, aquele que diz, comunica; o Receptor, participante opcional para quem o processo verbal se dirige, e Verbiagem, o participante que codifica o que é dito ou comunicado. Os processos existenciais estão entre os processos relacionais e materiais e se relacionam com qualquer tipo de fenômeno que é reconhecido como existente. Esses processos se atualizam com apenas um participante, o Existente, introduzido no texto, geralmente, pelos verbos haver e existir. No quadro a seguir, encontra-se uma síntese dos processos e participantes do sistema de Transitividade proposto por Halliday. 22 Vejamos a seguinte análise da oração: (1) Pedro consertou a cadeira. Pedro consertou a cadeira Ator Processo Material Meta Note que as opções que fazemos no sistema de Transitividade são opções de representação semântica, ou seja, de produção de sentidos. Portanto, mesmo que a oração (1) ficasse na voz passiva (A cadeira foi consertada por Pedro), o participante Pedro ainda seria interpretado como Ator, e a cadeira, Meta. Sob a perspectiva da metafunção Experiencial, a sentença é vista como um processo (reflexivo, perceptivo) de representação de ações, eventos, processos de conscientização e relações. A metafunção Interpessoal é a que nos habilita a participar da situação de fala, usando a linguagem para expressar um julgamento pessoal, uma atitude e para estabelecer, nas relações com o interlocutor, um determinado papel comunicativo (perguntar, declarar, ordenar etc). Ela se realiza por meio do sistema de Modo, que organiza a sentença em dois constituintes - Modo Oracional e Resíduo. O Modo Oracional é constituído por dois elementos: Sujeito, a quem a responsabilidade pela proposição é atribuída; e Finito, elemento responsável pelas relações temporais e modais da proposição. O Resíduo é composto por três elementos: o Predicador, o Complemento e os Adjuntos. Vejamos um exemplo desses elementos na oração a seguir: (2) Pedro pode vender a cadeira na feira. Pedro pode vender a cadeira na feira Modo Oracional Resíduo Sujeito Finito Predicador Complemento Adjunto 23 Sob o ponto de vista da metafunção Interpessoal, a sentença é vista como um ato de fala que determina as relações interpessoais, a permuta de papéis em interações retóricas (falante/ouvinte), em asserções, perguntas, ofertas e comandos etc. A Metafunção Textual está relacionada à organização da mensagem. É ela que nos habilita a criar um texto. Os sistemas de Tema e de Informação estão associados à metafunção textual, respondendo pelas relações dentro de um enunciado ou entre ele e a situação. No componente textual da gramática funcional de Halliday, a estrutura temática (Tema e Rema) e a estrutura de Informação e Foco (Dado e Novo) consistem em recursos estruturais relacionados à estruturação da frase como uma mensagem. O sistema de informação não é exclusivo da frase, uma vez que, ao contrário do sistema de Tema e Rema, ele tem o seu próprio domínio, que é a unidade de informação. Dessa forma, a organização da informação pode ser vista tanto no nível da frase, como no nível do texto. O Tema é o ponto de partida da oração como mensagem, identificando a respeito de que ela trata. Rema é o elemento que desenvolve o Tema. Note que, em Halliday, Tema e Rema não se confundem com a distinção entre informação Dada (compartilhada, de algum modo, pelos interlocutores); e Nova (informação não disponível para o interlocutor). Ainda no componente textual da gramática funcional, encontra-se o conceito de coesão textual. Diferentemente das noções de Tema e Informação, a coesão consiste em recursos não-estruturais do discurso, responsáveis pela organização semântica do texto, no que diz respeito às relações que não dependem da estrutura da frase. A coesão são as relações semânticas por meio das quais a interpretação de um item depende de outro que integra o mesmo texto e se estabelece mediante o emprego de referenciações e repetições, sequenciações e junções. Vejamos os exemplos (3) e (4): 3. Pedro consertou a cadeira. 4. Quem consertou a cadeira? Apenas na oração (3), o Tema (Pedro) é também uma informação Dada. FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.denso-wave.com/en/ Responsável: Prof.ª Márcia Teixeira Nogueira Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 24 TÓPICO 03: GRAMÁTICA E TEXTO A oração pode ser vista, ao mesmo tempo, como representação da experiência no mundo físico ou mental (Experiencial), como ato de fala (Interpessoal) e como mensagem, organizando o fluxo discursivo e criando continuidade (Textual). Segundo o Princípio da Multifuncionalidade, Halliday sustenta que um item é interpretado como funcional não isoladamente, mas relativamente a todo o sistema linguístico, ou seja, seu funcionamento é analisado com respeito às diferentes funções que cumpre nas diferentes construções nas quais ele pode atuar. Aplicando-se tal princípio à investigação do funcionamento de um item, devemos considerá-lo relativamente aos diferentes níveis linguísticos em que atua do texto ao sintagma, no cumprimento das diferentes funções da linguagem. É esse tipo de investigação que constitui a chave para uma interpretação funcional da linguagem, já que as unidades da língua, em qualquer nível, segundo Halliday, são configurações orgânicas das funções ideacional, interpessoal e textual. A análise do funcionamento de um item consiste, portanto, na investigação em torno da realização que um item representa das opções codificadas em cada um dos sistemas da língua, em diferentes níveis gramaticais. Vimos que a proposta de Halliday é de uma teoria sistêmico-funcional do significado como escolha. Em cada momento de interação verbal, seja na fala ou na escrita, são as escolhas que os indivíduos fazem entre as opções disponíveis no sistema linguístico que produzem os sentidos dos textos. Para Halliday, um texto é uma unidade semântica, não uma unidade gramatical. Mas, segundo o linguista, os significados são realizados por meio de expressões e, sem uma teoria das expressões, isto é, sem uma gramática, não há como explicitar a interpretação de alguém sobre os significados de um texto. Por meio de uma gramática de natureza funcional, a análise linguística pode revelar não apenas o que um texto significa, mas por que um texto significa o que ele significa, tendo em vista as escolhas feitas pelo produtor desse texto. Uma análise das opções linguísticas orientada por uma gramática funcional pode avaliar também em que medida um texto atinge efetivamente, ou não, os seus propósitos. Halliday defende que uma gramática orientada para o discurso precisa ser funcional e semântica, com as categorias explicadas como a realização de padrões semânticos. A gramática funcional, segundo o funcionalista, deve LINGUÍSTICA: FUNCIONALISMO AULA 03: FUNCIONALISMO BRITÂNICO 25 ser, ao mesmo tempo, uma gramática do sistema e uma gramática do texto, já que a principal razão para se estudar o sistema linguísticoé lançar luz sobre o discurso. LEITURA COMPLEMENTAR Para ampliar seus conhecimentos sobre o Funcionalismo de Halliday e a Linguística sistêmico-funcional, sugerimos a leitura dos textos a seguir. A transitividade em Português (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.) O Tema: caracterização e realização em português (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.) ATIVIDADE DE PORTFÓLIO LEIA O TEXTO E FAÇA AS QUESTÕES QUE SE SEGUEM. A borboletinha era uma beleza, mas se achava uma beldade. Devia, pelo menos, ser tratada como a rainha das borboletas, para que se sentisse satisfeita. Quanta vaidade, meu Deus! Não tinha amigos, pois qualquer mariposa que se aproximasse dela era alvo de risinhos e de desprezo. - Que está fazendo em minha presença, criatura? Não vê que sou mais bela e elegante do que você? costuma ela dizer, fazendo-se de muito importante. Nem os seus familiares escapavam. Mantinha à distância os seus próprios pais e irmãos, como se ela não houvesse nascido naturalmente, mas tivesse sido enviada diretamente do céu. Tratava-os com enorme frieza, como quem faz um favor, quando não há outro remédio. - Sim, você é formosa, borboletinha, mas não sabe usar essa qualidade como deveria. Isso vai destruí-la! preveniu-a solenemente um sábio do bosque. A borboletinha não deu muita importância às palavras do sábio. Mas uma leve inquietação aninhou-se em seu coração. Respeitava aquele sábio e temia que ele tivesse razão. Mas logo esqueceu esses pensamentos e continuou sua atitude habitual. Um dia, a profecia do sábio cumpriu-se. Um rapazinho esperto surpreendeu-a sozinha voando pelo bosque. Achou-a magnífica e com sua rede apoderou-se dela. Como é triste ver a borboletinha vaidosa atravessada por um alfinete, fazendo parte da coleção do rapaz! Cada um tem aquilo que merece. Não adianta pôr a culpa de nossos erros nos outros, no destino, em Deus ou na má sorte. Cada um é responsável pelo seu próprio sucesso ou fracasso. Texto disponível em: http://metaforas.com.br/a-borboleta-orgulhosa [1] Acesso em: 8/09/2014 26 1. Analise a oração abaixo, indicando as funções desempenhadas pelos constituintes nos três níveis: sintático, semântico e pragmático. Um dia, a profecia do sábio cumpriu-se. 2. Comente a diferença entre os subsistemas de Tema e de Informação na análise do termo em destaque na oração: Mas UMA LEVE INQUIETAÇÃO aninhou-se em seu coração. 3. Classifique os processos em destaque com base no sistema de Transitividade proposto por Halliday. a) A borboletinha ERA uma beleza... b) ... para que se SENTISSE satisfeita. c) TRATAVA-os com enorme frieza... d) ... quando não HÁ outro remédio. e) Mas logo ESQUECEU esses pensamentos... 4. Analise as opções relativas ao COMPONENTE TEXTUAL (Tema, Informação e Coesão) da Gramática Sistêmico-Funcional na produção da seguinte frase retirada do texto: Isso vai destruí-la! 5. Analise a oração abaixo segundo as três funções da linguagem (ideacional, Interpessoal e Textual) propostas por Halliday. - Que está fazendo em minha presença, criatura? FÓRUM De acordo com Halliday (1985), uma gramática funcional mostra como as opções para a produção dos sentidos são realizadas. Uma contribuição para a análise do discurso de uma análise linguística de base funcional é revelar por que o texto significa o que significa, se um texto atinge efetivamente, ou não, os seus propósitos. Discuta, com seus colegas, sobre a relação entre análise linguística e as atividades de produção e interpretação de textos. CHAT Leia a piada a seguir e discuta, com seus colegas, sobre o tipo de funcionalidade (ideacional, interpessoal ou textual) das expressões Ora e Ué utilizadas no diálogo. CERTA LÓGICA O pai chama o filho para uma conversa: - Filho, sua professora disse que, dos 20 alunos da classe, você é o pior. - Ora, pai, podia ser pior. - Ora, como pior, garoto? - Ué, a turma podia ter 40 alunos... 27 Disponível em: http://www.piadas.com.br/piadas/certa-logica [2] Acesso em: 13/12/2012 FONTES DAS IMAGENS 1. http://metaforas.com.br/a-borboleta-orgulhosa 2. http://www.piadas.com.br/piadas/certa-logica 3. http://www.denso-wave.com/en/ Responsável: Prof.ª Márcia Teixeira Nogueira Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 28 TÓPICO 01: UM MODELO TEÓRICO DE GRAMÁTICA FUNCIONAL VERSÃO TEXTUAL No funcionalismo holandês, veremos as propostas teóricas da Gramática Funcional (1989, 1997) de Simon Dik; e da Gramática Discursivo-Funcional (2008), de Hengeveld e Mackenzie. Essas teorias se caracterizam como modelos formais de gramática funcional. Em outras palavras, como a formalização de um modelo gramatical da competência comunicativa, em que funções e regras gramaticais são vistas como instrumentais com relação à pragmática. Na Gramática Funcional de Dik (1989, 1997), o usuário da língua assume papel central, uma vez que a investigação deve voltar-se para o intuito de explicitar como falantes e destinatários comunicam-se uns com os outros de forma eficiente, por meio da expressão linguística. Para Dik, uma descrição linguística não pode prescindir da referência ao falante e ao destinatário, seus papéis e estatutos na situação de interação. No modelo de interação verbal proposto por Dik, vemos um processo de comunicação muito mais complexo do que aquele que envolve a mera codificação e decodificação de mensagens, respectivamente, por parte do emissor e de um destinatário. Vejamos o modelo: Percebemos, nesse modelo de interação verbal, que a língua, aqui representada pela expressão linguística, é vista como instrumento de interação social. Ela é responsável pela mediação entre a intenção de um falante e a interpretação de um ouvinte. Falante e Ouvinte representam os participantes de uma interação verbal, seja por meio da fala, seja por meio da escrita. Em qualquer estágio da interação verbal, falante e ouvinte possuem Informação pragmática, isto é, um conjunto de conhecimentos, crenças, suposições, opiniões e sentimentos. Com base em sua informação pragmática e em função de uma dada intenção e da antecipação sobre uma possível interpretação daquele com que está interagindo, o falante formula LINGUÍSTICA: FUNCIONALISMO AULA 04: FUNCIONALISMO HOLANDÊS 29 uma expressão linguística. O ouvinte, por sua vez, interpreta a expressão linguística com base na informação pragmática de que dispõe e de uma conjectura sobre a possível intenção do falante. No modelo da Gramática Funcional, fica evidente o pressuposto funcionalista de que, apesar de uma teoria linguística ter como foco a linguagem propriamente dita, a investigação sobre a língua em uso deve reconhecer que a expressão linguística é apenas uma mediação entre falante e ouvinte, já que outros fatores, cognitivos, sociais e interacionais, têm papel determinante no sucesso de uma interação. Ao ressaltar o papel do usuário de uma língua, a Gramática Funcional de Dik considera não apenas a capacidade linguística de produzir e interpretar corretamente as expressões linguísticas em diferentes situações de comunicação, mas: - a capacidade epistêmica, por meio da qual ele constrói, mantém e explora uma base de conhecimento organizado; - a capacidade lógica, que possibilita o emprego de regras de raciocínio para a extração de novos conhecimentos a partir de conhecimentos prévios; - a capacidade perceptual, mediante a qual o usuário percebe seu ambiente e dele deriva conhecimentos; - e a capacidade social, que determina o uso da linguagem em conformidade com o interlocutor, a situação e os objetivos comunicativos. Todas essascapacidades estão relacionadas a uma competência comunicativa. Como modelo de gramática funcional, pretende ser uma teoria geral da gramática que permita uma visão mais adequada da forma como as línguas naturais se organizam. Para tanto, de acordo com Dik, essa teoria deve apresentar adequação tipológica, adequação pragmática e adequação psicológica. ADEQUAÇÃO TIPOLÓGICA • Adequação tipológica diz respeito à necessidade de que uma teoria se volte, de forma sistêmica, para as similaridades e diferenças existentes entre as línguas naturais, integrando estudos relativos à forma, ao sentido e ao uso. ADEQUAÇÃO PRAGMÁTICA • A adequação pragmática de uma teoria relaciona-se à integração da gramática (descrição e explanação das expressões linguísticas) numa teoria pragmática mais ampla da interação verbal. ADEQUAÇÃO PSICOLÓGICA • A adequação psicológica reside na capacidade de relacionar os comportamentos linguísticos com os modelos de psicológicos da competência linguística; em outras palavras, a gramática deve ser vista 30 como uma construção composta de um modelo de produção, um modelo de interpretação e de um estoque de elementos e princípios usados nos modelos de produção e de interpretação. FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.adobe.com/go/getflashplayer 2. http://www.denso-wave.com/en/ Responsável: Prof.ª Márcia Teixeira Nogueira Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 31 TÓPICO 02: A DESCRIÇÃO DA EXPRESSÃO LINGUÍSTICA NA GRAMÁTICA FUNCIONAL Na descrição da expressão linguística, Dik parte da construção de uma predicação subjacente projetada na superfície, por meio de regras de expressão, que definem a forma, a ordem e o padrão entonacional em que os constituintes se realizam. Uma predicação representa um estado de coisa, isto é, uma situação linguisticamente codificada. A construção de predicações se faz por meio da inserção de termos (expressões referenciadoras das entidades que exercem papéis semânticos na predicação) em estruturas de predicado (esquemas que especificam as possibilidades estruturais de ocorrência de um predicado). As noções de entidade ou de estados-de-coisa na Gramática Funcional de Dik não têm realidade extralinguística ou extramental. Os constituintes exigidos pela semântica de um predicado denominam- se argumentos, enquanto os constituintes que apenas fornecem uma informação suplementar são denominados de satélites. No exemplo (1), Pedro e um livro são argumentos do predicado escrever, enquanto durante as férias é um satélite indicativo de tempo. (1) Pedro escreveu um livro durante as férias. Na Gramática Funcional, uma classificação dos estados-de-coisa é proposta por meio da avaliação dos traços especificados no quadro a seguir: Tipos de Estados-de-coisas (DIK, 1997) Tipo de EC [dinâmico] [controle] [télico] Situação - Posição - + Estado - - Evento + Ação + + Realização + + + Atividade + + - Processo + - Mudança + - + Dinamismo + - - EXEMPLO Posição: João mantém seu dinheiro na meia. LINGUÍSTICA: FUNCIONALISMO AULA 04: FUNCIONALISMO HOLANDÊS 32 Estado: O dinheiro de João está numa meia velha. Realização: João correu a maratona em três horas. Atividade: João estava lendo um livro. Mudança: A maçã caiu da árvore. Dinamismo: O relógio estava tiquetaqueando. Quando, do ponto de vista semântico, uma oração não designa um estado-de-coisa, mas um fato possível, temos uma proposição. Quando aplicamos a uma proposição os operadores ilocucionários (Declarativo, Interrogativo e Imperativo) e, opcionalmente, satélites ilocucionários, temos uma frase, que corresponde a um ato de fala. No quadro a seguir, temos uma síntese da construção da expressão linguística na Gramática Funcional. CONSTRUÇÃO DA EXPRESSÃO LINGUÍSTICA NA GRAMÁTICA FUNCIONAL PREDICAÇÃO NUCLEAR escrever (João) (uma carta) PREDICAÇÃO CENTRAL Prog [escrever (João) (uma carta)] caprichosamente. "João (estar) escrevendo uma carta caprichosamente". PREDICAÇÃO ESTENDIDA [Pres [ Prog [ escrever (João) (uma carta)] (caprichosamente)] (na biblioteca)] "João está escrevendo uma carta caprichosamente na biblioteca”. PROPOSIÇÃO [Poss[Pres[Prog[escrever (João) (uma carta)] (caprichosamente)] (na biblioteca)] (que eu saiba)] "Que eu saiba, João deve estar escrevendo uma carta caprichosamente na biblioteca." FRASE [Decl[Poss[Pres[Prog[escrever (João) (uma carta)] (caprichosamente)](na biblioteca)] (que eu saiba)] (francamente)] “Francamente, que eu saiba, João pode estar escrevendo uma carta caprichosamente, na biblioteca”. Na Gramática Funcional de Dik, as funções pragmáticas especificam o estatuto informacional dos constituintes em relação ao contexto comunicativo mais amplo no qual eles são empregados. Elas dizem respeito à dimensão da Topicalidade, que caracteriza as coisas sobre as quais nós falamos; e a Focalidade, que caracteriza as partes mais importantes ou salientes do que nós dizemos. Tópico do discurso é a entidade sobre a qual um discurso dá informação. Ele pode ser: • Novo, a entidade introduzida pela primeira vez no discurso; 33 • Dado, a entidade que já foi introduzida no discurso; • Subtópico, a entidade que pode ser razoavelmente assumida como "disponível" a partir de sua relação com um tópico dado; ou • Restituído, a entidade que não tenha sido mencionada durante algum tempo, no discurso e é "reavivada" e restabelecida como um tópico dado. Cada língua apresenta expedientes linguísticos para introduzir, manter e retomar tópicos. Em uma expressão linguística, a informação focal é aquela informação que é relativamente a mais importante ou saliente no dado contexto comunicativo. É considerada pelo falante como a informação mais essencial para que o ouvinte integre em sua Informação Pragmática. O falante pode desejar acrescentar uma informação à Informação Pragmática do ouvinte, como no exemplo a seguir: - Onde você encontrou o livro de Matemática? - Na livraria do Shopping. ou pode querer SUBSTITUIR alguma porção de informação que o ouvinte possui, tal como se encontra a seguir: - Você encontrou o livro de Matemática na livraria do Centro. - Não, na livraria do Shopping é que eu comprei o livro de Matemática. Uma informação pode ser focalizada por alguns expedientes, tais como: a) proeminência prosódica - acento enfático; Ex.: Comprei o livro de Matemática NA LIVRARIA DO SHOPPING. b) ordem especial dos constituintes - posições especiais na ordem linear da oração; Ex.: Na livraria do shopping comprei o livro de Matemática. c) marcadores especiais - partículas que destacam o constituinte foco do resto da oração; Ex.: Comprei o livro de Matemática foi na livraria do shopping. d) construções especiais - construções que definem um constituinte específico como focal (clivadas). Ex.: Foi na livraria do shopping que comprei o livro de Matemática. A Gramática Funcional trata também dos chamados constituintes extraoracionais. Eles não fazem parte da oração propriamente dita; são mais frouxamente relacionados a ela de modo que podem ser mais adequadamente descritos em termos de funcionalidade pragmática. Esses elementos servem a uma variedade de funções pragmáticas. 34 EXEMPLO Vejamos alguns exemplos de constituintes pragmáticos extraoracionais com a indicação de sua respectiva função pragmática: Bem (Iniciador), e sobre o jantar? Senhoras e senhores (Endereço), vamos começar o jogo? Quanto aos estudantes (Tema), eles não serão convidados. Eu estou com receio, Pedro (Endereço), de que você indo um bocado depressa. João era, como eles dizem (Parêntese Modal), um estudante brilhante.Está bastante quente aqui, não está? (Marcador ilocucionário) Ele é um bom companheiro, seu irmão. (Clarificação). FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.denso-wave.com/en/ Responsável: Prof.ª Márcia Teixeira Nogueira Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 35 TÓPICO 03: A GRAMÁTICA DISCURSIVO-FUNCIONAL A Gramática Discursivo-Funcional (GDF) é uma nova versão da Gramática Funcional (GF). Essa teoria vem sendo desenvolvida por Hengeveld e Mackezie (2004; 2008). É também um modelo da competência gramatical dos indivíduos usuários de uma língua, que visa à expansão de uma gramática da frase, para uma gramática orientada para o discurso. Essa expansão se justifica por algumas razões. Primeiramente, há muitos fenômenos linguísticos que só podem ser explicados em termos de unidades maiores que a frase em si mesma, tais como formas verbais narrativas, partículas discursivas, cadeias anafóricas etc. Por outro lado, há muitas outras expressões linguísticas que são menores do que a frase e, no entanto, funcionam como enunciados completos e independentes no discurso. O modelo dessa gramática integra duas abordagens: ◾ O da estratificação descendente e ◾ A modular. Ao contrário do modelo da Gramática Funcional proposta por Dik, que é um modelo ascendente (bottom-up), em que a descrição da expressão linguística vai das unidades menores às maiores, a Gramática Discursivo- Funcional, como modelo da produção do discurso, exibe uma estratificação descendente (top-down). Em outras palavras, entende-se, nesta teoria, que a geração de estruturas subjacentes e, em particular, as interfaces entre os vários níveis, pode ser descrita em termos das decisões comunicativas que um falante toma quando constrói um enunciado. Além do componente gramatical propriamente dito, prevê-se um: • Componente conceitual (cognitivo), que representa o conhecimento prévio do falante, tal como sua competência comunicativa, seu conhecimento de mundo e sua competência linguística; • Componente contextual (comunicativo), que representa a informação derivável de um discurso anterior e da informação perceptual não linguística da situação do discurso; • Componente de saída (output), que converte a informação fonológica em sinais acústicos, gráficos ou visuais. Os níveis do componente Gramatical respondem pelas operações de Formulação e de Codificação. Nos níveis Interpessoal (Pragmático) e Representacional (Semântico), ocorre, inicialmente, a operação de Formulação. Nos níveis Morfossintático e Fonológico, temos, a seguir, a operação de Codificação. Esses níveis do Componente Gramatical têm ordenação descendente. LINGUÍSTICA: FUNCIONALISMO AULA 04: FUNCIONALISMO HOLANDÊS 36 1º NÍVEL Nível Interpessoal (Pragmático) 2º NÍVEL Nível Representacional (Semântico) 3º NÍVEL Nível Morfossintático 4º NÍVEL Nível Fonológico Nesse modelo, a descrição das manifestações linguísticas começa das intenções do falante, no nível Interpessoal, e, gradualmente, observa os níveis Representacional, Morfossintático e Fonológico. Ao organizar a gramática dessa forma, a GDF postula que: • Pragmática governa Semântica; • Pragmática e Semântica governam Morfossintaxe; • Pragmática, Semântica e Morfossintaxe governam fonologia FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.denso-wave.com/en/ Responsável: Prof.ª Márcia Teixeira Nogueira Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 37 TÓPICO 04: NÍVEIS E CAMADAS MOVE É a maior unidade da interação relevante para a análise gramatical. É uma contribuição autônoma para iniciar a interação e constitui a menor unidade livre do discurso. Caracteriza-se como a unidade que ou é ou abre a possibilidade de uma reação. Constitui-se de um ou mais Atos discursivos. ATO DISCURSIVO É a menor unidade identificável de uma conduta comunicativa. Não representa, necessariamente, um avanço na conversação para a consecução de um objetivo. Como dissemos, a Gramática Discursivo-Funcional distingue os níveis Interpessoal (Pragmática), Representacional (Semântica), Morfossintático e Fonológico, nesta ordem hierárquica. A estratificação descendente e a separação desses níveis são diferenças importantes com relação à proposta de Dik. Apesar da separação em níveis, regras de mapeamento ligam o nível Interpessoal ao Representacional naqueles casos em que o conteúdo semântico é necessário para transmitir uma intenção comunicativa. Nos casos em que só um conteúdo pragmático tem de ser transmitido, regras de expressão ligam diretamente o nível Interpessoal ao Morfossintático. A construção de expressões linguísticas pode ser interpretada como um processo de tomada de decisões por parte do falante. De acordo com Hengeveld, a Gramática Discursivo-Funcional capta as estruturas das unidades linguísticas em termos do mundo que elas descrevem e as intenções comunicativas com as quais elas são produzidas, em termos das suas funções interpessoais e representacionais. Segundo o autor, um modelo padrão de linguagem não é necessariamente um modelo estático. Para um modelo de gramática, uma interpretação dinâmica envolve uma implementação que espelha o processo de produção do discurso pelos indivíduos. Isso não significa que o modelo gramatical é um modelo do falante, mas será mais eficaz quanto mais ele se assemelhe a esse processo de produção de linguagem. UNIDADES DO NÍVEL INTERPESSOAL VEJA, NOS EXEMPLOS A SEGUIR, A DIFERENÇA ENTRE MOVE E ATO DISCURSIVO. A: Como foi o jogo ontem? (M1, A1) B: Fortaleza ganhou.(A1) E o Ceará perdeu.(A2) (M2) _____________________________ A: Corra (A1), que a chuva está forte! (A2) (M1) _____________________________ LINGUÍSTICA: FUNCIONALISMO AULA 04: FUNCIONALISMO HOLANDÊS 38 A: Marta (A1), está chovendo forte! (A2) (M1) Cada ato discursivo constitui-se de: Ilocução, Participante(s) e Conteúdo Comunicado. ILOCUÇÃO É o uso interpessoal convencionalizado na realização da intenção comunicativa (Expressivo, Comunicativo...). PARTICIPANTES É a alternância dos papéis de Falante (P1) e Ouvinte (P2), cujas referências podem ser feitas por meio de vocativos, pronomes de primeira ou de segunda pessoa. CONTEÚDO COMUNICADO É a totalidade do que o Falante deseja evocar na sua comunicação com o Ouvinte. SUBATOS DO CONTEÚDO COMUNICADO Atributivo (T), para evocar uma propriedade; Referencial (R), para evocar um referente. Veja, a seguir, a diferença entre referência e atribuição (nível Interpessoal) e designação (nível Representacional). Eu vi um leão. Ato referencial Este animal é um leão. Ato atributivo A expressão um leão tem a mesma designação (representacional), mas desempenha subatos diferentes (interpessoal). UNIDADES DO NÍVEL REPRESENTACIONAL INDIVÍDUO É a entidade de primeira ordem, que pode ser localizada no espaço e pode ser avaliada em termos de sua existência. ESTADO-DE-COISAS É a entidade de segunda ordem, que pode ser localizada no espaço e no tempo e pode ser avaliada em termo de sua realidade. CONTEÚDO PROPOSICIONAL É a entidade de terceira ordem, que constitui um construto mental, não podendo assim ser localizado nem no espaço nem no tempo, mas avaliado em termos de verdade. PROPRIEDADE É a categoria que não tem existência independente e pode ser caracterizada em termos de sua aplicabilidade. 39 ICONICIDADE Parece se aplicar aos níveis mais altos, como a ordenação dos ECs, que estão relacionados à experiência física e mental dos indivíduos. INTEGRIDADE DO DOMÍNIO Refere-se à preferência por unidades que, juntas nos dois primeiros níveis, podem ser justapostas uma a outras ao nívelMorfossintático. ESTABILIDADE FUNCIONAL Diz respeito à exigência de que os constituintes com a mesma especificação sejam colocados na mesma posição em relação a outras categorias. PRINCÍPIOS DA RELAÇÃO ENTRE OS NÍVEIS INTERPESSOAL E REPRESENTACIONAL E O NÍVEL MORFOSSINTÁTICO LEITURA COMPLEMENTAR Para ampliar seus conhecimentos sobre o Funcionalismo Holandês, sugerimos a leitura do texto Gramática Funcional: da oração rumo ao discurso (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.). Que tal fazer uma visita ao site da Gramática Funcional (Functional Grammar)? Clique no link abaixo: http://www.functionalgrammar.com/ [1] ATIVIDADE DE PORTFÓLIO 1. Explique como você entende a relação entre um modelo teórico de gramática e as gramáticas de línguas particulares. Que condições de adequação tipológica deve ter um modelo teórico de gramática? 2. Explique por que o modelo teórico da Gramática Discursivo- Funcional (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008) é visto como uma expansão do modelo da Gramática Funcional (SIMON DIK, 1997). 3. O que significa a estratificação descendente do modelo teórico da Gramática Discursivo-Funcional? Leia o texto e faça as questões que se seguem. A GRALHA VAIDOSA Júpiter deu a notícia de que pretendia escolher um rei para os pássaros e marcou uma data para que todos eles comparecessem diante de seu trono. O mais bonito seria declarado rei. Querendo arrumar-se o melhor possível, os pássaros foram tomar banho e alisar as penas às margens de um arroio. A gralha também estava lá no meio dos outros, só que tinha certeza de que nunca ia ser a escolhida, porque suas penas eram muito feias. "Vamos ter que dar um jeito", pensou ela. 40 Depois que os outros pássaros foram embora, muitas penas ficaram caídas pelo chão; a gralha recolheu as mais bonitas e prendeu em volta do corpo. O resultado foi deslumbrante: nenhum pássaro era mais vistoso que ela. Quando o dia marcado chegou, os pássaros se reuniram diante do trono de Júpiter; Júpiter examinou todo mundo e escolheu a gralha para rei. Já ia fazer a declaração oficial quando todos os outros pássaros avançaram para o futuro rei e arrancaram suas penas falsas uma a uma, mostrando a gralha exatamente como ela era. Moral: Belas penas não fazem belos pássaros. 4. Identifique o tipo de categoria semântica representado nas expressões em destaque. (1) Propriedade ( ) Júpiter deu a notícia de que pretendia escolher um rei para OS PÁSSAROS... (2) Indivíduo ( ) O mais BONITO seria declarado rei. (3) Estado-de-coisas ( ) ...OS PÁSSAROS FORAM TOMAR BANHO... (4) Conteúdo Proposicional ( ) ...só que tinha certeza de que NUNCA IA SER A ESCOLHIDA... ( )... A GRALHA também estava lá no meio dos outros,... 5. Com base numa análise integrada dos aspectos sintáticos, semânticos e pragmáticos, explique a diferença entre voz ativa e voz passiva nas frases: I. Júpiter escolheu a gralha rei dos pássaros. II. A gralha foi escolhida rei dos pássaros por Júpiter. FÓRUM Sabemos que Falante e Ouvinte têm outras capacidades, além da linguística, que, se colocadas em prática, podem garantir o sucesso de um ato comunicativo. Com base no modelo de interação verbal da Gramática Funcional, imagine um diálogo como exemplo de uma interação bem- sucedida, em que essas capacidades têm imprescindível papel. FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.functionalgrammar.com/ 2. http://www.denso-wave.com/en/ Responsável: Prof.ª Márcia Teixeira Nogueira Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 41 TÓPICO 01: OS PRINCÍPIOS DE ICONICIDADE E MARCAÇÃO O funcionalismo norte-americano não é lembrado pela formalização de um modelo teórico das línguas naturais. Ao contrário, ele se caracteriza pela realização de vários estudos que se constituíram marcos de orientação funcionalista. Talmy Givón é um dos nomes mais importantes do funcionalismo norte- americano. Esse linguista desenvolveu análises de vários fenômenos que representaram verdadeiros manifestos contra as abordagens formalistas, pela consideração de condicionamentos discursivos que comprovaram a motivação funcional das estruturas gramaticais. VERSÃO TEXTUAL Uma abordagem tipológico-funcional da gramática caracteriza a significativa produção de Givón. Para Givón, há uma estreita associação entre os aspectos funcionais, tipológicos e diacrônicos da gramática. Givón defende que a tipologia gramatical seja o estudo da diversidade de estruturas que podem desempenhar o mesmo tipo de função. Nesse sentido, em uma tipologia gramatical, enumeram-se as principais estruturas por meio das quais línguas diferentes codificam o mesmo domínio funcional. As línguas podem apresentar diferenças consideráveis na maneira pela qual organizam ou modelam os domínios funcionais codificados pela gramática. No entanto, Givón lembra que a gramática não é apenas um mecanismo de codificação superficial dos diferentes domínios funcionais universais organizados com o propósito da comunicação. Criticando tanto a visão de Chomsky de gramática como um algoritmo, quanto a de Paul Hopper, de gramática emergente, totalmente flexível, sempre negociada e completamente dependente do contexto comunicativo, Givón (2001) defende uma posição intermediária, ao reconhecer que a gramática é um instrumento categorizador por excelência (e, como código, é mais abstrato do que o que codifica), mas raramente tem 100% de dominância em uma regra. A flexibilidade residual, a gradualidade e a variabilidade da gramática são motivadas de maneira adaptativa. Em outras palavras, Givón defende que as línguas apresentam, ao mesmo tempo, estabilidade e flexibilidade, já que essas duas características são necessárias, respectivamente, para o processamento rápido da linguagem e para a adaptação da língua aos diferentes propósitos comunicativos. Como argumento para a natureza adaptativa das línguas naturais, Givón postulou princípios da organização gramatical icônica ou Princípios de iconicidade. Uma síntese desses princípios é dada a seguir. LINGUÍSTICA: FUNCIONALISMO AULA 05: FUNCIONALISMO NORTE-AMERICANO 42 REGRAS DE ENTONAÇÃO Ênfase previsibilidade: Trechos de informação menos previsível são enfatizados. Melodia e relevância: Blocos de informação que pertencem ao mesmo domínio conceitual são empacotados sob um contorno melódico único. Pausa e ritmo: O tempo de pausa entre blocos de informação corresponde à distância temática ou cognitiva que existe entre eles. REGRAS DE ESPAÇAMENTO Proximidade e relevância: Blocos de informação que pertencem ao mesmo domínio conceitual são mantidos em proximidade espaço-temporal. Proximidade e escopo: Operadores funcionais são mantidos mais perto do que tomam por escopo. REGRAS DE SEQUÊNCIA Ordem e importância: Um bloco de informação mais importante é colocado no início. Ordem de ocorrência e ordem reportada: A ordem temporal na qual os acontecimentos ocorreram é espelhada no relato linguístico desses acontecimentos. REGRAS DE QUANTIDADE Expressão zero e previsibilidade: Informação previsível – ou já ativada – não será expressa. Expressão zero e relevância: Informação irrelevante ou sem importância não será expressa. Observem que, ao enunciar relações de motivação entre forma e função, os PRINCÍPIOS DE ICONICIDADE se opõem ao princípio da ARBITRARIEDADE do signo linguístico. Portanto, o funcionalista busca, nos condicionamentos cognitivos e discursivos que caracterizam cada momento da interação, as explicações que justifiquem a forma da expressão linguística utilizada. Notem que os princípios de iconicidade
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