Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
RESUMO DE PSICOLOGIA APLICADA AO DIREITO BREVE HISTÓRIA DA PSICOLOGIA •Definição de Psicologia pode ser dada por sua origem grega: Ψυχολογία = Psyche + logia -É a ciência que estuda a mente e o comportamento. •Influências de outras áreas de conhecimento -Filosofia Exs: Aristóteles, Descartes, Positivismo, Empirismo, etc. -Fisiologia Destaca o estudo do cérebro, onde se localizam as propriedades e as funções da alma. BREVE HISTÓRIA DO ENCONTRO ENTRE A PSICOLOGIA E O DIREITO •Primeiro laboratório psicológico foi fundado pelo médico alemão Wilhelm Wundt, em 1879, em Leipzig, na Alemanha. -Seu interesse havia sido transferido do funcionamento do corpo humano para os processos mais elementares de percepção e a velocidade dos processos mentais mais simples. -Esse laboratório formou a primeira geração de psicólogos preocupados com a Fisiologia •Singularidade do saber psicológico -Centra-se nos estudos do homem, seus desejos, percepções, discursos/práticas enquanto um ser social, historicamente capaz de influenciar e ser influenciado por diferentes atores e cenários socioeconômicos-políticos. •Relação com outras ciências horizontalizadas e de atravessamentos -Psicologia do senso comum ou Psicologia ingênua é o conjunto de ideias, crenças e convicções transmitidas culturalmente e que cada indivíduo possui a respeito de como as pessoas funcionam, se comportam, sentem e pensam. -De que forma a Psicologia do senso comum ou, também chamada de Psicologia ingênua, influência a Psicologia científica? As teorias construídas sobre o comportamento, pelo senso comum, em muitas ocasiões são auxiliares para a construção da teoria científica e, também, podem ser uma fonte de hipóteses. ALGUMAS TEORIAS DA PSICOLOGIA, A PSICOLOGIA NO BRASIL E A INTERSEÇÃO ENTRE A PSICOLOGIA E O DIREITO •Psicologia não é um campo unitário e hegemônico -Linhas teóricas: Psicanálise, Behaviorismo (comportamentalismo), Humanismo, Gestaltismo, Psicologia Social (pelo viés da matriz) e Sócio-histórica -Psicanálise (foca sonhos, esperanças, desejos, fantasias e primeiras experiências de vida) Os fatores inconscientes são essenciais à constituição de uma boa saúde mental, estando presentes nas mais diversas e ricas expressões do ser humano. Sonhos, esperanças, desejos e fantasias são de interesse da Psicanálise, como também as experiências vividas nos primeiros anos de vida em família. -Behaviorismo (foca o comportamentalismo/percurso experimental) Tem como base o estudo dos comportamentos animais controlados em laboratórios de acordo com os estímulos que lhes são apresentados para a possível a comparação entre os comportamentos animais e humanos, o que justifica seu percurso experimental. Pretende estudar comportamentos objetivos que podem ser observados. -Gestalt (foca o processo perceptivo a partir das suas característica estimulante, experiências, atitudes e personalidade como um todo) A organização dos dados que nos cercam é parte do processo perceptivo. Toda percepção é uma gestalt: um todo que não pode ser compreendido pela separação em partes. Elementos que mais contribuem para o processo de percepção são: as características do estímulo e as experiências passadas, atitudes e características da personalidade do indivíduo. -Humanismo (foca a terapia das necessidades piramidais com Maslow (desenvolvedor do conceito de motivação) ou a terapia centrada na pessoa com Rogers) Principais teóricos foram Carl Rogers e Abraham Maslow Maslow, em 1962, desenvolveu o conceito de motivação atrelado ao modelo de hierarquia de necessidades construída com base numa pirâmide. Carl Rogers baseou seu trabalho no indivíduo, criando a chamada terapia centrada na pessoa. -Psicologia Sócio-histórica Considera o homem um ser social, histórico e ativo e estabelece relações com claras marcas culturais. Ele constrói e reconstrói a sociedade, a história social e a si mesmo, de modo que o conhecimento sobre si próprio é marcado por influências culturais. •A psicologia no Brasil -Em 1962, pela lei nº 4.119, a profissão de psicólogo foi criada e regulamentada com a função de adequar, ajustar e adaptar o indivíduo ao mundo Moderno. -A Psicologia que nasceu basicamente no campo da clínica tem ainda, nessa área de atuação, sua maior concentração profissional ainda que fundamentada em diferentes abordagens. Atualmente, há um deslocamento do privado para o público. •Psicologia Jurídica -Em 1967 foi referendada por Mira y Lopes como uma importante ferramenta no campo do Direito. -Intensamente influenciada pelo ideário positivista e privilegiando o método científico empregado pelas Ciências Naturais, particularmente a Biologia, teve sua origem ligada à aplicação de testes (Brito,1999) para a compreensão dos comportamentos passíveis de ação jurídica -Aferida através de instrumentos de medida desenvolvidos pela Psicologia. •Na atualidade -Os psicólogos do judiciário vêm construindo outra prática psicológica uma intervenção que venha a dar a palavra, dar legitimidade a pessoas que habitualmente não têm esta possibilidade. A FORMAÇÃO DO INDIVÍDUO E O DESENVOLVIMENTO HUMANO •Nossa natureza é social, isto é, o ser humano não está só frente ao mundo que o cerca. •Viver com outros humanos é uma condição para se humanizar e se individualizar. •É na sociedade que temos a oportunidade de entrarmos em contato com a cultura. •Por meio de nossas relações sociais que vamos construindo nossa identidade, desenvolvendo aptidões, criando pertencimento à determinada sociedade (personalidade histórico-social). •Desenvolvimento é um processo que tem início na concepção e só termina com a morte. •É importante compreender o que ocorre em cada idade, cada fase da vida. •Os psicólogos do desenvolvimento estudam a interação entre os padrões biologicamente pré-determinados e um ambiente dinâmico, em constante mudança. EM QUE MEDIDA HEREDITARIEDADE E AMBIENTE PRODUZEM EFEITOS NO INDIVÍDUO? •Os psicólogos, atualmente, concordam que tanto a hereditariedade como o ambiente produzem padrões de desenvolvimento específicos. •Ninguém está livre das influências ambientais, mas também não cresce sem ser afetado pela bagagem genética.•O estudo do desenvolvimento humano é muito importante para várias questões jurídicas que devem ser avaliadas a partir da etapa do desenvolvimento em que o indivíduo se encontra. Por exemplo: -O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) pressupõe certo entendimento sobre a infância e a adolescência -O Estatuto do Idoso abrange sujeitos que estão em outro ciclo vital, com características específicas. -O Código Penal está fundamentado em questões da maioridade. PERSONALIDADE - INSTRUMENTOS PARA A AVALIAÇÃO DA PERSONALIDADE •Para a Psicologia a personalidade pode ser definida como um padrão de características duradouras que produzem consistência nas atitudes, comportamentos e individualidade. •Nossa personalidade é única e nos diferencia dos outros. • Para Trindade (2009, p.64), personalidade é um conjunto biopsicossocial dinâmico que possibilita a adaptação do homem consigo mesmo e com o meio, numa equação de fatores hereditários e vivenciais. •Para o profissional da área do Direito é importante um conhecimento geral sobre estes estudos, para que, em um trabalho interdisciplinar, ele possa entender o que o psicólogo está interpretando e, desta forma, possa utilizar melhor esse conhecimento em suas argumentações. •Teoria Psicanalítica (relacionada ao Id, Ego e Superego, de Freud) -Freud descreveu a estrutura da personalidade em três componentes que são apresentados, de forma didática, em separado, mas são interativos e relacionados a aspectos conscientes e inconscientes. São eles: Id, Ego e Superego. •Teorias Sociocognitivas (relacionada ao comportamento individual e social) -Enfatizam a influência da cognição: pensamentos, sentimentos, expectativas e valores. E da observação do comportamento de outras pessoas na determinação da personalidade. A base da personalidade está na habilidade humana consciente e automotivada de mudar e se aprimorar. •Teorias Biológicas e Evolucionistas (relacionada a conservação genética evolutiva) -A personalidade é determinada, em parte, pelos nossos genes. As características da personalidade que tiveram sucesso entre os nossos ancestrais apresentam mais chances de serem preservadas e passadas para as próximas gerações. •Teorias dos Traços (relacionada a um padrão pessoal recorrente) -Para os teóricos dessa abordagem, seriam características do comportamento consistentes, que aparecem em diferentes situações. •Qual dessas abordagens fornece o estudo mais completo sobre a personalidade? -Dada a complexidade de nossa personalidade, cada estudioso tentou analisar a personalidade sobre determinado ângulo, sobre um aspecto diferente, formador de nossa personalidade. -As abordagens apesar de analisarem aspectos diferentes, se complementam em suas colocações e nos mostram as várias possibilidades de explicarmos a nossa personalidade. •Como o psicólogo avalia a personalidade de uma pessoa? Será que podemos medir tudo o que somos? São instrumentos de avaliação da personalidade: -Entrevistas -Escalas de avaliação gráfica -Inventários de personalidade -Testes projetivos -Testes situacionais A avaliação psicológica é feita com entrevistas e testes que embasam as entrevistas finais de orientação psicológica, além de um relatório por escrito. ALGUMAS QUESTÕES DA PSICOLOGIA SOCIAL, QUESTIONAMENTOS SOBRE A NOÇÃO DE NORMALIDADE E LEI ANTIMANICOMIAL •Psicologia Social -É o estudo das condutas humanas que são influenciadas por outras pessoas. Um dos principais temas de pesquisa da Psicologia Social é o das atitudes sociais. •Atitude -É uma organização duradoura de pensamentos e crenças (cognições), dotada de uma carga afetiva pró ou contra um objeto social que predispõe o indivíduo para a ação. -Componentes das atitudes são a cognição, o afeto e o comportamento. ALGUMAS QUESTÕES DA PSICOLOGIA •Estereótipos -São colocações de certas características a pessoas pertencentes a determinados grupos sociais. Os estereótipos podem ser definidos por atitudes positivas ou negativas, em relação a estas pessoas. •Preconceito -Atitude que apresenta duas características específicas: se forma sempre em torno de um núcleo afetivamente negativo; e, é dirigido contra um indivíduo ou grupo de pessoas. •Discriminação -E o comportamento que deriva do preconceito e do estereótipo. Geralmente, a discriminação é negativa e pode intensificar-se em situações de crise (política, econômica, social e emocional). •Estigma -A palavra estigma representa algo de mal, que deve ser evitado; que demonstra pertencer a uma categoria com atributos incomuns ou diferentes e pouco aceitos pelo grupo social, ou em casos extremos, é considerado mau e perigoso. •O conceito de normal e patológico é relativo. As ideias e os critérios de avaliação destes termos foram sendo construídas com base no desenvolvimento científico, na cultura e nos comportamentos daqueles que avaliam os indivíduos. •O conceito de Saúde Mental é mais amplo que a ausência de transtornos mentais. •Sob o ponto de vista cultural, o que em uma sociedade é considerado normal, aceito e valorizado, em outra sociedade, ou na mesma sociedade, em outro momento histórico, pode ser considerado anormal, desviante ou patológico. A FAMÍLIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES: UM BREVE HISTÓRICO E OS TIPOS DE FAMÍLIAS •Com a modernidade e o crescimento do individualismo, amor, sexualidade e casamento se associaram. Um novo ideal de conjugalidade fez do casamento o lugar de promessa de felicidade onde o amor e a sexualidade são condições fundamentais. •No final do século XIX e início do século XX passamos de uma sociedade repressiva para uma sociedade mais permissiva. •Início do declínio do modelo patriarcal no meio doméstico -A relação entre pais e filhos se modificou. •A família patriarcal evoluiu e deu lugar à família caracterizada como um grupo vinculado pelo afeto. Seus tipo são: -Nuclear Família padrão, dita tradicional. Pais casados morando com seus filhos biológicos. -Monoparental É aquela em que apenas um dos pais de uma criança arca com as responsabilidades de criar o filho. -Família recomposta ou família reconstituída Define-se pela presença, no lar, de filhosprovenientes de uniões anteriores de um e/ou de outro cônjuge. -Famílias homoafetivas Colocam em questão o modelo tradicional fundado na reprodução biológica e a heterossexualidade do casal. -A opção por não constituir família O casamento contemporâneo não necessariamente envolve um projeto de filiação e descendência. •QUESTÃO: A família é, em geral, o primeiro grupo ao qual o ser humano pertence. Por que este fato é importante ? -Porque é a partir do pertencimento a uma família ou grupo social que o ser humano começa o seu processo de socialização, de internalização de regras e de convivência. RELAÇÕES AFETIVAS -Conjugalidade: relação resultante da união entre dois sujeitos -Parentalidade: relação entre pais e filhos. A parentalidade não se estabelece automaticamente, a partir da chegada de um filho. Tornar-se pai ou mãe é investir afetivamente na criança, reconhecendo-a como filho. A filiação não está apoiada apenas na realidade genética, mas deve ser fundada no desejo e na disponibilidade de assumir a função. Ao nascer, a criança recebe direito à cidadania, ou seja, é natural de algum lugar. Nome e sobre nome, nesta mesma linha de raciocínio, indicam pertencimento a um grupo familiar. Quando nomeada, a criança é incluída em uma rede de parentesco a qual se vinculará e a família será responsável pela produção de sua identidade social. -Filiação socioafetiva: Aqueles que se intitulam pais que irão inscrever o sujeito em uma família. É necessário também que tenha sido tratado, educado e mantido por aqueles como filho e, portanto, reconhecido como tal pela sociedade. A filiação afetiva ganha cada vez mais espaço e diferentes adultos podem assumir funções parentais, mesmo não sendo os pais legais nem os genitores. No caso de adoção, por exemplo, não existe gestação, mas para indicar seu desejo de receber a criança adotada como filho, desempenharão a adoção psicológica. Qualquer processo de construção da parentalidade se inicia com uma criança imaginária, sonhada pela mãe durante a gravidez ou durante o processo de espera da adoção. O fracasso conjugal dos pais não impede que se continue a assegurar conjuntamente as funções parentais. Os laços conjugais se rompem, mas há a necessidade de cuidar dos laços parentais, esperando que o seu fortalecimento se dê pela permanência conjunta ideal e de comum acordo entre os ex-cônjuges. Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança: o direito à sua identidade, inclui, enquanto elementos básicos da identidade de um indivíduo, a nacionalidade, o nome e as relações familiares. Princípio do Melhor Interesse da Criança, previsto na Constituição em seu artigo 227 e no Estatuto da Criança e do Adolescente em seus artigos 4* e 5*: a convivência familiar foi entendida como um direito fundamental da infância, e da filiação socioafetiva foi valorizada. GUARDA COMPARTILHADA -As mulheres foram conquistando, em nossa sociedade, igualdade de direitos e oportunidades, mas também os homens têm buscado ocupar um maior espaço no cotidiano familiar e igualdade de direitos na participação da educação dos filhos. A Lei n* 11.698/2008 representou uma nova compreensão do modelo de família e estabeleceu como preferencial o modelo de guarda compartilhada, que permitiu repensar a concepção vigente até então quanto aos papéis de pai e mãe na formação de um filho. Atualmente, a Lei n* 13.058, de 22 de dezembro de 2014 é que estabelece o significado da expressão guarda compartilhada e dispõe sobre sua aplicação. ALIENAÇÃO PARENTAL -Fere o melhor interesse da criança - cominada pelo prevalecimento dos interesses dos pais - e causa danos em seu desenvolvimento. A criança demonstraria uma intensa rejeição a um dos genitores (o alienado) como resultado de manipulação psicológica realizada pelo outro genitor (o alienador), sem que houvesse uma justificativa aplicável para isso. A menos que um dos pais esteja física ou psicologicamente nocivo para o filho, nada justificaria a privação do exercício parental , sendo a convivência com ambos os pais um direito inalienável atribuído à criança por direito. Na Lei n* 12.318/2010, que dispõe sobre a alienação parental, ela é descrita como sendo a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham autoridade, guarda ou vigilância sobre ela(e), afim de prejudicar o estabelecimento ou manutenção vincular parental. VIOLÊNCIA: ABORDAGEM PSICOLÓGICA -Comunidade Internacional de Direitos Humanos: é compreendida como toda violação de direitos civis, políticos, econômicos e culturais. -Para a psicologia, é: •Bock, Furtado e Teixeira determinaram como sendo o uso desejado da agressividade, com fins destrutivos, podendo ser voluntário, racional e consciente ou involuntário, irracional e inconsciente. •Mangini (2008): ocorre quando a agressividade não está relacionada à proteção de interesses vitais, trazendo em si a ideia de destruição entre seres da mesma espécie, quando outras soluções poderiam ser empregadas. -Para os psicólogos, deve: •Ser tratada, e não punida •Ter suas causas investigadas e suas pesquisas utilizadas para, a partir de um trabalho em equipe, viabilizar a reestruturação da situação onde a violência aconteceu. •Exigir uma maior qualificação profissional e pessoal dos que desejam trabalhar nessa área. VIOLÊNCIA: MECANISMOS DE CONTROLE São exemplos a educação, a lei e a tradição. Transformação dos impulsos agressivos em produções consideradas socialmente positivas, como a criação intelectual, as artes e o esporte. Desde a infância: o ser humano é levado a aprender a reprimir e a não expressar a agressividade de forma descontrolada. Violência e agressividade: contexto social e cultural no qual o ato é realizado. O comportamento agressivo em um contexto pode ser considerado violência em outro, e vice-versa. As visões teóricas da Psicologia não se contradizem se complementam, reforçam-se e possibilitam a compreensão deste fenômeno sob diferentes visões. FORMAS DE VIOLÊNCIA -Estrutural: negam acidadania para alguns indivíduos ou determinados grupos de pessoas, pautados principalmente na discriminação social contra os “diferentes”. -Urbana: tipificadas como violação da lei penal, como assassinatos, sequestros, roubos e outros tipos de crime contra a pessoa ou patrimônio. -Instrucional: aquela praticada nas instituições prestadoras de serviços que deveria garantir uma atenção humanizada, preventiva e reparadora de danos. -Simbólica: relações estabelecidas entre grupos dominantes e dominados que aparecem de forma naturalizada. -Doméstica: ocorre no lar, compreendido como o espaço de convívio permanente de pessoas com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas. Possui cinco tipos: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. A negligência é o ato de omissão do responsável pelo dependente (criança, idoso, etc) em proporcionar as necessidades básicas, necessárias à sobrevivência e ao desenvolvimento. MANIFESTAÇÃO PSICOLÓGICA DA VIOLÊNCIA -Transtorno desafiador opositivo: manifesta-se antes dos 8 anos de idade e habitualmente não depois do início da adolescência. Seus sintomas emergem, frequentemente, no contexto doméstico, mas com o tempo pode aparecer em outras situações O início é tipicamente gradual, em geral se estendendo por meses ou anos. -Transtorno de conduta: comportamento problemático que manifesta-se em violações importantes que vão além das travessuras/rebeldia de uma criança mais velha/adolescente e é, portanto considerado mais grave. -Transtorno de personalidade antissocial: manifestado por indivíduos destrutivos e emocionalmente prejudiciais. Costumam desorganizar o meio e as relações sociais, causando sofrimento para as pessoas que vivem ao seu redor. Apesar de causar problemas para os outros, são pessoas que estão sempre bem, não sentindo culpa nem necessidade de reparar os prejuízos que causam. Algumas pessoas com características antissociais podem jamais enfrentar problemas legais. Para Trindade (2007), a criminalidade não é sinônimo de transtorno de personalidade antissocial. -Psicopatia: modelo particular de personalidade, que resulta da interação de diferentes fatores sociais e biológicos, como transtorno de personalidade antissocial. O fato como agem em relação às normas sociais e jurídicas fez com que fossem também nomeados de sociopatas. Cometem delitos violentos que abalam a sociedade. De acordo com a Escala Hare, os psicopatas preenchem os critérios para o transtorno de personalidade antissocial, mas desses, nem todos preenchem os critérios do transtorno de psicopatia. E a prevalência de transtornos antissociais são de duas a três vezes maior do que os de psicopatia. Outros tipos de violência: -Bullying: manifesta-se através de brincadeiras, ações repetitivas contra a mesma vítima sem justificativa e em um período prolongado de tempo com um desequilíbrio de poder, o que dificulta a defesa da vítima. -Assédio moral: coação social que se instala em qualquer tipo de hierarquia ou que se sustente pela desigualdade social e pela autoridade. É um fenômeno antigo, no entanto sua importância atual deve-se ao novo cenário no trabalho, onde os vínculos e interesses próprios levam à disputas competitivas. A PSICOLOGIA E SUAS INTERFACES COM OS SISTEMAS JURÍDICO E JUDICIÁRIO Qual a finalidade da justiça? A transformação social na busca de uma sociedade justa. O que é uma sociedade justa? Segundo Cavalieri Filho (2002), é uma sociedade sem preconceitos e discriminação (de sexo, cor, ou idade); uma sociedade livre, solidária, sem pobreza e desigualdades sociais, na qual a cidadania e a dignidade da pessoa humana são as principais metas. Qual a função do operador do Direito? Adequar o Direito à justiça. A justiça é um sistema aberto de valores e suscetível às mudanças. Por melhor que seja a lei, sempre terá de ser ajustada às transformações sociais e aos novos ideais de justiça. O acesso à justiça: Pressupõe a capacidade e oportunidade de realização de um direito, principalmente, dos direitos humanos que configuram a verdadeira cidadania. Qual a função do Psicólogo? Fundamentar o seu trabalho apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos para promover a integridade do ser humano, o respeito, a dignidade, a liberdade, a igualdade, a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades, desfavorecendo quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. PSICOLOGIA E SUA RELAÇÃO COM OS SISTEMAS JURÍDICO E JUDICIÁRIO -Desde meados de 2007, a Secretaria da Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça, definiu o tema “Democratização do Acesso à Justiça” como eixo prioritário de suas ações. -Na tentativa de dar mais visibilidade à Justiça Restaurativa, em 14 de agosto de 2014, o presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) assinou um acordo para incentivar a Justiça Restaurativa com o objetivo de diminuir a judicialização de infrações e reparar as relações sociais. A JUSTIÇA RESTAURATIVA Principios: •Voluntariedade •Horizontalidade •Responsabilização do autor do ato infracional •Resgate de valores que ficam prejudicados quando não se pratica um ato infracional (respeito, honestidade, humildade, entre outros) Conflito: •Faz parte de nossa vida •Se estabelece a partir de expectativas, valores e interesses que são contrariados •Cada uma das partes envolvidas no conflito busca encontrar argumentos para reforçar suas posições e enfraquecer/destruir os argumentos da outra parte De uma perspectiva restauradora, entendemos que “a paz é um bem precariamente conquistado por pessoas ou sociedades que aprenderam a lidar com os conflitos” (Vasconcelos, 2008). MECANISMOS DE AUTOCOMPOSIÇÃO DOS CONFLITOS -Negociação: Pessoas com problemas e/ou processos entre elas lidam diretamente para a transformação e restauração de relações, buscando a solução para as suas disputas ou trocas de interesse. -Mediação: É um meio de solução de conflitos em que duas ou mais pessoas, com a colaboração de um terceiro (o mediador), expõem o problema. O mediador as escuta, questiona e vai trabalhando com elas a comunicação,de forma construtiva, para chegar, eventualmente, a um acordo. -Conciliação: “É um meio alternativo de resolução de conflitos em que as partes confiam a uma terceira pessoa neutra (o conciliador), a função de aproximá-las e orientá-las nas construção de um acordo” - Tribunal de Justiça do Paraná. A PRÁTICA PSICOLÓGICA NO JUDICIÁRIO Nos fóruns, tradicionalmente, o psicólogo realiza trabalhos de avaliação psicológica, elaboração de documentos, acompanhamento de casos, aconselhamento psicológico, orientação, mediação, fiscalização de instituições, programas de atendimentos a infância, adolescência, idoso e encaminhamentos. Nas áreas em que atuar, o psicólogo elaborará relatórios que possam fundamentar a decisão da autoridade judiciária competente pela possibilidade de reintegração familiar ou colocação em família substituta destas crianças e adolescentes. A PRÁTICA PSICOLÓGICA NO JUDICIÁRIO: ÁREA CÍVEL O psicólogo atua nos casos de interdição, sucessões, indenizações, etc. A PRÁTICA PSICOLÓGICA NO JUDICIÁRIO: ÁREA FAMILIAR O psicólogo assessora o juiz, principalmente, nos casos de guarda e regulamentação de convivências nas separações que ocorrem de forma litigiosa. Seu trabalho nesta vara visa auxiliar na revelação das motivações de comunicações latentes dos indivíduos nos processos judiciais que envolvem conflitos familiares. A PRÁTICA PSICOLÓGICA NO JUDICIÁRIO: ÁREA INFANTO-JUVENIL O psicólogo atua no estabelecimento de medidas protetivas, trabalha com questões ligadas à violência contra crianças e adolescentes em consonância com o Conselho Tutelar no atendimento destes, de seus responsáveis e nas situações de abrigamento de crianças e adolescentes, quando é impossível a convivência e segurança em seus lares. O Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil, 1990): *Compreende o adolescente como sujeito de direitos e em condição peculiar de desenvolvimento; *Não utiliza o termo menor por este remeter a noção de inferioridade; *Proíbe o cumprimento de penas para os adolescentes em conflito com a lei e estabelece o cumprimento de medidas socioeducativas (são elas: advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, internação em estabelecimento educacional, além de medidas protetivas que visem o seu acompanhamento na família, escola, comunidade, serviços de saúde, etc). Proposta de trabalho psicológico: promover intervenções críticas no programa de atendimentos para a execução de medidas socioeducativas que incentivem os adolescentes a repensarem seus desejos, seus valores, seus ideais e os modelos possíveis de transformar a realidade vivida, além da realização de relatórios fornecendo subsídios à decisão judicial sobre a aplicação das medidas. A PRÁTICA PSICOLÓGICA NO JUDICIÁRIO: ÁREA DO IDOSO Estatuto do Idoso (Lei 10.741, 1 de Outubro de 2003): Legislação apta a proteger e a tutelar os direitos do idoso, combatendo a violência por meio de seus principais processos penais e processuais penais. Constatação: Além das omissões do Estado, são os familiares os maiores agressores, e a violência ocorre mesmo dentro de suas casas. A violência contra o idoso pode acontecer de várias formas; desde a psicológica (negligência, descaso) até as agressões físicas. A PRÁTICA PSICOLÓGICA NO JUDICIÁRIO: VARAS CRIMINAIS Na realidade brasileira, a psicologia aplicada à área criminal e talvez o mais antigo campo de atuação do psicólogo jurídico. O trabalho nessa área relaciona-se com o Direito Penal (orientado pelos Códigos Penal e Processual Penal e pelas Lei que regulamentam o assunto) e insere-se em diversos campos, tais como: *Inquérito Policial, efetuando avaliações em indiciados para averiguar seu estado psíquico, sua eventual periculosidade. *Processos criminais, realizando avaliações de incidentes de insanidade mental, dependência toxicológica, entre outros. A PRÁTICA PSICOLÓGICA NO JUDICIÁRIO: JUIZADOS ESPECIAIS •São um importante meio de acesso à justiça, pois permitem aos cidadãos buscarem soluções para seus conflitos cotidianos de forma rápida, eficiente e gratuita. Nesses Juizados, em geral, quando há psicólogos, ocorre encaminhamento do juiz e após a coleta dos dados e identificação do caráter da questão, por este profissional será feita uma avaliação. A devolução para as partes e para o juiz terá ligação com a intervenção realizada. A PRÁTICA PSICOLÓGICA NO JUDICIÁRIO: JUIZADO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER •A Lei Maria da Penha (ou Lei 11.340 de 7 de agosto de 2006): Surgiu com o objetivo de responder às necessidades e anseios das mulheres vítimas de violência conjugal, diante dos problemas relativos à aplicação da Lei 9.099 de 1995 do Juizado Especial, em situações de violência doméstica. *Considerado qualquer ato ou conduta baseada no gênero que cause morte, dano, sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na privada. *A violência pode ser uma forma de comunicação patológica entre os parceiros. *A violência não surge de repente, mas é a expressão de uma situação crônica que vai, aos poucos, destruindo as defesas da mulher, até deixá-la completamente entregue ao agressor. *O trabalho do psicólogo nas situações de violência contra a mulher é realizado em equipe multidisciplinar. *Pode desenvolver trabalhos de orientação, encaminhamento, prevenção e outras ações voltadas para a mulher, o agressor e os familiares envolvidos na situação. *O psicólogo irá fornecer subsídios ao juiz, ao Ministério Público e à Defensoria Pública, mediante laudos ou oralmente em audiências. A PRÁTICA PSICOLÓGICA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO Este tema é importante e polêmico porque envolve conceitos como justiça, castigo, punição e liberdade. Há muita discussão sobre qual o papel que o psicólogo quer e pode ocupar no sistema prisional. As atribuições do profissional, em todas as práticas do sistema prisional: *Respeito e promoção dos direitos humanos *Participação nos processos de construção da cidadania, desconstruindo a idéia de que o crime está relacionado unicamente à patologia ou à história individual *Enfatizar os dispositivos sociais que promove os sistemas de criminalização*Elaborar estratégias de fortalecimento dos laços sociais, com uma ampla participação dos sujeitos (projetos interdisciplinares que resgatem a cidadania e a inserção social na sociedade extramuros) O PROCESSO DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO JUDICIÁRIO O compromisso do psicólogo na avaliação, não está restrito ao fornecimento de informações ao juiz, para subsidiar decisões no processo judicial. Pois o psicólogo trabalha em todas as dimensões do processo encaminhado, visando promover e manter os direitos das pessoas avaliadas. A avaliação não deve ser usada para excluir ou segregar socialmente as pessoas. É importante um trabalho crítico, qualificado e ligado aos direitos humanos, com o psicólogo assumindo um compromisso social frente às pessoas que sao encaminhadas para esse tipo de atendimento. O perito psicólogo é um profissional de confiança do juízo e tem alguns compromissos: a imparcialidade na avaliação do caso, apresentar um parecer técnico para o magistrado e responder aos quesitos formulados no documento. Nas situações em que encontramos partes em oposição, além da perícia, está previsto o direito de contratação de assistente técnicos. Esses profissionais, psicólogos, estarão acompanhando os resultados do trabalho realizado pelo perito, profissional de confiança do juiz confirmando ou rejeitando suas conclusões. DOCUMENTO ELABORADO PELO PSICÓLOGO NO JUDICIÁRIO No Judiciário, os documentos elaborados pelos psicólogos são provas processuais auxiliando para esclarecer controvérsias e decisões judiciais. O psicólogo realizará a avaliação psicológica podendo utilizar instrumentais próprios de sua técnica (entrevistas, testes, observações, dinâmicas…) que servem para coletar dados, realizar estudos e interpretações de informações sobre as pessoas atendidas. Exs: Declaração, Atestado, Laudo/Relatório psicológico e Parecer. QUESTÕES ÉTICAS AO PSICÓLOGO NO JUDICIÁRIO O Código de Ética Profissional do Psicólogo foi aprovado em 2005, a partir de múltiplos espaços de discussão sobre a ética da profissão, suas responsabilidades e compromissos com a promoção da cidadania. Princípios fundamentais do Código de Ética dos Psicólogos: -Princípio da dignidade da pessoa humana -Promoção da saúde e qualidade de vida das pessoas e coletividades -Responsabilidade social -Divulgação dos conceitos éticos e práticas psicológicas -Reconhecimento das relações de poder nos contextos em que atue nos impactos dessas relações.
Compartilhar