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A sagração do governante A colonização portuguesa da América obedece a uma filosofia vigente na época. Apoiado no absolutismo que centraliza o poder no rei e quebra com a estrutura feudal. Somente um Estado unificado poderia iniciar as navegações ultramarinas, pois poderia organizar e catalisar os recursos internos e externos. A monarquia absolutista surge apoiada pela burguesia (capital mercantil) e contra o campesinato. Apóia-se no direito romano, na burocracia de funcionários e no direito divino dos reis. A partir do século XVI as monarquias modernas passam a usar o direito romano, o que vai permitindo a quebra do sistema feudal e dando poderes absolutos ao rei. Dessa forma, dizia-se: “o que apraz ao rei tem força de lei”. O rei constitui-se então em um ser com poderes plenos e acima de todos. Constituía-se dentro do regime absolutista um corpo burocrático de funcionários para recolher os tributos. Todavia essa política fiscal atingia em cheio as massas pobres e excluía a nobreza e o clero dessa tributação. Para sustentar esse regime a monarquia irá apoiar-se no direito divino do rei onde este era o representante de Deus na terra. Portanto, estava acima de qualquer lei por obedecer somente à lei divina. Acrescente-se a isso que somente ele sabia qual era a vontade divina. Apoiado, ainda, no poder teocrático o rei é, portanto, o representante de Deus e não dos seus governados. Esse poder é natural por ser dado diretamente por Deus como graça ou favor. Esse direito fundamenta-se também na idéia de que o governante possui uma natureza mista. Assim como Jesus Cristo possui uma natureza humana e outra divina, o rei também tem duas naturezas: o corpo físico e o corpo político (eterno, divino). Dessa forma são incorporados símbolos que legitimam esse poder: o cetro (poder para dirigir), a coroa (poder para decidir), o manto (proteção divina), a espada (o poder de guerra e paz) e o anel (o casamento do rei com o patrimônio, a terra). No Brasil colônia a sagração do governante pode ser observada na distribuição das sesmarias e das capitanias hereditárias que são concedidas como favor do rei aos senhores e mantém o rei como senhor absoluto das terras. O poder do rei é visto como necessário e natural, pois acreditava-se na ideologia do direito natural objetivo. Portanto, a vontade do rei era tida como força de lei. Essa mentalidade estava colocada também aqui no Brasil. Um aspecto que se pode considerar, como afirma Caio Prado Jr., é que “os dispositivos jurídicos ou legais da metrópole estão aquém da realidade da colônia”. Dessa forma a colônia inventa os seus próprios caminhos para diversas situações: a dispersão da propriedade fundiária pelo território; os conflitos entre senhores e escravos; de todos com o estamento religioso. Isso cria duas situações um tanto contraditórias: o rei aparece como o único elo capaz de unir os interesses das classes mais abastadas, por outro lado, a intervenção da coroa com decretos e alvarás parece não surtir efeito na colônia. Tais contradições não colocam de lado o poder do rei, pois mesmo estando distante faz valer sua vontade como chefe supremo que está acima de tudo e de todos. O mito fundador opera ao lado dos dominados legitimando o direito natural por meio das redes de favor e clientela fazendo crer no desenvolvimento e modernização; por outro lado, incute nos dominados a ideologia de que o governante seria o “salvador”, legitimado pelo direito divino. Se o rei representa Deus e não os seus governados o povo não o vê como seu representante e sim como representantes do Estado. Essa visão gera o favor ou clientelismo, pois aquilo que o rei concede aos seus súditos é entendido como um favor e não como um dever de representante do povo. Esses elementos levantados constituem um aspecto da mentalidade daqueles que colonizaram o Brasil e que vão delinear toda uma ação de exploração. Quando os portugueses aqui chegaram traziam toda uma bagagem ideológica que orientou a colonização, ideologia esta que foi incorporada e que ainda hoje sentimos a sua influência na condução do nosso país, seja política, econômica ou social.
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