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INTRODUÇÃO As lesões abdominais, se despercebidas, são causas importantes de morbidade e mortalidade evitáveis, em especial em pacientes com múltiplos trauma- tismos1. Uma vez concluída a avaliação primária e secundária, os exames complementares devem excluir ou demonstrar a presença de lesões abdo- minais e indicar a necessidade de procedimentos terapêuticos de urgência ou emergência diversos. Exames laboratoriais e de imagem, no trauma ab- dominal, devem ser solicitados de acordo com as seguintes considerações: O exame objetivo do abdome pode não ser con- fi ável, mesmo nos pacientes acordados e avaliáveis. Muitos pacientes com lesões de órgãos abdominais têm um exame objetivo negativo, sobretudo na presença de lesões extra-abdominais que causam dor (distracting injury). Nos pacientes com alteração do sensório por fármacos, drogas, álcool, traumatismo craniano ou raquimedular concomitante, o exame objetivo não é considerado confi ável. Na presença de fratura das últimas seis costelas, tanto à direita quanto à esquerda, as incidências de lesões no fígado e no baço são, respectivamente, de 10% e de 20%. Na presença de fraturas da pelve e da coluna lombar é possível a associação de lesões intra- abdominais num percentual de 30% a 47%. A tatuagem traumática (equimose transversal da parede abdominal) é indício de um evento mecâ- nico de compressão signifi cativa, com possíveis le- sões dos órgãos intra-abdominais. A instabilidade hemodinâmica é causada por uma condição intra-abdominal em 16% dos pacientes. Uma elevação das transaminases e amilase pode ser sinal de lesão intra-abdominal, mesmo se a es- 69 Trauma abdominal pecifi cidade de tais exames não for elevada. Os exames laboratoriais são solicitados durante o passo C da avaliação primária e compreendem, de rotina, as transaminases e a amilase. Os exames complementares que podem ser em- pregados no pronto socorro, para o trauma abdo- minal, são o lavado peritoneal diagnóstico (LPD), a ecografi a standard ou com a técnica E-FAST, a to- mografi a (TC) sem ou com contraste endovenoso (EV) e a TC com duplo (EV e oral) ou triplo (EV, oral e enteroclisma) contraste. A tabela 1 indica a signifi cância diagnóstica do LPD e do FAST, para evidenciar a presença de líquido livre, e da tomo- grafi a, para demonstrar diretamente lesão pós- traumática dos órgãos abdominais. A TC é o exame com a mais elevada especifi - cidade, mas só pode ser realizada nos pacientes com estabilidade hemodinâmica ou naqueles em que haja condições da reanimação ser continuada na sala da TC. A ecografi a e o LPD são efetuados na sala de reanimação. Estes exames também são utilizados nos pacientes com instabilidade hemo- dinâmica. A avaliação abdominal, com a ecografi a ou a tomografi a, pode ser repetida após algumas horas ou quando o paciente apresenta lesões potencial- mente evolutivas. Um outro exame muito utilizado no trauma abdominal é a angiografi a. Este exame tem uma grande valia diagnóstica e ainda pode desempenhar uma função terapêutica de lesões exsanguinantes através da embolização. LAVADO PERITONEAL DIAGNÓSTICO (LPD) Técnica. O LPD é executado pelo cirurgião, após o posicionamento de sonda gástrica e cateter vesi- cal. Depois de eventual anestesia local, é realizada s.santos Highlight 70 Capítulo 7 - Trauma abdominal 7 a incisão infra-umbilical mediana, subcutânea e fáscia e é introduzido um cateter na cavidade peritoneal através de um trocarte (técnica se- mi-aberta). Alternativamente, o peritônio pode ser aberto e o cateter introduzido sob visão direta no espaço de Douglas (técnica aberta). Nos traumas de bacia e nas pacientes grávidas, após o terceiro mês, é oportuno utilizar o aces- so mediano supra-umbilical. O lavado é realizado com 10 mL/kg de rin- ger aquecido a 37ºC. O líquido do lavado é re- cuperado (pelo menos 100 mL) com dispositi- vo próprio e coletado sob a ação da gravidade, enviando a amostra para ser examinada em laboratório2. Na tabela 2 são indicados os critérios de po- sitividade desse exame. O LPD tem uma sensi- bilidade reduzida, no caso de ruptura diafrag- mática e lesões retroperitoneais. Ocorrendo ruptura de vísceras ocas, o exame é inicialmen- te negativo. Nos casos de dúvida, é oportuno coletar uma amostra do líquido após algumas horas. A morbidade do LPD é de cerca de 2% e deve-se a perfuração da víscera oca ou hemor- ragia da parede intra ou retroperitoneal. ECOGRAFIA Técnica. É realizada com transdutor de 3,5 MHz, como já descrito no capítulo III. A eco- grafi a com técnica E-FAST (extended focused abdominal sonography for trauma) é destinada ao reconhecimento de líquido na cavidade peritoneal, pleural e pericárdica. Se o radiolo- gista estiver disponível, pode ser realizada uma ecografi a diagnóstica completa, com a possibi- lidade de identifi cação das lesões nos órgãos parenquimatosos3-6, mesmo que a ecografi a diagnóstica tenha uma sensibilidade limitada para demonstrar lesões de vísceras ocas, do diafragma e do retroperitônio. Nos casos duvidosos (p. ex., um paciente com suspeita de ascite) é possível realizar uma pun- ção guiada por ecografi a do líquido, para ava- liar a sua natureza. A ecografi a, seja E-FAST ou completa, pode ser de difícil execução nos casos de panículo adiposo espesso ou na presença de enfi sema subcutâneo. Em tais casos, o abdome pode ser estudado com TC. Nos casos em que não é possível fazer a tomografi a, devido à ins- tabilidade hemodinâmica, faz-se o LPD. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA Técnica. Para o estudo do abdome, a TC deve ser realizada desde o diafragma até a sínfi se púbica. O paciente é despido, retiram-se todos os objetos metálicos e posiciona-se a sonda gástrica e o cateter vesical. Este último é man- tido fechado para que ocorra o enchimento vesical com o contraste excretado. Se possível, Tabela 1 Sensibilidade Especifi cidade Valor preditivo positivo Valor preditivo negativo DPL 91,93% 97,19% 93,42% 97,17% Ecografi a 92,2% 98,1% 92% 98% TC 98,8% 100% 100% 96,6% Tabela 2 Critérios de positividade do LPD Exame positivo Exame negativo Aspiração de 10 ou mais mL de sangue ou material entérico depois do lavado: • GV ≥100.000/mm3 • GB ≥ 500/mm3 • Amilase ≥ 175 U/mm3 • Bactéria (coloração pelo Gram) • Fibra alimentar Ausência de aspiração de sangue ou material entérico depois do lavado: • GV ≤ 50.000/mm3 * • GB ≤ 100/mm3 * • Amilase ≤ 75 U/mm3 * • Ausência de bactéria e fi bra alimentar GV, glóbulo vermelho; GB, glóbulo branco; *valor intermediário indica a necessidade de repetir o exame. 71 Capítulo 7 - Trauma abdominal 7 os braços são colocados ao lado da cabeça para evitar artefatos. A velocidade de execução e a espessura dos cortes são escolhidas de acordo com a disposi- ção e a fi nalidade do estudo. Quanto mais fi nos forem os cortes, maior é a resolução e, portanto, a sensibilidade do exame. Em compensação, o maior número de cortes corresponde a maior exposição a radiação do paciente. Os cortes são realizados de 2,5 a 3 mm. A maioria dos autores propõe três passa- gens durante o exame: direta (sem contraste), 30 segundos do início da infusão do contras- te (fase arterial) e 80 segundos (fase venosa ou parenquimatosa) do início da infusão do contraste7,8. Na suspeita de lesões das vias urinárias po- dem ser úteis novos cortes, após alguns mi- nutos da infusão (fase tardia). O contraste é administrado a 3,5 mL/min em volume total de 2 mL/Kg. É consenso a administração de contraste em todos os pacientes colaborativos e sem risco imediato de morte com a realização do exame. Nos casos onde a dissipação de energia ocorreu em todo o tronco, é oportuno estender a tomografi a abdominal, com meio de contras- te(TC com contraste), até o tórax (TC do tron- co ou da jugular ao púbis). A TC também pode ser realizada com contraste via vesical (cisto TC), gástrico (TC com dupla via de contraste) e endoretal (TC com tripla via de contraste) para aumentar a sensibilidade diagnóstica. A TC com contraste é o exame com maior especifi cidade e sensibilidade para evidenciar lesões produzidas por trauma a nível abdomi- nal, seja peritoneal ou retroperitoneal. Pode, ainda, demonstrar a anatomia das lesões, evi- denciar o foco de sangramento ativo da víscera parenquimatosa, o que indica angiografi a, e eventual embolização dos vasos sangrantes. A sensibilidade da tomografi a está constan- temente se elevando em razão da disponibi- lidade de aparelhos mais sofi sticados. Com esses instrumentos modernos o percentual de falso negativo, para lesões de vísceras ocas e do diafragma, está continuamente sendo re- duzido. No algoritmo 1 é indicado o percurso diag- nóstico tradicional do paciente com trauma grave e trauma abdominal. Segundo diversos estudos recentes, a TC de corpo inteiro pode também ser substituída pelo E-FAST e raios-X de tórax e pelve. A tomografi a possui sensi- bilidade superior, se comparada a radiografi a standard e a ecografi a, para a avaliação das lesões traumáticas do tórax, abdome, pelve e raquimedular. A TC submete o paciente, com a tecnologia atual, a exposição radioativa cerca de 10 vezes mais em relação ao raio-X standard, por isso, é oportuno selecionar adequadamen- te os pacientes que seguirão tal percurso. Segundo a maioria dos autores, a TC deve ser realizada apenas nos pacientes com evi- dência de trauma multissistêmico estável ou estabilizado, e no código vermelho da triagem que estão em coma e que demonstram assime- tria da ventilação na avaliação primária (po- dendo requerer procedimentos de emergência na sala de reanimação). Tal sugestão deriva do nível de superestimação na triagem (em média de 30% a 35%) para os pacientes considerados portadores de trauma grave na admissão, que, após serem estudados, não apresentam lesões signifi cativas. ANGIOGRAFIA Técnica. No trauma abdominal a angiografi a é realizada através de punção da artéria femo- ral e inserção de cateter endovascular seletivo ou super seletivo. O contraste é administrado sob pressão e, simultaneamente, registram-se imagens ordenadas da fase precoce ou tardia na sua passagem pelo vaso. A embolização dos vasos sangrantes pode ser realizada simulta- neamente, quando disponível material adequa- do (gelfoam), que pode obstruir a lesão por 48 horas ou defi nitivamente, quando empregado com espiral metálica, que causa a coagulação irreversível do vaso. A necessidade de uma angiografi a no trau- ma abdominal ocorre após a evidência de san- gramento ativo, na tomografi a com contraste, dos pacientes estáveis ou estabilizados7. A con- fi rmação do sangramento arterial representa a indicação de embolização, cujo emprego tem elevado percentual de sucesso no tratamento não-operatório (TNO) de muitas lesões paren- quimatosas; é exceção a hemorragia dos vasos arteriais do mesentério, quando é comumente indicada a intervenção cirúrgica, já que uma lesão intestinal pode estar associada. Em tais casos, o procedimento de embolização eleva o risco de isquemia e necrose da alça. s.santos Sticky Note Gelfoam (com marca registrada e a primeira inicial maiúscula)nullnull 72 Capítulo 7 - Trauma abdominal 7 ESTRATÉGIAS PARA O CONTROLE DO DANO NO TRAUMA ABDOMINAL Nos pacientes com grave comprometimento da condição geral, a reserva funcional está ex- tremamente reduzida e a realização de inter- venção cirúrgica prolongada pode causar dano adicional, além de diminuir a possibilidade de sobrevida; portanto, o processo de reparação das feridas e das anastomoses é comprometido pelo edema tissular e pelo reduzido aporte de sangue. Nestes casos, é oportuno aplicar uma estratégia de tratamento por passos sucessivos, denominada controle do dano (damage control). Esta estratégia permite o controle imediato da condição de risco de morte, recuperação com tratamento intensivo das reservas funcionais do paciente e possibilita a reparação defi nitiva das lesões oportunamente9,10. São considera- dos candidatos para a estratégia de controle do dano os pacientes com pelo menos uma das seguintes condições: 1. Hemorragia que requer transfusão de oito ou mais unidades de sangue. Algoritmo 1 Avaliação geral do trauma abdominal Não Sim *exceto no caso de sangramento de mesentério de víscera oca, nos quais é indicado procedimento cirúrgico. TNO – tratamento não-operatório. Sim Sim Sim Sim Não Não Não Não Exame de nível I Prosseguir observação, considerar intervenção Observação e repetição dos exames de I nível depois de quatro a seis horas ou por modifi cação do quadro clínico Paciente em coma com estabilidade hemodinâmica e respiração simétrica TC com contraste Procedimento cirúrgico de urgência Angiografi a Embolização Positivo ou duvidoso Hemodinamicamente estável Lesão cirúrgica Sangramento ativo* Confi rmado sangramento arterial Prosseguir observação para TNO 73 Capítulo 7 - Trauma abdominal 7 2. Temperatura central inferior a 36ºC. 3. pH inferior a 7,2. 4. RNI superior a 2. Na presença desses critérios, o procedimen- to de controle do dano deve ser aplicado pre- cocemente e prevê as seguintes fases. Fase 0: é a fase pré-hospitalar e de reanima- ção na sala de emergência, que deve ser a mais rápida possível, com o controle da via aérea e da ventilação, controle da hemorragia externa, punção de vias venosas e infusão de volume, imobilização do paciente, e transporte imediato para o centro de trauma mais próximo (strategy AB and go). O diagnóstico é limitado aos exa- mes de primeiro nível, na sala de reanimação, e podem identifi car uma fonte de sangramento. A pressão sistólica não deve ser superior a 70 mmHg nas feridas penetrantes e a 90 mmHg (110 mmHg se traumatismo craniano associa- do) no trauma fechado. Fase 1: é o ato operatório que deve ser breve (menos de 1 hora) e direcionado exclusiva- mente para estancar a hemorragia e controlar a contaminação. Os órgãos não essenciais (p. ex., o baço, um rim) são rapidamente resseca- dos; os órgãos essenciais (p. ex., o fígado, um rim único) são submetidos a desbridamento e packing. Nos casos de descontinuidade do in- testino é realizada a ressecção com grampea- dor linear, sem a realização de anastomose ou ostomia. Os vasos sangrantes são ligados ou, se a ligadura for impossível, são posicionados shunts temporários. A intervenção é concluí- da com o fechamento temporário da parede abdominal (apropinquamento somente das bordas cutâneas da ferida ou colocação de uma parede artifi cial de material plástico), para pre- venir a síndrome compartimental11. Ao térmi- no do procedimento é oportuno realizar uma TC com contraste para verifi car a presença de eventuais hemorragias focais residuais com a indicação de angiografi a e embolização12. Fase 2: o paciente é colocado na terapia inten- siva, na qual tem a oportunidade de recuperar a reserva funcional. Os objetivos da terapia in- tensiva devem ser a elevação da temperatura corpórea central (> 37ºC), uma adequada per- fusão tissular (lactato < 2 mmol/L), uma con- centração de hemoglobina maior que 7 gr (pelo menos 9 gr nos casos de traumatismo craniano associado), a de regularizar o coagulograma (plaquetas > 50.000, fi brinogênio > 100 e RNI < 1,5) e prevenir a síndrome compartimen- tal abdominal (pressão intra-abdominal < 20 mmHg). Fase 3: o paciente é novamente levado à sala de operação depois de 36-48 horas, onde se complementa a cirurgia iniciada anteriormen-te, promovendo a hemostasia das lesões pa- renquimatosas e a reconstrução do trânsito intestinal. As lesões vasculares maiores são reparadas com shunt ou bypass defi nitivo, con- trolando a perfusão distal. Ao término dos pro- cedimentos, a parede abdominal é fechada de maneira tradicional. Durante a fase 2, às vezes é necessária a reintervenção não planejada, devido a persis- tência de sangramento não controlado na pri- meira operação (necessidade de mais de duas unidades de sangue por hora ou mesmo de 15 unidades totais no pós-operatório, acidose láctica persistente e síndrome compartimen- tal). Em tais casos, deve-se obter a hemostasia utilizando-se o packing e melhorando a coagu- lação. Pode ser útil repetir a angiografi a para a embolização de focos de hemorragia residual. LESÕES TRAUMÁTICAS DO FÍGADO Diagnóstico. O fígado é o órgão intra-abdo- minal mais freqüentemente acometido por lesões traumáticas. O seu tratamento foi signi- fi cativamente modifi cado nas últimas décadas, com o advento das estratégias conservadoras. O tratamento não-operatório foi possível de- vido às modernas técnicas de imagem, que possibilitam um preciso estadiamento da lesão hepática, e do emprego da angiografi a inter- vencionista. O mecanismo traumático pode ser duplo: 1) a aplicação direta de energia sob o abdome superior ou sob a parte inferior do hemitórax direito, com compressão e laceração hepática; 2) a desaceleração com arrancamen- to do órgão das estruturas ligamentares que o fi xam à parede abdominal. No primeiro caso, a lesão hepática está fre- qüentemente associada a fratura dos últimos seis arcos costais à direita. O exame clínico pode evidenciar abrasão e contusão no epi- gástrio e hipocôndrio direito. Os exames de primeiro nível podem evidenciar: a elevação s.santos Sticky Note A unidade está correta? Não seria g/dL? 74 Capítulo 7 - Trauma abdominal 7 das transaminases, líquido livre ou presença de alteração no parênquima hepático, levantando a suspeita de lesão. Nos pacientes estáveis a defi nição anatô- mica e o estadiamento são obtidos mediante TC com contraste que permite estabelecer o grau da lesão segundo a classifi cação do Organ Injury Scale (OIS) da American Association of Surgery for Trauma (AAST)13 (Tabela 3). Tratamento conservador. O tratamento não- operatório (TNO) é hoje efetuado em apro- ximadamente 80% das lesões traumáticas do fígado. As três condições para a realização de um TNO são: 1) estabilidade hemodinâmi- ca; 2) possibilidade de estadiamento da lesão através de TC com contraste; 3) ausência de outras lesões abdominais que requeiram uma abordagem cirúrgica (vísceras ocas, diafragma e pâncreas)14 (Algoritmo 2). Se a TC evidencia a presença de sangramen- to ativo, intra e/ou extra-hepático, é necessária a realização de uma angiografi a, seguida de uma embolização, o mais seletivo possível dos vasos sangrantes. Os pacientes com lesão de graus I-II são colocados em observação na en- fermaria e os de graus III-V são levados para a terapia intensiva com monitoramento hemo- dinâmico invasivo. Os exames hematimétricos, de transamina- ses, de bilirrubinas, de fosfatase alcalina e de lactato são repetidos a cada 12 horas, no pri- meiro dia, e a cada 24 horas, nos dias sucessi- vos, ou quando ocorre variação clínica. A queda progressiva das enzimas e do lac- tato, com estabilidade da hemoglobina, indica evolução favorável, não sendo indispensáveis ulteriores exames de imagem15. Ao contrário, na presença de elevação das enzimas hepáticas e do lactato, com queda da hemoglobina e o paciente hemodinamicamente instável, é oportuno repe- tir rapidamente a TC com contraste. Na presen- ça de um novo foco de sangramento pode ser repetida a angiografi a e a embolização. Se não há sangramento visível na tomogra- fi a, mas ocorre o aumento do líquido perito- neal, pode-se proceder a uma laparoscopia, na tentativa de hemostasia, se a perda de sangue for na superfície do órgão (Algoritmo 3). Se no curso do TNO o paciente se tornar instável, do ponto de vista hemodinâmico, é necessário realizar imediatamente o E-FAST no leito para confi rmar (com base no aumen- to do líquido) a origem da instabilidade, e, em caso positivo, realizar a intervenção cirúrgica. O ressangramento, no curso do TNO, é uma complicação que ocorre, predominantemente, Tabela 3 Classifi cação AAST da lesão traumática do fígado Grau Descrição da lesão I Hematoma Subcapsular com superfície < 10% do fígado Laceração Capsular e parenquimatoso < 1 cm de profundidade II Hematoma Subcapsular com superfície de 10%-50% do fígado ou intraparenquimatoso com diâmetro < 10 cm Laceração De 1-3 cm de profundidade, < 10 cm de comprimento III Hematoma Subcapsular com superfície > 50% do fígado ou em expansão, ou mesmo com laceração da cápsula Hematoma Intraparenquimatoso com diâmetro > 10 cm ou em expansão Laceração > 3 cm de profundidade IV Laceração Intraparenquimatoso envolvendo de 25% a 75% de um lobo ou de um a três segmentos de Couinaud em um único lobo Hematoma Ruptura intraparenquimatosa ou com sangramento ativo V Laceração Intraparenquimatoso > 75% de um lobo ou > 3 segmentos de Couinaud em um único lobo Lesão vascular Lesão de uma veia supra-hepática ou da veia cava retro-hepática ou de uma grande veia hepática central VI Lesão vascular Avulsão do fígado 75 Capítulo 7 - Trauma abdominal 7 durante as primeiras 72 horas. Complicações mais tardias são representadas pelo bilioma e pela fístula biliar16. Ambos são acompanhados de febre, dor, elevação das enzimas hepáticas (em especial da fosfatase alcalina) e das bilir- rubinas. No caso de bilioma, a TC com contraste pode localizar e guiar a drenagem percutânea. Se a drenagem não cessar em alguns dias, é neces- sário realizar uma colangiopancreatografi a en- doscópica retrógrada (CPRE) com papilotomia e posicionamento de uma sonda naso-biliar. Nas fístulas biliares o diagnóstico é realizado através de TC com contraste, que demonstra líquido livre peritoneal ou uma coleção extra- hepática. Pode ser necessária a inserção de um cateter para a drenagem percutânea ou lapa- roscopia para higienização da cavidade. A CPRE ou a colangiografi a percutânea trans- hepática (CPTH) permite a visualização da fístu- la, a qual pode ser tratada com stent ou simples drenagem naso-biliar ou trans-hepática. Nos casos onde a CPRE não é possível, a colangio- ressonância passa a ser uma alternativa e pode evidenciar a sede da fístula biliar17. Nos casos de persistência da fístula biliar será necessário o tratamento cirúrgico com ressecção hepática. O paciente pode ser liberado após o TNO quando não ocorrerem complicações, involu- ção da lesão na ecografi a de controle e queda das enzimas hepáticas, por pelo menos 3 dias consecutivos. A TC de controle é reservada Algoritmo 2 TNO na lesão traumática do fígado Não Sim TC com contraste Protocolo TNO Suspeita de lesão hepática Estabilidade hemodinâmica Angiografi a e embolização Outras lesões abdominais com indicação cirúrgica Sangramento ativo Sucesso Laparotomia Sim Sim Sim Não Não Não 76 Capítulo 7 - Trauma abdominal 7 Algoritmo 3 Monitoramento no decorrer de TNO para lesão de fígado Não Sim Sim Sim Não Não Não CPRE - Colangiopancreatografi a endoscópica retrógrada, CPTH - Colangiografi a percutânea trans-hepática e TNO Tratamento não- operatório. CTI Lesão hepática > Grau II Monitoramento hemodinâmico invasivo Enfermaria Repetir TC com contraste – Angiografi a e embolização, se sangramento intra-hepático – Laparoscopia, se sangramento superfi cial – Drenagem e CPRE, se bilioma – CPRE, CPT e laparoscopia,se fístula biliar Prosseguir observação Prosseguir TNO Laparotomia Evolução da lesão hepática Sucesso Aumento das enzimas e do lactato, diminuição da hemoglobina, icterícia, febre e dor Sim Instabilidade hemodinâmica Laparotomia Sim Não 77 Capítulo 7 - Trauma abdominal 7 somente para as lesões mais graves (grau III em diante). O retorno à atividade física pode ocorrer após 1-3 meses, em função do grau da lesão. Tratamento cirúrgico. Todos os pacientes com instabilidade hemodinâmica e suspeita de le- são hepática são submetidos à laparotomia. Em tais casos a intervenção é mais bem indicada na presença do E-FAST positivo para líquido intra-abdominal, sendo confi rmada a lesão he- pática no peroperatório. Nos casos com insta- bilidade limítrofe, a intervenção é considerada na presença de líquido abdominal abundante (peri-hepático, parieto-cólico e pélvico), quando foram infundidos mais de 2.000 mL de crista- lóide e sangue para restabelecer os parâmetros e em presença de lesão hepática maior que o grau III. No Algoritmo 4 são demonstradas as estratégias cirúrgicas que podem ser adotadas durante uma intervenção18. Se o sangramento for bem controlado com a manobra de Pringle (clampagem temporá- ria do hilo hepático) e o paciente não estiver gravemente comprometido, é possível tentar a reparação da lesão realizando sutura direta no foco de sangramento e o desbridamento do tecido desvascularizado (não deve ser conside- rada a ressecção hepática anatômica, pois este é um procedimento de longa duração e com potencial de sangramento, a menos que o trau- ma já tenha causado uma desvascularização segmentar ou lobar). Na impossibilidade de obter o controle do sangramento com a clampagem hilar, é prefe- rível uma estratégia de controle do dano com Algoritmo 4 Tratamento cirúrgico da lesão hepática Não Sim * nas lesões não reparáveis, em casos selecionados, é possível efetuar uma hepatectomia total com shunt porto-cava, se há previsão de transplante hepático em poucos dias. Sim Não – Compressão bimanual – Recuperação volêmica – Manobra de Pringle (reperfundir o fígado por 5 min a cada 15 min) Lesão hepática com necessidade de tratamento cirúrgico Cessado o sangramento Digitoclasia com exposição da sede de sangramento e hemostasia Desbridamento do tecido hepático desvascularizado (ou prótese na lesão estrelada de um lobo) Cobertura com omento vascularizado e/ou hemostático local Exclusão vascular total com tríplice clampagem Reparação das lesões e packing Recuperação no CTI, correção da acidose, hipotermia e coagulopatia Reintervenção depois de 36 a 48 h Realizar a TC com contraste e eventual angiografi a com embolização Packing Cessado o sangramento 78 Capítulo 7 - Trauma abdominal 7 packing, seguida de recuperação, em ambiente de terapia intensiva, das reservas funcionais e reintervenção, após 36-48 horas, antes da TC com contraste, e eventual angioembolização. Tal abordagem pode ser realizada de acordo com a familiarização do cirurgião com a pato- logia hepática, como tratamento ponte, para poder transferir o paciente para um centro mais adequado. Na reintervenção realiza-se a remo- ção do packing e o desbridamento dos tecidos hepáticos desvascularizados. Na lesão extensa, seja do lobo esquerdo ou direito, não reparável cirurgicamente, e em ca- sos selecionados nos centros altamente espe- cializados, pode ser realizada a hepatectomia total, seguida de uma anastomose porto-caval término-lateral19, sendo realizado, nos próximos dias, assim que possível, o transplante hepáti- co. A fase anepática, em tais casos, não deve perdurar por mais de 48 horas, a qual, se supe- rada a fase aguda, é necessário a disponibilida- de, em tempo hábil, de órgão compatível. LESÃO DAS VIAS BILIARES As lesões isoladas das vias biliares extra- hepáticas ocorrem raramente (menos de 4% dos traumas abdominais) e são de difícil diag- nóstico, mesmo tardio (a menos que ocorra a intervenção cirúrgica por outro motivo). Ma- nifesta-se com icterícia, febre, dor abdominal, aumento da bilirrubina e das enzimas hepáti- cas que aparecem alguns dias após o trauma. A ruptura da vesícula é tratada simplesmen- te com colecistectomia. Mais complexo do ponto de vista diagnós- tico terapêutico são as lesões do hepatoco- lédoco. O primeiro procedimento diagnóstico (Algoritmo 5) é uma ecografi a que demonstra líquido livre na cavidade e com a punção guia- da revela a natureza biliar do líquido. A seguir, pode ser realizada uma colangio-ressonância para defi nir a sede da perda de bile e diferen- ciar de uma lesão gastrointestinal. Se o diagnóstico for confi rmado, é oportuno realizar uma CPRE, tendo em vista que as le- sões incompletas do hepatocolédoco (inferior a 50% da circunferência) permitem o posiciona- mento de um stent, propiciando a cicatrização. Se a papila não é acessível por via endoscópica, por exemplo, por uma pregressa ressecção gás- trica ou gastrojejunostomia, a via biliar vai ser acessada somente por via transparietohepática para o diagnóstico e a eventual tentativa de posicionamento de stent. Em cada caso, o tratamento endoscópico ou percutâneo deve ser completado com a dre- nagem da coleção biliar no peritônio, posi- cionando um cateter guiado por tomografi a, ultra-som ou mesmo por via laparoscópica. No caso de falência do tratamento conserva- dor ou na presença de lesões mais complexas é necessária uma intervenção cirúrgica para a reparação da via biliar, com colocação de dreno de Kehr ou através de derivação bílio-digestiva com alça exclusa. LESÃO TRAUMÁTICA DO BAÇO Diagnóstico. O baço é o segundo órgão, depois do fígado, a ser acometido por lesão traumáti- ca. O mecanismo pode ser a aplicação direta de energia sobre o hipocôndrio e o hemitórax esquerdo, com freqüente associação de fratura dos últimos seis arcos costais. Mais raramente, o baço é lesado após desaceleração, o que causa a laceração das conexões vásculo-ligamentares. Pode-se suspeitar do diagnóstico na presença de líquido livre no ultra-som e fratura de arcos costais à esquerda e, em casos de estabilidade hemodinâmica, confi rmado com a TC contras- tada. A realização da TC com contraste propicia o estadiamento OIS da lesão esplênica, segundo a ASST13 (Tabela 4). Se o paciente está hemodi- namicamente instável, é necessária uma inter- venção cirúrgica de emergência, através da qual se confi rma o diagnóstico no peroperatório. Tratamento conservador. Para o TNO de uma lesão esplênica valem as mesmas indicações já apresentadas a propósito do fígado: estabilida- de hemodinâmica, ausência de outras lesões abdominais com indicação cirúrgica e esta- diamento mediante TC com contraste20. A evi- dência na TC contrastada de sangramento ati- vo (blushing) ou lesão vascular do parênquima (pseudo-aneurisma e fístula artério-venosa) representa uma indicação para a angiografi a. Muitos autores realizam a angiografi a nas lesões de grau superior ao II, independente- mente de extravasamento de sangue na TC com contraste. No curso da angiografi a faz-se a embolização seletiva de todas as lesões san- grantes e das lesões vasculares com risco de sangramento ou mesmo na presença de lesões múltiplas, fazendo a embolização proximal da artéria esplênica (Algoritmo 6). s.santos Sticky Note tratamento-ponte 79 Capítulo 7 - Trauma abdominal 7 Alguns autores realizam rotineiramente a embolização proximal, visto que o máximo per- centual de ressangramento ocorre dentro de 72 horas. O follow-up de uma ruptura do baço em TNO prevê o monitoramento por 3 dias nos graus I-II, na enfermaria (possivelmente com telemetria), e nosgraus > II, na unidade de te- rapia intensiva ou em unidade semi-intensiva. Os exames de sangue são repetidos a cada 6 horas, até duas reavaliações estáveis, e após cada 24 horas (Algoritmo 7). Diferentemente do que acontece com o fí- gado, no baço foi demonstrado um certo per- centual (até 70%, segundo alguns autores) de aparecimento tardio de pseudoaneurisma, por isso, é sempre oportuno repetir um exame de imagem no terceiro dia; a ecografi a, nas lesões I-II, ou a TC com contraste nas lesões > II21. Se a lesão está estável ou em regressão, depois do exame de imagem de controle, o paciente pode ser encaminhado para acompanhamento ambulatorial com exame clínico e ecografi a de controle. Depois de 3 meses pode ser liberada a atividade física normal. O percentual de sucesso do TNO do baço vai de 90%-100% nas lesões OIS I-III e de 50%-60% nos casos de OIS IV-V22. A maioria das falhas do tratamento não-operatório ocor- re devido à evolução das lesões vasculares não diagnosticadas (consideradas rupturas em dois tempos). Se o paciente torna-se hemodinamicamen- te instável, é necessária a intervenção cirúrgica imediata. Em caso de novo sangramento, em Algoritmo 5 Tratamento das lesões das vias biliares extra-hepática Não Sim CPRE Colangiopancreatografi a endoscópica retrógrada CPTH Colangiografi a percutânea trans-hepática. Sim NãoPosicionamento de stent por via endoscópica, percutânea ou combinada Líquido livre biliar a punção exploradora Sucesso Colecistectomia Reconstrução com dreno de Kehr ou derivação bilio-digestiva com alça exclusa Observação Colangio-ressonância, CPRE e CPTH Ruptura da vesícula Ruptura hepatocolédoco < 50% da circunferência Sim 80 Capítulo 7 - Trauma abdominal 7 paciente hemodinamicamente estável ou esta- bilizado, pode ser útil repetir uma tomografi a com contraste e uma angiografi a com emboli- zação, se há evidência de hemorragia do parên- quima. Se a TC com contraste não demonstra sangramento do parênquima, mas ocorre o au- mento do líquido livre intracavitário, uma op- ção viável pode ser a laparoscopia para confi r- mar um sangramento na superfície do órgão. Uma complicação de um TNO de baço, além do sangramento, é o infarto esplênico que se manifesta com dor, leucocitose, febre e evi- dência à tomografi a de um setor do órgão não vascularizado e, às vezes, com formação gaso- sa, no caso de infecção superposta23. Tal evo- lução é possível de ocorrer após embolização dos vasos esplênicos, sobretudo se proximal. O tratamento consiste na esplenectomia. Uma outra complicação do TNO é o aparecimento de pseudocisto esplênico, resultante do hema- toma parenquimatoso. Requer uma evacuação percutânea, guiada por ultra-som ou laparos- cópica, somente se sintomático. Tratamento cirúrgico. A intervenção cirúrgica é obrigatória nos casos de instabilidade hemo- dinâmica e de lesões associadas no abdome, com indicação cirúrgica. Nos pacientes com grave comprometimento sistêmico, segundo a estratégia de controle do dano para o baço, e sendo um órgão não essencial, deve ser rapi- damente ressecado. Nos casos em que o pa- ciente estabiliza no peroperatório ou mesmo no curso de uma laparotomia, por outra razão, é possível realizar o tratamento cirúrgico con- servador, aplicando a técnica de esplenorrafi a, envolvimento com omento ou esplenectomia parcial. O baço deve ser preservado, sobretudo, em idade pré-adolescente, para evitar o risco de infecção severa por germes capsulados (sepse pós-esplenectomia); pode também ser útil, mesmo em idade mais avançada, para evitar a plaquetose pós-esplenectomia que parece au- mentar o risco de doenças cardiovasculares. Depois de uma esplenectomia, mesmo que parcial, e após um tratamento conservador, é consenso, no momento da alta, fazer a vacina- ção contra os germes capsulados (Pneumococco e Haemophilus infl uentiae do tipo B). Segundo alguns autores é aconselhável fazer a profi la- xia antibiótica por 1 mês, após a alta, e repetir, em caso de intervenção cirúrgica, segundo o esquema indicado na Tabela 5. Na realidade, faltam estudos comprovando a real efi cácia de tais medidas e a sepse pós-esplenectomia é um evento extremamente raro. Sendo assim, a vacinação e a profi laxia antibiótica devem ser feitas somente no caso de intervenção. O aumento das plaquetas acima de 750.000 indica a necessidade de uma profi laxia anti- trombótica (heparina de baixo peso molecular e sucessivamente aspirina ou dipiridamol). Tabela 4 Lesão traumática de baço Grau Descrição da lesão I Hematoma Subcapsular, < 10% da superfície Laceração Capsular e parenquimatoso < 1 cm de profundidade II Hematoma Subcapsular de 10% a 50% da superfície ou intraparenquimatoso < 5 cm de diâmetro Laceração Do parênquima de 1-3 cm de profundidade, que não envolve os vasos trabeculares III Hematoma Subcapsular, > 50% da superfície ou em expansão, hematoma subcapsular ou parênquima roto, ou ainda hematoma parenquimatoso Laceração > 3 cm de profundidade ou envolvendo vasos trabeculares IV Laceração Envolvimento de vasos segmentares ou hilares com desvascularização > 25% do baço V Laceração Completa do baço Lesão vascular Do hilo do baço com completa desvascularização 81 Capítulo 7 - Trauma abdominal 7 Algoritmo 6 Tratamento das lesões esplênicas Não Sim Não Não Não Não Sim Sim Sim TC com contraste Líquido livre no E-FAST Lesão associada com indicação cirúrgica Esplenectomia Tratamento cirúrgico conservador Estabilidade hemodinâmica Blushing ou pseudoaneurisma Sucesso Paciente estabilizado Laparotomia Angiografi a-embolização (aconselhada nas lesões de grau III-V) Sim Protocolo TNO 82 Capítulo 7 - Trauma abdominal 7 TRAUMA DUODENO- PANCREÁTICO Diagnóstico. O trauma fechado do epigástrio pode causar uma lesão duodeno-pancreática, prevalentemente, se o mecanismo de trauma for por compressão através de um corpo con- tundente anterior (p. ex., guidão de moto, de bicicleta, cinto de segurança) e a coluna ver- tebral. A posição anatômica do pâncreas e do duodeno é tal que, seja no trauma contuso ou penetrante, ocorre a associação de lesões em outros órgãos, podendo ser a causa de instabi- lidade hemodinâmica. Nesse caso, é prioritário o reconhecimento e o tratamento da causa de Algoritmo 7 TNO das lesões traumáticas do baço Não Sim Não Não Não Não Sim Sim Sim Exame a cada seis horas Monitoramento hemodinâmico TNO do baço Paciente estável Laparotomia Laparotomia Prosseguir TNO TC com contraste em 72 h (US para OIS I-II) Repetir a TC com contraste Laparoscopia Angiografi a- embolização Queda da hemoglobina Sucesso Lesão estável Sangramento parenquimatoso Sim 83 Capítulo 7 - Trauma abdominal 7 instabilidade hemodinâmica e, depois, o trata- mento da lesão duodeno-pancreática. A pre- sença de hiperamilasemia impõe a pesquisa da integridade duodeno-pancreática, mas a sua ausência não exclui este tipo de lesão, espe- cialmente se a amostra de sangue foi colhida antes de 3 horas de trauma (o valor preditivo negativo do nível de amilase sobe para mais de 95% somente após 3 horas). Em caso de estabilidade hemodinâmica, o exame de maior sensibilidade para o diag- nóstico de lesão duodeno-pancreática é a TC com contraste endovenoso. A integridade do Wirsung pode ser confi rmada através da CPRE ou diretamente com a TC de alta resolução em apnéia (corte de 1 mm). A lesão duodenal deve ser suspeitada na presença de ar livre nas ca- vidades peritoneal ou retroperitoneal. A con- fi rmação pode ser obtida com a administração de contraste hidrossolúvelgástrico, através de sonda, durante a TC (Algoritmo 8). Em caso de instabilidade hemodinâmica é necessária uma laparotomia de urgência, ao tér mino do procedimento para correção do san- gramento, deve ser realizada uma ampla mo- bilização duodeno-pancreática para completa visualização das estruturas24: 1) abertura do li- ga mento gastrocólico; 2) manobra de Kocher até a aorta com abaixamento da fl exura esquer- da do cólon; 3) abertura do folheto inferior do mesocólon transverso e eventual secção da veia mesentérica inferior; 4) secção do ligamento de Treitz; 5) luxação do baço e da calda do pâncreas, com exploração da face posterior do pâncreas. Nos casos duvidosos, para a verifi cação da integridade no peroperatório do Wirsung, são possíveis as seguintes opções: 1) colecistoco- langiografi a com injeção de contraste na ve- sícula e simultânea administração de morfi na para induzir o espasmo do esfíncter de Oddi; 2) exploração da lesão e eventual wirsungrafi a através de canulação direta do ducto na sus- peita de lesão múltipla; 3) CPER peroperatória (de difícil realização neste momento). Nas tabelas 6 e 7 é indicada a classifi cação OIS da lesão duodeno-pancreática. Tratamento das lesões pancreáticas. O tra- tamento das lesões traumáticas do pâncreas é planejado em função do estadiamento OIS25. Grau I. Se a contusão e a laceração super- fi cial forem reconhecidas no pré-operatório, e na ausência de outras indicações para a laparo- tomia, faz-se a simples observação. Se for ob- servado no curso de uma laparotomia, é posi- cionado exclusivamente um dreno aspirativo. Grau II. Hematoma: se for reconhecido no pré-operatório e, na ausência de outras indica- ções de laparotomia, faz-se a simples observa- ção. Se a visualização ocorre no curso de uma laparotomia, é posicionado um dreno aspirati- vo. Laceração: se reconhecida no pré-operató- rio, é necessária somente observação. Às vezes, é necessária uma intervenção para posicionar um dreno (via percutânea, guiada por TC) em função da evolução clínica (nível de amilase e loja peripancreática). Em caso de intervenção cirúrgica é posicionado um dreno aspirativo, sem reconstrução da cápsula pancreática, para evitar o risco de formação de pseudocisto. Grau III. Opção 1: é necessário realizar uma esplenopancreatectomia distal até o ponto de secção do pâncreas. Opção 2: na secção pancreá- tica, sem lesão esplênica, especialmente nos jo- vens, é oportuno considerar a pancreatectomia distal com preservação esplênica ou mesmo Tabela 5 Esquema de profi laxia de infecção nos pacientes com lesão traumática do baço (realizar em caso de esplenectomia ou tratamento conservador*) Idade (anos) Penicilina por longo tempo** Vacina (anti-pneumococco, haemofi lus e infl uentiae B) 0-2 Sim Não 2-5 Sim Sim (repetir com 5 anos e após a cada 6 anos) 5-18 Opcional Sim (repetir a cada 6 anos) > 18 Não Sim (repetir a cada 10 anos) *A profi laxia, no caso de tratamento conservador, é realizada quando não é provável a funcionalidade do órgão conservado. **A penicilina é prescrita por 1 mês após a alta e a profi laxia é repetida no caso de intervenção odontológica ou cirurgia com risco de complicação infecciosa. s.santos Sticky Note e, 84 Capítulo 7 - Trauma abdominal 7 Algoritmo 8 Algoritmo diagnóstico de lesão duodeno-pancreática Não Sim CPRE Colangiopancreatografi a endoscópica retrógrada. Sim Sim Não Não Rx tórax, pelve e ecografi a Suspeita clínica de lesão pancreática ou hiperamilasemia Estabilidade hemodinâmica Tratamento das lesões duodeno-pancreáticas em função do grau Rx tórax, pelve e ecografi a Intervenção extra-abdominal Estabilização Laparotomia Estabilização CPRE Exploração duodeno- pancreática peroperatória Exploração peroperatória da integridade do Wirsung TC com contraste endovenoso e oral Lesão do Wirsung Instabilidade por lesão endoluminal o fechamento do coto proximal pancreático e anastomose em Y de Roux do coto distal. Grau IV. Opção 1: é posicionado, via laparo- tomia ou por via percutânea, guiado por tomo- grafi a, um dreno aspirativo na lesão pancreáti- ca e, a seguir, uma jejunostomia para nutrição; se disponível, pode-se posicionar um stent no Wirsung, com auxílio de CPRE. Se for observa- da uma piora no quadro clínico (nível de ami- lase e loja peripancreática), apesar da terapia médica (nutrição parenteral/enteral, octreotide e aspiração gástrica), é necessário realizar uma intervenção cirúrgica do tipo duodenopancre- atectomia. Opção 2: esplenopancreatectomia com ressecção de 90% do pâncreas com iden- tifi cação da via biliar intrapancreática (rara- mente realizada). Opção 3: posicionamento de uma alça exclusa em Y de Roux sobre a cápsula pancreática fi xada ao lado da lesão, drenagem aspirativa e jejunostomia para nutrição (rara- mente realizada). Grau V. Opção 1: realização de duodeno- pancreatectomia com tutor para a anastomose biliar e jejunostomia para a nutrição. Opção 2: se for realizada uma duodenopancreatectomia, sem a realização de anastomose, segundo uma estratégia de controle do dano (fechamento do coto gástrico, fechamento do coto jejunal, ne- oprene com fechamento do coto pancreático e drenagem externa da via biliar) e jejunostomia para a nutrição. A reintervenção deve ocorrer depois de 36-48 horas, na dependência da es- tabilização do paciente, para a confecção de anastomose bílio-digestiva e gastrojejunal. 85 Capítulo 7 - Trauma abdominal 7 Tratamento da lesão duodenal. As lesões traumáticas do duodeno são tratadas em fun- ção de seu grau, segundo a classifi cação OIS. Grau I. Hematoma: pode ser realizado um tratamento conservador, na maioria dos casos, ocorrendo a reabsorção progressiva do hema- toma. Laceração: é feita uma reconstrução ci- rúrgica das camadas seromusculares. Grau II. Hematoma: é realizado, inicialmente, o tratamento conservador. Raramente é indicada uma intervenção cirúrgica, reservada a evacua- ção e reconstrução seromuscular para a falta de perviedade da luz, após 1 semana. Laceração: é indicada a reconstrução direta, em dois planos, com a drenagem interna para a proteção (je- junostomia aspirativa retrógrada). É oportuno associar uma jejunostomia para nutrição. Grau III. Opção 1: realiza-se a reconstrução, em dois planos, da ferida duodenal associada à ressecção gástrica, gastrojejunostomia término- lateral ou com alça jejunal em Y de Roux, jeju- nostomia retrógrada descompressiva e jejunos- tomia para nutrição (diverticulização duodenal). Opção 2: reconstrução, em dois planos, da ferida duodenal, com exclusão pilórica, sutura do pi- loro, através do lúmen gástrico e gastrojejunos- tomia látero-lateral, jejunostomia retrógrada descompressiva e jejunostomia para alimenta- ção. Opção 3 (pouco empregada): realização de alça exclusa em Y de Roux com transformação da lesão duodenal em anastomose duodeno- jejunal ou mesmo reforço da sutura duodenal com um patch seromuscular duodenal. Grau IV. O tratamento prevê as duas pri- meiras opções indicadas para a lesão de tercei- ro grau (diverticulização ou exclusão pilórica), associando uma colecistectomia e drenagem do ducto biliar principal com dreno de Kehr. Tabela 6 Classifi cação OIS das lesões traumáticas do pâncreas Grau Descrição da lesão I Hematoma Contusão menor sem lesão de ducto Laceração Laceração superfi cial sem lesão de ducto II Hematoma Contusão maior sem lesão de ducto ou perda de tecido Laceração Laceração maior sem lesão ductal ou perda de tecido III Laceração Transecção ou laceração distal com lesão ductal IV Laceração Transecção ou laceração proximal (à direita da veia mesentérica superior) com lesão do ducto V Laceração Destruição maciça da cabeçado pâncreas Tabela 7 Classifi cação OIS das lesões traumáticas do duodeno Grau Descrição da lesão I Hematoma Envolvimento de uma porção duodenal Laceração Lesão parcial da parede sem perfuração II Hematoma Envolvimento de mais porções do duodeno Laceração Lesão de toda a espessura menor que 50% da circunferência da víscera III Laceração Lesão de toda a espessura de 50%-75% da circunferência de D2 ou de 50%-100% de D1, D3 e D4 IV Laceração Lesão de toda a espessura de mais de 75% da circunferência de D2, envolvimento da papila e da via biliar principal V Laceração Destruição maciça do complexo duodeno-pancreático Lesão vascular Desvascularização do duodeno 86 Capítulo 7 - Trauma abdominal 7 Grau V. Opção 1: é realizada a duodeno- pancreatectomia nas lesões pancreáticas des- se mesmo grau com o auxílio de tutor para a anastomose biliar e jejunostomia para nutrição. Opção 2: é feita uma duodenopancreatectomia sem a realização de anastomose, de acordo com a estratégia para o controle do dano (fe- chamento do coto gástrico, coto jejunal, neo- prene com fechamento do coto pancreático e drenagem externa da via biliar) e jejunostomia para nutrição. A reintervenção ocorre depois de 36-48 horas, após a estabilização do paciente, e realizam-se as anastomoses bílio-digestiva e gastrojejunal. TRAUMA DE ESTÔMAGO E DE DELGADO Diagnóstico. As lesões traumáticas do estô- mago e do intestino delgado ocorrem mais freqüentemente no trauma penetrante. Se a le- são for por arma branca e penetrou o peritônio parietal, a incidência de lesão abdominal é de 30%. Já se a lesão ocorreu por arma de fogo, a incidência é de 90%. Nos traumas fechados, a incidência é de 2% a 10%. No trauma penetrante as lesões são múlti- plas, sendo oportuna a exploração acurada de todas as alças e da parede gástrica (inclusive a posterior). Na ferida por arma de fogo ocorre lesão direta, mas pode ocorrer fenômeno de desvascularização e necrose por dissipação lateral de energia cinética, o que pode resultar em perfuração a distância depois de horas do trauma. Nos traumas fechados, as lesões podem ser causadas por dois mecanismos: a) compressão (p. ex., cinto de segurança acima das espinhas ilíacas, fratura vertebral de Chance) que cau- sa lesões na borda ante-mesentérica das alças intestinais e da curvatura gástrica; b) estira- mento – desaceleração que causa laceração ao nível das regiões com ponto de fi xação (Treitz, válvula ileocecal e aderências de cirurgias pré- vias), ou mesmo lesões do meso com sangra- mento. Desta maneira, uma lesão do mesenté- rio e da vascularização produz uma isquemia no intestino, que causa uma perfuração após alguns dias, ou fi brose, com obstrução após se- manas ou meses. Nos pacientes estáveis (Algoritmo 9), na presença de suspeita, devido ao mecanismo de trauma, o exame clínico do abdome revela o quadro de peritonite ou, os exames de pri- meiro nível, evidenciam ar livre abdominal no raio-X de tórax ou da pelve. Da mesma forma, se o E-FAST demonstra líquido livre (especial- mente na ausência de lesões parenquimatosas) e sugere a presença de ar livre, é indispensável a realização de TC com contraste venoso e oral (300-500 mL pela sonda gástrica de contraste hidrossolúvel diluído, 20-30 minutos antes do exame)26,27. A evidência, na tomografi a de ar livre, esca- pe de contraste da luz intestinal e sangramen- to do mesentério representam uma indicação para a intervenção cirúrgica. Se estiver presen- te líquido livre e não for observado ar livre ou escape de contraste (condição freqüente quan- do é realizado um tratamento conservador de uma lesão hepática ou esplênica) e, na dúvida de lesão intestinal, é válido verifi car a natureza do líquido mediante LPD, punção guiada por ultra-som do líquido ou laparoscopia28. No caso de instabilidade hemodinâmica por causa abdominal, o diagnóstico é efetuado no decorrer de uma laparotomia com uma acurada exploração das vísceras. Na necessidade de uma intervenção de emergência por causa extra- abdominal realiza-se os procedimentos diag- nósticos para lesão do estômago ou do intes- tino delgado ao término do procedimento de estabilização. Na tabela 8 está indicada a classifi cação OIS das lesões do estômago e do intestino delgado. Tratamento. O tratamento das lesões do estô- mago e do intestino delgado é necessariamente cirúrgico. São previstas três opções diferentes: a) no caso de lesão não circunferencial, fecha- mento primário da lesão com sutura em dois planos; b) na presença de lesão completa com desvascularização, ressecção com anastomose imediata; c) alternativamente as soluções pré- vias, ressecção com fechamento dos cotos com GIA, e reintervenção depois de 36-48 horas, para a realização de anastomoses, segundo os critérios para o controle do dano. Tal opção deve ser empregada em caso de choque ou mesmo na presença de lesão com desvas cularização, cuja evolução não é previsível. Em alguns cen- tros, com particular experiência, o tratamento das lesões do intestino delgado e do estômago pode ser efetuado também no decorrer de uma laparoscopia diagnóstica28. 87 Capítulo 7 - Trauma abdominal 7 Algoritmo 9 Algoritmo diagnóstico terapêutico das lesões de estômago e de delgado Não Sim *alternativamente pode-se realizar a punção do líquido guiada por ecografi a. LPD, Lavado peritoneal diagnóstico. Não Não Não Não Não Sim Sim Sim Sim Sim Exame físico, Rx tórax, pelve e Rx abdome Suspeita de lesão do estômago e do delgado pelo mecanismo de trauma Laparoscopia (e tratamento defi nitivo em função da experiência da equipe) Observação clínica. Repetir E-FAST depois de quatro horas Laparotomia e tratamento Laparotomia, exploração peroperatória de estômago e de delgado e tratamento Rx tórax, pelve e E-FAST Tratamento da causa extra-abdominal E-FAST TC com contraste EV e gástrico (300-500 mL) LPD* Amilase > 175 U/mL bilirrubina Material entérico Estabilidade hemodinâmica Causa abdominal Diagnóstico Líquido livre (na ausência de lesão parenquimatosa) Suspeita de ar livre Extravasamento de contraste Ar livre, hemorragia de meso 88 Capítulo 7 - Trauma abdominal 7 TRAUMA DE CÓLON E RETO Diagnóstico. As lesões do cólon e do reto são mais freqüentes no traumatismo pene- trante, com uma incidência de 18% a 38% e de empalamento. Nos casos de trauma fecha- do, ocorre em 5% a 8%. Estão associadas às lesões de outros órgãos e, quando presentes, causam uma piora no prognóstico de três a quatro vezes. Nas feridas penetrantes por arma de fogo, com projétil de alta velocidade, são possíveis lesões por desvascularização, podendo perfurar após alguns dias. Nos trau- mas fechados, a lesão pode ser causada por mecanismo de compressão ou estiramento. As lesões por empalamento estão freqüente- mente associadas às lacerações do períneo e do esfíncter. Analogamente ao capítulo precedente, nos pacientes estáveis a lesão de víscera oca pode ser suspeitada já no exame físico (pode estar presente sangue na exploração retal) e os exa- mes de primeiro nível podem demonstrar ar livre (Algoritmo 10). Alternativamente, a TC com contraste ve- noso e endoretal (300-500 mL de contraste hidrossolúvel diluído), através de um cateter de Foley de grosso calibre, pode demonstrar a lesão colorretal. Na suspeita de lesão retal ou de sigmóide (p. ex., por empalamento ou as- sociação à fratura de pelve) uma retossigmoi- doscopia pode ser diagnóstica. Não havendo TC ou endoscopia, um enteroclisma, com con- traste hidrossolúvel, pode demonstrar a pre- sença deste no meso. Nos pacientes instáveis por causa abdominal, o diagnóstico é pero- peratório.Nos pacientes instáveis por causa extra-abdominal, o diagnóstico ocorre após os procedimentos de estabilização. Nas tabelas 9 e 10 é apresentada a classifi ca- ção OIS das lesões colorretais. Tratamento. O tratamento das lesões color- retais é necessariamente cirúrgico e varia de acordo com o tipo da lesão e da condição geral do paciente29. No caso de estabilidade hemodi- nâmica é feito o seguinte: Reparação ou sutura primária, sem colosto- mia: indicada nas feridas por arma branca, pro- jétil de baixa velocidade e nas perfurações de- correntes de procedimentos endoscópicos com margens regulares e sem desvascularização, na ausência de contaminação fecal grosseira. Ressecção com anastomose ileocólica: nas le- sões do cólon direito proximal a artéria cólica média, não reparável com sutura direta. Ressecção com anastomose colo-colônica: nas lesões distais da artéria cólica média, não reparáveis com sutura direta. Ressecção com colostomia ou ileostomia e fístula mucosa distal ou exteriorização da per- furação: na presença de maciça contaminação fecal ou nos casos de intervenção com mais de 8 horas de evolução. Reintervenção para a re- construção do trânsito após resolução de qua- dro séptico. Na presença de instabilidade hemodinâmi- ca, acidose, hipotermia e coagulopatia é feito o tratamento, segundo a estratégia de contro- le do dano, com ressecções e fechamento dos cotos com GIA e reintervenção depois de 36- 48 horas para a realização de anastomoses ou ostomias. A lesão anorretal é avaliada sempre por re- toscopia peroperatório, para melhor defi nição. As lesões do reto intraperitoneal são suturadas em dois planos, seguida de colostomia proxi- Tabela 8 Classifi cação OIS das lesões de intestino delgado Grau Descrição da lesão I Hematoma Contusão ou hematoma sem desvascularização Laceração Parcial, sem perfuração II Laceração Laceração < 50% da circunferência III Laceração Laceração ≥ 50% da circunferência IV Laceração Transecção do intestino V Laceração Transecção do intestino com perda de substância Comprometimento vascular Desvascularização segmentar 89 Capítulo 7 - Trauma abdominal 7 Algoritmo 10 Algoritmo diagnóstico terapêutico nas lesões colorretais Não Sim Não Não Não Não Sim Sim Sim Exame físico, Rx tórax, pelve, E-FAST e Rx abdome Suspeita de lesão colorretal pelo mecanismo de trauma Exploração retal positiva para sangue Enteroclisma com contraste Causa abdominal Observação clínica Laparotomia e tratamento Laparotomia, exploração peroperatória do cólon e reto e tratamento Laparotomia e tratamento LPD TC com contraste EV e endoretal (300-500 mL) Tratamento da causa extra-abdominal Rx tórax, pelve e E-FAST Estabilidade hemodinâmica Diagnóstico Diagnóstico Ar livre, hemorragia de meso, líquido livre e extravasamento de contraste Retosigmoidoscopia nas lesões anorretais Sim mal. Nas lesões do reto extraperitoneal, a pa- rede tem uma notável tendência à cicatrização espontânea, se o trânsito fecal for excluído por colostomia a montante. Na presença de lace- ração do esfíncter deve-se, quando possível, repará-lo, diretamente, associando a uma deri- vação fecal. Quando há contaminação maciça, é melhor reparar o coto do esfíncter com fi o inabsorvível para facilitar a reconstrução em segundo tempo. TRAUMA DO TRATO GENITOURINÁRIO Diagnóstico. A lesão do rim, causada por trau- matismo fechado, ocorre por dois mecanismos: a) desaceleração com estiramento e avulsão do pedículo vascular e b) contusão direta do fl anco associada à fratura das últimas quatro costelas ou dos processos transversos das vértebras. No trauma penetrante por arma de fogo, a ferida renal está associada a outras lesões abdomi- 90 Capítulo 7 - Trauma abdominal 7 nais. Nos traumas penetrantes por arma bran- ca, especialmente se lateral e posterior, a lesão pode ser exclusivamente renal e tratável con- servadoramente. O diagnóstico nos pacientes hemodinamicamente estáveis (Algoritmo 11) pode ser suspeitado com base na presença de hematúria. O E-FAST pode demonstrar hema- toma perirenal (confundível com líquido peri- toneal). A TC com contraste propicia um pre- ciso estadiamento da lesão urinária, podendo demonstrar o grau de alteração traumática do parênquima renal e, eventualmente, o blushing por hemorragia do parênquima; hidronefrose, por lesão do sistema excretor ao nível renal, uretral e vesical, e o funcionamento do rim con- tralateral. Para uma maior sensibilidade diag- nóstica das lesões com escape de urina é opor- tuno obter uma TC ultratardia (pelo menos 2 minutos depois da infusão de contraste). Uma angiografi a é indicada no caso de san- gramento parenquimatoso passível de emboli- zação e nas lesões do pedículo vascular sugeri- da pela falta ou incompleta opacifi cação do rim na TC com contraste. Nos casos de instabilidade hemodinâmica, por causa intra-abdominal, a lesão renal é diag- nosticada no peroperatório. Se a lesão renal não é a causa da instabilidade, uma vez corri- gidos os parâmetros hemodinâmicos, pode ser útil a realização peroperatória de angiografi a para decidir o melhor tratamento. Na instabili- dade por causa extra-abdominal, o diagnóstico da lesão urinária ocorre ao término dos proce- dimentos de estabilização. Na tabela 11 é indicada a classifi cação OIS das lesões traumáticas do rim. Tratamento. O tratamento das lesões traumá- ticas do rim, nos pacientes com estabilidade hemodinâmica, é dado em função do grau, se- gundo a classifi cação OIS30 (Algoritmo 12). Hematoma ou laceração de graus I-III: O tra- tamento dessas lesões é sempre conservador. A resolução da hematúria é um sinal clínico sim- ples de cicatrização da lesão. É oportuno reali- zar uma ecografi a de controle a cada 48 horas, até a normalização da urina. Na laceração de grau III faz-se uma TC com contraste de con- Tabela 10 Classifi cação OIS das lesões de reto Grau Descrição da lesão I Hematoma Contusão ou hematoma sem desvascularização Laceração Laceração, não de toda a espessura, sem perfuração II Laceração Laceração < 50% da circunferência III Laceração Laceração ≥ 50% da circunferência IV Laceração Laceração de toda a espessura com extensão para o períneo V Comprometimento vascular Desvascularização do reto Tabela 9 Classifi cação OIS das lesões de cólon Grau Descrição da lesão I Hematoma Contusão ou hematoma sem desvascularização Laceração Laceração, não de toda a espessura, sem perfuração II Laceração Laceração < 50% da circunferência III Laceração Laceração ≥ 50% da circunferência sem transecção IV Laceração Transecção do cólon V Laceração Transecção do cólon com perda de substância Comprometimento vascular Desvascularização segmentar 91 Capítulo 7 - Trauma abdominal 7 Algoritmo 11 Algoritmo diagnóstico de lesão renal Não Sim Não Não Não Sim Sim Sim Sim Não Sim Sim Sim Não Não no Rx tórax, pelve e E-FAST Hematúria ou suspeita de lesão renal pelo mecanismo de trauma Efi caz Intervenção Correção da causa extra-abdominal Angiografi a/ embolização Estabilidade hemodinâmica Causa intra- abdominal Sangramento parenquimatoso Ausência de contrastação do rim Extravasamento urinário TC com contraste EV (se hematúria macroscópica ou mecanismo altamente suspeito) Angiografi a e stent vascular Efi caz Intervenção TC com contraste após 72 h e eventual nefrostomia ou cateter duplo J Efi caz Observação trole, com fase tardia, antes da alta hospitalar, para excluir a presença de fístula urinária. Laceração de grau IV: O extravasamento de urina pode ser de resoluçãoespontânea, por isso, nos casos de lesões de grau IV é sempre indicada uma TC com contraste, com fase tar- dia, depois de 72 horas. No caso de resolução, a lesão se comporta como no caso da lesão de graus I-III. Se persistir o extravasamento, é posicionado um cateter para drenagem (ne- frostomia ou, mais raramente, um cateter ure- teral transvesical) que é mantido no lugar até a completa cicatrização da lesão. Não é mais necessária uma intervenção ci- rúrgica, a menos que se evidencie a desinserção uretero-pélvica. Na presença de blushing pa- renquimatoso pode ser útil a angiografi a com embolização para estancar o sangramento. 92 Capítulo 7 - Trauma abdominal 7 Lesão vascular de grau IV: O trauma vas cular de grau IV é uma indicação para a angiografi a imediata, com possibilidade de tratamento da lesão. De fato, a presença de uma dissecção ou trombo parcial da artéria pode ser resolvida com o posicionamento de um stent que permite a revascularização do rim. É importante que tal procedimento ocorra dentro de 4 horas após o trauma, já que a isquemia do rim por um tem- po superior compromete irreversivelmente a funcionalidade do órgão. Alternativamente, não dispondo de angio- grafi a, é melhor intervir cirurgicamente a fi m de reparar, em tempo hábil, o pedículo renal (eventualmente com reimplante do órgão nos vasos ilíacos). Lesão de grau V: A lesão de quinto grau é, na maioria das vezes, responsável por instabilida- de hemodinâmica que requer uma nefrectomia de urgência. Na ausência de rim contralateral que funcione, se a lesão o permite, pode-se tentar uma nefrectomia parcial. Raramente, na presença de lesão do pedículo e sem alteração parenquimatosa, é possível tentar o reimplante vascular do rim na fossa ilíaca. Estratégia no paciente hemodinamicamente instável: Nos pacientes com instabilidade he- modinâmica, por causa extra-renal, nos quais não é possível a realização da TC pré-operató- ria (Algoritmo 13), na presença de um hema- toma retroperitoneal, não em expansão e não pulsátil e uma vez tratada a causa da instabili- dade, é realizada uma angiografi a peroperató- ria ou a cirurgia é encerrada e o diagnóstico é complementado com uma TC. Na maior parte dos casos, a lesão renal é tratada conservado- ramente. No caso de hematoma retroperitoneal, em expansão ou pulsátil, deve ser feita uma explo- ração após o controle vascular, com clampagem aórtica (infradiafragmática através do omento menor ou supradiafragmática por toracoto- mia esquerda). É possível ainda obter o con- trole vascular proximal do rim direito, através da mobilização do bloco duodeno-pancreático para o rim esquerdo, ao nível da aorta supra- mesocólica. Lesão vésico-ureteral: A lesão vesical intra- peritoneal é sempre reparada com uma in- tervenção e sutura em dois planos. As lesões extraperitoneais cicatrizam espontaneamente mantendo um cateter de Foley por 3 semanas. Na presença de hematúria maciça é necessário posicionar um cateter de três vias para realizar a irrigação contínua, com vários litros de água por dia, para prevenir a obstrução do cateter, até o completo clareamento da irrigação. Na presença de lesão que afeta o trígono vesical, é necessária uma reparação cirúrgica com a localização, por cateterização ureteral que, se envolvido, deve ser reimplantado. Enfi m, a ruptura do ureter, mais freqüente por arma branca, é tratada com reparação di- reta com tutor. Nos casos de perda do trato é feito o reimplante do coto proximal do ureter no contralateral ou na bexiga. Tabela 11 Classifi cação OIS das lesões renais Grau Descrição da lesão I Contusão Hematúria micro ou macroscópica com exame de imagem urológico normal Hematoma Hematoma subcapsular, não em expansão, sem laceração parenquimatosa II Hematoma Hematoma perirenal, não em expansão, limitado ao retroperitônio perirenal Laceração < 1 cm da cortical sem escape de urina III Laceração > 1 cm de profundidade sem lesão do sistema calicial e sem escape de urina IV Laceração Laceração parenquimatosa da cortical e medular e sistema calicial com escape de urina Lesão vascular Lesão do sistema vascular hilar, arterial ou venoso, com hemorragia contida V Laceração Fragmentação do parênquima renal Lesão vascular Avulsão do hilo renal com desvascularização do rim s.santos Highlight 93 Capítulo 7 - Trauma abdominal 7 TRAUMA ABDOMINAL E TORÁCICO CONCOMITANTE No paciente com trauma multissistêmico é fre- qüente o acometimento simultâneo do tórax e do abdome. Enquanto o pneumotórax hiper- tensivo representa uma condição que requer um tratamento de emergência na fase de ava- liação primária, a presença de um hemotórax ou de um alargamento mediastinal, observado na radiografi a standard de tórax, pode consti- tuir motivo de incerteza na seqüência de aten- dimento mais adequada. No caso de estabilidade hemodinâmica é evidente a necessidade de realizar uma TC Algoritmo 12 Algoritmo terapêutico das lesões renais. Hemodinamicamente estável, TC realizada Não Sim Observação e controle ecográfi co a cada 48 a 72 h (até a resolução da hematúria) Lesão de grau I-II (hematoma ou laceração) Laceração de grau III ResoluçãoLaceração de grau IV com escape de urina Drenagem externa Reparação cirúrgica Lesão vascular de grau IV Nefrectomia Lesão de grau V (fragmentação do parênquima ou avulsão do pedículo) com rim excluso na TC Tratamento operatório conservador (nefrectomia parcial, auto-transplante e revascularização dentro de quatro horas) Controle com TC pré-admissional (nas lacerações de grau III) Como laceração de grau III Arteriografi a e embolização seletiva (se hematúria persistente ou recorrente) Angioplastia radiológica ou cirúrgica, se trombose (dentro de quatro horas) Controle da TC depois de 72 h Paciente jovem, patologia ou ausência do rim contralateral Não Sim 94 Capítulo 7 - Trauma abdominal 7 Não Sim Algoritmo 13 Algoritmo terapêutico das lesões renais. Hemodinamicamente instável, TC com contraste não realizada Controle vascular proximal Hematoma retroperitoneal Instabilidade hemodinâmica por causa extra-renal Intervenção cirúrgica de estabilização Arteriografi a pré-operatória ou TC com contraste pós-operatória Tratamento da lesão renal em função do grau Tratamento cirúrgico do rim Tratamento conservador do rim Tratamento angiográfi co do rim Opção 1: clampagem aórtica proximal via toracotomia ou através do omento menor Opção 2: controle do hilo ao nível da aorta supramesocólica Opção 3: imobilização do bloco duodeno-pancreático e controle do hilo renal direito Opção 4: abertura da fáscia de Gerota, medialização do rim e clampagem do hilo (se grave instabilidade) com contraste tóraco-abdominal para defi ni- ção diagnóstica. Se a condição hemodinâmica é instável, o dado ecográfi co decide o procedi- mento mais adequado (Algoritmo 14). Com um E-FAST positivo para líquido pe- ritoneal realiza-se imediatamente uma lapa- rotomia e, a seguir, o controle de emergência da hemorragia, com o controle do dano (uma hemorragia abdominal tem menor possibili- dade de ser autolimitada). É posicionado um dreno de tórax e, no caso de drenagem supe- rior a 1.500 mL, é realizada uma toracotomia ântero-lateral com hemostasia cirúrgica das lesões sangrantes. Em função da condição do paciente decide-se por realizar uma interven- ção defi nitiva ou mesmo rever o abdome de- pois de 36-48 horas. No caso de alargamento mediastinal e na impossibilidade de realizar uma TC, devido à presença de instabilidade hemodinâmica, se o E-FAST é positivo para líquido peritoneal,é necessário intervir primeiro a nível abdo- minal, com um procedimento de controle de emergência do sangramento e, no decorrer da intervenção, realizar uma ecografi a transesofá- gica ou mesmo, ao término do procedimento, uma TC com contraste para diagnosticar a na- tureza do alargamento mediastinal e decidir 95 Capítulo 7 - Trauma abdominal 7 Algoritmo 14 Trauma abdominal associado a trauma torácico com hemotórax e instabilidade hemodinâmica Não Sim Sim Sim Não Não Exame de nível 1 E-FAST positivo para líquido livre abdominal Hemotórax, trauma abdominal e instabilidade hemodinâmica Intervenção abdominal defi nitiva entre 36 e 48 h Intervenção abdominal defi nitiva Toracotomia e controle da fonte de sangramento Drenagem torácica Laparotomia e técnica de controle do dano Reserva fi siológica reduzida > 1.500 mL os passos sucessivos (ver também Cap. 6). No caso de instabilidade hemodinâmica, alarga- mento mediastinal e E-FAST negativo para líquido peritoneal é pesquisada outras sedes de hemorragia (membros) ou causa de choque (medular ou cardiogênico) antes de considerar o alargamento do mediastino responsável pela instabilidade. SÍNDROME DE COMPARTIMENTO ABDOMINAL Nos últimos anos foi demonstrada a impor- tância, no trauma abdominal, da pressão intra- abdominal (PIA), na fase de tratamento na te- rapia intensiva. A hipertensão intra-abdominal (HIA) causa: 1) elevação do diafragma, com diminuição da complacência pulmonar e au- mento da pressão respiratória; 2) diminuição do fl uxo hepático e renal, com insufi ciência destes órgãos; 3) diminuição do retorno veno- so ao coração direito, por compressão da cava inferior; 4) diminuição da perfusão da parede e aumento da tensão parietal abdominal; 5) au- mento da pressão intracraniana. A PIA é mensurada mediante a colocação de cateter intravesical e instilação de 25 mL de 96 Capítulo 7 - Trauma abdominal 7 solução fi siológica. O cateter é clampado e co- nectado a um transdutor (zerado ao nível da linha axilar média). A síndrome de compartimento abdominal (SCA) é hoje defi nida como a presença de PIA igual ou superior a 20 mmHg32 (Tabela 12). A SCA pode ser primária, isto é, conseqüência de uma patologia intra ou retroperitoneal (p. ex., trauma hepático tratado com packing) e secun- dária, por edema visceral, conseqüência de uma reanimação volêmica maciça ou de uma sepse. Depois de um traumatismo abdominal, as duas condições podem coexistir. O melhor tratamen- to é a prevenção de uma excessiva administra- ção de líquidos durante a fase de reanimação e nos primeiros dias de terapia intensiva. Medidas para reduzir a PIA consistem em sondagem gástrica, para diminuir a distensão abdominal, e sondagem retal sob aspiração, administração de procinéticos gástricos (cisa- prida, domperidona, eritromicina e metoclo- pramida) ou intestinais (prostigmina), balanço hídrico negativo (diuréticos e ultra-fi ltração), evitar a posição fl etida das pernas e anti-Tren- delemburg, sedação e curarização, drenagem do líquido peritoneal e descompressão abdo- minal cirúrgica33. Esta última pode ser aplicada de escolha, quando é adotada uma estratégia de controle do dano, no momento da inter- venção de emergência, para a estabilização dos pacientes com risco de SCA ou mesmo, se necessário, fazê-la para o tratamento de uma SCA que se manifesta na terapia intensiva. A descompressão cirúrgica é realizada fe- chando-se somente a pele e deixando aberta a fáscia muscular ou mesmo aplicando uma parede plástica artifi cial (bolsa de Bogotá, ste- rildrap e tela com zíper) fi xada nas bordas da ferida. O fechamento abdominal deve ser ini- ciado o mais precocemente possível, se não pode ocorrer a progressiva retração da fáscia muscular, o que difi culta extremamente o pro- cedimento. Resultados promissores foram recentemen- te obtidos com o tratamento aspirativo a vácuo contínuo do abdome (VAC, vacuum assisted closure)33,34. A impossibilidade do fechamento da parede abdominal resulta em uma hérnia ventral crônica, que pode ser tratada, poste- riormente, com a transposição de retalho mus- cular ou aplicação de prótese artifi cial. Bibliografi a 1. Chiara O, Scott J, Cimbanassi S, Marini A, et al. Trauma deaths in an Italian urban area: an au- dit of pre-hospital and in-hospital trauma care. Injury 2002;33:553-562. 2. Root HD, Hauser CW, McKinley CL. Diagnostic peritoneal lavage. Surgery 1965;57:633-639. 3. Fernadez L, McKenney MG, McKenney KL, et al. Ultrasound in blunt abdominal trauma. J Trauma 1998; 45: 841-848. 4. Ballard RB, Rozycki JS, Newman PJ, et al. 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Tabela 12 Classifi cação da síndrome de compartimento abdominal segundo a WSACS* Grau I II III IV PIA mmHg 12-15 16-20 21-25 > 25 Tratamento Distensão intestinal Posicionamento do paciente Sedação e curarização Balanço hídrico negativo Ultrafi ltração Drenagem do líquido peritoneal Descompressão cirúrgica *World Society for Abdominal Compartment Syndrome; PIA, pressão intra-abdomial. 97 Capítulo 7 - Trauma abdominal 7 8. Shanmuganathan K. Multi-detector row CT imaging of blunt abdominal trauma. Seminar Ultrasound CT MR 2004;25:180-204. 9. Rotondo MF, Schwab CW, McGonigal MD, et al. Damage control: an approach for improved survival in exanguinating penetrating abdomi- nal injury. J Trauma 1993;35:373-383. 10. Johnson JW, Gracias VH, Schwab CW, et al. Evolution in damage control for exanguinat- ing penetrating abdominal injury. J Trauma 2001;51:261-271. 11. Schreiber MA. Damage control surgery. Crit Care Clinics 2004; 20:101-118. 12. 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