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MicroRNAs como marcadores de doenças metabólicas MicroRNAs as biomakers of metabolic diseases Luan Barbosa Ribeiro Orientador: Prof. Dra.Alice Cristina Rodrigues Co-orientador: Karina Cunha e Rocha Departamento de Farmacologia – ICB Assinatura do orientador: Assinatura do aluno: RESUMO MicroRNAs são pequenos RNAs não codificadores que regulam negativamente a expressão de mRNAs. Eles são, portanto, reguladores de expressão gênica em nível pós- transcricional. Os microRNAs possuem papéis essenciais em processos vitais do desenvolvimento celular como no metabolismo, na proliferação e na apoptose, e assim alterações na sua expressão têm sido associadas a diversas doenças. O laboratório de farmacogenômica se dedica a estudar as alterações nas expressões de microRNAs e de mRNAs em camundongos com obesidade e diabetes induzidas por meio de dieta hiperlipídica. Assim, tornam-se possíveis a identificação da interferência desses microRNAs na expressão de mRNAs e a ação terapêutica em novos alvos farmacológicos. ABSTRACT MicroRNAs are small non-coding RNAs that negatively regulate mRNAs expression. They are, therefore, gene expression regulators at post translational points of control. MicroRNAs have essential roles on vital processes of cellular such as on metabolism, proliferation and apoptosis and, thus, changes on their expression have been associated to many diseases. This pharmacogenomics laboratory is devoted to study the aberrant expressions of microRNAs and mRNAs on mice with hiperlipidic diet induced obesity and diabetes. Therefore it makes possible the identification of these miRNAs interference on mRNAs expression and the therapeutics on new pharmacological targets. INTRODUÇÃO A obesidade é uma doença caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura e, atualmente, é foco de pesquisas por todo o mundo. Em 2014, o quadro, considerado epidemia mundial, já atingia 15% das mulheres e 11% dos homens no mundo, o que correspondia a meio milhão de pessoas (1). Por essa razão, há uma grande demanda por novas descobertas para o tratamento da obesidade e de suas comorbidades – a exemplo do diabetes mellitus do tipo 2 e esteatose hepática. Sabe-se que a dieta de um indivíduo está intimamente relacionada à expressão de genes importantes para o controle da expressão de reguladores em processos metabólicos, como o metabolismo de lipídeos e carboidratos (2). Nesse sentido, podem ser citados os genes PPARα e ADIPOQ como reguladores da expressão de genes relacionados ao metabolismo de gorduras e de açúcares. De maneira geral, o laboratório de Farmacogenômica coordenado pela Profa. Dra. Alice Cristina Rodrigues busca investigar associações entre a expressão de pequenas sequências não-codificantes de RNA reguladoras desses genes – os microRNAs – e o desenvolvimento de obesidade e resistência à insulina, em busca de novos alvos farmacológicos para o tratamento dessas doenças. Os microRNAs (miRNAs) são pequenos RNAs não codificantes de aproximadamente 22 nucleotídeos que regulam a expressão gênica a nível pós-transcricional. Essa regulação depende do grau de complementariedade entre o miRNA e seu RNAm alvo e pode ocorrer por dois mecanismos distintos. Quando o pareamento é total, há a degradação do RNAm; quando ele é parcial, a tradução é inibida (3). A expressão alterada de miRNAs específicos em quadros de doenças pode ser utilizada como marcadores da doenças (4). Por esse motivo, o estudo de miRNAs tem sido um campo promissor para o desenvolvimento de novos tratamentos para diversas doenças. No caso desse laboratório, ganham destaque obesidade e a resistência à insulina. A biogênese de um miRNA maduro pode ser descrita, de forma sintética, em 4 etapas (processo ilustrado pela figura 1): • A RNApolimerase II sintetiza um miRNA primário (pri-miRNA), com forma de grampo, no núcleo; • A RNase III Drosha, ainda no núcleo, cliva segmentos do pri-miRNA, reduzindo-o a aproximadamente 70 bases, sequência denominada pré-miRNA; • A RNase III Dicer, agora no citoplasma, cliva o pri-miRNA formando duas sequências (5’ e 3’) de RNA, cada um com ~22 nucleotídeos. • Uma dessas sequências de miRNA é acoplada ao RISC (RNA-induced silencing complex), enquanto a outra é degradada. Esse complexo proteico será responsável por uma maior interação entre o miRNA e seu mRNA-alvo. O miRNA reconhece seu alvo, inibindo sua expressão (5). O princípio da terapia por meio de miRNA é baseado na regulação de sua expressão. Caso uma doença seja associada ao uma grande quantidade de determinado miRNA, sua expressão pode ser reduzida por meio da injeção de sequências de oligonucleotídeos complementares a ele – os AntimiRs. Por outro lado, se a doença ocorre com uma drástica redução da expressão de um miRNA funcional, então é indicada uma terapia de reposição de miRNAs, com agentes miméticos de miRNAs (6). Essa injeção já foi feita, nesse laboratório, via plasmídeo por meio de eletroporação e de lentivírus como vetor. MATERIAIS E MÉTODOS Animais Foi utilizada a linhagem de camundongos (C57BL/6J), porque são sensíveis à indução de obesidade por dieta hiperlipídica Os camundongos são alimentados por 8 semanas com dieta controle ou hiperlipídica e ao fim do protocolo são eutanasiados e tecidos como fígado, rim, hipotálamo, tecido adiposo, músculo esquelético e sangue são coletados para a análise de expressão de miRNAs, mRNAs e proteínas. Figura 1: ilustração da formação de um miRNA maduro. (adaptada de Rooij E van, Olson EM, Nat. Rev. Drug Discov .11:860-872, 2012) Quantificação da expressão de microRNAs e RNAm Para análise da expressão de mRNAs e miRNAs foi utilizada a técnica de transcrição reversa seguida de PCR em tempo real (RT-Qpcr). Para que essa análise seja feita, são necessários cinco procedimentos de preparação: a coleta de tecidos na eutanásia, a extração de RNA total, a quantificação de RNA por espectrofotometria, síntese de cDNA e qPCR. Extração de RNA total Primeiramente, é feita a homogeneização e a lise no tecido em TRIzol® (Invitrogen Life Technologies, Carlsbad, CA, EUA), que também solubiliza proteínas, DNA e RNA. Em seguida, é usado clorofórmio para extrair o RNA (a amostra é agitada e centrifugada. A camada superior a uma interfase esbranquiçada (de DNA) é transferida a outro tubo, pois é a fase que contém RNA. Isopropanol é adicionado para a desidratação e precipitação do RNA. A seguir, o isopropanol é retirado e o precipitado é lavado com etanol 75%. A solução de etanol é descartada, o restante no microtubo é evaporado. E então o precipitado de RNA é ressuspendido em água livre de nuclease. QUANTIFICAÇÃO DO RNA EM ESPECTROFOTOMETRIA A quantificação e pureza do RNA extraído é realizada em especetrofotômetro UV-Vis Biodrop µLite para a determinação de sua quantidade em volume utilizada na reação de transcrição reversa. A pureza é avaliada pela relação das absorbâncias a 260 e 280nm. SÍNTESE DE CDNA A partir de 1µg de RNA total, é utilizada a técnica de transcrição reversa para síntese de DNA complementar. São adicionados às amostras de RNA: dNTP mix, 5x first-stand buffer RNase out (proteção do RNA), superscript III (enzima transcriptase reversa), primer RT (oligodT ou random primer no caso da análise de RNAm e primer microRNA-específico para microRNA) e água (RNase free) em quantidade suficiente para 20 µL. Essa mistura é incubada por 60ºC por 5 min e 42ºC por 60 min em termociclador Veriti (Applied Biosystems). O cDNA obtido é armazenado em freezer a -20º C. Reação de PCR Para a quantificação de RNAm (a exemplo do AdipoQ) ou microRNA é utilizada a técnica de PCR em tempo real. Para tal, são misturados 1 µL do cDNAdiluído 10X, oligonucleotídeos senso e antisenso e 5µL de master mix (contendo o fluorocromo intercalante de DNASyBr Green) e água em quantidade suficiente para 10µL. A mistura é colocada em termociclador para PCR em tempo real ABI7500 e é utilizado o protocolo de amplificação 95º por 10min, 40 ciclos de 95ºC por 15s e 60ºC por 1 min. Ao fim do protocolo, é realizada a curva de dissociação para avaliar se houve amplificação de produto específico. RESULTADOS E DISCUSSÃO Uma alta expressão de um RNA é identificada quando o platô em um gráfico resultante de PCR-real time é alcançado em menor quantidade de ciclos, ou ainda, quando seu Ct (threshold cycle: ciclo em que a amostra é capaz de emitir fluorescência suficiente para ser detectada pelo equipamento) em menos tempo, como ocorre na seguinte curva 1. Nesse caso, muitas das amostras tiveram seu Ct por volta de 13 e 14 ciclos. O oposto ocorre na curva 2: observa-se a ocorrência de ruídos por quase toda a leitura e apenas um possível início de amplificação no final. A análise por PCR também indica a temperatura de dissociação do produto de PCR, verificada na curva 3, na qual ocorre um pico de fluorescência apenas em uma temperatura. Curvas que possuem mais de um pico, como a curva 4, indicam ou a formação de produtos inespecíficos ou a dimerização de primers. Curva1: amplificação de mRNA de adiponectina Curva2: amplificação por PCR de amostras ruins Curva4:Curva de dissociação com dois picos de outra amostra de RNA de AdipoQ Curva3: melting curve de mRNA de adiponectina REFERÊNCIAS 1. World Health Organization (2015). “Health in 2015: from MDGs to SDGs” 2. Rottiers V, Näär AM (2012) “MicroRNAs in metabolism and metabolic disorders”. Nature Rev Mol Cell Biol. 13: 239-2503. 3. Frias FT, Medonça M, Martins AR, Gindro AF, Cogliati B, Curi R, Rodrigues AC (2016) “MyomiRs as markers of insulin resistence and decreased myogenesis in skeletal muscle of diet-induced obese mice”. Front Endocrinol. 7:764. 4. Small EM, Frost JA, Olson EN (2011) “MicroRNAs add a new dimension to cardiovascular disease”. Circulation. 121: 1022-1032. 5. Rooij E van, Olson EN (2012) “MicroRNA therapeutics for cardiovascular disease: opportunities and obstacles” Nat. Rev. Drug Discov .11:860-872, 2012 6. Soifer HS, Hossi JJ, Saetrom P (2007) “MicroRNAs in disease and potential therapeutic applications”. Mol Ther. 15(12): 2070-2079
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