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Desastre Químico em Bhopal, Índia

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Bhopal, Índia
O pior desastre químico da história
1984-2002
Na madrugada entre dois e três de dezembro de 1984, 40 toneladas de gases letais vazaram da fábrica de agrotóxicos da Union Carbide Corporation, em Bhopal, Índia. Foi o maior desastre químico da história. Gases tóxicos como o isocianato de metila e o hidrocianeto escaparam de um tanque durante operações de rotina. Os precários dispositivos de segurança que deveriam evitar desastres como esse apresentavam problemas ou estavam desligados.
Estima-se que três dias após o desastre 8 mil pessoas já tinham morrido devido à exposição direta aos gases. A Union Carbide se negou a fornecer informações detalhadas sobre a natureza dos contaminantes, e, como consequência, os médicos não tiveram condições de tratar adequadamente os indivíduos expostos. Mesmo hoje os sobreviventes do desastre e as agências de saúde da Índia ainda não conseguiram obter da Union Carbide e de seu novo dono, a Dow Química, informações sobre a composição dos gases que vazaram e seus efeitos na saúde.
Infelizmente, a noite do desastre foi apenas o início de uma longa tragédia, cujos efeitos se estendem até hoje. A Union Carbide, dona da fábrica de agrotóxicos na época do vazamento dos gases, abandonou a área, deixando para trás uma grande quantidade de venenos perigosos. A empresa tentou se livrar da responsabilidade pelas mortes provocadas pelo desastre, pagando ao governo da Índia uma indenização irrisória em face da gravidade da contaminação.
Hoje, bem mais de 150.000 sobreviventes com doenças crônicas ainda necessitam de cuidados médicos, e uma segunda geração de crianças continua a sofrer os efeitos da herança tóxica deixada pela indústria.
O Desastre
Na noite do desastre, as seis medidas de segurança criadas para impedir vazamentos de gás fracassaram, seja por apresentarem falhas no funcionamento, por estarem desligadas ou por serem ineficientes. Além disso, a sirene de segurança, que deveria alertar a comunidade em casos de acidente, estava desligada.
Os gases provocaram queimaduras nos tecidos dos olhos e dos pulmões, atravessaram as correntes sanguíneas e danificaram praticamente todos os sistemas do corpo. Muitas pessoas morreram dormindo; outras saíram cambaleando de suas casas, cegas e sufocadas, para morrer no meio da rua. Outras morreram muito depois de chegarem aos hospitais e prontos-socorros. Os primeiros efeitos agudos dos gases tóxicos no organismo foram vômitos e sensações de queimadura nos olhos, nariz e garganta, e grande parte das mortes foi atribuída a insuficiência respiratória. Em alguns casos, o gás tóxico causou secreções internas tão graves que seus pulmões ficaram obstruídos; em outros, as vias aéreas se fecharam levando à sufocação.
 Muitos dos que sobreviveram ao primeiro dia foram diagnosticados com problemas respiratórios. Estudos posteriores com os sobreviventes também apontaram sintomas neurológicos, como dores de cabeça, distúrbios do equilíbrio, depressão, fadiga e irritabilidade, além de danos nos sistemas musculares, esquelético, reprodutivo e imunológico.
 
Fábrica de agrotóxicos da Union Carbide Corporation – Bhopal, Índia.
Arredores da fábrica da Union Carbide Corporation – Bophal, Índia.
Contaminação na Fábrica e Arredores
Em 1999, o Greenpeace e grupos comunitários de Bhopal visitaram a fábrica abandonada para avaliar as condições ambientais do local e dos arredores. A equipe documentou a presença de estoques de agrotóxicos, assim como resíduos perigosos e materiais contaminado espalhados por todo o terreno. Encontraram níveis elevados de metais pesados e compostos clorados no solo e na água, e, em alguns locais, os níveis eram bastante alarmantes.
As amostras coletadas pelo Greenpeace mostraram níveis elevados de compostos clorados no lençol freático amostrado a partir da água de poços, incluindo clorofórmio e tetracloreto de carbono, indicativo de contaminação em longo prazo. Além disso, foram encontrados no solo chumbo, níquel, cobre, cromo, hexaclorociclohexano (HCH) e clorobenzenos. A contaminação geral do local e dos arredores deve-se a vazamentos e acidentes rotineiros durante o período em que a fábrica funcionava, ou às contínuas emissões resultantes dos resíduos tóxicos que permanecem no local.
A muitos dos indivíduos que continuam habitando as redondezas da fábrica, incluindo sobreviventes do desastre, não resta outra alternativa a não ser usar água do lençol freático contaminada com poluentes tóxicos. Desde 1990 a comunidade já luta por água limpa. Testes realizados pelo governo local em 1996 apontaram níveis elevados de contaminação, concluindo que muitos dos poços tinham condições de potabilidade inadequadas.
O Poluente:
O isocianato de metila é um produto utilizado na síntese de produtos inseticidas, comercialmente conhecidos como “Sevin” e “Temik”. Esse composto faz parte da família dos carbamatos e é utilizado como substituto de praguicidas organoclorados, como o DDT. Em condições normais, o isocianato de metila é líquido à temperatura de 0º C e pressão de 2,4 bar.
O vazamento na fábrica ocorreu, pois, na noite do acidente, a pressão dos tanques de armazenamento se elevou mais de 14 bar e a temperatura dos reservatórios se aproximou de 200° C, sendo que, esse aumento da pressão e da temperatura foi atribuído à entrada de água em um dos tanques, o que ocasionou uma reação altamente exotérmica que culminou para o vazamento dos gases tóxicos.
Segurança da Fábrica:
Naquela madrugada, as medidas de segurança criadas para impedir vazamentos de gás não funcionaram, isso pode ter ocorrido devido às falhas em sua execução, ou porque não estavam ativadas, ou ainda por serem ineficientes. Além disso, a sirene de segurança, que servia para alertar a comunidade em casos de acidente, estava desligada, o que foi considerado um agravante para o acidente, pois a população foi pega desprevenida e sem chances de fugir da nuvem tóxica.
Detalhando de forma simplificada o que aconteceu, naquela ocasião, os sistema de resfriamento dos tanques não estava em uso, então ele não pode desacelerar a reação, aliados a isso, uma torre de chamas não estava conectada ao tanque, impossibilitando a queima dos gases e, também, os vapores emitidos deveriam ter sido neutralizados em torres de depuração; porém, como uma destas torres se encontrava desativada, o sistema não funcionou possibilitando assim a liberação do produto para a atmosfera. Esses foram apenas alguns sistemas de segurança que falharam naquela ocasião, houve outros que também não funcionaram ou não foram ativados.
Procedimentos de segurança que falharam na fábrica da Union Carbide Corporation.
Aquisição da Union Carbide pela Dow Química
Em 2001, a Union Carbide foi adquirida pela multinacional Dow Química, sediada nos Estados Unidos. Com a compra da Union Carbide por um total de US$ 9,3 bilhões, a Dow se tornou a maior indústria química do mundo. A Dow comprou não apenas os bens da empresa, mas também a responsabilidade pelo desastre de Bhopal. Mesmo assim, a empresa se recusa a aceitar a responsabilidade moral pelo passivo ambiental adquirido. Ao mesmo tempo em que a responsabilidade legal da Dow está sendo julgada pela justiça norte-americana, os moradores de Bhopal continuam a sofrer os impactos do desastre.
De acordo com a Dow, com a fusão das duas empresas, a receita anual passou a ser superior a US$ 24 bilhões, e seus ativos estão avaliados em mais de US$ 30 bilhões. Em novembro de 2000, o novo presidente eleito da Dow, Michael D. Parker, demonstrou preocupação com as questões referentes à Union Carbide em Bhopal em seu primeiro informe oficial à imprensa: “É claro que temos consciência do incidente em Bhopal e de sua associação ao nome da Union Carbide, mas é importante ressaltar que [a Union Carbide] fez o que foi preciso para adotar os programas adequados para meio ambiente, saúde e segurança”.
Assim como no caso dos atentados terroristas de 11 de setembro nos EstadosUnidos, a morte de inocentes civis em Bhopal também chocou o mundo e provocou mudanças no comportamento da indústria. Depois desse desastre, a legislação ambiental e de segurança química em muitos países ricos ficou mais rigorosa. Nos Estados Unidos, foi criada a legislação de Direito à Informação, e a indústria química desenvolveu códigos de conduta, como a Atuação Responsável (Responsible Care). De acordo com Sam Smolik, vice-presidente da Dow para questões de meio ambiente, saúde e segurança, em um discurso feito recentemente, em 1984, a terrível tragédia que ocorreu em Bhopal, na Índia, serviu para despertar a indústria química como um todo. No entanto, as mudanças ocorridas no setor químico não foram suficientes e trouxeram poucos benefícios aos indivíduos mais afetados pelo acidente, cujos pedidos de indenização justa e de descontaminação da área continuam sendo ignorados.
Justiça para Bhopal
A Union Carbide foi intimada a indenizar aqueles que, com o desastre, perderam sua capacidade de trabalhar. Em fevereiro de 1989, depois de cinco anos de disputa legal, o governo indiano e a empresa chegaram a um acordo, fixando a indenização em US$ 470 milhões. Essa quantia deveria ser capaz de pôr fim a toda responsabilidade da indústria perante a sociedade. A indenização média, de US$ 370 a US$ 533 por pessoa, era suficiente apenas para cobrir despesas médicas por cinco anos. Muitas das vítimas, assim como seus filhos, sofrerão os efeitos do desastre pelo resto de suas vidas.
Organizações locais de sobreviventes estimam que entre 10-15 pessoas continuam morrendo a cada mês como resultado da exposição. Desde 1984, mais de 140 ações civis a favor das vítimas e sobreviventes de Bhopal foram iniciadas nas Cortes Federais dos Estados Unidos, na tentativa de obter indenização apropriada. Os casos continuam em curso.
Consequências
Os primeiros efeitos agudos dos gases tóxicos no organismo foram vômitos e sensações de queimadura nos olhos, nariz e garganta. Muitas pessoas morreram dormindo; outras saíram cambaleando de suas casas, cegas e em estado de choque, para morrer no meio da rua. Outras morreram muito depois de chegarem aos hospitais e prontos-socorros. Grande parte das mortes foi atribuída à falência respiratória – para alguns, o gás tóxico causou secreções internas tão severas que seus pulmões ficaram obstruídos; em outros, os tubos bronquiais se fecharam levando à sufocação. Muitos dos que sobreviveram ao primeiro dia foram diagnosticados com falha no funcionamento dos pulmões.
Estudos mais aprofundados com os sobreviventes também apontam sintomas neurológicos, que incluem dores de cabeça, distúrbio de equilíbrio, depressão, fatiga e irritabilidade, além de anormalidade e efeitos negativos sobre os sistemas: gastrointestinal, muscular, reprodutivo e imunológico.
E para piorar ainda mais esse triste cenário, esse acidente foi apenas o início de uma tragédia ainda maior, cujos efeitos se estendem até os dias de hoje. Isso se deve principalmente à negligência da empresa Union Carbide, responsável pela fábrica na época e também responsável por todos os danos causados pelo desastre, que abandonou a área deixando para trás uma grande quantidade de resíduos perigosos e materiais contaminados. Dessa forma, todos esses poluentes estão contaminando o solo e a águas subterrâneas, dentro e no entorno da antiga fábrica. A contaminação desses recursos hídricos constitui-se na forma em que a tragédia de décadas atrás encontrou, de continuar atormentando os moradores da região da fábrica – mais de 20 mil pessoas habitam aquela área atualmente -, pois grande parte dessa população continuou consumindo dessa água após o acidente.
Lixo tóxico contamina 24 anos após desastre
Centenas de toneladas de lixo ainda apodrecem dentro de armazéns em uma esquina do antigo terreno da fábrica de pesticidas da Union Carbide, quase 25 anos depois de um vazamento de gás venenoso ter matado milhares de pessoas e transformado a antiga cidade de Bhopal, na Índia, em um símbolo notável de desastre industrial.
Os resíduos tóxicos ainda não foram eliminados. Ninguém examinou até que ponto, ao longo de mais de duas décadas, as substâncias tóxicas se alastraram pelo solo e pela água da região, exceto em checagens esporádicas de uma agência ambiental estadual, que constatou que os resíduos de pesticidas nos poços da vizinhança excediam muito os níveis tolerados.
Além disso, ninguém deu importância às preocupações daqueles que beberam a água contaminada e cultivavam hortas caseiras em solo contaminado, pessoas cujos filhos agora apresentam doenças que vão de lábio leporino a retardo mental, numa segunda geração de vítimas de Bhopal, embora seja impossível determinar com precisão a causa dessas anomalias.
Na colônia da Lua Azul, meninas pegam água de um tanque. Desde 2004, por ordem da Suprema Corte, o Estado é obrigado a fornecer água potável aos moradores dos arredores da fábrica da Union Carbide onde ocorreu o vazamento de gás venenoso.
Na colônia da Lua Azul, meninas pegam água de um tanque. Desde 2004, por ordem da Suprema Corte, o Estado é obrigado a fornecer água potável aos moradores dos arredores da fábrica da Union Carbide onde ocorreu o vazamento de gás venenoso.
A demora para que providências fossem tomadas após o desastre daria uma história épica sobre a ineficiência e aparente apatia da burocracia indiana e sobre a falha do governo em exigir que os donos da fábrica se responsabilizassem pelo ocorrido. Mas a questão de quem pagará pela limpeza do terreno de cerca de quatro hectares ganhou nova urgência em um país que hoje se interessa muito em atrair investimentos estrangeiros.
Foi aqui, em 3 de dezembro de 1984, que um tanque da fábrica expeliu 40 toneladas do gás isocianato de metila, matando todos os que inalaram o veneno enquanto dormiam. Na época, a tragédia foi considerada o pior acidente industrial do mundo. Pelo menos três mil pessoas morreram na hora. Outros milhares morreram posteriormente de efeitos tardios, embora não se saiba com certeza o número exato de vítimas fatais.
Mais de 500 mil pessoas declararam ter sido afetadas pelo gás e ganharam indenizações, em média de US$ 550. Algumas vítimas dizem ainda não ter recebido dinheiro algum. Esforços para extraditar dos Estados Unidos Warren M. Anderson, presidente da Union Carbide na época, continuam, embora aparentemente sem muitos resultados. 
Grupos de defesa dos moradores locais ainda correm atrás da empresa e do governo. Eles se acorrentam à residência do primeiro-ministro num dia, e protestam em encontros de acionistas no outro, não deixando a tragédia de Bhopal ser esquecida pela Índia. Eles insistem que a Dow Chemical Comp., que trouxe a Union Carbide em 2001, se comprometeu legalmente com a fábrica e por isso deveria pagar pela limpeza do local.
"Se o lixo tóxico tivesse sido eliminado, os lençóis freáticos não estariam contaminados", diz Mira Shiva, doutora que lidera a Associação Voluntária de Saúde, um dos muitos grupos que pressionam a Dow para que se responsabilize pela limpeza do local. "A Dow praticou o primeiro crime. O segundo crime foi à negligência do governo".
Meninos brincam nas águas poluídas do que era, Originalmente, uma fossa a céu aberto, usada como repositório do lodo químico da fábrica de pesticidas. O lago chegou a ser coberto com plástico e concreto, mas a cobertura rachou com o calor.
 
Meninos brincam nas águas poluídas do que era, Originalmente, uma fossa a céu aberto, usada como repositório do lodo químico da fábrica de pesticidas. O lago chegou a ser coberto com plástico e concreto, mas a cobertura rachou com o calor.
 A Dow, com sede em Michigan, diz que não é responsável pela limpeza da área, pois não causou os estragos. "Como nunca foi dona da fábrica, não tem nenhuma responsabilidade legal pela tragédia de Bhopal e suas consequências", disse Scot Wheeler, porta-voz da empresa, em uma mensagem de e-mail.
 O próprio governo está agora nos últimos estágios dodebate que decidirá quem pagará pela limpeza do local - debate este que iria acontecer atrás de portas fechadas, não fossem os pedidos de divulgação de informações ao público, por parte dos grupos de defesa dos moradores de Bhopal, o que acarretou na revelação de correspondência intragovernamental.
Foi revelado que um braço do governo, o Ministério de Química e Petroquímica, incumbido de limpar o local do desastre, pediu a Dow um depósito de US$ 25 milhões como custos de remediação, enquanto outros altos funcionários alertaram que pressionar a Dow dessa forma poderia comprometer futuros investimentos no país.
Um alto funcionário do governo, proibido de dar declarações públicas a respeito do polêmico assunto, descreveu o dilema: "Você prefere um investimento de um bilhão de dólares, ou prefere que essa situação complicada continue?" disse o oficial, chamando a isso de "impasse".
Espera-se que o governo tome uma decisão no final deste ano. Além de decidir quem pagará pela limpeza do local, também é preciso justificar por que 425 toneladas de lixo tóxico - alguns grupos alegam que há ainda mais lixo enterrado no terreno - permaneceram no local por 24 anos após o vazamento de gás.
Encarregado da segurança caminha por uns dos edifícios que faziam parte da Union Carbide. Quase 25 depois do vazamento de gás venenoso na fábrica, centenas de toneladas de lixo se acumulam nos armazéns no terreno em que ficava a indústria de pesticidas.
 
Encarregado da segurança caminha por uns dos edifícios que faziam parte da Union Carbide. Quase 25 depois do vazamento de gás venenoso na fábrica, centenas
de toneladas de lixo se acumulam nos armazéns no terreno em que ficava a indústria de pesticidas.
Existem muitas respostas para isso. Primeiro, permitiram que a empresa devolvesse o terreno ao governo antes da limpeza. Segundo, processos de grupos de defesa ainda estão tramitando pelos tribunais. E por fim, uma rede de agências governamentais letárgicas, e aparentemente apáticas, não consegue se organizar em conjunto.
O resultado disso é um terreno infértil no coração da cidade. O antigo solo da fábrica, congelado no tempo, constitui uma floresta de cerca de quatro hectares com tanques corroídos e canos que abrigam insetos, em que o gado pasta e as mulheres procuram por arbustos para cozinhar no jantar.
Desde o desastre, decisões impensadas por parte dos residentes locais só aumentaram os problemas e o risco de saúde a que estão sujeitos. Um pouco além dos limites da fábrica existe uma fossa a céu aberto. Ela costumava ser usada como repositório do lodo químico da fábrica de pesticidas e agora é um lago em que crianças e cães mergulham nas tardes quentes. Suas margens são banheiros a céu aberto. No período de chuvas, o lago transborda pelas ruas lamacentas do cortiço.
O cortiço se formou logo após o vazamento de gás. Pessoas carentes migraram para o local, à procura de terras baratas, e construíram seus lares à beira do lago de lodo. O lago foi uma vez coberto com concreto e plástico. Mas no calor intenso, a cobertura de concreto se partiu.
Inexplicavelmente, os primeiros testes dos lençóis freáticos no local foram conduzidos apenas 12 anos após o vazamento de gás. O órgão de controle de poluição estadual revelou que os lençóis continham vestígios de pesticidas como endosulfano, lindano, triclorobenzeno e DDT. Mas os sedimentos do solo não foram testados. E a água do local nunca foi comparada às águas de outras cidades vizinhas.
Akash, 6 anos (esq.), nasceu sem o olho esquerdo, não enxerga nem fala direito - problemas causados, segundo seu pai, pela água contaminada. Eles vivem no cortiço de Shiv Nagar a 800 metros da fábrica de pesticidas.
O órgão de poluição não viu razão para alarde. No entanto, em 2004, devido a reclamações de residentes da área, a Suprema Corte ordenou que o Estado fornecesse água potável aos moradores dos arredores da fábrica. Na época, 20 anos desde o acidente já tinham se passado.
"É um escândalo que o lixo tóxico ignorado pela Union Carbide por 20 anos agora tenha migrado para o solo e contaminado o lençol freático sob a fábrica e a vizinhança", escreveu Claude Álvares, monitor da Suprema Corte da Índia, que visitou o local em março de 2005. Ele provou a água de um poço local. "Tive que cuspir tudo", contou em seu relatório. A água "tinha um gosto terrível de produto químico". As mulheres da vizinhança ainda mostraram os utensílios corroídos pela água.
Como aponta o relatório, o governo estava ciente da probabilidade de contaminação há muito tempo. Um centro de pesquisa governamental avisou há 10 anos que se os resíduos tóxicos não fossem tratados, eles se espalhariam pelo solo e pela água da região.
Por volta da mesma época, sob pressão pública, autoridades do Estado finalmente recolheram os resíduos tóxicos em volta do terreno da fábrica e colocaram-no dentro de um armazém. O armazém foi trancado apenas há quatro anos. O resíduo armazenado no local deveria ter sido incinerado na cidade vizinha de Gujarat, mas o governo ainda não encontrou uma empreiteira que esteja disposta a empacotar o lixo em pequenas unidades transportáveis. A autorização para transporte também está atrasada, e grupos de cidadãos levantam novos questionamentos quanto ao perigo de se transportar o lixo tóxico.
Ajay Vishonim, Ministro da Saúde e do Gás, disse estar confiante de que nenhum resíduo apresente mais riscos a esta altura, e que não houve, em sua opinião, comprovação satisfatória de que o lixo tóxico causou a contaminação do lençol freático. "É sensacionalismo", disse.
Fareeda Bi e seus filhos Hassan (esq.) e Nawab Mian, em casa em Arif Nagar, outro cortiço próximo à fábrica. Os meninos não conseguem controlar os músculos e mal conseguem se manter em pé, locomovendo-se pela casa como passarinhos recém-nascidos. A mãe diz que o estado dos filhos se deve à água contaminada.
Em 2005, um estudo financiado pelo Estado requisitou que pesquisas epidemiológicas de longo prazo determinassem o impacto da água contaminada no local, e concluiu que embora os níveis de resíduos tóxicos não fossem altos, a contaminação da água e do solo causou um aumento de doenças respiratórias e gastrointestinais.
 No cortiço de Shiv Nagar, a cerca de 800 metros da fábrica, vive o garoto Akash, que nasceu sem o olho esquerdo. Ele tem seis anos e não enxerga nem fala direito. É uma criança alegre que brinca nas ruas perto de casa.
Seu pai, Shobha Ram, um doceiro que comprou o terreno na região muitos anos depois do vazamento de gás, construindo sozinho uma casa de dois cômodos, disse que o problema do garoto foi causado pelo poço artesanal perto do lago de lodo de onde sua família tirou água por anos.
Ele disse que nunca havia lhe ocorrido que a água podia estar contaminada com pesticidas. "Sabíamos do incidente com o gás", afirmou. "Mas nunca pensamos que existisse água contaminada tão perto de casa".
A história se repete em cortiços vizinhos. Na colônia da Lua Azul, Muskan, uma menina de dois anos, não consegue andar, falar ou entender o que acontece ao seu redor. O pai dela, Anwar, culpa a água.
Em Arif Nagar, os irmãos Nawab e Hassan Mian, de oito e doze anos, se locomovem feito passarinhos recém-nascidos, mal conseguindo se manter em pé. Eles não conseguem controlar os músculos. A mãe deles, Fareeda Bi, não tem certeza da causa da doença, mas também culpa a água. "Existem outras crianças assim na vizinhança, que não conseguem andar, nem enxergar", disse.
Para agravar a tragédia, não há como saber até que ponto a água é responsável por isso. O governo suspendeu os estudos de Saúde Pública de longo prazo há muitos anos.

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