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Principais aspectos do neorrepublicanismo de Philip Pettit

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Filosofia – Alberto Paulo Neto Direito (diurno) Turma única 
Isabella Yumi Miura
Principais aspectos do neorrepublicanismo de Philip Pettit 
	 O artigo analisado diz respeito às ideias do filósofo Philip Pettit, responsável pelo 
reaparecimento da tradição republicana, a qual foi significativo para o desenvolvimento das 
comunidades políticas modernas.	 
	 O conceito de liberdade é constante em sua teoria política, ou melhor, segundo o teórico, 
é egrégio para a tradição republicana. Historicamente, a liberdade possui dois lados: um se refere 
ao conceito negativo – abarcado pelo liberalismo e pelos direitos civis –, e ao conceito positivo – 
associado à democracia e aos direitos sociais. Pettit, ao contrário de Constant e Berlin, acredita 
que essas duas definições de liberdade impedem que se tenha uma visão clara da validade 
filosófica e a realidade histórica da concepção de liberdade.
	 Pettit lança então, uma terceira definição de liberdade, a liberdade como não-dominação, 
a qual, para ele, representa conceito de republicanismo, e é tida como a verdadeira liberdade 
republicana. A liberdade como não-dominação tem, como aspectos negativos, a ideia da 
ausência da interferência alheia, e positivos quanto à necessidade de segurança frente à 
interferência arbitrariamente fundada.
	 Há uma grande importância em destacar a diferença entre liberdade como não 
interferência e liberdade como não-dominação, uma vez que a primeira constitui uma forma 
liberal de se pensar o tema da liberdade, e a segunda pertence à uma forma republicana. Ambos 
os termos evocam uma noção de não interferência, portanto, pode diminuir as possibilidades de 
escolhas do indivíduo, ou aumentar seus custos para optar por uma determinada alternativa.
	 Para dominar alguém, o outro deve ter poder sobre o mesmo. Para tal relação, Philip 
afirma que são necessários três requisitos, sendo a primeira a capacidade de interferir, a 
segunda, uma forma arbitraria – uma vez que não considera a opinião dos outros –, e a terceira, 
interferir em determinadas escolhas que o outro possa realizar, além da consciência por parte do 
poderoso de controle, do submetido pela sua vulnerabilidade, e dos recíprocos.
	 Segundo o filósofo, é possível que haja dominação sem interferência (quando o indivíduo 
não é livre, mesmo que não esteja sob interferência), e interferência sem dominação (quando 
alguém é considerado livre, mesmo sob a interferência do outro). Esta última concepção remete 
ao fato de alguém sofre algum tipo de intervenção que não seja considerada arbitrária.
	 Ainda em sua teoria, Philip afirma que a liberdade republicana prevê que um cidadão só é 
realmente livre quando o governo ou os outros cidadãos não interferem em sua vida de modo 
arbitrário. Dentro desta liberdade, não há problema de interferência do Estado na vida dos 
cidadão, mas sim quando esta se torna arbitrária, ou seja, o cidadão é livre quando não está sob 
o julgo de outros cidadãos (dominium) e nem sujeito à interferência arbitrária do Estado 
(imperium). Para tanto, o Estado republicano deve, ao mesmo tempo, combater a interferência 
arbitrária decorrente do dominium, como também se preocupar com a dominação que precede 
do imperium do Estado. 
	 Para perpetuar a liberdade como não-dominação, a democracia deve assumir um caráter 
contestatório, um modelo no qual as decisões públicas devem ser baseadas em preocupações 
comuns, mas, acima disso, devem estar sempre disponíveis bases para que os cidadãos possam 
contestá-las. Para as decisões públicas serem consideradas não arbitrárias não é necessário que 
surjam de consensos explícitos, mas sim, que elas estejam abertas à contestação é, portanto, a 
“democracia deliberativa contestatória”de Pettit, uma vez que além de incluir indivíduos de todas 
as posições da sociedade, deve possuir representantes de diversos setores da população.
	 Há de salientar que o modelo de não-dominação proposto, o cidadão não possui poder 
ilimitado para vetar toda decisão do Estado que incomode seus interesses particulares, mas sim 
quando as decisões são contrárias aos interesses da comunidade. Portanto, a participação é 
instrumental e de natureza negativa, e aparece como uma proteção para o exercício da liberdade. 
A liberdade positiva, por sua vez, quando vinculada com o autogoverno, só aumenta de forma 
indireta, através do voto de todos os cidadãos na escolha dos representantes políticos.
	 Quando Pettit aborda o tema do republicanismo, ele retoma à ampla tradição republicana, 
com origem na Roma clássica. O novo conceito desenvolvido, o neorrepublicanismo, critica o 
liberalismo e defende uma nova visão de liberdade. O liberalismo e o republicanismo constituem 
diferentes pontos de vista sobre a liberdade, uma vez que o primeiro remete à ideia de liberdade 
como ausência de interferência e de não obediência às normas que não foram criadas para si 
mesmo, e o ultimo à ideia de liberdade como ausência de dependência de vontade arbitrária. 
Filosofia – Alberto Paulo Neto Direito (diurno) Turma única 
	 Apesar de se divergirem em alguns aspectos, ambos possuem um lado em comum 
identificado na estreita relação entre liberdade e lei. Na tradição liberal, a lei é entendida como 
limite da liberdade e, portanto, proporciona uma garantia, pois uma liberdade garantida, mesmo 
que restrita, é melhor do que uma liberdade intacta, porem precária. Já no republicanismo, a 
liberdade é tida como consequência da lei, a qual deve ter sido instaurada em um contexto sem 
dominação.
	 Para que o ideal republicano de Pettit se efetive, é necessário que as leis republicanas 
estejam em harmonia com as normas da sociedade civil, além de estarem de acordo com a 
virtude cívica, com a boa cidadania e com os hábitos de civilidade, os quais distinguem a 
tradição republicana.

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