Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Arlindo Ugulino Netto –IMUNOLOGIA I – MEDICINA P3 – 2008.2 1 FAMENE NETTO, Arlindo Ugulino. IMUNOLOGIA ANTÍGENO E ANTICORPOS (Professora Karina Karla) O binômio Antígeno x Anticorpo corresponde, praticamente, à base fundamental da imunologia. Um antígeno é é toda a partícula ou molécula capaz de iniciar uma resposta imune, a qual começa pelo reconhecimento pelos linfócitos e acumula com a produção de um anticorpo específico; anticorpos (imunoglobulinas) são glicoproteínas sintetizadas e excretadas por células plasmáticas derivadas dos linfócitos B, os plasmócitos, presentes no plasma, tecidos e secreções que atacam proteínas estranhas ao corpo, chamadas de antígenos, realizando assim a defesa do organismo (imunidade humoral). ANTGENO Antígenos (Ag) são substâcias particuladas (células, bactérias, esporos de fungos e vírus, entre outras) ou moléculas solúveis (proteínas, glicoproteínas, lipoproteínas, polissacarídios) que apresentam duas características principais: imunogenicidade (capacidade de ativar linfócitos T e/ou B) e antigenicidade (capacidade de reagir com os produtos específicos dessas celulas, no caso os anticorpos (Acs) produzidos por linfócitos B ou receptores de LT). CARACTERÍSTICAS DA IMUNOGENICIDADE O elemento deve ser estranho; Peso molecular acima de 10 mil daltons; Ter configuração espacial que propicie a resposta imune; Ter determinantes antigênicos acessíveis; Ser administrados em doses adequadas; Ter um bom estado nutricional; Idade funcional do sistema imune Pelas suas caracterísitcas fisico-quimicas, as proteinas e alguns polissacarídios complexos são as principais moléculas que apresentam essas duas propriedades (imunogenicidade e antigenicidade). Essa definição é utilizada porque há moléculas que, apesar de terem antigenicidade, não são imunogênicas; essas moléculas são denominadas de haptenos. Haptenos são, portanto, moléculas de baixo peso molecular que não tem poder imunogênico, apesar de ter antigenicidade. As características físico-quimicas de lipídios, carboidratos simples e ácidos nucléicos propiciam que estas moléculas atuem como haptenos. OBS: Os haptenos (como a insulina, penicilina, anilina) podem até serem fagocitados por macrófagos e apresentados aos linfócitos, mas por já serem pequenos e ainda degradados (ficarem menor ainda), não são capazes de apresentar imunogenicidade. Já quando um hapteno se liga a uma proteína carreadora, ao ser fagocitado, degradado e apresentado, pode sim, de maneira sucinta, desencadear uma resposta imune. DETERMINANTE ANTIGÊNICO Determinantes antigênicos (epítopos) são seqüências específicas de aminoácidos capazes de desencadear uma resposta imune. Quando ocorre a degradação de microrganismos pela APC, esta apresenta apenas essa seqüência específica chamada de epítopo ao linfócito, que inicia, por sua vez, a resposta imune. Um anticorpo não apenas reconhece a seqüência dos aminoácidos (estrutura primária) como também a sua conformação espacial (estruturas secundária e terciária). Cada estrutura pode formar diferentes determinantes antigênicos, as estruturas reconhecidas pelos anticorpos. Existem proteínas que, por exemplo, precisam ser desnaturadas ou Arlindo Ugulino Netto –IMUNOLOGIA I – MEDICINA P3 – 2008.2 2 clivadas para desvendarem seu determinante antignico, uma vez que este estava inacessvel. Outro caso importante so aquelas protenas que apresentam um eptopo especfico e quando elas so desnaturadas, perdem essa afinidade com o anticorpo. OBS1: Determinantes neoantignicos so aquelas protenas que apresentam sequencias tpicas que poderiam desencadear uma resposta imune, mas esto inacessveis na molcula peptdica. Da, ao entrar em ao uma protease, o peptdeo clivado dando origem a um novo determinante. REAÇÃO CRUZADA O reconhecimento dos determinantes antignicos por anticorpos, apesar de especfico, no to rigoroso, podendo ocorrer rea es de maior ou menor avidez com diferentes antgenos. Quando o anticorpo reage com outros antgenos, alem daquele que induziu a resposta imune, ocorre o que chamamos de reação cruzada. A reao cruzada, no entanto, s ocorre quando os determinantes antignicos so similares queles que induziram produo do anticorpo. Por exemplo, uma gripe pode ser causada por um vrus “A” e a partir dele, so produzidos anticorpos contra ele. No entanto, ao entrar em contato com um vrus B, com determinantes antignicos similares aos dos vrus A, propicia-se que os anticorpos contra o vrus A associem-se ao vrus B. Isso uma das explica es de que as gripes serem to comuns. Outro exemplo de reao cruzada o que ocorre com transfus es sanguneas com grupos ABO. Observe a tabela abaixo que mostra a relao dos antgenos de cada grupo sanguneo e anticorpos presentes no seu plasma: TIPO SANGUÍNEO GENÓTIPO ESTRUTURA DO GLICOCÁLIX AGLUTINOGÊNIO (antgenos na membrana das hemcias) AGLUTININA (anticorpos no plasma) A IA IA ou IA i R – Glc – Gal – NacGal – Gal - NacGal | Fuc A Anti-B B IB IB ou IB i R – Glc – Gal – NacGal – Gal - Gal | Fuc B Anti-A AB IA IB R – Glc – Gal – NacGal – Gal - NacGal | Fuc R – Glc – Gal – NacGal – Gal - Gal | Fuc AB - O ii R – Glc – Gal – NacGal – Gal | Fuc - Anti-A e Anti-B As transfus es desejadas so aquelas que acontecem entre o prprio grupo sanguneo, ou at mesmo do grupo O para os outros grupos sanguneos (como a doao feita de apenas por concentrados de hemcia, ou seja, sem o contedo plasmtico, o que significa que os anticorpos do O no entram na transfuso), sendo assim determinado de doador universal. J quando se doa sangue do grupo B para o grupo A, por exemplo, ocorre reação cruzada, aglutinando o sangue. A questo : onde os grupos sanguneos obtiveram seus anticorpos se nunca entraram em contato com sangue de um grupo diferente? A resposta baseada em bactrias existentes no trato gastrointestinal, que apresentam em sua membrana carboidratos semelhantes ao da membrana das hemcias do sistema ABO, o que determina a primeira exposio das hemcias a esses antgenos, que formaram o fentipo do sangue. essa similaridade dos carboidratos da microbiota do TGI que caracterizam a reao cruzada dos anticorpos do sangue do receptor para com as hemcias do doador, quando estes so de grupos sanguneos diferentes. INTERAÇÃO ANTÍGENO x ANTICORPO Todas as liga es entre o antgeno e o anticorpo so do tipo no-covalentes (pontes de hidrognio, eletrosttica, fora de Van der Waals, intera es hidrofbicas), ou seja, a interao intermolecular Antngeno-Anticorpo se d por uma atrao de forma fraca. Arlindo Ugulino Netto –IMUNOLOGIA I – MEDICINA P3 – 2008.2 3 ANTICORPOS Anticorpos (Ac), ou imunoglobulinas (Ig), so glicoprotenas sintetizadas e excretadas por clulas plasmticas derivadas dos linfcitos B, os plasmcitos, presentes no plasma, tecidos e secre es que atacam protenas estranhas ao corpo, chamadas de antgenos, realizando assim a defesa do organismo (imunidade humoral). Depois que o sistema imunolgico entra em contato com um antgeno (proveniente de bactrias, fungos, etc.), so produzidos anticorpos especficos contra ele. Apresentam como caractersticas: Maior variedade de estruturas antignicas; Maior habilidade de discriminao; Maior fora de ligao com o antgeno OBS2: A descoberta da presena de imunoglobulinas no sangue se deu a partir da injeo de antgenos no soro de camundongos fazendo, logo depois, eletroforese do mesmo. Observou-se que, alm do pico eminente de albumina, picos na frao γ de protenas. Concluiu-se que γ-protenas (γ-globulinas) corriam no plasma sanguneo e aumentavam de concentrao diante de respostas imunes. A maioria das imunoglobulinas sricas apresenta migraodo tipo gama (na eletroforese) e por isso so consideradas imunoglobulinas. O termo anticorpo utilizado quando estamos nos referindo a molculas da famlia das Igs que tm capacidade de reagir especificamente com um determinado antgeno. LOCALIZAÇÃO DAS IMUNOGLOBULINAS As imunoglobulinas podem ser de dois tipos: membranar (presentes na membrana do LB) ou secretoras (livres no plasma). As Ig membranares so o prprio BCR, complexo receptor presente na mebrana do LB. Os anticorpos presentes no fluido sanguneo so aqueles sintetizados pelos plasmcitos (uma verdadeira industria de anticorpos), que a diferenciao do LB. Os anticorpos membranares se diferenciam dos secretores por possuir uma cauda bem maior em sua estrutura, responsvel por fix-lo firmemente membrana do LB. Quando ocorre a ligao antgenoXanticorpo, pode-se diferenciar duas fases: Fase inicial (reconhecimento): realizado pelos Ig membranares (que apresenta AA hidrofbicos). Fase efetora: funo dos Ig secretores presentes no plasma (com AA hidroflicos). MECANISMO DE AÇÃO (DE MORTE) O anticorpo, ao reconhecer o antgeno, passado a fase incial, tem incio a fase efetora, passando, ento, pelos seguintes passos: Ativao do sistema complemento atravs da interao antgenoXanticorpo. Esse sistema responsvel por lisar o microrganismo por meio do MAC. Opsonizao: o anticorpo se liga ao antgeno para facilitar a fagocitose. Neutralizao espacial: o anticorpo se liga ao antgeno, fazendo com que aquele, ao ser modificado estruturalmente, perca sua funo patognica. Citotoxicidade dependente de anticorpo (ADCC): liberao de citocinas (principalmente pelas clulas NK) se houver interao anticorpoXantgeno. ESTRUTURA DAS IMUNOGLOBULINAS A estrutura das Igs s foi estudada na dcada de 1970, com o uso das enzimas proteolticas pepsina e papana. Esses experimentos levaram concluso de que as Igs so formadas por quatro cadeias polipeptdicas de diferentes pesos molculares. Duas dessas cadeias possuem PM mais alto, sendo compostas de 450 AA e denominadas cadeias pesadas (H). As outras duas cadeias, as leves (L), apresentam PM menor e 212 resduos de aminocidos. Estas cadeias esto associadas entre si por pontes de dissulfeto (ligao forte, de natureza covalente) que ocorrem quando Arlindo Ugulino Netto –IMUNOLOGIA I – MEDICINA P3 – 2008.2 4 existem duas cistenas prximas, formando um tipo de estrutura globular caracterstico das Igs. Essa estrutura tem forma globular porque cada ligao dissulfeto intracadeia forma uma ala peptdica de 60 a 70 AA. As pontes dissulfeto intracadeia dividem as regiões variáveis e constantes pertencenteas s cadeias pesadas e leves em domnios especficos a cada tipo de Ig. No pice de das cadeias leve e pesada (na regio N-terminal), tem-se a regio varivel (V) que determina a alta especificidade de cada tipo de Ig. Em outras palavras, as regi es contantes apresentam funo meramente estrutural, enquanto as regi es variveis so as responsveis pelas caractersticas especficas de cada Ig, sendo seus genes produtores muito mais aleatrios que as outras regi es. Nos ensaios utilizando a papana ocorre clivagem da molcula de Ig em regi es acima da ponte de dissulfeto que associa as duas cadeias pesadas originando trs fragmentos: dois que se unem ao antgeno e so denominados de fragmentos Fab (esto sempre associados) e um que se cristaliza quando quebram, o Fc. So as Fab que entram em contato com os antgenos (e em sua extremidade varivel est a associao especfica do antgeno com os anticorpos) e a Fc, completamente composta de regio constante, responsvel pela fixao da Ig. OBS3: Em relao regio varivel das Igs, h sequencias de aminocidos hipervariveis complementares sequencia de aminocidos dos determinantes atignicos presentes nos antigenos. As regiões hipervariáveis da cadeia pesada esto presentes entre resduos de 30-35, 50-62 e 94-102 aminocidos, formando o que se chama de CDR1 (complementarity determining regions 1 = regio determinante de complementariedade), CDR2 e CDR3, respectivamente. Os domínios das imunoglobulinas so duas camadas β-laminadas pregueadas distribudas em 3 a 5 camadas de cadeias polipeptdicas antiparalelas. Essas regi es conferem ao anticorpo: Superfcie especfica de ligao com o antgeno; Mltiplos contatos com o antgeno; Superfcie complementar a estrutura tridimensional do antgeno TIPOS DE IMUNOGLOBULINAS (ISOTIPOS) Os anticorpos podem existir em diferentes formas conhecidas como isotipos ou classes. Nos mamferos existem cinco isotipos diferentes de anticorpos, conhecidos como IgA, IgD, IgE,IgG e IgM. Eles possuem o prefixo "Ig" que significa imunoglobulina, um outro nome utilizado para anticorpo. Os diferentes tipos se diferenciam pela suas propriedades biolgicas, localiza es funcionais e habilidade para lidar com diferentes antgenos, como mostrado na tabela ao lado. O fragmento Fab (mais especificamente, a sua regio varivel) das Igs confere a essas molculas o reconhecimento especfico dos determinantes antignicos enquanto o fragmento Fc, que distingue as classes de Igs, confere fun es efetoras distintas, de acordo com a capacidade dessas regi es em se associar a diferentes receptores ou outras molculas do sistema imune. IgA (IgA1, IgA2): imunoglobulina dimrica (mais comum, podendo ser monomrica e trimrica) encontrado em grandes concentra es nas mucosas e em secre es externas (saliva, colostro, lgrimas, secre es urogenitais). Sua meia vida em torno de 6 dias. Tem como funo a imunidade das mucosas; ativa o sistema complemento pela via alternativa. IgD: encontrada apenas na BCR, no estando presente nos lquidos sanguneos. Responsvel apenas por servir como receptor de antgenos das clulas B. Tem meia vida de 3 dias. IgE: imunoglobulina presente nos liquidos internos do corpo em concentra es inferiores a 1%. Tem meia vida de 2 dias. Esta relacionado com as rea es de hipersensibilidade; combate a helmintos; estimula a secreo de histamina pelos basfilos e moncitos. IgG (IgG1, IgG2, IgG3, IgG4): imunoglobulina monomrica (uma nica unidade bsica) presente nos liquidos internos do corpo, correspondendo a 70-75% do total das Igs sricas. Sua meia vida longa: 23 dias. As Arlindo Ugulino Netto –IMUNOLOGIA I – MEDICINA P3 – 2008.2 5 molculas das subclasses da IgGs apresentam capacidade de interagir com antgenos de diversos tipos de estruturas quimicas e ativam diferentes mecanismos de eliminao antignica. Tem como fun es: opsonizao, ativao do complemento, citotoxicidade celular dependente de anticorpo, imunidade neonatal, inibio por feedback das clulas B (tem capacidade de atravessas a barreira placentria). IgM: imunoglobulina pentamrica (cinco unidades bsicas) presente nos liquidos internos do corpo e nas secre es externas. Suas cadeias (como em todos os Ig polimricos) so ligados pela cadeia J. Tem media vida de 5 dias. Tem como fun es: receptor de antgenos das clulas B inativas, ativao do complemento pela via clssica. OBS4: A IgG faz parte de respostas secundrias (respostas de memria muito mais rpida e eficiente), j a IgM est relacionada a respostas primrias (fase aguda). Caso a criana tenha IgG sem nunca ter contato com uma infeco, por exemplo, a explicao o fato da IgG da me ter atravessado a barreira placentria e imunizado a criana. Mas se for identificado IgM na criana, significa que a mesma est desenvolvento imunidade para uma doena que est se iniciando ainda. OBS5: O que classifica a imunoglobulina ser IgA, IgD, IgE, IgG ou IgM o gene que codificou a cadeia Fc de cada uma: α, δ, ε, γ, μ. Com isso, a Fc das Ig no s tem carater estrutural,mas classificatrio. SÍNTESE E EXPRESSÃO DA IMUNOGLOBULINA A clula-tronco (precursora linfoide) na medula ssea d origem a uma clula pr-B, que aps completa a sntese de suas Ig, dar origem a clula B madura. Essa, ao se diferenciar em plasmcito, secreta os Igs. Sntese: Ribossomos do R.E.R. Montagem: Chaperonas (Calnexinas) Expresso: Via Complexo de Golgi CARACTERISTICAS DAS IMUNOGLOBULINAS Especificidade: Capacidade de distinguir pequenas diferenas na estrutura qumica do antgeno. Afinidade/ Avidez: Capacidade de se ligar ao antgeno. Diversidade: grande nmero de imunoglobulinas que se ligam a diferentes antgenos, dando origem ao repertrio de anticorpos. Repertório de Anticorpos: Coleo de anticorpos com especificidade diferente (recombinao gentica aleatria). Arlindo Ugulino Netto –IMUNOLOGIA I – MEDICINA P3 – 2008.2 6 ANTICORPOS MONOCLONAIS
Compartilhar