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Apostila Recuperação de Áreas Degradadas

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1 
 
 
IFCE – Campus Quixadá –Engenharia Ambiental 
Disciplina:Recuperação de Áreas Degradadas – Carga horária: 80 h/a – 
Semestre:9º – Professoras: Joyce Bonna e Amanda Menezes 
Contato:joyce.bonna@ifce.edu.br / amanda.menezes@ifce.du.br 
 
1. Conceituação de termos utilizados em estudos de recuperação ambiental 
 
Estudos e programas relacionados com a recuperação ambiental necessariamente 
envolvem diferentes áreas de conhecimento humano. A abordagem ampla que se faz necessária, 
somente pode ser atingida na medida que a multidisciplinariedade e interdisciplinaridade se fazem 
presentes. 
 
Processos ou programas de recuperaçãoambiental podem ser definidos como um 
conjunto de ações idealizadas e executadas por especialistas de diferentes áreas do 
conhecimento humano, que visam proporcionar o restabelecimento de condições de equilíbrio e 
sustentabilidade existentes anteriormente em um sistema natural (Dias e Griffith, 1998). 
Em função desta definição, o termo sustentabilidade deve ser corretamente interpretado. É 
relativamente comum a confusão entre sustentável e auto-sustentável. A sustentabilidade de um 
ambiente pode ser mantida por intermédio de intervenções antrópicas como fertilizações, 
irrigações e enriquecimento de sua biodiversidade, por exemplo. 
 
 
Exemplo de um sistema sustentável 
 
 
2 
 
Por outro lado, a auto-sustentabilidade do ambiente é mantida em função de sua 
resiliência e de seus mecanismos de troca atuarem de maneira equilibrada e eficiente a ponto de 
manter sua produtividade. 
 
Exemplo de sistema auto-sustentável 
 
O inter-relacionamento entre as diferentes áreas de conhecimento humano passa a ser um 
ponto de grande importância na execução de estudos e programas de recuperação ambiental. No 
entanto, a troca de informações entre técnicos muitas vezes pode ser prejudicada em função de 
abordagens distintas em relação a determinados conceitos e definições. Estas abordagens 
decorrem da formação e experiência de cada profissional. 
A partir de um consenso em relação à compreensão e adoção de termos técnicos o 
desenvolvimento de trabalhos multi e interdisciplinares é facilitado, uma vez que a comunicação 
entre os diferentes atores passa a ser mais exata e objetiva. A seguir serão apresentadas 
diferentes definições para termos comumente utilizados para a elaboração e condução de projetos 
ambientais. A apresentação de definições diferentes para um mesmo termo é proposital para que 
o leitor tenha conhecimento da pluralidade de abordagens encontrada na literatura. 
No contexto de recuperação ambiental, a literatura internacional usa dois termos básicos 
que precisam ser bem compreendidos: “land” e “soil”. 
 “Land”:determinada área da superfície terrestre, envolvendo todos os atributos da 
biosfera imediatamente acima ou abaixo desta superfície, incluindo aquelas perto da 
superfície, o clima, o solo e o relevo, a superfície hidrológica (incluindo lagos, rios e 
pântanos), as camadas sedimentares superficiais e associadas a reserva de águas 
subterrâneas, a população de animais, os diferentes modelos de assentamentos humanos 
e os resultados físicos do passado e do presente de atividades humanas (terraceamento, 
estruturas para armazenamento de água e drenagem, estradas e edificações, etc.). (FAO, 
1995). 
 
3 
 
 
 
 “Soil”:coleção de corpos naturais dinâmicos, que contém matéria viva, e é resultante da 
ação do clima e da biosfera sobre a rocha, cuja transformação em solo se realiza durante 
certo tempo e é influenciada pelo tipo de relevo (LEPSCH, 2002). Parte do ecossistema 
terrestre situado na interface entre a superfície da terra e a rocha matriz. Apresenta-se 
subdividido em camadas horizontais sucessivas com características físicas, químicas e 
biológicas específicas. (CouncilofEurope, 1990). 
 
 
 
De acordo com as definições acima, o conceito de “land” é muito mais abrangente do que 
o de solo, sendo, por isso, mais amplamente utilizado em textos sobre recuperação ambiental. 
Assim, o solo passa a ser um componente da área (sistema, ambiente ou mesmo terra). 
A seguir são apresentados alguns termoscuja compreensão é importante para a discussão 
de textos sobre recuperação ambiental. 
 Diversidade biológica: variedade de organismo vivos de todas as origens, 
compreendendoos ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e 
os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro 
de espécies e de ecossistemas. 
 
4 
 
 
 
 Qualidade ambiental: é a medida da condição de um ambiente relativo às necessidades 
de uma ou mais espécies e/ou às necessidades ou propósitos humanos. 
 Alteração ambiental:alteração ou distúrbio no ambiente devido a processos naturais. 
 Distúrbio ou perturbação: interrupção, brusca ou não, de um processo, ação ou condição 
que seja tida como normal. Trata-se de uma perturbação momentânea. Em termos 
ecológicos refere-se a um evento pouco usual ou pouco frequente, que possa atingir um 
ecossistema, eliminando alguns indivíduos e abrindo espaço para colonização pelas 
mesmas espécies, ou não. Fala-se então em distúrbio ou perturbação estocástica, que é 
um evento fortuito, aleatório, como o fogo (ou incêndio), tempestade violenta, terremoto, 
furacão, etc.Autores como Pickett e Cadenasso (2005), afirmam que os diferentes 
distúrbios podem ter efeitos distintos na disponibilidade de recursos para colonização, uma 
vez que podem ocorrer em escala mais detalhada, do que os eventos mencionados acima, 
como a queda de uma única árvore em uma floresta, até escalas mais extensivas como a 
abertura do dossel da floresta causada por um furacão, com consequentes mudanças no 
ambiente. 
 
 
Árvore caída em floresta. 
 
 
5 
 
 Estresse: diferentemente de distúrbio, que é caracterizado por ser uma perturbação 
momentânea, o estresse é geralmente interpretado como uma pressão, no nível de ação 
sobre um ecossistema (ou comunidade ou população), de forma contínua, com tendência 
a ser prolongada, gerando respostas de seus componentes bióticos diferenciada da 
resposta ao distúrbio. 
 
A formação da caatinga é uma resposta ao estresse hídrico que frequentemente assola a região 
Nordeste. 
 
 Degradação: qualquer alteração ou distúrbio ao ambiente detectado como deletério ou 
indesejável; processos resultantes dos danos ao meio ambiente, pelos quais se perdem ou 
se reduzem algumas de suas propriedades, tais como a qualidade ou a capacidade 
produtiva dos recursos ambientais. Quando um sistema sofre alguma perda física, química 
e/ou biológica quebrando o seu equilíbrio de auto-sustentabilidade. Exige uma ação de 
remediação para que recupere o seu equilíbrio. O conceito de degradação é relativo, 
embora esteja sempre associado à noção de alteração ambientaladversa gerada, na 
maioria das vezes, por atividades humanas. Ex.: do ponto de vista da Engenharia Civil, 
certamente o conceito de solodegradado deve estar relacionado com a alteração da 
capacidade em se manter coesoe como meio físico de suporte para edificações, estradas, 
e a densidade dosolo é um atributo que ilustra bem exemplo. Já em termos agronômicos, 
solos adensadosou compactados podem caracterizar um processo de degradação 
(redução de sua taxade infiltração, limitação na circulação de oxigênio, impedimento físico 
para ocrescimento das raízes, menor disponibilidade de nutrientes, etc.). Por outro lado, 
essacaracterística é desejável como meio de suporte para edificações, ferrovias, 
rodovias,etc. 
 
 
6 
 
 
Degradação de praia por excesso de lixo 
 
 
Degradação de construção por intempéries externas efalta de manutenção 
 
 
Degradação da floresta amazônica por excesso de desmatamento 
 
7 
 
 Degradação do solo: processo que reduz a atual e/ou potencial capacidade do solo de 
produzir bens e serviços. Deterioração de aspectos físicos, químicos e/ou biológicos, 
incluindo a perda de matéria orgânica, declínio da fertilidade do solo e de sua estrutura, 
erosão, mudanças adversas de salinidade, acidez ou alcalinidade e de efeitos químicos 
tóxicos, poluentes ou encharcamento excessivo. Perda ou redução das funções ou uso do 
solo. 
 
Solo compactado dificultando a instalação de vegetação 
 
 Dano: quando uma dada área assume uma condição de incapacidadede retorno às suas 
condições originais devido a modificação de um ou mais de seus “atributos chave” (solo, 
biota, pedomorfologia, hidrologia, etc.). Esta condição ainda permite a terra a produção de 
bens e serviços para a satisfação das necessidades humanas. 
 Resiliência: velocidade de recuperação de um sistema. Está relacionada às 
características do ambiente (como a biodiversidade e os recursos do seu entorno) que 
podem favorecer a recuperação após o distúrbio ou dano que levou a sua alteração. 
Habilidade de um sistema reverter ao seu estado original. 
 
 
Primeiro o ambiente foi alterado e perdeu toda sua vegetação, posteriormente, uma nova 
vegetação começa a se instalar no ambiente alterado. 
 
 Resistência: capacidade que o ambiente tem de resistir às alterações. Depende tanto das 
características do ambiente, quanto do impacto (intensidade, duração e frequência). 
 
 
8 
 
 
Vegetação resistente a ação do vento 
 
 Ambiente natural: ambientes não alterados ou não deturpados pela cultura humana. 
 Área abandonada: área afetada pela atividade industrial ou outra qualquer que leve a sua 
incapacidade de uso sem um tratamento especial. 
 
 
Área de mineração abandonada 
 Área perturbada: aquela que sofreu distúrbio, mas manteve meios de regeneração. Logo, 
ao contrário das áreas abandonadas e/ou degradadas, não necessariamente precisam de 
uma intervenção humana para arecuperação. 
 
 
Imagem 1: área perturbada pela instalação de pastagem. Imagem 2: área regenerada. 
 
 Área contaminada: área que contém substâncias em uma certa quantidade que pode 
causar direta ou indiretamente dano à saúde humana, ao ambiente ou aos materiais de 
construção. 
 
9 
 
 
Área contaminada com material volátil 
 
 Área degradada: área cujas condições edáficas e/ou riqueza biótica foram reduzidas por 
atividade humana a um nível em que houve um declínio de suas habilidades em atender 
um uso específico; refere-se a um nível onde os reservatórios ambientais (matéria 
orgânica, nutrientes, banco de sementes e biomassa) reduziram a um ponto em que a 
reposição natural é incapaz de retornar o ambiente a seu estado original; área que após 
um distúrbio, teve eliminado os seus meios de regeneração natural, apresentando baixa 
resiliência. Em ecossistemas degradados, a ação antrópica é necessária para a sua 
recuperação. 
 
 
Voçoroca antes e depois de projeto de RAD 
 
 
Talude antes, durante e depois de projeto de RAD 
 
 Recuperação: processo pelo qual uma área degradada retorna a uma condição que 
permita a sua utilização de acordo com um plano preestabelecido para o uso do solo e 
visando a estabilidade do meio ambiente. Restituição de um ecossistema ou de uma 
 
10 
 
população silvestre degradada a uma condição não degradada, que pode ser diferente de 
sua condição original. Estabelecer um novo equilíbrio dinâmico em um ambiente que já foi 
degradado. 
 
 
Recuperação de um ambiente urbano dando a este um novo uso 
 
 Reabilitação: fazer com que um ambiente alterado volte a ter a mesma função que tinha 
antes da sua alteração; retorno ao uso primitivo com um estado de equilíbrio ecológico 
estável, não necessariamente auto-sustentado. 
 
 
Imagem 1: antiga área florestal alterada. Imagem 2: nova floresta instalada eelementos inseridos 
pelo homem que permaneceram após a reabilitação da área. 
 
 Restauração: processo pelo qual uma dada área retorna ao seu estado original anterior à 
degradação, isto é, o sistema retorna ao completo funcionamento auto-sustentado.Esse 
termo é o mais impróprio de ser utilizado, pois por estado original entende-setodos os 
 
11 
 
aspectos relacionados com topografia, vegetação, fauna, solo, hidrologia,etc., logo, trata-
se deum objetivo praticamente inatingível. 
 Uso direto: aquele que envolve coleta e uso, comercial ou não, dos recursos naturais. 
 Uso indireto: aquele que não envolve consumo, coleta, dano ou destruição dos recursos 
naturais. 
 Uso sustentável: exploração do ambiente de maneira a garantir a perenidade dos 
recursos ambientais s e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais 
atributos ecológicos de forma socialmente justa e economicamente viável. Ex.: 
extrativismo (sistema de exploração baseado na coleta e extração, de modo sustentável, 
de recursos naturais renováveis). 
 
Extração em árvore seringueira 
 
 Capacidade de suporte: valor máximo do potencial de produção de um sistema ambiental 
ou ecossistema. Ex.: 
 
 
 
12 
 
 
 Preservação: conjunto de métodos, procedimentos e políticas que visem a proteção a 
longo prazo das espécies, habitats e ecossistema, além da manutenção dos processos 
ecológicos, prevenindo a simplificação dos sistemas naturais. 
 
 
 
 Conservação da natureza: manejo do uso humano da natureza, compreendendo a 
preservação, a manutenção, a utilização sustentável, a restauração ou recuperação do 
ambiente, para que possa produzir o maior benefício às atuais gerações, e mantendo seu 
potencial de satisfazer as necessidades e aspirações das gerações futuras, garantindo, 
assim, a sobrevivência dos seres vivos em geral. 
 
 
Pessoas replantando árvores 
 
 Zoneamento: definição de setores ou zonas de uma determinada área com objetivos de 
manejo e normas específicas, com o propósito de proporcionar os meios e as condições 
para que todos os objetivos da unidade possam ser alcançados de forma harmônica e 
eficaz. 
 
13 
 
 
 
 Zona de amortecimento: entorno de unidade de conservação onde as atividades 
humanas estão sujeitas a restrições com o propósito de minimizar os impactos negativos 
sobre a unidade. 
 
 
14 
 
 
 
 Plano de manejo: documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos 
gerais de uma unidade de conservação, por exemplo, se estabelece o seu zoneamento e 
as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a 
implantação das estruturas fiscais necessárias à gestão da unidade. 
 Plano de Recuperação de Áreas Degradadas: documento que deve conter todos os 
procedimentos envolvidos na recuperação do ambiente, conforme o uso ou função 
ecológica aprovada pelo órgão de fiscalização ambiental. Deve conter ainda um plano de 
monitoramento a fim de identificar se a recuperação tem sido efetuada de fato. 
 
Referências: 
 
DIAS, L.E. Recuperação de Áreas Degradadas. Viçosa: UFV, 1997. 
 
PICKETT, S.T.A.; CADENASSO, M.L. Vegetation succession. In: Van Der Marrel, E. (ed.). 
Vegetation Ecology. Malden: Blackwell Publishing, 2005. p. 172–198. 
 
TAVARES, S.R.L. et al. Curso de recuperação de áreas degradadas: a visão da Ciência do 
Solo nocontexto do diagnóstico, manejo, indicadores de monitoramento e estratégias de 
recuperação. Embrapa Solos. Rio de Janeiro, 2008. 
 
15 
 
2. Fontes de degradação ambiental 
 
Hoje somos cerca de 7,3 bilhões, segundo as avaliaçõesdas Nações Unidas, até 2050 
seremos cerca de 8,9 bilhões de habitantes que dependeremos da capacidade de produção de 
alimentos de um planeta cuja degradação de terras produtivas ocorre de maneiraacelerada, 
enquanto as fronteiras agrícolas caminham para o esgotamento. Dessa forma, em umcurto 
espaço de tempo a pressão pelo uso de terras marginais aumentará drasticamente,colocando em 
risco sistemas mais frágeis ainda não explorados. Da mesma forma, sistemasecologicamente 
fundamentais para a preservação de biodiversidade serão pressionados para seincorporarem a 
cadeia produtiva de alimentos. 
Não existem dúvidas quanto a agricultura e a pecuária serem as principais fontes 
dedegradação de solos em termos de extensão de terras degradadas. Mesmo porque trata-se 
doprocesso de degradação mais antigo, que transcende a civilização atual. Por outro lado, 
existemoutras fontes, até mesmo mais impactantes que aquelas e que devem ser consideradas. 
Partindo-se da abordagem não segmentada de um sistema, qualquer intervenção 
quealtere os fluxos de energia, nutrientes e água e que resulte em redução de sua capacidade de 
suportee aumento de entropia, promove a degradação do ambiente. Atividades antrópicas e 
nãoantrópicas de diferentes intensidades e duração podem promover a degradação ambiental. 
Fontes de degradação ambiental podem ser classificadas a partir de diferentes 
abordagens. Neste texto são apresentadas duas abordagens que enfatizam as fontes 
dedegradação de origem antrópica: 
1) Classificação temporal, que procura relacioná-las em termos de tempo de duração da 
atividade e dos efeitos de degradação; 
2) Classificação que separa as fontes de acordo com a atividade de degradação. 
As fontes de degradação podem ser classificadas ainda, de acordo com a 
extensão,intensidade e duração do processo de degradação. Dias e Griffith (1998) apresentam 
estaabordagem a partir da visão proposta por Toy e Hadley (1987). 
Fontes naturais ou não antrópicas de degradação são pouco enfatizadas em estudos 
derecuperação ambiental, principalmente em textos brasileiros. Os eventos desta fonte 
serãobrevemente discutidos num contexto mais informativo. 
 
2.1 Fontes antrópicas de degradação ambiental 
 
a) Classificação temporal 
 
De acordo com o texto elaborado por Harris et al. (1996)existem duas categorias 
principaisde uso da terra que leva a degradação da habilidade de um ecossistema se manter auto-
sustentado: uso temporário e uso permanente. Uma terceira categoria seria a redução 
 
16 
 
doecossistema, que resulta de atividades não regulamentadas em áreas não degradadas, 
comopoluição atmosférica, caça de animais selvagens, que pode levar a degradação ou disfunção 
doecossistema. As três maneiras de uso da terra estão interligadas por alterações na entropia e 
nabiodiversidade do ecossistema. 
1) Uso temporário: engloba atividades com um uso programado e definido da terra. 
Normalmente são elaborados projetos que, inclusive, pelo menos em teoria, apresentam 
um programa de recuperação do ambiente após o uso. 
2) Uso permanente: contempla atividades onde não existe uma intenção, em longo prazo, 
de retorno da área a um sistema auto-sustentado. Como consequência, não existem 
mecanismos econômicos intrínsecos ou legislativos que garantam a recuperação 
ambiental. 
3) Redução do ecossistema: refere-se a atividades que, aparentemente apresentam-se 
como pouco impactantes (quando comparadas às duas categorias anteriores) mas que 
causam redução na capacidade de suporte e biodiversidade do ambiente. Trata-se da 
maior ameaça de quebra da auto-sustentabilidade dos sistemas em muitas partes do 
mundo. 
Alguns exemplos de atividades em cada uma das categorias citadas são apresentados 
naTabela abaixo: 
 
Tabela 1. Exemplos de fontes de degradação ambiental categorizadas pela classificação 
temporalproposta por Harris et al. (1996) 
 
 
b) Classificação quanto à atividade 
 
Esta classificação foi utilizada em um estudo realizado no início da década de 1990, 
denominado Avaliação Global da Degradação de Solos (“Global Assessment of Soil Degradation” 
-GLASOD) que foi financiado pelo Programa Ambiental das Nações Unidas (United 
NationsEnvironment Programme) e pelo Centro Internacional de Informação e Referências em 
Solo(International Soil Reference and Information Center - ISRIC). Este estudo teve o mérito de 
iniciaruma avaliação da magnitude da degradação ambiental causada pelas atividades humanas 
 
17 
 
em todoo planeta. Apesar de boa parte do levantamento ter sido realizada com base na opinião 
deespecialistas, têm um grande valor histórico e estratégico, pois desencadeou inúmeros 
outrosestudos e ações. 
De acordo com as informações levantadas, a área de solos degradados no planeta saltou 
de 6% em 1945 para 17% em 1990, e com a manutenção dos modelos de uso da terra atuais, em 
2025 cerca de 25% das terras agricultáveis apresentarão diferentes níveis de degradação(Hanson 
& Cassman, 1994). Baseado na opinião de especialistas, este estudo estimou que pertode dois 
bilhões de hectares em todo o mundo (22% da área agrícola, de pastagem, florestasnaturais e 
plantadas) foram degradadas nos últimos 50 anos. Cerca de 3,5% daquele total foram 
severamente degradadas e necessitam de elevados investimentos de engenharia para 
seremrecuperados. Cerca de 10% foram moderadamente degradadas e essa degradação seria 
reversívelcom investimentos agrícolas. 
A degradação de áreas agrícolas em todo mundo tem causado um significativo impacto 
naprodução agrícola. Entre 1945 e 1990, cerca de 17% de perda de produtividade têm sido 
atribuída àdegradação de solos (Scherr e Yadav, 1997). 
Segundo a GLASOD, há cinco fontes ou fatores de degradação dos solos: 
1) Desmatamento ou remoção da vegetação natural para fins de agricultura, florestas 
comerciais, construção de estradas e urbanização; 
 
 
 
 
2) Superpastejo da vegetação – aqui o superpestajo é considerado numa visão mais ampla, 
incluindo além do pastejo decorrente da criação de animais domésticos, o pastejo de 
vegetação natural por parte de animais selvagens no continente africano, por exemplo; 
 
18 
 
 
 
3) Atividades agrícolas – incluem uma ampla variedade de práticas agrícolas, como o uso 
insuficiente ou excessivo de fertilizantes, o uso de água de irrigação de baixa qualidade, o 
uso inapropriado de máquinas agrícolas e a ausência de práticas conservacionistas de 
solo; 
 
 
 
4) Exploração intensa da vegetação para fins doméstico como combustível, cercas, etc., 
expondo o solo a processos erosivos; 
 
 
 
5) Atividades industriais ou bioindustriais que causam a poluição do solo. 
 
 
 
 
19 
 
O estudo GLASOD estimou em todo o planeta que cerca de 1.966 x 106 ha apresentam-
secomo degradados. Em termos relativos a área total de cada continente, a Europa e a 
AméricaCentral são aqueles onde o problema mostra-se mais crítico (Tabela 2). 
 
Tabela 2. Percentual de solos degradados nos diferentes continentes 
 
 
Ainda de acordo com o estudo, de um total estimado de 1.966.000.000ha degradados, 
cercade 579.000.000ha referem-se a desmatamento, 133.000.000ha a exploração doméstica, 
679.000.000ha a superpastejo, 522.000.000ha a atividades agrícolas e 23.000.000ha a 
atividadesindustriais. Em termos percentuais estas atividades são apresentadas no gráfico abaixo. 
 
 
Extensão relativa de terras degradadas de acordo com a GLASOD. 
 
Uma das dificuldades de se obter uma avaliação global mais clara da extensão de 
terrasdegradadas refere-se a falta padronização na utilização de critérios adotados nos 
levantamentos, ou ainda na mistura de termos como desertificaçãoe degradação1. 
 
 
1O termo desertificação pode ser confundido com degradação da terra, no entanto, seu uso tem ficado restrito a 
processos antrópicos de degradação em regiões áridas, semi-áridas e sub-úmidas. O processo de desertificação se 
caracteriza pela perda total do horizonte orgânico superficial do solo, decorrente da incapacidade de manutenção de 
uma cobertura vegetal e ação intensa dos agentes erosivos sobre o material remanescente. Regiões áridas e semi-
áridas com solos considerados frágeis pela baixa estruturação e disponibilidade de nutrientes, quando submetidos a 
uma elevada pressão de uso, representam grande vulnerabilidade à desertificação. 
 
20 
 
 
 
2.2 Fontes naturais de degradação 
 
Como fontes naturais de degradação ambiental são considerados eventos como: 
furacões,terremotos, vendavais, chuvas de granizo, vulcões. A intensidade e magnitude destes 
eventos e ascaracterísticas do ecossistema vão determinar o nível de degradação ambiental. 
Alguns eventos resultam em grande impacto ambiental, no entanto, existem situações em que o 
evento poderesultar na eutrofização do sistema, como o derramamento de lavas por vulcões. 
A questão tempo mais uma vez pode ser considerada em relação às fontes 
naturais.Tomando-se uma escala de tempo mais longa, séculos, por exemplo, processos naturais 
como ode intemperismo sobre as rochas podem proporcionar a exposição de materiais 
poucoconsolidados, mais sujeitos a ocorrência de processos de grande impacto como 
movimentos demassa. 
 
 
 
 
21 
 
3. Impactos da degradação ambiental 
 
a) Em termos econômicos 
 
Informações a respeito de uma valoração econômica global do efeito de degradação 
deterras agrícolas são escassas na literatura. Algumas referências de caráter regional 
sãoapresentadas por Eswaran et al. (2001). Segundo esses autores, o impacto econômico 
decorrente dadegradação ambiental se faz mais intenso em regiões de maior densidade 
populacional, onde apressão de uso da terra é maior, como o sul da Ásia e a região Sub-Sahara 
na África. 
Apesar da dificuldade de se valorar perdas econômicas decorrentes de processos 
comoerosão ou desertificação, valores da ordem de 40 a 50% de perda de produção podem 
serencontrados na literatura (Fahnestock et al., 1995, Dregne, 1990, Lal, 1995). No sul da Ásia, 
asperdas anuais de produtividade são estimadas da ordem de 36 milhões de toneladas de 
cereais,equivalentes a US$ 5,400 milhões por erosão hídrica e US$ 1,800 milhões devido a 
erosão eólica(UNEP, 1994). Nos Estados Unidos, as perdas econômicas anuais decorrentes 
daerosão são estimadas na ordem de US$ 44 bilhões, cerca de US$ 247.00/ha de terras agrícolas 
ede pastagem. Enquanto que em termos mundiais a perda de anual de 75 bilhões de toneladas 
desolo equivale a valor de US$ 400 bilhões, ou cerca de US$ 70.00/habitante, considerando-se 
ovalor de US$ 3.00/ton de solo por nutriente e de US$ 2.00/ton de solo pela água (Lal, 1998). 
Além das perdas decorrentes de processos erosivos, devem ser consideradas perdas de 
qualidade de solo devido à compactação, perda de nutrientes, salinização e acidificação,o que 
certamente aumenta a magnitude daquele valor. 
A degradação do solo, independente da causa de degradação, promove perdas 
econômicas além da questão de produção de alimentos. O carreamento de sedimentos para 
oscursos d’água, por exemplo, promove o aumento de turbidez, afetando diferentes comunidades 
aquáticas e aprópria cadeia trófica do sistema, além de aumentar a possibilidade de enchentes e 
diminuirconsideravelmente o potencial de armazenamento de água de reservatórios hidroelétricos. 
 
 
 
 
22 
 
A perda da capacidade produtiva de solos induz a busca por novas fronteiras agrícolas, 
aumentando a pressão sobre desmatamento de novas áreas e os conflitos de terras. Da mesma 
forma, induz a migração para os centros urbanos na busca de melhores condições de vida. 
 
 
Certamente, as inúmeras consequências relacionadas aos processos erosivos e de 
perdade qualidade do solo são difíceis de serem valoradas. A pesquisa deve avançar na procura 
demecanismos e indicadores que possam tornar a valoração ambiental mais factível e 
realista.Somente assim existirá maior conscientização por parte dos formuladores e 
administradores depolíticas públicas e, por que não, da população como um todo. 
Além da valoração ambiental, o volume de informações a respeito de 
estatísticasambientais também se mostra um problema atual, não só para o Brasil, como para os 
demaispaíses, independente de sua condição econômica. A produção de estatísticas ambientais 
ébastante precária e as deficiências e lacunas superam em muito a oferta de informações 
existentes(Besserman, 2003). 
 
b) Em termos biológicos 
 
A perda de biodiversidade é principal dano biológico decorrente da degradação 
ambiental.A perda de biodiversidade se verifica pela redução no potencial de sustentabilidade dos 
sistemas,comprometendo a existência de espécies vegetais e animais. 
A supressão vegetal decorrente de poluição ou de atividades como mineração 
ouexploração agrícola, promovem em determinadas regiões perdas muitas vezes irreparáveis 
emtermos de variabilidade genética, como o caso da Mata Atlântica no Brasil. 
Os processos de degradação ambiental acabam por destruir o habitat natural 
dedeterminadas espécies que não conseguem se adaptar a nova condição ambiental. Como 
asustentabilidade ambiental é mantida também em função das trocas de energia e nutrientes 
entreorganismos, a eliminação de uma população pode afetar diretamente a sobrevivência de 
outra. 
Quando se considera a perda de biodiversidade, não se pode deixar de lado a questão 
damicro e da mesofauna do solo. Processos de degradação envolvem a perda do horizonte 
orgânicosuperficial, ao qual estes organismos de solo estão associados. Devido a função de 
degradação deresíduos orgânicos e ciclagem de nutrientes, os microrganismos mostram estreita 
 
23 
 
relação com avegetação existente. A perda de vegetação, juntamente com a perda da camada 
orgânica do solo,implica na perda da diversidade genética referente àqueles organismos. 
Independente do nível de degradação em que o ambiente se encontra, a perda 
debiodiversidade afeta diretamente seu potencial de resiliência, dificultando e onerando o 
processode recuperação ambiental. 
A valoração da biodiversidade se mostraextremamente importante para não só para 
quantificar perdas,mas também para oestabelecimento de medidas compensatórias estabelecidas 
pelos órgãos ambientais frente aos processos de degradação ambiental. 
 
c) Em termos de qualidade de vida 
 
Não existem dúvidas quanto ao efeito da degradação ambiental sobre a qualidade de 
vidadas pessoas. A magnitude da degradação está relacionada com o impacto do processo, 
podendoatingir alguns indivíduos, uma comunidade, um município, vários municípios ou mesmo 
uma nação,uma vez que os impactos indiretos podem extrapolar significativamente a área 
degradada. 
Processos de degradação ambiental muitas vezes não ficam restritos a área fonte ou 
objeto. Onível de influência do impacto sobre o entorno da área impactada dependerá da duração 
eintensidade do processo de degradação.Tomando-se a erosão de solos agrícolas, como 
exemplo. Trata-se do processo maissimples e ao mesmo tempo de maior magnitude de 
degradação, pois resulta: perda dopotencial produtivo dos solos, perda da qualidade da água com 
reflexos importantes na ictiofauna ena comunidade bentônica, perda na capacidade de 
armazenamento de reservatórios, elevação noscustos de tratamento de águas, etc. As 
consequências da erosão vão afetar diretamenteaqualidade de vida das pessoas que vivem não 
só na área diretamente degradada, como em seuentorno. 
A qualidade de vida também está relacionada com a inserção do indivíduo com a 
paisagemem que vive. Processos de degradação ambiental que envolvam a modificação da 
paisagemacabam por alterar a relação do indivíduo com o meio e, certamente, do meio para com 
oindivíduo. Alterações microclimáticas são exemplos dessa relação. 
Partindo-se de uma concepção mais ampla, a degradação de solos reduz a 
superfícievegetal do planeta. Essa redução reflete no aumento de disputas sociais, redução da 
produção de alimentos, perda de qualidade da atmosfera e, portanto, na qualidade de vida. 
 
Conclusões 
 
Inúmeros estudos disponíveis na literatura mostram que a agricultura e pecuária são as 
maiores fontes de degradação ambiental. A pressão por maiores produções de alimentos acaba 
por resultar na adoção de técnicas de manejo de solo inadequadas para o paradigma de 
 
24 
 
sustentabilidade. Visões imediatistas resultaram no modelo de exploração de solos que existe 
hoje. Somente a mudança destas práticas buscando um manejo conservacionista do solo poderá 
reverter o terrível prognóstico que se deslumbra para um futuro próximo. 
Na medida em que passe a existir menor pressão de uso de solo, terras marginais não 
aptas à exploração agrícola não serão mais utilizadas. Com isso, a extensão de terras degradadas 
certamente diminuirá.Como discutido anteriormente, existem outras fontes de degradação 
altamente impactantes como o caso de extração de minérios, exploração de madeira de florestas 
não plantadas, abertura de estradas, construção de barragens e indústrias. No entanto, são 
atividades que as instituições governamentais têm procurado regulamentar e por isso mesmo são 
passíveisde maior controle ambiental. 
Discussões a respeito do uso de áreas degradadas para reflorestamento – leia-se 
sequestro de carbono – têm sido observadas em congressos e simpósios nos últimos anos. 
Noentanto, ações efetivas por parte de governos e agências de fomento de desenvolvimento são 
ainda pouco expressivas em relação à importância do assunto. Na medida em que os 
paísesequacionarem a questão de valoração ambiental a “moeda verde” certamente se 
proliferareduzindo a extensão de terras degradadas em todo o planeta. 
 
 
Referências: 
 
DIAS, L.E. Recuperação de Áreas Degradadas. Viçosa: UFV, 1997. 
 
 
25 
 
4. Objetivos da recuperação de áreas degradadas 
 
Antes de iniciar uma abordagem sobre os objetivos de um processo de 
recuperaçãoambiental ou de uma área degradada, é interessante refletir sobre a questão “porque 
recuperar?”. 
Por mais evidente que possa parecer a resposta à essa questão, onde inúmeras razões de 
cunhosocial, político, científico, ecológico e estético possam existir, uma se coloca como 
fundamental: osolo é um componente fundamental para manutenção da vida sobre a terra, no 
entanto, uma significativa parcela do solo passível de exploraçãoagronômica existente no planeta 
possui algum nível de degradação a ponto de comprometer seupotencial de produção. Por outro 
lado, a demanda por produção de alimentos cresce anualmente,aumentando a pressão por novas 
áreas de exploração. Somente a partir de uma mudançaconceitual em termos de manejo de solos 
agrícolas pode reverter este terrível cenário atual. Paratanto, seria necessária uma 
conscientização global sobre sustentabilidade de sistemas agrícolas,como a que sugerem 
Johnson et al. (1997): “em razão dos solos produzirem a maior parte dosalimentos humanos, 
entender os processos e taxas do processo de regeneração de solos deveria sera prioridade 
fundamental das sociedades do mundo”. 
Os solos agricultáveis existentes no mundo são um recurso finito. 78% da superfície 
doplaneta não é utilizável para fins agrícolas. Dos 22 % restantes utilizáveis para a agricultura, 13 
%possuem baixa capacidade produtiva, 6 % média e apenas 3 % é caracterizada como de 
altacapacidade produtiva para a produção agrícola intensiva (Burringh, 1989, citado por Lal e 
Stewart,1992). 
 
 
4.1. Estabelecimento dos objetivos de um processo de recuperação ambiental 
 
Os objetivos da recuperação de áreas degradadas devem ser estipulados a partir de 
umamplo levantamento considerando aspectos relativos ao ambiente, a sociedade, a legislação e 
aeconomicidade do projeto. O ambiente deve ser avaliado gerando informações a respeito desuas 
características anteriores ao processo de degradação, e do potencial de recuperação doambiente 
78
13
6 3
Capacidade produtiva dos solos no 
mundo (%)
Não
utilizável
Baixa
capacidade
produtiva
Média
capacidade
produtiva
Alta
capacidade
produtiva
 
26 
 
após a degradação. Essas informações compõem a base para a formação dos cenáriospré e pós-
degradação. Os levantamentos referentes a sociedade visam a obtenção de informaçõesque 
possam expressar seu desejo no que se refere a questões de uso e estética. 
Alguns países possuem legislações ou regulamentações específicas para diferentes 
situações de degradação de solo. Nos EUA, a atividade de mineração de carvão a céu aberto é 
regulamentada por uma norma que requer do minerador a restauração da área degradada com a 
condição de que elaseja capaz de suportar um uso da terra igual ou melhor ao que suportava 
antes da degradação.No Brasil, a legislação exige a elaboração de um plano de fechamento de 
mina onde osprocedimentos a serem utilizados quando do encerramento das atividades de 
exploração sãodetalhados. Esse plano, inicialmente deve vir atrelado ao Plano de Recuperação 
de ÁreasDegradadas–PRAD, que é um documento pertencente ao conjunto do Estudo deImpacto 
Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto de Meio Ambiente (RIMA). Atendência atual é para que o 
PRAD ou Plano de Fechamento sejam documentos norteadores esua atualização seja 
periodicamente exigida, uma vez que novas metodologias são continuamentedisponibilizadas bem 
como os interesses sociais são mutáveis. 
Aspectos econômicos devem ser considerados preferencialmente como um referencial 
daviabilidade do projeto e não como um obstáculo em si. Certamente essa visão utópica vem 
priorizara preservação do meio ambiente em detrimento a do lucro. 
 
4.2. Levantamento pré-degradação 
 
Os levantamentos para a caracterização pré-degradação devem abranger oscomponentes 
que são enfocados durante a elaboração do EIA-RIMA. Ou seja, para a avaliação dos impactos a 
serem gerados, faz-se necessárioa elaboração de um diagnóstico com as características do 
ambiente afetado diretamente eindiretamente (área de influência) pela atividade fim do projeto. 
O diagnóstico é realizado a partir da descrição dos fatores ambientais nas áreas 
deinfluência e diretamente afetadas tais como: 
 Meio Físico: geologia, geomorfologia, pedologia, hidrologia, climatologia. 
 Meio Biótico: identificação dos diferentes extratos vegetais, mapeamento da densidade 
de vegetação e listagem das espécies vegetais, identificando aquelas dominantes, de 
interesse científico e ameaçadas de extinção. Identificação das espécies animais 
decorrentes das principais faunas, ressaltando as raras, ameaçadas de extinção, de valor 
econômico e científico. Caracterização físico-química e biológica (microbiológica e 
limnológica) das coleções hídricas. 
 
 
27 
 
 
Diferentes extratos vegetais 
 
 
Microorganismos aquáticos 
 
 Meio Sócio-econômico: são coletadas informações e opiniões de diferentes fatores 
sociais envolvidos direta e indiretamente na atividade de degradação. Entre esses 
destacam-se os idealizadores da atividade, setores governamentais, as comunidades 
afetadas, associações civis, gruposecológicos, associações comunitárias, etc. 
 
As informações a serem levantadas são derivadas de uma grande variedade de fontes e 
requerem, igualmente, uma grande variedade de especialistas para interpretá-las e integrá-las de 
 
28 
 
uma maneira ordenada que permita um bom detalhamento sem perder a visão global do 
ambiente. Geralmente as informações necessárias para o levantamento irão depender do tipo de 
projeto(atividade de degradação) ou da própria legislação pertinente. Porém, independentemente 
dessasquestões, um número mínimo de informações deve ser levantado para que se tenha 
umdiagnóstico de maior fidelidade do ambiente. Harris et al. (1996) classificam as informações 
aserem levantadas em quatro tipos: 
 Histórico da área: mapas, jornais, fotografias, livros, registros em cartório, processos 
jurídicos, etc. 
 Uso corrente: levantamento visual, indicadores econômicos, registros civis, etc. 
 Topografia ou arquitetura da paisagem: levantamentos e mapas topográficos. 
 Status biogeoquímico: mapas de solos, geologia e hidrologia, vulnerabilidade de águas 
subterrâneas, monitoramento biológico, amostragens e análises dos diferentes 
componentes do sistema. 
Os usos de imagens de satélites e de fotografias aéreas de diferentes épocas permitem 
aobtenção de informações sobre a evolução de processos de degradação, conservação 
eurbanização do ambiente ao longo de um tempo pré-determinado. O conhecimento das reações 
doambiente frente a esses processos auxilia no estabelecimento do potencial de recuperação 
daárea. 
Os levantamentos de campo juntamente com resultados de laboratóriopermitem um 
acúmulo de dados que necessariamente devem ser analisadas em conjunto commapas, imagens 
de satélite e fotografias aéreas. Até pouco tempo atrás, a análise conjunta defontes de diferentes 
tipos geralmente era um trabalho de difícil execução, mas com o advento de sistemas de 
informações geográficas (SIG) essa tarefa foi muito facilitada,otimizando as informações 
levantadas. O potencial dessa ferramenta é enorme, permitindo umaanálise global do ambiente 
sob diferentes enfoques, sem perder o grau de detalhamentonecessário para a identificação de 
problemas pontuais. 
 
29 
 
 
A partir das informações sistematizadas são realizados mapas que permitem avisualização 
do cenário pré-degradação que será utilizado, juntamente com o cenário pós-degradação,para a 
avaliação do potencial de recuperação e da determinação dos objetivos doprocesso de 
recuperação. 
 
4.3. Levantamentos pós-degradação 
 
De maneira geral, os levantamentos realizados para a construção do cenário pré-
degradaçãosão igualmente executados para a elaboração do cenário pós-degradação. No 
entanto, em funçãodas características do processo de degradação (atividade), fazem-se 
necessárias a inclusão deoutras avaliações e, também, de abordagens distintas. 
Tomando-se uma área degradada pela exploração de minério a céu aberto como 
exemplo,procuraremos apresentar uma abordagem típica de um levantamento pós-degradação. 
Assim como para a elaboração de um EIA-RIMA, os levantamentos pós-degradação 
devemconsiderar os meios físicos, biológicos e sócio-econômicos. No entanto, alguns 
procedimentosrequerem abordagens especiais em função das características do ambiente após a 
degradação.Um exemplo claro seria o programa de amostragens para o levantamento da 
qualidade desubstratos e de recursos hídricos. 
Considerando um ambiente de mineração, onde podem existir depósitos de 
diferentesmateriais (estéril, rejeitos, solo, etc.), inclusive alguns com problemas de contaminação 
química, aamostragem desses substratos deve ser realizada seguindo critérios bem definidos. 
Questõescomo frequência de amostragem, número de amostras, protocolo e padrões de 
amostragem,devem ser considerados dentro de um contexto que considere as características dos 
substratosavaliados. Da mesma forma, deve-se considerar a amostragem de recursos hídricos, 
 
30 
 
que podemestar comprometidos com substratos expostos a processos de lixiviação e carreamento 
de metaise/ou outros contaminantes. 
A caracterização de diferentes componentes de um sistema degradado requer a 
realizaçãode análises físicas, químicas e biológicas que exigem cuidados e procedimentos 
específicos quedevem ser considerados em função de variações qualitativas e quantitativas 
daquelescomponentes. 
Os levantamentos pós-degradação têm importante objetivo de caracterizar os 
diferentesambientes do sistema degradado, procurando classificá-los em termos de grau de 
degradação,riscos ambientais, estratégias de mitigação de impactos e potencialidade de uso. 
Assim, aconstrução do cenário pós-degradação passa a ser uma ferramenta de extrema 
importância não sópara o estabelecimento dos objetivos da recuperação, como também para a 
determinação deestratégias de recuperação compatíveis com os objetivos pré-determinados. 
A avaliação, por meio de indicadores físicos, químicos e biológicos dos 
componentesbióticos e abióticos do ambiente permite a determinação de seu grau de degradação. 
Deve-se terespecial atenção ao uso de padrões ou referências para a interpretação de 
indicadores,procurando-se evitar o uso em demasia daqueles oriundos de ambientes externos. 
Nesse sentido,os levantamentos pré-degradação mostram-se como fundamentais para o 
estabelecimento depadrões ou referenciais e, assim, melhor quantificar a intensidade de 
degradação. 
Os riscos ambientais são determinados considerando-se o grau de degradação, 
ascaracterísticas do ambiente propriamente dito e, da mesma forma, aquelas do ambiente 
entornofrente aos principais riscos ambientais são importantes no sentido de delimitação da área 
deinfluência e das próprias estratégias de recuperação. 
As estratégias de mitigação dos impactos são determinadas levando-se em consideração 
as etapas anteriores, de maneira que possam ser determinadas as diferentes capacidades de uso 
de cada ambiente para a determinação dos objetivos do processo derecuperação. 
 
4.4. Objetivos do processo de recuperação 
 
Com o conjunto de informações e produtos gerados com a construção dos cenários prée 
pós degradação é possível estabelecer, de maneira mais clara e científica, osobjetivos do 
processo de recuperação. Cada possibilidade a ser levantada é confrontada com 
aspotencialidades e limitações do ambiente determinadas pelos cenários. 
Diferentes possibilidadessão analisadas e consideradas dentro de um contexto que deve 
envolver osseguintes aspectos que são apresentados sem qualquer ordem de prioridade ou 
importância: 
 Desejo do empreendedor; 
 Desejo do proprietário da terra; 
 
31 
 
 Desejo da sociedade; 
 Exigência da legislação local, estadual e federal; 
 Riscos e necessidades ambientais; 
 Custos. 
Considerando-se os cenários pós-degradação, diferentes possibilidades de uso podem 
serdeterminadas, entre elas: 
a) Proporcionar o mesmo uso anterior a degradação: essa opção considera a volta do 
ambiente às mesmas condições existentes antes do processo de degradação. Como 
discutido anteriormente, em termos ecológicos, a restauração mostra-se praticamente 
inexequível, na medida em que se pretende o retorno dos níveis de capacidade suporte, 
de entropia e de biodiversidade existentes. No entanto, procedimentos como o retorno da 
topografia e da paisagem local podem ser opções factíveis, dependendo dos cenários pré 
e pós degradação e de aspectos financeiros. Entretanto, deve-se considerar que 
alterações de substratos (estratificação, composição química, física e biológica) 
certamente comprometem a sustentabilidade do sistema. 
 
 
b) Área de recreação: existe uma grande gama de opções de áreasde lazer ou recreação 
que podem ser construídas a partir de ambientes degradados. Parques temáticos, clubes 
sociais, áreas de camping para a prática de esportes ou realização de eventos culturais, 
são os exemplos mais comuns. Certamente são opções que, dependendo das 
características da sociedade local, podem se mostrar como forte apelo social. Aspectos 
econômicos e ambientais podem se mostrar como limitantes ao processo, mas que 
certamente são apresentados durante a construção dos cenários pós-degradação. 
 
 
 
32 
 
 
c) Construções: o uso de uma área que sofreu degradação para a construção de 
edificações pode atender à necessidade dos empreendedores ou detentores da posse da 
terra, no sentido de um retorno econômico frente aos custos de reconstrução e 
estabilização topográfica e de controle de riscos ambientais. Como exemplo de 
edificações, tem-se a construção de centros de compras, estacionamentos, condomínios 
residenciais e comerciais. A construção de prédios públicos mostra-se como uma 
interessante opção para áreas degradadas muito próximas ou inseridas em centros 
urbanos. Situação comum de pedreiras, onde a construção de anfiteatros tem se mostrado 
como uma opção de grande aceitação social. Parques industriais mostram-se como 
alternativa para áreas de maior extensão e que se apresentam próximas as vias de acesso 
e de centros fornecedores de matéria-prima. 
 
 
 
 
 
d) Uso para fins agropecuários ou como área de preservação ecológica: são opções que 
requerem cuidados especiais em termos de reconstrução topográfica e preparo de um 
ambiente que permita o crescimento e desenvolvimento de plantas. Igualmente 
importantes são os riscos ambientais desse uso sobre substratos que possam gerar riscos 
ambientais. A questão de sustentabilidade do sistema deve ser igualmente avaliada. A 
adoção de áreas de preservação ambiental mostra-se como alternativa importante nos 
dias de hoje. Muitas empresas mineradoras têm adotado a implantação de Reservas 
Particulares do Patrimônio Nacional – RPPN, como medida compensatória de impactos 
 
33 
 
ambientais. A questão de educação ambiental pode ser enquadrada neste contexto, pois 
pequenas edificações existentes na área industrial da empresa são facilmente 
transformadas em Núcleos de Educação Ambiental, agregando, inclusive, o apoio de 
Organizações Não Governamentais. 
 
 
Conclusões 
 
Independente do processo de degradação ou mesmo das características do 
ambientedegradado, o estabelecimento de cenários pré e pós degradação mostram como 
ferramentas degrande importância para a escolha dos objetivos da recuperação ambiental. 
Dentre as diferentes possibilidades de uso futuro da área apresentadas após a construção 
dos cenários, a escolha deve recair, preferencialmente, sobre a opção daquelas que melhor 
representa os anseios dos atores que direta e indiretamente estão envolvidos e, de preferência, 
que possuaalto valor social. 
A opção selecionada deve estar em concordância com a legislação e sercompatível com 
os ecossistemas do entorno, de maneira que não gere nenhum impacto que possaresultar em 
novos processos de degradação. 
 
Referências: 
 
DIAS, L.E. Recuperação de Áreas Degradadas. Viçosa: UFV, 1997. 
 
 
34 
 
5. Caracterização de área degradada 
 
A definição de ambiente degradado permite diferentesabordagens. Em uma abordagem 
mais ampla o ambiente pode ser visualizado como umconjunto de componentes que se 
encontram em equilíbrio, essa abordagem é comumente realizada a partir de conceitosclássicos 
de ecologia. Por outro lado, a visão segmentada de cada componente permite aabordagem 
restritiva, porém mais fácil, na medida em que as características sãoindividualizadas e 
quantificadas. O presente texto procura apresentar uma discussãoa respeito da caracterização de 
um ambiente degradado a partir dessas duas abordagens. 
 
5.1. Abordagem não-segmentada 
 
O ambiente deve ser observado de maneira abrangente,compreendendo que este é 
formado por diferentes componentes interligados que estabelecemfluxos de trocas e mantém um 
equilíbrio que permite que o sistema seja auto-sustentável. 
 
 
Em se tratando de área que não houve intervenção humana, a comunicação e troca 
deenergia existente entre os diferentes componentes ou grupos funcionais do ecossistema 
éfundamental para esta seja sustentável. Já para uma área onde se pretende atingir um 
usosustentável – entenda-se a existência de qualquer tipo de intervenção para que o sistema seja 
sustentável – a questão de escala passa a ser importante, não só em termos de espaço, como de 
tempo. 
De qualquer maneira, a estabilidade de um sistema é resultado de uma interaçãocomplexa 
entre produção, consumo e ciclagem de gases, solutos e líquidos. Essa interaçãoenvolve 
componentes biológicos e mineralógicos formando o ciclo biogeoquímico. Para um sistemaser 
auto-sustentável, é necessário o equilíbrio entre os três grupos metabólicos: 
 Produtores primários: organismos que absorvem a radiação solar, fixando-a 
emmoléculas orgânicas por meio da fotossíntese. 
 
35 
 
 
 
 
 
 Consumidores:organismos que se alimentam de produtores primários, consumindo 
ostecidos vegetais acima ou abaixo da superfície do solo. Possuem a função importante de 
dispersarpropágulos de plantas e matéria orgânica e retornar o carbono diretamente para a 
atmosfera naforma de dióxido de carbono. Existem também os consumidores secundários, 
carnívoros, que sealimentam de herbívoros. 
 
 Decompositores: organismos que quebram os compostos orgânicos de 
produtoresprimários e consumidores mortos, retornando elementos para sua forma mineral 
para reciclagem.Sem a sua existência existiria um rápido acúmulo de matéria orgânica, 
 
36 
 
exaurindo a atmosfera decarbono. Possuem ainda a função secundária de 
desenvolvimento e manutenção da estabilidadeda estrutura do solo, unindo as partículas 
do solo. Consistem basicamente de bactérias, fungos eprotozoários. 
 
Dentre as diferentes características de um sistema natural, duas são 
particularmenteimportantes para a avaliação de um processo de degradação: capacidade suporte 
ebiodiversidade. 
A capacidade suporte é definida como a densidade máxima teórica que o sistema 
podesustentar, quer seja em termos de números de espécies ou de biomassa, que 
estádiretamente relacionada ao total de carbono orgânico existente, e representa o limite superior 
dosistema. A magnitude da capacidade suporte é determinada por uma combinação de fatores 
como: regime hídrico, temperatura, radiação solar, características de solo, topografia, etc. 
 
 
 
A biodiversidade é de grande importância na recuperação de sistemasdegradados. A 
quantidade de informação genética existente após a ocorrência do estressecondicionará ou não a 
manutenção da estrutura e funcionamento do sistema de maneira igual ousemelhante à pré-
degradação. Essa manutenção é atingida pela fixação da energia solar paraproduzir energia livre, 
permitindo a produção de biomassa, atualizando ou mantendo os estoquesde informações, ou 
seja, material genético. Se o sistema se torna deturpado ou desordenado comoresultado de um 
estresse (natural ou antrópico), a entropia do sistema aumenta (existe maiordesordem). 
 
37 
 
 
De acordo com a figura a seguir, se a pressão daperturbação se mantém a um nível que 
ocorra a perda total da biodiversidade, o sistema caminhapara um ponto onde existe insuficiente 
informação que compense a perda de ordem e um colapsocatastrófico ocorre.Por outro lado, se a 
perturbação permite a existência de uma diversidade biológica mínima,ocorrerá o estabelecimento 
de um novonível de capacidade suporte. Com o fim do estresse, aresiliência do sistema permitirá 
o restabelecimento da capacidade suporte aos níveis iniciais ou próximos àqueles, o mesmo 
acontecendo com a entropia. 
 
Modelo de ação de um estresse sobre a capacidade suporte e entropia de um sistema ambiental 
 
O tempo necessário para que isto ocorraé uma questão diretamente relacionada às 
características do sistema e a frequência e intensidade de novos estresses. 
 
 
38 
 
A manutenção da biomassa vegetal passa a ter um papel primordial na manutenção 
dosistema, permitindo a fixação de carbono e, ao mesmo tempo, transformando-se num agente 
deciclagem de nutrientes, mantendo no sistema um determinado status de nutrientes que resulta 
naestabilidade ou sustentabilidade do sistema. Quando o nível de nutrientes ou de energia de 
umsistema sofre uma alteração violenta, a estabilidade do sistema é afetada, não retornando até 
queum novo equilíbrio seja atingido, naturalmente ou pela ação do homem. 
 
5.2. Abordagem segmentada 
 
O sistema é formado por vários componentes que seencontram em equilíbrio mediante 
trocas de gases, nutrientes, água, etc. A partir desta visão simplista, variáveis decada segmento 
ou componente são tomadas e referenciadas a padrões que permitamcaracterizá-los 
qualitativamente.Tomando-se uma florestacomo cenário, teríamos como componentes: a 
biomassa vegetal externa ao solo (quepode ser dividida em função de diferentes extratos), a 
biomassa vegetal interna no solo, osorganismos (macro, meso e microfauna) e a biomassa 
vegetal e de organismos mortos e emdecomposição que formam a matéria orgânica do solo. Cada 
um desses componentes poderia ser analisado a partir de padrões, como suas características em 
um ambiente não degradado, por exemplo. 
 
 
 
39 
 
 
Um ponto comum de uma área degradada ou em processo de degradação é a perda de 
qualidadede solo. Os solos apresentam propriedades e características que permitem o 
estabelecimento defluxos e trocas com os demais componentes do sistema. Logo, um processo 
de estresse ou deturpaçãosobre o sistema pode resultar em alterações qualitativas ao solo. 
A maioria dos ecossistemas terrestres tem o solo como um sistema vivo e dinâmico 
compostopor minerais, matéria orgânica, ar, água e organismos vivos. Processos de degradação 
conduzem,em maior ou menor escala, a perda de solo via processos erosivos, ou mesmo, como 
no caso deatividades de mineração a céu aberto, a retirada de horizontes superficiais, expondo 
materiaisformados por fragmentos de rochas, caracterizados como substratos remanescentes. 
Nestesentido, torna-se importante a correta definição de solo e de substrato no contexto de 
estudos derecuperação ambiental. 
Osolo pode ser descrito como um corpo tridimensional formado por materiaisoriundos de 
um processo de intemperismo sobre as rochas existentes na camada mais externa dacrosta 
terrestre. A ação do intemperismo permite que sejam formados horizontes distintos ao longodo 
perfil. O horizonte mais superficial apresenta maior concentração de matéria orgânica e 
denutrientes, fruto da decomposição de material orgânico que aporta ao solo e da dissolução 
deminerais existentes. Esta condição permite a existência de atividade biológica e, 
consequentemente, seja estabelecido um processo de ciclagem biogeoquímica que permite 
maiorsustentabilidade ao sistema. Da mesma forma, a presença de material orgânico possibilita 
que aspartículas mais finas possam formar agregados, resultando na existência de poros e de 
umaestrutura definida. Este ambiente permite que exista um equilíbrio entre as fases sólida, 
líquida egasosa, possibilitando o estabelecimento e crescimento de plantas. 
Com essa imagem definida do que é solo, torna-se mais fácil definir substrato nocontexto 
de recuperação ambiental. De maneira geral, a falta de um horizonte orgânico superficiale a 
ausência de atividade biológica já caracterizaria uma condição em que asustentabilidade do 
sistema já não é alcançada. A exposição de rochas ou fragmentos destas, afalta de estrutura o 
pequeno volume de poros podem ser consequências para a qualidade do horizonte orgânico e da 
atividade biológica. Diferentescaracterísticas físicas e químicas de substratos resultam em 
limitações ao estabelecimento ecrescimento de plantas. 
Existem situações em que a caracterização de um processo de degradaçãode solo é uma 
questão de difícil definição. Por exemplo, os solos utilizados para fins agrícolaspodem estar em 
processo de degradação sem consequências visuais claras e bem caracterizadas.A ciência do 
solo tem procurado solucionar essa dificuldade a partir da premissa que a degradaçãoestá 
associada a própria definição de qualidade do solo, ou seja, na medida em que umadeturpação 
promove alteração das características que determinam a sua qualidade, caracteriza-seum 
processo de degradação. Entretanto, ao associar degradação a um determinado statusde 
qualidade, surge também a dificuldade de se estabelecer quais características definem aqualidade 
 
40 
 
de um solo. Da mesma forma que o ar ou a água,a qualidade do solo tem um profundo efeito na 
saúde e na produtividade de ecossistemas. Poroutro lado, diferentemente do ar e da água que 
possuem padrões de qualidade, torna-se difícildefinir e quantificar a qualidade do solo.De acordo 
com o uso atribuído ao solo a definição de degradação pode variar, conformeveremos a seguir: 
 A degradação de terras agrícolas deve enfocar não só aspectos relativos ao meio físico 
solo, mas a aspectos econômicos também, uma vez que a perda de produtividade pode 
estarrelacionada com a degradação do solo. Assim, Power & Myers (1991) definem a 
qualidade de umsolo com a sua capacidade em manter o crescimento de plantas, o que 
inclui fatores comoagregação, conteúdo de matéria orgânica, profundidade, capacidade de 
retenção de água, taxa deinfiltração, capacidade tampão de pH, disponibilidade de 
nutrientes, etc. 
 Uma definição de qualidade do solo mais holística seria: “a capacidade de um solo 
funcionar comoecossistema limite para sustentar a produtividade biológica, manter a 
qualidade do meio ambientee promover a saúde de plantas e animais” (Doran & Parkin, 
1994). 
 Do ponto de vista da engenharia civil, o conceito de solo degradado deve estarrelacionado 
com a alteração da capacidade em se manter coeso e como meio físico de suportepara 
edificações, estradas, etc. Ou seja, a densidade do solo é um bom exemplo. Já em 
termosagronômicos, solos adensados ou compactados podem caracterizar um processo 
de degradação(redução em sua taxa de infiltração, limitação na circulação de oxigênio, 
impedimento físico paracrescimento de raízes, menor disponibilidade de nutrientes, etc.). 
Por outro lado, essacaracterística é desejável como meio de suporte para edificações. 
Os exemplos citados acima evidenciam o fato de que o conceito de degradação ou 
dequalidade de solo pode ser relativo, dependendo da finalidade do uso atribuído ao solo. 
Noentanto, quando definimos degradação como qualquer alteração dascondições naturais de 
equilíbrio, certamente o uso do solo para obras de engenharia, jáestaria promovendo essa 
alteração. 
Conceitualmente, o uso da qualidade do solo como indicador de degradação vemsendo 
utilizada também para avaliar a sustentabilidade de manejo de solo. O ponto limitante do processo 
é: quais atributos ou característicasdo solo devem ser avaliadas e monitoradas para definir a 
manutenção, o ganho ou a perda dequalidade?Doran & Parkin (1996) recomendam as seguintes 
determinações como um levantamento mínimo necessário: 
 Indicadores físicos: textura; profundidade do solo, do horizonte superficial e das 
raízes;densidadedo solo, taxa de infiltração e capacidade de retenção de água. 
 Indicadores químicos: carbono orgânico total, matéria orgânica do solo, N total; 
pH;condutividade elétrica e N, P e K disponíveis. 
 Indicadores biológicos: C e N contidos na biomassa microbiana; N 
potencialmentemineralizável (incubação anaeróbica) e taxa de respiração do solo. 
 
41 
 
Em termos de organismos do solo, Scullion (1992) procura traçar uma relação entre 
aspopulações de três organismos – oligoquetos, bactérias aeróbicas e fungos micorrízicos – e a 
degradação do solo por atividade de mineração e o efeito de armazenamento de solo superficial. 
O uso adequado desses indicadores depende de uma visão holística procurando integrá-
losde maneira harmônica ao ecossistema em estudo. A determinação dos valores de referência 
passa a ser o ponto principal do processo de avaliação da degradação. Sempre que possível não 
se deveusar padrões fixos para a comparação, e sim, fazê-la adotando valores obtidos a partir de 
umaárea próxima em que não tenha havido a intervenção antrópica. Obviamente essa situação 
torna-secada vez mais difícil na medida em que a pressão pelo uso do solo aumenta. 
 
Referências: 
 
DIAS, L.E. Recuperação de Áreas Degradadas. Viçosa: UFV, 1997. 
 
 
42 
 
6. Atributos químicos, físicos e biológicos mais usados na caracterização de solos e 
substratos degradados 
 
6.1. Fatores e processos de formação dos solos 
 
Os solos podem ser definidos como uma “coleção de corpos naturais, constituídos por 
partes sólidas, líquidas e gasosas, tridimensionais, dinâmicos, formados por materiais minerais e 
orgânicos que ocupam a maior parte do manto superficial das extensões continentais do planeta, 
contém matéria viva e podem ser vegetados na natureza onde ocorrem e, eventualmente, terem 
sido modificados por interferências antrópicas” (EMBRAPA, 2006, p.31).O processo de formação 
dos solos é chamado de pedogênese e, em geral, segue a seguinte sequência: 
 
 
 
Ao aflorar, a rocha que se consolidou em um ambiente 
bem diferente daquele da superfície da terra, passa a 
ser colonizada por espécies pioneiras (liquens e 
musgos) que, em função do seu desenvolvimento, 
liberam ácidos orgânicos e iniciam o processo de 
alteração dos minerais que compõem as rochas. 
 
 
 
Esse material inconsolidado já é capaz de reter água e 
servir de substrato para espécies vegetais, o que aumenta 
o processo de liberação de ácidos orgânicos e de 
alteração dos minerais resultando na formação de um 1º 
horizonte de solo com influência da presença de matéria 
orgânica (percebido pela coloração mais escura) que é 
denominado horizonte A. 
 
 
 
Posteriormente, abaixo do horizonte A desenvolve-se 
uma camada de material alterado denominado 
horizonte C, também chamado de saprolito ou rocha 
podre, por apresentar ainda muitas características da 
rocha originária. 
 
 
 
Finalmente, ocorre o desenvolvimento do horizonte B, 
através de uma alteração mais intensa do horizonte C, que 
forma-se entre os horizontes A e C. A presença do 
horizonte B significa maturidade, quanto mais evoluído o 
solo, mais espesso é seu horizonte B. 
Fonte: Cristiane Oliveira, 2012. Desenho: Breno Marent. 
 
43 
 
A formação do solo ocorre a partir da alteração/intemperismo do material de origem 
(rocha ou sedimento) causada pelos organismos e pelo clima, num determinado tempo e sob o 
controle do relevo (OLIVEIRA, 2010). Cada um desses fatores de formação foram melhor 
detalhados a seguir. 
 
a) Material de origem 
 
As rochas são uma associação de minerais que, embora coesa, nem sempre é 
homogênea. As rochas podem ser analisadas com base em três parâmetros principais: 
Composição química: cerca de 99% da litosfera é composta por Si+4, Al+3, Fe+2/+3, Ca+2, 
Mg+2, Na+, K+ e O-2, como o oxigênio é o único com carga negativa (ânion), serve de ponte de 
ligação entre os elementos com carga positiva (cátion) formando a estrutura dos minerais. Entre 
esses elementos, depois do Oxigênio, o Silício é o mais abundante, por isso as rochas podem ser 
classificadas com base no percentual com que o Si ocorre nas rochas. Rochas com elevado teor 
de Si são normalmente resistentes, pois o Si e o O formam ligações fortes, ao contrário de rochas 
com baixo teor de Si, pois formam ligações fracas e a pedogênese tende a ser facilitada. 
Estrutura: a presença de linhas de fraqueza nas rochas (ex.: fraturas e xistosidades) 
favorece a entrada da água e, consequentemente, o intemperismo químico gerado pela água 
sobre os minerais (ex.: hidrólise). 
Gênese: as rochas também podem ser agrupadas de acordo com o seu modo de 
formação na natureza. E sob este aspecto, podem ser divididas em três grandes grupos: 
 Ígneas: resultantes da consolidação direta do magma. Quando essa consolidação se dá 
na superfície ou próxima a essa, são chamadas de vulcânicas ou extrusivas, e quando a 
consolidação do magma ocorre em camadas mais profundas, são chamadas de 
plutônicas ou intrusivas. As rochas vulcânicas se resfriam mais rapidamente, por isso 
tendem a ser mais fraturadas (ex.: basalto) e menos resistentes do que as rochas 
plutônicas (ex.: granito).Um dos parâmetros fundamentais para a caracterização 
composicional de rochas ígneas é o teor de Si, como mencionado anteriormente. Segundo 
este parâmetro as rochas ígneas podem ser subdivididas em: 
 
Teor de Si Classe Exemplo 
>66% Ácidas Granito 
52-66% Intermediárias Andesitos 
45-52% Básicas Basalto 
<45% Ultrabásicas Gabro 
 
Em rochas básicas, os teores reduzidos de sílica implicam em um aumento no teor dos 
demais componentes químicos (Mg, Fe e Ca) que, por sua vez, apresentam 
 
44 
 
caracteristicamente cores escuras. Já em rochas ácidas e intermediárias predominam altos 
teores de Si, Al, Na e K e cores claras. 
 
 Sedimentares: formadas a partir da fragmentação, deposição e consolidação dos 
materiais. Como se trata de rochas que tem sua origem em um material que já foi 
fragmentado, tendem a ser menos resistentes do que as rochas ígneas. No entanto, se 
ricas em Si, por exemplo, mesmo sendo uma rocha sedimentar pode ser extremamente 
resistente (ex.: cimento) e até mais resistente do que uma rocha ígnea que seja pobre em 
Si. 
 Metamórficas: podemos entender o metamorfismo como o conjunto de processos pelos 
quais determinada rocha é transformada através de reações que se processam no estado 
sólido. Essas modificações implicam em mudanças na estrutura, textura, composição 
mineralógica ou mesmo composição química da rocha ou rearranjo dos componentes 
dessa. Em geral, os processos metamórficos ocorrem associados a eventos tectônicos e 
os principais parâmetros físicos envolvidos no metamorfismo são: a temperatura (o calor é 
promovido pelo sistema motor da tectônica) e pressão (varia com a profundidade). Os 
minerais, bem como qualquer rocha ígnea, sedimentar ou mesmo metamórfica pode sofrer 
transformações e gerar uma nova rocha metamórfica. Além disso, o metamorfismo da 
rocha pode ser apenas parcial. De forma geral, as rochas metamórficas são menos 
resistentes que suas respectivas ígneas, porém, são mais resistentes que as suas 
respectivas sedimentares, pois o metamorfismo torna os elementos que compõem as 
rochas sedimentares mais consolidados. 
 
 
Granito (rocha ígnea) 
 
Gnaisse (metaígnea) 
 
Ex.1: a restruturação do granito (ígnea) para formar o gnaisse (metamórfica) leva a uma 
perda de resistência, pois no gnaisse há uma organização bandada baseada na diferença de 
densidade (camadas de material rico em Si e Al, alternados com material rico em Fe e Mg) 
que gera linhas de fraqueza. 
 
 
45 
 
 
Calcário (rocha sedimentar)Mármore (rocha metasedimentar) 
 
Ex.2: a reestruturação do calcário (sedimentar) formando o mármore (metamórfica) torna o 
material mais consolidado e, consequentemente, mais resistente. 
 
A resistência das rochas metamórficas bandadas também depende da forma com que 
essas linhas de fraqueza são expostas na superfície. Quando essas camadas afloram com linhas 
de fraqueza verticais, a água penetra entre as camadas da rocha, mas percola num período de 
tempo muito curto, não havendo muito tempo para intemperizar as rochas; quando as camadas 
afloram obliquamente, além da água penetrar entre as camadas, ela terá mais tempo para 
percolar e, consequentemente, intemperizar a rocha; já quando essas camadas afloram 
horizontalmente, a água não consegue penetrar entre as camadas. 
 
 
Afloramento: vertical, oblíquo e horizontal. 
 
Em síntese: o material de origem funciona como um fator controlador em que a 
composição química e a estrutura do material, além de influenciar nas características dos solos 
(como na textura, estrutura, cor, fertilidade, etc.), determinam a resistência do material ao 
intemperismo e, portanto, na taxa de pedogênese. 
 
b) Clima 
 
Trata-se de um fator ativo bastante influente no desenvolvimento dos solos, pois adiciona 
energia (ex.: energia solar) e matéria ao ambiente (ex.: água). A temperatura e a umidade, entre 
outros fatores climáticos, influenciam diretamente na intensidade dos processos físicos e 
químicos, determinando a natureza e a intensidade dos processos de intemperismo. 
 
46 
 
 Temperatura: a temperatura influencia diretamente na velocidade das reações químicas e 
biológicas, de modo que: quanto mais elevada à temperatura, mais aceleradas são as reações e 
maior é também o metabolismo dos organismos e, portanto, a atuação desses seres também é 
intensificada. A variação da temperatura também contribui para processos de expansão e retração 
das rochas, favorecendo a fragmentação das mesmas. 
Precipitação: a presença da água altera significativamente os minerais em função do 
processo de hidrólise (quebra pela água – ver Erro! Fonte de referência não encontrada.). Além 
de atuar na destruição dos minerais, a água também é responsável pela lixiviação (carreamento) 
dos elementos mais solúveis liberados a partir dessa destruição. 
 
Grau de solubilidade dos principais componentes dos solos: 
Al e Fe Baixa solubilidade 
Si Média solubilidade 
Ca, Mg, K e Na Alta solubilidade 
 
c) Organismos vivos 
 
Os organismos vivos também funcionam como um fator ativo que adiciona matéria (MO e 
ácidos orgânicos) e energia ao sistema. 
A acidificação do solo se dá a partir da liberação de ácidos das reações metabólicas e da 
decomposição da MO. Esses ácidos favorecem o intemperismo dos minerais. Além da adição, 
determinados animais (formigas, minhocas, cupins, etc) são responsáveis pela homogeneização 
do solo, além de decomporem parte da MO auxiliando na formação do húmus. 
Quanto à cobertura vegetal, a própria penetração das raízes, bem como suas excreções 
orgânicas, também auxiliam no processo de intemperismo. Em contrapartida, vale destacar que a 
vegetação age como moderadora das influências climáticas e ameniza a atuação dos processos 
erosivos. 
 
d) Relevo 
 
O relevo é considerado um fator controlador no processo de formação do solo. Ele recebe 
essa denominação devido ao controle que estabelece entre a taxa de pedogênese em relação à 
taxa de erosão. De uma maneira geral, quando o terreno apresenta topografia plana, a taxa de 
pedogênese é maior, gerando solos mais evoluídos. Porém, quanto mais íngreme e declivoso o 
relevo, maior a taxa de erosão em relação à pedogênese, gerando nessas áreas solos mais rasos, 
ou mesmo a inexistência dele. Em síntese, qunado: 
 Relevo mais plano: Taxa de pedogênese > Taxa de erosão = Solos mais profundos 
 Relevo mais íngreme: Taxa de pedogênese < Taxa de erosão = Solos mais rasos 
 
 
47 
 
 
Influência do relevo na formação dos solos. Fonte: Cristiane Oliveira, 2012. Desenho: Breno 
Marent. 
e) Tempo 
 
Trata-se de um fator passivo, pois não adiciona e nem leva a perda de nada, mas é de 
fundamental importância, uma vez que permite a atuação dos outros fatores citados. Há dois tipos 
de tempo/idade: 
 Tempo absoluto: tempo de exposição da rocha origem. Ex.: o solo x tem 200 mil anos. 
 Tempo relativo: relacionado ao grau de evolução/maturidade dos solos. Ex.: o solo y é 
mais evoluído que o solo x, pois é mais profundo. Para estudos pedológicos a idade 
relativa é mais informativa que a idade absoluta. 
A superfície terrestre apresenta uma grande diversidade de solos em função das diferentes 
combinações de seus fatores e processos de formação. Os processos gerais de formação dos 
solos são aqueles pelos quais todos os solos passam, ainda que em diferentes intensidades: 
 
a) Adição: pode ser de matéria (ex.: sedimentos, cinzas vulcânicas, água, ácidos, etc.) ou 
energia (ex.: o sol é uma das principais fontes de energia). O homem também pode 
adicionar elementos ao solo (ex.: água, fertilizantes, resíduos industriais, calcário, etc.) e 
influenciar no comportamento do mesmo, mas neste caso trata-se de um processo 
antrópico e não natural. 
 
48 
 
 
b) Remoção/Perda: ocorre principalmente via lixiviação e erosão, em ambos o principal 
agente é a água, especialmente em áreas tropicais. Em ambientes sem interferência 
antrópica, apesar das plantas absorverem parte dos nutrientes dos solos, estes retornam 
para os solos quando há a decomposição da MO. Já em ambientes antropizados, os 
nutrientes absorvidos pelas plantas não retornam para o solo, pois o material vegetal é 
retirado do solo para o consumo. 
c) Transporte/Translocação: realocação de material dentro do perfil do solo. Pode ser 
ascendente (ex.: realizado pela água sob efeito da capilaridade - fenômeno físico 
resultante das interações entre as forças de adesão e coesão da molécula de água) ou 
descendente (ex.: água sob efeito da gravidade). Os elementos que podem ser 
transportados são a água, a matéria orgânica (MO), as argila e os materiais em solução, 
como sais. Ressalta-se que o transporte implica na movimentação de material de um 
horizonte para outro, mas não há perda, pois o material transportado permanece no perfil 
de solo, portanto, é diferente dos processos de lixiviação e erosão. 
d) Transformação: reações químicas que ocorrem com os materiais e elementos que 
compõem o solo. Pode ocorrer com os minerais, como a destruição dos minerais primários 
e posterior recombinação dos elementos que sobraram formando um mineral secundário, 
bem como a quebra por decomposição completa da matéria orgânica gerando húmus. 
 
Os processos específicos de formação dos solos são influenciados pelos fatores de 
formação e pela ação diferenciada de um ou mais processos gerais. Aqueles mais comuns no 
Brasil foram detalhados no quadro a seguir. 
 
Principais processos específicos de formação dos solos no Brasil 
Processo: Características: Solos decorrentes: 
Hidromorfismo 
Comum em solos submetidos ao excesso de água 
durante quase todo o ano. O excesso de água torna o 
ambiente redutor, transformando o Fe3+ em Fe2+, o que 
por sua vez torna o solo gleizado2. Já mo horizonte 
superficial, a elevada quantidade de água favorece a 
diminuição da decomposição da matéria orgânica e 
essa é acumulada, deixando esse horizonte com uma 
coloração escura. Solos submetidos ao hidromorfismo 
geralmente possuem horizonte hístico ou orgânico (H 
ou O) e não possuem horizonte B, pois o excesso de 
água impede a evolução do solo. Solos submetidos a 
este processo também podem apresentar 
mosqueados e plintitas,

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