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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO
Artigo produzido para a disciplina de Mídia e Políticas Públicas, pelas seguintes alunas do 5º semestre de Jornalismo: Bruna Vasconcellos, Carolina Barin, Gabriela Gelain e Letícia Fontoura. A disciplina foi ministrada pela Professora Adjunta da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Doutora Rosane Rosa. 
Resumo
Podemos considerar a análise da reportagem “Quando amor e medicina vencem o medo e preconceito”, da série “Amor em tempos de AIDS”, do Jornal O Dia, do Rio de Janeiro, de setembro de 2009, vencedora do Prêmio Especial, na categoria Reportagem Impressa, do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, de 2010, como o objetivo principal deste artigo. Nesse sentido, pretendemos perceber, através de uma metodologia específica, que elementos narrativos – tanto textuais quanto visuais – compõem a linguagem jornalística. Pudemos entender que os “seis movimentos”, utilizados na análise, aliados a conteúdos trabalhados em aula, permitiram-nos entender que o papel do Jornalismo perpassa pela compreensão aprofundada de um modelo de sociedade em que o emprego de políticas públicas é fundamental para uma reconstrução sociocultural. 
Palavras-chave: Reportagem da série “O amor nos tempos da AIDS” de 2010, casais sorodiscordantes, narrativa jornalística, políticas públicas. 
Introdução
A partir de uma proposta feita em uma aula da disciplina de Mídia e Políticas Públicas do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Santa Maria, elaboramos esse artigo. Com o intuito de analisar a narratologia jornalística, estudaremos e nos aprofundaremos na reportagem “Quando amor e medicina vencem o medo e preconceito”, parte da série chamada “Amor nos tempos da AIDS”, escrita pela repórter do Jornal O Dia, Pâmela de Oliveira, e premiada no Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos de 2010. Nosso estudo perpassará pela construção textual e visual da matéria jornalística, relacionando com a análise proposta por Motta (2007), além de imprimirmos, empiricamente, nossas percepções acerca da reportagem, com base em nosso repertório científico adquirido ao longo da disciplina.
Metodologia
Neste primeiro capítulo, apresentamos a construção metodológica do trabalho. Aqui serão apresentadas algumas características específicas da reportagem, que faz parte da série “O amor nos tempos da AIDS”, do Jornal O Dia, do Rio de Janeiro, de setembro de 2009, além das etapas de análise do corpus.
Seleção do Corpus
Para compreender como se dá a narrativa jornalística da reportagem analisada, julgamos fundamental a divulgação da matéria jornalística. Veja abaixo as quatro páginas componentes da reportagem “Quando amor e medicina vencem o medo e preconceito”, parte da série “O amor nos tempos da AIDS”, do Jornal O Dia, do Rio de Janeiro, de setembro de 2009, a qual ganhou o Prêmio Especial, na categoria Reportagem Impressa, do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, em 2010:
 
Passos da análise
Na análise da narrativa jornalística, é necessária uma história completa. Portanto, é fundamental realizar um primeiro movimento de remontagem da história, que consiste na identificação da cronologia dos fatos, a fim de reconstruir o acontecimento jornalístico, ou a intriga. “Essa remontagem da história permite a observação de um fundo de significações parciais da narrativa que modificam o objeto observado. À medida que se remonta a intriga reconstrói-se o objeto. O ato analítico em curso é uma interpretação reflexiva, uma experiência em si mesmo.” (MOTTA, 2007, p.05)
A partir da remontagem dos fatos, é necessário que se identifique qual ou quais são o(s) núcleo(s) da narrativa, o que é central no acontecimento, ou seja, “o núcleo em torno do qual gravita tudo o mais na narrativa” (MOTTA, 2007, p.05). Este é o segundo movimento da análise. O conflito irá desencadear fatos, e é esse desenlace e a expectativa em cima dele que mantém a cobertura midiática sobre determinado tema. Motta pontua que em quase todo o acontecimento jornalístico existem pelo menos dois lados em confroto, que apresentam interesses contraditórios que rompem algum equilibro ou estabilidade anterior. Esse rompimento é responsável pela tensão e pelo desencadear da narrativa jornalística. A identificação dos elementos responsáveis por essa tensão, “permitirá discernir e compreender a funcionalidade dos episódios do novo enredo, que podem reunir uma ou muitas notícias unitárias e não necessariamente guardam relação direta com a ordem das notícias que lhes deram origem” (MOTTA, 2007, p.05). 
A narrativa jornalística normalmente inicia com o clímax, portanto é comum que os jornais expliquem o que antecede o fato através de infográficos e depoimentos de autoridades que recuperem fragmentos anteriores, como uma espécie de flashback da narratica ficcional. Como diz Motta:
"São estratégias de linguagem, movimentos retrospectivos para recuperar a memória de eventos ou episódios anteriores ao presente da ação e têm uma funcionalidade orgânica na história. Por isso, merecem atenção especial do analista (...)  Observar especialmente como o retardamento (enquanto estratégia) cria tensão, gera expectativas e estabelece um tipo de comunicação singular." (2007, p.06). 
Um terceiro movimento de análise diz respeito ao reconhecimento das personagens e de sua dinâmica funcional. Essa identificação ocorre, porém, concomitantemente com a identificação dos episódios, já que as personagens são atores que realizam ações no decorrer da história. Motta escreve que no jornalismo, as personagens costumam ser trabalhadas como o eixo principal da história, extremamente individualizadas, logo,  designantes das personagens, tais como nomes, identificadores e co-referências devem ser particularmente observados.  “Porém, não se deve fazer análise social ou psicológica dos personagens, mas sim de sua representação no discurso jornalístico, já que não se trata de uma análise da realidade histórica em si mesma. Nosso objeto é a versão, não a história.” (MOTTA, 2007, p.07). A dificuldade consiste no fato de que a personagem jornalística não é meramente ficcional, mas guarda uma relação com a pessoa, o ser real da narração, gerando uma complexidade singular.
A narrativa jornalística é o quarto movimento. Enquanto a narrativa ficcional contém narradores com presença implícita ou explícita, o discurso objetivo do jornalismo, ao contrário, se define pelo distanciamento do narrador. Motta ressalta:
“Ele narra como se a verdade estivesse “lá fora”, nos objetos mesmos, independente da intervenção do narrador: dissimula sua fala como se ninguém estivesse por trás da narração. Assim, o jornalista opera constantemente um processo de subjetivação do real. A retórica jornalística trata de dissimular as estratégias narrativas.” (2007, p.08)
O jornalista é, portanto, um narrador discreto, que utiliza recursos de linguagem que pretendem camuflar sua mediação na notícia. Motta afirma que a narrativa jornalística é uma linguagem argumentativa e que não há um estilo jornalístico, mas sim uma retórica jornalística. “Estudar as narrativas jornalísticas é descobrir os dispositivos retóricos utilizados pelos repórteres e editores capazes de revelar o uso intencional de recursos lingüísticos e extralingüísticos na comunicação jornalística para produzir efeitos (o efeito de real ou os efeitos poéticos)” (MOTTA, 2007, p.09). Sendo assim, o jogo entre as intenções do jornalista e as interpretações do receptor é permanente. Segundo Motta:
“É polissêmica, intersubjetiva, híbrida, transita contraditoriamente nas fronteiras entre o objetivo e o subjetivo, denotação e conotação, descrição fática e narração metafórica,  realia e poética.  Transita entre premissas verossímeis  (eikós) ou menos verossímeis  (éndoxon),  logos e mythos.” (2007, p.09)
Motta apresenta duas estratégiasde objetivação: (a) construção dos efeitos de real e (b) construção de efeitos poéticos. 
A construção de efeitos de real consiste na provocação de que o receptor interprete os fatos narrados como verdade, como se eles falassem por si só. Motta considera:
“Esse efeito de real no jornalismo se obtém com diversos recursos de linguagem e com uma fixação do centro do relato no aqui e no agora, no momento presente. O jornalismo observa o mundo desde o atual, ancora seu relato no presente para relatar o passado e antecipar o futuro. [...] Essa precisão não retira dos relatos jornalísticos o caráter narrativo, mas os transforma em uma narrativa singular: um jogo de linguagem situado entre a narrativa da historia (realista) e a literária (imaginativa). É esse jogo entre correspondência e desvios textuais na comunicação jornalística que a análise da narrativa deve observar, esse é o seu objeto” (2007. p.09-10)
Para fazer esta análise, é necessário observar quais são os recursos de linguagem que sustentam essa representação fiel da verdade. 
A construção de efeitos poéticos parte da reconstrução das notícias ao conferir-lhe o estatuto de uma história com princípio, meio e fim e ao resgatar o seu fundo moral, se utilizando das interpretações subjetivas. Motta ainda ressalta:
“Recursos linguísticos e extra linguísticos remetem os receptores a estados de espírito catárticos: surpresa, espanto, perplexidade, medo, compaixão, riso, deboche, ironia, etc. Eles promovem a identificação do leitor com o narrado, humanizam os fatos brutos e promovem a sua compreensão como dramas e tragédias humanas.” (2007, p.10)
A relação comunicativa e o “contrato cognitivo” são o quinto movimento de análise. Na análise da narrativa ficcional, se estuda o “ponto de vista”, fazendo a diferenciação entre “quem vê” (olhar, modo narrativo) e “quem fala” (voz, focalização). Na narrativa jornalística, “a atenção desvia-se da relação narrador-texto para a relação comunicativa narrador-narratário, para o jogo entre as intencionalidades do narrador e as interpretações e reconhecimentos da audiência. A perspectiva é outra, a atenção desloca-se do texto como unidade estática para a relação comunicativa intersubjetiva.” (MOTTA, 2007, P.12). O enqudramento, a abordagem, a escolha dos enfoques interferem na narrativa jornalística. A análise da narrativa deve observar também o chamado “contrato cognitivo” implícito entre os jornalistas (narradores) e audiência (narratário). Esse contrato seguirá as regras da objetividade, da co-construção da “verdade dos fatos”: o objetivo é co-construir a verdade, a “realidade objetiva”. “O desejo de objetividade do jornalista e sua estratégia textual de “relatar a verdade” são compactuados e validados pela comunidade de leitores, ouvintes e telespectadores da mídia jornalística que acreditam estar lendo, vendo ou ouvindo a verdade dos fatos” (MOTTA, 2007, p.13).
	Porém, por mais que exista essa pretensão de ser isenta e imparcial, a narrativa jornalística é fortemente determinada por um fundo ético ou moral. A identificação desses elementos de fundo moral ou a fábula da história, se trata do sexto movimento de análise. Motta coloca que fatos da realidade só são notícia quando transgridem preceitos éticos ou morais em relação à algum significado estável. Esses valores, de significado simbólico, nem sempre estão claros para o jornalista e para o receptor. Como diz Motta:
“Mas, esse significado simbólico está presente de forma mais ou menos intensa nos dramas e tragédias continuamente relatados pelo jornalismo. Aqui e ali, em momentos fugazes, com o auxílio da memória e dos cânones culturais, os receptores recompõem as narrativas e são dominados por estados de ânimo de maior ou menor comoção frente aos dramas e tragédias diárias reportadas pelas notícias” (2007. p.14).
	Motta destaca, então, que o jornalismo está afirmando que os valores incutidos nas narrativas jornalísticas, mesmo que implicitamente, estão contanto e recontando os mitos mais profundos que habitam metanarrativas culturais mais ou menos integrais do noticiário. “A corrupção tem de ser punida, a propriedade precisa ser respeitada, o trabalho enobrece, a família é um valor supremo, a nação é soberana, e assim por diante. São essas, na verdade, as grandes metanarrativas culturais que o jornalismo nos conta e reconta diariamente” (MOTTA, 2007, p.15).
Análise
Primeiro, Segundo e Terceiro Movimentos
Segundo o primeiro movimento, descrito por Motta (2007), sobre a recomposição da intriga ou do acontecimento jornalístico, a reportagem é dividida em quatro títulos, sendo um por página. Segundo a cronologia escolhida pelo autor, em primeiro lugar está o título “Quando amor e medicina vencem o medo e o preconceito”; em segundo, “Será que este amor pode dar frutos?”; em terceiro, “Nova Estratégia para diminuir contágio” e, por último, “ Preconceito dói mais que ação do HIV no corpo!”. Como Motta explica, neste primeiro momento, a remontagem da história permite a observação de um fundo de significações parciais da narrativa, as quais modificam o objeto – neste caso, a  AIDS – observado. 
O primeiro título dá uma perspectiva geral sobre o tema, focando no amor e na medicina, os quais lutam juntos para vencer o medo e o preconceito com o vírus HIV. Em segundo lugar, paira a dúvida sobre se esse amor, que luta para sobreviver mesmo com a AIDS, é capaz de gerar um filho. E, por último, encontram-se os títulos que são informativos sobre as novas estratégias de diminuir o contágio e a triste realidade do preconceito ser ainda mais devastador do que a própria ação da doença no corpo do soropositivo. 
O terceiro título, "Estratégia para diminuir contágio", aborda, mais claramente, a importância fundamental de políticas públicas para a prevenção da doença, assim como para a ressociabilização do soropositivo. Uma das medidas que já vêm sendo implantadas é a disponibilização do coquetel – mistura de medicamentos fortíssimos que amenizam os sintomas da AIDS – para os parceiros de quem tem a doença, como forma de prevenção, já que são os sorodiscordantes, “como são chamados os pares em que uma pessoa tem HIV e outra não” – segundo a reportagem – quem têm maiores riscos de contágio da enfermidade. Alguns dados relatados neste terceiro tópico são que a maioria dos casais que contraíram o vírus HIV nunca usaram camisinha, e um índice grande de mulheres, 70% delas, acabaram contraindo o vírus de um parceiro estável, sendo que 22% não sabiam de onde contraíram o vírus: de namorados ou do marido. À medida que se remonta a intriga, reconstrói-se o objeto na reportagem, e o ato de analisar em curso é uma interpretação reflexiva.
O segundo movimento, descrito por Motta (2007), é a identificação dos conflitos  da funcionalidade dos episódios, em que o conflito é o núcleo em torno do qual gravita tudo o mais na narrativa. Nesta reportagem, o núcleo é a doença HIV e sua problemática, tanto medicinal quanto social. A expectativa em torno do desenlace de histórias tristes e surpreendentes – como o homem que injetava o sêmen em sua esposa para tentar engravidá-la, pois o desejo de serem pais transcendia o medo de que a mãe e o bebê contraíssem a doença, assim como se deve considerar o fato da falta de condições financeiras para bancar o procedimento laboratorial de retirada do vírus do sêmen, na segunda página do título "Será que esse amor pode dar Frutos?" – mantém o interesse do leitor pela reportagem do início ao fim. A sensibilização das personagens permite que o receptor crie uma afeição por elas e que se imagine no lugar delas, passando pelos mesmos dramas e preconceitos. Dessa maneira, a reportagem cumpre um papel pedagógico, cabível, de fato, ao Jornalismo, de disseminação da informação e o incentivo à reflexão social. É em torno do ciclo equilíbrio-desequilíbrio que gira a narrativa jornalística. Identificando os conflitos da reportagem, podemos discernir e compreender a funcionalidade dos episódios do novo enredo.
Existem dois lados, pelo menos, em confrontoem quase todo o acontecimento jornalístico, alguns contraditórios, algo que se rompe a partir de algum equilíbrio ou estabilidade anterior e que gera tensão: na reportagem escolhida,  existem os casais em que um tem o vírus e o outro não. Isso acaba desequilibrando a relação para alguns, no momento em que resolvem ter filhos ou acabam casando e não contam para a família, além do momento de contar para o parceiro que se tem a doença e a expectativa do apoio ou da condenação desse parceiro. Há um confronto da doença com a sociedade, até para a medicina, quando os médicos dizem para as mulheres esquecerem a gravidez tão desejada quando um dos parceiros possui a doença: muitas vezes o casal acaba se arriscando e arriscando trazer a criança ao mundo sendo portadora já do vírus: “nas reuniões do grupo [de apoio], casais sorodiscordantes relatam o preconceito de que são vítimas por parte de alguns médicos”, segundo o texto. Na reportagem, há o exemplo de um casal que se arriscou e, felizmente, conseguiu engravidar sem que a mulher ou a criança contraíssem o HIV do marido/pai. Identificando estes conflitos, podemos compreender a funcionalidade que podem reunir uma ou muitas notícias unitárias e não necessariamente guardam relação direta com a ordem das notícias que lhes deram origem. 
O início da reportagem, quem tem como título “Quando amor e medicina vencem o medo e preconceito”, começa com o clímax da história entre Tereza e Antônio, que se conheciam havia 18 anos e estavam juntos havia 06, quando tiveram suas histórias "interrompidas" (o verbo aqui é de forte ação) por causa do HIV. Outro caso chocante, já no mesmo primeiro parágrafo, é o de Cristina, que foi “abandonada” pela família na emergência de um hospital público após o diagnóstico da doença e que teve que enfrentar a desconfiança de seu marido. Nota-se aqui o verbo "abandonar" que causa bastante impacto no leitor logo na introdução do texto. O conflito aqui se dá na família que abandona, o marido – soronegativo – que desconfia da origem da doença, mas que, no final, acaba dando suporte para a mulher. A ciência, na primeira parte do texto, é colocada como sendo um dos suportes fundamentais, "junto com o amor" (sentimentalismo e emotividade na reportagem), para permitir aos casais o direito de fazer planos para o futuro. O segundo parágrafo começa com o relato de um marido preocupado como a dúvida de se teria sido ele quem contaminou a mulher – e acaba descobrindo que é soronegativo e o contágio da mulher acaba sendo misterioso – e, por final, o exemplo de uma mulher que perdeu o marido havia 08 anos e acabou namorando novamente e refazendo sua vida com um parceiro que lhe deu apoio e insistiu no namoro. O preconceito e a falta de acesso são tomados como os principais agravantes do estado psicológico frágil do enfermo. No início da segunda página, para as famílias que desejam ter filhos, o obstáculo a ser vencido é a falta de acessibilidade a tratamentos com intervenção médica para se chegar à gravidez. Como primeiro exemplo, está esse casal que não tem recursos para fazer a chamada lavagem do sêmen, que é o procedimento em que o vírus é do esperma para, assim, ser inseminado – saudável – na mulher soronegativa. Outro exemplo dado é o de Pedro e Cláudia, que tiveram a experiência de ouvir de um médico que, se ela quisesse ter um filho com ele, era melhor desistir. Nota-se, aqui, o tom preconceituoso do médico em pensar que um soropositivo não teria motivos para ter um filho e, então, pode-se perceber a vontade profunda da mulher em ser mãe. Nesse sentido, podemos colocar como crítica o sexismo intrínseco à reportagem. Todo jornalista, assim como qualquer ser humano, faz parte do cosmos social machista, heterossexual, supremamente de pele branca, cristão e etc, porém é do papel do jornalista ir além do senso comum e mostrar o máximo de realidades possível. O chamado espírito materno pode ser entendido como construção social e não como algo biológico, segundo autoras como Simone de Beauvoir na obra Segundo Sexo (1949). Na reportagem de Pâmela de Oliveira, a condição da mulher soropositiva era mais enfatizada no sentido da frustração por correr riscos ao engravidar e no medo de ser abandonada ou não conseguir ser amada. O homem soronegativo seria o herói, pois cuidaria da esposa/namorada soropositiva como se fosse um protetor, como percebemos na fala de Cristina: “se não fosse ele, eu teria ficado largada no hospital. Ele passou as noites ao meu lado, sentado num banco. E insistiu para que eu me tratasse”. 
A diagramação da reportagem facilita a informação de dados – que são bastante valorizados e destacados com fontes maiores e coloridas – imagens e tabelas com depoimentos – é importante ressaltar que apenas depoimentos de mulheres são destacados em boxes amarelas e azuis – sendo que as três primeiras páginas são dispostas na horizontal e a última página na vertical. Os dados mostram apenas casais heterossexuais, não dando espaço para casais homoafetivos e para portadores de HIV que tenham sido abandonados e que estejam lutando contra a doença sem a presença de um parceiro, demonstrando conservadorismo e pouca abrangência de personagens. Também existem alguns quadros explicativos que valorizam suas fontes, que são especialistas na área da Medicina, Psicologia e Biotecnologia, como na segunda página em que há um quadro chamado "Viva Voz": “Beatriz ficou arrasada nos primeiros tempos quando descobriu que seu marido havia contraído o vírus, pensou que este fosse homossexual, começou a riscar no calendário os dias que ele vivia e com o passar do tempo viu que poderiam levar uma vida tranquila”, dia a reportagem. Essa personagem diz ainda que o sonho de ser mãe não acabou e que, se não puder ser mãe biológica, será mãe de coração. Apesar disso, não são relatados, na reportagem, casais que adotaram crianças por não quererem arriscar ter um filho que contraia a doença. 
Os fatos saltam sobre o leitor, como Motta (2007) explica, em seu segundo tópico, na análise narrativa jornalística é importante identificar e analisar a funcionalidade dos episódios de suspense que deixam significados suspensos, retardam a conclusão da história e aumentam a tensão e as expectativas do leitor ou ouvinte. 
O terceiro movimento é a construção de personagens jornalísticas (discursivas). Na reportagem escolhida, os personagens são pessoas chamadas pelo primeiro nome – provavelmente, fictício – e que não têm seus rostos revelados. São atores que realizam as funções na progressão das histórias, como as pessoas que sofrem preconceito por causa do HIV, dos casais que sonham com uma gravidez saudável, casais que não têm dinheiro para fazer a inseminação de maneira que não se arrisquem a contaminar o bebê ou o parceiro soronegativo. No jornalismo, as personagens costumam ser muito individualizadas e se transformam no eixo das histórias, por isso, devemos analisar os nomes, identificadores e correferências das personagens, que são figuras de papel, ainda que tenham correspondentes na realidade histórica. 
Na imagem da mulher chamada de Mara, na terceira página, mostra-se o rosto da "personagem", sendo a única imagem a revelar um rosto – ainda que, provavelmente, não seja seu rosto verdadeiro. Além disso, todas as imagens remetem à tranquilidade, serenidade e felicidade, como se todos os problemas dos soropositivos fossem resolvidos com o avanço da medicina e com a presença de um companheiro para dividir as angústias. É claro que progressos da medicina e um companheiro contribuem imensamente para o bem-estar de um soropositivo, mas a implementação de políticas públicas que objetivem diminuir – até que um dia extinga-se – o preconceito e a exclusão social que portadores dessa doença sofrem. Nas demais páginas, não é revelada nenhuma identidade de personagens relatados no decorrer da narrativa, apenas laboratórios e a foto de um casal de costas, que não sabemos se é um casal realmente sorodiscordante. Não há qualquer referência a casais homoafetivos no decorrer da matéria,apenas casais heterossexuais que, aparentemente, pertencem a uma classe próxima da C, que consegue suprir suas necessidades fisiológicas básicas, mas que não tem possibilidade de investir em inseminação artificial para engravidar, por questões financeiras. A repórter aborda dois fatos extremamente interessantes: uma fábrica de preservativos em Xapuri, no Acre, fundada em 2009 – ano de veiculação da matéria – era, até aquele momento, a única unidade pública do tipo em nosso país, o que demonstra certo avanço das políticas públicas e responsabilização estatal para com a população. Outro avanço das políticas públicas seria que, no ano seguinte (2010), o Hospital Pedro Ernesto, do Rio de Janeiro, oferecesse a lavagem de sêmen contaminado gratuitamente, via Sistema Único de Saúde (SUS).
Quarto, Quinto e Sexto Movimentos
No quarto momento descrito em sua análise e intitulado “Estratégias Narrativas”, Motta desmitifica a ideia do jornalista como um ser externo e alheio à comunicação que produz. Toda e qualquer narrativa jornalística apresenta traços que quebram a tão aclamada neutralidade do jornalista, mostrando que esse não realiza uma produção sem incutir nela valores, crenças e ideias com as quais teve contato durante sua vida até então e integram sua concepção de mundo. No entanto, é importante ressaltar que esses traços surgem de maneira tímida no texto, trazendo significações que, muitas vezes, estão localizadas nas entrelinhas, nas facetas obscurecidas das palavras. Na reportagem analisada, podem-se apontar algumas questões que caracterizam um modo de pensar, como a ideia do fortalecimento da família e da maternidade. Ainda que fosse um desejo das personagens que protagonizam a matéria, a forma como o autor conduz a narrativa corrobora a visão de mundo que coloca a família como centro da estabilidade e a disposição das mulheres para a maternidade. 
Na quinta parte da análise desenvolvida por Motta, “A relação comunicativa e o ‘contrato cognitivo’”, o autor explica como essa intencionalidade jornalística é percebida pelo público como imparcial. Forma-se um “contrato cognitivo” implícito entre jornalistas (narradores) e audiência (narratório), através do qual, leitores, ouvintes e expectadores acreditam estar lendo, ouvindo ou vendo a verdade pura dos fatos. Esse ponto da análise também explica como a narrativa jornalística ganha contornos éticos e morais no imaginário das pessoas, a partir da gama de percepções que integram sua visão de mundo. Entretanto, há elementos na narrativa que sinalizam para a intenção comunicativa do emissor e podem contribuir para gerar significados na cabeça do público. Motta diz em seu artigo: “Neste sentido, afirmamos que o jornalismo é uma linguagem argumentativa e não há um estilo jornalístico, mas sim uma retórica jornalística. Quem narra tem sempre algum propósito ao narrar: nenhuma narrativa é ingênua, muito menos a jornalística”.
Analisando a reportagem, observamos que as imagens de casais abraçados, olhando o horizonte, de mãos dadas ou contemplando um bebê em uma obra de arte transmitem certa afetividade e idealização, além das figuras que remetem a cientistas em trabalho de pesquisa e reforçam a crença inabalável na ciência e em seus avanços. Além disso, a reportagem, apesar de progressista em alguns aspectos, não apresenta a realidade de um casal homoafetivo e isso se apresenta como uma grande parcialidade por parte do jornalista, uma vez que, historicamente, o vírus HIV é associado aos homoafetivos. Não tocar nessa questão pode significar o reforço do preconceito e da rejeição a essas pessoas. 
Outro ponto que deve ser destacado é o tratamento que é dado às figuras femininas. Ainda que muito implicitamente, a reportagem reforça o ideário que coloca a mulher como ser dependente dos cuidados do homem. São relatados casos em que as personagens sentem medo de contar aos seus companheiros que são soropositivas, talvez pelo fato de que ainda é bastante forte em nossa sociedade a condolência por mulheres ‘abandonadas’ pelos maridos, visto que estariam perdendo sua ‘proteção’. A partir de todos esses aspectos elencados, a reportagem claramente reafirma várias noções do senso comum. Vale ressaltar que todas essas ideias estão fundamentadas por um contexto histórico e cultural que as reforça e as tornam realidade.
É interessante observar, também, que as personagens da narrativa são identificadas com nomes genéricos, como Mônica, Paulo, Teresa, Antônio (que certamente não correspondem a seus verdadeiros), sem sobrenomes. A identificação feita dessa forma acusa a insegurança dos soropositivos, que imaginamos terem solicitado o anonimato, ao assumirem para um grande grupo. 
O sexto e último passo da análise de Motta denomina-se “Metanarrativa – significados de fundo moral ou fábula da história” e explica o que leva um jornalista a selecionar um fato e tranformá-lo em notícia. Para o estudioso, a transgressão de alguma regra formal ou pré-conceito é um fator relevante na escolha do fato, e tais características podem ser encontradas na reportagem que está sendo analisada neste artigo. Apesar de todos os avanços proporcionados pela ciência, que pode conceder uma melhor qualidade de vida aos portadores, casais formados por uma pessoa ‘saudável’ e uma pessoa que possui o vírus HIV ainda são raros, dada tamanha estigmatização e tabu que rodeia a doença. Na reportagem, são relatados casos de casais formados exatamente por uma pessoa portadora de HIV e outra que não porta o vírus. No entretítulo denominado “Projeto de Vida”, Antonio, de 68 anos, conta que, quando descobriu a contaminação de sua mulher, passou a se sentir responsável por ela. “Ela passou a ser meu projeto de vida e é muito bom ver que ela está bem e que conseguimos”, diz parte da fala relatada. 
“Em outras palavras, estamos afirmando que as fábulas contadas e recontadas pelas notícias diárias revelam os mitos mais profundos que habitam metanarrativas culturais mais ou menos integrais do noticiário: o crime não compensa, a corrupção tem de ser punida, a propriedade precisa ser respeitada, o trabalho enobrece, a família é um valor supremo, a nação é soberana, e assim por diante. São essas, na verdade, as grandes metanarrativas culturais que o jornalismo nos conta e reconta diariamente”. Nesse trecho de seu artigo, Motta trata um pouco das questões elencadas na análise do quarto ponto, como o reforço da família tradicional (homem, mulher, filho), a figura da mulher como dependente do homem e a ‘prédisposição” dessa à maternidade.
 Outra questão que se mostra envolta em preconceitos é a decisão de se ter um filho quando o pai ou a mãe são portadores de HIV. No entretítulo “Camisinha e seringa”, Mônica (contaminada) e Paulo (não contaminado) contam como se dá o longo e imprevisível processo de tentativas de gravidez. O casal tenta engravidar usando um método que chamam de “autoinseminação”, no qual Paulo ejacula na camisinha e injeta o sêmen em Mônica com uma seringa. “A gente está torcendo para que dê certo, já que a inseminação mesmo é cara para nós”. Eles recorreram a tal método por não possuírem condições financeiras para obterem auxílio médico.
Essa tentativa ‘caseira’ e certamente bastante exposta a riscos sinaliza também para a falta de políticas públicas de saúde para os soropositivos, de modo que esses possam gerar filhos saudáveis, se assim for sua vontade. O que ocorre hoje, entretanto, são condições desiguais de acesso à saúde, com a população precarizada recebendo serviços públicos sucateados, enquanto quem possui grande poder aquisitivo pode pagar por esses serviços essenciais, que hoje já se tornaram mercadoria. Diante desse cenário, fazem-se ainda mais importantes a promoção de políticas públicas na área da saúde, que possibilitem não somente tratamentos que influam no desenvolvimento direto da doença, mas acompanhamento psicológico aos soropositivos, que têm, além da doença, outro fardo em suas vidas: o preconceito.
Conclusão
Dentre todas as conclusões que já expusemos aolongo do resumo, introdução, metodologia e análise, podemos destacar a importância da implementação de políticas públicas que se disponham a intervir na realidade social da população do nosso país. Além disso, cabe à mídia um papel fundamental: informativo. A narrativa jornalística não é ingênua, como Motta (2007) diz, para tanto, cabe ao jornalista a difusão informacional, assim como a promoção da reflexão para além do senso comum. Essa reportagem, parte da série, expõe, de maneira extremamente otimista, a problemática do vírus HIV no Brasil, deixando a desejar no que se refere à maior abrangência de suas personagens – como casais homoafetivos e solteiros – e em uma maior discussão sobre o papel (e a falta de) políticas públicas no Brasil. 
Bibliografia
MOTTA, Luiz G. A análise pragmática da narrativa jornalística. Intercom, 2007.
CANELA, Guilherme (org.). Políticas públicas sociais e os desafios para o jornalismo. São Paulo: Cortez, 2008.
DEMO, Pedro. Política social, educação e cidadania. São Paulo: Papirus, 2007.
ROSA, Rosane. Tensões narrativas na cobertura de políticas públicas. Revista Cambiassu, 2009.
BEAUVOIR, Simone. Segundo Sexo. Vol. 1.
Hiperlink que contém a reportagem analisada: http://www.premiovladimirherzog.org.br/arquivo/amor%20nos%20tempos%20da%20aids_2010_11_22_15_7_54.pdf

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