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PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO UERJ/CEDERJ Coordenação Ana Lucia Gomes P ág in a1 Aula 7/Texto 1: Metacognição Ana Lucia Gomes Metacognição A metacognição consiste em um fenômeno cognitivo de grande complexidade, estudado inicialmente, por John Flavell (1928), e que diz respeito à capacidade que o indivíduo possui de poder pensar de forma consciente sobre o seu próprio pensamento, considerando as coisas que aprende (Flavell, Miller e Miller, 1999). Em outras palavras, a metacognição se refere à reflexão intencional realizada pelo indivíduo sobre o seu próprio conhecimento, onde considera aquilo que julga saber e como se relaciona com este conhecimento. Esta relação ocorre a partir do gerenciamento de sua cognição, culminando na tomada de consciência a respeito da situação, permitindo ao indivíduo falar sobre aquilo que supostamente sabe/conhece, levando-o a agir utilizando as técnicas e procedimentos que domina (Pozo e Crespo, 1998). Através da figura 1, podemos observar a dinâmica existente na experiência metacognitiva do indivíduo, em que se encontram relacionados diferentes saberes: saber-fazer e saber-conhecer. Figura 1: Relações entre os elementos constituintes da experiência metacognitiva O estudo da metacognição é recente, datado na década de 70 e consiste em um objeto de investigação de diferentes áreas, como a psicologia, educação e a psicolinguística (Peixoto, Brandão e Santos, 2007). O termo meta refere-se ao conhecimento, consciência e controle de uma determinada atividade cognitiva. Sendo um fenômeno complexo, a metacognição é atravessada por vários conceitos que produzem impactos no processo de aprendizagem, levando o indivíduo a refletir e buscar o melhor caminho para aprender ou expressar a sua aprendizagem. Assim sendo, esses conceitos, denominados por metatenção, metalinguagem ou metacompreensão, dentre outros, se expressam e sofrem a ação própria da cognição, possibilitando ao indivíduo ter Experiência metacognitiva Saber Fazer Técnicas Procedimentos Saber Conhecer Compreensão Generalização PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO UERJ/CEDERJ Coordenação Ana Lucia Gomes P ág in a2 consciência sobre o conhecimento que possui e o processo cognitivo que precisa desenvolver para produzir o resultado esperado (Bencke, 2016). De acordo com Andretta, Silva, Susin e Freire, “A metacognição permite que se tenha um controle da ação no nível-objeto cognitivo, afetivo ou motor, possibilitando uma manipulação de elementos da cognição para alcançar o propósito de controlá-la. Nesse sentido o conhecimento metacognitivo permite decidir sobre eventos, tais como prosseguir ou não no ritmo atual de estudo, intensificar esforços, reduzir o empenho ou abandonar a tarefa” (2010, p.09). Neste sentido, as atividades metacognitivas são importantes, pois permitem ao indivíduo tomar consciência da sua aprendizagem. Através da metacompreensão, por exemplo, o indivíduo pode entender que aquilo que está sendo lido, não está fazendo sentido, sendo necessário o retorno ao início do texto ou a elucidação de um termo específico, para que a compreensão do assunto possa ser obtida. O mesmo ocorre com a metalinguagem, se o indivíduo perceber que em uma dada situação interativa ele não está sendo entendido pelo outro, ele pode retomar o seu discurso e criar alternativas, usando sinônimos ou exemplificações, que possibilitem ao interlocutor compreender o seu ponto de vista. Por fim, temos a metatenção que se refere ao controle da atenção pelo indivíduo, através do monitoramento e regulação dos mecanismos de atenção, que incidem na percepção dos fatores que podem interferir na qualidade da atenção necessária ao pleno aproveitamento da atividade. Outros conceitos surgem atrelados ao fenômeno da metacognição, tais como: fenômeno ponta-da-língua e sensação de saber (Matlin, 2004). O fenômeno ponta-da-língua diz respeito à sensação vivenciada pelo indivíduo quando lhe fazem uma pergunta e ele tem consciência de que sabe a resposta, mas não é capaz de responder, por momentaneamente, não se lembrar. No senso comum, este fenômeno é entendido como a sensação de “ter a resposta na ponta-da-língua”. A sensação de saber, por sua vez, diz respeito à concepção que o indivíduo possui sobre suas habilidades e competências, que o levam a desenvolver um julgamento pessoal, sobre a real capacidade que possui para realizar uma atividade. Através da sensação de saber, o indivíduo julga se é e quão capaz é para realizar determinada ação com desenvoltura e sucesso (Matlin, 2004). Teoria do Processamento da Informação O processamento da informação consiste em uma das possibilidades de tratamento teórico da metacognição. Essa perspectiva tem como objetivo estudar a compreensão textual à luz do fenômeno da metacognição, considerando que a mente consiste em um sistema cognitivo que viabiliza a interação com o meio, auxiliando o indivíduo na sua adaptação, por meio das atividades mentais de monitoração, autorregulação e potencialização do próprio sistema (Andretta, Silva, Susin e Freire, 2010). PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO UERJ/CEDERJ Coordenação Ana Lucia Gomes P ág in a3 A teoria do processamento da informação trabalha, portanto, com as estratégias metacognitivas que possibilitam ao indivíduo, no decorrer de suas atividades usar diferentes recursos para adquirir, organizar e empregar o conhecimento que possui visando a regulação do seu processamento cognitivo (Ribeiro, 2003), conforme pode ser visto com a figura 2. Assim sendo, o indivíduo torna-se capaz de demonstrar que compreende a finalidade da tarefa proposta, planejando como será a sua realização e elaborando, caso seja necessário, as alterações que sejam pertinentes para o êxito da atividade. Figura 2: estratégias metacognitivas empregadas na resolução de uma atividade A compreensão textual consiste em uma atividade de natureza cognitiva, por envolver aspectos como: percepção, memória, inferência e dedução. Neste processo, também verificamos a importância dos conhecimentos de natureza lexical (referente ao aspecto gráfico da palavra) e semântico (referente ao significado da palavra). Juntos, esses aspectos estruturam-se de forma dinâmica, a fim de atribuir sentido às atividades textuais desenvolvidas pelo indivíduo. Segundo Neves, Os psicólogos voltados ao estudo do processamento da informação delineiam o processamento do texto na memória do seguinte modo: no primeiro momento, ocorre a percepção da apresentação gráfica, seu arranjo em maiúsculas e minúsculas e as formas cursivas. A seguir, ocorre a tradução das letras em sons, o encadeamento desses sons em uma palavra. Em seguida, o leitor calcula o significado da palavra, repetindo o processo palavra por palavra, até o final do texto. Para tanto, é necessário que o leitor domine os processos léxicos que são usados para identificar as letras e as palavras e para ativar a informação relevante na memória sobre essas palavras (2006, p. 41). Neste sentido, a metacognição, através da teoria do processamento da informação, permite ao indivíduo pensar sobre o texto através da construção de modelos mentais, que organizam as informações buscando correlacionar de forma significativa, os Controle metacognitivo 1 Planejar 2 Selecionar estratégias 3 Avaliar aprendizagem 4 Monitorar o conhecimento PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO UERJ/CEDERJ Coordenação Ana Lucia Gomes P ág in a4 aspectos explícitos e implícitos ao texto, viabilizando a compreensão textual pelo indivíduo. Neste processo, os modelos mentais observados comfrequência, são: esquemas (conjuntos específicos de informações), planejamento (conjuntos de conhecimentos que definem o desenvolvimento de estratégias), roteiros (conjuntos de conhecimentos que produzem ações predeterminadas para contextos específicos) e superestruturas (conjuntos de conhecimentos articulados sobre os diferentes textos existentes, que se formam a partir do contato do indivíduo com a prática da leitura). Cada um desses modelos possuem suas especificidades e funcionam de forma concomitante e integrada, não havendo distinção quanto ao momento em que um ou outro modelo ocorre (Neves, 2006). Considerações finais Desde meados do século XX, as teorias psicológicas buscam explicar como a mente humana funciona e a metacognição, busca contribuir para esta elucidação, destacando a dinâmica observada no ato de pensar e compreender a informação obtida pela experiência do indivíduo. A grande contribuição da metacognição para a compreensão do funcionamento da mente humana consiste na atenção atribuída à cognição, ou seja, aos elementos tais como: memória, atenção, percepção, associada ao objeto do conhecimento (informação) e a experiência que o indivíduo possui, possibilitando a apropriação do saber, através da construção de uma forma de conhecimento funcional e estável, que pode ser expressa através de três tipos de conhecimento metacognitivo: declarativo, executivo e condicional. O conhecimento declarativo, como o termo indica, declara aquilo que o indivíduo tem consciência de saber e quais são as estratégias devem ser empregadas. O conhecimento executivo, por sua vez, refere-se ao conhecimento sobre como o indivíduo deve agir, ou seja, como deve executar sua ação, por fim, o conhecimento condicional, diz respeito, a como e quando uma determinada ação deve ser realizada. De acordo com pesquisadores (Costa, 1984; Garner e Alexander, 1989), o conhecimento metacognitivo desenvolve-se tardiamente, a partir dos 7 ou 11 anos, sendo influenciado pelo contexto sociocultural. Estudos sugerem que quanto mais variada for a experiência cultural da criança, permitindo-a circular por diferentes contextos de aprendizagens, melhor é o desenvolvimento de suas habilidades metacognitivas, levando-a a uma melhor autoapreciação e autocontrole da sua forma de pensar, levando-o a planejar e monitorar o seu desempenho escolar. Neste sentido, o educador preocupado em estimular a metacognição do seu aluno deve diversificar as tarefas propostas, tendo como objetivo propor uma investigação em que o aluno é levado a pensar, a fazer escolhas dentre várias alternativas oferecidas e, PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO UERJ/CEDERJ Coordenação Ana Lucia Gomes P ág in a5 sobretudo, a antecipar as futuras consequências que podem advir de suas ações, permitindo-o mudar as suas estratégias mediante a não obtenção de um resultado desejado. De acordo, com Ribeiro (2003), na perspectiva da metacognição “para aprender é preciso aprender como fazer para aprender, que não basta fazer e saber, mas é preciso saber como se faz para saber como se faz para fazer (Grangeat, 1999). A metacognição pode, então, ser vista como a capacidade chave de que depende a aprendizagem, certamente a mais importante: aprender a aprender, o que por vezes não tem sido contemplado pela escola” (2003, p. 115). Referências Bibliográficas: ANDREATTA, I.; SILVA, J. G.; SUSIN, N. 7 FREIRE, S. D. Metacognição e aprendizagem; como se relacionam? PSICO, Porto Alegre, PUCRS, 41, (1), 7-13, 2010. BENCK, D. B. Destrinchando o conceito de metacognição: definições, tipos e estudos. Disponível em: http://www.celsul.org.br/Encontros/07/dir/arq30.pdf Acesso em: 24 ago de 2016. COSTA, A. L. Mediating the metacognitive. Educational Leadership, 42 (3), 57-62, 1984. FLAVELL, J. H , MILLER, H. P. & MILLER, S. A. Desenvolvimento cognitivo (Trad. Claudia Dornelles). Porto Alegre. Artmed, 1999. GARNER, R. & ALEXANDER, P. A. Metacognition: answered and unanswered questions, Educational Psychologist, 24 (2), 145-158, 1977. MATLIN, M. W. Psicologia Cognitiva. RJ: LTC Livros Técnicos e Científicos. Editora S.A., 2004. POZO, J. I.; CRESPO, M. A.. A solução de problemas nas Ciências da Natureza. In POZO, Juan Ignácio(org.). A solução de problemas: aprender a resolver, resolver para aprender. (tradução Beatriz Affonso Neves) Porto Algre: Artmed, 1998. RIBEIRO, C. Metacognição: um apoio ao processo de aprendizagem. Psicologia: reflexão e crítica, 16 (1), 109-116, 2003.
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