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além da democracia

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Os Mitos da Democracia – Análise crítica
	O texto "Além da democracia" escrito por Frank Karsten e Karel Beckman é uma leitura de cunho liberalista, que traz um ponto de vista direto e objetivo sobre as máximas políticas das nações modernas. Entendimentos incontestáveis do senso comum moderno são explanados e, na tentativa de desmascará-los, os autores apresentam argumentos libertários com o intuito de fornecer esclarecimentos e racionalização dos temas a partir de um ponto de vista cético e sem disfarces.
	A seguir, realizaremos uma análise do capítulo I do livro, apresentando a idéia dos autores acerca dos mitos da democracia, contra-argumentando, de forma crítica, apresentando posições favoráveis ou contrárias ao teor descrito.
Todo voto conta:
	Os autores alegam ser o voto um mito. Primeiro porque, numa relação matemática, o poder de um único voto é praticamente zero. Segundo, porque não se vota em uma pessoa, mas num partido cujos princípios podem, em algum ponto, serem divergentes daquilo que individualmente desejamos. Alega-se ainda que, depois de eleitos, as promessas da campanha acabam por cair no esquecimento. Por fim apresenta-se a incapacidade do eleitor de reverter qualquer situação durante um mandato eletivo, a não ser aguardando a próxima eleição para mudar de partido e continuar com mesmos problemas.
	Discordamos dos autores. Na verdade, o prisma pelo qual se deve analisar o poder do voto não deve ser de uma relação matemática. Cada cidadão tem direito a um voto e cada voto tem o mesmo valor. Ou seja, todo voto tem valor exatamente igual. Essencialmente, o poder de um voto não pode se restringir ao comparecimento às urnas periodicamente. Um bom eleitor precisa estar concatenado com todas as situações que permeiam a sociedade e deve estar disposto a exercer seus direitos, não só o do voto, mas de fiscalização e acompanhamento das decisões políticas. Mecanismos como a Ação Popular podem ser utilizados para denunciar políticos desviantes. É no voto que o cidadão começa a exercer sua cidadania, mas sua cidadania não pode se limitar apenas ao voto.
As pessoas governam em uma democracia:
	Para os autores, o povo não é coeso, não existe um "povo", e sim milhões de pessoas com interesses diferentes dentro de uma sociedade e que estas pessoas não tem poder de tomar decisões políticas, pois numa democracia representativa, a forma indireta de exercício do poder é falsa. As pessoas não participam das escolhas dos seus representantes, e as decisões destes seriam conforme seus próprios interesses.
	Isto é verdade. Infelizmente, as pessoas são egoístas e interesseiras, portanto o argumento dos autores tem fundamento. Os eleitos acabam por tomar decisões que estejam de acordo com os interesses individuais próprios, assim como os interesses daqueles que acabam por financiar suas campanhas eleitorais. A solução está no voto consciente, no qual o eleitor tem que conhecer bem os candidatos, assim como quem os financia e seus partidos. Somente estando bem orientado e votando bem é que os eleitores serão capazes de superar este problema.
A maioria está certa:
	De Acordo com os autores, não é correto afirmar que uma determinada decisão é a melhor só porque a maioria concorda com ela. Ataca-se as tentativas estatais de diminuir as desigualdades sociais como se a tributação fosse um furto da riqueza particular.
	Neste tema os autores foram de uma enorme infelicidade. Aqui, o que deve ser ponderado é que, dentro de uma democracia, a função da maioria é legitimar um governo. As decisões deste governo nunca poderá atender a todos os anseios individuais, mas deverá desempenhar atividades objetivas que desencadeiem melhores condições de bem estar e dignidade. As pessoas são diferentes, algumas estão mais propensas a adquirir riquezas, e isto é ótimo. Porém, do outro lado estão pessoas que não conseguem sobresssair com a mesma facilidade, e isto não pode ser motivo para que estes fiquem à mercê de suas próprias dificuldades. É função do Estado agir para assistir aos necessitados, mesmo que seja de maneira "Robin Hoodiana".
A democracia é politicamente neutra:
	Os autores alegam que a democracia resguarda direitos coletivos, combatendo a liberdade. Não se pode ser completamente livre dentro de um Estado democrãtico de bem estar social porque o Estado é intervencionista, portanto a democracia não é politicamente neutra, e sim partidária do coletivismo social.
	Se no item anterior os autores foram infelizes, aqui foram desastrosos. O excesso de liberdade já foi experimentado nos Estados Liberais e a experiência quase dizimou uma clivagem inteira (Revolução Industrial na Inglaterra). Os Estados intervencoinistas surgiram exatamente para combater as mazelas causadas pelo excesso de liberdade. O que deve se pleitear é que o Estado não se torne intervencionista em excesso, pois isto poderia causar uma ditadura, mas liberdade demais para a sociedade somente quando alcançarmos maturidade social o suficiente para vivermos em harmonia.
A democracia leva a prosperidade:
	Neste tópico, os autores desconectam riqueza de democracia, indicando que os países ricos não são ricos por serem democráticos e nem os países democráticos são necessariamente ricos. Alega-se que os governos dos Estados democráticos gastam irresponsavelmente os recursos.
	Isto, infelizmente é verdade. Um dos grandes problemas em Estados democráticos é a péssima administração dos recursos públicos. Mas isto não é monopólio dos Estados democráticos, e sim um problema de governo. O combate à má administração e à corrupção é um dos grandes desafios contemporâneos, e não é o ressurgimento de Estados liberais que irá solucionar este problema. Portanto, isto não significa que a democracia deva ser banida. A solução aqui é criar mecanismos de coerção e criminalizar os governantes que administram mal os recursos.
A democracia é necessária para garantir uma distribuição justa de riqueza e ajudar os pobres:
	Os autores alegam que a democracia não distribue a riqueza de maneira justa, pelo contrário, são os mais ricos, portanto menos necessitados, os que conseguem melhor se aproveitarem das distribuições das riquezas. Grupos cujos interesses individuais são capazes de comover grande número de eleitores possuem privilégios e usufruem mais nesta partilha das riquezas. Este sistema que retira do setor produtivo para redistribuir acaba por criar parasitas.
	Os autores estão parcialmente certos. Por exemplo, universidades federais, cujo ensino de qualidade é custedo com dinheiro público, estão muito mais acessíveis aos que possuem mais recursos financeiros. Os menos favorecidos financeiramente acabam por não conseguir admissão porque estão menos preparados para enfrentar os exames de qualificação.
	Grupos ativistas que alavancam a popularidade dos políticos são mais beneficiados em um processo de permuta. Industriais, banqueiros ou agroprodutores de grande porte têm mais facilidade para conseguirem subsídios e benefícios fiscais.
	Entretanto, mais uma vez, abolir a democracia não é o caminho para solução deste problema. Esta mazela deve ser combatida, primeiro alavancando a qualidade do ensino público desde os primeiros anos escolares, e em segundo criando mecanismos que possibilitem aos menos favorecidos agir em plena igualdade com aqueles que conseguiram, através de seus recursos, adquirirem melhores condições. A luta aqui é para uma igualdade de condições e uma concorrência menos desleal.
A democracia é necessária para vivermos juntos e em harmonia:
	Os autores relatam aqui que a promoção de um conjunto de regras universais cujo intento é regular a vida em sociedade, deveria ser extinto para que cada indivíduo fizesse suas próprias escolhas.
	Discordamos totalmente, pois os membros da sociedade são egoístas e ganaciosos. E tal estapafúrdia resultaria numa "guerra de todos contra todos". Mesmo que o prisma analisado pelos autores seja um ponto sócio-econômico, esta desregulação abalaria as estruturasde uma civilização, não podendo ser acatada.
A democracia é indispensável para um sentimento de comunidade:
	Aqui os autores atacam o sentimento de comunidade criado pelas doutrinas democráticas. Alegam que a democracia é na verdade obrigatória, não permitindo aos cidadãos o poder de escolha, por isso a democracia é uma organização que impossibilita a liberdade, uma organização opressora.
	Entretanto, este tipo de liberdade não é possível em nenhum outro modelo de governança. Não existe viabilidade de entreleçamento social se cada indivíduo decidir por modelos estatais diferentes. Nem mesmo em um Estado liberal os indvíduos alcançariam tamanha liberdade. Portanto, discordamos dos autores.
Democracia é equivalente a liberdade e tolerância:
	Neste item os autores alegam que a democracia não é equivalente à liberdade, pois existem restrições a vários tipos de contrato, como por exemplo, os contratos de trabalho. Faz-se uma comparação indicando ser a democracia semelhante a regimes autoritários, com base nas proibições e limitações impostas por ambos os modelos de governança.
	Dicórdia absoluta. As intervenções estatais nestes tipos de contratos são conquistas históricas, fruto de "derramamento de sangue" de gerações que sofreram e muito nos modelos de Estado liberal. Considerar a democracia opressora porque o intuito desta é a proteção dos menos favorecidos é uma visão partidãria. Não há como existir liberdade absoluta dentro de uma sociedade cujos interesses são antagônicos. A função estatal é, então, promover condições de igualdade dentre aqueles que buscam alcançar seus objetivos.
 A democracia promove a paz e ajuda a combater a corrupção:
	Neste ponto os autores apresentam a ideia de que a democracia não promove paz e não ajuda a combater a corrupção.
	Infelizmente, neste ponto os autores tem razão. Um regime democrático, assim como todo e qualquer modelo de governança, não cria um vínculo mundial voltado para a paz. Os Estados continuam soberanos e seus governantes, sob pretextos nacionalistas ou de defesa mundial, acabam por criar conflitos com outras nações.
	Mas o grande problema dos Estados democráticos hodiernos estão realmente na corrupção. Porém, substituir um Estado democrático por qualquer outro tipo de modelo estatal não deverá ser a solução para este problema. Aqui se faz necessário criar mecanismos eficientes de fiscalização e penalidades efetivas para aqueles que praticarem corrupção pública. 
 Em uma democracia, as pessoas conseguem o que querem
	Os autores discordam desta afirmação a partir de uma abordagem acerca dos modelos educacionais burocráticos instituídos pelo Estado intervencionista democrático. Alegam que, se as escolhas das diretrizes educacionais fossem mais livres, ao invés de engessada e controlada pelos burocratas, o sistema educacional seria muito mais eficiente. Portanto, se houvesse mais liberdade e menos intervenção do Estado, os indivíduos conseguiriam o que querem com mais facilidade.
	Em relação a livre negociação, esta tem sim que ser intermediada pelo Estado. Algumas pessoas se sobressaem sobre as outras e, em um mercado regido pela oferta e pela procura, onde poucos são detentores de muito e muitos não possuem nada, isto seria um genocídio. Cabe ressaltar a felicidade dos autores ao explanarem sobre a educação, pois este é o pilar de desenvolvimento das sociedades, e infelizmente os governantes realmente deixam a desejar e muito quando se trata deste assunto.	
 Somos todos democratas:
	A alegação dos autores neste item é que somos todos democratas por imposição, e não por opção. Assim como todo texto, apoiam sua visão liberalistas e apresentam os Estados democráticos como antagonistas da prosperidade econômica devido ao seu intervencionismo.
	A democracia é um processo em construção, adotado exatamente porque os Estados liberais fracassaram em promover justiça social. As visões libertárias são visões capitalistas, voltadas para o sucesso financeiro, como se fosse apenas isto que importasse no seio de uma sociedade. O grande problema aqui é que as bases da civilização não podem ser analisadas apenas sob a ótica produtiva financeira. A humanidade merece mais que isto.
 Não há (melhor) alternativa:
	Aqui o argumento é de que a democracia atingiu um patamar incontestável, não existindo nenhum tipo de modelo de governança estatal mais qualificado, portanto insubstitível.
	Realmente o modelo democrático apresenta rupturas grotescas, devido ao egoísmo e ganacia dos homens. Mas substituir a democracia por qualquer outro modelo estatal alcançaria melhores condições de justiça social?
	O modelo democrático não é realmente perfeito e imaculado. Entretando, assim como os modelos feudais e absolutistas ruiram e cederam seus lugares para modelos gradualmente melhores, a democracia deverá também ruir, no dia em que a sociedade alcançar uma evolução humanística e social tamanha, capaz de viver em harmonia e paz, não precisando mais de líderes e burocratas.

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