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o BRdSIL 500 RNOS Geopolítica das rebeliões de 1831-1848 Revoluções C a b a n a g e m G o v e rn o c a b a n o — ■— ^ d e 1 8 4 2 P ra ie ira i * f ç ' 2 = 3^ S a b in a d a u b . ™ s í « a O L s p O R e p ú b lic a s (R S ) Q fa r ro u p i lh a s ; (S C ) ; O exército em 1831 Rec fITLfIS HISTÓRICO A / ‘> f r . J S S O Ë BRASIL 5 0 0 A N O S Atlm Histórico E d ito re s D om in go A lzuga ray C á tia A lzu g a ra y C o n c e p ç ã o , T e x to , Im a g e n s B e rn a rd o Jo ff ily C o n s u lto r P ro lesso r doutor István Jancsó, livre docente, pro fesso r d o D epartam ento de H istória da Facu ldade de Filosofia, Letras e C iências H um anas da U nivers idade de S ão Paulo R e v is ã o d o s M a p a s e C ro n o lo g ia Á u re a R eg in a K ana sh iro N a ir G a rc ia P etry P e s q u is a H is tó r ic a A n d ré a P au la dos S an to s . A n d ré a S lem ian , B run o B on te m p i Jún io r, C a ro lin a M aria Ruy, D ébo ra R eg in a P upo , J o ã o P au lo G a rrid o P im en ta , Jo sé C a rlo s V ila rda ga , Jo sé de O live ira Jún io r, M a n o e la Lopes Lou ren ço , M a riana R ange l Joffily , O liv ia R ange l Jo ffily , S te lla M a ris S ca te n a F ranco V ila rda ga I lu s tra ç õ e s d o P re fá c io Ja ym e Leão I lu s tra ç ã o d o A u to r J ô F e ve re iro P R O JE T O S E S P E C IA IS D ire to r d e R e d a ç ã o A rm a n d o G on ça lve s R e d a ç ã o A na C ris tin a C oco lo A r te M ô n ica B ias i, C ice ro C a s tilh o C u n h a e S and ro B eze rra d e C a m a rg o R e v is ã o A le n c a r G e n til d e C as tro , É lv io S eve rgn in i, Iz ild in h a R osa d e S ousa e P rev iz R od rigue s Lopes M a rk e tin g D ire to r: C a rlo s A lzu g a ra y G eren te ; Lu c ia na Z a ro n i B oave n tu ra S upe rv iso ra : P au la P es tan a T. d e B arros P u b lic id a d e São Paulo - D iretor. Â nge lo de Sá Jr. G erentes Executivos: Andréa M. Di Tomaso, João C láudio Abreu, M arcelo S ilve ira e Sandra Chaves. Executivo de Publicidade: G uenda Galeazzi A lves. Assistente C om ercial: Ivonete M. Fernandes. C oordenadora: AkJa M. Reis. Coordenadora J ú n io r Rosimeiri M aria Dias C irc u la ç ã o D ire to r; G re g ó rio F rança G eren te : N e ide A. S. L im a IS TO É B R A S IL , 500 A N O S é um a p u b li ca çã o d o G ru po de C o m u n ica çã o T rês S /A . R edação , A d m in is tra çã o e C o rre sp o n d ê n c ia : R ua W illia m S pee rs , n® 1 .088, C E P 0 5 067 -900 , F one: (011) 835- 84 33 , Fax: (011) 8 3 2 -1 6 0 6 , S ão P aulo , S P © C o p y rig h t 1998 pa ra a L ín gua P o rtu gue sa - G ru p o de C o m u n ica çã o T rês S /A - S ão P au lo - S P - B ras il. Composição, fotolitos, impressão e acabam en to: Empresa d e C om unicação Três Editorial Ltda., Rodovia Anhangüena, km 32,5 - C ajam ar CEP 07750-000 - SP - Brasil. Istof'. Bra.sil, 500 Anos é uma obra elaborada pelo jornalista Bernardo Joffily, depois de muitos anos de pesquisas e estudos. Bernardo Joffily é também tradutor de vários idiomas e ilustrador. Ele nasceu no Rio de Janeiro e tem 47 anos. Antigo apaixonado por mapas em geral e mapas históricos em particular, acalentava o projeto deste Atlas desde OS anos 70, quando lecionou História em cursos de pré-vestibtdar. I S T O E B R A S I L , Atlas Histórico A N O S No dia 22 de abril do ano 2000 estaremos comemorando quinhentos anos da cliegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil. E para festejar esse acontecimento, tão importante para todos nós, está sendo preparada uma série infindável de eventos oficiais, inclusive com a construção, em cçnjunto com os portugueses, de uma réplica da caravela de Pedro Álvares Cabral, que fará o mesmo percurso seguido por ele. A revista IstoÉ antecipa-se a esses eventos e sente-se honrada em poder oferecer aos seus leitores este Atlas Histórico, elaborado especialmente para comemorar essa data. IstoÉ Brasil, 500 Anos traz os fatos mais importantes acontecidos em nossa terra, desde o dia em que o navegante português desembarcou em Porto Seguro, em 1500; e vai ajudá-lo, leitor, a entender melhor os fatos que fizeram a história do nosso País. DOMINGO ALZUGARAY Semana de Arte Moderna. Ela reuniu artistas e intelectuais, dos mais importantes, de diversas origens e projetos. 'stoÉ Brasil^ 5 0 0 A nos traz compactamente, no espaço e no tempo, o máximo de elementos sobre a trajetória brasileira. Procuramos produzir uma obra de consulta, mas que também possa ser visitada por pura curiosidade ou prazer, além de torná-la acessível a um público diferenciado, de estudantes a estudiosos, ou simplesmente pessoas que desejam entender melhor o Brasil. Formatamos os fotos históricos em três dimensões, que se interligam e se apóiam entre si: imagens, textos e cronologia. As imagens ocupam 50% da obra e são a razão de ser desta obra. Procuramos situar os processos históricos em mapas nas mais diferentes escalas, gráficos, diagramas, organogramas, cronogramas, de forma visualmente compreensível e agradável, convidando o leitor o fazer sua própria investigação e o tirar suas próprias conclusões. Paro evitar uma excessiva poluição visual, representamos muitos dados apenas graficamente, mos o uso do computador permitiu apresentá-los com precisão de décimos de milímetro. Também com propósito antipoluente, partimos do princípio de que o leitor saberá identificar os Estados do Federação sem a necessidade de legendas. Os textos acompanham, explicam e complementam os imagens de cada capítulo. A compactação do maior volume possível de informações por página obrigou-nos o usar um texto sintético e algumas abreviaturas. As datas aparecem entre parênteses e o ano de nascimento e morte dos personagens, entre colchetes. Quando o mesmo tema consta em outro (s) capítulo (s), a referência aparece em azul, entre colchetes. A cronologia, que ocupa a coluna externa das páginas de texto, permite situar no tempo quase sete mil acontecimentos. Paro permitir uma visão mais abrangente, incluímos também datas marcantes do história mundial e fotos dos mais diferentes tipos, muitos deles não mencionados nos textos (grandes desastres naturais, sucessos musicais, o fabrico do último Revolução de 32. Getúlio Vargas acusa a Frente Ünica Paulista de ser separatista. Forte campanha de opinião, no entanto, a apóia em nome da liberdade, do direito e da lei. Pai dos pobres? Ditado Populista? Mártir? A f i^ r a de Vargas marca fundo o Brasil do século 20. fusca ou o nascimento do primeiro bebê de proveta). IstoÉ Brasil, 500 Anos abarca desde a chegada dos primeiros seres humanos às terras que formariam o Brasil - em época ainda incerta e discutida - até o afastamento de Fernando Collor em 29 de setembro de 1992. Deixamos de lado os episódios mais recentes, que não permitiram uma análise com o necessário distanciamento histórico. Eventualmente os registramos, seja nas imagens ou nos textos, quando ajudam a compreensão dos temas em exame. Ao contrário do maior parte da obra historiográfica em nosso País, adotamos um sistema tipo "bola de neve": em princípio, quanto mais recente é o tema em exame, mais detalhada o sua exposição. Assim, o longo período até o Grito do Ipiranga mereceu apenas 18 capítulos. Do Grifo ò Proclamação da República o "ritmo" médio cai para três anos por capítulo; da República a 1964, para 21 meses e de 64 a 92 para pouco mais de seis meses por capítulo. Procuramos abrir espaço também para temas esquecidos ou tongenciados por historiadores tradicionais, do cangaço à emigração de brasileiros e dos movimentos feministas ò questão ecológica. Várias imagens e textos dizem respeito o acontecimentos mundiais ou latino-americanos, ou suas relações com nosso País. São apenas menções, muito resumidas, das conexões de um processo que não é autárquico, fechado, mas um pedaço da História Universal. Por isso, IstoÉ Brasih 500 Anos se propõe o ser um compêndio da história brasileira, e não do Brasil no sentido estrito, abordando somente o que aconteceu dentro do território nacional. A parte final, batizada Panorâmica, liberta-se do padrão cronológico paro abordar alguns temas numa perspectiva mais ampla. Bernardo Joffily Conheça a História do Brasii! 10 <0<0 c2 '2 £ o o V •ga 3 ü o •D O •D c E <ü •D T3 S E (U O § s § CO o « ü .2g) 3 8 3 O•o B £ 0 O) c c•c0> E (0 o > o Ö) x> o a $ 0) TJ (A <» (0 o O 0)Û. (A A r > 1 W 1 (/) 1 O CL (03 < S. OJ■O J5o £Lt (( 1 -PRELIMINARES 1.1 POVOS AMERICANOS / ERA PRE-COLOMBIANA Cronologia ■ 0 povoamento do Novo Mundo parte da Ásia. há 50-80 milênios segundo a hipótese mais aceita. 0 perío do glacial rebaixa o nível do mar e une a Sibéria ao Alasca, pelo atual estreito de Bering. Sucessivas migrações terão cruzado essa ponte natural. Há ainda possíveis rotas marítimas: a das ilhas Aleútas (Pacífico Norte); e a da Polinésia (Pacífico Sul), (avorecida pelos ventos. 0 achado de indícios de presença humana (restos de fogueira) no sítio arqueológico de Pedra Furada, 8 . Raimundo Nonato, PI, se confirmado, deslo ca 0 povoamento para mais de 48 mil anos atrás. Ainda assim a América é o último continente pisado pelo homem, depois da África, berço da espécie humana, da Ásia, Europa e Oceania. ■ Contatos com outros continentes são fortuitos até o século 15. Os vikings noruegueses da Islândia chegam à Groenlândia (Erik, o Vemielho, 983 dC) e Canadá (s6u filho Leif Erikson, ano 1000), mas a colônia de Vinland não se consolida. ■ Os índios (nome genérico que Colombo usa por pen sar ter chegado à índia [1.2] ) fomiam de mil a 3 mil povos diferenciados: falam centenas de línguas e dialetos, agru pados em 133 famílias lingüísticas. Primitivamente vivem da caça e coleta, como, ainda hoje, as comunidades das extremidades geladas do Continente {Eskimó, no Norte, Fueguinos e Ona no Sul). Em longo aprendizado, domi nam a agricultura (milho, mandioca) e a cerâmica. No México e nos Andes, o plantio intensivo sobretudo do milho cria há mais de 2 mil anos a base para civilizações urbanas, cidades-estado e grandes impérios. ■ A cultura Mala de Yucatán tem seu auge em 300- 900 dC. 0 Império Asteca expande-se no planalto mexi cano de 1300 até sua destruição pelo espanhol Hemán Cortez. Na mesma época o Império Inca (ou do Tawantisuyo) conquista, desde o Equador, terras altas do Peru e Bolívia, até o norte do Chile e noroeste da Argentina; começa a descer à Amazônia (vale do Mamoré) quando é aniquilado pelo espanhol Francisco Pizarro [1.2]. Estes povos usam canais de irrigação, aquedutos, cultivo em terraços, adubam a terra com esterco de aves, trabalham o ouro, prata, cobre. Fomiam sociedades estratificadas: a aristocracia militar e sacer dotal domina os comerciantes e artesãos, servos e escravos. Possuem escrita hieroglífica (exceto os Inca). Erguem templos, palácios, pirâmides, grandes cidades com intenso artesanato e comércio (embora desconhe çam a roda e a cunhagem de moedas). 0 aparelho estatal, despótico, sofistica-se e evolui para a forma imperial. Os Maia têm um calendário mais exato que os europeus da Renascença. Os Inca, uma rede de es tradas desconhecida na Europa. 0 Império Asteca conta 25 milhões de habitantes em 1519 (toda a Europa. 50 milhões); sua capital, Tenochtitlán, 200 mil habitantes, é maior que Roma ou Constantinopla. ■ As terras do Brasil atual são povoadas há pelo menos 15 mil anos (ossos humanos em Lagoa Santa, cerâmica no baixo Amazonas). No litoral e nos rios, tribos de coletores acumulam os sambaquis (do tupi samba. marisco e W, monte), de até 30 m de altura. Entre 5 mil e 2 mil anos atrás, outros povos, do noroeste, entram pela Amazônia e forniam o mosaico étnico que chegará até o século 16. Há milênios eles combinam a caça e a coleta com a agricultura, baseada na mandioca e/ou milho. Usam a cerâmica, ferramentas e armas (arco, flecha, tacape, zarabatana) de pedra polida, madeira, ossos. A sociedade, tribal, desconhece as classes sociais, o Estado e o comércio (inclusive o escambo). Na divisão de trabalho por gênero, a mulher planta, cozinha, faz cerâmica; o homem den-uba a mata. caça, pesca, guer reia. A ascendência do cacique e do conselho de anciãos baseia-se no consentimento e não na coação. Cons tituem dezenas de grupos tribais, falando línguas dos troncos Tupi, Macro-Jê, Aruak, Karib, Pano, Tukano e outras. Em 1500 somam perlo de 5 milhões (Portugal. 1,5 milhão). ■ Os povos Tupi saem da Amazônia penjana para o vale do Mamoré há 5 milênios. Em 500 aC Iniciam outra longa migração, impulsionada pela agricultura seminôma- de. apoiada na canoagem, na índole guerreira, e incitada pela crença na luy Maran Ei (Terra Sem Males, situada a leste). Um ramo desce o Madeira e ocupa a Amazônia. Outro sobe o Jipataná, passa à bacia do Prata, chega ao litoral, sobe por ele e é o 1' a enfrentar a colonização. É dele que os portugueses extraem o estereótipo simplifica- (to do índio. 0 choque com os europeus [2.1. 2.2] obriga os Tupi a seguirem seu êxodo, agora para oeste (invertem inclusive a localização da luy Maran Ei), até recontatarem, no século 17, seus parentes da Amazônia. A área lingüís- tico-cultural Tupi, que excede o Brasil atual e vai do Cari be ao Prata, é, com a árabe, a mais extensa da época. Lavradores, os Tupi plantam sobretudo mandioca (que tratam para tirar o veneno e comem assada, cozida, como farinha ou polvilho), batata-doce, cará, feijão, amendoim, pimenta, tabaco, legumes. Pratkam a coivara (até hoje usada no Brasil), queimando a mata antes do plantio; quando a terra se esgota deslocam suas roças. Povos aquáticos, exímios pescadores, canoeiros e nadadores, buscam os rios e o mar; legarão ao povo brasileiro a cul tura do banho diário. Possuem caminhos terrestres; o mais extenso e famoso, o Peabim [2.6], de Cananéia (litoral de SP) ao norte do atual Paraguai. A aldeia Tupi tem 300 a 2 mil e até 3 mil haí». A guerra constante cria 0 hábito (hoje em desuso) de cercá-la com uma dupla pa liçada. Dentro, de 4 a 7 grandes habitações (ocas) com até 200 moradores, que escolhem um líder. Os Tupi plan tam e tecem algodão para fazer redes (e trançam cestos de cipó) mas andam nus. Cultuam os espíritos dos mor tos. 0 maracá, instromento musical feito de cabaça, ga nha poderes sobrenaturais ao ser consagrado pelo pajé (xamã). Guerreiros, pratk^m o canibalismo ritual, principal argumento português para justificar a escravização, a "guerra justa" e o genocídio [2.2]. ■ Os povos Jê chegam ao sertão nordestino há 4 mil anos, vindos talvez da costa desértica do Pacífico. Espalham-se pelo Planalto Central, até a Serra Gaúcha e a borda da Amazônia; são povos do Cerrado. Trazem o milho e 0 feijão como cultivos principais e pescam com o timbó, cipó tóxico que entorpece os peixes. Usam pouca cerâmica e não tecem; dormem em estrados de madeira (jiraus). A atóeia Jê tem até mil moradores: divide-se em metades simétricas, que se revezam na chefia, uma na seca. outra nas chuvas. Muitos povos Jê adomam as orelhas e o lábio inferior com um batoque (rodela de madeira). Cultuam os mortos, a Lua (grande espírito do bem) e, entre os Xavante e Bororo, o milho. Fazem da pintura corporal uma veste e uma escrita, que exprime desde o estado civil até o estado de espírito. Para os Tupi, os Jê são tapuia, nome ofensivo (significa “língua travada", “bárbaro”) que passa aos portugueses. ■ A cultura marajoara, ainda envolta em mistério, flo resce em 450 dC na ilha de Marajó, habitada desde 3000 aC e cultivada (milho) desde 100 aC. É a sociedade mais avançada do Brasil pré-colombiano. Produz cerâmica so fisticada (figuras geométricas coloridas), cachimbos, estatuetas, tebentás para os lábios, fusos. Ergue enor mes atenos para moradia e cemitérios, alguns com 7 m de altura e 76.500 m3 de tera (iguais à carga de 15 mil caminhões). Sua cerâmica mostra parentesco com os povos do rio Napo (Equador). ■ A cultura Tapajó do baixo Amazonas (d. 1300 dC) alcança a conquista e impressiona os europeus pela compacta e populosa rede de aldeias, até ser dizimada no século 17. Cava grandes poços, alguns em uso até hoje. A cerâmica, requintada, reproduz animais. ■ A conquista dizima estes povos. A escravização [2.2), a desagregação da sociedade tribal e sobretudo as doenças européias (varíola, tuberculose) reduzem drasti camente a população indígena, para 100 mil habitantes em 1957 (12.12;. Centenas de povos são exterminados até 0 último homem. 46000 aC: indícios, contestados, de presença humana (restos de fogueira) em Pedra Furada, S, Raimundo Nonato, PI 15300 aC: Presença humana na Lapa Vermelha, Lagoa Santa, I^G 11000 aC: Cerâmica em Mte. Alegre, PA 11000 aC; Pontas de lança encontradas na caverna de Fort Rock, Oregon, EUA 10000 aC: Pinturas em cavernas de Serranópolis, GO, e Pedra Furada, PI 9000 aC; Cultivo do trigo e cevada no Oriente Médio 7083 aC (7): Sambaqui de Maratuá, SP, o mais antigo já encontrado no Brasil 7000 aC: Cultivo da abóbora e da pimenta, México 6000 aC: Civilização indígena na serra de Carajás (PA) 5000 aC: Cultivo da mandioca (vales da Colômbia), do milho e feijão (México) 3500 aC: Escrita piotográfica, Sumária (Iraque) 3000 aC: Provável chegada a RO dos formadores do tronco TupI 3000 aC: Os sumérios (Iraque) inventam a roda, desconhecida nas Américas antes de Colombo 2590 aC: Grande Pirâmide do Egito 2500 aC: Civilização de Huaca Prieta (Peru); construção de casas, tecelagem 2000 aC: Povos Jê chegam ao Nordeste 2000 aC: Metalurgia no Peai 1500 aC; Cultura Olmeca (México) ergue as 1“ cidades das Américas 1300 aC: Formação da família Karib, entre Venezuela e Guiana 1100 aC; A cultura Ananatuba introduz o milho na ilha de Marajó 1000 aC: Os Kaingang e Xokieng (PR, SC, RS) se separam do tronco Jê 753 aC: Fundação de Roma 500 aC; Dispersão dos Tupi rumo ao médio Amazonas e bacia do Paraguai 300 aC; Civilização Nazca (Peru): pirâmides, ourivesaria, classes sociais 300 aC; Os povos Macro-Jê chegam à região Centro-Oeste do Brasil 154 aC: Roma conquista a Lusitânia 1 dC: Ano 1 da Era Cristã 100 dC: Os Aruak chegam à Amazônia 400: A cultura Maia (Guatemala, México) Inventa escrita hieroglífica 450: Cultura Marajoara (Marajó, PA) 467: Oueda do Império Romano 600: Teotlhuacán (México) é a maior cidade do mundo: 100 mil habs. 700: Cultura de Tiwanaco (Bolívia) 711: Invasão árabe da Península Ibérica 929: Califado de Córdoba: auge da cultura árabe na Península Ibérica 1000: o navegador vlking Lsif Erikson chega à América do Norte 1089: Fundada a Universidade de Salerno (Itália) 1094: O rei Atonso VI de Leão e Castela dá a Henrique de Borgonha o Condado Portucalense, núcleo de Portugal 1099: A 1* Cruzada toma Jenjsalém 1139; Afonso Henriques de Portucalis proclama-se Afonso I. rei de Portugal 1147: Afonso I, com ajuda de cruzados Ingleses, conquista Lisboa aos mouros 1150: Fundação da Universidade de Paris 1185: Sancho I, o Povoador, rei de Portugal 1189: Paio Soares de Taveirós escreve a Canção da Ribeirinha, 1“ texto literário em português 1194: Intl Yupanqul funda o Império Inca (Peru) 1211: Afonso II, 0 Gordo, rei de Portugal 1223: Sancho II, o Capelo, rei de Portugal 11 w w tf) 10 « (0 <0 « s - f . ? í f i i l ' ■ i | i | f 111 lo 12 1.2 PORTUGAL / GRANDES NAVEGAÇÕES ■ A Idade Moderna. A conquista do Brasil é paite da grande mudança que encerra a Idade Média européia e afeta todo o planeta. As cidades se libertam do jugo feu dal. A burguesia mercantil cresce. Surgem Estados na cionais. monarquias absolutistas com base na aliança comércio-casas reais, em freqüente conflito com a nobreza e o clero. As Grandes Navegações criam pela 1* vez um mercado mundial: especiarias e sedas do Oriente, açúcar, ouro e prata da América, escravos da África. Difundem-se inovações; pólvora, armas de fogo, bússola, caravela, papel e imprensa de tipos móveis. A Renascença, o Humanismo e a Reforma subvertem o mundo das idéias. ■ Portugal participa da mudança. 0 pequeno reino (1,5 milhão de tiabs. em 1500) nasce guerreando os áraties. o que reforça a autoridade do rei. É um Estado nacional precoce, o 1 ® da Europa. A dinastia de Borgonha defende e expande seus poderes combatendo ora os mouros infiéis, ora o reino vizinho de Castela ou sua própria nobreza. A burguesia ganha influência, embora o país continue mral e feudal. ■ A Revolução de Avis impulsiona Portugal. Na iminência de ser governado pela rainha de Castela, o país aclama rei (João I) o mestre de Avis, filho bastardo do último Borgonha. Castela, com apoio na nobreza lusa, cerca Lisboa por 7 meses. Uma mescla de revolta do povo miúdo, revolução burguesa, manobra dinástica e guerra de independência vence a batalha de Albujarrota. Comércio e cidades marítimas triunfam; nobreza e clero perdem espaço. Pelo padroado, o papa cede ao rei (tam bém Grão-Mestre da Ordem de Cristo) o poder de nomear bispos e aplicar excomunhões. 0 ideário medie val de combate ao Islã (com ajuda do lendário rei católico Preste João) mescla-se com interesses mercantis e a catequese dos gentios [2.5], ■ A expansão marítima dos séculos 15-16 vem de antiga familiaridade com o oceano; tradição de comércio (com Gênova, Países Baixos e sobretudo a Inglaterra) e pesca "de perto e de longo” (baleia, atum). Já no século 14 0 rei manda plantar pinheiros para a construção naval, nomeia um almirante, contrata um piloto genovês. A dinastia de Avis faz deste esforço um plano estratégico metodicamente perseguido. ■ A tecnologia naval responde aos desalios do ocea no. As galeotas e galés movidas a vela e remos dão lugar à caravela (a 1® é a de Nuno Tristão, 1441): maior, mais larga, com proa alta. castelo de popa, mortíferos canhões e um revolucionário duplo velame, Invenção lusa: velas latinas (triangulares), próprias para qualquer vento; e velas quadradas para aproveitar ao máximo o vento de popa. Seguem-se a nau, o galeão e no século 17 a catarra, que leva 2 mil pessoas. Avançam os instru mentos de navegação e a cartografia. Portugal cria a Escola de Sagres (1415), 1“ centro de estudos náuticos do mundo. Atrai os melhores cartógrafos, constnjtores de instrumentos navais e navegantes (o próprio Colom bo busca apoio para seu projeto em Lisboa antes de Ma dri). 0 infante D. Henrique [1394-1460], filho de João I, dirige a Escola. ■ Na costa d‘Áfrlca a tomada da cidade marroquina de Ceuta inicia a expansão colonial lusa. Gíl Eanes dobra o cabo Bojador. após 12 anos de tentativas, num barco de 2 5 1, um mastro e 14 tripulantes. Ao avançar para o sul, Portugal ergue fortes e feitorias para comerciar pimenta, marfim, ouro, escravos [2.4]. A partir de uma delas (S. Jorge da Mina), Diogo Cão alcança a foz do rio Congo e Bartolomeu Dias o cabo das Tormentas (rebatizado da Boa Esperança), no extremo sul africano. ■ A conquista das ilhas do Atlântico inicia nos arqui pélagos desabitados da Madeira e de Açores. Seguem- se as ilhas Canárias (que mais tarde passam ã Espanha). Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, já no GoKo da Guiné. Nas ilhas, a colonização precede o comércio. Portugal cria ali as 1“ capitanias hereditárias, plantações de cana e engenhos de açúcar baseados no braço escravo. ■ A meta maior é o caminho marítimo para as Indias. Vasco da Gama [1469-1524], com 3 naus, atinge (1498) a cidade Indiana de Calicute; volta com uma carga de especiarias que cobre várias vezes o custo da expe dição. 0 comércio Europa-Oriente, cortado desde a conquista turca de Constantinopla, renasce, com feito rias e intenso tráfico com a índia. China, Japão, ilhas Molucas, Malásia. Navegantes lusos também chegam ã América do Norte. Alcançam a Terra do Bacalhau (Terra Nova?) em 1474, mais tarde a Groenlândia, Labrador, Nova Inglaterra. ■ 0 Tratado de Tordesilhas. Por todo o século 15 Portugal e Espanha disputam as novas terras. Roma intervém no conflito com dúzias de bulas papais, con fusas, contraditórias e até adulteradas, sempre excluindo outros países da partilha. Após a viagem de Colombo, a magnitude dos interesses em jogo leva à Capitulação da Partição do Mar Oceano ou Tratado de Tordesilhas (1494): 0 mundo é dividido “de pólo a pólo' por um meri diano a 370 léguas das ilhas de Cabo Verde; as ten-as a leste ficam com Lisboa, a oeste, com Madri [2.1]. ■ Precursores de Cabral. Já em 1325 lendas e mapas europeus falam da(s) ilha(s) Brasil, associados ao pau- brasil e a virtudes paradisíacas. Portugal pode ter chega do aqui no fim do s. 15, pois para guiar-se na disputa com a Espanha pratica expedições de arcano (sigilosas). Entre elas a de João Coelho da Porta da Cruz (1493) e a de Duarte Pacheco Pereira (1498). Em 1488 Jean Cousin, da Escola Naval de Dieppe, França, teria estado no Amazonas com Vicente Pinzón (capitão da Nifia na frota de Colombo). Mais documentada a viagem (1499) do espanhol Alonso de Ojeda e do florentino Américo Vespúcio [1441-1512]. que teriam estado no RN. E é certo que Pinzón, meses antes de Cabral, atinge algum ponto do Nordeste, onde can-ega pau-brasil, e a foz do Amazonas, o Mar Dulce. ■ A viagem de Cabral. Logo que Vasco da Gama volta da índia (julho de 1499), a Coroa prepara a mais possan te frota da história de Portugal (13 navios). 0 capitão-mor, Pedro Álvares Cabral (1460-1526), obscuro fidalgo de Belmonte, chefia Diogo e Nicolau Coelho (parceiros de Vasco da Gama), Bartolomeu Dias, o escrivão designado para Calicute, Pero Vaz de Caminha (autor da célebre Carta ao rei. 1' documento sobre o Brasil, de 27 págs., extraviada até o século 19); no total, 1.500 homens. ■ Há 2 séculos questiona-se a versão oficial de que Cabral chega ao Brasil por acaso, ao afastar-se da África fugindo às calmarias. A expedição deixa Lisboa (8/3/1500) via Canárias e Cabo Verde; avista sinais de terra (21/4) e o monte Pascoal (22/4); lança âncoras e tem 0 1' contato com os índios (23/4), amistoso. Veleja até Porto Seguro (h. Cabrália); frei Henrique de Coimbra celebra a 1* missa, no ilhéu de Coroa Vermelha (26/4); uma grande cruz de madeira com as amias do rei preside a 2* missa, que batiza a Terra de Vera Cruz (1/5). Cabral envia uma nau a Lisboa com a noticia, deixa em terra 2 degredados, 2 desertores e parte (2/5) para a índia, onde tem duvidoso sucesso (só 5 navios retomam mas com muitas riquezas). ■ Por algum tempo Portugal domina os mares. Auge sob Manuel I, o Venturoso, rei de Portugal e Algaive, se nhor da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e índia (1495-1521). Prosperidade; apo geu cultural (convento de Belém, Gil Vicente, Camões). Mas a liderança passa ã Espanha (graças às riquezas do México e Peni) e daí à Holanda e Inglaterra (onde as transformações burguesas são mais sólidas). Portugal se despovoa e pouco ganha na aventura ultramarina; decai, sofre uma derrota histórica e perde seu jovem rei Sebas tião na batalha de Alcácer-Quibir Por fim (1580), Felipe II de Habsburgo, rei da Espanha, com apoio na nobreza lusa, vence 5 rivais e toma-se rei também de Portugal (como Felipe II). 0 domínio espanhol dura 60 anos (2.6J. 0 povo refugia-se no Sebastianismo (crença no mila groso retorno do rei Sebastião). Cronologia 1227; Morre Gengis Khan; seus 4 filhos partilham o Império Mongol, o mais extenso já criado 1235: Fundado o grande Império Mail, Africa Odd. 1241: O exército mongol chega às portas de Viena 1248: Afonso III, o Bolonhês, rei de Portugual 1250; Portugal toma o Algarve aos árabes e adquire seu contorno atual 1259; DInis, o Lavrador, rei de Portugal 1267; Castela reconhece o Algarve como domínio de Portugal 1267; Tomás de Aquino começa a escrever a Súmula Teológica 1275; O italiano Marco Polo chega a Pequim, China 1276: 0 português Pedro Julião torna-se papa João XXI 1300: Povos Tapajós chegam ao baixo Amazonas (cultura Santarém) 1307; Fundação do Estudo Geral, d. 1537 Universidade de Coimbra 1319: O papa João XXII cria em Portugal a Ordem de Cristo 1321: Dante conclui A Divina Comédia 1325: Fundação da cidade de Cuzco (Pem); Início da expansão Inca 1325; Afonso IV. o Bravo, rei de Portugal 1337: Inglaterra e França iniciam a Guerra dos 100 Anos 1348; A peste negra assola a Europa (pela Itália) 1353: Tratado de pesca Inicia cinco séculos de aliança luso-britânica 1357: Pedro I. o Cmel, rei de Portugal 1358: Começam na França as jacqueries, rebeliões camponesas 1367; Fernando I, o Formoso, rei de Portugal 1367; Inicio da dinastia Ming na China 1383: João I. de Avis, rei de Portugal 1383-1385; Revolução de Avis; dinastia de Avis: Castela invade Portugal; cerco de Lisboa 1385; Portugal vence Castela na batalha de Aljubarrota; vitória da revolução de Avis 1411: Paz entre Portugal e Castela 1415: Portugal cria a Escola de Sagres 1415; Portugal toma a cidade africana de Ceuta 1418; O papa Martlntio V confere caráter de cnjzada à expansão lusa na África 1419: Portugal ocupa a Ilha da Madeira 1426: Capitanias hereditárias na Madeira 1431: Ocupação lusitana dos Açores 1433: Duarte I, o Eloqüente, rei do Portugal 1434: Gll Eanes dobra o catio Bojador 1435: Afonso Baldala descobre o Rio do Ouro, Africa Ocid. 1436; Bula Rex Regum. do papa Eugênio IV, favorece os interesses portugueses 1438: Afonso V, o Africano, rei de Portugal 1438: Oinastla de Pachacutec Yupanqul; grande expansão do Império Inca 1441; Ctiega a Portugal a primeira carga de escravos trazidos da África 1441: Portugal lança ao mar a 1‘ caravela 1444: Nuno Tristão chega à foz do rio Senegal 1446; Ordenações Afonslnas, 1* código de leis português 9/5/1453: Turcos ocupam Constantinople: data convencional do Início da Idade Moderna 1454: Portugal toma as Ilhas de Cabo Verde 1456: Padroado: o papa Nicolau V dá ao rei de Portugal “jurisdição espiritual” sobre as terras descobertas 1460: 1* bolsa de comércio, em Antuérpia (Holanda) 1468: Gutenberg imprime o 1* livro, uma bíblia, em prensa de tipos móveis metálicos 13 Cronologia 2 - COLONIA 2.1 PRIMORDIOS DA CONQUISTA / PAU-BRASIL 1471: Ocupação lusa da Ilha de S. Tomé 1474: Joâo Vaz Corte alcança a Terra do Bacalhau" (América do Norte?) 1478: Construção do Grande Templo (México) 1481; Joâo II. o Perfeito, rei de Portugal 1481: Portugal cria alfândega especifica (Costa da Mina) para a Africa 1481 : Torquemada organiza a Inquisição espanhola 1482: Diogo Cão chega à foz do Congo 1483; Colombo procura (em vão) ajuda da Coroa Portuguesa para sua viagem 1486: Bartolomeu Dias dobra o cabo das Tormentas (d. da Boa Esperança) 12/10/1492; Colombo chega à América 1492: Os reis católicos tomam Granada, último reino mouro na Península Ibérica 1492-1S02; 2* a 4® viagens de Colombo 1493: Bula Inter Coetera do papa Alexandre VI (espanhol) favorece interesses da Espanha na América 7/6/1494: Tratado de Tordesilhas refoirnula a divisão da bula de 1493, equilibrando interesses 1495: Manuel I, o Venturoso, rei de Portugal. 1495; Pedro de Barcelos e João do Labrador, açorlanos, descobrem para a Inglaterra o Labrador (EUA) 1496: Dinastia dos Habsburgos na Espanha 1497: Conversão forçada de judeus e muçulmanos (cristàos-novos) em Portugal 1498: Vasco da Gama chega a Calicute, índia 1499; O italiano G. Caboto, sob bandeira Inglesa, chega à Terra Nova 26/1/1500; O espanhol Vicente Pinzón alcança o Nordeste do Brasil 8/3/1500: A frota de Cabral deixa a praia do Restelo (Lisboa) 22/4/1500: Cabral chega à costa baiana 1501 : Américo Vespúcio percorre a costa brasileira (S. Francisco, Guanabara) 1501: Concessão real para Fernando de Noronha explorar pau-brasil 1502: Pinzón alcança a foz do Amazonas 1S02:1" feitorias portuguesas no Brasil 1502; Fernando de Noronha chega à ilha que hoje leva seu nome 1502: 2* viagem de Vasco da Gama ãs Indias 1503: Gonçalo Coelho percorre a costa até a foz do rio da Prata 1504: Doação da 1* capitania, a Fernando de Noronha 1504: Binot Pauimier realiza a 1* incursão francesa no Brasil 1504: 1° bispado americano (ilha Espanhola) 1506:1“ engenho de açúcar das Américas, nas Antllhas 1506; O papa Júlio II ratifica Tordesilhas e reconhece o Brasil como domínio português 1507: Leonardo da Vinci conclui a tela A Gioconda 1509; Naufrágio de Caramuru na BA 1510: Naufrágio de portugueses (João Ramalho) e espanhóis em São Vicente 1510: Portugal conquista Goa (índia) 1511 ; Chegam às Antilhas os 50 1 “ escravos africanos das Américas 1511 ; Nau Bretoa leva da BA para Portugal os l " 36 Indígenas escravos, pau-brasll e animais 1512: Ordenações Manuelinas 1512: Michelangelo começa a pintar a cúpula da Capela Sislina, Roma 1513: Vasco Nunez de Balboa chega ao oceano Pacífico 1513: N. Maquiavel escreve O Principe 1514; 0 Brasil se subordina ao recém-criado bispado de Funchal 14 ■ Portugal só tem olhos para a índia. Até 1527 para lá vão 320 naus e 80 mil homens. A Terra de Vera Cruz fica semi-esquecida, tão freqüentada por portugueses [2.2. 2.6) como por franceses. Expedições guarda-costas (Cristóvão Jacques, 1516-1519 e 1526-1528), são raras e ineficazes. Algumas nem se sabe se existiram, como a 2* de Américo Vespúcio, 1503, cujo relato inspira A Utopia, de Thomas More. ■ A divergência sobre Tordesilhas atesta o descaso. 0 tratado fixa uma linha “de pólo a pólo*, dividindo tanto a América como a Ásia, do outro lado do globo. Mas é vago: situa a raia 370 léguas a leste das ilhas de Cabo Verde sem dizer qual. A cartografia da época é precária. E 0 interesse luso é puxar o limite para leste: perde terra no Brasil, mas ganha as ricas ilhas Molucas. A linha de Tordesilhas jamais é fixada no terreno. Peritos dos 2 países propõem em Badajoz um meridiano à altura da foz do Guaipi (deixando S. Paulo do lado espanhol). Quando Portugal compra o direito sobre as Molucas. a tendência se inverte: Pedro Nunes, 1® cosmógrafo-mor luso, chega a propor (1537) uma linha do Oiapoque atual “até além da baía de S. Marcos", incluindo o Uruguai, Paraguai e metade da Argentina atuais. Já Cabeza de Vaca, governador do Paraguai, toma Cananéia em nome da Espanha (1541). 0 conflito esfria com a união ibérica (1580-1640) mas renasce nas guerras platinas dos séculos 17-18 [2.7]. ■ 0 pau-brasil é o único atrativo da nova terra. Empresta-lhe até o nome. vencendo piedosas propostas de Cabral (Vera Cruz) e Manoel I (Santa Cruz); mau sinal segundo os 1® cronistas, em geral padres. 0 Caesal- pinia echinata, pau-de-tinta, em tupi ibirapitanga, vale pelo ceme, vermelho vivo, usado já no século 9 para tin gir panos. Dá em toda a costa do RJ a PE. A Coroa impôe seu monopólio sobre o produto (1502) e arrenda 0 direito de extração a particulares (Fernando de Noronha é o 1'). Mas há a concorrência dos entrelopos (traficantes não autorizados), sobretudo franceses [2.2j. 0 pau-brasil dá bom lucro: 1 quintal (581<) custa 0,5 du cado e rende 3. Dispensa instalações. Os índios o der rubam. serram, racham e carregam em troca de facas, machados, quinquilharias, em regime de escambo. 0 monopólio da Coroa sobrevive à colônia (até 1859) mas a árvore escasseia; no século 19 é substituído pelas anilinas industriais. ■ A expedição colonizadora de Martim Afonso de Sousa (1530-1532) é a 1* a ir além do extrativismo. Seu chefe, fidalgo de sangue real, recebe poderes de vida e morte, inclusive de doar sesmarias a homens de quali dades (nobres) e de posses (negociantes enriquecidos) Traz 5 naves, 400 homens, sementes, mudas de cana Em PE envia Diogo Leite ao norte com 2 navios e se gue para o sul. Na BA encontra Diogo Álvares, o Cara muru, náufrago d. 1509. que vive com os Tupinambá. Na Guanabara. 4 homens fazem a 1* entrada pelo ser tão (760 km); a 2*. 80 homens: saí de Cananéia e não retorna. M. A. Sousa segue até a foz do Prata, onde nau fraga. Seu irmão Pero Lopes sobe o rio até a atual S. Pedro (Argentina) e toma posse da terra. Na volta, a frota aporta na ilha de S. Vicente (SP), já conhecida como Porto dos Escravos. Serra do Mar acima, vive ali (d. 1510) 0 náufrago Joáo Ramalho ;2.2], com os Goia- ná. M. A. Sousa funda na ilha a vila de S. Vicente, 1* do Brasil (22/1/1532), Cria o 1* engenho de açúcar (movido a água), distribui as 1“ sesmarias. nomeia os 1“ fun cionários. Ao voltar a Lisboa (1532), deixa um núcleo de povoamento que dura até hoje. ■ Com as capitanias hereditárias tenta-se a ocupação à base da iniciativa particular (como nas ilhas do Atlântico). João III entrega 14 delas a navegantes, sol dados do Oriente, fidalgos (1532-1534), com vastos poderes; doar sesmarias, condenar plebeus â morte e fidalgos ao degredo. 0 sistema é contido pela resistên cia indígena, a distância, o desinteresse. No MA, RN, CE, s. Tomé (hoje Campos, RJ), Sto. Amaro (SP), Santana e Ilha de Trindade, a ocupação é desprezível ou nula. Em Itamaracá (PE), BA. Ilhéus, Porto Seguro, ES, é rarefeita. deficitária, vegetativa. Em contraste, PE e S. Vicente prosperam. Pernambuco (ou Nova Lusitânia) toma-se o centro da cultura canavieira [2.3]. 0 donatário, Duarte Coelho, traz a família, ergue torre de pedra e cal, expulsa os índios, contém e organiza os colonos, funda a vila de Olinda. Seu cunhado, Jerónimo de Albuquer que, conquista e povoa (com 24 filhos) boa parte do Norte. Nos anos 80 a capitania exporta 40-50 navios-ano de açúcar, pau-brasil, algodão, tabaco. Em S. Vicente a serra limita as terras para cana e o donatário, A. Sousa, fica nas índias. Há choques com espanhóis, fran ceses, ingleses e sobretudo índios [2.2]. Serra acima fonnna-se o 1- núcleo interiorano, a vila de Sto. André da Borda do Campo (João Ramalho), baseado na escra vidão indígena, gado, lavoura de subsistência, intensa catequese jesuíta d. 1553 [2,51, fundação do colégio de S. Paulo do Campo de Piratininga. núcleo da cidade de S. Paulo (25/V1554). ■ Ao criar o governo geral do Brasil, a Coroa admite 0 fracasso da ocupação por particulares. Assume a ini ciativa nas capitanias reais do Rio Grande (d. RN), PB, BA e RJ. Elabora minucioso projeto colonizador (Re gimentos. 1548). 0 1^ governador, Tomé de Sousa, ex- combatente na África e índia, chega â BA (1549) com pedreiros, carpinteiros. 200 soldados. 300 colonos, 400 degredados. Funda Salvador, 1* cidade e 1® capital bra sileira, murada com taipa e rodeada de fortes, com casas do governo, da Câmara, dos Contos, Alfândega, Matriz e a Sé do futuro bispado. Cria um pequeno estaleiro, manda vir gado de Cabo Verde (na caravela Galga, da Coroa), viaja em inspeçáo pelo Sul. Só a próspera PE escapa à autoridade de Salvador. 0 im pulso estatal e o açúcar impulsionam a colônia. A ocupa ção é “de caranguejo”, apenas na costa, por política de Lisboa (tal como na África e Ásia); Tomé de Sousa re jeita até a idéia (padre Nóbrega) de criar um povoado em Piratininga. ■ A sociedade do Brasil quinhentista é bem distinta da européia. A imigração espontânea só virá no fim do século 17 [2.8!. Portugal, pouco populoso e fascinado pela índia, envia à colônia degredados (pena fartamente aplicada a dissidentes políticos e religiosos); e o degre do no Brasil é pior que na Guiné. Há muitos cristâos- novos (judeus forçados à conversão em 1497). Em 1583 há no Brasil 25 mil brancos e mestiços. 18 mil índios mansos e 14 mil negros. Mulheres brancas são raríssi- mas. As 1“ chegam em 1551; 3 meninas órfãs enviadas pela Coroa; só no século 19 haverá imigração significa tiva de européias. ■ Nas 1“ gerações, os mazombos (descendentes de europeus nascidos no Brasil) são quase sempre ma- melucos (do árabe mamiuk, escravo), mestiços de por tuguês e índio. Os padres, que Nóbrega chama “escó ria', fecham os olhos aos amigamentos e à poligamia, quando não os praticam; o escritor holandês Gaspar Barlaeus Ilustra, citando um dito da época; "Ultram Equlnoctialem non peccari" ("Não há pecado além do Equador). A escravidão indígena [2.2), formalmente proibida, é comqueira. Na área do açúcar a escravidão negra [2.4] ganha terreno; prevalecerá em meados do século 17. ■ A base tecnológica, também mestiça, tem forte marca Tupi: agricultura da floresta tropical, estribada na mandioca, milho e coivara. em mescla com elementos europeus (armas e ferramentas de ferro, pólvora, monjo lo de pilar, animais domésticos, carro de boi, sal, sabão, couro curtido, aguardente, lamparina). Sofistica-se no engenho de açúcar, que usa tecnologia de ponta para a época ;2.3]. 0 contato intercapitanlas, desencorajado pela metrópole, é raro. S. Vicente liga-se mais fácil a Lisboa que à Bahia. 0 trajeto Salvador-S. Vicente leva 21 dias, a Lisboa 30-60 dias, a Luanda 40 dias: subir a serra, de S. Vicente a S. Paulo. 4 dias. _________ > d 9 — Anhembi (Tietê) ( I 5^ f A barreira da Serra do Mar Vicente „ (litoral) ® Piratininga _ (planalto) “ Mata atlântica ^ 15 Cronologia 1514; Femão de Magalhães cria a feitoría de Todos os Santos, BA 1514: Os portugueses chegam à China 1516; Expedição guarda-costas de Cristóvão Jacques, até o rio da Prata, funda feitoria em PE 1516: Thomas l^ore escreve A Utopia, inspirado no relato de viagem sul-americana de Américo Vespúcio 1519: O português Femão de Magalhães, a serviço da Espanha, inicia a 1 ‘ viagem de circunavegação 1519; M. Lutero rompe com a Igreja de Roma. Início da Reforma Protestante 1519; Carlos I da Espanha toma-se Carlos V, imperador do Sacro Império Romano-Germânico 1519: F. Cortez Inicia conquista do México 1521: João III, rei de Portugal 1521; Expedição lusitana (Aleixo Garcia), do porto de Patos, pelo sertão, até Potosi 1524; A Comédia do Viúvo, de Gll Vicente 1524: O espanhol F. Pizarro invade o Império Inca 1524: Conferência luso-espanhola de Badajós 1525; Introdução da batata na Europa 1526; João III nomeia governador do Brasil C. Jacques. Ele chefia 2° expedIçSo guarda-costas, que aprisiona na BA e executa 300 franceses 1526: Feitoria na ilha de Itamaracá 1526; Entrada de Aleixo Garcia, partindo de S. Vicente 1529; Espanha cede as Molucas a Portugal 1530: Franceses destroem feitoria de PE 1530: João III Institui no Brasil o sistema de capitanias hereditárias 1530; 1“ inglês (W. Hawkins) no Brasil 1531; Terremoto em Lisboa 1531; Expedição de Martim Afonso de Sousa; expedição de Diogo Leite até o MA 22/1/1532; M. A. de Sousa funda a vila de S. Vicente 1532:1“ engenhos em S, Vicente 1532; Pero Lopes de Sousa retoma dos franceses a feitoria de Igaraçu 1533; 1* imprensa das Américas (religiosa), no México 1533: Pizarro toma Cuzco, capital do Império Inca 1534; Introdução do gado, em S. Vicente 1534: O espanhol Inácio de Loyola cria em Paris a Companhia de Jesus (jesuíta) 1534: Implantação do sistema das capitanias hereditárias 12/3/1535: Fundação da vila de Olinda, PE 1535: 1° engenho que produz em escala comercial, em Olinda, PE 1535: Instituição do degredo no Brasil 1535: Fundados os povoados do Espirito Santo (d. Vitória) e Vila Velha, ES, Igaraçu e Olinda, PE 1536: Bula papal cna a Inquisição em Lisboa 1536: Fundação da vila de Santos, SP 1536: P. de Mendonza funda Buenos Aires 1537: Fundação de Iguape, SP 1537: Bula papal repudia a escravidão dos índios, "criaturas de Deus iguais a todos' 1538: 1 ' desembarque documentado de escravos africanos no Brasil 1B38: Ataque dos Tupinlkim no ES 1538; Bula papal cria Universidade de S. Tomás, em S. Domingo, a 1 “ das Américas 1539: Duarte Coelho, de PE, pede licença ao rei para trazer escravos da Guiné 1539: Joâo III confia a catequese das colônias de Portugal à recém-fundada Companhia de Jesus 1540-1542: Francisco Orellana, oficial de Pizarro, desce a Amazonas 16 ■ 0 1° contato com o$ indígertas é amistoso, “São mais nossos amigos que nós seus', diz Caminha. Mas em 1511 os 1=* 35 esaavos são levados na nau Bretoa. Com a ocupação, o cativeiro se alastra. Santos é o Porto dos Escravos, preados por Antônio Rodrigues (litoral) e Joâo Ramalho (sertão). A ima^m-padrão do gentío passa a ser de falso, covarde, preguiçoso, estiipido, sem lei, sem rei, sem Deus e sobretudo canibal. Duvida-se que tenha alma. A escravização é associada à civilização e catequese, como ato cristão e meritório. ■ A preagem (captura) se apóia em tribos aliadas (em SP os (3oltacà do cacique Tfciriçá) e armas de fogo. Homens e mulheres são trazidos ‘como carneiros e ovelhas", em canoas ou por terra, atados pelo pescoço, às centenas, depois aos milhares. A oferta de escravos sotje brusca mente com os ataques paulistas às missões guaranis [2.6, 2.7). Em 130 anos, 2 milhões sâo mortos ou escravizados. ■ Escravidão negra e vermelha convivem. Uma do mina as áreas ricas [2.4], outra o sertão potire (SP, MA, PA). A abundância, o "vício' de recusar trabalho forçado, fugir e morrer à toa depreciam o “negro da tenra', face ao “da Guiné'. A lei em tese veda a escravidão indígena desde 1570, mas abre sempre exceções: para os Aimoré, os cap turados em "guerra justa', os “íncSos de corda” (vencidos por outra tribo e amarrados â espera do sacrifido). Seu hábil manuseb penmite o cativeiro em ampla escala. 0 testamen to do bandeirante A. Pedroso de Barros (1652) indui 500 cativos. A escravidão vermelha entra pelo século 19. Na Amazônia de 1866, compra-se um íncSo por um machado. ■ Os jesuítas condenam e combatem a escravidão ver melha (não a negra); são hostilizados e até expulsos por Isso. Mas sua posição é dtï)ia Nóbrega considera os índios trutos animais', 'cães’ , "porcos", feras bravas'; e apóia a posse de ‘escravos legítimos, tomados em guerra justa'. ■ Os indígenas resistem pela guerra à invasão e escra vidão. Vencidos, às vezes após gerações, seus sobrevi ventes caem no cativeiro ou se internam pelo sertão ■ Guerra (ou Confederação) dos Tamoios (1555- 1567): conflagra o RJ e SP, de Cabo Frio a Itanhaém. Os Tupinambá se aliam aos Carijó (Guarulhos), Guayaná, parte dos Tupinikim e franceses. Tamoio em tupi é mais velho ; por extensão, nativo. A ngor não há confederação, mas unidade de ação Cunhambebe, cacique de Ubatuba (h. Angra dos Reis), pintado como um “monstro" de estatura e força, ‘hediondo antropófago" capaz de recu sar outro alimento afora carne humana, é o 1' a revidar à preagem. morre numa epidemia de sarampo fatal aos Tamoios; assume Aimberè, de Uruçumirim (hoje morro da Glória, Rio). Jaguanharo, Tupinikim e sobrinho de Tibiriçá, tenta em vão a adesão do lio. Os rebeldes, esti mados em 10 mil, reúnem até 180 canoas com guer reiros. Fracassam num assalto a Piratininga mas vencem um combate em que matam Tibiriçá, Caiubi e Femão, filho de Mem de Sá. Nóbrega e Anchieta negociam em Iperoig (Ubatuba) um acordo de paz (1563), que inclui a libertação dos escravos. Um ano depois a preagem reco meça e com ela a guerra. ■ A França não acata a linha de Tordesilhas; o rei Francisco I diz (1517) que só a aceita após ver o testamen to de Adão. Os franceses carregam pau-brasil, em ótimas relações com os Tupi. (to RJ, fundam uma colônia que se imbtica com a Guerra dos Tamoios: é a França Antártida de Nicolas D. de Villegaignon, com patrocínio do aim. Coligny, simpatia do rei francês Henrique II, apok) de armadores e caMnistas, C^hegam ao RJ em 2 navios, 200 cokinos (10/11/1555). Erguem o forte Coligiy na ilha de Serigipe (h. Ville^ignon) e planejam uma cidade em terra limite, Hennville, Os índios apóiam os mair (franceses) contra os peró (portugueses); o govemo Duarte da Costa não reage. A Europa calvinista envia mais 3 naus, 300 colonos, mu lheres, 2 teólogos. Envolvido em doutas doutrinárias, Ville gaignon passa a chefia a seu sobrinho B. Le Compte e volta à Ftança (1559). 0 novo govemadof-gerai Mem de Sá, com 2 mil homens mais reforços de SP, destrói o forte e dispersa os franceses. Os remanescentes so confundem com os 2.2 ín d io s /FRANCESES NO RIO< Tamoios e alguns se integram com eles (Ernesto, ou Quaraciaba, genro de Aimberè morto em Uruçumirim). ■ Fundação do Rio de Janeiro. Lisboa envia tropas, tam bém a BA e ES (os Temiminó de Araribóia). No comando, Estácto de Sá (sobrinho de Mem de Sá) funda ao chegar (1»/3/l565) à cidade de 8. Sebastião do Rio de Janeiro, mero acampamento na enseada de Botafogo. Ataques tannoios fazem Anchieta pedir a volta de Mem de Sá. Na batalha decisiva de Unjçumlrim (12 mil combatentes), Estácio de Sá é ferido de morte por uma flecha, mas vence. As cabeças de Aimberè e outros são fincadas em estacas. Anchieta narra os “gestos heróicos”: “160 aldeias incen diadas, passado tudo ao fio da espada”. Mem de Sá muda a cidade para o atual Castelo, ergue baluartes, muros; doa uma sesmaria (h. Niterói) a Araribóia. 0 RJ toma-se Capitania Real, entregue a uma dinastia da família Sá; em 1600 tem 750 europeus e 100 negros. ■ Guerra dos Aimoré (1555-1673); atinge Ilhéus, BA, Porto Seguro. Os Aimoré (botocudos), povo Jê (B/\, ES, MG) atacam até o Recôncavo. São sufocados 1 século depois (graças a guerreiros Tabajara trazidos da PB), mas em 1718-1780 assolam a área com guennlhas. Por seu valor militar, são comparados aos Araucano do Chile. Ainda em 1808 0 regente declara "guerra justa’ aos botocudos. ■ Guerra dos Potiguara (1586-1599): detém a conquista da PB até o final do século. Os chefes Tejucupapo e Pena- cama levantam 50 aldeias, com apoio francês. São venci dos pela varíola e pelo auxílio dos Tabajara aos portugue ses. Seus descendentes vivem hoje na baía da Traição, assim chamada devido à violação da paz pelo governo. ■ Levante Tupinambá (PA, 1617-1621): começa em Cu- mã, onde todos os brancos são mortos. Ataca Belém (1619) sob comando do chefe Guaimiaba (Cabelo de Ve lha), morto em combate. A repressão é auxiliada por uma epidemia de varíola. ■ Guerra do Açu, dos Bárbaros ou Confederação Cariri (sertão da PB, RN, CE, PE, 1686-1692): causada pelo gado solto que os índios caçam, envolve os Janduim e outros povos Jè liderados por Canindé (preso em 1690) e Caracará. Ataques à fortaleza do Açu, ameaça à dos Reis Magos (h. Natal). 0 bandeirante D. Jorge Velho [2.4] ataca os Cariri com 600 homens, sem êxito. Um acordo de “paz perpétua" entre “D. Pedro I, rei de Portugal e Algarves, e Canindé, rei dos Janduim”, assinado na pre sença de 70 caciques, é violado 2 anos depois. Em 1993 restam 29 Cariri no Nordeste. ■ Revolta de Manu Udino (PI, MA, CE, 1712-1719): o estopim é o fazendeiro A. C. Souto Maior (que violenta mu lheres e a seguir mata-as a machadadas), morto por seus índk». Estende-se (fazendas destmldas, portugueses mor tos) e projeta um líder, Manu Ladino, um Cariri educado por padres, por 7 anos o homem forte do Meio-Norte. Conflitos tribais dividem a revolta, afinal esmagada por uma expe dição punitiva dos fazendeiros. ■ Guen-a dos Manau (Afvl, 1723-1728): impede por 4 anos quak)uer barco luso de subir o rio Negro, densamente povoado. Seu líder, Ajuricaba, rompe com o pai^ cacique dos Manau, e lança o lema “Esta tena tem dono". E vencido por um navio que d. João V envia de Lisboa para bombardear as aldeias ribeirinhas. Ajuricaba, levado preso a Belém, segundo a lenda, atira-se no rio ao avistar a cidade. ■ A resistência Gualkuru (MT, 1725-1744) ataca várias vezes Cuiabá, V Bela, Assunção e as monções [2.7], Os exímios cavaleiros Mbayá-Gualkum aliam-se aos Payaguá- Guaikutu, canoeiros, que se sen/em dos remos como lanças. Chegam a r^tu rar e vender bandeirantes como escravos em Assunção. ■ Guerrilha Mura: dura 1 século nos vales do baixo Punis, Negro, Madeira. Grandes canoeiros, os Mura fustigam o inimi go e se refugiam em meandros fluviais onde ninguém ousa penetrar. Aldeados pelos carmeítas (1689), [)õem fim à re sistência e colaboram no massacre dos Mundurucu e Juma. ■ Guerra Guaranítica (RS, 1753-1756); [2.6], 17 IS 2.3 ECONOMIA/SOCIEDADES DA CANA E DO COURO ■ A cana-de-açúcar é plantada já na antigüidade (In dia, China, Java); os árabes levam-na à Europa. Na Ida de Média açúcar é artigo de luxo, vendido em boticas. No século 15 as ilhas portuguesas lideram a produção (7,5 mil t/ano). A conquista das Américas faz explodir a produção e consumo; o açúcar toma-se a 1* monocultu ra, totalmente voltada para o mercado; a 1* agroindústria, praticada em grande escala; e a 1* commodity, comercia lizada em nível mundial. ■ 0 Início do cultivo no Brasil tem data incerta. Mar tim Afonso de Sousa ergue (1532) o 1 ' engenho [2.1). A energia hidráulica, o massapé (solo argiloso, negro e rico do litoral-Nordeste) e a técnica das ilhas favorecem a pro dução, que em 1560 passa às Antilhas, torna-se a mais rentável do planeta e faz do Brasil o maior exportador mundial. Em 1573 PE tem 23 engenhos; a BA, 18; o Bra sil, 60. Em 1600 eles já são 124; Itamaracá, Porto Segu ro, ES, SP mais tarde PB, AL e SE moem cana. Em 1652 0 açúcar nordestino atinge o pico. Mas d. 1641 a produ ção antilhana toma impulso: a oferta abundante derruba os preços a 50%. No século 18 o ouro das fainas [2.8] encarece o braço escravo e agrava a crise. Em 1749 PE tem 202 engenhos "moentes" (em uso) e 39 "de fogo mor to” (paralisados). A economia nordestina se atrofia (queda da renda per capita, lavoura de subsistência rudimentar). ■ 0 sistema produtivo é a plantation, inovação lusita na que tem no engenho de açúcar seu padrão: latifúndio, grande produção, escravagismo, monocultura, exporta ção, monopólio colonial. É um sistema contraditório. A ten'a farta gera relativo atraso na lavoura, itinerante, sem irrigação ou adubagem (ao contrário das ilhas); já o en genho é uma unidade produtiva sofisticada para a época: complexa divisão do trabalho, com 18 funções especiali zadas, 11 braçais, afora as de apoio. Mas a base lati- fundiário-escravista limita a formação de um mercado interno e a renovação tecnológica. 0 sistema não se altera por mais de 3 séculos. ■ 0 engenho tem fábrica e campo. 0 campo abarca uns mil ha: a cana não cobre 10%; o resto são pastos (o trans porte é em carro-de-boi), matas (as caldeiras queimam muita lenha), cultivos para consumo (mandioca, feijão, milho), áreas para deslocar a plantação quando a terra cansa. Os escravos de eilo (60% do total) plantam, limpam e cortam, vigiados por feitores. As escravas enfeixam a cana. A jornada de trabalho vai das 6 às 18 h. Na safra, de agosto a abril, há ainda um turno extra (kiningo) na fábrica. ■ A fábrica, 0 engenho propriamente, Inclui: 1)Amoen- da, movida a água (rasteira ou copeira segundo a posi^o da roda) ou tração animal; nos Irapiches, 3 grossos cilin dros moem as canas. 2) A casa das caldeiras, onde se coze e bale o melado; trabalha dia e noite nos 7-8 meses da safra, sob as ordens do mestre de açúcar e do ban queiro; é 0 trabalho mais insalubre e perigoso (Vieira com para-o ao Infemo). 3) A casa de purgar, que decanta o açúcar por 40 dias em formas cônicas: 4) A caixaria, onde 0 produto vai para caixas de madeira de 500-600 kg, ca- lafetadas com barro e forradas com folhas de bananeira. 0 engenho inclui ainda oficinas, casa-grande, senzala, enfermaria, capela, quase sempre cais e alambique. Em prega barqueiros, calafates, carapinas, alfaiates, carreiros, oleiros, vaqueiros. Assalariados, e mais tarde escravos, realizam as funções especializadas (inclusive a de feitor- mor). Um engenho real (de bom porte) fabrica 150-2501 de açúcar (mil vezes menos que uma usina hoje) e tem 150- 200 escravos. Um pequeno, 50 escravos. Abaixo deste piso está 0 lavrador, que mói sua cana na fábrica alheia. ■ A sociedade do açúcar tem no topo o senhor de en genho, que mesmo se for plebeu recebe privilégios de nobreza e impenhorabilidade. Seu poder mede-se pela escravaria e seu luxo rivaliza com o da corte (sedas, da mascos, vinhos, cavalos de raça). A sua roda circulam parentes, flâmulos, hóspedes, padres, agregados, escra vos domésticos (de 12 a 60, pajens, estribeiros, cozinhei ros, criados, amas, mutamas, crias fle estimação). Em sua terra vivem, de favor, moradores (agregados), com paupérrima lavoura de subsistência. Quase não há pe quena propriedade. A reduzida população assalariada di minui, camadas métSas são escassas. A monocultura atro fia 0 cultivo de alimentos e, afora os mais abastados, a população cotonial uma subnutrição crônica. 0 campo do mina a cidade. Muitos comerciantes e funcionários são também senhores de engenho. 0 custeio, transporte e ven da do açúcar ficam a cargo de portugueses e holande ses. Nã base da pirâmide estão os escravos de eito [2.4], ■ Aguardente e rapadura são produzidas nos enge nhos ou em unidades escravistas menores (engenhocas, molinetes). Destinam-se ao consumo interno e também ao escambo para adquirir escravos na costa d'África, ■ 0 tabaco, nativo, fumado pelos índios, é cultivado desde o fim do século 16, sobretudo no Recôncavo Baia no (Cachoeira), por pequenos produtores (até 3 escra vos) brancos e até mulatos. É lavoura exigente e na safra todos trabalham, escravos ou não. Conquista a Europa e é muito usado no escambo de escravos entre a Costa da l/ina e BA. ■ 0 algodão é plantado para consumo, de SP ao PA, e para exportação, nas áreas não-canavieiras do NE (MA), em fazendolas de 10 escravos, lavouras familiares, mais tarde em grandes fazendas de até 300 escravos. Escravidão vermelha e negra. Técnica rudimentar, no iní cio totalmente manual; após o século 18 usa primitivos descaroçadores de 2 cilindros. A cultura do couro ■ A expansão pecuária parte do engenho, que requer bois-de-carro em n® igual ao de escravos. Carta régia de 1701 reserva à cana as melhores terras e proíbe a cria ção até 10 léguas da costa. 0 gado ganha o sertão mar geando os rios: desbrava, por dentro, o PI, MA, MG, GO. Garcia D'Ávila em 1552 possui 200 cabeças; sua Casa da Torre chega a ter dúzias de fazendas, ao longo de 1.650 km do S. Francisco, o rio dos Currais. Após a Guerra do Açu [2.2], Jorge Velho e outros paulistas tomam ses marias no NE; Domingos Sertão funda 39 fazendas no Pl. Expulsão ou extinção dos índios, que caçam as reses. ■ A fazenda de gado dispensa o grande investimento do engenho. Pode começar com 25-30 cavalos, 200-300 reses, e chegar a 20 mil. Suas células são os currais, cada um com 200-1.000 cabeças. É uma pecuária exten siva. seminômade, de baixíssima densidade econômica, quase autárquica, mas autopropulsada, capaz de expan são. No semi-árido a natureza reduz a estatura de bois e homens. 0 principal produto é o couro, fartamente con sumido na fazenda e exportado sob fomia de solas (feiras de gado). Também se toca boiadas de 100-300 cabeças até Salvador e Olinda, em viagens de até 3 meses (se não há seca) e com perda de metade das reses. A came de sol se difunde no século 18. ■ 0 vaqueiro com freqüência não é escravo (na pecuária 0 escravismo se mesda com formas de servidão). Ajudado pela fábrica (aprendiz), amansa, ferra, cura bicheiras (duran te a vaquejada anual), queima o pasto, m \a cobras, mor cegos, onças, abre cacimbas (p o ^ ). A paga é 1 cria em cada 4. 0 dono em geral mora b n ^ , às vezes em seu en^nho litorâneo. A cultura do couro é menos européia, mais pobre e nistica que a da cana. 0 sertanejo sofre influên cia Jé, desde o uso do aboto até o fenótipo docabeça-chata... ■ 0 gado platino é o outro foco da expansão (em menor escala. S. Vicente, Marajó). As 1“ reses chegam a Assunção em 1556, “Vaca de Gaeta", se multiplicam soltas no pampa e atingem (1608) o atual RS [2.5^ 0 sis tema na estância também é extensivo: nas mangueiras o gado é manso; nas vacarias, bravo e sem dono. 0 gaú cho (tipo comum a todo o pampa platino) por bom tempo é mais um caçador que um criador Exporta-se o couro e, no século 18, reses e montarias para MQ (S.S). Após 1733, indústria de came de charque (invento cearense): a charqueada escravista do Brasil concorre em desvan tagem com 0 saiadero argeniino ou uruguaio, que empre ga assalariados. Cronologia 1540: Fuga de Indígenas para a Amazónia 1540: Rebelião dos Tupinambá em Ilhéus 1540: o papa Paulo III aprova a Companhia de Jesus: jesuítas chegam a Portugal 1540: A Inquisição portuguesa estabelece a censura e um tribunal (Porto); o cardeal d. Henrique é o inquisidor-geral 1541: Cabeza de Vaca toma Cananéia, 8. Francisco e Sta. Catarina para a Espanha 1541: Fundação de Santiago (Chile) 1541: Michelangelo conclui o Juízo Final na capela Sistina, Roma 1542: Navegadores portugueses chegam ao Japão 1543: Fundação da Sta. Casa de Misericórdia de Santos, a 1* do Brasil 1543: Copémico defende a teoria heliocêntrica em Das Revoluções dos Mundos Celestes 1545-1564: Concílio de Trento adapta a Igreja Católica à era pós-Reforma 1546: Campos Tourinho, donatário de Porto Seguro, é preso como herege e sacrílego 1547; Ataque dos Tupinambá a Sto. Amaro 1547: Ivan IV, oTerrível, proclama-se 1® tzar (césar) da Rússia 1548: A Coroa compra a capitania da BA 7/1/1549: Tomé de Sousa, a mando de Joáo III, instala na BA o 1® governo geral do Brasil 1V11/1549: Fundação de Salvador, 1* cidade do Brasil 1549: o jesuíta Francisco Xavier chega ao Japão 1549: Chegada ao Brasil dos seis 1“ jesuítas (pe. Manoel da Nóbrega) 1550: Lote de negros da Guiné chega à BA 1550: O pe. Nóbrega pede ao rei que envie mulheres, “até meretrizes", ao Brasil 1550: Chegam à BA, de Cabo Verde, as 1" cabeças de gado 1551: Construção da Casa da Torre, o castelo dos Garcia D'Avila na BA 1551: 1“ mulheres brancas (3 óriãs) no Brasil 1551: Criada a Universidade de S. Marcos, Peru 1552: João Ramalho, capitão-mor de SP 1553: Duarte da Costa, governador-geral 1553: Fundação de Sto. André da Borda do Campo, 1* vila brasileira longe da costa 1553: Criada a Província Jesuíta do Brasil 1553: Tomé de Sousa permite escravidão indígena em caso de “guerra justa" 1SS3: Executado Miguel Servet, médico e teólogo espanhol, descobridor da circulação sangüínea 1553: Anchieta chega ao Brasil 25/1/1554: Jesuítas fundam o colégio e povoado de S. Paulo de Piratininga 1554: 1® livro escrito no Brasil, Diálogos Sobro a Conversão dos Gentios (Nóbrega) 1554: Jesuítas espanhóis fundam o povoado de Ontiveros (atual PR) 1554: Espanhóis fundam a Cidade Real do Guairá (h. Guaíra, PR) 1555: Villegaignon funda a França Antártida, na Guanabara, RJ 1556: Juan de Salazar leva as 1“ cabeças de gado à bacia Platina ("Vaca do Gaeta") 1556: Naufraga a nau N. S* da Ajuda: os Caetés (AL) matam e devoram d. Fernando Sardinha, 1“ bispo do Brasil 1556: Filipe II, rei da Espanha 1557: Sebastião I, rei de Portugal (aos 3 anos): Catarina da Áustria, regente 1557: o alemão Hans Staden publica llvro sobre seu cativeiro pelos Tupinambá do RJ 1557; Mem de Sá, governador-geral 1558: Nóbrega autoriza as 1“ reduções jesuítas 19 Cronologia 2.4 ESCRAVIDAO NEGRA / TRAFICO / QUILOMBOS 1558; Sâo Paulo ganha foro de vila 1558; Fernão de Sá combate com 200 homens os indígenas do ES 1559: Carta régia facilita o tráfico de escravos para o Brasil 1559: Armada portuguesa combate a França Antártida na Guanabara. RJ 1559; A Espanha vence a França e afirma sua hegemonia 1559: Os espanhóis Pedro de Ursua e Lope de Aguirre descem o Amazonas 1560: Fundação da Santa Casa de Olinda 1560; Extinção do povoado de Sto. André 1560; “Guerra justa" dizima os Caeté, PE 1560: Mem de Sá extermina os Tupinikim de Ilhéus 1560: SP descobre ouro de lavagem 1560: 1* vitória sobre os franceses no RJ 1562: “Guerra justa" contra os Caeté, BA 1562: Ataque Tupinikim a S. Paulo; início da Guerra dos Tamoios (SP, RJ) 1562; Início das guerras religiosas na França 1562-1563; Epidemia de varíola na BA; 70 mil mortos, sobretudo entre os Caeté 1562: Cardeal d. Henrique, regente de Portugal 1563: 2’ ataque luso aos franceses no RJ 1563; Paz de iperoig com os Tamoio 1564: Alvará régio cria a redízima, que carreia grandes recursos para os jesuítas 1V3/1565: Estácio de Sá funda a cidade do Rio de Janeiro 1566-1609; Guerra de Independência dos Países Baixos (Holanda) contra a Espanha 20/1/1567; Batalha de Uruçumirim; derrota final dos Tamoio 1567: Criação da capitania real do RJ 1568: Maioridade do rei Sebastião I (aos 14 anos) 1569: Peste Grande mata 60 mil em Lisboa 1569; Proibida a indústria têxtil na América espanhola 1570; 1 • lel portuguesa proibindo a escravidão indígena (exceto dos Aimoré) 1570: Anchieta encena 1“ teatro no Brasil 1571: Delido o avanço furco-otomano na Europa 1571; Decreto real proíbe o transporle para o Brasil por naus não portuguesas 24/8/1572: Milhares de protestantes franceses massacrados na Noite de S. Bartolomeu 1572-1577; Efêmera divisão do Brasil em 2 governos com sedes em Salvador e RJ 1572: Camões conclui Os Lusíadas 1573: Brito de Almeida, governador (BA) 1574; Sebastião I invade o Marrocos 1574; Brás Cubas anuncia que achou ouro em SP 1574: Antonio Salerma. governador (RJ) 1575; Chacina de remanescentes franceses e Tamoio em Cabo Frio, RJ 1575; Expedição contra os Potiguara, PB 1575:1* engenho em AL (Porlo Calvo) 1576: Espanhóis fundam Vila Rica do Espirito Santo (atual Guairá, PR) 1576: Monopólio real sobre o sal 1576; Pero de Magalhães Gândavo publica em Lisboa o Tratado da Terra do Brasil 1578: Lourenço da Veiga, governador-geral 1578; Derrota lusitana em Alcácer-Quibir; desaparecimento de Sebastião I; o cardeal d. Henrique, rei de Portugal 1578: O corsário inglês Francis Drake extrai pau-brasil no MA 1578: O francês Jean de Léry escreve História de uma Viagem da Terra do Brasil 20 ■ 0 escravismo colonial das Américas tem no Brasil seu modelo. Na Europa, acumula capital para a revolução burguesa. Na África, trunca, pewerte o desenvolvimento e trava por 3 séculos o aumento demográfico. Distinto do escravismo antigo, patriarcal, é o único sistema produtivo incapaz de reproduzir a mão-de-obra; depende do tráfico. Sua marca é o trabalho forçado até a morte por estafa. Portugal escraviza mouros na Idade ti^édia: Gil Eanes [1.2] traz a 1* leva de cativos da Guiné (1441). Na África da época há esaavidão patriarcal e algum tráfico, com o mundo árabe: o desenvolvimento é desigual (sociedades primitivas, patriarcais e avançadas): supera a Europa em áreas da metalurgia; Timtxictu tem universidade (1450) antes de Coimbra. ■ 0 tráfico negreiro envolve recursos só superados pelo açúcar. Liderado por Portugal e, no século 18, In glaterra [4.6], utiliza asientos, grandes contratos, finan ciados por comerciantes, banqueiros, nobres, ordens religiosas, monarcas. 0 pumbeiro (traficante) penetra até 0 pumbo (mercado tocai) e troca sal, armas, ferro, panos e trigo, fumo, açúcar, cachaça e búzios por cati vos. No porto (Luanda, Benguela, Ajudá, Congo), o navio pumbeiro (negreiro) embarca 200-500 fôlegos vivos no porão. 15% a 20% morrem na viagem de pestes, escor buto, suicídio, banzo. No Recife. Salvador, Rio, os cati vos são vendidos: a unidade de venda é a peça da índia (= 1 negro sadio). 0 tráfico para o Brasil vai de data in certa (1532?) a 1850 (4.6). Traz no total 3-3,6 milhões (S. Buarque, R. Simonsen, A. Taunay), 4,8-8 milhões (R. Mendonça, C. Prado Jr., P Calmon), 12-15 milhões (Ca- lógeras, R. Pombo). Os cativos pertencem a 2 grandes gnjpos; bantos (sobretudo de Angola): e oeste-africanos (Costa da Mina). ■ 0 eito na lavoura é a sina da maioria: jornada de tra balho, 12-18 horas; expectativa de vida. 10-15 anos; aloja mento na senzala, dieta de farinha, feijão, aipim, às vezes melaço, peixe, charque. Um negro se paga em 2,5 anos no engenho. 1 ano no cafá. Nas minas [2.8], o tempo de vida cai para 7 anos. A escravidão doméstica tem traços patri arcais. No século 19 aumenta o n* de negros de aluguel e de ganho (que vão do artesão à prostituta e ao mendigo). Muita família modesta vive da renda de 1-2 escravos. 0 sistema avilta lodo trabalho e atinge ofícios qualificados (marceneiro, pedreiro, calceteiro, impressor ourives, joa lheiro. lüógrafo, alfaiate, sapateiro, barbeiro, curtidor, fer reiro. pintor, escultor). ■ Lei e sociedade tratam o escravo como coisa: ele pode ser vendido, alugado, emprestado, herdado, hipo tecado. Há 4 vezes mais escravos que escravas. É comum 0 senhor engravidar uma negra e escravizar ou vender o filho (5.7). Há uma hierarquia entre o cativo boçal (recém-vindo da África), ladino (já aclimatado, fa lando português) e crioulo (nascido no Brasil); entre ne gros e pardos ou mulatos (termo ofensivo derivado de mula, híbrido). Negros e mestiços forros (libertos) não lèm todos os direitos dos brancos. ■ A justificativa do sistema é religiosa: o negro des cenderia de Cã, filho maldito de Noé; o cativeiro seria a chance de expiar seu pecado, resgatar-se e alcançar a salvação. A Igreja endossa e pratica a escravidão negra. Seguem-se (século 19) a suposta teoria científica da superioridade racial européia (Gobineau) e a do escravis mo benevolente (apoiada nos traços patriarcais da es cravidão doméstica). ■ Os castigos indicam a carga conflituosa do escravis mo brasileiro. Usa-se correntes, algemas, gonilha ou gar galheira (coleira de metal); peia, viramundo (grilhão) e tronco (Imobiliza punhos e pés) para captura e con tenção. Máscara, anjinho (anel de ferro que mutila o dedo), palmatória, chibata (bacalhau) para suplício; a lei (1808) prevê até 300 chibatadas/dia (600 para o reinci dente). No eito, chibatadas gratuitas, para dissuasão. Marca com ferro em brasa (em geral as iniciais do se nhor) para aviltamento. A Coroa cria (1741) a pena de marcar um F nas costas do fujão; o reincidente perde a orelha; o govemador de MG sugere (1718) a amputação de uma perna e a Câmara de Mariana (1755), o corte do tendão de Aquiles. A lei não pemiite ao senhor matar seu escravo, mas o direito consuetudinário sim, ■ A luta dos escravos marca o Brasil em nível só superado no Haiti. Forma principal: a quilombagem: fuga e formação de comunidades livres. 0 nome quimbundo quilombo, em uso no século 18 (antes, mocambo), desig na a união de 5 ou mais fugitivos. Há milhares deles, do AM ao RS (e na Colômbia, Cuba, Haiti, Jamaica, Peru, Guianas). Formam toda uma periferia liberta da socie dade. Vivem da agricultura, às vezes garimpo, comércio, saques. SE tem 300 anos de guenilha quilombola en dêmica e invicta. Na BA. há mocambos até dentro da capital (Cabula, N. S* dos Mares, Buraco do Tatu). Com 0 ouro e o afluxo de escravos, surgem em MG enormes redutos; o do Ambrósio tem 12 mil habitantes, cria gado, fabrica açúcar, cachaça, farinha, azeite. No RJ o quilom bo (destniído com ajuda de Caxias) de Manoel Congo (enforcado em 1839) se apóia numa sociedade secreta. Em Santos, SP surge o grande quilombo do Jabaquara [5.7], em conexão com os abolicionistas. ■ A ordem escravista declara guerra aos quilombos. Cria (século 17) a força annada especial dos capitães-de- mato, emprega tropas de índios e bandeirantes. Um deles, B. Bueno do Prado, traz do rio das Mortes (1751) 3.900 pares de orelhas, como prova de seu feito. ■ Palmares, ou Angolajanga (pequena Angola) é o quilombo mais populoso, duradouro, presente no imagi nário popular. Fica entre Garanhuns (PE) e Viçosa (AL) atuais, em área acidentada, de mata, ten-a boa e caça. Nasce com 40 negros da Guiné fugidos de Porto Calvo em 1630 (ou no século 16?). Com a invasão holandesa, cresce rápido, em fugas coletivas; tem 6 mil negros em 1643,20-30 mil em 1677 (Salvador, 15 mil habs.. Recife 10 mil); inclui brancos e índios. A sociedade mescla tradições bantos, sincretismos brasileiros e exigências militares. Planta e irriga milho, feijão, mandioca, banana (pacova), cana: come melhor que a população colonial. A terra é coletiva mas cada casa tem uma gleba. Artesanato (tecelagem, cerâmica, metalurgia). Comér cio com mascates (compra armas e pólvora). Bando leirismo, rapto de mulheres, escravização dos negros trazidos à força. Confederação de 11 mocambos (al deias) maiores, capital Macaco (1.500 casas); área de 27 mil km'. Esboço de Estado calcado no modelo africano: o conselho de chefes de mocambo, fórum má ximo, elege Ganga-Zumba rei, por mérito de guerra. Sincretismo na religião e no dialeto dos Palmares, mis tura de banto. português e tupi. Intensa formação guer reira; paliçadas, fossos com estrepes, fabrico de armas, força amiada permanente sob comando de Ganga Muiça, instrução militar. Enfrenta 16 (25?) expedições inimigas entre 1645-1695, sendo 2 holandesas. A de Femão Carrilho (1677) destrói mocambos, mata Ganga Muiça, filhos e netos de Ganga-Zumba. Este, ferido, aceita um ultimato português e envia a Recife 3 filhos. 0 acordo de paz (1678) é recusado em Lisboa e em Macaco; Ganga-Zumba é executado. ■ Zumbi, “ negro de singular valor, grande ânimo e constância rara”, sobe à chefia; nascido quilombola, cria do pelo pe. A. Melo, com 15 anos foge para Palmares. Os paulistas de Jorge Velho [2.2] retomam a guerra (1687). 0 último ataque (1694-1697) toma o Macaco após 22 dias de cerco. Zumbi escapa, passa à guerrilha, mas é tocaiado, morto (20/11/1695) e mutilado (colocam seu pênis dentro da boca; a cabeça, salgada, é exibida no Recife). Adquire status de herói, sob pressão do movi mento negro em 95 [13.13]. ■ Outras formas de resistência: levantes organizados (BA, 1807-1835 [4.3]); participação em movimentos liber tários como a Revolta dos Alfaiates [2.11], Balaiada [4.2). Campanha Abolicionista [5.7]. Q uilom b<^ insertsições Desembarque de escravos no Brasil (média anual, em milhares) 21 Cronologia 1579: 1“ beneditinos chegam a Salvador 1580: União das coroas ibéricas sob a dinastia de Castela; o Brasil passa a ser domínio espanhol 1580: Filipe I (II de Espanha), rei de Portugal 1580: Inicio do ciclo bandeirante paulista 1580: 0 espanhol Melgarejo funda Santiago de Xerez. MS 1581: Junta interina no govemo geral 1581: Jerônlmo Leitão retorna do Guairá com índios escravizados 1581:1“ convento dos beneditinos, BA 1582: Esquadra espanhola de Flores Valdez no RJ 1582; O papa Gregório XIII reforma o calendário 1583: Manuel Telles Barreto, governador-gerai 1583: S. Cori-eia de Sá, gov. do RJ, assina com J. G. Valério 1« assento de compra de cativos negros 1B84:1= convento carmelita, Olinda, PE 1585-1591; 1® grande bandeira de caça ao índio; Jerônlmo Leitão destrói 300 aldeias no sertão dos Carijó 1585; Fundação da cidade de Fllipéla (hoje João Pessoa) e da Capitania Real da PB, tomada aos índios e franceses 1585: 1 ' convento franciscano em Olinda, PE 1586-1588: Viagem de circunavegação do corsário inglês Thomas Cavendish 1587; Junta interina no governo geral 1587; Nova lei reafinna que escravidão indígena só om caso de “guerra justa" 1587; Gabriel Soares de Sousa narra no Tratado Descritivo do Brasil sua viagem pelo S. Fremcisco 28/7/1588: Ingleses e temporal liquidam a “Invencível Annada” espanhola 1588: Cristóvão de Barros toma dos índios a costa ao sul do r. S. Francisco 1589; Capitania régia de Sergipe dei Rei; fundação da vila do S. Cristóvão 1590: 1° achado (e modesto) de ouro, nas serras de Jaraguá e Jaguamlmbaba, ao norte de SP 1591: O corsário inglês Cavendish saqueia Santos e Incendela engenhos em S. Vicente 1591: Francisco de Sousa, governador-geral 1591-1595; 1* visitação da Inquisição, na BA 1592; Bandeira de Sebastião Marinho, GO 1592: Bandeira de A. Sardinha caça índios no r. Grande, SP 1592: Entrada de Gabriel Soares de Sousa sobe 0 rio Paraguaçu, BA 1593; Expulsão dos jesuítas da PB 1594; Bandeira de Jorge Correia ataca índios em Mogi, SP 1594: Começa a colonização francesa no MA 1594:1“ frades capuchinhos, MA, e beneditinos, RJ, BA, PE 1595; Shakespeare escreve Romeu e Juliela 1595; O inglês J. Lancaster ocupa Recife 1595: Nova lel reafirma que escravidão Indígena só em caso de "guerra justa” 1595; Entrada de Belchior Dias Moréia sobe o rio Itapicuru, SE 1595; Bandeira de Sebastião de Freitas percorre 0 interior de S. Vicente 1595: Anchiota oscrovo gramática tupi 1595: 1" notícias de mocambos (quilombos) na região de Palmares 1596: Expulsão dos franciscanos da PB 1596: 1“ feitorias inglesas e holandesas na Amazônia 1596: Entrada de J. Botafogo pelo rio Paraíba 1596; Entrada capixaba de Diogo Martins Cão pelos rios Jequitinhonha e Doce 1596: Bandeiras paulistas chegam a MG 1596; Bandeira de Dominaos Rodríques pelo rio s. Francisco até GO 22 ■ Portugal sob os Habsburgos (1580-1640 '1.2|). 0 império espanhol, que agora indui Portugal, é o malor do mtjndo, mas atrasado e frágil. Com o desastre da Inven cível Armada (1588), decai. Listioa resiste à política cen tralista de Madri (‘anos de cativeiro'). Motins populares (Porto 1628-1634, Santarém 1629, Évora 1637) preparam a Restauração de 1640. ■ A Holanda (Países Baixos) lidera, com a Inglaterra, a mutação burguesa que deixa a Espanha para trás: é urbana, manufatureira, livre de travas feudais, rica (me tade do comércio mundial), culta, protestante. Domi nada pela Espanha (1551), declara-se república inde pendente (1581) e combate Madri até 1648 (com uma trégua em 1609-1621). A Invasão do Brasil é parte da sua Guerra de Independência, travada também na Europa, Ásia e África. ■ No nível econômico essa Guerra do Açiícar visa dominar o item n® 1 do comércio mundial. A Holanda comercia açúcar do Brasil desde 1540. Quando este toma-se domínio do inimigo Habsburgo, ela passa a ataques corsários. Finda a trégua de 1609, nasce a Cia. das indias Ocidentais (West Indische Compagnie, WIC), com poder para criar colônias, erguer fortes, nomear autoridades, assinar tratados. ■ A expedição a Salvador (1624-1625) penetra com 26 naus, 509 canhões. 1.600 marujos e 1.700 soldados pela larga boca (9 km) da bala de Todos os Santos, que os ca nhões de Sto. /^tonlo e Itapagipe não cobrem. Só há luta na casa do govemador, preso. A população foge para além do r. Vemtelho, indea govemador o bispo Marcos Teixeira, mobiliza 2 mil guerrilheiros e cerca o
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