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INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA DE DEPENDENTE QUÍMICO

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS
Bacharelado em Direito
Psicologia Jurídica
Profº: Rosival Barbosa Lagares
AED: Internação Compulsória de dependente químico
Ariana Rocha da Silva Lira
Bruno Ferreira de Souza Camelo
Náhgela Alves Castro
Neura Saloméa dos Santos Porto
B02
Goiânia
Junho/2017
INTRODUÇÃO
O presente trabalho objetiva elucidar intrínsecas análises sobre a internação compulsória e seus limites previstos em lei, bem como as atuações remotas e recentes que afloram as vítimas deste drama.
 Serão elencadas questões que foram alvo de debates nacionais e internacionais nos últimos meses, sendo advindos do resultado de articulações entre o Poder Judiciário e o Ministério Público juntamente com prefeitura de São Paulo, cidade na qual foi vinculada na mídia como sendo palco da cracolândia e que diante de seres humanos em profunda degradação física e psicológica causadas por substâncias psicotrópicas, conhecidas popularmente como drogas.
 Diante de tais fatores, as mencionadas autoridades projetaram a internação involuntária de moradores de rua. A medida gerou polêmicas e reflexões acerca de diversidades de opiniões e mais estudo sobre o tema abordado, inclusive, levando em consideração a divergência da jurisprudência com atitudes obtidas na prática cotidiana acerca da internação impositiva.
Este estudo tem como foco analisar a medida de internação compulsória, especificamente sob os aspectos do Código Civil, Estatuto da Pessoa com Deficiência, Lei Delgado e a subjetividade de cada integrante do grupo que compõe esse trabalho. Pois a cada dia que avança são tomadas novas proporções e a partir daí torna-se possível desenvolver novas teorias e comparar as conceituais já existentes, que de maneira geral é analisar a eficácia dos artigos e juridicamente a possibilidade da internação compulsória como meio de tratamento sem violar os direitos constitucionais sobre o direito à vida, liberdade e obediência ao princípio da dignidade da pessoa humana, esclarecendo pontos controversos.
INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA DE DEPENDENTE QUÍMICO
A luz do Código Civil:
A internação compulsória de farmacodependentes é aquela que se dá sem que haja solicitação. Não há necessidade de autorização familiar para que se realize. Deverá ser determinada por juiz competente após apresentação de laudo médico.
Este tipo de internação está presente em nosso ordenamento jurídico desde 2001 na Lei 10.216 que dispõe a cerca da proteção dos direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais. A internação compulsória está prevista no artigo 9º da referida lei:
“Art. 9o A internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação vigente, pelo juiz competente, que levará em conta as condições de segurança do estabelecimento, quanto à salvaguarda do paciente, dos demais internados e funcionários.”
Nesse aspecto, pode-se observar que o fundamento da internação compulsória reside no fato de o dependente de substâncias ilícitas ser considerado incapaz.
A internação compulsória possui fundamento também nos artigos 1.767, III e 1.777 do Código Civil:
Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela:
III - os deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos;
Art. 1.777. Os interditos referidos nos incisos I, III e IV do art. 1.767 serão recolhidos em estabelecimentos adequados, quando não se adaptarem ao convívio doméstico.
Apesar de já estar prevista desde 2001 e de já ser utilizada em alguns casos, foi em janeiro de 2013 que o tema tomou maior destaque. Isso porque o Estado de São Paulo passou a adotar medidas que objetivam melhorar e tornar mais célere o procedimento da internação compulsória.
Cabe ressaltar, que a internação compulsória deverá ser aplicada em caráter excepcional, razão pela qual é imprescindível apresentação de laudo médico confirmando a necessidade.
Muito se discute a respeito da constitucionalidade da Internação Compulsória. Isso porque esse tipo de internação violaria direitos fundamentais prescritos na Constituição Federal de 1988:
“Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:”
Não há dúvidas de que a Internação Compulsória limita o direito a liberdade do usuário. Portanto, deveria estar prevista expressamente na Constituição Federal, o que não ocorre. Não encontramos qualquer disposição a seu respeito no texto constitucional.
Além de ser medida que limita a liberdade do usuário, suprime ainda a vontade deste, visto que em nenhum momento há o consentimento. Por essa razão, muitos especialistas acreditam ser uma medida antidemocrática.
A Internação Compulsória foi inserida em nosso ordenamento jurídico através de Lei Federal, a Lei nº 10.216/2001. Apesar de não estar autorizada constitucionalmente, seria justificada na medida em que o usuário pode colocar em risco direito fundamental seu ou de terceiro.
Vale ressaltar que para aceitar-se a existência do procedimento da Internação Compulsória, esta deverá ser regida pelo Princípio do Devido Processo Legal, expresso na Constituição Federal no artigo 5º, LIV:
“LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;”
De acordo com Paulo Fernando Silveira (SILVEIRA, 2011) para a substantiva ocorrência do Devido Processo Legal a “lei deve ser encarada pela sua concepção negativa, ou seja, no sentido de que o governo não pode interferir em determinadas áreas sensíveis do direito, notadamente no que concerne aos direitos fundamentais, sem a comprovação prévia, real e concreta, da existência de um sobrepujante interesse público, que o compele, coativamente, a agir, restringindo direitos, sem, contudo, os anular completamente”.
O Código Civil considera os dependentes químicos relativamente incapazes no cumprimento dos atos da vida civil, assim eles devem ser assistidos por um representante legal, um tutor ou algo do gênero. Assim se observa que o dependente químico não tem qualquer condição de responder pelos atos por ele feitos, uma vez que o próprio ordenamento jurídico o considera relativamente incapaz, colaborando para tese apresentada. Tal ponto é elencado apenas para corroborar a tese de que o dependente químico não pode responder por seus atos por não possuir o discernimento necessário, assim se faz necessária a intervenção familiar ou estatal, afim de que este possa receber o tratamento necessário para sua desintoxicação e reinserção efetiva na sociedade brasileira, resgatando a sua dignidade, direito fundamental inerente ao ser humano e consagrado na Carta Constitucional.
Lembrando sempre, que na letra do Código Civil o dependente químico é considerado relativamente incapaz, dessa forma, uma vez comprovada essa dependência, o indivíduo não se torna mais apto a tomar decisões da vida civil.
A pessoa com deficiência e a internação compulsória
Conhecido como Princípio da legalidade, o teor do inciso II, do art. 5ºda Constituição Federal, nos diz que, “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.
Todavia, a internação compulsória surge no ordenamento jurídico como medida excepcional aos casos de internação voluntária, prevista na lei federal nº. 10.216/01 a internação compulsória somente é autorizada pelo Poder Judiciário, com a emissão de laudo médico, o qual conste as razões que ensejam a internação psiquiátrica compulsória, bem como analise acerca das condições de segurança do estabelecimento, quanto à salvaguarda do paciente, bem como dos demais internados e funcionários, se não vejamos:
“Art.6o - A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico circunstanciado que caracterize os seus motivos.
Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica:
III - internação compulsória:aquela determinada pela Justiça.”
“Art.9º -  A internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação vigente, pelo juiz competente, que levará em conta as condições de segurança do estabelecimento, quanto à salvaguarda do paciente, dos demais internados e funcionários.”
A pessoa com deficiência consoante a dicção do art. 2º, da Lei n° 13.146/15, é aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade com as demais pessoas. Em virtude de sua vulnerabilidade, o Estado é o responsável em prestar a pessoa com deficiência proteção e segurança, garantindo-lhe dignidade para toda a vida. 
Neste sentido, o Estado dispôs em legislação que a pessoa com deficiência não poderá ser obrigada a se submeter a intervenção clínica ou cirúrgica, a tratamento ou a institucionalização forçada.
“Art. 4o A internação, em qualquer de suas modalidades, só será indicada quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes.”
Percebe-se, portanto, que a lei 13.146/15 – Estatuto da Pessoa com Deficiência, busca garantir aos portadores de deficiência igualdade entre todos, assim como conceder a essas pessoas prerrogativas, a fim de que possam estar em nível de igualdade com as demais pessoas. 
No mesmo sentido, a lei 10.216/01 trata da proteção e dos direitos inerentes às pessoas portadoras de transtornos mentais, bem como redireciona o modelo assistencial em saúde mental, dispondo as medidas a serem adotadas pelo Estado em casos onde a instituição hospitalar bem como os familiares não pode auxiliar. 
“Art. 3o É responsabilidade do Estado o desenvolvimento da política de saúde mental, a assistência e a promoção de ações de saúde aos portadores de transtornos mentais, com a devida participação da sociedade e da família, a qual será prestada em estabelecimento de saúde mental, assim entendidas as instituições ou unidades que ofereçam assistência em saúde aos portadores de transtornos mentais.”
Diante de todo o exposto, vê-se que a internação compulsória de fato, é a medida mais gravosa a ser adotada em determinados casos, haja vista infringir de forma direta os direitos constitucionais previstos ao paciente, 
Por outro lado em muitos casos a internação compulsória, é a única medida capaz de resguardar o bem mais importante no ordenamento jurídico, a vida.
Além do que a internação compulsória é a última opção elencada pela equipe medica, bem como pelo Poder Público, sendo concedida somente por meio de autorização judicial, impulsionada por laudo médico que especifique as razões pelas quais é necessária sua aplicação e por fim após avaliação do estabelecimento hospitalar onde será o paciente encaminhado. 
Lei Paulo Delgado (Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001)
A Lei 10.216/01, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtorno mental, estabelece três tipos de internação em seu art. 6º: 1) voluntária, realizada com o consentimento do usuário; 2) involuntária, realizada sem o consentimento do usuário, a pedido de terceiro; nesse caso, o responsável técnico do estabelecimento onde ocorreu a internação deve comunicar o Ministério Público Estadual em 72 horas, tanto na entrada como na saída do paciente;  3) compulsória, determinada pela Justiça.
O que é a internação compulsória?
A internação compulsória é aquela determinada pela Justiça diante da falha dos meios de tratamento alternativos e com um laudo médico que prescreva tal tipo de tratamento, desde que inexista um familiar que possa se responsabilizar pelo dependente químico. Com isso, a internação compulsória deve ser tratada como exceção da exceção, visto que a prioridade é pelo tratamento voluntário e em meio aberto.
Ainda que haja um laudo que determine a internação, ela deve ocorrer no menor tempo possível, de acordo com a necessidade, e a família deve ser procurada até mesmo como forma de responsabilizar-se pelo pós-internação e participar de todas as etapas do tratamento.
A internação compulsória deve ser vista sempre como última medida, dentro de um projeto terapêutico singular, ou seja, deve haver um acompanhamento anterior, em que o médico constatou a necessidade de internar a pessoa e não há familiares que poderiam solicitar tal medida, sempre com vistas a proteger o paciente e terceiros. O grande problema é que como tal determinação é sempre judicial, a alta geralmente é condicionada a outra ordem judicial, o que gera demora, às vezes de semanas, para a alta efetiva mesmo quando o dependente já teve alta médica.
Quem pode solicitar a internação compulsória?
A equipe médica pode encaminhar o pedido para o Ministério Público, que tem como missão juntar provas sobre as falhas do tratamento em ambulatório e justificar que tal medida, excepcionalíssima, faz sentido dentro do projeto terapêutico singular em curso. Isso, novamente, se não houver familiares que se responsabilizem pelo dependente.
De quanto tempo deve ser a internação?
 Varia de caso a caso, mas deve acontecer dentro do período indicado como necessário pelo laudo médico circunstanciado e mediante avaliação periódica do tratamento.  No curso da internação compulsória, o tratamento pode ser convertido em voluntário (caso a pessoa aceite) ou involuntário, caso a família seja encontrada.
Quem deve fazer a abordagem do dependente químico?
A abordagem deve ser realizada por uma equipe multidisciplinar, que envolve assistentes sociais, psicólogos e médicos. Isso é fundamental para criar vínculos de confiança e restabelecer a dignidade do dependente, o que envolve encaminhamentos da área da assistência social, como local para comer, dormir, e até mesmo tratamento de problemas de saúde.
A PM deve participar da abordagem dos dependentes químicos?
Não. Além de não estar entre as atribuições da Polícia Militar, o uso de drogas é um problema da área da saúde, o que pressupõe uma relação de confiança e não de intimidação.
6. Caso o dependente reaja à internação, o que deve ser feito?
Vai depender do caso. É necessário diferenciar uma situação de emergência médica, quando há risco de morte envolvido, quando o dependente deve ser atendido de imediato. No entanto, uma vez estabilizado, é necessário garantir todo o caminho para que ele seja convencido da necessidade do tratamento. Até porque, uma medida imposta à força, sem qualquer retaguarda familiar, tem grandes chances de ser inócua.
Para onde a pessoa internada é levada?
A atenção às pessoas em crise, deve se dar nos CAPS III (Centro de Atendimento Psicossocial), dotados de leitos de retaguarda para o enfrentamento da urgência ou no Pronto Socorro Geral em articulação com a rede SAMU 192, sendo que em municípios que não tenham estes dispositivos, os serviços de emergência de Hospitais Gerais devem existir para situações de crise.
8. Quais os efeitos de uma internação compulsória?
A restrição de liberdade, como regra, gera o adoecimento e não a cura, já que a liberdade é importante instrumento terapêutico. A internação compulsória deve ser o último recurso, excepcional e breve, uma vez que o tratamento deve sempre visar, como finalidade permanente, a reinserção do paciente em seu meio.
9. O que é a política de redução de danos?
A política de redução de danos é aquela que não tem a abstinência como meta prioritária. Visa reduzir o consumo de drogas, priorizando o combate de várias vulnerabilidades (falta de moradia, educação, outras enfermidades), com vistas a superar o uso problemático de drogas. O certo é existir uma política multiportas, de modo que cada caso tenha uma resposta adequada, ou seja, a singularidade deve ser o eixo de uma política de enfrentamento ao uso abusivo de drogas.
A redução de danos é prevista em lei e deve ser tratada como uma das ferramentas para a superação do uso problemático de drogas. A Portaria 1.028/2005 do Ministério da Saúde, por exemplo, dispõe sobre as ações que visam à redução de danos sociais e à saúde, decorrentesdo uso de produtos, substâncias ou drogas que causem dependência.
10. Qual o papel da Defensoria Pública nesses casos?
A Defensoria prioriza que o poder público reforce sua rede de atenção psicossocial para que as pessoas com transtorno mental façam tratamento em meio aberto. Para isso, não ajuíza ações de internação compulsória, mas sim de obrigação de fornecer o serviço adequado de saúde, conforme prescrição médica.
A Defensoria também monitora denúncias de violações ocorridas em Clínicas e Comunidades Terapêuticas, eventualmente realizando inspeções e até mesmo ajuizando ações civis públicas para o fechamento ou adequação de tais locais, a depender das irregularidades constatadas.
Desumanização na Cracolândia: reflexões jurídico-políticas sobre a internação compulsória
Durou pouco a tentativa autoritária de obter autorização da justiça para apreender pessoas na região da “Cracolândia” com o objetivo de realizar uma avaliação individual sobre a possibilidade de internação compulsória. 
No dia 30 de maio, o Desembargador Borelli Thomaz julgou extinto o processo em que a Procuradoria do Município de São Paulo formulou o pedido, pois na ação civil pública original se discutia a atuação da Policia Militar na operação “Dor e Sofrimento” de 2012 e a prefeitura não tinha legitimidade para estar no processo, nem mesmo como “amicus curiae”.
A questão acabou se resolvendo por meio de incidentes processuais, mas algumas temeridades nos âmbitos jurídicos e político não podem deixar de ser apontadas, para evitar que sejam repetidas ou consideradas como medidas normais.
Uma delas foi a utilização de estratégia jurídica da Procuradoria que, ao invés de ingressar no Judiciário com ação própria para discutir o complexo problema, fez um pedido incidental em outro processo no qual já contava com simpatia política do magistrado, como bem apontou a matéria “Estratégia de Doria direcionou ação da cracolândia para um juiz linha-dura” da Folha de São Paulo, que descreve a felicidade do magistrado em receber o processo em suas mãos por causa de seu “histórico de combate às drogas”.
A politização do Judiciário tem assumido níveis alarmantes nos últimos anos, desvirtuando o Estado Democrático de Direito sempre que, por meio de posições morais, um magistrado autoriza o descumprimento da lei e da Constituição para alcançar um objetivo considerado por ele próprio como correto, assim como foi o caso da liminar concedida no último dia 26 de maio, que autorizou a prefeitura a recolher “pessoas em estado de drogadição”.
Essa permissão genérica ataca de maneira frontal um dos aspectos mais relevantes da Dignidade da Pessoa Humana: a autonomia. A possibilidade de internação compulsória é prevista na Lei Antimanicomial (lei 10.216/01) em casos extremos e com laudo médico. Consentir que a prefeitura apreenda pessoas como se fossem objetos sem vontade própria, para analisar posteriormente se há possibilidade de internação compulsória contradiz princípios basilares da Constituição da República, bem como mandamentos definitivos como aquele que proíbe o tratamento desumano (art. 5º, III, CR).
Quais seriam os critérios para considerar que uma pessoa estava em estado de “drogadição”? Quem realizaria essa análise? Como os eventuais abusos seriam coibidos? Esses são apenas alguns questionamentos que deveriam ter sido respondidos antes da concessão da liminar.
Não é possível alegar nem mesmo que há uma colisão de princípios no caso concreto e aplicar a proporcionalidade para decidir, pois o direito à saúde não pode ser invocado de maneira genérica para limitar a autonomia das pessoas, sem uma real comprovação de que elas se enquadrariam nas hipóteses legais da internação compulsória.
Com essa liminar, bastaria apenas que o funcionário da prefeitura alegasse que determinada pessoa estava em “estado de drogadição” para suspender os seus direitos fundamentais. Uma medida típica de Estado de exceção.
Se do ponto de vista jurídico as medidas utilizadas pela prefeitura foram inconstitucionais, não menos graves são da concepção da própria política pública municipal sobre drogas, que vai na contramão das principais vozes e referências internacionais sobre o assunto, representando um significativo retrocesso em relação ao que vinha sendo implementado até então pelo Programa de Braços Abertos, extinto pela atual gestão.
Criado em 2014 pela antiga gestão da Prefeitura de São Paulo, o Programa de Braços Abertos deu um passo significante em direção à implementação de uma política de redução de danos no município. Pela primeira vez foi estruturado na região da Luz um programa que buscasse atender esses usuários de forma mais integral, envolvendo a atuação de diferentes pastas da administração municipal no território (notadamente trabalho, saúde, assistência social, segurança urbana e direitos humanos).
Um programa que, apesar de suas limitações, vinha sendo aprimorado, a partir, inclusive, de trocas de experiências com as cidades de Vancouver e Amsterdam. Segundo pesquisa divulgada pela Plataforma Brasileira de Políticas de Drogas, 65% dos usuários beneficiários do Programa relataram ter reduzido o consumo de crack.
Organizações internacionais, especialistas e experiências de governos locais de outros países reforçam a idéia de que a internação compulsória não deve ser o caminho escolhido para atenuar o uso problemático de substâncias psicoativas.
Em 2012, doze agências das Nações Unidas – entre elas a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Escritório das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (UNODC) e Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAids) – firmaram uma declaração conjunta fazendo um apelo aos estados-membros da ONU pelo fechamento de Centros de Detenção e Reabilitação Compulsória. Segundo o documento, no lugar da internação compulsória seria recomendado implementar serviços sociais e de saúde comunitários baseados na garantia de direitos. Organizações internacionais relevantes como a Human Rights Watch e a Open Society Foundations também se juntaram à campanha pelo fechamento de centros de internação compulsória, afirmando que em alguns países esses centros são, na verdade, centros de tortura, e não de tratamento.
Em abril de 2016, foi realizada Sessão Especial da Assembléia Geral da ONU (UNGASS) sobre drogas com a aprovação de uma resolução pelos chefes de estado e governo que incluiu previsão sobre a participação voluntária e com consentimento informado de usuários de drogas em programas de tratamento.
No mês anterior à realização da UNGASS foi divulgado relatório elaborado por mais de vinte especialistas internacionais da Comissão sobre Política de Drogas e Saúde Pública da revista científica britânica Lancet, que destacou que “guerra às drogas” e a política de “tolerância zero” que se desenvolveram a partir do consenso proibicionista, agora são contestadas por diferentes frentes devido aos seus impactos nas áreas da saúde e direitos humanos.
O mesmo documento aponta que em muitos países há detenção compulsória em nome do “tratamento” ou da “reabilitação”, ocorrendo graves violações de direitos. A questão da coerção usada para se entrar no tratamento (com ou sem a ajuda de forças policiais) é também um dos pontos destacados. Como uma das recomendações, o relatório aponta a necessidade de se assegurar um acesso facilitado a serviços de redução de danos, reconhecendo sua eficácia em responder à questão do uso problemático de drogas.
Dialogando com essas diretrizes internacionais, alguns países já vêm, desde o fim do século passado, desenvolvendo políticas de drogas mais humanizadas, que visam se atentar primordialmente ao bem-estar do usuário problemático de substâncias psicoativas. É o caso da cidade de Vancouver, no Canadá, que há mais de vinte anos tem colocado em prática uma política integral destinada a usuários de drogas.
A sociedade PHS de serviços à comunidade de Vancouver começou com apenas um hotel (o Portland Hotel Society – PHS) e hoje já conta com mais de mil unidades habitacionais, clínicasmédicas e odontológicas, programas de distribuições de seringas, loja de chocolates e de artesanato (empregando os próprios usuários), um banco, uma sala de uso supervisionado (a primeira da América do Norte), entre outros serviços, até então, inacessíveis ou inexistentes a esses usuários. Em artigo publicado na Folha de São Paulo, Liz Evans, cofundadora dessa iniciativa, enfatizou que:
“Se encarcerar usuários ou forçá-los a seguir tratamentos contra drogas funcionassem, teríamos acabado com a dependência de drogas anos atrás. Todas as evidências mostram que essas abordagens punitivas não funcionam.”
Há ainda outras experiências pelo mundo que reforçam a escolha por políticas que têm como foco o usuário, e não o uso (ou a proibição do uso) da droga. A cidade de Amsterdam, por exemplo, possui um programa de distribuição de seringas para usuários com o objetivo de prevenir a transmissão de doenças como HIV/Aids e Hepatite B. Seu Serviço de Saúde Pública por meio de “policlínicas” pode também prescrever metadona e heroína em casos de usuários crônicos, com o propósito de melhorar a qualidade de vida dessas pessoas.
Priorizar uma abordagem pautada na segurança pública e na imposição estatal, ao invés dos direitos humanos dos usuários, é uma escolha equivocada, que só viola ainda mais a dignidade de uma população já vulnerabilizada.
A imagem de cidade inovadora e moderna que a atual gestão vem tentando promover internacionalmente sobre São Paulo esbarra nas suas políticas sobre drogas retrógradas, violadoras de direitos e ineficientes, sem respaldo, inclusive, da própria comunidade internacional. Assim, como diz o neurocientista norte-americano Carl Hart “conserte sociedades quebradas que você terá consertado a maioria dos problemas do mundo das drogas”.
A megaoperação realizada em conjunto pelo governo do Estado de São Paulo e a prefeitura da capital na região da Cracolândia trouxe à tona o debate sobre a internação compulsória dos dependentes químicos. Além de pedir autorização à Justiça para internar a força os usuários de crack, o prefeito João Dória chegou a fazer uma manobra política para obter sucesso com a liminar.
O pedido de Dória já tinha sido vetado por um desembargador do Tribunal de Justiça, no domingo 28, por “contrastar com os princípios do Estado Democrático de Direito e conceder à municipalidade carta branca para eleger quem é a pessoa em estado de drogadição vagando pelas ruas da cidade de São Paulo”. Na terça-feira 30, o prefeito sofreu nova derrota junto à Justiça, que vetou o pedido da prefeitura.
CONCLUSÃO
Em quase tudo na vida existem duas vertentes: a positiva e a negativa. Diante disso a internação compulsória não poderia ser diferente, principalmente porque envolve princípios morais, sociais e de costumes adquiridos ao longo do tempo, pois trata-se de atitudes envolvendo seres humanos.
Em determinados casos como os portadores de esquizofrenia paranóide seja advinda de constante uso de drogas ou por fatores ou por fatores meramente hereditários é necessário a internação compulsória para defender a vida do incapaz esquizofrênico, bem como as pessoas que correm perigo estando em contato direto com esse tipo de pessoa, afinal, a própria Constituição Federal relata que o maior bem jurídico, ou seja, o mais importante, é a vida, por isso sua proteção deve estarem primeiro plano.
Todavia, o método citado não deve torna-se uma receita roborizada para acabar com a liberdade e o direito de escolha da pessoa em suas atitudes. Exercer de maneira constantemente forçada fere drasticamente os direitos humanos, a liberdade de expressão e o direito de ir e vir que são previstos em lei. As reportagens feitas na Cracolândia em São Paulo usavem sempre a expressão “temos medo dessa internação compulsória virar uma verdadeira caçada humana”, a idéia de internar compulsoriamente causou revolta a muitos dependentes químicos, alguns já haviam sido internados e após a alta continuavam na Cracolândia fazendo o mesmo que faziam antes.
Diante de tais aspectos, fica evidente que não basta apenas efetuar a internação compulsória, é necessário que estabeleça políticas públicas de inserção dessas pessoas de volta a sociedade com acompanhamento para estabilização da vida social e atenuações das possibilidades de recaídas. Constitui um importante fator também a criação de instalações de tratamento mais adequadas e versáteis ao problema de cada um.

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