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PLANTAS MEDICINAIS COM AÇÃO ANTIMICROBIANA

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PLANTAS MEDICINAIS COM AÇÃO ANTIMICROBIANA: UMA REVISÃO DE LITERATURA
ALÉCIA CAROLINA DE OLIVEIRA PHILIPPINI¹, ÍTALO WANDERLEY¹, 
CINTHYA MARIA PEIREIRA DE SOUZA²
¹ Discentes do curso de bacharelado em Fisioterapia da Universidade Estadual da Paraíba – Campina Grande.
² Docente do curso de bacharelado em Farmácia da Universidade Estadual da Paraíba – Campina Grande.
RESUMO
Em função do aumento da resistência aos medicamentos com ação antimicrobiana, as plantas medicinais têm sido consideradas como agentes alternativos para o tratamento de infecções. O objetivo deste estudo foi averiguar e respaldar a utilização de plantas medicinais com função antimicrobiana e identificar áreas de enfoque das pesquisas científicas quanto ao uso de fitoterápicos com esta ação. Tratou-se de uma revisão bibliográfica com pesquisa à base de dados SCIELO, incluindo publicações de 2010 a 2016. Encontrou-se vários estudos relacionados à ação antimicrobiana de diversas plantas medicinais, frente a diversas bactérias, entre as mais frequentes: Escherichia Coli, Staphylococcus aureus, Candida Albicans, Salmonella, Lysteria Monocytogenes e Streptococcus. Foi encontrado enfoque para o uso na Odontologia e nas ETA’s. Conclui-se que diversas plantas medicinais possuem ação antimicrobiana comprovada, e identifica-se a necessidade de mais pesquisas acerca dessa temática, a fim de confirmar os resultados já encontrados e de testar espécies ainda não estudadas.
PALAVRAS-CHAVE: fitoterapia, infecção bacteriana, antibioticoterapia.
INTRODUÇÃO
	Em função do aumento da resistência aos medicamentos com ação antimicrobiana em uso, as plantas medicinais têm sido cada vez mais consideradas como agentes alternativos para o tratamento de infecções em seres humanos e também em animais, de modo que diversas pesquisas científicas têm sido realizadas com o objetivo de identificar e comprovar a eficácia e confiabilidade de seu uso (FONSECA et al., 2014). 
	Os estudos acerca do uso da Fitoterapia na Odontologia para o tratamento de afecções bucais e periodontais, como a doença periodontal e a candidose bucal, têm se desenvolvido satisfatoriamente e sido impulsionadas tanto pelo advento de cepas multirresistentes a antibióticos, quanto pela busca de alternativas terapêuticas com menor toxicidade, menores efeitos colaterais e melhor custo benefício para a população (CARTAXO-FURTADO et al., 2015). 
	Outro campo que tem recebido atenção das pesquisas no que diz respeito à ação antimicrobiana de fitoterápicos é o das enfermidades transmitidas por alimentos (ETA’s). Os patógenos de origem alimentar são de ampla diversidade na natureza, sendo responsáveis por índices de morbi-mortalidade consideráveis e por grande parte dos problemas de saúde pública em países desenvolvidos e em desenvolvimento (VALERIANO et al., 2012). A Salmonella é um dos patógenos mais envolvidos nas ETA’s e diversos estudos epidemiológicos apontam que os alimentos de origem animal consistem nos maiores veículos na transmissão dessa bactéria, especialmente a carne de frango (MAJOLO et al., 2014).
	O objetivo do presente estudo foi averiguar e respaldar a utilização de plantas medicinais com função antimicrobiana e identificar áreas de enfoque das pesquisas científicas no que dizem respeito ao uso de fitoterápicos com ação antimicrobiana para promoção de saúde em seres humanos. 
METODOLOGIA
	Foi realizado um estudo de revisão bibliográfica a partir de artigos científicos publicados na base de dados SCIELO, em Língua Portuguesa, compreendendo publicações de 2010 a 2016. Como descritores, utilizaram-se os termos: plantas medicinais, atividade, e antimicrobiana. 
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
	Encontra-se na literatura vários estudos relacionados à ação antimicrobiana de diversas plantas medicinais contra bactérias que estão relacionadas à infecções comuns e prevalentes no âmbito da saúde pública, a exemplo da Escherichia Coli, Staphylococcus aureus, Candida Albicans, Salmonella, Lysteria Monocytogenes, Streptococcus, entre outras. 
	O estudo de Simonetti et al., 2016, teve por objetivo avaliar a atividade antimicrobiana de extratos de Eugenia anomala e Psidium salutare contra Escherichia coli e Listeria monocytogenes. Não havia na literatura estudos que demonstrem as atividades biológicas de tais espécies vegetais, e os resultados deste estudo foram promissores. Os extratos da espécie E. anomala apresentaram melhor potencial de ação antimicrobiana frente a E. coli e ação bacteriostática menos expressiva se comparada aos extratos de P. salutare; somente o extrato hexânico de P. salutare apresentou atividade antimicrobiana contra L. monocytogenes, sendo considerada moderada; e pôde-se também observar que os extratos de ambas as espécies vegetais apresentaram ação bacteriostática contra L. monocytogenes. 
	A Escherichia coli está presente na microbiota intestinal e pode contaminar o trato urinário, que normalmente é estéril. Domingues et al., 2015 buscou avaliar diferentes extratos (hidroalcoólicos e infusões) de Phyllanthus sp (quebra-pedra) frente a microrganismos causadores de infecções no trato urinário, entre eles a E. coli, S. aureus, S. saprophyticcus, C. albicans e P. vulgaris. Todas as bactérias testadas se apresentaram sensíveis à ação antimicrobiana quando expostas aos extratos hidroalcoólicos a 40%, principalmente, a S. saprophyticcus e a S. aureus, e se apresentaram insensíveis às infusões. 
	Já Freire et al., 2014, avaliou a ação antimicrobiana in vitro dos óleos essenciais de Ocimum basilicum (Manjericão Exótico), Thymus vulgaris (Tomilho Branco), e de Cinnamomum cassia (Canela da China) sobre cepas bacterianas de Streptococcus mutans e Staphylococcus aureus. Como resultados, encontrou-se que os óleos essenciais avaliados apresentaram ação antibacteriana frente a cepas de S. mutans e S. aureus, sendo que os menores valores de Concentração Inibitória Mínima (CIM) e de Concentração Bactericida Mínima (CBM) foram provenientes dos óleos de C. cassia e T. vulgaris, de modo que o óleo essencial de Ocimum basilicum se mostrou mais eficiente quanto a esse objetivo. 
	Outro estudo que avaliou a ação antimicrobiana de uma planta medicinal (Pouteria venosa) sobre a bactéria Staphylococcus aureus e também sobre outras bactérias (Streptococcus pneumoniae, Proteus mirabilis, Staphylococus epidermidis e Pseudomonas aeruginos) encontrou atividade antimicrobiana das cascas do caule da Pouteria venosa frente todas as bactérias testadas, principalmente a S. aureus, demonstrando seu potencial antibacteriano (SANTOS et al., 2015).
	Uma pesquisa que avaliou a atividade antimicrobiana do alho (Allium sativum Liliaceae), in natura, e do extrato aquoso do alho a 30% e 170%, frente à Candida albicans (Ca) e a Estreptococos do grupo B (EGB), mostrou que o Allium sativum, in natura, inibiu o crescimento de Ca e de EGB, demonstrando melhor desempenho do que o extrato aquoso a 30 e a 170% (a 30% não houve inibição do crescimento nem de Ca nem de EGB, e a 170% houve um pequeno halo de inibição de Ca e nenhuma inibição de EGB). É interessante o achado de que a atividade antimicrobiana de Allium sativum, in natura, frente a Ca, foi maior do que com o uso do Miconazol (50µ) e que a Penicilina G (10U) apresentou um halo de inibição discretamente maior do que o alho, in natura, frente à EGB (FONSECA et al., 2014). 
	No que se refere ao uso de plantas medicinais com ação antimicrobiana na Odontologia, observa-se o estudo de Alvarenga et al., 2016, que buscou avaliar a atividade antimicrobiana de extratos bruto e fracionado das folhas do araçá (Psidium cattleianum Sabine), sendo possível observar a atividade inibitória dos extratos contra S. mutans e S. oralis; porém, contra as cepas de L. rhamnosus e S. salivarius não se pôde observar tal atividade inibitória.
	Já o estudo de Cartaxo-Furtado et al., 2015, avaliou a atividade antimicrobiana in vitro do extrato etanólico da casca do caule de Syzygium cumini (L.) Skeels frente a microrganismos bucais, encontrandoum forte potencial de inibição do extrato etanólico da casca do caule de S. cumini sobre o crescimento de C. albicans e fraca inibição frente aos Streptococcus mutans e oralis. 
	No que diz respeito ao combate de bactérias patogênicas de origem alimentar, o estudo de Valeriano et al., 2012, objetivou avaliar a atividade antimicrobiana dos óleos essenciais de Mentha piperita, Cymbopogon citratus, Ocimum basilicum e Origanum majorana contra cepas de Escherichia coli enteropatogênica, Salmonella enterica Enteritidis, Listeria monocytogenes e Enterobacter sakazaki. Observou-se que os óleos essenciais inibiram o crescimento bacteriano, mas a efetividade foi variada. Entre os óleos essenciais testados, M. piperita apresentou maior atividade antibacteriana para E. coli quando comparada as demais bactérias, atividade moderada para Salmonella enterica Enteritidis e Enterobacter sakazakii e baixa atividade para Listeria monocytogenes. Já o óleo essencial de Cymbopogon citratus apresentou maior atividade antimicrobiana frente a E. coli e atividade moderada frente a Enterobacter sakazakii, Salmonella enterica Enteritidis e Listeria monocytogenes. Ocimum basilicum apresentou maior atividade antibacteriana frente E. coli e Enterobacter sakazakii, moderada atividade frente a Salmonella enterica Enteritidis e não apresentou atividade frente a Listeria monocytogenes. Origanum majorana também foi testado neste estudo e apresentou maior atividade antimicrobiana frente E. coli, atividade moderada para Salmonella enterica Enteritidis e Enterobacter sakazakii e não apresentou atividade para Listeria monocytogenes. Assim, percebe-se que E. Coli foi a bactéria mais sensível à ação de todos os óleos, seguida pela Salmonella.
	Ainda a respeito de bactérias patogênicas de origem alimentar, especificamente sobre a Salmonella entérica, Majolo et al., 2014, avaliou a atividade antibacteriana dos óleos essenciais extraídos de rizomas de açafrão (Curcuma longa L.) e gengibre (Zingiber officinale Roscoe). O óleo essencial de gengibre se mostrou consideravelmente mais eficiente do que o óleo de açafrão, tanto em termos de ação bacteriostática quanto bactericida, representando uma alternativa para o controle de Salmonella entérica.
CONCLUSÃO
	Diante dos resultados encontrados na literatura, é evidente o quanto diversas plantas medicinais possuem ação antimicrobiana comprovada, de modo que utilizá-las como alternativa aos medicamentos antibióticos, aos quais grande parte das bactérias já desenvolveu multiressistência, é algo promissor e que pode trazer avanços em diversos aspectos para a saúde pública no Brasil e no mundo, seja no tratamento de infecções intrabucais, enterais por origem alimentar, ou de diversas outras infecções de alta incidência na população, a exemplo da infecção urinária e da meningite. 
	Identifica-se a necessidade da realização de mais pesquisas e estudos acerca dessa temática, a fim de confirmar e assegurar os resultados já encontrados na literatura, e de estabelecer protocolos para o tratamento de infecções com o uso de plantas medicinais, de modo que essa alternativa de tratamento se torne segura e facilmente reproduzível pelos profissionais da saúde e pelos usuários do serviço de saúde. Além disso, em virtude das evidências de efetividade do uso das plantas medicinais para esta função, sugere-se a realização de estudos com plantas medicinais que ainda não tenham sido avaliadas quanto à ação antimicrobiana. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVARENGA, F. Q. et al. Atividade antimicrobiana in vitro das folhas de araçá (Psidium cattleianum Sabine) contra micro-organismos da mucosa oral. Revista de Odontologia da UNESP, v. 45, n. 3, p. 149-153, Araraquara, 2016 . 
CARTAXO-FURTADO, N. A. D. E. O. et al. Perfil fitoquímico e determinação da atividade antimicrobiana de Syzygium cumini (L.) Skeels (Myrtaceae) frente a microrganismos bucais. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v. 17, n. 4, supl. 3, p. 1091-1096, Botucatu, 2015. 
DOMINGUES, K. et al. Avaliação de extratos de quebra- pedra (Phyllanthus sp) frente à patógenos causadores de infecções no trato urinário. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v. 17, n. 3, p. 427-435, Botucatu, 2015 .
FONSECA, G. M. et al. Avaliação da atividade antimicrobiana do alho (Allium sativum Liliaceae) e de seu extrato aquoso. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v. 16, n. 3, supl. 1, p. 679-684, Botucatu, 2014. 
FREIRE, I. C. M. et al. Atividade antibacteriana de Óleos Essenciais sobre Streptococcus mutans e Staphylococcus aureus. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v. 16, n. 2, supl. 1, p. 372-377, Botucatu, 2014.
	
MAJOLO, C. et al. Atividade antimicrobiana do óleo essencial de rizomas de açafrão (Curcuma longa L.) e gengibre (Zingiber officinale Roscoe) frente a salmonelas entéricas isoladas de frango resfriado. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v. 16, n. 3, p. 505-512, Botucatu, 2014.
SANTOS, R. F. E. P. et al. Estudo do potencial antimicrobiano e citotóxico da espécie Pouteria venosa (Sapotaceae). Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v. 17, n. 3, p. 367-373, Botucatu, 2015.
SIMONETTI, E. et al. Avaliação da atividade antimicrobiana de extratos de Eugenia anomala e Psidium salutare (Myrtaceae) frente à Escherichia coli e Listeria monocytogenes. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v. 18, n. 1, p. 9-18, Botucatu, 2016. 
VALERIANO, C. et al. Atividade antimicrobiana de óleos essenciais em bactérias patogênicas de origem alimentar. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v. 14, n. 1, p. 57-67, Botucatu, 2012.

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