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BLOCOS ECONÔMICOS

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BLOCOS ECONÔMICOS: ASPECTOS DA INTEGRAÇÃO REGIONAL NO MUNDO GLOBALIZADO
Larissa Eliane Silva Santos[1: Acadêmica do curso de Direito da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES.]
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Introdução
	O presente estudo tem por escopo a realização de uma análise relativa à formação dos blocos econômicos e seu papel na promoção da integração econômica dentro do processo de globalização. O mundo tem passado por tal processo de forma mais intensificada nos últimos séculos, com a expansão do capitalismo e o crescente domínio de novas tecnologias. O termo “globalização” foi cunhado a fim de designar essa miríade de mudanças, as quais foram responsáveis pelo surgimento de uma ordem mundial totalmente nova, sob a égide do neoliberalismo, caracterizada pelo fortalecimento dos interesses financeiros, desregulamentação dos mercados, e pela abertura à circulação de capitais, bens e serviços. Assim, a economia globalizada apresenta-se como um complexo mosaico mundial do qual fazem parte blocos de economias nacionais que ostentam diferentes graus de fluidez interna nos movimentos de bens e pessoas, mercadorias e fatores produtivos. Os blocos econômicos são o objeto da presente pesquisa, na medida em que atuam como expoentes nos processos de integração econômica. Objetiva-se, nesta pesquisa, explorar os principais aspectos da integração econômica nos blocos, sua classificação segundo os níveis de aproximação entre as economias dos países-membros. Posteriormente, far-se-á a investigação do liame existente entre integração e globalização, por meio da análise dos conceitos que orbitam esses fenômenos e da sob uma perspectiva histórica e econômica. Tenciona-se, por fim, examinar a formação de blocos econômicos como consequência dos desdobramentos de macroprocessos que ocorrem dentro da esfera da globalização.
Material e métodos
Foi utilizado na presente pesquisa o método de abordagem dedutivo, partindo de argumentos, observações, casos gerais para obter conclusões particulares. O método de pesquisa adotado foi o monográfico, propondo o estudo do tema e seus desdobramentos com a finalidade de obter generalizações, a partir da observação dos fatores que o influenciaram e analisando-o em seus principais aspectos. Por fim, optou-se pelas técnicas de pesquisa bibliográfica e documental, baseando-se na leitura de livros, artigos e teses acadêmicas acerca do assunto em pauta, bem como da análise de textos normativos e dados estatísticos.
Resultados e discussão
O termo globalização, cunhado durante os anos 80 em universidades dos Estados Unidos, se propunha a explicar o movimento de abertura das fronteiras econômicas e desregulamentação acelerada dos mercados durante a década anterior. Muito embora a utilização do conceito seja recente, o ínicio desse processo remonta ao passado. Enquanto a maioria dos pesquisadores desse fenômeno afirme que as Grandes Navegações desencadearam a primeira fase globalização, alguns ainda alegam que se iniciou ainda na Antiguidade, a partir do intercâmbio comercial e cultural que as cidades-Estado da Grécia Antiga estabeleciam entre si. Ao longo dos séculos, esse processo passou por momentos de aceleração e retração, tomando real impulso durante o século XX. 
O fim da Guerra Fria trouxe consigo o declínio do socialismo nos países em que ainda vigorava e o fortalecimento do sistema capitalista em todo o mundo. Estes eventos deram ensejo à “elevação dos laços econômicos, financeiros e comerciais entre esses países”, possibilitando “um movimento global de convergência entre essas economias” (MOREIRA, 2010). O advento de novas tecnologias permitiu o maior acesso à informação, propiciando o aumento do fluxo internacional de bens, serviços e capitais. Conforme preconiza Prado (2003), o processo de globalização pode ser observado em três dimensões: a comercial, observada na essência da globalização com a abertura dos mercados e a redução das barreiras econômicas; a produtiva, que diz respeito ao advento das novas tecnologias e seu impacto nos aspectos organizacionais da produção, ocasionando a aceleração dos processos produtivos e o aumento da concorrência; e financeira, que consiste na internacionalização dos capitais e na integração dos mercados financeiros, cuja maior expressão se dá nas negociações em bolsas de valores. Nesse contexto, os mercados nacionais operam como a expressão local de um mercado global (MOREIRA, 2010).
Dentre os atores envolvidos nesse processo, pode-se elencar, principalmente, as empresas transnacionais (antes chamadas multinacionais), os Estados e os organismos internacionais. As empresas transnacionais são o maior destaque, agindo como verdadeiros propulsores da globalização. São elas as grandes injetoras de investimentos diretos estrangeiros e responsáveis pela movimentação do comércio internacional. Na busca de novos mercados, os fluxos de capitais, comércio e tecnologia que as ETNs movimentam crescem em proporção mais elevada que as taxas de crescimento das economias de alguns países. Essa estatística denota o protagonismo dessas corporações no processo globalizatório. Os Estados, por sua vez, agem como mediadores entre os mercados consumidores e as grandes empresas. A tendência neoliberalista da economia reviveu o paradigma de menor atuação do Estado na economia, apregoando uma menor participação do poder público e regulamentação mais branda dos mercados financeiros. Em constrate com o Estado do século passado, que tinha por principal objetivo a promoção do bem-estar social e o protecionismo, como meio de defesa da nação, o Estado do mundo globalizado tende a perder o controle das políticas econômicas e do espaço econômico nacional, que, por sua vez, está fadado a se dissolver em uma economia global. Contudo, continua atuando na criação de "vantagens comparativas" como parceiro das grandes empresas, nas políticas anticíclicas e na sustentação do mercado financeiro (ALBERTI, 2003). Por fim, os organismos internacionais, entre os quais pode-se citar a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, são importantes pilares da economia internacional, organizando as relações comerciais e financeiras entre os países.
Diante do exposto, deve-se atentar ao termo integração, que adquire um significado totalmente novo no século XXI. Em resposta aos fluxos supracitados, os mercados locais passaram a interagir de forma crescente uns com os outros; se anteriormente caracterizavam-se pelo forte protecionismo, agora passam a formar um mercado global. Conforme Moreira (2010), “um processo de integração regional consiste em um conjunto de medidas de caráter econômico que tem por objetivo promover a aproximação e a união entre as economias de dois ou mais países”. 
A teoria clássica da integração econômica estabelece vários níveis de integração que podem ser alcançados em um bloco de países. O primeiro estágio desse processo é a Zona de Livre Comércio. Em uma ZLC, os países parceiros reduzem ou eliminam as barreiras alfandegárias, tarifárias e não-tarifárias, que incidem sobre a troca de mercadorias dentro do bloco, mas mantém políticas comerciais independentes em relção aos demais. O NAFTA é um exemplo de zona de livre comércio. 
O segundo nível é a União Aduaneira, na qual os Estados-membros, além de abrir mercados internos, regulamentam o comércio de bens com nações externas, já funcionando como um bloco econômico em formação. A União Aduaneira caracteriza-se por adotar uma política comercial uniforme em relação a terceiros, por meio da Tarifa Externa Comum (TEC), a qual permite estabelecer uma mesma tarifa aplicada a mercadorias provenientes de países que não integram o bloco. O MERCOSUL, na atual fase de desenvolvimento, apresenta-se como União Aduaneira, aspirando a se tornar um Mercado Comum, a próxima fase do processo de integração. Nesse nível de integração, bens, serviços e os fatores de produção (capitais e mão-de-obra) circulam livremente e pressupõe-se a coordenaçãodas políticas macroeconômicas, devendo todos os membros seguir os mesmos parâmetros para fixar taxas de juros e de câmbio e para definir políticas fiscais. 
Por fim, como último estágio do processo integracionista, tem-se a União Econômica e Monetária. Essa fase reúne todas as características das fases anteriores, além da unificação das políticas monetária e cambial, a fim de adotar-se uma moeda única, como ocorre, por exemplo, com os países da União Europeia (UE) que fazem parte da Zona do Euro. Nesse caso, geralmente transfere-se as atribuições de tais políticas para uma autoridade comunitária supranacional que obrigue com suas decisões aos Estados membros, a partir de um sistema integrado entre os Bancos Centrais Nacionais e o Comunitário. Não obstante, ressalta-se que os Estados não abdicam de sua soberania, mas tão somente delegam algumas de suas competências à Comunidade, “que passarão a ser exercidas com exclusividade, independência e caráter vinculante pelos órgãos supranacionais” (FERREIRA, 2009). Alguns autores admitem, ainda, um quinto estágio de integração, o de Integração Econômica Total, que consiste em total unificação completa econômica e política. Envolve a criação de uma política comum de relações externas, uma só política de defesa e segurança, a unificação dos códigos de leis, bem como a criação de uma autoridade supranacional. Nenhum dos blocos existentes chegou a essa fase do processo de integração regional. 
Pode-se dizer, diante do exposo, que os blocos econômicos, que podem ser definidos como associações de países que estabelecem relações econômicas privilegiadas entre si no sentido de tornar a economia dos associados mais competitiva e, assim, poderem participar de forma efetiva no mundo globalizado. O primeiro bloco econômico foi formado na Europa, com a criação, em 1957, da Comunidade Econômica Européia – CEE (embrião da atual União Européia). A partir de então, a tendência de regionalização da economia só se intensificou. A dissipação dos dois grandes blocos da Guerra Fria, liderados por Estados Unidos e União Soviética, em 1991, termina por instigar a formação das zonas independentes de livre-comércio, um dos aspectos do processo de globalização. Atualmente, os mais importantes são o NAFTA (North American Free Trade Agreement), a União Européia (UE), o Mercado Comum do Sul (Mercosul), a Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC) e a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). Merecem menção também a Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC). No plano mundial, as relações comerciais são reguladas pela (OMC), que substitui o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT), criado em 1947 (WÜRTH, 2010). 
Vale destacar a existência de grupos de países que, apesar de não serem blocos formalmente constituídos, são considerados importantes atores internacionais na promoção da integração econômica, que, apesar de afastados geograficamente, reúnem-se se em função da presença de denominadores comuns em suas economias. Pode-se citar, a título de exemplo, os BRICS, grupo que reúne o Brasil, a Rússia, a Índia, a China e, mais recentemente, a África do Sul, reunião de importantes economias emergentes cuja participação significativa no PIB mundial atualmente levou seus líderes a se aproximarem com fins de cooperação econômica. Merece destaque também a Parceria Trans-Pacífico (TPP), acordo comercial criado em 2015, que contempla os territórios banhados pelo Oceano Pacífico e representam, em conjunto, 40% do PIB global, emergindo, assim, como importante engrenagem na nova ordem mundial.
Conclusões
Deve-se pensar o processo de integração regional paralelamente ao de globalização. A tendência de organização dos países em blocos econômicos representa, acima de tudo, uma resposta à rápida abertura dos mercados e os incessantes fluxos inerentes à globalização. Pode-se dizer que o dinamismo e a fluidez desse processo são fontes de certa incerteza para as relações entre os países, devido à sua volubilidade. Nesse sentido, as nações veem na regionalização uma forma de estabilidade frente à nova ordem internacional. Ao mesmo tempo, procuram auferir os benefícios da integração, ao facilitar o acesso das grandes empresas aos seus mercados internos, procurando atrair investimentos diretos, gerar empregos, facilitar a livre circulação de bens, serviços, capitais e informações. A partir dessa análise, pode-se dizer que, a longo prazo, os processos de regionalização e globalização tendem a convergir. 
No entanto, cabe ressaltar que a globalização não se dá forma uniforme: na prática, as empresas procuram a redução dos custos de produção e aderem a tecnologias cada vez mais avançadas. Consequentemente, há o surgimento de uma série de problemas sistêmicos, especialmente nos países subdesenvolvidos, tais como desemprego, desvalorização das matérias-primas, atraso tecnológico e concentração de renda, marginalizando boa parte da população mundial que não está incluída nesse processo. Tais disparidades acentuam a manifesta desvantagem em que essas economias se encontram em relação às economias desenvolvidas, que compõem os grandes blocos econômicos. Desse modo, uma reflexão crítica sobre a ordem mundial deve partir do questionamento de fenômenos tidos como globais. 
Referências bibliográficas
ALBERTI, Raquel Lorensini. A relação Estado x mercado e o tipo de definição da ordem global. Disponível em: http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/raquel.html. Acesso em 27 jun. 2017. 
AMADO, Adriana M.; MOLLO, Maria de Lourdes Rollemberg.,Globalização e blocos regionais: considerações teóricas e conclusões de política econômica. Estudos Econômicos, São Paulo, v. 31, n. 1, p. 127-166.
NETO, Manoel Jorge e Silva. Globalização e direito econômico. Debate Virtual – Revista eletrônica do Centro de Pesquisas Jurídicas - UNIFACS. Salvador, n. 29, out. 2002.
OLIVEIRA, Antônio Eduardo Alves de. A formação de blocos regionais para a integração e o desenvolvimento no contexto da globalização: o caso da União Européia (UE) e do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). .Salvador, 2010.
PETRI, Fernanda Calil; WEBER, Beatriz Teixeira. Os efeitos da globalização nos processo de integração dos blocos econômicos. Revista dos Alunos do Programa de Pós-Graduação em Integração Latino-Americana – UFSM. Santa Maria, v. 2, n. 2, p. 78-93, 2006.
PRADO, Luiz Carlos Delorme. Globalização: notas sobre um conceito controverso (2003). Disponível em:  <https://xa.yimg.com/kq/groups/24059305/64393181/name/01+texto+2009.1+AEG.pdf>. Acesso em: 27 jun. 2017.
MOREIRA, Cássio Silva. A integração regional como resposta ao processo de globalização. Gestão Contemporânea. Porto Alegre, ano 7, n. 7, p. 215-243, jan./jun. 2010.
REGO, Andréia Régia. Nogueira; BELTRAMINI, Carina. A pesquisa científica no Direito. Revista Saber o Direito , v. 1, p. 37-45, 2014.

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