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Tribunal do Juri Origem, princípios, fases

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ASCES/UNITA
ASSOCIAÇÃO CARUARUENSE DE ENSINO SUPERIOR
UNIVERSIDADE TABOSA DE ALMEIDA
TRIBUNAL DO JÚRI
______________________________________________________________________Caruaru/PE 2017
ASSOCIAÇÃO CARUARUENSE DE ENSINO SUPERIOR ASCES/UNITA
Curso: Bacharelado em Direito 
Disciplina: Estágio Supervisionado
Prof.ª Edna Ribeiro
 Bacharelandos: Ademir Augusto da Silva
 Gabriel Lira Bahé Cavalcanti
 Marcos André Batista da Silva
 Nathália Oliveira Ferreira
 Rebeca Luísa Basílio
 Thyago José de Oliveira
______________________________________________________________________Caruaru/PE 2017
Tribunal do Júri
Contexto histórico
Não se sabe exatamente onde surgiu o conceito de tribunal do júri, já que alguns afirmam que surgiu em épocas antigas, na Grécia e Império Romano, como outras pessoas afirmam que surgiu na Inglaterra, na época do concílio de Latrão, mas é unânime a afirmação de que ele floresceu durante a época da Revolução Francesa, tendo se espalhado por quase toda a Europa e consequentemente para o Brasil, no ano de 1822, por influência de Portugal. 
A palavra “Júri” vem do latim “jurare”, e significa fazer juramento, que é uma referência ao dever dos 25 jurados de deliberar, sob o juramento de examinar a causa com imparcialidade e de decidir segundo sua consciência e justiça, sobre a culpa ou a inocência do réu em um tribunal popular, uma vez que o Magistrado irá tomar a deliberação dos jurados como a vontade do povo e irá decretar uma decisão de acordo com seu veredito, assegurando diretamente a participação popular nos julgamentos proferidos pelo poder judiciário.
Regulamentação e Competência
Diante de sua composição, atuam os jurados, cidadãos comuns que, diante dos procedimentos a serem desenvolvidos (previstos nos artigos 406 a 497 do Código de Processo Penal, o CPP), decidem sobre a inocência ou culpabilidade dos réus. De acordo com o artigo 447 do CPP, o Tribunal do Júri é composto por um juiz togado, seu presidente, e 25 jurados, dos quais apenas sete são sorteados para fazer parte do Conselho de Sentença que, ao final, decidirá a responsabilidade do réu.
A Constituição Federal, na alínea d do inciso XXXVIII do artigo 5º diz que o Tribunal do Júri é competente para julgar os crimes dolosos contra a vida, quais sejam:
a) homicídio
b) infanticídio
c) participação em suicídio
d) aborto
Na mesma linha, o parágrafo primeiro do artigo 74 do Código de Processo Penal afirma que compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes previstos nos arts. 121, §§ 1o e 2o, 122, parágrafo único, 123, 124, 125, 126 e 127 do Código Penal, consumados ou tentados.
Princípios
A instituição do Tribunal do Júri é reconhecida pela Constituição da República Federativa de 1988 (CF) e está inserida em seu artigo (art.) 5. 
Além dos princípios que regem o processo penal como um todo, o Tribunal do Júri deve nortear-se com respeito aos princípios estampados na Lei Maior, objeto desse texto (e sobre os quais haverá explanação breve), a saber: a plenitude de defesa, o sigilo das votações, a soberania dos veredictos e a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida. (art. 5°, inc. XXXVIII, alíneas a,b,c, d – CF).
Plenitude de defesa
A Plenitude de defesa refere-se ao exercício efetivo, irrestrito, sem limitações indevidas da defesa do réu (quer pela parte contrária ou pelo Estado) e abrange a ampla defesa e o contraditório (art. 5°, inc. lV), cabendo ao juiz declarar o réu indefeso e a dissolução do Conselho de Sentença, caso entenda insuficiente o desempenho do defensor. (conforme o art. 497, inc. V, do Código de Processo Penal – CPP).1
Trata-se de uma garantia específica do Tribunal do Júri para que o defensor do acusado possa utilizar-se de todos os argumentos lícitos a fim de convencer os jurados, sendo possível a alegação de qualquer matéria, seja fática, doutrinária ou jurisprudencial, para convencer e provar sua inocência.
Sigilo das votações
É esse princípio condição para proteger a livre manifestação do pensamento dos jurados, para que possam proferir seus vereditos com plena e íntima convicção e sem estarem sujeitos a quaisquer interferências externas.
O sigilo das votações relaciona-se com a incomunicabilidade entre os jurados, que se inicia com a advertência do art. 466, § 1° (CPP), mas não impede que os esses possam formular indagações, nos momentos próprios, ou solicitem esclarecimentos sobre eventuais dúvidas surgidas no decorrer das exposições no Tribunal.
Sobre a publicidade dos julgamentos do Poder Judiciário, consagrada no art. 93, inc. IX da CF, que estaria ferida tendo-se em vista o sigilo das votações, a questão encontra-se pacificada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), uma vez que o objetivo do princípio em comento é cercar os jurados das mais sérias precauções para que decidam com independência.
Soberania dos Veredictos
Consagra esse princípio uma das características essenciais do tribunal do Júri, dando aos jurados a atribuição exclusiva de julgar procedente ou não a pretensão punitiva, decisão essa que, em regra, é insuscetível de modificação pelos tribunais, principalmente se garante a liberdade do réu.
A interposição de recurso, entretanto, é admitida, afora os casos de anulação do processo por vício procedimental, quando for essa decisão manifestadamente contrária às provas dos autos ou configurar outras hipóteses do art. 593 do CPP.
A soberania do veredicto também não prevalecerá na hipótese do art. 621 do CPP, quando da ocorrência da revisão Criminal.
Competência mínima para julgar crimes dolosos contra a vida
Conforme preceito constitucional, é assegurada a competência do Júri para julgar crimes dolosos contra a vida, crimes esses como os dispostos nos artigos 121 ao 127 do Código Penal (desde que presente o elemento subjetivo dolo ou dolo eventual) em suas modalidades tentadas e consumadas. (segundo o art. 74 do CPP)
Não há possibilidade de supressão da competência do júri, contudo, essa poderá ser ampliada através de lei ordinária. Nesse sentido, cabe ao tribunal do júri, além de apreciar os crimes dolosos contra a vida, julgar os crimes que lhes são conexos (ar. 78, inc. I, CPP)
A despeito da disposição legal, contudo, nas hipóteses de crimes dolosos contra a vida em que o acusado possua prerrogativa de função, essa prevalecerá sobre a competência do Júri, o que não ocorre, por exemplo, se essa prerrogativa for exclusivamente estabelecida pela Constituição Estadual. (conforme a Súmula 721 do STF)
Fases
Primeira Fase - “judicium accusationis” ou juízo de acusação
Ao contrário do que estabelecia o rito anterior (ordinário sem a fase do art. 499), a comissão de juristas optou por um juízo sumário de formação de culpa na primeira fase. 
Após o oferecimento da denúncia, o réu é citado para responder a acusação em dez dias, arrolando no máximo até oito  testemunhas. Na resposta, poderá arguir preliminares, especificar provas, juntar documentos e arrolar testemunhas.
Posteriormente, designada audiência de instrução e julgamento, o Juiz tomará as declarações do ofendido (se possível) e das testemunhas arroladas pelas partes. Interroga o réu e, após os debates, profere sentença. 
Lembre-se, também, que o Projeto prevê nova redação ao art. 396, determinando que o juiz decida sobre a admissibilidade da acusação, recebendo ou rejeitando a denuncia ou queixa, podendo rejeita-la de plano quando: 
1) for manifestamente inepta; 
2) faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; 
3) faltar justa causa para o exercício da ação. 
Em recebendo a denúncia, ojuiz, através de decisão fundamentada, se convencido da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou participação, o juiz pronunciará o acusado. Não se convencendo, proferirá, também fundamentadamente, decreto de impronúncia. Poderá, ainda, na mesma oportunidade, absolvê-lo sumariamente. 
É evidente a vantagem que o uso desse procedimento traz em relação ao sistema atual, haja vista permitir a sanação de  irregularidades da denuncia sem prejudicar o direito do Ministério Público em oferecer nova denuncia. 
O procedimento do júri segue o sistema bifásico: Ministério Público oferece denúncia → juiz recebe → citação do réu para defesa escrita → audiência una → debates → juiz poderá pronunciar; impronunciar; desclassificar ou absolver sumariamente;   (Se pronunciar) → intimação das partes para apresentarem rol testemunhas → plenário.
1ª FASE: Sumário de culpa ou judicium accusationis: é realizada pelo juiz singular e segue o mesmo procedimento dos crimes apenados com reclusão (segue o rito ordinário até o art. 405 CPP - instrução criminal). Tem a finalidade de formar o juízo de admissibilidade da acusação (juízo de prelibação: examinar, dizer sucintamente). Inicia-se com o recebimento da denúncia ou queixa e termina com a decisão de pronúncia, impronúncia, desclassificação ou absolvição. OBS.: Hoje, com as alterações do CPP, surgiu uma fase preliminar contraditória (instrução probatória) que vai do art. 406 ao 412 do CPP. Art. 406.  O juiz, ao receber a denúncia ou a queixa, ordenará a citação do acusado para responder a acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.
Segunda Fase - “judicium causae” ou juízo da causa
Após o encerramento da primeira fase com a preclusão da denúncia, os autos são remetidos ao Juiz do Tribunal do Júri (artigo 421 CPP) o qual mandara intimar o Ministério Público, ou o querelante, ou ainda, o Defensor Publico, para que no prazo de cinco dias apresente as testemunhas que pretende ouvir em audiência, podendo ser no máximo de cinco, bem como requererem neste mesmo prazo diligencia que julgarem necessárias e juntar documentos cabíveis (artigo 422 do CPP).
“Art. 422.  Ao receber os autos, o presidente do Tribunal do Júri determinará a intimação do órgão do Ministério Público ou do querelante, no caso de queixa, e do defensor, para, no prazo de 5 (cinco) dias, apresentarem rol de testemunhas que irão depor em plenário, até o máximo de 5 (cinco), oportunidade em que poderão juntar documentos e requerer diligência.”
Após o prazo citado, o magistrado, depois de analisar e deliberar sobre o requerimento de provas a serem produzidas bem como adotar providencias pertinentes a sua juntada, determinará que seja feito diligências com o objetivo de que seja saneado o processo, assim como de encontrar e dissipar qualquer nulidade encontrada nos autos, e em seguida realizará um relatório sucinto do processo conforme se verifica no artigo 423 do Código de Processo Penal, in verbis:
Art. 423. Deliberando sobre os requerimentos de provas a serem produzidas ou exibidas no plenário do júri, e adotadas as providências devidas, o juiz presidente: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
I - ordenará as diligências necessárias para sanar qualquer nulidade ou esclarecer fato que interesse ao julgamento da causa; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
II - fará relatório sucinto do processo, determinando sua inclusão em pauta da reunião do Tribunal do Júri. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
Feitos todos os atos necessários e findos, o juiz declarara o processo preparado, colocando-o  na pauta de reunião do Tribunal do Júri. Desta forma, vence a fase preparatória do juízo de causa.
Quesitos da votação e sentença
Nos termos da atual disciplina legal os quesitos que devem ser considerados na votação no tribunal do júri são os elencados no artigo 483 do Código de Processo Penal:
“Art. 483 [CPP]. Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, indagando sobre: I - materialidade do fato; II - autoria ou participação; III - se o acusado deve ser absolvido; IV - se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa; V - se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.[...]”
Se negado um dos dois primeiros quesitos, encerra-se a votação com a consequente absolvição do acusado. Se respondidos afirmativamente, o jurado será indagado se absolve o acusado.
Tem-se afirmado, inclusive, que está mais do que caracterizada a possibilidade de os jurados absolverem o réu por clemência, ainda que entendam ter sido provado o fato e a autoria, pois é inegável que o júri comporta argumentos emocionais e não somente técnicos e se o jurado entender que deve “dar uma chance” ao acusado, “perdoando-o” pela prática do crime, será lícito fazê-lo, sendo essa uma das razões pelas quais o legislador impôs referido quesito como obrigatório. Por isso mesmo que a defesa sustente em plenário apenas uma causa de diminuição de pena, como o homicídio privilegiado, antes da votação do terceiro quesito deve o juiz presidente explicar aos jurados que eles são livres para, de acordo com sua convicção, absolver o acusado, se for essa a sua vontade.
Se os jurados responderem negativamente ao terceiro quesito, serão formulados quesitos a respeito de causa de diminuição de pena alegada pela defesa, bem como de causa de aumento de pena ou circunstância qualificadora, contidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.
A Tese de desclassificação deverá ter quesito próprio a ser inserido após o segundo ou terceiro, conforme o caso. Se for a única tese da defesa, deverá vir após o segundo, se for tese subsidiária à absolvição, deverá vir após o terceiro. Sustentada a tentativa ou se houver dúvida sobre a tipificação do delito, deverá ser redigido quesito próprio e inserido após o segundo.
Dos 21 jurados intimados, só sete participam do julgamento, formando o conselho de sentença. Eles são sorteados e podem ser recusados pelas partes. São permitidas até três recusas sem motivo.
Para cada quesito a ser votado, os jurados recebem uma cédula com a palavra “sim” e outra com a palavra “não”. As decisões são tomadas por maioria simples de votos e a votação é sigilosa, ou seja, os jurados não podem falar sobre suas impressões do processo. Se um julgamento demorar dois dias ou mais, os jurados se hospedam em alojamentos e são acompanhados por oficiais de justiça, para garantir que não troquem informações entre si.
No que diz respeito à votação, é ela o momento crucial do processo, onde o destino do réu será efetivamente selado. Para que não paire dúvida na mente do jurado, o Código determina que o juiz explique o significado de cada quesito (art. 484, parágrafo único), antes da colheita dos votos na urna respectiva. Tal explicação exige do juiz presidente preparo, pois deve ser feita de modo técnico e, ao mesmo tempo, do modo mais didático possível, para que o jurado possa entender do que se trata cada pergunta e decidir livremente. Como se vê, além de todos os esforços para modernizar o procedimento, ainda é preciso se preocupar com a correta compreensão do leigo acerca do ato em que toma parte.
Para finalizar, aspecto que tem despertado discussões é o atinente à contagem dos votos. Muitos autores têm sustentado que a forma de contagem dos votos foi modificada com a nova Lei, isto é, ao atingir o quarto voto no mesmo sentido, encerra-se a contagem, para preservar o sigilo das votações. Dessa forma, não abrindo o juiz todas as cédulas, não se sabe se a decisão foi unânime ou por maioria de votos. Isso decorre de leitura dos §§ 1º e 2º do art. 483, que dispõem;
“Art. 483. [...]§ 1º A resposta negativa de mais de 3 jurados a qualquer dos quesitos referidos nos incisos I e II do caput deste artigo encerra a votação e implica a absolvição do acusado.§ 2º Respondidos afirmativamente por mais de 3 jurados os quesitos relativos aos incisos I e II do caput desteartigo, será formulado quesito com a seguinte redação: o jurado absolve o acusado?[...]”
Em caso de condenação, o juiz que preside a sessão é responsável por fixar a pena-base, considerando os agravantes ou atenuantes. No caso de absolvição, ele mandará colocar o réu em liberdade, revogará as medidas restritivas decretadas e determinará medida de segurança cabível, se for o caso. Após fórmula a sentença, o juiz faz a leitura no plenário do fórum, em frente ao teu, para todos os presentes.

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