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PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

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PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
Giovanna Bertolini de Pinho – 2° período – Pontifícia Universidade Católica do Paraná 
	O exercício de um direito não pode ficar pendente de forma indefinida no tempo, o titular deve exercê-lo dentro de um determinado prazo. Com fundamentação na pacificação social, na certeza e na segurança da ordem jurídica é que surge a matéria da prescrição e decadência. A prescrição e decadência são uma espécie de boa-fé do próprio legislador.
	A infração do direito subjetivo resulta, nas relações jurídicas patrimoniais, um dano para o titular do direito subjetivo. Nasce, então, para esse titular do direito o poder de exigir do devedor uma ação ou omissão que permite a composição do dano verificado. A esse direito de exigir a doutrina chama de pretensão. A pretensão revela-se, portanto, como um poder de exigir de outro uma ação ou omissão. Existem, porém, direitos subjetivos que não fazem nascer pretensões, porque destituídos dos respectivos deveres. São direitos potestativos. O conceito de pretensão deve, assim, para distinguir os direitos subjetivos dos potestativos. Como estes não podem ser lesados, seus titulares não têm pretensão, como ocorre nos direitos subjetivos.
O direito potestativo é o poder que o agente tem de influir a esfera jurídica de outro, constituindo, modificando, ou extinguindo uma situação subjetiva sem que esta possa fazer alguma coisa se não sujeitar-se. São direitos potestativos o do patrão dispensar o empregado, o do doador revogar a doação simples, o do representado revogar a procuração, entre outros. 
Para os direitos subjetivos, a lei fixa prazos mais longos, que podem ser suspensos e interrompidos, durante os quais se pode exigir o cumprimento desses direitos, ou melhor, dos respectivos deveres. Já para os direitos potestativos, os prazos são mais rígidos, isso porque esses direitos devem exercer-se em brevíssimo tempo. 
	O Código Civil em vigor traz um tratamento diferenciado quanto a tais conceitos: a prescrição consta dos seus arts. 189 a 206; a decadência, dos arts. 207 a 211. Os prazos de prescrição estão concentrados em dois artigos do Código Civil: arts. 205 e 206. Os demais prazos, encontrados em outros dispositivos da atual codificação, são, pelo menos em regra, todos decadenciais. 
	Como a matéria era confusa na vigência do CC de 1916, visando a esclarecer o assunto, Agnelo Amorim Filho concebeu um artigo histórico, em que associou os prazos prescricionais e decadenciais a ações correspondentes, buscando também quais seriam as ações imprescritíveis. 
	Esse brilhante professor paraibano associou a prescrição às ações condenatórias, ou seja, àquelas ações relacionadas com direitos SUBJETIVOS, próprio das pretensões pessoais. Assim, a prescrição mantém relação com deveres, obrigações e com a responsabilidade decorrente da inobservância das regras ditadas pelas partes ou pela ordem jurídica.
PRESCRIÇÃO
Prescrição é a perda da pretensão em virtude da inércia do seu titular no prazo fixado em lei (CC, art. 189). Para que se configure a prescrição é preciso que se reúnam os seguintes elemento: a) um direito subjetivo lesado, do que necessariamente nasce uma pretensão de ressarcimento; b) a não exigência do cumprimento do respectivo dever; ou do ressarcimento do dano; c) o decurso do prazo em que a lei estabelece para essa exigência. Reunidos tais elementos, estabelece o direito a perda da pretensão não exercida. 
A prescrição tem por objeto, então, direitos subjetivos patrimoniais e disponíveis, basicamente as obrigações. 
A prescrição não opera, porém, de pleno direito. Deve ser alegada pela parte interessada (CC, art. 193), como exceção, meio de defesa. A exceção é o direito de contrapor em defesa o direito com pretensão prescrita, prescreve no mesmo prazo da pretensão.
- REGRAS GERAIS DA PRESCRIÇÃO:
- Está regulada na parte geral do Código Civil, arts. 189 a 206. 
- Qualquer interessado, pessoa natural ou jurídica, pode alegar a prescrição, em qualquer grau de jurisdição. No caso de incapazes, a prescrição deve ser alegada por seus representantes. 
- O juiz deve conhecer de oficio da prescrição.
- A prescrição começa a correr do momento em que nasce o direito de exigir (pretensão) a reparação do dano. A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra seu sucessor (CC, art. 196), seja herdeiro legatário ou cessionário; é o princípio da accessio temporis;
- Prescrito o direito principal, prescritos seus acessórios. Assim, prescrita a pretensão de cobrar a dívida, prescritos os juros e os direitos reais que a garantiam como penhor ou hipoteca. 
- Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas tem ação contra os seus assistentes ou representantes legais, que derem causa à prescrição, ou alegarem oportunamente (CC, art. 195).
- RENÚNCIA DA PRESCRIÇÃO: O devedor pode deixar de alegar a prescrição que o beneficia, a ela renunciando. É preciso, porém, que a prescrição esteja consumada e que a renúncia não prejudique terceiros. Prescrição consumada é aquela que teve seu prazo totalmente decorrido. A renuncia vale apenas se feita, sem prejuízo de terceiro, depois de consumada, quando já integra o patrimônio prescribente (aquele em favor de quem ocorre a prescrição) (CC, art. 191).
- SUSPENSÃO (CC, art. 198, II e III): É a cessação temporária do curso do prazo prescricional sem prejuízo do tempo já decorrido. Resulta de fato surgido após o início do curso do prazo prescricional sem prejuízo de tempo já decorrido. Na suspensão não se perde o tempo já decorrido. Cessando as causas suspensivas, a prescrição continua a correr, aproveitando-se o tempo anteriormente decorrido. 
	Suspensa a descrição, o direito subjetivo permanece inextinguível pelo decurso do tempo, embora inerte seu titular. O devedor fica também impossibilitado de invocar a prescrição contra o credor. Relativamente a terceiros, a suspenção beneficia todos os credores solidários, desde que a obrigação seja inadmissível (CC, art 201). Se não for, pode beneficiar apenas um desses credores. 
	- IMPEDIMENTO (CC, arts. 197, 198, 199): Impedimento da prescrição é o obstáculo ao curso do respectivo prazo, antes do seu inicio. Constitui-se em um fato que não permite que o prazo prescricional comece a correr.
Como enuncia o art. 197, não ocorre prescrição nas seguintes hipóteses: a) entres os cônjuges, na constância da sociedade conjugal; b) entre ascendente e descendente, durante o poder familiar; c) entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela. 
O efeito da adoção do dispositivo citado, denota as causas impeditivas da prescrição, equivalente ao da suspensão. Dessa forma, se o prazo ainda não foi iniciado, não correrá. Caso contrário, cessando a causa de suspensão, o prazo continua a correr do ponto em que parou. 
	
PRESCRIÇÃO
	Relativamente Incapazes
	Corre contra ou a favor
	
	
Absolutamente incapazes
	Se contra: prescrição não corre
	
	
	Se a favor: a prescrição corre
	- CAUSAS DE INTERRUPÇÃO: Ao contrário do que ocorre com as causas impeditivas e suspensivas, a interrupção do prazo prescricional envolve condutas do credor ou do devedor. Relativamente aos seus efeitos, é cediço que a interrupção faz com que o prazo retorne ao seu início, partindo do seu ponto zero.
	Como rege o art. 202, a interrupção só pode ocorrer uma vez. Os fatos que interrompem a prescrição são: I) despacho do juiz; II) protesto nas condições do inciso antecedente; III) protesto cambial; IV) apresentação do título de credito em inventario ou em concurso de credores; V) qualquer ato judicial que constitua o devedor em mora; VI) qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor.
	- PRAZOS PRESCRICIONAIS: O prazo geral (ORDINÁRIO ou COMUM) da prescrição está previsto no art. 205do Código: “a prescrição ocorre em 10 anos, quando a lei não lhe aja fixando prazo menor. ”
	Prazos especiais: prazos mais exíguos para possibilitar o exercício de certos direitos subjetivos,em situações especiais – art. 206, 1° ao 5°. Os prazos de prescrição no CC de 2002, estão todos previstos no citado art. 206e são de 1, 2, 3, 4 ou 5 anos, de acordo com o número do parágrafo correspondente.
	
DECADÊNCIA
Decadência é a perda do direito potestativo pela inércia do seu titular no período determinado pela lei. Aplica-se às relações que não contém obrigações, sendo objeto de ação constitutiva. Na decadência, ainda, o prazo começa a correr no momento em que o direito nasce, surgindo, simultaneamente, direito e termo inicial do prazo, o que não ocorre na prescrição, em que este só corre da lesão do direito subjetivo. 
A decadência é estabelecida em lei ou pela vontade das partes em negócio jurídico, desde que se trate de matéria de direito disponível e não haja fraudes às regras legais Enquanto a prescrição deve ser alegada pela parte interessada, a decadência não é “suscetível” de oposição, como meio de defesa. 
	
	PRESCRIÇÃO
	DECADÊNCIA
	Extingue a pretensão.
	Extingue o direito.
	Prazos somente estabelecidos pela lei.
	Prazos estabelecidos pela lei (decadência LEGAL), ou por convenção das partes (decadência CONVENCIONAL).
	Deve ser conhecida de oficio pelo juiz.
	A decadência legal deve ser reconhecida de ofício pelo magistrado, o que não ocorre na decadência convencional.
	A parte não pode alega-la. Pode ser renunciada pelo devedor após a consumação.
	A decadência legal não pode ser renunciada, em qualquer hipótese. A decadência convencional pode ser renunciada após a consumação, também pelo devedor (mesmo tratamento da prescrição).
	Não corre contra determinadas pessoas.
	Corre contra todas, com exceção dos absolutamente incapazes.
	Previsão de casos de impedimento, suspensão ou interrupção.
	Não pode ser impedida, suspensa ou interrompida, regra geral, com exceção de regras específicas.
	Relacionada com direitos subjetivos, atinge ações condenatórias (principalmente cobranças e reparação de danos).
	Relacionada com direitos potestativos, atinge ações constitutivas positivas e negativas (principalmente ações anulatórias).
	Prazo geral de 10 anos (art. 205 do CC).
	Não há para a maioria da doutrina, prazo geral de decadência. Há um prazo geral para ANULAR negócio jurídico, de dois anos contados da sua celebração, conforme o art. 179 do CC.
	Prazos especiais de 1, 2, 3, 4 e 5 anos, previstos no art. 206 do CC.
	Prazos especiais em dias, meses, ano e dia e anos (1 a 5 anos), todos previstos em outros dispositivos, fora dos arts. 205 e 206 do CC.

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