Buscar

Direito Penal aula 6

Prévia do material em texto

CENTRO UNIVERSITÁRIO DA GRANDE DOURADOS 
UNIDADE: FACULDADE DE DIREITO 
CURSO DE DIREITO 
 
 
DISCIPLINA: DIREITO PENAL I 
ANO: 2017/1 
PROFESSOR (A): JOE GRAEFF FILHO 
 
AULA 06 – TEORIA GERAL DO CRIME 
 
1. CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES 
 
A classificação dos crimes pode ser legal ou doutrinária. 
Classificação legal é a qualificação, ou seja, o nome atribuído ao delito pela lei penal. 
A conduta de “matar alguém” é denominada pelo art. 121 do Código Penal de homicídio. Na 
Parte Especial do Código Penal, todo crime é acompanhado por sua denominação legal (nomen 
iuris), também chamada de rubrica marginal. 
Classificação doutrinária é o nome dado pelos estudiosos do Direito Penal às 
infrações penais. Será, doravante, objeto do nosso estudo. 
 
1.1. Crimes comuns, próprios e de mão própria 
 
Essa divisão se baseia na qualidade do sujeito ativo. 
Crimes comuns ou gerais: são aqueles que podem ser praticados por qualquer pessoa. 
O tipo penal não exige, em relação ao sujeito ativo, nenhuma condição especial. Exemplos: 
homicídio, furto, extorsão mediante sequestro, crimes contra a honra, etc. 
Fala-se também em crimes bicomuns, compreendidos como aqueles que podem ser 
cometidos por qualquer pessoa e contra qualquer pessoa, isto é, não se reclama nenhuma situação 
especial, seja em relação ao sujeito ativo, seja no tocante ao sujeito passivo. É o caso da lesão 
corporal e do estelionato, entre tantos outros delitos. 
Crimes próprios ou especiais: são aqueles em que o tipo penal exige uma situação 
fática ou jurídica diferenciada por parte do sujeito ativo. Exemplos: peculato (só pode ser 
praticado por funcionário público) e receptação qualificada pelo exercício de atividade comercial 
ou industrial, delito previsto no art. 180, § 1.º, do Código Penal (somente pode ser praticado pelo 
comerciante ou industrial). Admitem coautoria e participação. 
Os crimes próprios dividem-se em puros e impuros. Naqueles, a ausência da condição 
imposta pelo tipo penal leva à atipicidade do fato (exemplo: prevaricação, pois, excluída a 
elementar “funcionário público”, não subsiste crime algum), enquanto que nestes a exclusão da 
especial posição do sujeito ativo acarreta na desclassificação para outro delito (exemplo: peculato 
doloso, pois, afastando-se a elementar “funcionário público”, o fato passará a constituir crime de 
furto ou apropriação indébita, conforme o caso). 
 
 
Existem também os chamados crimes bipróprios, é dizer, delitos que exigem uma 
peculiar condição (fática ou jurídica) no tocante ao sujeito ativo e ao sujeito passivo. É o caso do 
infanticídio, que somente pode ser praticado pela mãe contra o próprio filho nascente ou recém-
nascido. 
Crimes de mão própria, de atuação pessoal ou de conduta infungível: são aqueles que 
somente podem ser praticados pela pessoa expressamente indicada no tipo penal. É o caso do 
falso testemunho (CP, art. 342). 
Tais crimes não admitem coautoria, mas somente participação, eis que a lei não 
permite delegar a execução do crime a terceira pessoa. No caso do falso testemunho, o advogado 
do réu pode, por exemplo, induzir, instigar ou auxiliar a testemunha a faltar com a verdade, mas 
jamais poderá, em juízo, mentir em seu lugar ou juntamente com ela. 
 
1.2. Crimes simples e complexos 
 
A classificação se refere à estrutura da conduta delineada pelo tipo penal. 
Crime simples: é aquele que se amolda em um único tipo penal. É o caso do furto 
(CP, art. 155). 
Crime complexo: é aquele que resulta da união de dois ou mais tipos penais. Fala-se, 
nesse caso, em crime complexo em sentido estrito. O crime de roubo (CP, art. 157), por exemplo, 
é oriundo da fusão entre furto e ameaça (no caso de ser praticado com emprego de grave ameaça 
– CP, art. 147) ou furto e lesão corporal (se praticado mediante violência contra a pessoa – CP, 
art. 129). 
 
1.3. Crimes materiais, formais e de mera conduta 
 
A divisão diz respeito à relação entre a conduta e o resultado naturalístico, 
compreendido como a modificação do mundo exterior, provocada pela conduta do agente. 
Crimes materiais ou causais: são aqueles em que o tipo penal aloja em seu interior 
uma conduta e um resultado naturalístico, sendo a ocorrência deste último necessária para a 
consumação. É o caso do homicídio (CP, art. 121). A conduta é “matar alguém”, e o resultado 
naturalístico ocorre com o falecimento da vítima, operando-se com ele a consumação. 
Crimes formais, de consumação antecipada ou de resultado cortado: são aqueles nos 
quais o tipo penal contém em seu bojo uma conduta e um resultado naturalístico, mas este último 
é desnecessário para a consumação. Em síntese, malgrado possa se produzir o resultado 
naturalístico, o crime estará consumado com a mera prática da conduta. 
Na extorsão mediante sequestro (CP, art. 159), basta a privação da liberdade da 
vítima com o escopo de obter futura vantagem patrimonial indevida como condição ou preço do 
resgate. Ainda que a vantagem não seja obtida pelo agente, o crime estará consumado com a 
realização da conduta. 
 
 
Crimes de mera conduta ou de simples atividade: são aqueles em que o tipo penal se 
limita a descrever uma conduta, ou seja, não contém resultado naturalístico, razão pela qual ele 
jamais poderá ser verificado. É o caso do ato obsceno (CP, art. 233). 
 
1.4. Crimes instantâneos, permanentes, de efeitos permanentes e a prazo 
 
A classificação se refere ao momento em que o crime se consuma. 
Crimes instantâneos ou de estado: são aqueles cuja consumação se verifica em um 
momento determinado, sem continuidade no tempo. É o caso do furto (CP, art. 155). 
Crimes permanentes: são aqueles cuja consumação se prolonga no tempo, por 
vontade do agente. O ordenamento jurídico é agredido reiteradamente, razão pela qual a prisão 
em flagrante é cabível a qualquer momento, enquanto perdurar a situação de ilicitude. 
Os crimes permanentes se subdividem em: 
a) necessariamente permanentes: são aqueles que para a consumação é 
imprescindível a manutenção da situação contrária ao Direito por tempo juridicamente relevante. 
É o caso do sequestro (CP, art. 148); 
b) eventualmente permanentes: em regra são crimes instantâneos, mas, no caso 
concreto, a situação de ilicitude pode ser prorrogada no tempo pela vontade do agente. Como 
exemplo pode ser indicado o furto de energia elétrica (CP, art. 155, § 3.º). 
Crimes a prazo: são aqueles cuja consumação exige a fluência de determinado 
período. É o caso da lesão corporal de natureza grave em decorrência da incapacidade para as 
ocupações habituais por mais de 30 dias (CP, art. 129, § 1.º, I). 
 
1.5. Crimes unissubjetivos, plurissubjetivos e eventualmente coletivos 
 
Diz respeito ao número de agentes envolvidos com a conduta criminosa. 
Crimes unissubjetivos, unilaterais, monossubjetivos ou de concurso eventual: são 
praticados por um único agente. Admitem, entretanto, o concurso de pessoas. É o caso do 
homicídio (CP, art. 121). 
Crimes plurissubjetivos, plurilaterais ou de concurso necessário: são aqueles em que 
o tipo penal reclama a pluralidade de agentes, que podem ser coautores ou partícipes, imputáveis 
ou não, conhecidos ou desconhecidos, e inclusive pessoas em relação às quais já foi extinta a 
punibilidade. Subdividem-se em: 
a) crimes bilaterais ou de encontro: o tipo penal exige dois agentes, cujas condutas 
tendem a se encontrar. É o caso da bigamia (CP, art. 235); 
b) crimes coletivos ou de convergência: o tipo penal reclama a existência de três ou 
mais agentes. 
Crimes eventualmente coletivos: são aqueles em que, não obstante o seu caráter 
unilateral, a diversidade de agentes atua como causa de majoração da pena, tal como se dá no 
furto qualificado (CP, art. 155, § 4.º, IV) e no roubo circunstanciado (CP, art. 157, § 2.º, II). 
 
 
 
1.6.Crimes de dano e de perigo 
 
Essa classificação se refere ao grau de intensidade do resultado almejado pelo agente 
como consequência da prática da conduta. 
Crimes de dano ou de lesão: são aqueles cuja consumação somente se produz com a 
efetiva lesão do bem jurídico. Como exemplos podem ser lembrados os crimes de homicídio (CP, 
art. 121), lesões corporais (CP, art. 129) e dano (CP, art. 163). 
Crimes de perigo: são aqueles que se consumam com a mera exposição do bem 
jurídico penalmente tutelado a uma situação de perigo, ou seja, basta a probabilidade de dano. 
Subdividem-se em: 
a) crimes de perigo abstrato, presumido ou de simples desobediência: consumam-
se com a prática da conduta, automaticamente. Não se exige a comprovação da produção da 
situação de perigo. Ao contrário, há presunção absoluta (iuris et de iure) de que determinadas 
condutas acarretam perigo a bens jurídicos. É o caso do tráfico de drogas (Lei 11.343/2006, art. 
33, caput). 
b) crimes de perigo concreto: consumam-se com a efetiva comprovação, no caso 
concreto, da ocorrência da situação de perigo. É o caso do crime de perigo para a vida ou saúde 
de outrem (CP, art. 132); 
c) crimes de perigo individual: atingem uma pessoa ou um número determinado de 
pessoas, tal como no perigo de contágio venéreo (CP, art. 130); 
d) crimes de perigo comum ou coletivo: atingem um número indeterminado de 
pessoas, como no caso da explosão criminosa (CP, art. 251); 
e) crimes de perigo atual: o perigo está ocorrendo, como no abandono de incapaz 
(CP, art. 133); 
f) crimes de perigo iminente: o perigo está prestes a ocorrer; 
g) crimes de perigo futuro ou mediato: a situação de perigo decorrente da conduta 
se projeta para o futuro, como no porte ilegal de arma de fogo permitido ou restrito (Lei 
10.826/2003, arts. 14 e 16). 
 
1.7. Crimes unissubsistentes e plurissubsistentes 
 
Dizem respeito ao número de atos executórios que integram a conduta criminosa. 
Crimes unissubsistentes: são aqueles cuja conduta se revela mediante um único ato 
de execução, capaz de por si só produzir a consumação, tal como nos crimes contra a honra 
praticados com o emprego da palavra. Não admitem a tentativa, pois a conduta não pode ser 
fracionada, e, uma vez realizada, acarreta automaticamente na consumação. 
Crimes plurissubsistentes: são aqueles cuja conduta se exterioriza por meio de dois 
ou mais atos, os quais devem somar-se para produzir a consumação. É o caso do crime de 
homicídio praticado por diversos golpes de faca. É possível a tentativa justamente em virtude da 
pluralidade de atos executórios. 
 
 
 
1.8. Crimes comissivos, omissivos e de conduta mista 
 
A divisão se relaciona à forma pela qual é praticada a conduta criminosa. 
Crimes comissivos ou de ação: são os praticados mediante uma conduta positiva, um 
fazer, tal como se dá no roubo (CP, art. 157). Nessa categoria se enquadra a ampla maioria dos 
crimes. 
Crimes omissivos ou de omissão: são os cometidos por meio de uma conduta 
negativa, de uma inação, de um não fazer. Subdividem-se em: 
a) Crimes omissivos próprios ou puros: a omissão está contida no tipo penal, ou seja, 
a descrição da conduta prevê a realização do crime por meio de uma conduta negativa. Não há 
previsão legal do dever jurídico de agir, de forma que o crime pode ser praticado por qualquer 
pessoa que se encontre na posição indicada pelo tipo penal. Nesses casos, o omitente não 
responde pelo resultado naturalístico eventualmente produzido, mas somente pela sua omissão. 
Exemplo típico é o crime de omissão de socorro, definido pelo art. 135 do Código Penal. 
b) Crimes omissivos impróprios, espúrios ou comissivos por omissão: o tipo penal 
aloja em sua descrição uma ação, uma conduta positiva, mas a omissão do agente, que descumpre 
seu dever jurídico de agir, acarreta a produção do resultado naturalístico e a sua consequente 
responsabilização penal. As hipóteses de dever jurídico de agir foram previstas no art. 13, § 2.º, 
do Código Penal: (a) dever legal; (b) posição de garantidor; e (c) ingerência. 
O crime de homicídio foi tipificado por uma conduta positiva: “Matar alguém”. 
Questiona-se: É possível praticar homicídio por omissão? 
Depende. Se presente o dever jurídico de agir, a resposta é positiva. Não se admite, 
contudo, se o agente não se encontrar em tal posição jurídica. 
Assim, uma mãe pode matar o próprio filho de tenra idade, seja ministrando-lhe 
veneno, seja deixando de alimentá-lo dolosamente, ceifando-lhe a vida. 
Note-se que tais crimes entram também na categoria dos “próprios”, uma vez que 
somente podem ser cometidos por quem possui o dever jurídico de agir. 
São ainda crimes materiais, pois o advento do resultado naturalístico é imprescindível 
à consumação do delito. 
Finalmente, admitem a tentativa. No exemplo citado, a genitora poderia abandonar a 
casa e fugir, lá deixando o filho esfomeado. Entretanto, o choro da criança poderia ser notado 
por um vizinho, o qual arrombaria a porta do imóvel e prestaria socorro à criança, alimentando-
a e a ela dispensando os cuidados necessários. O resultado teria deixado de ocorrer por 
circunstâncias alheias à vontade da mãe, configurando a tentativa de homicídio. 
 
1.9. Crimes de forma livre e de forma vinculada 
 
Essa divisão se relaciona ao modo de execução admitido pelo crime. 
Crimes de forma livre: são aqueles que admitem qualquer meio de execução. É o 
caso da ameaça (CP, art. 147), que pode ser cometida com emprego de gestos, palavras, escritos, 
símbolos etc. 
 
 
Crimes de forma vinculada: são aqueles que apenas podem ser executados pelos 
meios indicados no tipo penal. É o caso do crime de perigo de contágio venéreo (CP, art. 130), 
que somente admite a prática mediante relações sexuais ou atos libidinosos. 
 
1.10. Crimes mono-ofensivos e pluriofensivos 
 
Essa divisão é atinente ao número de bens jurídicos atingidos pela conduta criminosa, 
e guarda íntima relação com a estrutura do crime (crimes simples ou complexos). 
Crimes mono-ofensivos: são aqueles que ofendem um único bem jurídico. É o caso 
do furto (CP, art. 155), que viola o patrimônio. 
Crimes pluriofensivos: são aqueles que atingem dois ou mais bens jurídicos, tal como 
no latrocínio (CP, art. 157, § 3.º, parte final), que afronta a vida e o patrimônio. 
 
1.11. Crimes principais e acessórios 
 
Refere-se à existência autônoma ou não do crime. 
Crimes principais: são os que possuem existência autônoma, isto é, independem da 
prática de um crime anterior. É o caso do estupro (CP, art. 213). 
Crimes acessórios, de fusão ou parasitários: dependem da prática de um crime 
anterior, tal como na receptação (CP, art. 180), nos crimes de favorecimento pessoal e real (CP, 
arts. 348 e 349) e na lavagem de dinheiro (Lei 9.613/1998, art. 1.º). 
Nos termos do art. 108 do Código Penal, a extinção da punibilidade do crime 
principal não se estende ao crime acessório. 
 
1.12. Crimes independentes e conexos 
 
A classificação se importa com o vínculo existente entre dois ou mais crimes. 
Crimes independentes: são aqueles que não apresentam nenhuma ligação com outros 
delitos. 
Crimes conexos: são os que estão interligados entre si. Essa conexão pode ser penal 
ou processual penal. A conexão material ou penal, que nos interessa, divide-se em: 
a) teleológica ou ideológica: o crime é praticado para assegurar a execução de outro 
delito. É o caso de matar o segurança para sequestrar o empresário; 
b) consequencial ou causal: o crime é cometido para assegurar a ocultação, 
impunidade ou vantagem de outro delito. Exemplos: matar uma testemunha para manter impune 
o delito, e assassinar o comparsa para ficar com todo o produto do crime. 
Essas duas espécies de conexão têm previsão legal. Funcionam como qualificadoras 
no crime de homicídio (CP,art. 121, § 2.º, V) e como agravantes genéricas nos demais crimes 
(CP, art. 61, II, alínea “b”); 
c) ocasional: o crime é praticado como consequência da ocasião, da oportunidade 
proporcionada por outro delito. Exemplo: um ladrão, após praticar o roubo, decide estuprar a 
 
 
vítima que estava no interior da loja assaltada. O agente responde por ambos os crimes, em 
concurso material. Trata-se de criação doutrinária e jurisprudencial, sem amparo legal. 
 
1.13. Crimes condicionados e incondicionados 
 
O critério reside na liberdade ou não para iniciar a persecução penal contra o 
responsável pela prática de um crime. 
Crimes condicionados: são aqueles em que a inauguração da persecução penal 
depende de uma condição objetiva de procedibilidade. É o caso do crime de ameaça, de ação 
penal pública condicionada à representação do ofendido ou de seu representante legal (CP, art. 
147). Anote-se que a legislação penal indica expressamente a condição de procedibilidade, 
quando necessária, pois a ausência de menção direta acarreta a conclusão de tratar-se de crime 
de ação penal pública incondicionada. 
Crimes incondicionados: são aqueles em que a instauração da persecução penal é 
livre. Constituem a ampla maioria de delitos no Brasil. O Estado pode iniciá-la sem nenhuma 
autorização, como ocorre no crime de homicídio, de ação penal pública incondicionada. 
 
1.14. Outras classificações 
 
a) Crime de opinião ou de palavra 
É o cometido pelo excesso abusivo na manifestação do pensamento, seja pela forma 
escrita, seja pela forma verbal, tal como ocorre no desacato (CP, art. 331). 
 
b) Crime vago 
É aquele em que figura como sujeito passivo uma entidade destituída de 
personalidade jurídica, como a família ou a sociedade. Exemplo: tráfico de drogas (Lei 
11.343/2006, art. 33, caput), no qual o sujeito passivo é a coletividade. 
 
c) Crime habitual 
É o que somente se consuma com a prática reiterada e uniforme de vários atos que 
revelam um criminoso estilo de vida do agente. Cada ato, isoladamente considerado, é atípico. 
Com efeito, se cada ato fosse típico, restaria configurado o crime continuado. Exemplos: 
exercício ilegal da medicina e curandeirismo (CP, arts. 282 e 284, respectivamente). 
 
d) Quase-crime 
É o nome doutrinário atribuído ao crime impossível (CP, art. 17) e à participação 
impunível (CP, art. 31). Na verdade, inexiste crime. 
 
 
 
 
 
 
e) Crime hediondo 
É todo aquele que se enquadra no rol do artigo 1.º da Lei 8.072/1990, na forma 
consumada ou tentada. Adotou-se um critério legal: crime hediondo é aquele que a lei define 
como hediondo. 
 
f) Crime falho 
É a denominação doutrinária atribuída à tentativa perfeita ou acabada, ou seja, aquela 
em que o agente esgota os meios executórios que tinha à sua disposição e, mesmo assim, o crime 
não se consuma por circunstâncias alheias à sua vontade. Exemplo: “A” desfere os seis tiros do 
revólver contra “B”, que mesmo ferido consegue fugir e vem a ser eficazmente socorrido. 
 
g) Crime putativo, imaginário ou erroneamente suposto 
É aquele em que o agente acredita realmente ter praticado um crime, quando na 
verdade cometeu um indiferente penal. Exemplo: “A” vende um pó branco, acreditando tratar-se 
de cocaína. Na verdade, era talco. Trata-se de um “não crime”, que se divide em três espécies: a) 
crime putativo por erro de tipo; b) crime putativo por erro de proibição, também conhecido como 
“delito de alucinação”; e c) crime putativo por obra do agente provocador. 
 
h) Crime progressivo 
É aquele que para ser cometido deve o agente violar obrigatoriamente outra lei penal, 
a qual tipifica crime menos grave, chamado de crime de ação de passagem. Em síntese, o agente, 
pretendendo desde o início produzir o resultado mais grave, pratica sucessivas violações ao bem 
jurídico. Com a adoção do princípio da consunção para solução do conflito aparente de leis 
penais, o crime mais grave absorve o menos grave. Exemplo: relação entre homicídio e lesão 
corporal. 
 
i) Progressão criminosa 
Verifica-se quando ocorre mutação no dolo do agente, que inicialmente realiza um 
crime menos grave e, após, quando já alcançada a consumação, decide praticar outro delito de 
maior gravidade. Há dois crimes, mas o agente responde por apenas um deles, o mais grave, em 
face do princípio da consunção. 
Exemplo: “A” decide lesionar “B”, com chutes e pontapés. Em seguida, com “B” já 
bastante ferido, vem a matá-lo. Responde apenas pelo homicídio, pois, uma vez punido pelo todo 
(morte), será também punido pela parte (lesões corporais). 
 
j) Crimes de rua, crimes do colarinho branco e do colarinho azul 
Crimes de rua são os praticados pelas pessoas de classes sociais desfavorecidas, a 
exemplo dos furtos executados por miseráveis, andarilhos e mendigos. Esses delitos são 
cometidos aos olhos da sociedade, em locais supervisionados pelo Estado (praças, parques, 
favelas etc.), e por essa razão são frequentemente objeto das instâncias de proteção (Polícia, 
 
 
Ministério Público e Poder Judiciário). Quando ficam alheios ao conhecimento do Poder Público, 
integram as cifras negras do Direito Penal. 
Os crimes de rua se contrapõem aos “crimes do colarinho branco” (white collar 
crime)18, cometidos por aqueles que gozam e abusam da elevada condição econômica e do poder 
daí decorrente, como é o caso dos delitos contra o sistema financeiro nacional (Lei 7.492/1986), 
de lavagem de capitais (Lei 9.613/1998) e contra a ordem econômica (Lei 8.176/1991), entre 
tantos outros. 
Nesses crimes socioeconômicos, surgem as “cifras douradas do Direito Penal”, 
indicativas da diferença apresentada entre a criminalidade real e a criminalidade conhecida e 
enfrentada pelo Estado. Raramente existem registros envolvendo delitos dessa natureza, 
inviabilizando a persecução penal e acarretando a impunidade das pessoas privilegiadas no 
âmbito econômico. 
De fato, em tais crimes o Poder Público pouco interfere, pois são praticados em locais 
privados (escritórios, restaurantes de luxo, casas, apartamentos etc.), resultando no 
desconhecimento pelo Estado e, consequentemente, na ausência do correspondente registro para 
viabilizar a persecução penal. 
Se os crimes econômicos são etiquetados como crimes do colarinho branco, os crimes 
de rua são rotulados como crimes do colarinho azul:19 aqueles fazem alusão às finas camisas 
utilizadas pelos executivos das grandes empresas, enquanto estes se referem à cor dos macacões 
utilizados pelos operários norte-americanos da década de 1940. 
 
k) Crime liliputiano 
Crime liliputiano, também chamado de “crime anão” ou “crime vagabundo”, é o 
nome doutrinário reservado às contravenções penais. Esta terminologia tem origem no livro 
Viagens de Gulliver, do inglês Jonathan Swift, no qual o personagem principal viaja por um 
mundo imaginário, e em sua primeira jornada vai a Liliput, terra em que os habitantes medem 
apenas 15 (quinze) centímetros de altura. 
Na verdade, não há crime (ou delito), em face da regra contida no art. 1.º do Decreto-
lei 3.914/1941 – Lei de Introdução ao Código Penal: “Considera-se crime a infração penal que a 
lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou 
cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, 
isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente”. 
 
BIBLIOGRAFIA 
MASSON, Cleber. Direito penal esquematizado – Parte geral – vol. 1. 8. ed. rev., atual. Rio de 
Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2014. 
 
ATIVIDADE (0,5) 
A relação entre a conduta e o resultado naturalístico, compreendido como a modificação 
do mundo exterior, provocada pela conduta do agente, nos remete a qual classificação do 
 
 
crime? Justifique sua resposta destacandoos principais pontos da referida classificação. 
Obs.: Não será aceita cópia literal do material de aula ou textos não referenciados.

Continue navegando