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PRATICA JURIDICA apelacao

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PRÁTICA JURÍDICA
PRÁTICA EM RECURSOS NO PROCESSO CIVIL
TEMA: APELAÇÃO
I – LEGISLAÇÃO PERTINENTE
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
CAPÍTULO II
DA APELAÇÃO
        Art. 513.  Da sentença caberá apelação (arts. 267 e 269).
        Art. 514.  A apelação, interposta por petição dirigida ao juiz, conterá:
        I - os nomes e a qualificação das partes;
        II - os fundamentos de fato e de direito;
        III - o pedido de nova decisão.
        Art. 515.  A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada.
        § 1o  Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro.
        § 2o  Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais.
        § 3o Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento. 
 Art. 516. Ficam também submetidas ao tribunal as questões anteriores à sentença, ainda não decididas. 
        Art. 517.  As questões de fato, não propostas no juízo inferior, poderão ser suscitadas na apelação, se a parte provar que deixou de fazê-lo por motivo de força maior.
        Art. 518.  Interposta a apelação, o juiz, declarando os efeitos em que a recebe, mandará dar vista ao apelado para responder. 
        Parágrafo único.  Apresentada a resposta, é facultado ao juiz o reexame dos pressupostos de admissibilidade do recurso. 
               Art. 519. Provando o apelante justo impedimento, o juiz relevará a pena de deserção, fixando-lhe prazo para efetuar o preparo.
        Parágrafo único.  A decisão referida neste artigo será irrecorrível, cabendo ao tribunal apreciar-lhe a legitimidade.
 Art. 520.  A apelação será recebida em seu efeito devolutivo e suspensivo. Será, no entanto, recebida só no efeito devolutivo, quando interposta de sentença que:
        I - homologar a divisão ou a demarcação; 
        II - condenar à prestação de alimentos;  
        III - julgar a liquidação de sentença; 
        IV - decidir o processo cautelar; 
        V - rejeitar liminarmente embargos à execução ou julgá-los improcedentes; 
        VI - julgar procedente o pedido de instituição de arbitragem.  
        VII – confirmar a antecipação dos efeitos da tutela; 
 Art. 521.  Recebida a apelação em ambos os efeitos, o juiz não poderá inovar no processo; recebida só no efeito devolutivo, o apelado poderá promover, desde logo, a execução provisória da sentença, extraindo a respectiva carta.
II – INFORMAÇÕES TEÓRICAS SOBRE A “APELAÇÃO
a) Conceito
- É o recurso contra decisão de primeira instância, interposto por uma, ou duas, partes litigantes em relação à sentença (terminativa ou definitiva) proferidas pelo Juiz de Primeiro Grau, e que tem por objetivo obter na instância superior a anulação ou a reforma da citada sentença
b) Objetivo da apelação
- O objetivo da apelação pode ser: 
Obter a declaração de “nulidade” da sentença de primeiro grau, de forma que o Juízo ad quem (Tribunal) determine o retorno dos autos à 1ª instância para a prolação de nova sentença;
Obter a modificação do mérito da sentença de primeiro grau, total ou parcialmente;
Nada obsta que num mesmo recurso seja pleiteado inicialmente (em preliminar) a nulidade da sentença e, caso o Tribunal não entenda pela citada nulidade, o Recorrente pleiteia a modificação do julgado em algum ou alguns pontos.
c) Cabimento
- Cabe recurso de apelação de todas as sentenças, sejam elas terminativas ou definitivas. Sabemos que sentença, conforme artigo 162, §1º, do CPC, é o ato pelo qual o juiz põe fim ao processo, decidindo ou não o mérito da causa. 
- Denomina-se “sentença definitiva” a sentença que põe fim ao processo com o julgamento do mérito (extingue o processo com o julgamento do mérito com fundamento numa das hipóteses do artigo 269 do CPC) ;
- Denomina-se “sentença terminativa” a sentença que põe fim ao processo sem o julgamento do mérito (extingue o processo sem o julgamento do mérito numa das hipóteses do artigo 267 do CPC)
d) Prazo
- de 15(quinze) dias, conforme artigo 508 do CPC, contado de uma das seguintes datas: 
Quando a sentença é publicada em audiência: conta-se o prazo a partir da data da leitura da sentença em audiência;
quando a sentença não for proferida em audiência : conta-se o prazo a partir da data da intimação das partes.
- Observação: Quando se trata de recurso de “apelação” interposto no Juizado Especial Cível, o prazo é de 10(dez) dias, conforme artigo 42, caput, do CPC, contados da data da ciência da sentença e será dirigido à Turma recursal do próprio Juizado Especial.
e) Efeitos do recurso de apelação
- Conforme artigo 520 do CPC, o recurso de apelação é recebido, ​em regra, em seus efeitos devolutivo e suspensivo.
- O efeito devolutivo, conforme disposto no artigo 515, é aquele através do qual se devolve ao Tribunal o conhecimento da matéria impugnada no recurso. Esse efeito se dá tão somente quanto à matéria impugnada, ou seja, sendo o recurso parcial, somente abra a parte impugnada deverá se manifestar.
- O efeito suspensivo é aquele que, recebido o recurso nesse efeito, tem força de suspender todo o andamento da ação até o pronunciamento da instância superior. Isso quer dizer que não pode a parte vencedora na demanda se beneficiar dos resultados do julgado enquanto o recurso não for apreciado pelo Juízo a quo.
- Exceção: o artigo 520 do CPC apresenta hipóteses em que o recurso de apelação será recebido somente no seu efeito devolutivo ( e não no efeito suspensivo), permitindo, assim, a parte vencedora no Juízo de Primeiro Grau requerer a execução provisória da sentença de primeiro grau. 
 Eis as hipóteses previstas pelo artigo 520 do CPC em que a apelação será recebida somente em seu efeito devolutivo: 
“ Art. 520. A apelação será recebida em seu efeito devolutivo e suspensivo. Será, no entanto, recebida só no efeito devolutivo, quando interposta de sentença que: 
I – homologar a divisão ou a demarcação;
II- condenar à prestação de alimentos;
III- julgar a liquidação de sentença;
IV- decidir o processo cautelar;
V- rejeitar liminarmente embargos à execução ou julga-los improcedentes;
VI- julgar procedente o pedido de instituição de arbitragem,”
f) Conteúdo mínimo do recurso de apelação
- O artigo 514 do CPC determina o seguinte conteúdo mínimo do recurso de apelação: 
petição dirigida ao Juiz (de primeira instância, que prolatou a sentença recorrida) contendo o nome e qualificação das partes
os fundamentos de fato e de direito apresentados para a declaração de “nulidade” da sentença ou para a sua “modificação”
pedido de nova decisão
g) Termos utilizados no recurso de apelação
- interposição: é o ato de se “apresentar” o recurso. O recurso de apelação é interposto, não é oposto ou proposto
- Recorrente/Apelante: a parte que interpõe o recurso
- Recorrido/Apelado: a parte contrária a que interpõe o recurso
- Juízo a quo / Juízo de origem/ Juízo de Primeiro Grau: Juízo prolator da sentença atacada
- Juízo ad quem: Juízo competente para apreciar o recurso
- Sentença a quo/ Sentença de Origem/ Sentença de Primeiro Grau/ Decisão impugnada: é a sentença proferida pelo Juiz (primeira instância) e que está sendo atacada pelo recurso de apelação
- Parte impugnada da sentença: é a parte (ou as matérias) da sentença de primeiro grau que é atacada por um recurso.
- Juízo de admissibilidade: refere-se àquele que tem a competência de verificarse o recurso completa todos os recursos impostos por lei (requisitos de admissibilidade do recurso: tempestividade, preparo, forma, cabimento e legitimidade) para o seu prosseguimento e conhecimento pelo Juízo a quo.
- Denegação de recurso: é o impedimento de prosseguimento do recurso por falta de algum requisito de admissibilidade, é o trancamento do recurso por falta de algum(ns) requisito(s) de admissibilidade. Ocorrendo a denegação do recurso pelo juízo de admissibilidade, o recurso não “sobe” para o Juízo ad quem.
- Preliminarmente: termo normalmente utilizado para se introduzir a parte das razões de recurso em que são apontados eventuais fatos geradores de nulidade processual e é requerida a declaração da nulidade da sentença de primeiro grau.
- Mérito: termo normalmente utilizado para introduzir a parte das razões de recurso em que são apontados fatos e fundamentos jurídicos capazes de levar o Juízo ad quem a modificar total ou parcialmente o conteúdo da sentença de primeiro grau atacada
h) As contra-razões de recurso de apelação
- As contra-razões são apresentadas pelo Recorrido e tem como objetivo convencer o Juízo ad quem a manter o conteúdo da sentença de primeiro grau naquilo que foi impugnado pelo Recorrente. 
III – ESTRUTURA DO RECURSO DE APELAÇÃO
a) Partes que compõem o recurso de apelação: 
		O Recurso de apelação é composto, basicamente, por 2(duas) partes: a petição de encaminhamento e as razões recursais.
PETIÇÃO DE ENCAMINHAMENTO: também denominada na prática jurídica de “petição de encaminhamento. Trata-se de petição dirigida ao Juízo de Primeira Instância (que exerce o primeiro juízo de admissibilidade do recurso de apelação) apresentando o recurso que está sendo interposto e requerendo o seu regular processamento com a remessa dos autos ao Juízo a quo para a sua efetiva apreciação. Nessa petição é demonstrado que o recurso completa todos os requisitos de admissibilidade.
RAZÕES RECURSAIS: É a parte do recurso que é dirigida ao Juízo a quo (isto é, de Segunda Instância, competente para a apreciação do recurso) e onde constam: 
- saudação ao Juízo ad quem;
- a especificação da(s) parte(s) da sentença de primeiro grau que merece(m) ser modificada(s);
- os argumentos de fato e de direito que objetivam convencer o Juízo ad quem a “anular” ou modificar o conteúdo da sentença de primeira instância
- o pedido de “anulação” da sentença a quo e/ou o pedido de modificação do conteúdo (mérito) da sentença.
b) Ilustração do recurso de apelação
 1º.					2º 
 Petição Razões
 de 				do
 Encaminhamento Recurso 
 
c) ESTRUTURA DA PETIÇÃO DE ENCAMINHAMENTO
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA __a VARA CÍVEL DA COMARCA DE _______________
Processo: 
 (nome do Recorrente), Autor/Réu, por seu advogado ao final assinado, nos autos do processo em epígrafe que move em face de (ou que lhe move) (nome do Recorrido, vem, mui respeitosamente, à presença de Vossa Excelência interpor o presente RECURSO DE APELAÇÃO, conforme razões recursais anexas.
 O Recorrente requer a juntada dos inclusos comprovantes de recolhimento dos preparos devidos, bem como requer o regular processamento do presente recurso, dando vistas à parte contrária para contra-razões e, posteriormente, remetendo os autos ao Juízo ad quem para a devida apreciação.
			Termos em que,
			Pede e espera deferimento.
			(cidade), (dia) de (mês) de (ano).
 ___________________________
 (nome do advogado)
 OAB/SP....................
d) Estrutura das razões recursais
(modelo estrutural de razões de apelação com o objetivo de modificar a sentença de primeiro grau)
RAZÕES DE RECURSO DE APELAÇÃO
Recorrente: ...........................................
Recorrido: ..........................................
Processo: ........../xx da _ a Vara Cível da Comarca de ___________________
			EGRÉGIO TRIBUNAL.
			COLENDA CÂMARA.
DIGNÍSSIMOS JULGADORES.
 
			A despeito do incensurável conhecimento jurídico do Juízo de Origem, não agiu o mesmo com a habitual justiça na sentença atacada, que merece urgente reforma.
				Demonstremos: 
(Breve síntese da lide)
(Apresentação dos argumentos de fato e de direito com os quais o Recorrente pretende a modificação da sentença.
Ante o todo exposto, espera o Recorrente que seja o seu recurso conhecido e acolhido in totun, a fim de que se alcance a mais pura e cristalina JUSTIÇA!
			(cidade), (data)
			________________________________ 
			 (nome do advogado)
			 OAB/SP................
(modelo estrutural de razões de apelação com o objetivo de anular a sentença de primeiro grau)
RAZÕES DE RECURSO DE APELAÇÃO
Recorrente: ...........................................
Recorrido: ..........................................
Processo: ........../xx da _ a Vara Cível da Comarca de ___________________
			EGRÉGIO TRIBUNAL.
			COLENDA CÂMARA.
DIGNÍSSIMOS JULGADORES.
 
			A despeito do incensurável conhecimento jurídico do Juízo de Origem, não agiu o mesmo com a habitual justiça na sentença atacada, que merece urgente reforma.
				Demonstremos: 
I – PRELIMINAR DE NULIDADE DA SENTENÇA A QUO 
(exposição dos argumentos que objetivam demonstrar que a sentença é nula)
(pedido de decretação da nulidade da sentença a fim de que os autos retornem ao Juízo a quo) para a prolação de nova decisão.
 II – NO MÉRITO
		Mesmo que o Douto Juízo não entenda pela nulidade do decisum a quo, ainda assim prosperidade mereceria o presente recurso a fim de modificar o conteúdo da sentença de primeiro grau, conforme abaixo demonstrado.
 
(Breve síntese da lide)
(Apresentação dos argumentos de fato e de direito com os quais o Recorrente pretende a modificação da sentença.
Ante o todo exposto, espera o Recorrente que seja o seu recurso conhecido e acolhido a fim de que se declare a nulidade da sentença de primeiro grau e se determine o retorno dos autos ao Juízo a quo para a prolação de nova decisão. E, caso o Douto Juízo não entenda pela nulidade, que seja provido o presente recurso para modificar a sentença de origem, a fim de que se alcance a mais pura e cristalina JUSTIÇA!
			(cidade), (data)
			________________________________ 
			 (nome do advogado)
			 OAB/SP................
e) Algumas notas sobre as partes estruturais das razões
- Da “breve síntese”
 
 Nessa parte das razões recursais se faz um resumo conciso do pleiteado na inicial, do alegado em defesa e do julgado na sentença atacada
Exemplo: “Em inicial, o Autor, ora Recorrido, pleiteia indenização por danos materiais sob o argumento de que em razão de acidente automobilístico ocorrido por culpa do Réu, ora Recorrente, adveio-lhe danos emergentes e lucros cessantes no importe de R$ ___________. Em defesa, o Réu nega a culpa no acidente narrado na inicial, imputando ao Autor ato imprudente que culminou no acidente. O Juízo a quo julgou procedente a ação, condenando o Réu, ora Recorrente, no pagamento de indenização no importe de R$ _______”.
- Da exposição dos fatos e fundamentos jurídicos com os quais o Recorrente pretende a modificação da sentença.
 Nesta parte do recurso o Recorrente ataca a sentença objetivando demonstrar que: 
 1. (discussão de fato) o juiz considerou existente um fato inexistente (ou considerouinexistente um fato existente), utilizando-se dos documentos e dos depoimentos constantes dos autos para demonstrar tal equívoco do juiz; e/ou 
2. (discussão de direito) que o Juiz aplicou equivocadamente uma norma jurídica ou não a interpretou corretamente 
Exemplo de argumentação sobre fato: “Data venia, equivocou-se o Douto Juízo ao afirmar que o Réu-Recorrente não respeitou o sinal vermelho a ele dirigido. Como se verifica da leitura do depoimento da testemunha Sr. Xxxxxxxx, cujo veículo se encontrava transitando ao lado do veículo do Réu e que declarou expressamente que o sinal encontrava-se “verde” para o Recorrido. 
						Ora, caberia ao Autor-Recorrido, na forma do artigo 333, I, do CPC, provar robustamente o alegado ato de negligência do Recorrente, sendo que, como se verifica dos elementos de prova trazidos aos autos, o Recorrido não logrou desincumbir-se de seu ônus probatório.
Exemplo de argumentação sobre direito: Equivocou-se o Douto Juízo ao aplicar o artigo ___ do Código de Defesa do Consumidor à relação existente entre as partes visto que, conforme cristalizada jurisprudência, o Réu-Recorrente não se enquadra no conceito de fornecedor....
IV - ESTRUTURA DE CONTRA-RAZÕES DE APELAÇÃO
(petição de encaminhamento das contra-razões de apelação)
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA __a VARA CÍVEL DA COMARCA DE _______________
Processo: 
 (nome do Recorrido), Autor/Réu, por seu advogado ao final assinado, nos autos do processo em epígrafe que move em face de (ou que lhe move) (nome do Recorrente, vem, mui respeitosamente, à presença de Vossa Excelência apresentar as suas CONTRA-RAZÕES DE APELAÇÃO, conforme elucidação anexa.
 Requer o Recorrido que sejam as presentes contra-razões juntadas aos autos a fim de serem objeto de apreciação do juízo ad quem.
			Termos em que,
			Pede e espera deferimento.
			(cidade), (dia) de (mês) de (ano).
 ___________________________
 (nome do advogado)
 OAB/SP....................
CONTRA- RAZÕES DE RECURSO DE APELAÇÃO
Recorrido: ...........................................
Recorrente: ..........................................
Processo: ........../xx da _ a Vara Cível da Comarca de ___________________
			EGRÉGIO TRIBUNAL.
			COLENDA CÂMARA.
DIGNÍSSIMOS JULGADORES.
 
			Apesar de todo o esforço do Recorrente em modificar a sentença a quo, não merece esta qualquer retoque tendo em vista compatibilizar-se perfeitamente com as provas produzidas nos autos.
Demonstremos: 
(Breve síntese da lide)
(Apresentação dos argumentos de fato e de direito com os quais o Recorrente pretende a manutenção da sentença.
Ante o todo exposto, espera o Recorrido que seja mantida integralmente a sentença de origem, tendo em vista tratar-se de medida da mais pura JUSTIÇA!
			(cidade), (data)
			________________________________ 
			 (nome do advogado)
			 OAB/SP................
 super dicas para você melhorar a qualidade das suas peças jurídicas
1
– Um bom texto é simples, claro, objetivo e gramaticalmente correto: simplicidade: embora obediente à língua culta, seu texto deve ser acessível, com o mínimo de erudição possível (diga “também” ou “igualmente” em vez de “outrossim”);
2
– clareza: fuja da ambiguidade, do “duplo sentido”, da ironia, do conteúdo implícito; seja explícito em suas idéias;
3
– objetividade: os juízes e tribunais têm pouco tempo; por isso, em textos jurídicos, “sendo completo, quanto menor, melhor”;
4
– correção gramatical: é ideal a ser perseguido por toda a vida; o único modo de se aprender gramática é, infelizmente, estudando-a; a leitura de escritores clássicos ajuda, mas não substitui o estudo da gramática.
5
– Dê espaço de quatro centímetros para a margem esquerda, para evitar que a autuação dificulte a leitura da manifestação.
6
– Os destaques (CAIXA ALTA, negrito, sublinhado, itálico, texto recuado etc.) devem ser usados com moderação, de modo que só os elementos que realmente o mereçam sejam destacados. Exemplos: são dignos de destaque o cabeçalho (nº do processo etc.), os itens e subitens da petição, a(s) palavra(s)-chave na conclusão de tese desenvolvida na petição, o nome da demanda proposta ou ato processual praticado (ação civil pública, denúncia, promoção de arquivamento etc.), o nome das partes envolvidas; não necessitam de destaque o nome de testemunhas, juízes, tribunais ou autores.
 
O destaque CAIXA ALTA, por ser muito espalhafatoso, deve ser evitado ou exclusivamente reservado para o(s) réu(s). E lembre-se: as aspas (“”) não são mero destaque, mas demonstração de citação, ironia, trocadilho, ambiguidade evidente e proposital, grande excepcionalidade, ditado popular, frase-feita ou estrutura rígida de palavras – fora desses casos, as aspas tendem a estar mal empregadas.
7
– No início da manifestação, evite dizer que “o Ministério Público Federal vem expor e requerer o que se segue” ou que “o Ministério Público Federal vem se manifestar nos termos seguintes” – seja direto, desde o início: “Trata-se de requerimento de viagem internacional, formulado pelo acusado…” ou “O acusado requer, na f. 87, autorização judicial para…”.
 
No final da manifestação, não é necessário escrever “Nestes termos, pede deferimento”, pois tal desejo de deferimento já está logicamente implícito nos pedidos e requerimentos expressamente deduzidos.
8
– Nas defesas, ou denúncias, imediatamente após qualificar o(s) acusado(s), crie tópico denominado “Síntese fática” e, ali, narre, baseando-se nos dados já obtidos pela investigação, a(s) conduta(s) penalmente típica(s) a ele(s) imputada(s), com todas suas elementares, causas de aumento e, se possível, também as circunstâncias agravantes, de modo a responder: quem? Quando? Onde? O que? Como? Por que? Para que? Com quem? Contra quem?
9
– Uma peça, por mais simples que seja, é manifestação única, autônoma. Devemos contextualizar a peça: ela tem que indicar sua razão de existir, ainda que sucintamente. Faça a pergunta: Se alguém ler a peça, isolada (e – é certo – várias pessoas a lerão isoladamente), haverá necessidade, para que ela seja compreendida, de que se consultem outras peças e documentos processuais? Se a compreensão da peça (aqui não estamos falando de construção do convencimento jurídico), se para sua simples compreensão houver necessidade de consultar outras peças processuais, é sinal de que sua peça não disse suficientemente a que veio. Por isso, evitemos dizer:
“O Ministério Público Federal, em atendimento ao despacho de f. 145 e considerando o ofício de f. 143, reitera sua manifestação de f. 141, para que seja reiterado o ofício de f. 139”.
A nossa manifestação não deve forçar o leitor a se aprofundar em pesquisas para decifrar o seu significado. Deixemos esse importante tarefa para os poetas e para os correspondentes de guerra!
Preferiremos nos manifestar assim, por exemplo:
“O Ministério Público Federal, em atendimento ao despacho de f. 145, informa que, segundo o ofício de f. 143, emitido pela Receita Federal do Brasil em Guarulhos, o parcelamento da dívida consolidada no procedimento administrativo nº 10830.005902/2006-10, em nome da sociedade empresária PREGOS & BROCAS LTDA. está sendo regularmente cumprido.
Por isso, o MPF aguarda a vinda de novas informações sobre a cumprimento do parcelamento; caso elas não sejam trazidas aos autos em três meses, requer, desde já, para esse fim, a expedição de ofício requisitório à Receita Federal do Brasil em Guarulhos. Com a resposta, aguarda-se nova vista, para manifestação”.
A manifestação, assim redigida, fica bem mais longa. Em contrapartida, disse absolutamente tudo o que tinha a dizer, sem meias-palavras.Em geral, com a repetição de manifestações sobre a mesma situação, sequer teremos o trabalho de elaborar a estrutura do texto – bastando cuidar das adaptações pontuais.
10
– Outros exemplos: dizer cumprimento “da decisão” (você sabe qual, mas quem está lendo não sabe – deve-se, no mínimo, fazer menção à folha em que ela está e, melhor ainda, ao seu comando: “da decisão que suspendeu o processo e o curso da prescrição”); escrever “entendimento majoritário do tribunal” (sem mencionar no mínimo três acórdãos que expressem, ou pelo menos indiciem, a maioria) pode parecer embromação; dizer que o Ministério Público “concorda o disposto à f. tal e requer o prosseguimento do feito em seus ulteriores termos” pode indicar que a dita ‘folha tal’ não foi analisada coisíssima nenhuma e de que estamos mais perdidos no processo do que cego em tiroteio – porque, geralmente, quem pede que o processo siga “em seus ulteriores termos” é porque não sabe ou está com preguiça de analisar quais devem ser os próximos passos do procedimento.
Esse tópico pode ser resumido em uma palavra: se você fez a análise do processo, sua manifestação deve espelhar, ainda que sucintamente, essa análise – que inclusive servirá para as futuras consultas ao processo, como uma espécie de síntese do que foi feito até aquele ponto.
11
– A abreviação para a palavra “folha” é “f.”, seja no singular, seja no plural. Por isso, evite usar “fl.” ou “fls.”. O intervalo entre folhas é designado por um hífen (-), não pela consagrada barra (/), que, rigorosamente, indica número fracionário (por exemplo: 3/5 significa “três quintos” e não “de três a cinco”). O correto é “na f. 10”, “de f. 12”, “nas f. 10-12”, “de f. 10-12”.
12
– A abreviação de “número” é n. ou nº, não “n.º”.
13
– Evitar adjetivos desnecessários, como “o ilustre Pontes de Miranda”, “o magistral ensinamento do saudoso Nélson Hungria”, “o colendo Supremo Tribunal Federal”. Exceções: a referência ao juiz ou tribunal da causa, para agradar o julgador ou amenizar crítica a ser proferida, pode ser precedida de elogio moderado (exemplo: “digno juiz”, “culto magistrado”, “douto juízo”, “egrégio tribunal” etc.)
 14
– O adjetivo “anexo” deve ser assim utilizado: “as provas anexas”, “o arquivo anexo”; não se deve escrever “as provas em anexo” ou “o arquivo em anexo”. Por outro lado, atente-se para a situação do documento referido: se ele figura como elemento secundário de petição ainda não juntada, ele se encontra “anexo” ou “acostado” (ou seja, nas costas), apenso ao elemento principal; se ele já está dentro dos autos, está “juntado nas f. 49-56”, “inserido nas f. 43-60”, “encartado nas f. 23-25”.
 15
– A expressão “sendo que”, quase sempre, é modo artificial de prolongar frase que deveria ter sido desdobrada, através de ponto e vírgula ou ponto. Em vez de dizer “dois técnicos da ANATEL identificaram a rádio clandestina, sendo que no local foram encontrados os respectivos equipamentos”, diga “dois técnicos da ANATEL identificaram a rádio clandestina; no local foram encontrados os respectivos equipamentos”.
 16
– A sigla “etc.” significa “et coetera” ou seja “e outros” (“e os restantes”). Por isso, como “etc.” já contém a conjunção “e”, não é correto usar “e” ou vírgula antes de tal sigla.
 17
– Evite a expressão “menor” (policialesca e anterior ao ECA), preferindo “criança” (até 11 anos) ou “adolescente” (entre 12 e 17 anos).
 18
– Ao abordar valores numéricos, dê preferência à forma por extenso. Evite, por exemplo, escrever “ele procurou o guichê de atendimento por 3 vezes”, preferindo “ele procurou o guichê de atendimento por três vezes”. Exceções:
expressões de valores em moeda. Nesse caso, colocar o valor em numeral (p. ex.: R$1.250,00).
 datas: usar a forma “10.11.2006”;
 em geral, para indicar quantidades superiores a vinte;
 os nomes de tribunais regionais federais podem, indiferentemente, ser grafados em numeral ordinal ou por extenso (tanto é correto escrever “Tribunal Regional Federal da Terceira Região” quanto grafar “Tribunal Regional Federal da 3ª Região” – aparentemente, os TRFs até preferem a segunda forma, com numeral ordinal); e
 claro, para fazer menção às folhas do processo.
 19
– Salvo quando o valor mereça ser destacado (por ser muito alto ou ínfimo, estranhamente coincidente ou divergente de outro valor relevante etc.). não é imprescindível escrever valor monetário por extenso – prática útil em cheques e em contratos (nos quais a possibilidade de fraude é grande), mas pouco necessária em trabalhos retóricos. Todavia, se for o caso de se escrever por extenso, a grafia de R$1.250,00 é “mil, duzentos e cinqüenta reais”, e não “um mil, duzentos e cinqüenta reais”, tampouco “hum mil, duzentos e cinqüenta reais”, formas adotadas em cheques para se evitarem golpes.
No caso de medidas precisas de massa, espaço, tempo etc., embora não seja obrigatório, costuma ser útil a redação do numeral arábico e por extenso: “1,349 g (mil, trezentos e quarenta e nove gramas)”, “3.547 m2 (três mil, quinhentos e quarenta e sete metros quadrados)”, 14h37min (quatorze horas e trinta e sete minutos).
 20
– Quando citar passagens do processo, fatos e documentos importantes, SEMPRE MENCIONAR AS FOLHAS em que está a informação. Isso facilita enormemente o trabalho de correção da peça e de compreensão de seu conteúdo e significado. Além de ser prova de dedicação e efetiva análise do processo. Mas ATENÇÃO: após o oferecimento das denúncias (e outras petições iniciais), pode ocorrer repaginação no Judiciário, de modo que o número de determinada folha no inquérito policial acabe sendo outro em sede judicial; uma forma de se evitar levar o julgador a erro é dizer, entre parênteses, logo no cabeçalho da denúncia:
(ATENÇÃO: Os números de página aqui mencionados se referem à ordenação dada pela Polícia, de modo que poderão ser alterados após eventual repaginação judicial)
 21
– Evite utilizar linguagem de telegrama: “Laudo pericial, f. 12-14” ou “Juntada folha de antecedentes às f. 167-170”. As orações, em geral, devem ter sujeito e predicado. Então, prefira: “O laudo pericial foi juntado nas f. 12-14”, “A folha de antecedentes foi inserida nas f. 167-170” ou “Foi encartada a folha de antecedentes nas f. 167-170”.
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– Outra impropriedade linguística: costuma-se dizer que “o laudo toxicológico foi anexado/acostado/apensado nas f. 30-33 dos autos”; rigorosamente, “anexar” significa “reunir (o que era independente) a outra coisa, considerada principal”; “acostar” remete a “costas”; e apensar é “juntar como apenso (de outra coisa, considerada principal)”; ou seja: salvo nas situações em que haja realmente a junção de feito principal e feito acessório (de modo que este foi/será anexado/acostado/apensado naquele), prefira dizer que “o laudo toxicológico foijuntado/inserido/encartado/aposto/alocado nas f. 30-33 dos autos”.
23
– Segundo a ABNT, a forma correta de se mencionar o município e a unidade da federação é a seguinte: Guarulhos, SP – seguida ou não de vírgula, a depender do contexto. Não utilizaremos, pois, “Guarulhos/SP”, “Guarulhos/S.P.” ou “Guarulhos, São Paulo”.
24 
– Todas as páginas das manifestações deverão ser numeradas, de preferência do modo como se fez neste “mini-manual”: “1/7”, “2/7”, “3/7”, “4/7”, “5/7”, “6/7” e “7/7”.Atenção: “f. 1/7” significa “página 1, dentro do total de 7”; “f. 1-7” signifca “da folha 1 à folha 7”.
Peças Processuais: Curtas ou Longas?
Este artigo tem por finalidade tecer algumas considerações acerca do tamanho das peças processuais, sobretudo analisando as vantagens que as peças mais curtas podem proporcionar, bem como demonstrando o porquê da resistência de alguns profissionais do Direito quanto ao assunto. Vejamos: Talvez um dos maiores problemas que ainda persistem na Justiça Brasileira é a morosidade processual. Assim, algumas medidas devem e estão sendo tomadas para que a celeridade dos processos não seja prejudicada e ocorra um crescente aumento na quantidadede julgamentos em nosso país.
A respeito do exagero em peças processuais, Roger Luiz Maciel, em sua obra Linguagem Jurídica:
Há transcrições exageradas de textos de leis, doutrinas e jurisprudências. Desconsidera o advogado, que um par de teses favoráveis ao seu pedido já é suficiente. O juiz nunca lerá integralmente uma petição extensa. Para conseguir despachar inúmeros processos diariamente, é obrigado a dispensar o supérfluo e se ater apenas ao essencial. Ao exagerar em citações, o peticionário estará somente desperdiçando tempo e engrossando os autos processuais. A economia processual é palavra de ordem na órbita da justiça e elemento mor para a celeridade dos processos. Ater-se ao formalmente necessário é meia causa ganha pelo profissional do direito. (MACIEL, 2007).
Assim, uma peça concisa e clara auxilia na economia temporal do trâmite de um processo. Logo, estar-se-ia evitando também o famoso “copia e cola” presente em muitas petições, o qual é desnecessário, uma vez que não será a quantidade de palavras presentes em uma peça que fará a diferença e sim a qualidade do conteúdo.
Aliás, essa é a proposta do projeto “Petição 10, Sentença 10” idealizado pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, cujo Projeto será abordado futuramente em mais um artigo do nosso Blog.Através de petições mais curtas, o operador do Direito vai “direto ao ponto”, sem muitas delongas e vastas jurisprudências coladas, facilitando então o trabalho de todos e auxiliando em uma Justiça mais rápida e eficaz.
Além disso, entra a questão da responsabilidade social e ambiental. Com petições mais enxutas, inúmeras folhas e consequentemente inúmeras árvores serão poupadas, bem como ocorre uma diminuição da utilização de jatos de tinta e toners de impressão. Outro lado positivo é a economia financeira que o advogado terá com a diminuição de folhas e tintas já mencionadas. Obviamente que com o processo eletrônico implementado em todas as comarcas, esse problema ambiental praticamente acabará, mas é válido nesse momento fazer essa ressalva.
De outra banda, existem operadores do Direito que enxergam de maneira diversa o presente tema e alegam que uma economia de laudas reduziria também a sua qualidade de uma peça processual. Segundo eles, os fatos devem ser muito bem expostos, bem como os direitos, além de jurisprudência e doutrina que se referem ao assunto para dar segurança a uma sentença favorável.
Questionam sobre a construção do Direito em geral, através de novos e bem embasados argumentos, abalizado pela lei, pela doutrina e pelos costumes. Através de páginas limitadas, o direito não seria demonstrado de forma plena.
Assim, sopesando ambos os lados chegamos a seguinte conclusão: petições mais curtas, talvez com limites de páginas, ajudarão muito para a celeridade processual e o julgamento de um número maior de lides em nosso país, sem falar na economia financeira do advogado e na responsabilidade social e ambiental que envolve o emaranhado de folhas e tintas “desnecessárias”. Contudo, se uma ação for extremamente complexa, obviamente que, na busca da tutela jurisdicional, um número maior de páginas será utilizada, haja vista que nesse caso, existe uma necessidade real para tanto.
Enfim, mudaria o cenário atual, onde as petições longas são abundantes e as curtas são exceções, para uma nova realidade, onde peças curtas sejam as padrões e raramente exista exceções com petições longas. Desse modo e com uma nova mentalidade dos operadores do Direito a Justiça e toda a população serão seriam beneficiadas. Vamos aguardar pelos resultados.
Lógica jurídica, argumentação e racionalidade
O papel da Lógica Jurídica consiste não só em garantir a possibilidade de que as conclusões silogísticas, quando cabíveis, sejam corretas, mas também, e fundamentalmente, em possibilitar que as escolhas das premissas sejam feitas de forma racional e justificada, garantindo que o Direito possa efetivamente ser qualificado como Ciência e possibilitando que se exerça um controle mais apropriado das decisões jurídicas.
SUMÁRIO: Introdução;  2. A Lógica. 3. Lógica jurídica. 4. Direito e Lógica em Hans Kelsen. 5. Recaséns Siches e a lógica do razoável. 6. A teoria da argumentação de Robert Alexy.  7.Conclusões.  Referências.
RESUMO: O presente artigo trata das relações entre a Lógica e o Direito, partindo da problematização das ideias de que o Direito seria um sistema lógico e de que a aplicação das leis a um caso concreto seria uma simples operação lógico-dedutiva. Defende-se a adoção de um conceito ampliado de lógica, que inclua não só a lógica formal, mas também os raciocínios não-dedutivos, de forma a possibilitar a superação da polêmica acerca da existência de uma lógica jurídica, evidenciando sua existência como um ramo do saber com um objeto mais amplo do que o da lógica formal, abarcando, além dos processos estritamente lógico-formais, como a dedução e a indução, métodos extra-lógicos de justificação das decisões judiciais, como a analogia e a argumentação retórica.  Em seguida, analisa-se o papel dos princípios ou leis da lógica jurídica nos processos de justificação racional das decisões judiciais na teoria pura do Direito de Kelsen, na lógica do razoável de Recaséns Siches e na teoria da argumentação de Robert Alexy.
INTRODUÇÃO
É muito difundida a ideia de que o Direito guarda íntima ligação com a Lógica, e que nas relações estabelecidas entre as diversas normas que formam o ordenamento jurídico-positivo, bem como na aplicação dessas normas aos casos concretos, devem ser obedecidos os princípios da lógica. Lee Lowwvinger afirma que a “lógica, ou razão tem sido reivindicada por filósofos igualmente como propriedade especial e como fundamento principal do Direito, desde pelo menos o tempo de Aristóteles” (apud Kelsen 1986, p. 434).  Para a maioria dos leigos e grande parte dos juristas, assim, o Direito é um fenômeno estritamente lógico, cabendo ao juiz, ao aplicar a lei a um caso concreto, deduzir logicamente a sentença a partir do silogismo entre as leis gerais e os fatos.  Daí ter W. F. Maitland, historiador do Direito inglês, afirmado que os juristas “são os mediadores entre a vida e a lógica” (apud KELSEN, 1965, p. 275).  
Com efeito, é comum os operadores do direito sustentarem a necessidade de uma “aplicação lógica” das leis ou defenderem a “argumentação lógica” na sua atuação diária.  Neste sentido, Aldisert, Clowney e Peterson (2007, p. 100/102) afirmam que:
Logic is the lifeblood of American law. In case after case, prosecutors, defense counsel, civil attorneys and judges call upon the rules of logic to structure their arguments. Law professors, for their part, demand that students defend their comments with coherent, identifiable logic. By now we are all familiar with the great line spoken by Professor Kingsfield in The Paper Chase: “You come in here with a head full of mush and you leave thinking like a lawyer.” (…) Logic anchors the law. The law’s insistence on sound, explicit reasoning keeps lawyers and judges from making arguments based on untethered, unprincipled, and undisciplined hunches.[1]
De acordo com esse modelo lógico-formal, o Direito, ou mais especificamente, o raciocínio jurídico, seria construído a partir de normas que se vinculam por inferência lógica, de sorte que seria possível fazer-se um encadeamento racional das normas, desde uma norma geral e abstrata, de hierarquia superior e na qual se fundam as demais, até a mais concreta e específica, diretamente aplicável ao caso concreto,  formando-se assim uma pirâmide normativa cujo ápice seria ocupado pela Constituição[2].  Além desssa relação entre normas, haveria também uma relação lógica de inferência entre as normas e o fato posto em julgamento, de tal modo que a conclusão, isto é, a sentença, seria o produto de um ato racional de aplicação lógica.
 Neste modelo, que teve suas bases estruturadas a partir do liberalismo do século XVIII, a atividade judicial é tida como meramente declaratória da normalegal aplicável ao caso concreto, cabendo ao juiz unicamente fazer um silogismo lógico-dedutivo em que a premissa maior seria a norma e a premissa menor seria o fato, decorrendo daí uma única solução possível, que deveria ser a adotada.  O papel a ser desempenhado pelo juiz, assim, seria o de mero aplicador da lei, cabendo-lhe tão-somente “dizer a lei do caso concreto”, extraída a partir da lei genérica e abstrata.  Por isso é que Montesquieu (1997, p. 203) afirmava que os juízes “(...) não são mais do que a boca que pronuncia as palavras da lei; seres inanimados que não podem moderar-lhe nem a força nem o rigor”. Em virtude dessa visão, como afirma Kantorowicz (apud Prado, 1995, p. 62),
Imaginava-se o jurista ideal como um funcionário de certa categoria, sentado diante de sua escrivaninha, armado de um código e de uma máquina de pensar da mais fina espécie. Diante de um caso qualquer, podia esse funcionário, com o auxílio da lei e da máquina, chegar à solução pretendida pelo legislador no código, com uma exatidão absoluta.
 No mesmo sentido, tornando explícita a forma como a ligação entre a lógica e o direito era vista, afirmou Beccaria (1995, p.17) que:
O juiz deve fazer um silogismo perfeito. A maior deve ser a lei geral; a menor, a ação conforme ou não à lei; a conseqüência, a liberdade ou a pena. Se o juiz for constrangido a fazer um raciocínio a mais, ou se o fizer por conta própria, tudo se torna incerto e obscuro.
Ocorre, entretanto, que vários fatores, entre os quais a crescente positivação de direitos fundamentais, não só relacionados aos direitos civis e políticos, mas também aos chamados direitos econômicos, sociais e culturais, além do reconhecimento da Constituição como verdadeira norma impositiva e cogente, e não mais a mera “folha de papel” de Lassalle (HESSE, 1995), geraram um crescimento do grau de jurisdicionalização da vida social e política que redundou numa profunda alteração do papel desempenhado pelo Poder Judiciário nas democracias modernas, onde não mais é possível validamente sustentar-se a correção da concepção liberal-legal clássica. 
   Tais fatores, aliados ao reconhecimento da existência de lacunas e antinomias no ordenamento, bem como do caráter vago e impreciso das normas, tornaram evidente que em muitos casos as decisões judiciais não são meros produtos do raciocínio lógico-dedutivo de aplicação de normas válidas e enunciados empíricos comprovados.  Como afirma Alexy (2001, p. 17), a constatação feita por Larenz de que atualmente ninguém mais pode afirmar seriamente que a aplicação das normas jurídicas nada mais é do que uma subsunção lógica sob premissas maiores formuladas abstratamente “é um dos poucos pontos em que há unanimidade dos juristas na discussão da metodologia contemporânea”.  
Com efeito, a relação entre o direito e a lógica, pelo menos nessa forma estrita defendida pelo modelo formalista, está longe de ser pacífica, como bem demonstra a célebre  frase do Justice Holmes, para quem “a vida do Direito não tem sido lógica, mas experiência”.  No mesmo sentido, afirmou Taine que “as sociedades humanas são um escândalo para a razão pura, pois elas não são obra da Lógica, mas da história” (apud FRANCO MONTORO, 1995, p. 20).
�2. A LÓGICA.
Além dos inúmeros pontos de tensão existentes na relação entre o Direito e a Lógica, há ainda uma grande dificuldade decorrente da falta de unidade terminológica.  Não raro nos discursos jurídicos o termo “lógica” é utilizado sem muito rigor, como um adjetivo ligado à coerência do discurso. Mesmo quando os juristas se referem à Lógica enquanto ciência, nem sempre estão se referindo a uma mesma coisa. Como afirmou Chaim Perelman (1973, p. IX),
Assim, antes de se iniciar uma discussão acerca das relações entre a Lógica e o Direito (e à questão relativa á própria existência de uma Lógica Jurídica), é necessário que se delimite aquilo a que nos referimos quando falamos de lógica.   Neste aspecto, como Fabio Ulhoa Coelho (2009, p. 04), temos que por lógica deve-se entender uma maneira específica de pensar, ou melhor, de organizar o pensamento, ou, como afirma Cezar Mortari “lógica é a ciência que estuda princípios e métodos de inferência, tendo o objetivo principal de determinar em que condições certas coisas se seguem (são conseqüência), ou não, de outras” (apud CARNEIRO, 2010, p. 1).
Por seu turno, a validade do raciocínio lógico é conferida pela obediência a algumas leis ou princípios fundamentais da lógica, que garantem a correção formal do pensamento. Estes princípios ou leis, derivados da forma típica do racionalismo ocidental, que propugnava conhecer algo através da razão, são os princípios da identidade, do terceiro excluído e da não-contradição. 
Pelo princípio da identidade, entende-se que “o que é, é”, ou seja, que todo objeto é idêntico a si mesmo. Como afirma Fábio Ulhoa Coelho (2009, p. 6), “no interior do pensamento lógico, as coisas não podem ser entendidas como um complexo de múltiplos fatores contraditórios. Uma árvore é uma árvore, e não o vir a ser de uma semente”.
Por seu turno, o princípio da não-contradição decorre do princípio da identidade e significa que nenhum objeto pode ser ao mesmo tempo ele e não-ele, ou seja, um determinado objeto A não pode ser, ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto, não-A, de modo que se dois enunciados contraditórios sobre o mesmo objeto não podem ser simultaneamente verdadeiros. Decorre daí o princípio do terceiro excluído, pelo qual se afirma que se dois enunciados são contraditórios, um deles será verdadeiro e o outro falso (embora nada se afirme quanto a qual deles é o verdadeiro). Daí que, nos casos de proposições contraditórias, verificada a veracidade de uma delas, a outra será necessariamente falsa, e vice-versa. Por isso é chamado de terceiro excluído, já que não há uma terceira opção, ou seja, ou as proposições são verdadeiras ou falsas. 
De se ressaltar, ainda, que tais princípios da lógica formal não guardam nenhuma relação com a veracidade ou validade do conteúdo da argumentação lógica.  Como afirma Coelho (2009, p. 7),
O argumento pode ser lógico, mas isso não quer dizer que sua conclusão seja necessariamente verdadeira, isto é, corresponda à realidade. Muito pelo contrário, a única garantia que o raciocínio lógico oferece é a de que, sendo verdadeiras as premissas e válida a inferência, a conclusão será verdadeira.  Em outros termos, há duas condições para que o raciocínio lógico nos conduza à verdade: a veracidade das premissas e a correção do próprio raciocínio.  Os lógicos se ocupam dessa segunda condição apenas, já que da veracidade das premissas cuidam os cientistas (biólogos, matemáticos, físicos, sociólogos, psicólogos, etc.).
Ocorre, entretanto, que o termo lógica, como assinalado por Kalinowski (1973, p. 30), é suscetível de pelo menos três sentidos: o mais restrito, segundo o qual a lógica seria apenas a lógica formal dedutiva, a ciência das estruturas formais do pensamento; um sentido amplo, que designa não só a lógica formal, mas também a lógica não dedutiva, que estuda os esquemas e regras dos raciocínios não-dedutivos (como os redutivos e analógicos), e, por fim, um sentido ainda mais ampliado, que incluiria a metalógica, isto é, a parte da lógica que estuda também as propriedades e os componentes dos sistemas lógicos.
O sentido restrito é o mais utilizado quando se trata da Ciência da Lógica[4].   É neste sentido que, como anotado por Franco Montoro (1995, p. 16), posicionam-se, entre outros, Ulrich Klug (“por Lógica, deve-se entender sempre a lógica formal”),  Carnap (“lógica não-formal é um contradictio in adjeto”) e Lourival Vilanova (“Lógica, tout cort, é lógica formal”). 
�2. LÓGICA JURÍDICA.
Apesar do sentido restrito de lógica ser o mais difundido, no presente trabalho adotaremos o segundo dos sentidos supra apontados, opção que, além de ser mais apropriada para lidar com as relações entre lógica e direito, objeto deste estudo, também tem a vantagem de permitir superar a polêmica e complexaquestão relativa à existência da lógica jurídica.  É que aqueles que defendem a inexistência de uma lógica especificamente jurídica têm como pressuposto a noção de que a lógica seria unicamente a lógica formal (sentido restrito).
Ora, de fato, ao se entender a lógica unicamente como a lógica formal, que analisa as inferências necessárias entre as proposições, resta evidente que a aplicação da lógica ao direito não configuraria uma nova disciplina, mas seria antes a mera aplicação de postulados universais a um ramo específico do saber, de modo que não seria possível falar-se em lógica jurídica, posto que, como afirma Chaim Perelman (1998, p. 5),  
(...) se identificarmos “lógica pura e simples” com a lógica formal, não apenas esta última expressão se torna pleonástica, mas é ridículo falar de lógica jurídica, como seria ridículo falar de lógica bioquímica ou lógica zoológica quando utilizamos as regras da lógica formal em um tratado de bioquímica ou zoologia
Em contraponto, a adoção de um conceito mais amplo de lógica, que inclua também as operações não dedutivas, como a argumentação retórica e a analogia, faz com que se evidencie a existência autônoma de uma lógica jurídica.  Neste sentido, o lógico polonês Kalinowski (1973, p. 33), que inicialmente combatia a idéia da existência da lógica jurídica, ao justificar sua mudança de entendimento, afirmou que:
A lógica jurídica, pois, deve ter reconhecida sua cidadania científica e epistemológica, dotada de um objeto mais amplo que o da lógica formal, posto que inclui também os elementos racionais não dedutivos ou extra-lógicos identificáveis nas decisões judiciais.  Essa visão acentua a íntima relação entre a Lógica jurídica, a teoria da argumentação e a metodologia do Direito, na medida em que a possibilidade de existência de justificações racionais para as decisões jurídicas é um dos mais basilares pressupostos para a qualificação do direito como ciência.  Com razão, portanto, Karl Engish (1965, p. 7-8), quando afirma que:  
A lógica do jurista é uma lógica material que, com fundamento na lógica formal e dentro dos quadros desta, por um lado, e em combinação com a metodologia jurídica especial, por outro lado, deve mostrar como é que nos assuntos jurídicos se alcançam juízos "verdadeiros", ou "justos" (correctos), ou pelo menos "defensáveis". Uma lógica e metódica do jurista assim entendida não é uma "técnica" que ensine artifícios conceituais com cujo auxílio se possam dominar do modo mais expedito possível as tarefas de pensamento que se deparam ao estudioso do direito. Ela também não é psicologia ou sociologia da heurística jurídica, a qual indaga como se conduzem de facto as pessoas na prática quotidiana ao adquirirem pontos de vista jurídicos. Constitui antes reflexão sobre o processo de conhecimento jurídico especificamente correcto, o que não é coisa de fácil penetração. Ela esforça-se por alcançar (nos limites do que ao conhecimento humano é possível) a meta de descobrir a "verdade" e emitir juízos conclusivamente fundados.
A Lógica jurídica, pois, estuda todas as formas racionais de justificação de uma proposição normativa, incluindo-se aí não só aquelas que assumem a forma de raciocínios dedutivos ou indutivos, objeto da lógica formal, mas também aquelas justificações fundadas na analogia, na argumentação e na retórica.  Questão tormentosa daí decorrente é a relativa a saber como as leis e princípios da lógica são (ou devem ser) aplicáveis ao direito[6], ou, em outros termos, quais são as os princípios ou leis da lógica jurídica e qual o seu papel nos processos de justificação racional de uma decisão jurídica. 
Evidentemente não há consenso no âmbito da filosofia jurídica e da teoria do direito sobre o tema.  Ao contrário, neste campo, as divergências doutrinárias são grandes e profundas, até em virtude de sua íntima relação com o conceito de Direito, outro tema também dado a insuperáveis controvérsias.  Por isso, provavelmente a melhor forma de se trabalhar a questão seja fazendo uma incursão sobre algumas das mais influentes teorias acerca da relação entre lógica e direito, a saber, a teoria pura do Direito de Kelsen, a lógica do razoável de Recaséns Siches e a teoria da argumentação de Robert Alexy.  Ressalte-se que a escolha desses autores deveu-se não só ao elevado grau de aceitação que suas teorias tiveram na doutrina e jurisprudência brasileiras, mas também, e fundamentalmente, em razão do fato de que as diferenças entre as abordagens de cada um deles permite analisar de uma perspectiva diferente as relações do Direito e da lógica[7].
�3. DIREITO E LÓGICA EM HANS KELSEN.
 Hans Kelsen é provavelmente o mais influente dos teóricos do direito do século XX, a tal ponto do espanhol Luis Legazy Lacambra ter afirmado que o pensamento jurídico do século XX teria de ser um permanente diálogo com Kelsen (apud FERRAZ JÚNIOR, 1995, p. 14). Uma das principais características do pensamento kelseniano é o seu rigor metodológico, fundado na permanente busca pela identificação do objeto e método específicos do Direito, objetivando a construção de uma teoria do direito depurada de elementos extra ou meta-jurídicos, ou seja, “uma teoria jurídica pura, isto é, purificada de toda a ideologia política e de todos os elementos de ciência natural, uma teoria jurídica consciente da sua especificidade porque consciente da legalidade específica do seu objeto.” (KELSEN, 1999, p. VII).
A Teoria kelseniana parte de um radical corte epistemológico que, mesmo sem desconhecer o caráter transdisciplinar do fenômeno jurídico e a importância dos outros saberes para sua compreensão, aponta como objeto e método precípuo da ciência do direito o estudo das normas. Kelsen, partindo da divisão entre o mundo do ser (próprio das ciências naturais e fundado no princípio da causalidade) e o mundo do dever-ser (próprio das ciências normativas, fundando-se no princípio da imputação), faz uma distinção entre normas e proposições jurídicas.  
As normas seriam os atos de vontade emitidos pela autoridade competente, isto é, o legislador ou o administrador, nos casos das leis e regulamentos gerais, ou o juiz, no caso da sentença (valendo ressaltar que na teoria kelseniana a atividade judicial não é meramente declaratória, mas criadora de norma individual).  Para Kelsen (1986, p. 1/2),
Com o termo [norma] se designa um mandamento, uma prescrição, uma ordem. Mandamento não é, todavia, a única função da norma.Também conferir poderes, permitir, derrogar são funções de normas. [..] “Norma” dá a entender a alguém que alguma coisa deve ser ou acontecer, desde que a palavra “norma” indique uma prescrição, um mandamento. Sua expressão lingüística é um imperativo ou uma proposição de dever-ser.
Por seu turno, as proposições jurídicas, isto é, as proposições da ciência do Direito (doutrina) não configurariam atos de vontade, mas sim atos de pensamento, na medida em que a doutrina não cria normas, mas tão-somente descreve as normas existentes.  As proposições da Ciência do Direito, pois, não seriam prescritivas, mas descritivas.  Assim, para Kelsen,
A Ciência do Direito contém proposições que são enunciados sobre normas jurídicas. Ela expõe normas jurídicas, descreve normas jurídicas.  Essas proposições não são propriamente normas, mas enunciados sobre normas.  Como Ciência, a Ciência do Direito apenas pode conhecer e descrever normas a ela dadas, e não estabelecer normas.
Essa distinção entre as normas e as proposições  feitas pela doutrina sobre as normas é essencial para a compreensão das teses de Kelsen acerca das relações entre a Lógica e o Direito, posto que na teoria kelseniana a Ciência do Direito, assim como qualquer outra ciência, tem como pressuposto o respeito às regras da lógica nas suas proposições.  Por outro lado, no que se refere às normas, que não são atos de pensamento, mas atos de vontade, não haveria qualquer lógica interna, já que as autoridades simplesmente editam as normas, no exercício de suas competências, sem qualquer compromissocom o rigor lógico. Como afirma Fábio Ulhoa Coelho (2009, p. 51), 
(...) em Kelsen, as autoridades, sem qualquer preocupação sistemática ou lógica, editam normas gerais ou individuais, enquanto os cientistas do Direito recuperam esse material bruto (como os astrônomos recolhem do céu o movimento errático das estrelas) e dão-lhe forma lógica indispensável ao seu conhecimento científico.  A ordem jurídica, em Kelsen, não é lógica; a ciência jurídica é que deve descrevê-la como tal.
Tem-se, assim, que na teoria kelseniana cabe à doutrina a obrigação de seguir as regras e leis da lógica na elaboração de suas proposições a partir da ordem jurídica posta, para poder construir a partir dela o sistema jurídico (este sim, de natureza descritiva e sujeito às regras da lógica), uma vez que
A aplicabilidade de princípios lógicos à Ciência do Direito geralmente não é problema porque os princípios da Lógica são aplicáveis a todas as Ciências. [...] Que, se existe algo assim como “legal thinking”, pensamento jurídico, os princípios da lógica são aplicáveis a esse pensamento, ou mais corretamente: ao sentido dos atos de pensamentos jurídicos, é evidente.  Mas o problema é se eles são aplicáveis a normas, que não são sentidos de atos de pensamento, senão o sentido de atos de vontade. (KELSEN,1986, p. 240/315),
Por outro lado, Kelsen contrapõe-se veementemente à possibilidade de aplicação dos princípios lógicos da não contradição e da inferência (conclusão) às normas.  Ele parte da idéia de que a análise lógica pode apenas dizer respeito a enunciados que são verdadeiros ou falsos e verificáveis, e que as normas não são verdadeiras ou falsas, e sim válidas ou inválidas.
 Essa distinção entre uma norma e uma asserção se torna evidente quando se compara, por exemplo, a norma que dispõe que o homicídio deve ser punido com reclusão de 6 a 20 anos, com a asserção de que “todo homem é mortal”.  A asserção tem a estrutura de um ato de conhecimento que, a depender da adequação de seu conteúdo à realidade, pode ser qualificado como verdadeiro ou falso, enquanto na norma verifica-se um ato de vontade editado pelo legislador e dirigido abstratamente à conformação da conduta de todos os cidadãos, que devem se abster de praticar o ato incriminado. A norma não pode ser qualificada como verdadeira ou falsa, mas sim de válida ou inválida. Nas palavras de Kelsen, (1965, p. 276/277)
A partir dessa constatação, Kelsen afirma não ser possível aplicar-se às normas o princípio lógico da não contradição, que somente teria sentido quando aplicado a asserções. Isso porque, quando se trabalha com asserções, a existência de duas afirmações contraditórias sobre um mesmo objeto implica que um deles seja falso (princípio da não-contradição).   Assim, se é afirmado que “todo homem é mortal” e que “o homem José é imortal”, uma das asserções é falsa.
Quando se trata de normas, todavia, a existência de um conflito não pode ser resolvido por princípios lógicos, mas unicamente por uma terceira norma que derrogue uma das normas conflitantes. A validade de uma norma não implica necessariamente que outra norma que a ela seja contraditória seja inválida.  As fórmulas tradicionalmente utilizadas para a solução de conflitos normativos, tais como as proposições de que as normas hierarquicamente superiores derrogam as inferiores, que a norma posterior derroga a anterior ou de que a norma especial derroga a norma geral, não configuram aplicação de princípios lógicos, mas aplicação de normas jurídicas existentes no direito positivo, ainda que não prevista expressamente na lei, sendo apenas pressuposta pelo legislador  (KELSEN, 1986, p. 263 e ss.). 
Defende Kelsen, ainda, a tese de que os silogismos não são aplicáveis direta ou indiretamente às normas.  Para ele, o silogismo normativo não pode ser admitido porque as premissas não têm o mesmo caráter lógico, já que a premissa maior é uma norma geral hipotética (ex. aquele que cometer homicídio deve ser punido com reclusão de 6 a 20 anos) e a premissa menor (ex. João cometeu homicídio) é uma asserção, um enunciado sobre um fato, de modo que não há relação lógica possível entre ambas e, portanto, não é possível extrair-se a validade da norma individual (a conclusão do silogismo, a sentença) da norma geral à qual ela corresponde.
Coerente com essa idéia, Kelsen afirma que a decisão judicial de um caso concreto não é produto de uma operação lógica que deduz a norma individual (sentença) a partir da subsunção de uma regra geral aos fatos, mas sim configura “também criação do Direito, a continuação do processo de produção do direito que acontece no processo legislativo (ou no costume). Ela é um ato de individualização das normas jurídicas gerais que devem ser aplicadas” (1986, p. 286). Esse caráter criativo da atividade jurisdicional fica mais evidente quando se percebe que o juiz, ao suprimir as lacunas porventura existentes ou decidir com base na analogia, não estará realizando qualquer operação lógica de dedução, mas sim criando normas dentro do espaço de discricionariedade que lhe foi conferido.  A tradicional ideia de que o juiz, em sua atuação, não teria poder discricionário, pois estaria vinculado ao “espírito da lei”, nada mais é do que uma ficção com fins meramente ideológicos. Para Kelsen (1986, p. 345/347),
(...) na teoria jurídica, procura-se indicar esse arbítrio do juiz como limitado, quando se assevera que o juiz precisa preocupar-se com o espírito da lei, se ele aceita o fato sub judice como semelhante ou de acordo, no essencial, com o fato típico determinado na norma a ser aplicada.
O que é o “espírito da lei”, naturalmente só o juiz mesmo pode definir, e esta definição pode sair muito diferente em diversos litígios a serem definidos por diferentes juízes.  O “espírito da lei” é – no fundo – uma ficção que serve para manter a aparência de que o juiz apenas aplica o direito válido também em casos de decisão analógica, enquanto ele, em verdade, cria Direito novo para o caso concreto. Para isto, porém ele precisa estar autorizado pelo ordenamento jurídico. [...]
O que efetivamente existe quando a ciência do Direito tradicional (jurisprudenz) fala de uma decisão judicial per analogiam, de modo algum é uma conclusão, na qual na validade de uma norma geral positiva logicamente segue-se a validade de uma norma individual da decisão judicial, senão a estatuição de uma norma individual autorizada pelo ordenamento jurídico vigente, a qual não corresponde a nenhuma norma jurídica geral, conteudisticamente determinada. [...]
O que se chama uma conclusão analógica geralmente não representa processo lógico, o que ainda mais procede para a chamada conclusão jurídico-analógica.  
Para Kelsen, portanto, as regras e leis da Lógica formal somente seriam aplicáveis às proposições da Ciência do Direito (ou seja, à doutrina).  Às normas, em especial à sua aplicação judicial (jurisprudência), a leis e regras da lógica formal, especialmente o princípio da não contradição e a regra da conclusão a partir de um silogismo, não seriam aplicáveis.
4. RECASÉNS SICHES E A LÓGICA DO RAZOÁVEL.
Partindo de premissas metodológicas bastante diversas daquelas utilizadas por Kelsen, o espanhol Luis Recaséns Siches defende a tese de que a lógica do direito não é a lógica formal, mas a Lógica do razoável, uma lógica não-formal que procura soluções mais corretas e adequadas para os casos concretos naquelas hipóteses em que a aplicação da lógica formal leva a conclusões evidentemente injustas ou divorciadas das finalidades da norma (COELHO, 2009, p.84). Para Siches,
Segundo Siches, seria um grande erro pretender tratar o Direito com os métodos da lógica tradicional, dado que os pensamentos dos operadores do Direito, sejam legisladores, sejam juízes,  advogados ou filósofos do direito não constituem um pensamento sistemático, mas um pensamento construído sobre problemas. Por essa razão ele sustenta  que
A lógica do razoável, portanto, é uma lógica material, ligada não ao estudo das conexões ideaisentre as proposições e das correções formais das inferências, mas sobretudo voltada especificamente ao tratamento dos assuntos humanos, como a economia, a política e o direito.  Siches defende que todos os métodos de interpretação tradicionalmente defendidos pela doutrina (gramatical, histórico, analógico, teleológico, sistemática, etc.) são meros recursos técnicos utilizados quando o jurista sente a necessidade de justificar uma dada interpretação que lhe parecia justa, quando na verdade, “a única regra que se deve formular, com validade universal, é a seguinte: o juiz deve interpretar, sempre, a lei de modo que leve à solução mais justa dentre todas as possíveis [...]”(apud PRADO,1995, p. 66).
Siches compartilha com Kelsen a idéia de que a atividade do juiz é criadora de normas, e não meramente declaratória.  Para ele, ao sentenciar, o juiz reconstrói o fato, pondera as circunstâncias às quais atribui relevo, escolhe a norma aplicável e só então lhe confere o sentido e o alcance (AGUIAR JÚNIOR, p. 11). Este processo, ao contrário do que ocorre no campo da aplicação da lógica tradicional, que se pretende neutra e meramente explicativa, é profudamente marcado por seu caráter axiológico ou valorativo, já que o que se busca é entender os sentidos e nexos entre as significações dos problemas humanos.  Como afirma Prado (1995, p. 66)
Ao juiz e mesmo ao legislador não interessa a realidade pura, mas sim decidir sobre o que fazer de certos aspectos de determinadas realidades.  E, precisamente, os aspectos que dessas realidades interessam acham-se interligados com critérios estimativos.  O que ao juiz cabe averiguar é se a valoração, que serviu ao legislador como determinante do preceito inserto na norma, seria aplicável ao novo caso colocado.
Daí que o cerne da criação legislativa não é o texto da lei, mas os juízos de valor que foram acolhidos pelo legislador na elaboração da norma. Assim, o juiz, ao decidir um caso concreto, frente a situações particulares, deve atentar para os valores que guiaram o legislador.  Siches (apud Manson, 1977, p. 204) exemplifica essa forma de atuação retomando o caso narrado por Radbruch, ocorrido na Polônia, em que, numa estação ferroviária onde havia um cartaz proibindo a entrada de pessoas com cães, certo dia chegou um camponês trazendo consigo um urso.  O funcionário da estação proibiu o camponês de entrar, ao que este protestou, alegando que o cartaz proibia unicamente a entrada de cães, fazendo surgir um conflito quanto à aplicabilidade da norma ao caso. 
Afirma Siches que se na resolução deste caso forem aplicados unicamente os instrumentos da lógica tradicional, a entrada do camponês na estação deveria ser garantida, ao passo que a entrada de um cego acompanhado de seu cão-guia deveria ser proibida. Assim, para ele, a solução em ambas as situações somente poderia ser adequadamente encontrada caso o aplicador da norma deixasse de lado as regras da lógica formal e se utilizasse de critérios não-formais, como o argumento a fortiori (se está proibido A e B é mais grave que A, então B também está proibido), buscando nos valores que levaram à edição da norma o fundamento para justificar sua conclusão.
 Para Siches, o juiz, ao decidir um caso concreto, criando a norma jurídica individualizada, deve valorar a prova colhida e qualificar juridicamente os fatos com vistas a alcançar a solução mais justa para o caso, o que condiciona inclusive a escolha da norma aplicável, de vez que, como afirma Prado (1995, p. 67)
(...) o verdadeiro cerne da função judicial não é o silogismo, mas a eleição de premissas.  Uma vez eleitas as premissas, a mecânica silogística funcionará com toda facilidade, mas funcionará com idêntica correção, quaisquer que sejam as premissas que o juiz tenha escolhido. 
A lógica do razoável ou lógica o humano, assim, seria uma lógica do concreto, pautada fundamentalmente por critérios estimativos ou axiológicos e condicionada à realidade concreta do mundo, à situação concreta sobre a qual devem incidir as normas. É uma lógica que procura entender o sentido e os nexos entre as significações dos problemas humanos – e portanto dos políticos e jurídicos – assim como estabelece operações de valoração e estabelece finalidades ou propósitos.  Por isso é que, segundo Siches (apud PRADO, 1995, p. 70), em todos os casos, em que os métodos de lógica tradicional se revelam incapazes de oferecer a solução correta de um problema jurídico ou conduzem a um resultado inadmissível, a tais métodos não se deve opor um ato de arbitrariedade, mas uma razão de tipo diferente, fundada na lógica do razoável.
�5. A TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO DE ROBERT ALEXY
Na teoria do Direito por ele desenvolvida, Robert Alexy sustenta que a dogmática jurídica (isto é, a “Ciência do Direito” ou a “Ciência jurídica”) em grande medida é uma tentativa de se dar uma resposta racionalmente fundamentada a questões axiológicas que foram deixadas em aberto pelas normas existentes (2008, p. 36).
 Alexy entende que a dogmática jurídica é uma disciplina pluridimensional, de modo que a Ciência do Direito, em seu sentido próprio e restrito, teria três dimensões[11]: a dimensão lógico-analítica, em que são analisadas as estruturas lógicas do Direito, desde a análise dos conceitos elementares, passando por construções jurídicas até o exame das estruturas do sistema jurídico; a dimensão descritiva-empírica, que diz respeito ao conhecimento do direito positivo válido, bem como à descrição e ao prognóstico da praxis dos tribunais, e, finalmente, a dimensão normativa-prática, em que se busca elaborar propostas para a solução dos casos jurídicos problemáticos, buscando determinar, a partir do direito válido, qual a decisão correta a ser tomada em um caso concreto (Alexy, 2001, p. 241). 
Vale ressaltar que para Alexy essas três dimensões da dogmática devem ser combinadas se o Direito quiser cumprir sua função sua função prática, qual seja, a de responder, em face de um caso real ou hipotético, aquilo que deve ser, posto que “combinar as três dimensões é uma condição necessária de racionalidade da ciência jurídica como disciplina prática” (ALEXY, 2008, p. 37).  Alexy se contrapõe à visão que resume a dogmática jurídica a um conjunto de operações lógico-dedutivas, afirmando que
A análise lógica demonstra exatamente que, nos casos minimamente problemáticos, a decisão não tem como ser tomada com base nos meios da Lógica, a partir de normas e conceitos jurídicos pressupostos. Para tanto, são necessários valores adicionais e, como fundamento desses valores, conhecimentos empíricos.  Um tratamento lógico que, prescindindo dessas premissas adicionais, alcance resultados e, nesse sentido, pretenda ser produtivo só pode ser um método pseudológico, que encobre as premissas normativas necessárias para uma fundamentação lógica realmente concludente. (ALEXY, 2008, p. 48).
Dessa afirmação não decorre, todavia, que a importância da dimensão lógico-analítica possa ser subestimada, posto que, “sem uma compreensão sistemático-conceitual a Ciência do Direito não é viável como uma disciplina racional. [...] Portanto, a despeito das falhas do ‘tratamento lógico’, não há como ignorar o que nele há de correto e imprescindível para o Direito” (ALEXY, 2008, p. 49).  Nesse sentido, vale notar que na teoria alexyana, um dos pontos centrais é a análise das normas e de suas estruturas, e a distinção das normas entre regras e princípios.
Para Alexy, essa distinção não é feita em função de uma diferença de grau, ou seja, não se diferencia uma regra de um princípio em função do “grau de importância” ou do “grau de abstração” das normas, mas em razão de uma qualidade da norma.  Os princípios, assim, são normas que ordenam que algo se realize na maior medida possível, em relação às possibilidades jurídicas e fáticas. São, portanto, mandamentos de otimização, caracterizados por poderem ser satisfeitos em graus variado, dependendo o seu cumprimento não só das possibilidades fáticas, mas também das possibilidades jurídicas(ALEXY, 2008, p. 90).
 Por outro lado, as regras são normas que são sempre ou satisfeitas ou não satisfeitas.  Diferentemente dos princípios, aplicam-se na maneira do “tudo ou nada”, de modo que se uma regra é válida, deve ser aplicada da maneira como preceitua, nem mais nem menos, conforme um procedimento de subsunção silogístico. “Regras contém, portanto, determinações no âmbito daquilo que é fática e juridicamente possível. Isso significa que a distinção entre regras e princípios é uma distinção qualitativa, e não uma distinção de grau.” (ALEXY, 2008, p. 91).
 Esta distinção é de suma importância no campo das relações entre o Direito e a Lógica, posto que as regras se aplicam silogisticamente, obedecendo às regras da lógica formal, ao passo que os princípios, tendo uma dimensão de peso e precedência, são aplicados por meio de ponderação ou balanceamento, de tal modo que, “quanto maior for o grau de não satisfação ou de afetação de um princípio, tanto maior terá que ser a importância da satisfação do outro”(ALEXY, 2008, p. 167). 
Ocorre, entretanto, que essa classificação das normas é ainda insuficiente para garantir a racionalidade nas justificações das decisões jurídicas.  Isso porque:
Assim, as condições para a racionalidade da dogmática jurídica e, portanto, das decisões judiciais, seriam dadas pela teoria do discurso, uma teoria procedimental segundo a qual “uma decisão é correta quando o resultado do processo pode ser definido pelas regras do discurso” (ALEXY, 2001, p. 301).
A tese da teoria do discurso racional como justificação racional das decisões, portanto, tem íntima ligação com a pretensão de correção das normas (gerais ou individuais), valendo notar que, na teoria alexyana, uma norma somente pode ser tida como correta se ela for resultado de um procedimento próprio de um discurso racional.  Por essa razão, para a adequada compreensão da natureza da teoria do discurso como uma teoria de justiça, é necessário que o procedimento do discurso seja um procedimento de argumentação, e não um procedimento de decisão. (Alexy, 2003, p. 12).
Para Alexy, portanto, o conceito de argumentação racional está ligado a certas regras a serem seguidas e formas a serem assumidas pela argumentação como condição parta que ela possa satisfazer a pretensão de correção, de modo que “quando uma discussão está de acordo com estas regras e formas, então o resultado oferecido por ela pode ser chamado de ‘correto’. As regras e formas do discurso jurídico assim constituem um critério para a correção das decisões jurídicas” (ALEXY, 2001, p. 273).
NOTAS
 “A lógica é a força vital do Direito Americano.  Caso após caso, promotores, defensores, advogados e juízes se baseiam nas regras da lógica para estruturar seus argumentos.  Os professores de Direito, por seu turno, exigem que os estudantes defendam seus argumentos com uma lógica identificável e coerente. Atualmente, todos estamos familiarizados com a ótima frase dita pelo professor Kingsfield no romance "The paper Chase": vocês chegam aqui com a cabeça cheia de mingau, e saem pensando como advogados. (...) A lógica ancora o Direito. A insistência do Direito em uma racionalidade explícita e clara afasta advogados e juízes da possibilidade de fundar seus argumentos em palpites soltos, sem princícios e descompromissados”. (tradução livre)
Vale ressaltar que a questão relativa ao sentido em que a pirâmide é construída, se de baixo para cima ou de cima para baixo (isto é, do geral para o especial ou vice-versa), é objeto de muita controvérsia, mas a análise dessa complexa questão iria nos afastar demasiadamente dos limites do presente trabalho.   Para maior aprofundamento, consultar Weinreb, Loyd. A razão jurídica, 2008.
 Quando o jurista defende uma interpretação lógica do direito, quando seus adversários respondem que  “ a vida do direito não é a lógica, mas a experiência”; quando os advogados se acusam mutuamente de não respeitarem a lógica, a palavra “lógica” não designa, em nenhum desses casos, a lógica formal, a única que é praticada pela maioria dos lógicos profissionais, mas a lógica jurídica, que os lógicos modernos ignoram por completo. (tradução nossa)
 São muito comuns entre os filósofos e os lógicos discussões acerca da natureza da lógica, com alguns a caracterizando como ciência teórica, outros como uma ciência normativa e outros, ainda, como uma arte ou técnica.Tais discussões, por óbvio, não cabem nos estritos limites desse trabalho. Conferir SANTOS, Mário Ferreira, Lógica e dialética, 1954 e KALLINOWSKI, George, introdución a La lógica jurídica, 1973.
“(...) a lógica em sentido próprio não esgota o domínio do racional e por outro lado a retórica e a argumentação em direito (incluindo também a interpretação jurídica) não estão condenadas ao irracional (mas devem tomar cuidado para não caírem nele). Em consequência, e levando em conta o caráter analógico do conceito de lógica e do seu significado, é possível, seguindo o exemplo de Perelman e de Gregorowicz, estender o nome de lógica jurídica ao estudo da argumentação jurídica de caráter retórico e ao estudo das regras “extra-lógicas” de aplicação do direito”.  (tradução nossa)
 Vale ressaltar que aqui se procura discutir se os princípios e leis da lógica são aplicáveis ao direito, e não se são, de fato, aplicados pelos operadores do direito nos casos concretos.  A questão relativa à efetiva aplicação não só pressupõe que a aplicabilidade abstrata já esteja demonstrada, mas também implica necessariamente numa incursão sobre as práticas jurídicas reais, empreitada atinente ao campo da Sociologia jurídica que somente uma extensa pesquisa de campo poderia enfrentar.
 São essas as razões que justificam, por exemplo, a escolha de Siches ao invés de Chaim Perelman, dado que apesar deste último ter elaborado sua teoria com profundidade consideravelmente maior do que Siches, as conclusões e as premissas de ambos são bem parecidas e a lógica do razoável de Siches ganhou projeção maior entre nós do que a nova retórica de Perelman.  Também foi com base nesses critérios que se optou pela análise da argumentação de Alexy à teoria da interpretação de Dworkin, já que, apesar deles chegarem a conclusões significativamente diversas em relação à correção e à existência de uma única resposta correta, suas teorias apresentam muitos pontos de contato, notadamente no que diz respeito à admissão de valores na análise normativa, à busca por critérios limitadores e justificadores das decisões e a uma visão do Direito como produto de uma construção interpretativa, sendo que Dworkin acaba por construir um modelo de Direito como integridade (com a tese da única resposta correta como critério substancial), ao passo que Alexy opta por um modelo procedimental metodológico em que a análise lógica tem função extremamente importante, o que o torna mais adequada ao escopo do presente trabalho.  De qualquer forma, não se desconhece o fato de que a escolha dos autores a serem analisados reflete também, a par da limitação de espaço, uma opção feita pelo autor do artigo a partir de suas preferências político-ideológicas. 
[8] “Verdade e falsidade são qualidades ou propriedades de uma asserção. A validade, entretanto, não é qualidade ou propriedade de uma norma, mas sua existência, sua específica existência, não uma existência material, mas ideal. Que uma norma é válida, significa que existe; que uma norma é inválida significa que não existe, “existe” no sentido ideal do termo. Uma norma inválida, isto é, uma norma não existente, não é norma de modo algum.  Porém, uma asserção que falsa é, todavia uma asserção, como o é uma asserção verdadeira; uma asserção existe ainda quando ela seja falsa”. (tradução nossa)
[9] “A lógica do humano ou do razoável é uma razão impregnada de pontos de vistas estimativos, de critérios de valoração, de pautas axiológicas que, além de tudo, traz consigo os ensinamentos colhidos da experiência própria e da do próximo, através da história”. (tradução nossa)
[10] “Há que

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