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A (IN) EFICÁCIA DA LEI “MARIA DA PENHA” EM RELAÇÃO À MULHER QUE SOFRE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
KELLEN MARCIA DE MOURA DAL OLMO[1: UNIVAG – Centro Universitário. Área do Conhecimento de Ciências Sociais Aplicadas. Curso de Direito. Aluna da disciplina TCC II, turma DIR13/1BN. E-mail – kellenmoura.adv@outlook.com]
 MARCOS TÚLIO DE MELO[2: UNIVAG – Centro Universitário. Área do Conhecimento de Ciências Sociais Aplicadas. Curso de Direito. Mestre, Orientador E-mail – marcostulioadvocacia@hotmail.com]
RESUMO 
A proteção integral das mulheres vítimas de violência doméstica reclama uma compreensão hermenêutica das práticas judiciais, na perspectiva dos seus direitos, como integridade, para se reconhecer os seus direitos fundamentais. 
O intuito de se aplicar as medidas protetivas é o de proteger as mulheres vitimas de violência domestica e familiar bem como retirar do seu convívio o agressor, para garantir assim a integridade da vítima, bem como das pessoas consideradas de seu foro intimo.
Em virtude disto o estado tem o dever desempenhar de forma clara o seu papel que é fundamental, para o cumprimento da democracia e dos deveres fundamentais de proteção a mulher vítima de violência, assumindo seu relevo no que se refere à experiência das audiências públicas, bem como na construção de uma teoria da decisão judicial adequada à Constituição.
Palavras-chave: Violência doméstica, Medida Protetiva, Lei Maria da Penha.
1. INTRODUÇÃO
		
	Desde quando se iniciou a da lei 11340/2006, busca-se a erradicação da violência domestica e familiar sofrida pela mulher, dentre elas a violação dos seus direitos humanos, com o intuito de garantir sua proteção e também de se aplicar procedimentos policiais e judiciais que assegure que a mulher seja tratada de forma mais humanizada.
Dentro desta ótica, a Lei Maria da penha surge não apenas com a intenção de punir, mas também de trazer aspectos conceituais e educativos, seguindo a linha de um direito moderno, que possa ser capaz de abranger toda a complexidade trazida nas questões relativas ao grave problema que é a violência domestica e familiar sofrida pela mulher.
Essa lei então nasce com a finalidade de promover uma verdadeira mudança nos valores sociais, que tratava com natural a violência ocorrida dentro das relações domesticas e familiares, onde existia um padrão onde acreditava-se que o homem teria uma supremacia em relação a mulher. Essa visão da supremacia masculina em relação a feminina, bem como seu dever de subordinação, perdurou durante séculos de historia, e eram aceitos por toda sociedade.
Neste cenário é que a Lei apresenta, de maneira clara, os conceitos e as diferentes formas de violência contra a mulher, com a finalidade de ser um instrumento de mudança política, jurídica e cultural.
Os crimes contra a mulher como, ameaça, injúria, calúnia tem pena de até dois anos, sendo assim, esses casos passaram a ser encaminhados para o Juizado Especial Criminal são analisados do mesmo modo que os crimes de trânsito e brigas entre vizinhos, ou seja, não considerando a sua complexidade e a lesão causada, integridade física e psicológica e a dignidade das mulheres vitimas de violência.
Por vários anos, as mulheres vitimas de violência domestica eram coagidas a aceitar uma conciliação com seu agressor em nome da “harmonia familiar”, onde o ministério publico oferecia um acordo para o agressor e assim o mesmo não seria processado.[3: Dias, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na Justiça: a efetividade da Lei 11.340/2006 de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007]
O crime de lesão corporal leve necessitava da representação da mulher para que o agressor fosse denunciado pelo Ministério Público, o que por muitas vezes causava constrangimento nessas mulheres, o que contribuía para retirada da “queixa”. Deste modo, a maioria dos processos eram arquivados e, quando eram julgados, a “punição” dos agressores era o pagamento de cesta básica ou a prestação de serviços comunitários. Esse tipo de comportamento acabou trazendo um grande sentimento de impunidade, por parte das mulheres que eram vitimas de tais violências.
A Lei Maria da Penha destina-se a proteção das mulheres que sofrem violência doméstica, tanto no âmbito físico como no âmbito psicológico, com o objetivo de punir e até mesmo coagir o infrator para que o mesmo não cometa tal delito, buscando afastar o suposto agressor da mulher que vem sofrendo com os seus maus tratos, e também serve como uma advertência, para que o tal agressão não volte a acontecer.
2. PRECEDENTE HISTÓRICO
Vejamos breve relato a respeito de como surgiu a lei Maria da Penha, descrevendo de que forma tal lei surgiu, e quem é a mulher que deu o nome a esta lei.
Maria da penha após relatar sua historia, conta tudo o que passou nas mãos de seu companheiro, o Sr. Heredia Viveiros, Colombiano com o qual a mesma fora casada.
Em 1998, o Centro para a Justiça e o Direito Internacional e o Comitê Latino-americano do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher ambos situados no brasil, em conjunto Maria da Penha Maia Fernandes que é a vítima do fato, enviaram a comissão interamericana de direitos humanos uma petição onde continha uma denuncia contra o Estado brasileiro, relatando o caso de violência domestica sofrida por Maria da Penha.
Maria da Penha passou por constantes agressões durante o período que fora casada com o Sr. Heredia Viveiros.
Pelo fato de temer muito o marido, Maria da Penha tinha muito medo de pedir a separação, acreditando que se o fizesse poderia piorar ainda mais sua situação. E como ela imaginava, acabou assim acontecendo, pois em 1983, penha sofreu uma tentativa de homicídio por parte do seu marido, que deferiu um disparo em suas costas que acabou a deixando-a paraplégica. Tentando se livrar da acusação o agressor alegou para a polícia que o crime se tratava de uma tentativa de roubo. Mas passadas duas semanas após a primeira tentativa Maria da Penha sofre nova tentativa por parte de seu companheiro que tenta eletrocuta-la enquanto a mesma tomava banho. Só então Maria da Penha toma coragem e resolve se separar.
Segundo relato das testemunhas ouvidas o Heredia Viveiros agiu premeditadamente, pois algumas semanas antes de agredi-la o mesmo tenta convence-la a assinar um seguro de vida em seu nome, e 05 dias antes da agressão, ele obrigou Maria da Penha a assinar um documento de venda de sue veiculo, onde não havia nenhuma informação de quem era o comprador.
Maria da Penha ainda contou após a agressão, que o seu marido era bígamo e o mesmo tinha outro filho na Colômbia que era seu país de origem. 
Depois de passados 15 anos após a apresentação da queixa a OEA (Comissão Interamericana de Direitos Humanos), o estado brasileiro não havia chegado a uma resolução sobre o caso e o agressor se mantinha em total liberdade.
Diante dessa questão peticionarias apresentaram a denuncia onde acusaram o estado brasileiro de ser tolerante quanto a Violência Domésticas sofrida por Maria da Penha, pois o Brasil durante 15 anos, não adotou nenhuma medida necessária para processar e punir o seu agressor, apesar da vítima ter efetuado varias denuncias. 
Após a denúncia do caso de Maria da Penha, ficou evidente para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (OEA), que se tratava de um caso de omissão e negligencia em questão de violência domestica que não era enfrentado apenas por Maria da Penha, mas sim por diversas mulheres brasileiras que também eram vítimas de Violência Domestica e Familiar. 
Maria da Penha relatou em depoimento, que só consegui sair de casa após uma medida judicial e deste momento em diante começou a luta para que o mesmo fosse responsabilizado pelos seus crimes. Por duas vezes seu agressor foi condenado, em 1991, onde sua defesa alegou irregularidade no júri, e em 1996 o caso foi julgado com nova condenação, mas novamente a defesa alegou irregularidades no processo, sendo assim o processo continuouem aberto e Heredia continuou em liberdade.
Em 1994 Maria da Penha lança um livro onde a mesma relatou todas as agressões que ela e suas filhas sofreram por seu marido.
Brasil foi condenado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (OEA) no ano de 2001 pelos crimes de negligência, omissão e tolerância em relação à violência doméstica contra as mulheres, onde foram feitas as recomendações entre outra medidas de que o processo penal pelo qual passava o agressor fosse finalizado, que fosse procedida uma investigação onde se determinaria a responsabilidade pelas irregularidades e pelos atrasos injustificados que ocorreram no decorrer do processo, e que sejam tomadas as medidas administrativas, legislativas e judiciarias correspondentes ao processo, que o estado brasileiro fosse responsabilizado por todos as violações sofridas pela vitima em sua falha em oferecer recurso rápido e efetivo, e sem prejuízo das sansões que pudessem ser aplicadas ao agressor, e que fossem adotadas políticas públicas que fossem voltadas a prevenção, punição e erradicação da violência contra a mulher. 
Essa historia mostra não só pelo que passava a mulher que foi propulsora desta lei, mas também o que várias mulheres enfrentaram antes do surgimento desta lei.
Graças a coragem da farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes, que quando se viu em situação de perigo, sofrendo agressões e até mesmo tentativa de morte pelo seu companheiro buscou de todas as formas que seus direitos fossem respeitados e que o seu agressor fosse condenado.
Esse condenação que foi imposta ao Brasil foi devido a luta de Maria da penha, que após vários anos agindo de forma obscura, fez com que o Brasil finalmente fosse condenado pela a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), tendo então ocasionado que fosse criada, no ano de 2006 a Lei Maria da Penha, que trouxe um grande avanço para as mulheres que sofriam com a violência domestica.[4: BLUME, Bruno, Bacharel em Relações Internacionais da Universidade de Santa Catarina, Quem é maria da penha?. Portal Politize. Santa Catarina: disponível em www.politize.com.br/lei-maria-da-penha-tudo-sobre/ ]
 
3. DA IMPORTÂNCIA DA LEI NO ATUAL CONTEXTO DA SOCIEDADE
Por mais que essa lei tenha apoio significativo de toda a sociedade, seu surgimento trouxe à tona muitas resistências. 
É necessário esclarecer a grande importância de se conhecer a Lei Maria da Penha, ter real dimensão dos direitos e assim conscientizar a todos que hoje contam com a proteção e o amparo dessa lei.
 Devemos ter a consciência que todos devem respeitar e valorizar a dignidade e todos os direitos inerentes ao ser humano. 
Segundo Cavalcanti:
O problema da violência doméstica atinge crianças, idosos e mulheres, sendo um problema mundial e decorrendo das relações desiguais e discriminatórias de gênero. Esses grupos sociais, não apenas no lar, mas na sociedade em geral, são considerados mais frágeis e na atualidade tem sido objeto de uma maior preocupação dos legisladores, que intentam com a proposição de leis protetivas de direitos a redução da violência contra estes (Estatuto da Criança e do Adolescente e Estatuto do Idoso). (CAVALCANTI, 2007, p.19)
Sendo assim, embora os direitos fundamentais antevistos pela nossa Constituição tenham uma personalidade global, estes não tem assegurado a proteção de grupos vulneráveis a todas as formas de violência. No que diz respeito às mulheres, os constitucionalistas tem abordado tais direitos como objeto exclusivo dos direitos humanos fundamentais, porque empiricamente permanecem em situação de hipossuficiência nas relações sociais e políticas.
Um breve relato da promotora de justiça do município de Cuiabá, Mato Grosso, Ilustríssima Dr.ª Lindinalva Rodrigues.
Primeiro nós vimos o grande alento e anseio que a Lei Maria da Penha trouxe, a grande visibilidade que a Lei Maria da Penha trouxe para a questão da violência doméstica e em contrapartida a Lei 9.099 que tratava esses crimes como de menor potencial ofensivo. Então as mulheres a partir da Lei Maria da Penha, elas passaram a ficar mais empoderadas, esses crimes passaram a ser debatidos seriamente pela sociedade, ou seja, esses crimes deixaram de ser invisíveis e passaram realmente a serem tratados com a seriedade que deveriam sempre ter tido pelo operador jurídico, mas nós sabemos que ainda há muito preconceito nessa área por parte do operador jurídico e que a Lei Maria da Penha sofre no ordenamento jurídico do mesmo preconceito que a mulher sofre na sociedade. Lindinalva rodrigues. (RODRIGUES, 2016)[5: RODRIGUES, Lindinalva, Promotora de Justiça, “A inclusão dos casos de violência doméstica nas audiências de custódia é um retrocesso”, diz promotora-Revista ponto na curva. Mato Grosso. Disponível em: http://www.compromissoeatitude.org.br/a-inclusao-dos-casos-de-violencia-domestica-nas-audiencias-de-custodia-e-um-retrocesso-diz-promotora-ponto-na-curva-18042016/ ]
em 2015, ocorreu uma redução de 10% no número de casos de homicídios praticados contra a mulher, dentro de seu convívio familiar, em todo o país, isso graças ao exemplo deixado com a criação da Lei Maria da Penha, que foi responsável em gerar um grande fator de inibição da prática desse tipo de crime. A pesquisa também relata, que 98% dos entrevistados conhecem ou já ouviram falar desta lei, o que a torna uma lei muito conhecida pela sociedade brasileira (CAMPOS, Ana Cristina, 2015).[6: CAMPOS, Ana Cristina, repórter da Agencias Brasil, Ipea: Lei Maria da Penha reduziu violência doméstica contra mulheres, Brasília:DF, 2015. Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2015-03/ipea-lei-maria-da-penha-reduziu-homicidios-de-mulheres-dentro-de ]
4. DAS MEDIDAS PROTETIVAS PREVISTAS NA LEI MARIA DA PENHA
A lei Maria da Penha, 
A Lei Maria da Penha, procurando impulsionar a absoluta guarita da mulher vítima de violência doméstica, te como proposito assegurar as chamadas medidas protetivas, com o desejo de que sejam usadas como cura para regular a crescente demanda em relação à violência de gênero, propiciando à mulher sua integridade física, psíquica, moral e, até mesmo, a sua vida.
Souza descreve as medidas protetivas como:
(...) espécies de medidas especialmente cautelares, que objetivam garantir principalmente a integridade psicológica, física, moral e material (patrimonial) da mulher vítima de violência domestica e familiar, com vistas a garantir que ela possa agir livremente ao optar por busca de proteção estatal. (SOUZA, 2009, p. 133).
Conforme enuncia o artigo 122 da lei 11.340/2006, “caso seja constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência”.
Segundo o artigo 22 da lei da lei 11.340 de 2006:
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;
c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida;
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;
V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
§ 1º As medidas referidas neste artigo não impedem a aplicação de outras previstas nalegislação em vigor, sempre que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem, devendo a providência ser comunicada ao Ministério Público.
§ 2º Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se o agressor nas condições mencionadas no caput e incisos do art. 6o da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003, o juiz comunicará ao respectivo órgão, corporação ou instituição as medidas protetivas de urgência concedidas e determinará a restrição do porte de armas, ficando o superior imediato do agressor responsável pelo cumprimento da determinação judicial, sob pena de incorrer nos crimes de prevaricação ou de desobediência, conforme o caso.
§ 3º Para garantir a efetividade das medidas protetivas de urgência, poderá o juiz requisitar, a qualquer momento, auxílio da força policial.
§ 4º Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que couber, o disposto no caput e nos §§ 5o e 6º do art. 461 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973.
	Existem partes da lei Maria da Penha que acabem gerando muitas divergências que deverão ser analisadas pelo juiz de forma delicada. Contudo o que se almeja é assegurar que à mulher possa conduzir sua vida de maneira mais rotineira possível, buscando garantir que o agressor não tenha nenhuma possibilidade de cometer um atentado contra a integridade física ou até mesmo contra a vida da vítima.
Tais medidas cautelares são baseadas na simples existência de indícios, não tendo necessidade de se produzir prova, para que se contate a ocorrência de violência familiar e doméstica.
Uma das maiores dificuldades enfrentada pela mulher para que essas medidas sejam cumpridas está relacionada ao prazo de 48 horas para que entrem em vigor. 
O Estado ainda externa sua falha no proposito de desempenhar uma fiscalização mais firme, por parte do poder judiciário, em favor das vítimas que sofreram agressão. 
Na prática, fica claro que faltam mecanismos que efetivamente proporcionem uma legítima proteção à mulher. 
No Brasil, o Estado peca e acaba se omitindo em realizar à fiscalização protetiva, e não utilizar o eficaz monitoramento como uma forma de amenizar e inibir as ações dos potenciais agressores, visando, não garantindo a efetivação das medidas protetivas em favor das mulheres.
Enfim, é inegável o que o legado da Lei Maria da Penha transportou para o ordenamento jurídico pátrio, contudo, também é clara a penúria, ou mesmo a letargia do governo para delinear medidas que possam perfazer, na prática, a segurança necessária, que a lei deve concede a todas as vítimas vulneráveis.[7: VIEGAS, Cláudia Mara de Almeida, SOARES, Thiago de Guerreiro. Por LOPES, Rénan Kfuri : A Aplicação Da Lei Maria da Penha Às Novas Entidades Familiares. RKL Advocacia. Belo Horizonte/MG. Disponível em: http://www.rkladvocacia.com/aplicacao-da-lei-maria-da-penha-as-novas-entidades-familiares/]
5. A COMPETENCIA E AS SANÇÕES NA LEI MARIA DA PENHA
A Lei Maria da Penha previu a criação dos chamados Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos do poder judiciário responsável pelo processamento dos conflitos tratados na lei, dotados de competência cível e criminal.
A necessidade surgiu em decorrência de problemas sólidos enfrentados pelas mulheres, que atravessavam vários caminhos e inúmeras esferas burocráticas para tentar resolver problemas decorrentes de uma única situação geradora: a violência doméstica. 
No Código Penal em seu artigo 129 tipifica em seu paragrafo §9 o crime contra a mulher, e complementa em seu paragrafo §11 na hipótese de incidência sobre portador de deficiência:
O artigo 129, § 11 da lei da lei 11.340 de 2006 estabelece que:
Art. 129. § 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (CITAÇÃO)
§ 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. 
A sansão prevista para os agressores que são imputados de receber as medidas protetivas, têm um prazo de 48 horas para ser apreciada o juiz conforme prevê o artigo 18 da lei 11.340.
Segundo o artigo 18 da lei 11.340 de 2006:
Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da ofendida, caberá ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas:
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas protetivas de urgência;
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de assistência judiciária, quando for o caso;
III - comunicar ao Ministério Público para que adote as providências cabíveis. 
	Em muitos casos ocorre, que quando a é concedida a medida protetiva de urgência a vítima de violência domestica tal medida não se faz mais necessária, pois pelo fato da morosidade que ainda existe no poder judiciário tais providencias acabam chegando muitas vezes “tarde demais”.
Ainda que tais medidas não sejam aplicadas de forma mais rápida, só através delas a vítima pode se precaver quanto a uma possível agressão por parte de seu cônjuge, sendo essas garantias descritas no artigo 23 da lei.
Segundo artigo 23 da lei 11.340 de 2006:
Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento;
II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do agressor;
III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;
IV - determinar a separação de corpos
 
	As medidas protetivas na teoria deveria punir o agressor que descumprissem tais medidas, mas como vimos anteriormente nem sempre o agressor é punido por culpa da morosidade que ainda existe e persiste no nosso sistema judiciário. Em consonância com Lei Maria da Pena a respeito da necessidade de punição do agressor vê o que dispõe asseguir o código de processo penal.
Segundo a lei 3.689 de 1941:
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria.
Mas nem sempre o agressor que descumpre essa medida protetiva tem a prisão decretada, o que acaba trazendo receio para essas mulheres em confiar em tais medidas.
6. MUDANÇA RECENTE NA LEI MARIA DA PENHA
Após diversas discussões a respeito do assunto e após analise do congresso nacional, este mês de novembro de 2017, o presidente Michel Temer publicou a medida que altera a Leia Maria da Penha, mas algumas mudanças foram vetadas pelo mesmo.
 A nova lei foi criada com o intuito de aumentar o rigor com o qual são aplicadas as punições nos crimes de violência domestica, em especial a homens que agridem física ou psicologicamente uma mulher. 
	O artigo que foi vetado permitia a autoridade policial conceder ele próprio medidas protetivas de urgência especificamente nos casos onde acreditasse haver risco atual ou eminente a vida da vítima em questão ou a sua integridade física e psicologia em situação de violência domestica e familiar.
Em nota a Associação Nacional dos Membros do Ministério Publico (Conamp) alertou que a caso fosse aprovada a tal “medida protetiva de urgência”, ela poderia impedir que as mulheres que foram vitimas de violência domestica tenham o direito de pleitear seus casos perante a Justiça. Segundo o Conamp, tal proposta iria abolir a capacidade postulatória direta da vitima perante o juízo, para aplicação das medidas protetivas de urgência, pois apenas o delegado de policia se julgasse necessário representaria ao juiz para que houvesse aplicação das medidas protetivas.
	A nova legislação prevê o direito da mulher vítima de violência domestica a um atendimento policial especializadoininterrupto que deverá ser prestado de preferencia por servidores do sexo feminino. Também apresenta procedimentos e diretrizes que demonstram como deverá ser feita a inquirição destas mulheres vítimas de crimes domésticos. 
	Estão elencadas nessas diretrizes o direito a salvaguarda e a integridade física, psíquica e emocional das mulheres vitimas desse tipo de violência. Nessas diretrizes estão as garantias de que em nenhuma hipótese ela ou suas testemunhas tenham contato direto com o agressor investigado, suspeitos ou qualquer outra pessoa a ele relacionados, e a não revitimização do depoente, com o intuito de evitar que haja varias averiguações do mesmo fato dentro dos âmbitos criminal, cível e administrativo. 
Já no que diz respeito aos interrogatórios, a nova lei prevê que seja feito por um profissional especializado e que seja feito em um recinto especialmente projetado para esse fim onde deve haver equipamentos próprios e adequado com a idade de cada mulher.
A nova lei ainda traz a proposta de que a criação de novas Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher, de Núcleos Investigativos de Feminicídio de equipes especializadas para o atendimento e a investigação das violências graves contra a mulher seja priorizada.
	A votação dessa nova lei, trás um novo significado para o senário brasileiro no que se refere à violência familiar, pois deixa evidente a constante preocupação em aprimorar e priorizar o atendimento as mulheres vítimas de violência, e mostra que por mais que ainda existam falhas, e embora muitos acreditem que a forma como fora analisada tal reforma pelos nossos governantes, estamos no caminho para a concretização da igualdade no que se refere aos direitos da mulher, principalmente no que se refere a violência domestica por ela sofrida. [8: REGO, Tania, Revista Agencia Brasil.Temer sanciona mudança mas veta trecho. Brasília. DF: 2017. Disponível em : https://www.metropoles.com/brasil/justica/nova-lei-maria-da-penha-temer-sanciona-mudancas-mas-veta-trechos									]
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho se fundou pela mérito de se entender alguns aspectos da situação vivencial de uma mulher vítima de violência, e então contribuir na compreensão de suas principais dificuldades. 
Verificada uma situação de desigualdade, o poder público, identificando o grupo que se encontra em relação de inferioridade, promove mediante ações positivas, a igualdade real. 
 Não há como negar, portanto, a constitucionalidade da proteção outorgada pela lei 11.340/2006 no que se refere às mulheres em situação de violência doméstica ou familiar.
Mesmo estando esta lei em vigor é claro que existem ainda diversas falhas a serem observadas, pois, vemos em muitos casos, em que o agressor mesmo estando sujeito a medida protetiva, que o obriga a se manter afastado da mulher vitima de violência, essa medida é por muitas vezes desrespeitada, pois o estado quase sempre não possui meios viáveis para acompanhar estes agressores, e por esse motivo fica muito difícil se certificar de que as medidas protetivas estão sendo cumpridas.
O Estado ainda não possui meios para garantir a segurança e vigilância pessoal da ofendida 24 horas por dia, mas isso seria o ideal, portanto o que poderia melhorar. 
Com tudo, é sabido que a forma mais eficaz para garantir o cumprimento dessas medidas protetivas é monitorar o agressor através de com equipamento eletrônico, como as tornozeleiras, o que iria garantir maior segurança e alivio às mulheres que sofrem com esse tipo de violência. 
Esse monitoramento eletrônico já está sendo utilizado por alguns poucos Estados do Brasil, mas de maneira bem tímida.
Nosso pais após o surgimento desse lei vem buscando cada vez mais punir os agressores, e diminuir ao máximo este tipo de crime, do qual a mulher é vítima, mas ainda existe muita luta pela frente, não só no que diz respeito a punição dos agressores, quanto na conscientização de todos no que diz respeito ao direito da mulher. 
REFERÊNCIAS
BLUME, Bruno, Bacharel em Relações Internacionais da Universidade de Santa Catarina, Quem é maria da penha?. Portal Politize. Santa Catarina: disponível em www.politize.com.br/lei-maria-da-penha-tudo-sobre/ acesso em 20/11/2017
CAMPOS, Ana Cristina, repórter da Agencias Brasil, Ipea: Lei Maria da Penha reduziu violência doméstica contra mulheres, Brasília/DF. Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2015-03/ipea-lei-maria-da-penha-reduziu-homicidios-de-mulheres-dentro-de acesso em 15/11/2017
CAVALCANTI, Stela Valéria Soares de Farias. Violência Domésticas: analise da lei “Maria da Penha”, nº 11.340/06. Salvador: PODIUM, 2007.
DECRETO LEI Nº 3689, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm ACESSO EM 24/11/2017
Dias, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na Justiça: a efetividade da Lei 11.340/2006 de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007
Herman, Leda Maria, Maria da penha. Servanda, Campinas/SP, 2007.
REGO, Tania, Revista Agencia Brasil.T emer sanciona mudança mas veta trecho. Brasília. DF: 2017. Disponível em : https://www.metropoles.com/brasil/justica/nova-lei-maria-da-penha-temer-sanciona-mudancas-mas-veta-trechos Acesso em 21/11/2017	
IPEA - INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Pesquisa avalia a efetividade da Lei Maria da Penha. 04 mar. 2015. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=24610>. Acesso em: 16/11/2017.
RODRIGUES, Lindinalva, Promotora de Justiça, “A inclusão dos casos de violência doméstica nas audiências de custódia é um retrocesso”, diz promotora-Revista ponto na curva. Mato Grosso. Disponível em: http://www.compromissoeatitude.org.br/a-inclusao-dos-casos-de-violencia-domestica-nas-audiencias-de-custodia-e-um-retrocesso-diz-promotora-ponto-na-curva-18042016/ 
SOUZA, Sérgio Ricardo de. Comentários à lei de combate à violência contra a mulher: Lei Maria da Penha (11.340/06): comentários artigo por artigo, anotações, jurisprudência e tratados internacionais. 3. Ed. Curitiba: Juruá, 2009.
VIEGAS, Cláudia Mara de Almeida, SOARES, Thiago de Guerreiro. Por LOPES, Rénan Kfuri : A Aplicação Da Lei Maria da Penha Às Novas Entidades Familiares. RKL Advocacia. Belo Horizonte/MG. Disponível em: http://www.rkladvocacia.com/aplicacao-da-lei-maria-da-penha-as-novas-entidades-familiares/

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