Buscar

Concurso de pessoas

Prévia do material em texto

*Introdução
Os crimes chamados de unissubjetivos são aqueles em que as infrações penais podem ser praticadas por uma só pessoa, exemplo do crime de furto; já os crimes plurissubjetivos são quando as infrações penais exigem no mínimo duas pessoas para ser configurado, exemplo do delito de quadrilha.
O art. 29. é quem cuida do concurso do concurso de pessoas, “Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade”. 
Este artigo aplica-se como regra aos delitos unissubjetivos, ou delitos de concurso eventual. Já os crimes plurissubjetivos, ou de concurso necessário, não há necessidade de regra expressa para os autores ou coautores, já que exigem duas ou mais pessoas, tendo aplicação somente à participação nessas infrações penais.
O concurso de pessoas ocorre quando duas ou mais pessoas concorrem para a prática de uma mesma infração penal.
*Requisitos para o concurso de pessoas	
São quatro requisitos que existem: o primeiro é a pluralidade de agentes, e de condutas, sendo requisito indispensável à caracterização do concurso de pessoas. O nome do requisito já fala sobre ela, necessita-se de, pelo menos, duas pessoas que querem praticar a infração penal;
O segundo é a relevância causal de cada conduta praticada por aqueles que concorrem para o crime;
O terceiro chama-se liame subjetivo entre os agentes, que é o vínculo psicológico que une os agentes para a prática da mesma infração, e que segundo o autor é indispensável. Se não houver este vínculo subjetivo entre eles, cada um responderá sozinho, por sua conduta, não havendo concurso de pessoas.
O quarto e último é a identidade de infração penal, os agentes, unidos pelo vínculo subjetivo, devem querer praticar a mesma infração penal.
*Teorias sobre o concurso de pessoas
Três teorias são destacadas: a primeira é a pluralista, em que teria tantas infrações penais quantos fossem os números de autores e partícipes, ou seja, seria como se cada autor ou partícipe tivesse praticado a sua própria infração penal, sem que se precisasse da sua colaboração para os demais agentes;
A teoria dualista diferencia o crime praticado pelos autores daquele cometido pelo partícipe, haveria uma infração penal para os autores e outra para os partícipes;
Por fim, a teoria monista, ou unitária, que é adotada pelo código penal brasileiro, e consiste em todos os que concorrem para o crime incidem nas penas a este cominadas, na medida da sua culpabilidade.
*Autoria
4.1 Introdução
A doutrina brasileira fica encarregada pelo conceito de autor e partícipe, já que não há no código penal. Zaffaroni e Pierangeli apontam autoria e participação como permanente ao homem, pois já existe dentro do ser humano antes de qualquer definição jurídica.
Foram criados conceitos restritivos e extensivos de autor, tidas como situações extremas para depois aparecer outros conceitos, intermediárias.
4.2 Conceito restritivo de autor
A quem adota um pensamento restritivo, autor seria apenas aquele que realiza a conduta descrita no centro do tipo penal. Todos os demais que o auxiliassem, porém não viessem a realizar a conduta narrada pelo verbo do tipo penal seria tida como partícipe.
O conceito restritivo de autor segue ligado a uma teoria objetiva de participação, que tem duas vertentes: uma formal, que o autor é aquele que faz, pratica a conduta descrita pelo núcleo do tipo;
E a segunda material, que distingue autor de partícipe pela maior contribuição do primeiro na causa do resultado;
A teoria objetiva, conforme o conceito restritivo de autor se depara com graves obstáculos, conforme a chamada autoria mediata. Um médico pode tentar matar seu desafeto, internado no hospital em trabalha, aplicando ele mesmo, ou pedindo a uma enfermeira, veneno e levando o paciente a óbito. 
No caso de a enfermeira ser quem matou o médico não praticou conduta descrita no núcleo do tipo penal, com isso, pela teoria objetiva, não poderia ser considerado autor do crime.
*4.3 Conceito extensivo de autor
Encontra-se em situação oposta à do conceito restritivo, por partir da teoria da equivalência das condições, os adeptos ao conceito extensivo não fazem distinção entre autores e partícipes.
A teoria subjetiva busca planejar um determinado critério para distinguir autor de partícipe, valorando o elemento psicológico. A teoria defende que o autor realizaria a conduta como o protagonista, principal da história; já o partícipe, que não quer o fato como próprio, exerce um papel inferior.
*4.4 Teoria do domínio do fato
A teoria do domínio do fato considera-se objetivo-subjetivo, aquele que realizar a conduta descrita no núcleo do tipo penal tem poder para decidir se irá até o fim com o plano criminoso ou em virtude de seu domínio sobre o fato, ou seja, em razão de ser o senhor de sua conduta, pode deixar de lado sua missão criminosa.
A teoria do domínio funcional do fato resolve o problema com argumentos das teorias objetiva e subjetiva, acrescentando a chamada divisão de tarefas. Quando se refere ao domínio do fato, não quer dizer que o agente deve ter o poder de evitara pratica da infração penal de qualquer maneira, mas sim com relação à parte do plano criminoso que lhe foi dado.
*4.5 Coautoria
A coautoria é autoria, a particularidade consiste em que o domínio do fato unitário é comum a várias pessoas. Coautor é quem possuindo as qualidades pessoais de autor é portador da decisão comum a respeito do fato e em virtude disso toma parte na exceção.
Se autor é quem possui o domínio do fato, dono de suas decisões, o coautor é quem tem domínio funcional dos fatos. Dentro do pensamento de divisão de tarefas, os coautores tem que ter uma participação importante e necessária ao cometimento da infração, só que nem todos necessitam praticar a conduta.
A divisão de trabalho confirma a ideia de domínio funcional do fato. Cada um dos agentes terá controle no que diz respeito à função confiada pelo grupo.
*4.6 Autoria direta e indireta
A autoria direta pode ser quando se executa diretamente a conduta descrita pelo núcleo penal; já a indireta é quando se usa outra pessoa como instrumento para praticar a infração penal.
O código penal brasileiro pressupõe quatro casos de autoria indireta: erro determinado por terceiro, artigo 20; 
Coação moral irresistível, artigo 22, primeira parte do CP;
Obediência hierárquica, artigo 22, segunda parte do CP;
E o caso de instrumento impunível em virtude de condição ou qualidade pessoal, artigo 62.
*4.7 Autoria mediata e crimes de mão própria
Para se falar em autoria mediata, o agente deve usar uma pessoa intermediara para ser seu instrumento para cometer a infração penal. 
Crime próprio só pode ser praticado por determinado grupo de pessoas que desfrutem condição especial exigida pelo tipo penal. No crime de mão própria o sujeito ativo deve praticar a conduta pessoalmente.
Por serem crimes de atuação pessoal, autor será somente quem vier a praticar determinada ação prevista no núcleo do tipo penal. A autoria mediata não deve ser cogitada, já que a execução dos crimes de mão própria não pode ser passada a ninguém.
Embora a doutrina não aceite a autoria mediata nos crimes de mão própria, pode haver uma quebra da regra geral, como exemplo o falso testemunho. 
*4.8 Coautoria e crimes de mão própria
A autoria mediata é possível nos crimes próprios, o autor mediato deve possuir as qualidades e condições especiais exigidas pelo tipo penal, dada os impede de se valer por um mecanismo para executar a infração penal.
Apesar de não se falar em coautoria dos delitos de mão própria, não impede que tenha concurso de partícipe, em que os partícipes, mesmo não tendo domínio do fato, podem concorrer para a infração penal auxiliando, persuadindo materialmente o autor.
*4.9 Autor intelectual
Autoria intelectual refere-se ao “homem inteligente”, a mente do grupo, aquele que cria e estuda detalhadamente o plano criminoso. O autor intelectual pode não fazer parte do executar da ação criminosa, porém a sua posição de autor continua.Art. 62. “A pena será ainda agravada em relação ao agente que:
Promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais agentes;
Coage ou induz outrem à execução material do crime;
Instiga ou determina a comete o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não punível em virtude de condição ou qualidade pessoal;
Executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou promessa de recompensa;
*4.10 Autor de determinação
Sujeito que determina outro ao fato, mas que conserva o seu domínio, já que, se o perder, não é mais autor, sendo mero instigador.
Autor de determinação é quem se aproveita de outro, não realiza conduta punível por ausência de dolo, em crime de mão própria, ou quando o sujeito que não tem as condições legalmente requeridas para a prática de um crime próprio, quando se utiliza tais qualidades e se comporta de forma atípica, ou acobertado por determinada causa excludente da ilicitude ou da culpabilidade.
Ao autor de determinação deverá ser imputado o resultado produzido.
*4.11 Autoria por convicção
As pessoas que sabem o que a norma diz, mas por pura convicção, religiosa, filosófica, política, deixam de cumprir o que está escrito.
No caso de testemunha de Jeová, que não aceita transfusão sanguínea e deixa de salvar sua vida ou de quem ele é responsável; um médico com convicções religiosas, não pratica o aborto em uma gestante com risco de vida, podendo levá-la a óbito se não realizar a pratica.
*4.12 Coautoria sucessiva
Este tipo de coautoria ocorre quando após iniciada a execução de ato criminoso, um agente resolve participar do mesmo, passando ele a ter domínio do fato.
Existem divergências quanto ao crime que lhe será imputado, para uma corrente o agente responderá por todos os crimes já praticados pelo outro agente, se for comprovado que ele tinha consciência do que já foi feito, já para outra corrente, o agente só responderá pelo crime que deu causa final.
*4.13 Autoria colateral, autoria incerta e autoria desconhecida
Autoria colateral é quando dois agentes executam um determinado ato, sem que para isso ocorra um vínculo psicológico entre eles. Exemplo o caso de uma embosca, em que duas pessoas decidem por emboscar outra, sem que exista vínculo psicológico entre os emboscadores, neste caso eles serão coautores colaterais, se for possível definir quem deu causa ao resultado, o outro responderá por tentativa, se não, ambos responderão por tentativa.
Na autoria incerta se sabe quem são os autores, porém não se tem precisão de quem cometeu o ato final. A autoria desconhecida não tem nenhuma informação de quem é o autor.
*4.14 Autoria de escritório
Cuida-se de uma autoria mediata particular ou autoria mediata especial.
Assim, autor de escritório é o agente que transmite a ordem a ser executada por outro autor direto, dotado de culpabilidade e passível de ser substituído a qualquer momento por outra pessoa, no âmbito de uma organização ilícita de poder. Ex: líder de organização criminosa que dá ordens a seus "soldados".
*Participação
5.1 Introdução
O autor é o protagonista da infração penal, tem o poder de definir o que acontecerá com a vítima. Nesse caso a doutrina tem dedicado-se a outro elemento também importante na execução do crime, o partícipe.
Partícipe é aquele que de alguma forma influencia, ajuda, auxilia o autor do crime, podendo ser essa cumplicidade moral ou material.
*5.2 Cumplicidade necessária
Ocorre quando o partícipe oferece bens ou serviços considerados escassos, sendo assim, não podem ser fornecidos facilmente por qualquer pessoa. Exemplo de explosivos, máquinas de falsificação de dinheiro, armas entre outros.
A cumplicidade desnecessária é o contrário, qualquer pessoa pode fornecer algo ao autor. Exemplo: Uma caneta, uma faca de cozinha. 
*5.3 Teorias sobre a participação
Se quem auxilia o fato cometido poderá ser punido, é necessário optar por uma das quatro teorias: Teoria da acessoriedade mínima, quando o fato deverá ser punível desde que a ação do autor seja típica, isto é, se for encaixado perfeitamente com o que o tipo esta descrevendo;
A teoria da acessoriedade limitada, o fato será punível ao partícipe, quando o autor cometer um fato típico e ilícito. É preciso que o autor tenha cometido um injusto típico, mesmo que não culpável, para que o partícipe seja penalmente responsabilizado.
Teoria da acessoriedade máxima é quando o partícipe só será punido se o autor do delito cometer fato típico, ilícito, culpável. 
Por fim, a teoria da hiperacessoriedade, vai mais além e diz que a participação só será punível se o autor tiver praticado fato típico, ilícito, culpável e punível. A punibilidade do injusto culpável levado a efeito do autor, para essa teoria, é condição indispensável à responsabilização penal do partícipe.
 A teoria com maior preferência é a da acessoriedade limitada.
*5.4 Instigação a autores e a fatos determinados
A participação deve dirigir-se a fatos e a pessoas determinadas, o partícipe deve contribuir para a prática de determinada infração penal, que será levada a efeito por uma ou várias pessoas também determinadas. Se o agente vir a incitar publicamente pessoas indeterminadas, não será partícipe de nada, mas autor do delito de incitação ao crime.
*5.5 Participação punível – desistência voluntária e arrependimento eficaz do autor
A desistência voluntária e o arrependimento eficaz são institutos dirigidos ao autor de determinada infração penal, visto que somente ele pode “praticar atos de execução”. 
A finalidade do art. 15, CP é evitar que o agente que desiste voluntariamente de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza responda pela tentativa de cometimento da infração penal por ele pretendida inicialmente, só podendo responder pelos atos já praticados. 
Os autores não chegam a um consenso, sendo bastante difundida a ideia de Esther de Figueiredo Ferraz, que diz ser o partícipe beneficiado pelos institutos, porém Rogério Greco discorda, alegando que o partícipe já cometeu seu delito ao induzir o autor a pratica do crime, ou seja, se o autor agir com animus necandi (dolo de matar), o partícipe estará sendo tipificado pelo Art. 31 do código penal.
*5.6 Arrependimento do Partícipe
O arrependimento do partícipe pode ser de forma moral ou material. Se o partícipe arrepende-se de forma moral, ele só não será punido se conseguir evitar que o autor concretize a ação, caso contrário ele será responsabilizado. Quando o partícipe tiver estimulado o autor para praticar o delito, e depois se arrependeu, não será condenado se o autor não conseguir cometer o crime.
 No caso de ser material, o partícipe não cede aquele material essencial à concretização do fato. Exemplo de ficar na responsabilidade de conseguir as armas, ou explosivos, e depois desistir de fornecer.
*5.7 Tentativa de participação
Se o partícipe estimula alguém a cometer determinada infração penal, mas o autor não vier a praticar o crime, o partícipe não será culpado por suposta instigação.
É o que fala o artigo 31 do código penal: “O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado”.
*5.8 Participação em cadeia (participação de participação)
Ocorre quando um agente induz outro, para que este induza outro a praticar o ato. Por exemplo, Paulo induz Carlos a emprestar a arma para que Célia mate sua irmã Natália.
O principal detalhe é o fato de que a participação, sendo simples ou não, em cadeia ou não, somente será punível se o autor vier a praticar a infração penal que foi estimulada pelo partícipe.
*5.9 Participação sucessiva
A participação sucessiva ocorre quando autor é instigado por outro a praticar um delito, mas logo após isso, outro agente induz o mesmo autor a praticar o mesmo ou outro ato.
A instigação sucessiva, aquela realizada após o agente ter sido estimulado a praticar, deve ser capaz de praticar influência em seu objetivo, caso contrário, se este já estava determinado a cometer a infraçãopenal, e se a instigação sucessiva em nada o estimulou, não terá ela a relevância necessária a fim de justificar a punição do partícipe.
*5.10 Possibilidade de participação após a consumação
Suponha-se que durante o crime de extorsão mediante sequestro, a vítima esteja no cativeiro, enquanto isso seus sequestradores negociam sua liberdade. Nesse tempo, alguém que, até agora, não cometeu ato criminoso estimule os sequestradores a permanecer firme no propósito de obter mais vantagem, com a privação de liberdade da vítima.
É possível perceber que o grupo criminoso foi induzido a permanecer com a ideia de continuar com a vítima, para obter a vantagem econômica, ainda não paga.
*5.11 Participação de omissão
 É possível falar em participação por omissão nos casos de participação material, visto que é impossível na participação moral um agente induzir o outro a praticar um delito, sem que este seja comissivo. 
Nos casos de participação material duas hipóteses devem ser consideradas: a primeira é o indutor ser qualquer um, neste caso ele responderá por participação simples.
A segunda é o indutor ter o dever legal de evitar o crime, neste caso ele age com uma conduta comissiva por omissão, ou omissiva impropria, sendo a ele imputado o crime como coautor.
*5.12 Impunibilidade da participação
Se o agente não entra na fase executória do crime não será penalizado, ilícito se o próprio tipo penal dispõe em contrário. Só é punido o partícipe, se a conduta principal pelo menos é iniciada. Caso fique na fase de cogitação ou atos preparatórios não puníveis, não se é punido.
“Art. 31 – O ajuste, a determinação ou instigação, e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado.”
*5.13 Participação de menor importância
Não pode ser considerada participação de menor importância os casos em que a instigação e a cumplicidade foram determinantes para o crime. Induvidosamente há casos em que o autor tem a ideia, tem os meios e lhe falta muito pouco para decidir. 
Há também casos em que a decisão do autor está muito mais distante e o trabalho do autor tem de ser muito mais demorado, constante e até enganoso. Trata-se, pois, a infração de menor importância, no dizer de Zaffaroni, de uma questão de grau, que o julgador deve estabelecer em cada um dos casos concretos. 
Dessa forma, toda atuação daquele que é considerado coautor é importante para a prática da infração penal, não se podendo, portanto, falar em participação de menor importância. .
Art. 29. Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida da sua culpabilidade,
1º. Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço.”
*5.14 Participação em crime menos grave (desvio subjetivo de conduta)
O partícipe que contribuiu em um crime achando que seria cometido, responderá somente por ele, mas deverá ter sua pena aumentada se deveria ter conhecimento que aconteceria um crime mais grave.
O legislador pretendeu punir os concorrentes nos limites impostos pela finalidade de sua conduta, ou seja, se queria concorrer para o cometimento de determinada infração penal, se o seu dolo era voltado no sentido de cooperar e praticar determinado crime, não poderá responder pelo desvio subjetivo de conduta atribuído ao autor executor.
Exemplo de: Daniel estimular Henrique a causar lesões em Victor. Ao dar início às agressões, Henrique, agindo agora com dolo de matar, espanca Victor até à morte. Como se percebe, Henrique não foi induzido por Daniel a causar a morte de Victor. Esse fato se deve a um desvio subjetivo da conduta de Henrique.
*5.15 Cumplicidade e favorecimento real
É essencial, para identificar a diferença entre cumplicidade e favorecimento real, saber qual o momento em que o auxílio foi proposto. Se anterior à consumação da infração penal pretendida pelo autor, o caso será de cumplicidade, se posterior à sua consumação, será favorecimento real.
No primeiro exemplo tem-se: Arthur e Bruna, amigos de faculdade, conversam. Arthur diz que tem intenção de praticar um crime de furto de celulares, mas, como não tem lugar para guardá-los após o crime, ainda não levou adiante seu intento. Diante disso, Bruna oferece-lhe um galpão, cujo espaço físico seria ideal para acondicionar os bens furtados. Arthur, então, pratica o crime, Bruna é partícipe.
No segundo exemplo: Após subtrair aparelhos celulares, Arthur vai à procura de Bruna e solicita-lhe auxílio a fim de guardar os bens subtraídos. Bruna pratica o crime de favorecimento real.
*Punibilidade no concurso de pessoas
A punibilidade no caso de concurso de pessoas procura levar em consideração o juízo de reprovabilidade que a conduta de certo indivíduo pode ter frente à de outro, é o que ocorre quando dois elementos coautores furtam um supermercado, sendo o primeiro filho de um homem rico e o segundo um morador necessitado de uma cidade, o juízo de reprovabilidade recairá de forma mais danosa sobre o primeiro, isso em respeito ao princípio da culpabilidade.
O art. 29, CP afirma que quem concorre para o crime, incide nas penas a estes determinadas, “na medida de sua culpabilidade”. Embora duas pessoas, agindo em concurso, pratiquem determinada infração penal, pode-se concluir que a conduta de uma é mais reprovável do que a outra, razão pela qual deverá ser punida mais severamente.
*Circunstâncias Incomunicáveis
Circunstância é uma situação gravosa que ocorre na figura típica, ou seja, no crime, que em muitos casos representa um aumento da pena, ao contrário da elementar, essa última é essencial na definição do tipo penal, assim imagine que Arthur mata Bruna, sendo Bruna irmã de Arthur, temos como circunstância o fato que Arthur e Bruna são irmãos, neste caso se não houvesse a circunstância, ainda assim haveria crime. Uma elementar nesse caso é matar, a elementar é primordial na definição do tipo penal, ou seja, se não houvesse a elementar “morte”, não haveria crime de homicídio.
As circunstâncias podem ser divididas em duas, as de natureza objetiva e subjetiva, no caso da primeira, são consideradas como circunstâncias aquilo que se relacionam a materialidade do delito (modo de execução, uso de instrumentos, ocasião, lugar), se o agente coautor sabia das condições e mesmo assim executou a ação, ele será estendido a pena imposta ao autor.
As de natureza subjetiva não serão comunicadas, ou seja, estendidas aos coautores, somente se ela vier a se tornar elementar e os mesmo tiverem conhecimento.
*Crimes Multitudinários
Crimes cometidos em multidão de pessoas, que se aproveita de determinada situação, exemplo de saques a supermercados, caminhões que tombam na via pública, contendo alimentos, bebidas, etc.
 A sugestão do grupo, por inibir temporariamente a capacidade do agente de refletir sobre aquilo que faz, bem como a respeito das consequências de seu ato, fez com que o legislador atenuasse a pena do agente quando este viesse a praticar o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o provocou. 
A prática coletiva de delito apesar de ocorrer em situação normalmente traumática, não afasta a existência de vínculos psicológicos entre os integrantes da multidão, caracterizadores do concurso de pessoas. 
Se adotar a posição de Cezar Bitencourt, em que há a presunção do liame subjetivo entre as pessoas formadoras da multidão, num exemplo em que um caminhão de refrigerantes tomba na rua, aquele que subtraiu apenas duas ou três garrafas será punido da mesma forma que aquele outro que subtraiu uma caixa de refrigerante. Se excluirmos o liame subjetivo, poderá incidir o princípio da insignificância e aquele que subtraiu apenas duas ou três garrafas poderá ser beneficiado.
*Concurso de pessoas em crimes omissivos
9.1 Crimes omissivos próprios e impróprios- Distinção
A conduta do agente pode consistir num fazer ou deixar de fazer alguma coisa. Quando o agente faz alguma coisa de que estava proibido, fala-se em crime comissivo; quando deixa de fazer algumacoisa a que estava obrigado, temos um crime omissivo. 
Crimes omissivos próprios (puros ou simples) – em regra, não exigem qualquer resultado naturalístico para a sua configuração, a exemplo do art. 135, CP, em que a lei pune somente a inação do agente, independente da produção de qualquer resultado. Podem ser cometidos por qualquer pessoa que se omite diante de determinado fato e esta omissão é prevista como crime pela lei. A norma penal é mandamental, narra uma conduta negativa e determina que o agente faça alguma coisa. 
Crimes omissivos impróprios (comissivos por omissão ou omissivos qualificados) – Art. 13, §2º, CP – exigem a produção do resultado naturalístico, pela simples leitura do dispositivo “a omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado”. O resultado é o naturalístico, perceptível pelos sentidos. A norma penal narra uma conduta comissiva (positiva), só que praticada pelo agente de forma omissiva.
*9.1.1 Coautoria em crimes omissivos (próprios e impróprios)
O tema é fonte de divergência doutrinária, alguns autores acreditam que não pode haver coautoria em crimes omissivos, isso por que segundo a teoria do domínio funcional do fato, o autor é obrigado a realizar uma conduta, sendo que a omissão é a falta desta conduta, sendo os autores responsabilizados individualmente por seus atos.
Para outros doutrinadores, é perfeitamente plausível a hipótese de coautoria em crimes omissivos, sejam eles próprios ou impróprios, uma vez que seja comprovada a existência do liame subjetivo entre os coautores.
*9.1.2 Participação em crimes omissivos (próprios e impróprios)
A participação em delitos omissivos deve ser reconhecida como uma dissuasão, ou seja, o partícipe dirige a sua conduta no sentido de fazer com que o autor não pratique a conduta a que estava obrigado.
A divergência continua existindo, porém a corrente majoritária acredita que é sim possível existir participação em crimes de omissão. Um exemplo claro é um salva-vidas que é induzido por um amputado a não realizar o salvamento daquele que se afoga, neste caso como o salva-vidas tem o dever legal, ele comete uma infração omissiva imprópria, lhe sendo imputado o homicídio doloso, o mesmo deverá ser estendido àquele que o influenciou, ou seja, ao partícipe.
*Concurso de pessoas em crimes culposos
10.1 Introdução
O agente pode dar causa a um resultado não querido, mas previsível, ocorrido em virtude de ter deixado de observar seu dever de cuidado, agindo com imprudência, imperícia ou negligência. 
Duas situações devem ser analisadas: Coautoria em delitos culposos e participação em crimes culposos, em que a maioria não admite essa possibilidade. Deve-se separara participação dolosa em crime culposo.
*10.2 Coautoria em delitos culposos 
A maioria da doutrina aceita a existência da coautoria em crime culposo. Duas pessoas podem, em ato conjunto, deixar de observar o dever objetivo de cuidado que lhes cabia e, com a união de suas condutas, virem a produzir um resultado lesivo.
Tratando-se de coautoria em delitos culposos, cada um dos agentes coparticipantes, deixando de observar o dever objetivo de cuidado que lhes cabia, auxilia os demais a praticar o ato comum que venha a causar o dano previsível a todos eles. 
Segundo Esther de Figueiredo Ferraz, a coautoria nos crimes culposos não deve ser analisada da mesma forma que nos crimes dolosos. Contudo, embora com certas peculiaridades, não se pode afastar a possibilidade de sua configuração.
*10.3 Participação em crimes culposos
 Com relação à participação em crimes culposos a divergência é maior, isso por que essa participação pode aparecer de forma culposa ou dolosa.
Em caso de participação dolosa em crime culposo, a doutrina majoritária é totalmente contrária, uma vez que, esse tipo de conduta recai sobre o chamado erro de terceiro, além disso, temos que, segundo a teoria monista, a identidade da infração penal deve ser dividida por todos os que concorrem.
Nilo Batista e Cezar Bitencourt: refutam a possibilidade de haver participação culposa em crime culposo. Pode haver o vínculo subjetivo na realização da conduta, mas inexiste tal vínculo na produção do resultado, que não é desejado. 
Os que cooperam na causa, na falta do dever de cuidado, são coautores, e que Miguel Reale Júnior admite essa possibilidade. No exemplo acima, autor será aquele que praticar a conduta contrária ao dever objetivo de cuidado; partícipe será aquele que induzir/estimular alguém a realizar a conduta contrária ao dever de cuidado.

Continue navegando