Agentes estressores - bem estar animal

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Agentes estressores
O clima tropical do Brasil é favorável para o crescimento de diversas forragens, porém afeta em muito a produtividade animal quando não há intervenção de um especialista/profissional que saiba das necessidades de cada espécie, orientando o produtor a fazer escolhas certas de acordo com seus objetivos. O profissional deve orientar o produtor na melhor escolha da raça, escolha do ambiente, a escolha das instalações que devem proporcionar um conforto aos animais e na nutrição balanceada do animal.
Como a produção de bovinos leiteiros no Brasil é em sua maioria sistema extensivo é de extrema importância a escolha de animais que tenham a capacidade de se adaptar a diversas variáveis climáticas, sendo alguns deles, ambientes com chuvas e ambientes com altas temperaturas. A partir disso, passou-se a ter uma preocupação com o ambiente em que esses animais seriam confinados/criados, para que o mesmo proporcionasse adequadas condições de conforto reduzindo as perdas ocasionadas pelo estresse.
O estresse pode ser explicado como um conjunto de mecanismos do organismo do animal que são ativados como uma resposta a estímulos que trazem desconforto, é uma forma do animal enfrentar situações incomodas/ameaçadoras e esses estímulos são provocados por agentes estressores: internos e/ou externos. 
Como grande parte dos animais de produção são homeotérmicos eles possuem a capacidade de manter a temperatura corporal em níveis adequados até certo ponto, mantendo sua produtividade sem que haja um desgaste excessivo do animal, entretanto quando as variações de temperatura excedem o limite do animal, ele passa a usar de mecanismos para remediar esse desconforto. O controle da temperatura nos animais homeotérmicos é feito pelo hipotálamo, através do centro termorregulador, esse controle é feito por meio de células periféricas que transmitem as sensações de frio e calor para o hipotálamo. O hipotálamo anterior é o responsável pela perda de calor em altas temperaturas e o hipotálamo posterior é responsável pela produção de calor em ambientes de baixas temperaturas.
Os animais são sensíveis às mudanças de ambiente físico e, quando essas mudanças acontecem estes recorrem a mecanismos de adaptação fisiológicas para que se mantenha a homeostasia, mesmo em condições de estresse. O estresse climático é causado pelos elementos climáticos (temperatura, umidade, radiação solar), podendo afetar o crescimento, a produção de leite e a reprodução dos animais. Alguns elementos climáticos que podem ocasionar esse estresse são o frio e o calor. Sendo o frio representando um problema maior para os recém-nascidos no período do parto e o calor apresentando consequências no desempenho produtivo e reprodutivo do animal adulto.
Um dos grandes problemas ocasionados pelo estresse térmico é a diminuição da produtividade, decorrente da redução do consumo de alimentos, consequentemente o crescimento e o desenvolvimento são prejudicados. A partir disso é notório a importância do estudo das variáveis climáticas e de como elas atuam sobre o meio ambiente e sobre os animais, pois a interferência delas altera o modo como o animal age no ambiente no qual está inserido, prejudicando seu bem estar e causando um maior desgaste do animal.
Em regiões de clima quente, as condições adversas como altas temperaturas, alta umidade relativa do ar e alta radiação solar, aliadas à alta produção de calor metabólico, resultam em um estoque de calor corporal excedente, ocasionando estresse térmico pelo calor. Quando vacas em lactação são expostas a um ambiente no qual a produção de calor excedente a sua eliminação, as fontes que geram calor endógeno são inibidas, principalmente o consumo de alimentos e o metabolismo basal e energético, enquanto aumentam a temperatura corporal, a frequência respiratória e a taxa de sudação. Esses são mecanismos que indicam tentativas do animal em minimizar o desequilíbrio térmico, indicando através do seu comportamento que o ambiente não está proporcionando o conforto necessário, consequentemente o fato do animal estar em desconforto térmico irá refletir negativamente na produção do animal adulto.
Um animal homeotérmico na tentativa de perder calor para o ambiente reage através de uma vasodilatação periférica, ele aumenta o fluxo sanguíneo na pele e nos membros, onde esse aumento do fluxo sanguíneo permite uma maior perda de calor para o ambiente por radiação e por convecção.
O animal perde calor por radiação quando ele emite os raios caloríferos da sua pele para um objeto mais frio que esteja próximo. A perda por convecção ocorre quando o animal aquece a água ou o ar que está ao seu redor com seu próprio calor, perdendo assim calor para o ambiente através de uma corrente de fluído (líquido ou gasoso), uma vez que a perda de calor ocorre através da transmissão de moléculas de corpos mais quentes para os mais frios. 
A perda de calor por condução ocorre quando o animal transfere calor para outro objeto/corpo mais frio, essa mecanismo de perda de calor ocorre através do contato direto entre os corpos e, pode ser citado como exemplo, quando as vacas se deitam na lama na tentativa de trocar calor com a lama que se encontra mais fria que a temperatura de seu corpo.
É o ultimo mecanismo utilizado pelos animais na tentativa de diminuir o estresse pelo calor e a perda de calor por evaporação, onde o animal perde calor pelo suor, pelas vias aéreas e pela saliva, esse mecanismo ocorre mais comumente quando a temperatura do ambiente se encontra mais elevada que a temperatura do corpo do animal, esse mecanismo é mais eficiente quando a umidade do ar está baixa.
Os animais quando estão em estresse térmico procuram ambientes mais neutros, com sombra pois essa é uma forma deles se protegerem do sol. Esse tipo de comportamento é uma resposta óbvia ao estresse e uma maneira de se obter conforto, principalmente conforto térmico, porém essa conduta possui efeitos negativos pois os animais param de pastejar e vão a procura da sombra. As sombras artificiais nem sempre são tão efetivas quanto as naturais e devem oferecer espaço suficiente para os animais manterem sua distância social normal quando deitados ou em pé, permitindo o máximo de movimento do ar como proteção contra o calor. Caminhar excessivamente visa otimizar o resfriamento pela evaporação, essas vacas podem então mostrar-se exaustas para pastejar e deitam-se nas horas frescas do final da tarde, quando vacas com acesso à sombra começam a pastar.
Os bovinos leiteiros de maior produção consomem maior quantidade de alimento, possuem o metabolismo elevado o que faz com que elas tenham uma alta produção de calor endógeno, por isso são mais susceptíveis ao estresse térmico. Ao sofrer por estresse térmico o animal diminui suas refeições e passa a usar de mecanismos para a dissipação do calor, tudo isso requer demasiada energia sendo fundamental o acesso ilimitado a água fresca e de qualidade, caso contrário os prejuízos para o animal e para o produtor serão ainda maiores, uma vez que grande parte do leite é composto por água. Vacas em estresse e com falta de água se tornam vacas com baixa produtividade.
Alguns autores já relataram a importância do fornecimento de sombra aos animais, principalmente para bovinos como um mecanismo de evitar o agente estressante calor/raios solares, as árvores são ferramentas extremamente eficientes no combate a esse agente estressor, estudos apontaram que a sombra reduz cerca de 30% a radiação proveniente do sol, as árvores ainda proporcionam uma melhor circulação de ar e um aumento da umidade do local devido a evaporação/transpiração das folhas, tornando o microclima daquele ambiente mais cômodo aos animais, os animais com acesso a sombra , tiveram um aumento de 20% na média da produção de leite.
Outras alternativas também podem ser empregadas no combate ao estresse pelo calor, como o uso de sombrites, de aspersores e nebulizadores, entretanto esses métodos de combate ao calor, requerem manutenção constantes e todos os três mecanismos citadosacima não alteram o microclima em volta do animal tão efetivamente quanto as sombras naturais das copas das árvores, que funcionam como um ar condicionado natural para o gado.
Assim como o calor o frio também pode trazer transtornos, porém se houver disponibilidade de alimentos os animais conseguem se manter menos estressados do que quando são acometidos pelo calor. No período frio o percentual de vacas cíclicas é maior se comparado ao período do calor. Isso mostra que o período frio parece preservar toda a dinâmica reprodutiva e a consequente gestação. Provavelmente, é um reflexo do bem estar da vaca.
As respostas ao estresse térmico pelo frio são: evitar a perda de calor pela vasoconstrição periférica ( diminuindo o fluxo sanguíneo à periferia do corpo) e à piloereção (diminuindo a ação das correntes de convecção) e de imediato ocorrem respostas comportamentais como a procura por abrigo e enroscamento do corpo; aumento da produção de calor quando os mecanismos de manutenção não são suficientes para manter a temperatura do organismo, entra em ação o mecanismo de produção de calor (termogênese), que pode ser por tremores musculares e sem tremores musculares. E por serem animais de alta produção de leite eles produzem muito calor metabólico, isso ajuda no combate ao frio.
Concluímos a resenha expondo sobre a importância e a necessidade de se fazer um estudo do comportamento animal, quando o mesmo sofre ação de diversas variáveis climáticas. A partir da observação do comportamento do animal é possível mensurar o nível de estresse ou bem estar e a partir desse estudo é possível criar estratégias adotando novos métodos para se minimizar os efeitos do estresse térmico nos animais.
Apesar do interesse do produtor de se obter uma boa produtividade do animal, é papel do zootecnista instruir o produtor a adotar um manejo adequado respeitando os limites de cada espécie, garantindo ao animal o direito as cinco liberdades: serem livres de medo e estresse, serem livres de fome e sede, serem livres de desconforto, serem livres de dores e doenças e respeitar o direito desses animais de ter liberdade para expressar seu comportamento natural.