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A Política como Vocação

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A política como vocação
 
Maximillian Karl Emil Weber (Erfurt, 21 de Abril de 1864 – Munique, 14 de junho de 1920) foi um intelectual alemão, jurista, economista e considerado um dos fundadores da sociologia. Grande parte de seu trabalho como pensador e estudioso foi reservado para o chamado processo de racionalização e desencantamento que provém da sociedade moderna e capitalista. Mas seus estudos também deram contribuição importante para a economia. Sua obra mais famosa é o ensaio “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, com o qual começou suas reflexões sobre a sociologia da religião. Outro trabalho importante,“A política como vocação”, cujo é o trabalho em questão, Weber definiu o Estado como "uma entidade que reivindica o monopólio do uso legítimo da força física. Em suas contribuições mais conhecidas são muitas vezes referidas como a “Tese de Weber".
Weber inicia pelo questionamento básico, afinal, o que é política? Assumindo que a palavra possui um amplo e variado leque de sentidos, Weber afasta os significados usuais através da seguinte definição de saída: “por política entendemos tão somente a direção de agrupamento político hoje denominado ‘Estado’ ou a influência que ele exerce nesse sentido”. Ou seja, o conceito de política é reduzido “tão-somente” as ações e fazeres que giram em torno e no interior do Estado. Por sua vez, Estado é definido também de saída como: “uma comunidade humana que, dentro dos limites de determinado território – a noção de território corresponde a um dos elementos essenciais do Estado – reivindica o monopólio do uso legítimo da violência física”. Citando Trotsk, Weber concebe que todo Estado se fundamenta na força, sendo o Estado Moderno aquele que a monopoliza legitimamente, tornando-se a única fonte de direito à violência. Por conseguinte, a política é “o conjunto de esforços feitos visando a participação do poder ou a influenciar a decisão do poder, seja entre Estados, ou no interior de um único Estado”.
No entanto, não é por ser legítimo que o Estado não utiliza sua força para a dominação, pelo contrário, para o autor o Estado consiste em uma relação de dominação do homem pelo homem, embora tenha como base o uso legítimo da violência física. Isso quer dizer que “o Estado pode existir somente sob condições de que os homens dominados se submetam a autoridade continuamente reivindicada pelo dominadores”. Desse modo, qualquer homem que se arrisque na política quer poder, isto é, quer se colocar na posição de dominador. O político invariavelmente está em busca de poder, pois disputar o Estado é disputar a fonte de poder, seja para fins ideais ou para gozar de prestígio. Esta é uma condição da luta política; fazê-lo é estar disposto a dominar.
Assim Weber aponta três razões que justificam a dominação, acompanhadas de três correspondes fundamentos de legitimidade. Para ele, as três formas legítimas de dominação são formas puras ou ideais, raramente encontradas nesse estado de pureza. A primeira é o domínio tradicional, que se fundamenta e se legitima no passado, pela tradição. A segunda forma é o domínio exercido pelo carisma e se fundamenta em dons pessoais e intransferíveis do chefe-político. A terceira é o domínio exercido pela legalidade, baseado em regras racionalmente criadas e se fundamenta na competência. São as formas de dominação legítimas que importam para o Estado Moderno.
Das três o autor dedicará especial atenção ao domínio exercido pelo carisma puramente pessoal do chefe. Para Weber é no ocidente que esse tipo será mais desenvolvido, especialmente sob a figura do líder demagogo, o qual “se apresenta comumente sob o aspecto de um líder parlamentar”. É esse tipo que conduz às reflexões sobre a vocação política, ao mesmo tempo, é também nele que se deposita fé, tornando-se determinante ao jogo político no ocidente.
Weber passa a analisar o Estado como uma empresa de dominação elencando duas necessidades básicas e inerentes a ele. Por um lado, há o estado-maior administrativo e, por outro, há os meios materiais de gestão. Isto é, respectivamente, o conjunto de atividades organizadas voltadas a realização da obediência, e os recursos econômicos suficientes tanto para exercer a força física quanto para abrigar funcionários. A obediência dos súditos ou funcionários dentro do estado-maior se dá, nesse sentido, pela retribuição material e pelo prestígio social que o líder ou chefe de Estado possibilita.
Em relação aos meios materiais de gestão Weber aponta que uma das principais características do Estado Moderno é a separação entre os funcionários e trabalhadores burocráticos e os meios de gestão. O Estado Moderno “desenvolveu-se em paralelo a empresa capitalista que domina, pouco a pouco, os produtores independentes”. O autor defende que esse Estado expropriou “todos os funcionários que, consoantes o princípio que ‘os Estados’ dispunham no passado, por direitos próprios, dos meios de gestão”. Isso criou uma quantidade grande de trabalhadores do Estado que estão subordinados a gerência dos dirigentes, políticos que detém o poder de distribuir cargos.
Partindo de um critério econômico, o autor distingue aqueles que “vivem para a política”, daqueles que “vivem da política”. É evidente que a política, assim como definida, pode ser exercida por todos, mas há aqueles que a elegem como atividade principal e os que a exercem ocasionalmente. Não obstante, o autor salienta que “todo homem sério, que vive para uma causa, vive também dela”, mas isso não impede que a diferenciação econômica dos que “vivem para” e dos que “vivem da” política não seja relevante. Pelo contrário, defende Weber que na vida moderna nem o operário, tampouco o homem de negócios, o empresário, estão disponíveis suficientemente para a política. É oportuno, portanto, para a sobrevivência dos partidos políticos a disponibilização de pessoas que “vivam da” política e a tenham como profissão principal. 
Essa dinâmica relacionada a outra característica descrita acima, qual seja, a separação entre funcionários do Estado e os meios de gestão, torna a luta partidária não só uma luta por metas e objetivos programáticos, digamos uma luta de cunho ideológico, mas, acima de tudo, é erguida uma intensa disputa pelo controle da distribuição do Estado para distribuição de empregos. Nesse sentido, Weber destaca que é inerente ao Estado Moderno a tendência a corrupção e ao apego a máquina.
No entanto, defende o autor que paralelo ao político profissional desenvolveu-se junto ao Estado Moderno um outro agrupamento de funcionários. A função pública, nos dias de hoje, “exige um grupo de trabalhadores especializados, altamente qualificados e que se preparam, durante muito tempo, para o desempenho de sua tarefa profissional, sendo animados por um sentimento muito desenvolvido de honra corporativa, em que se realça o sentimento da integridade”. Para o autor, nos principais domínios do Estado Moderno, quais sejam, o financeiro, o exército e o jurídico, esses funcionários de carreira triunfaram definitivamente. 
Feita essa distinção Weber fornece as bases históricas para o surgimento dos funcionários políticos. O homem de letras, o jurista, o jornalista, são profissionais políticos que estão em torno do “príncipe” para auxilia-lo; são contratados e subordinados a estratégia determinada por ele, e todos seguem seu chefe-político. O autor sugere nesse momento que na moderna democracia há uma mudança importante nesses funcionários, pois o antigo grupo de notáveis, como eram os conselheiros, são substituídos por especialistas voltados a política de massas. O jornalista e o advogado ganham destaque na organização do partido moderno, pois são as profissões que dão suporte ao tipo de político demagogo, mais comum no ocidente.
Entrando, então, na análise do partido político moderno, Weber vai defini-lo como uma “empresa de interesses”, e defende que um dos fundamentos dessa organização é a distinção entre uma camada de políticos ativos, militantes, que são recrutados dentre a massa eleitoral que, por suavez, é um corpo passivo que apenas, ocasionalmente participa. Essa distinção, entre poucos ativos e muitos passivos, é o fundamento dos partidos que se organizam em suas disputas como uma empresa e sobretudo, através da distribuição de cargos.
O líder carismático é aquele que por seus dons pessoais e intransferíveis coloca-se a frente da organização política mobilizando e convencendo a maioria, fazendo seguidores. Para Weber o desenvolvimento da máquina partidária nesses moldes leva a uma sofisticação que tende a sobrepor a captação de votos e recursos às questões programáticas, criando o que ele denomina de “partidos sem princípios”: uma organização de caçadores de empregos, recursos financeiros e poder.
Já o “empresário político” é descrito por Weber como o gerente capitalista dentro da lógica partidária. Para o autor, esses chefes são os mesmos que garantem certa eficiência ao partido e elevam a cena política homens capazes: “ou uma democracia admite como dirigente um verdadeiro chefe e, consequentemente, aceita a existência da máquina ou renega a máquina e cai sob os domínios dos políticos profissionais, sem vocação, privados das qualidades carismáticas que produzem líderes”.
Feito esse longo percurso conceitual, Weber se detém, então, às questões diretamente relacionadas a vocação: quais as características necessários ao político? Com essa pergunta em mente o autor afirma que três qualidades determinantes podem ser apontadas com precisão: paixão, sentido de responsabilidade e senso de proporção. O romantismo das grandes causas deve, então, estar conciliado à frieza e precisão da responsabilidade e da proporção. Weber nesse ponto é enfático ao dizer que “política se faz usando a cabeça e não as demais partes do corpo”, ou seja, mobilizar através da paixão não pode estar desconectado do cálculo da correlação de forças e das probabilidades de vitória. Quem não fizer isso, alerta o autor, corre grande risco de cometer os dois maiores pecados da política: “não defender causa alguma, e não ter sentido de responsabilidade”.
Como último ponto, Weber, abre uma questão sobre a relação entre ética e política: “qual é, independentemente de fins específicos, a missão que a política pode desempenhar na economia global da conduta da vida? Qual é, em outras palavras, o lugar ético que ela reside?
O autor passa a definir duas máximas que são irredutivelmente opostas seja qual orientação ética se adote: a ética das últimas finalidades e a ética de responsabilidade. O importante é distinguir que, enquanto a primeira visa às atitudes exemplares e coerente com os fins últimos; a segunda mede os meios existentes para se chegar a tal ou qual fim, aceitando que mesmo completamente distante um pequeno avanço é razoável. “Quem acredita numa ética de objetivos finais só se sente responsável por fazer que a chama das intenções puras não seja sufocada”. Já quem segue a ética de responsabilidade busca sempre o cálculo e a medida para ver se suas ações têm resultado positivo, pois no final sempre dirá: “esses resultados são atribuídos a minha ação”.

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