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Estado, governo, sociedade - Para uma teoria geral da politica - Bobbio, Norberto - Capítulo III

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CAPÍTULO III
Para o estudo do Estado
As disciplinas históricas
As duas fontes principais para o estudo do Estado, a história das instituições e a das doutrinas políticas, não se confundem. Principalmente pela dificuldade de acesso às fontes, a primeira se desenvolve da segunda, mas depois se emancipa.
Filosofia e ciência política
O desenvolvimento, estrutura, funções, elementos constitutivos, mecanismos, eórgãos (entre outras) do Estado são estudadas pela filosofia e pela ciência política.
Na filosofia política são compreendidos três tipos de investigação: a) da melhor forma de governo; b) do fundamento do estado, ou do poder político com a consequente justificação da obrigação política; c) da essência da categoria do político ou da politicada, com a prevalente disputa sobre a distinção entre ética e política.
Por ciência política entende-se hoje uma investigação no campo da vida política capaz de satisfazer três condições: a) o princípio da verificação como critério de aceitabilidade dos resultados; b) o uso de técnicas da razão que permitam dar uma explicação causal em sentido forte ou mesmo em sentido fraco do fenômeno investigado; C) a abstenção de juízos de valor (valor da atividade).
Ponto de vista sociológico e jurídico
Além dos campos da filosofia e da ciência política, existe a distinção pelos pontos de vista jurídico e sociológico. Esta distinção tornou-se necessária após a mecanização do direito público e à consideração do Estado como pessoa jurídica. Por outro lado, a reconstrução do Estado como, não permitiu que se esquecesse de que este era também, através do direito, uma forma de organização social e que, como tal, não podia ser dissociado da sociedade e das relações sociais subjacentes. Daí a necessidade de uma distinção entre o ponto de vista jurídico e sociológico. 
Jelinek e Weber sustentam que tal distinção é necessária, mas Kelsen (que reduziu o Estado a ordenamento jurídico) entende que não. Teorias meramente jurídicas do Estado foram abandonadas na transformação do Estado de direito em Estado social.
Funcionalismo e marxismo
Entre as teorias sociológicas do Estado, as que se mantiveram em campo e frequentemente em polêmica entre si são as teorias marxista e a funcionalista. E diferenciam-se no conceito de ciência, no método e principalmente na colocação do Estado no sistema social. 
A concepção Marxista da sociedade distingue em cada sociedade histórica, dois momentos: a base econômica e a superestrutura. As instituições políticas (o Estado) pertencem ao segundo momento Marxista a base econômica é sempre determinante em última instância. 
Ao contrário, a concepção funcionalista concebe o sistema global em seu conjunto como diferenciado em quatro subsistemas (patter-maintenance, goal-attainment, adaptation, integration) desempenhando funções essenciais para a conservação do equilíbrio social e por isso são interdependentes. Ao subsistema político cabe a função goal-attainment, o que equivale a dizer que a função política é apenas mais uma no conjunto de instituições o Estado, é uma das quatro funções fundamental de todo sistema social. Enquanto o funcionalismo é dominado pelo tema Hobbesiano da ordem, o marxista é dominado pelo tema da ruptura da ordem. 
Enquanto o primeiro se preocupa com o problema da conservação social, o segundo se preocupa com a mudança social. 
O segundo lugar do pensamento sociológico é integracionista ou conflitualista, ou seja, é a divisão que opõe os sistemas que privilegiam o momento de coesão aos que privilegiam os momentos de antagonismo respectivamente. E ainda neste sentido seriam o funcionalismo e o marxismo os dois protótipos dessa grande divisão.
Estado e sociedade
Em Hegel a teoria política é uma teoria do estado culminante, em que o Estado resolve e supera os dois momentos precedentes, a família e a sociedade civil. E neste sentido as relações entre sociedades políticas e sociedades particulares representariam uma relação entre o todo e as partes. Com emancipação da sociedade civil-burguesa no sentido Marxista invertem-se as relações entre instituições políticas e Estado e pouco a pouco a sociedade nas suas várias articulações torna-se o todo, do qual o Estado é considerado o restritivamente como aparato coativo do qual um setor da sociedade exerce o poder sobre os demais.
Da parte dos governantes ou dos governados
Em relação às diversas maneiras de considerar o problema do Estado, deve-se mencionar uma contraposição que deriva da diversa posição que os escritores assumem com respeito à relação política fundamental (governante - governados, soberano - súdito ou Estado - cidadãos) relação que é geralmente considerada como relação entre superior e inferior. Os escritores políticos trataram o problema do estado principalmente do ponto de vista dos governantes, seus temas essenciais são a arte de bem governar, as virtudes ou habilidades ou capacidades que exigem do bom governante, as várias formas de governo, a distinção entre o bom e o mau governo, referem apenas a um dos dois sujeitos da relação, aquele que está no alto e que setor na deste modo, o verdadeiro sujeito ativo da relação. 
A reviravolta acontece no início da idade moderna, com a doutrina dos direito naturais que pertencem ao indivíduo singular. Estes direitos precedem a formação de qualquer sociedade política e, portanto de toda estrutura do poder que a caracteriza. 
Para Locke, o fim do governo civil é a garantia da propriedade de que é um direito individual, cuja formação precede ao nascimento do Estado.
O nome e a coisa
A origem do nome
É fora de discussão que a palavra Estado se impôs através da difusão e pelo prestígio do príncipe de Maquiavel. A cunhagem do termo Estado, que englobando república e monarquia, é um gênero recente. Mas existe um problema de sentido amplo e estrito quanto ao termo, ele serve apenas para os modernos Estados nacionais ou também para organizações mais antigas? A favor do sentido estrito, o fato dos Estados nacionais serem únicos e recentes, a favor do sentido amplo o fato de as obras clássicas ainda servem para os Estados modernos, tanto que é fonte de referência constante aos pensadores da época. Existem várias teses sobre a origem do Estado como dissolução das famílias em favor de algo mais amplo para se proteger e sobreviver. Alguns autores preferem o termo Sistema Político ao invés de Estado, devido a um sentido pejorativo que ele teria incorporado. Reduz-se agora o conceito de Estado ao de política e o de política ao de poder.
Argumentos em favor da descontinuidade
O problema do nome Estado não seria tão importante se a introdução do novo termo nos primórdios da idade moderna não tivesse ido ao encontro da nova realidade do Estado, que agora era precisamente moderno, a ser considerado como uma forma de ordenamento tão diverso dos ordenamentos precedentes que não poderia mais ser chamado com os antigos nomes. Em outras palavras, a palavra Estado deveria ser usada com cautela para as organizações políticas existentes antes daquele ordenamento que de fato foi chamando pela primeira vez de Estado. 
O foco da questão referente à continuidade ou descontinuidade do Estado é saber ou definir se já existia uma sociedade política passível de ser chamada de Estado antes dos grandes Estados territoriais com os quais se fez começar a história do Estado moderno. 
Na concepção weberiana o Estado moderno é definido mediante dois elementos constitutivos: a presença de um aparato administrativo com a função de prover a prestação de serviços públicos, e o monopólio legítimo da força. A partir desse ponto de vista, sustentar-se-ia que a polis grega não é um estado e nem tampouco a sociedade feudal. Quem considera que se pode falar m Estado apenas a propósito dos ordenamentos políticos de que trata Bodin, Hobbes ou Hegel, comporta-se mais com.
Argumentos em favor da continuidade
Se em favor da descontinuidade apresentam-se os argumentos anteriores, para a continuidade valem argumentos nãomenos fortes. 
Tanto a Política de Aristóteles, para as relações internas, quanto as Histórias de Tucídides para as relações externas são até hoje fonte de ensinamentos e de pontos de referência e confronto. Os estudos da história romana sempre foi uma das fontes principais da tratadística política que acompanhou a formação do Estado Moderno. 
O mesmo discurso pode-se fazer e se tem feito ao longo do período da história que vai da queda do império romano ao nascimento dos grandes Estados territoriais, para o qual se pôs com particular interesse a questão da continuidade. Isto tanto no que se refere ao início do período quanto ao seu fim, ao processo cada vez maior de concentração do poder que origem a realidade e a ideia de Estado sobrevivente até hoje. Mesmo no medievo não desaparece a ideia de império, isto é, de um poder que é o único autorizado a exercer em ultima instancia a força. E por último a ideia do contrato social e do contrato de sujeição fundado na idade moderna que servem para explicar a função mediadora dos grandes conflitos sociais que é própria do estado contemporâneo.
Quando nasceu o Estado?
O Estado, entendido como ordenamento político de uma comunidade, nasce da dissolução da comunidade primitiva fundada sobre laços de parentesco e da formação de comunidades mais amplas derivadas da união de vários grupos familiares por razões de sobrevivência interna (o sustento) e externas (a defesa).
O nascimento do estado assinala o inicio da era moderna, segundo a mais esta mais antiga e comum interpretação, o nascimento do Estado representa o ponto de passagem da idade primitiva, gradativamente diferenciada em selvagem e bárbara, à sociedade civil, onde civil está ao mesmo tempo para cidadão e civilizado. 
Também para Engels o Estado nasce da dissolução da sociedade gentílica fundada sobre o vinculo familiar e o nascimento d estado assinala a passagem do estado de barbárie à civilização, mas distingue-se pela interpretação exclusivamente econômica que dá a este evento, para ele, na comunidade primitiva vigora o regime de propriedade coletiva dos bens, com o nascimento da propriedade individual, nasce a divisão do trabalho, e com esta, a divisão da sociedade em classes, a dos proprietários e a dos que nada tem. Com a divisão da sociedade em classes nasce o poder político, O Estado, cuja função é manter o domínio de uma classe sobre a outra, recorrendo inclusive à força.
OBS: Existem sociedades primitivas sem Estado na medida em que não tem uma organização política e existem sociedades primitivas que embora não sendo Estados, têm uma organização política.
O Estado e o poder
Teorias do poder
Aquilo que estado e política tem em comum é a referência ao fenômeno do poder. Não há teoria política que não parta de alguma maneira, direta ou indiretamente de uma definição de poder e de uma análise do fenômeno do poder. A teoria do estado apoia-se sobre a teoria dos três poderes e da relação entre eles. O processo político é ali definido como a formação, a distribuição e o exercício do poder. 
Na filosofia política o poder foi apresentado sob três aspectos, com três teorias fundamentais: substancialista, subjetivista e relacional. Nas teorias substancialistas, o poder é concebido como uma coisa que se possui e se usa como outro bem qualquer. Esta típica interpretação é a de Hobbes, em que o poder de um homem a consiste nos meios de que presentemente dispõe para obter qualquer visível bem no futuro. 
Típica interpretação subjetivista é a de Locke onde poder é a capacidade do sujeito de obter certos efeitos. Este modo de entender o poder é adotado pelos juristas para definir o direito subjetivo. E que um sujeito tenha um direito subjetivo significa que o ordenamento jurídico lhe atribuiu poder de obter certos efeitos. 
Porém a mais aceita no discurso político contemporâneo é a terceira, que se remete ao conceito relacional de poder, e estabelece que por poder deve-se entender uma relação entre dois sujeitos, dos quais o primeiro obtém do segundo um comportamento que em caso contrário não ocorreria. Em Dahl, influência é uma relação entre atores, que induz o comportamento do outro de forma que de modo contrário não se realizaria. Ainda para Dahl, o poder de um é a negação da liberdade do outro e vice versa.
As formas do poder e o poder político
Uma vez reduzido o conceito de Estado ao de política e o conceito de política ao de poder, o problema a ser resolvido torna-se o de diferenciar o poder político de todas as outras formas que pode assumir a relação de poder. 
A tipologia clássica, transmitida ao longo dos séculos, é a que se encontra na Política de Aristóteles, que distingue três tipos de poder com base na esfera em que é exercido: o poder dos pais sobre os filhos, do senhor sobre os escravos, do governante sobre os governados. 
A tripartição das formas de poder em paterno, despótico e civil é um dos tópicos da teoria política clássica e moderna. Locke distingue-se de Aristóteles pelo critério de distinção no que diz respeito ao diverso fundamento dos três poderes. O poder do pai tem fundamento natural, na medida em que nasce da própria geração; o senhorial é o efeito do direito de punir quem se tornou culpado de um delito grave e, portanto, passível de uma pena igualmente grave como a escravidão; o poder civil está fundado sobre o consenso expresso ou tácito daqueles aos quais é destinado. O poder político vai-se assim identificando com o exercício da força e passa a ser definido como aquele poder que, para obter efeitos desejados, tem o direito de se servir da força.
O uso da força física é condição necessária para a definição de poder político, mas não é condição suficiente. 
O tema da exclusividade do uso da força como característica do poder político é hobbesiano por excelência, a passagem do estado de natureza para o Estado representado pela passagem do uso indiscriminado da própria força contra os demais a uma condição na qual o direito de usar a força cabe apenas ao soberano.
As três formas de poder
Vários critérios foram adotados para distinguir as várias formas de poder. O critério do meio de que se serve o detentor do poder para obter os efeitos desejados é o mais usado. Esta tipologia que classifica quanto aos meios define três poderes: econômico, ideológico e político, ou seja, da riqueza, do saber e da força.
→ Poder econômico é aquele que se vale da posse de certos bens numa situação de escassez, para induzir os que não possuem a adotar certa conduta. Na posse dos meios de produção isto representa grande fonte de poder.
→ Poder ideológico é aquele que se vale da posse de certas formas de saber para exercer uma influência sobre o comportamento alheio e induzir outros a realizar ou não uma ação.
→ Poder político é o que esta em condições de recorrer em última instância ao uso da força (e está em condições de fazê-lo por que detém o monopólio). Estas três formas de poder contribuem para manter sociedades desiguais, divididas entre fortes e fracos (com base no poder político); entre ricos e pobres (com base no poder econômico) e em sábios e ignorantes (com base no poder ideológico).
O primado da política
A concepção do primado da política sobre os demais poderes corresponde a doutrinada necessária imoralidade ou amoralidade da ação política que deve visar o próprio fim, sem sentir vinculada ou embaraçada por contemporização de outra natureza: primado que se reflete na figura do príncipe maquiavélico, com relação ao quais os meios empregados para vencer ou conquista o Estado são sempre, seja eles quais forem, “julgados honrosos ou por todos louvados”.
→ independência do juízo político ao juízo moral.
Primado da política e da razão do Estado: independência do juízo político da moral. Segundo Hegel, o princípio da ação do Estado está na própria necessidade de existir.
O fundamento do poder
O problema da legitimidade
Com respeito ao poder político o problema de sua justificação nasce do questionamento se basta sua força parafazê-lo aceito por aqueles sobre os quais se exerce para induzir seus destinatários a obedecê-lo. 
A este problema surgem duas questões acerca da efetividade (no sentido de que o poder fundado sobre a força não pode durar) e também o problema da legitimidade (no sentido de que um poder fundado apenas sobre a força pode ser efetivo, mas não considerado legítimo).
→ Se se limita a fundar o poder exclusivamente sobre a força, como se faz para distinguir o poder político do poder de um bando de ladrões? 
A consideração segundo a qual o supremo poder que é o poder político, deva também ter uma justificação ética, deu lugar a formulação de princípios de legitimidade, isto é, dos vários modos com os quais se procurou dar a quem detém o poder, uma razão de comandar, e a quem suporta o poder, uma razão de obedecer, dando a classe que detém o poder base moral e legal, isto por meio de duas fórmulas: a que faz derivar o poder da autoridade de Deus e a que o faz derivar da autoridade do povo.
Os vários princípios de legitimidade
Na realidade, os princípios de legitimidade sempre adotados ao longo da história não são apenas os dois indicados por Mosca. Podem ser distinguidos pelo menos seis deles, através de duplas antitéticas de três grandes princípios unificadores: a vontade, a natureza e a história.
→ Vontade: numa concepção descendente do poder a autoridade ultima é a vontade de Deus, numa concepção ascendente a autoridade última é a vontade do povo.
→ Natureza: natureza como força originária (segundo a prevalente concepção clássica do poder); e natureza como ordem racional pela qual a lei da natureza se identifica com a lei da razão (segundo prevalente interpretação jusnaturalista moderna).
Obs.: 1 interpretação – da origem a ideia de que existem naturalmente forte e fracos, sábios e ignorantes , etc.
 2 interpretação – significa ao contrário fundar o poder sobre a capacidade do soberano de identificar e aplicar leis naturais, que são as leis da razão.
→História: tem duas dimensões de legitimação do poder, a passada ou a futura. A referência à história passada institui como princípio de legitimação a força da tradição, (critério de legitimação do poder constituído) enquanto que a referência à história futura constitui um dos critérios para a legitimação do poder que está se constituindo. 
O debate sobre os critérios de legitimidade não tem apenas um valor doutrinal, mas está ligado ao problema da obrigação política, baseando-se no princípio de que a obediência é devida apenas ao poder legitimo. E onde acaba a obrigação de obedeceras leis, começa o direito de resistência.
Legitimidade e efetividade
Em oposição às teorias anteriores que defendem que a legitimidade é necessária para a efetividade, as teorias positivistas abrem caminho a tese de que apenas o poder efetivo é legítimo. No âmbito do positivismo jurídico, isto é, de uma concepção que considera como direito apenas o direito posto pelas autoridades delegadas para este fim pelo próprio ordenamento e tornado eficaz por outras autoridades previstas pelo próprio ordenamento dão outra direção ao tema da legitimidade, e neste sentido a eficácia deriva da legitimidade.
 Os três tipos puros ou ideais de poder legítimo são segundo Weber, o poder tradicional, o poder racional-legal e o poder carismático, e representam três tipos diversos de motivação, no poder tradicional, o motivo da obediência é a crença na sacralidade do soberano, sacralidade esta que deriva da força daquilo que dura há tempo (tradição); no poder racional a obediência deriva da crença na racionalidade do comportamento conforme a lei; no poder carismático deriva da crença nos dotes extraordinários do chefe. Em outras palavras Weber tentou mostrar quais foram até aquele período os fundamentos reais (não os presumidos ou declarados) do poder político. 
Segundo Niklas Luhmann, nas sociedades complexas que concluíram o processo de positivação, a legitimidade não está em valores, mas em procedimentos específicos, como eleições, processo legislativo e processo judiciário, prestações do próprio sistema.
O uso da força física é condição necessária para a definição de poder político, mas não é condição suficiente. O tema da exclusividade do uso da força como característica do poder político é hobbesiano por excelência, a passagem do estado de natureza para o Estado representado pela passagem do uso indiscriminado da própria força contra os demais a uma condição na qual o direito de usar a força cabe apenas ao soberano. 
Estado e direito
Os elementos constitutivos do Estado
Ao lado do problema do fundamento do poder, a doutrina clássica do Estado sempre se ocupou também do problema dos limites do poder, problema que geralmente é apresentado como problema das relações entre direito e poder (ou direito e Estado). Desde que o problema do Estado passaram a tomar conta os juristas, o Estado tem sido definido através de três elementos constitutivos : o povo, o território e a soberania. Por Estado em uma definição atualizada e corrente, “é um ordenamento jurídico destinado a exercer o poder soberano sobre um dado território, ao qual estão necessariamente subordinados os sujeitos a ele pertencentes” (Mortati).
Na rigorosa redução que Kelsen faz do Estado a ordenamento jurídico, o poder soberano torna-se o poder de criar e aplicar direito num território e para um povo, poder que recebe sua validade da norma fundamental e da capacidade de se fazer valer recorrendo inclusive, em última instância, à força, e, portanto do fato de ser não apenas legítimo, mas eficaz. O território torna-se limite de validade espacial no sentido de que as normas emanadas do poder soberano valem apenas dentro de determinadas fronteiras, e o povo trona-se o limite de validade pessoal do direito do Estado.
Justamente Kelsen, além dos limites de validade espacial e pessoal, que redefinem os elementos constitutivos território e povo, leva em consideração outras duas espécies de limite, os de validade temporal (uma norma tem validade limitada entre os limites de sua emanação e ab-rogação) e os limites de validade material na medida em que existem: a) matérias não passíveis de regulamentação; b) matérias que podem ser reconhecidas como indisponíveis pelo próprio ordenamento.
O governo das leis
A relação entre direito e poder é apresentado, desde a antiguidade pela pergunta: é melhor o governo das leis ou dos homens? Platão afirma em sua distinção entre bom e mau governo que ― “onde a lei é súdita dos governantes e privada de autoridade, vejo a ruína da cidade, e de onde ao contrário, a lei é senhora dos governantes e os governados seus escravos, vejo a salvação da cidade...” Aristóteles por sua vez afirma que a lei não tem paixões, e a supremacia da lei com respeito ao juízo dado caso por caso pelo governante repousa em sua generalidade e constância. 
O princípio da subordinação à lei conduz à doutrina do governo da lei, fundamentando o Estado de Direito, que em sua acepção mais restrita, representa o Estado cujos poderes são exercidos no âmbito de leis preestabelecidas. 
Mas surge uma questão: se as leis são geralmente postas por quem detém o poder, de onde vêm as leis a que deveria obedecer ao próprio governante? A resposta a essa pergunta abrem duas estradas. A primeira que defende que além das leis postas pelos governantes existem as leis que não dependem da vontade dos governantes, e estas são leis naturais, ou leis cuja força vinculatória está radicada numa tradição. E a segunda que afirma que no início de um bom ordenamento existe um sábio, o grande legislador que deu ao povo uma constituição que deve ser escrupulosamente ater-se. Ambas as estradas foram percorridas ao longo da história do pensamento político e mesmos os artífices das leis são obrigados a respeitar as leis superiores e as leis positivas, como as leis naturais.
Os limites internos
A ideia recorrente do governo das leis como superior ao governo dos homens pode parecer em contraste com o princípioque corresponde ao fato de o príncipe esta livre das leis (princeps é legibus solutus). O princípio não que dizer que o poder do príncipe não tenha limites: as leis a que se refere o princípio são leis positivas, ou seja, as leis postas pelo próprio soberano, isto não exclui que esteja submetido enquanto homem, como todos os homens a leis naturais e divinas. Além disso, Bodin acrescenta a limitação pelas leis fundamentais do reino (como por exemplo, a que regula a sucessão do trono) que são transmitidas e consuetudinárias e como tais positivas. 
Por fim, existe um terceiro limite e que serve para distinguir a monarquia régia da monarquia despótica: o poder do rei não se estender a esfera do direito privado (que é considerado direito natural) salvo em caso de justificada necessidade. 
Para alguns o poder do rei deve ser limitado não apenas pela existência de leis superiores, mas também pela existência de centros de poder legítimos que estão presentes no Estado (clero, nobreza, as cidades). Sendo assim o respeito às leis superiores serve para distinguir o reino da tirania, e a presença de corpos intermediários serve para distinguir a monarquia do despotismo.
Uma ulterior fase do processo de limitação jurídica do poder político é a que se afirma na teoria da separação dos poderes (executivo, legislativo e judiciário), e sua concentração nas mesmas mãos (sejam estas, mãos de muitos ou de poucos) se define como verdadeira ditadura.
Seja qual for o fundamento dos direitos do homem, são eles considerados como direitos que o homem tem enquanto tal, independentemente de serem postos pelo poder político e que, portanto o poder político deve não só respeitar, mas também proteger.
Os limites externos
 
Nenhum Estado está só. Todo Estado existe ao lado de outros Estados, em uma sociedade de Estados. A soberania destes tem duas faces, uma voltada para o interior, outra para o exterior, correspondentemente vai ao encontro de dois tipos de limites: os que derivam das relações entre governantes e governados, e são limites internos, e os que derivam das relações entre Estados. E são limites externos. Mas ao processo de unificação interior, corresponde um processo de emancipação em relação ao exterior, pois quanto mais consegue vincular- se aos súditos, mais consegue tornar-se independente. 
Enquanto o processo de dissolução do império representa uma redução do poder em favor de novos Estados, o processo de formação de um Estado maior a partir da união de Estado pequenos representa um esforço de poder dos primeiros sobre os segundos: estes perdem em independência interna, aquilo que ganham em força no exterior, unindo-se a outros (característica marcante do federalismo).
Do ponto de vista externo, a história dos Estados europeus é um contínuo processo de decomposição e recomposição, e, portanto, de vinculação e desvinculação dos limites jurídicos.
Formas de governo
Antes de tudo é importante assim como na teoria geral do Estado, é importante distinguir as formas de governo dos tipos de Estado. Nas formas de governo, leva-se mais em conta a estrutura de poder e as relações entre os vários órgãos dos quais a constituição solicita exercício do poder; nos tipos de Estado leva-se mais em conta as relações de classes, a relação entre o sistema de poder e a sociedade subjacente.
Tipologias clássicas
As tipológicas clássicas das formas de governo são três: a de Aristóteles, a de Maquiavel e a de Montesquieu.
Aristóteles atribui a classificação com base no número dos governantes, desta forma delimita três tipos: monarquia (ou governo de um), aristocracia (ou governo de poucos) e democracia (ou governo de muitos). Com a anexa duplicação das formas corruptas, em que monarquia se degenera em tirania; aristocracia em oligarquia e politéia (denominação da boa forma do governo de muitos) em democracia. 
Formas corruptas
Monarquia -> Tirania
Aristocracia -> Oligarquia
Democracia <- Politéia
Maquiavel as reduz a duas: monarquia e república correspondendo no gênero das repúblicas tanto as aristocráticas quanto as democráticas, pois segundo ele a base essencial da diferença está entre o governo de um só e o governo de uma assembleia (sendo a distinção entre assembleia de otimates e uma assembleia popular, menos relevante).
Monarquia -> Governo de um só 
 \ 
 Democráticas (assembleias populares)
 / 
República -> Aristocráticas (assembleias de otimates)
Montesquieu retorna a tricotomia, porém de forma diversa da aristotélica, classifica da seguinte forma: monarquia, república e despotismo. É diverso, pois combina a distinção analítica de Maquiavel com a distinção axiológica tradicional. Além disso, acrescenta um critério com base nos princípios que induzem o sujeito a obedecer: a honra nas monarquias; a virtú nas repúblicas e o medo no despotismo (que se apresenta como monarquia degenerada). A novidade na tipologia de Montesquieu é a introdução da categoria do despotismo, pela necessidade de dar maior espaço oriental, cuja esta categoria foi forjada por antigos.
Kelsen considera superficial a distinção aristotélica fundada sobre o elemento numérico, e sustenta que a única forma de distinguir uma forma de governo da outra consiste em individualizar o modo pelo qual uma constituição regula a produção do ordenamento jurídico. E isto se dá por duas formas possíveis: ou a partir do alto (quando os destinatários das normas não participam da criação destas) e são, portanto heterônomas ou a partir de baixo (quando os destinatários participam de sua criação) e são por isso autônomas. Estas duas formas de produção correspondem aduas formas puras e ideais de governo, a autocracia e democracia (esta redução kelseniana resulta da unificação da monarquia e da aristocracia na forma de autocracia).
 Do alto – heterônomas -> autocracia (monarquia + aristocracia)
 / 
Produção do Ordenamento
 \
 De baixo – autônomas -> democracia
Monarquia e República
A distinção que melhor resistiu ao tempo, chegando aos nossos dias foi a distinção Maquiavélica entre monarquia e república. Embora muito extenuada com a queda da maioria dos governos monárquicos, o que a fez corresponder cada vez menos com a realidade histórica. 
Em três escritores como Vico, Montesquieu e Hegel, a monarquia representa a forma de governo dos modernos, e a república dos antigos, ou na idade moderna, adequada apenas a pequenos Estados. A primeira república que após a de Roma, nasce em um vasto território, funda-se sobre uma constituição monárquica, na qual o chefe de Estado não é hereditário, mas eletivo (a saber, as treze colônias americanas) outra razão é a conceitual, no que se refere à distinção monarquia e república, pois pouco apouco perde relevância, isso por que perde seu significado originário. Originalmente monarquia era governo de um só, e república segundo Maquiavel, governo de muitos, mais precisamente de uma república, porém na medida em que também nas monarquias o peso do poder se desloca do rei para o parlamento (a começar da inglesa) a monarquia tornada constitucional e depois parlamentar, tornou-se uma forma de governo diversa daquela a qual a palavra foi criada. 
Já Kant chama de forma republicana aquela em que vigora a separação dos poderes, ainda que o titular do governo seja um monarca. De forma que república adquire um significado novo, que não é mais o de Estado em geral ou do governo de uma assembleia, contraposto ao de um só. 
Entre estas duas formas de governo existem muitas formas intermediárias (por exemplo, a quinta Republica Francesa (1958) uma república presidencial que preservou afigura do presidente de conselho distinta da do presidente da república).
 
Outras tipologias
Uma vez admitido, como sustenta Mosca,que o governo em toda organização política pertença a uma minoria, as formas de governo não podem ser diferenciado com base no critério numérico, pois por esta perspectiva, todos os governos seriam oligarquias (o que ainda assim não impediria a distinção entre um governo do outro, podendo-se diferenciar quanto à formação e quanto à organização da classe política). Com respeito à formação Mosca distingue entre classes fechadas e abertas com respeito à organização classes autocráticas (poder vem do alto) e classes democráticas (poder vem de baixo).
Tomando como ponto de referência não mais a classe, mas o sistema político, Almonde Powell distinguem o sistema político com base em dois critérios, o da diferenciação dos papéis e o da autonomia dos subsistemas, o que da origem a quatro tipos ideais de sistema político: a) baixa diferenciação dos papéis e da autonomia do subsistema, ex.: sociedades primitivas; b) baixa diferenciação dos papéis e alta autonomia do subsistema, ex.: sociedade feudal; c) alta diferenciação dos papéis e baixa autonomia do subsistema, ex.: grandes monarquias nascidas da dissolução da sociedade feudal; d) alta diferenciação dos papéis e alta autonomia do subsistema, ex.: Estados democráticos contemporâneos.
Governo misto
Aristóteles menciona a opinião segundo a qual ― a melhor constituição deve ser uma combinação de todas as constituições‖.
A razão pela qual o governo misto é superior a todos os demais repousa, segundo Políbio, no fato de que cada órgão pode obstaculizar os outros ou com eles colaborar e nenhuma das partes excede a sua competência e ultrapassa a medida. Teóricos do absolutismo, isto é, de um Estado que não conhece nem reconhece entes intermediários (como Bodin e Hobbes), criticam a doutrina do governo misto pela mesma razão com os fautores a sustentam: a distribuição do poder do soberano por órgãos diversos e distintos tem por efeito o pior dos inconvenientes que podem levar um Estado à ruína – instabilidade (precisamente a instabilidade que Políbio considerava característica comum das formas puras, e que apenas a combinação das três formas seria capaz de resolver).
Através da idealização que Montesquieu fez da monarquia inglesa, a monarquia constitucional passa a ser interpretada como forma mista e torna-se o modelo universal de Estado, após a revolução francesa, ao menos por um século.
As formas de Estado
Formas históricas
Podem-se distinguir as diversas formas de Estado à base de dois critérios principais, o histórico e o relativo à maior ou menor expansão do Estado em detrimento da sociedade. 
À base do critério histórico, a tipologia mais acreditada junto aos historiadores das instituições propõe a seguinte sequência: Estado feudal, Estado comercial, Estado absoluto, Estado representativo. Para Mosca esta divisão se dava em duas esferas e são elas o
Estado feudal, caracterizado pela fragmentação do poder central em pequenos agregados sociais, e Estado burocrático, caracterizado pela progressiva concentração e pela simultânea especialização das funções do governo.
Além destas existe a configuração de um Estado de estamento, existente entre o Estado feudal e o estado absoluto. Por estamento entende-se a organização política na qual se formam órgãos colegiados (Stände ou estados) que reúnem indivíduos possuidores de uma mesma posição social, e são enquanto tais, possuidores de direitos e privilégios, que fazem valer contra o príncipe, pois nenhuma monarquia torna-se tão absoluta ao ponto de suprimir toda forma de poder intermediário (o Estado absoluto não é um Estado total) e neste sentido a monarquia distingue-se do despotismo porque o poder monárquico é contrabalançado pelos corpos intermediários.
Como forma intermediária entre o Estado feudal e o Estado absoluto, o Estado estamental distingue-se do primeiro pela gradual institucionalização dos contra poderes e pela transformação das relações que passou de pessoa a pessoa, para a relação entre instituições. Distingue-se da segunda pela presença da contraposição de poderes em continuo conflito entre si, que o advento da monarquia absoluta tende a suprimir.
A formação do Estado absoluto ocorre através de um duplo processo paralelo de concentração e de centralização do poder num determinado território. Por concentração entende-se o processo pelo qual os poderes através dos quais se exerce a soberania, são atribuídos de direito ao soberano pelos legistas e exercidos de fato pelo rei e pelos funcionários dele diretamente dependentes e por centralização (processo de eliminação ou de exaustação de ordenamentos jurídicos inferiores, como as cidades, as corporações e sociedades particulares, que apenas sobrevivem como ordenamentos derivados de uma autorização central e não como ordenamentos autônomos).
Estado representativo
Com o advento do Estado representativo, tem início uma quarta fase da transformação do Estado e dura até agora (a saber: 1º fase - Feudal; 2º fase - Estamental; 3º fase - Absoluto; 4º - Representativo).
Tal como no Estado de estamentos, também o Estado representativo se afirma, ao menos num primeiro tempo como resultado do compromisso entre o poder do príncipe (cuja legitimidade é a tradição) e o poder dos representantes dos povos (cuja legitimidade é o consenso). A diferença do Estado representativo diante do Estado estamental está no fato de que a representação por categorias ou corporativa (estamentos) é substituída pela representação dos indivíduos singulares aos quais se reconhecem os direitos políticos.
O reconhecimento dos direitos do homem e do cidadão, primeiro apenas doutrinário através do jusnaturalismo, depois também prático e político através das primeiras Declarações de direitos representa uma verdadeira na história. E o indivíduo passa avir antes do Estado. O indivíduo não é pelo Estado, mas o Estado para o indivíduo. O pressuposto ético da representação dos indivíduos singularmente, e não os grupos de interesse é o reconhecimento da igualdade natural dos homens.
O desenvolvimento do Estado representativo coincide com as fases sucessivas do alargamento dos direitos políticos até o reconhecimento do sufrágio universal masculino e feminino. O qual, porém, tornando a necessária a constituição de partidos organizados, modificou a estrutura do Estado representativo. Esta alteração no sistema da representação induziu a transformação do Estado representativo em Estado de partidos, no qual, como no Estado de estamentos, os sujeitos políticos relevantes não são mais indivíduos singulares, mas grupos organizados.
Os Estados socialistas
A última fase da sequencia histórica há pouco descrita não exaure certamente a fenomenologia das formas de Estado hoje existentes, pelo contrário, dela escapam a maior parte dos Estados hoje constituem a comunidade internacional. Mesmo as ditaduras militares, os Estados dominados por oligarquias restritas não controladas democraticamente, os Estados despóticos governados por chefes irresponsáveis, todos prestam homenagem à democracia representativa, ou justificando o próprio poder como temporariamente necessário e superar um período transitório de anarquia, ou como imperfeita aplicação dos princípios sancionados por constituições solenemente aprovadas. Os Estados que escapam inclusive em linha de princípio, da fase acima descrita, são os Estados socialistas, a começar do Estado-guia, a União Soviética.
A diferença essencial entre democracias representativas e os Estados socialistas está no contraste entre sistemas multipartidários e sistemas monopartidários. O domínio deum partido único reintroduz no sistema político o princípio monocrático dos governos monárquicos do passado e talvez constitua o verdadeiro elemento característico dos Estados socialistas de inspiração leninista, em contraposição com os sistemas poliárquicos das democracias ocidentais.
A análise dos Estados com partido único onipresente e onipotente deu origem a figurado Estado total ou totalitário. Enfim, não se deve esquecer a interpretaçãode Estado soviético como despotismo oriental (Wittfogel), seja a interpretação de despótica, à visão aristotélica (governante impera sobre os súditos assim como o senhor sobre seus escravos) ou a Maquiavélica (o principado governado por um príncipe onde todos os demais são servos).
Democracia representativa -> sistema multipartidário
Estados socialista -> sistema monopartidário
Estado e não-Estado
No Estado totalitário toda a sociedade está resolvida no Estado, na organização do poder político que reúne em si o poder ideológico e econômico e representa um caso-limite, uma vez que o Estado em suas várias acepções viu-se sempre diante do não-Estado na dupla dimensão da esfera religiosa e econômica. A presença do não-Estado, em uma das duas formas, ou nas duas, sempre constituiu limite de fato e de princípio, à expansão do Estado. E desta forma torna-se uma instituição com a qual o Estado deve sempre ajustar contas.
Numa doutrina do primado do não- Estado, o Estado se resolve na detenção do poder coativo, de um poder meramente instrumental na medida em que presta serviços a uma potência supra ordenada. A principal consequência do primado do não-Estado sobre o Estado é, portanto uma concepção meramente instrumental do Estado, caracterizando-se pelo poder coativo a serviço dos detentores de poder econômico.
Estado máximo e mínimo
Do ponto de vista do Estado, as relações com o não-Estado variam segundo a maior ou menos expressão do primeiro em direção ao segundo. E sob este aspecto podem ser distinguidos dois tipos ideais: o Estado que assume as tarefas que o não-Estado na sua pretensão se superioridade reivindica para si, e o Estado indiferente neutro, desta concepção, surge na esfera religiosa a distinção entre Estado confessional, e Estado laico e na esfera econômica as figuras do Estado intervencionista e abstencionistas.
Tanto a figura do Estado confessional com o intervencionista assume o papel de Estados eudemonológico, isto é, que propõe como fim a felicidade dos seus próprios súditos (felicidade neste contexto entendido em sentido amplo como a buscado bem ultraterrena que apenas a religião pode assegurar), por sua vez o Estado laico e abstencionista dão origem ao Estado liberal que se opõe polemicamente ao eudemonológico, e é pela esfera religiosa designada como Estado agnóstico, e também definido com Estado de direito, não tendo outro fim senão o de garantir juridicamente o desenvolvimento o mais autônomo possível das duas barreirasfronteiriças, ou seja, representa a mais larga expressão de liberdade religiosa e econômica e são consequências do movimento histórico iluminista, dando origem ao processo de secularização (emancipação religiosa) e liberalização (emancipação econômica).
Estas característica (religiosas e econômica) reaparecem, porém sob a forma de Estado doutrinal(retoma a distinção ortodoxos e heréticos) e Estado socialista.
O fim do Estado
É conhecida a tese de Engels segundo a qual o Estado assim como teve uma origem, terá seu fim, na medida em que desaparecerem as causas que o produziram. Por crise do Estado, entende-se crise do Estado democrático para os conservadores, que não conseguiu prover as demandas provenientes da sociedade. Já na concepção socialista a representação da crise do Estado capitalista, que não conseguem dominar os grandes grupos de interesses e as concorrências entre si.
A concepção positiva do Estado
A história do pensamento político está dividida pela contraposição entre concepção positiva e negativa do Estado. A concepção negativa representa um pressuposto do fim do Estado. A interpretação positiva que acredita no Estado como instituição favorável ao progresso civil, crer não no fim, mas não gradual extensão das instituições estatais até a formação do Estado universal (naturalmente está ideia corresponde a uma concepção negativa de não-Estado).
A concepção positiva vincula-se as discussões sobre república ótima, em que embora imperfeitos, os Estados são aperfeiçoáveis, e, portanto como força organizadora da sociedade civil, não podem ser destruídos, mas conduzido a sua plena realização.
O Estado como mal necessário
Existem duas concepções negativas do Estado: como mal necessário ou como mal não necessário e apenas a segunda conduz a ideia de fim do Estado. A concepção negativa do Estado como mal necessário divide-se sob duas formas: não-Estado-igreja e não-Estado-sociedade. A primeira é característica do primitivo pensamento cristão, em que o Estado se faz necessário, pois a massa é perversa e deve ser contida pelo medo. Para além da visão religiosa, a concepção negativa do Estado surge na corrente do pensamento político realista.
Admitindo o Estado como um mal, mas necessário, nenhuma destas doutrinas desemboca no ideal de fim do Estado. Por isso, mesmo em sua negatividade, o Estado pode e deve continuar a sobreviver.
Quando a sociedade civil sob a forma de sociedade de livre mercado avança a pretensão de restringir os poderes do Estado ao mínimo necessário, o Estado como mal necessário assume a figura do Estado mínimo, figura que se torna o denominador comum de todas as maiores expressões do pensamento liberal.
O Estado como mal não necessário
E se o Estado fosse um mal e além do mais não fosse necessário? A mais popular das teorias que sustentam a factibilidade ou mesmo o advento necessário de uma sociedade sem Estado é a Marxista em que o Estado nasce da divisão de classes contrapostas por efeito da divisão do trabalho, com o objetivo de manter o domínio da classe que está em cima, sobre a que esta embaixo, mas quando em seguida à conquista do poder por parte da classe universal, desaparece a sociedade dividida em classes, desaparece também a necessidade de Estado. Além desta pode-se enumerar pelo menos três teorias: a que se refere à sociedade sem Estado de origem religiosa
, pregando o retorno às fontes evangélicas, a uma da não violência e da fraternidade universal, afirmando que uma comunidade que vive em conformidade com preceitos evangélicos, não precisa de instituições políticas.
Além desta apresenta-se a concepção tecnocrática, segundo a qual na sociedade industrial, não será mais necessário a espada de César, e esta muito ligada ao messianismo, segundo a qual uma sociedade sem Estado, não é pensável prescindindo-se esta ideia. E por fim o ideal de sociedade sem Estado que deu origem a uma verdadeira corrente de pensamento político, o anarquismo, levando às últimas consequências o ideal da libertação do homem de toda forma de autoridade, e vendo o Estado o máximo instrumento de opressão do homem sobre o homem, sonha por isso com uma sociedade sem Estado nem leis, fundada na espontaneidade da cooperação voluntária dos homens que seriam livres entre si.

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