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RICARDO WALLACE DAS CHAGAS LUCAS O Método “STS – Strength Training Strategies” de: MUSCULAÇÃO TERAPÊUTICA e TREINAMENTO FÍSICO Aplicação de padrões de movimentos anatomofuncionais, na saúde, na recuperação físico-funcional e no desporto © Ricardo Wallace das Chagas Lucas Edição: Sistema Wallace Consultoria Ltda – CNPJ 06.370.184-0001-68 3 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) LUCAS, Ricardo Wallace das Chagas Musculação Terapêutica - Aplicação de padrões de movimentos anatomofuncionais, na Saúde, na recuperação físico-funcional e no desporto / Ricardo Wallace das Chagas Lucas. – Florianópolis: Sistema Wallace Consultoria Ltda, SC, 2015. 1. Musculação. 2. Exercícios Físicos. 3. Treinamento com Peso. 4. Periodização do Treinamento Físico. I. Título ISBN - 978-85-910191-3-7 CDD: 613.71 CDU: 613.71 Capa: Tchubi Design – 48 3304 5056 Revisão: Michelle Utrabo Impresso no Brasil 2015 4 SUMÁRIO 04 Prefácio 05 1. Histórico 07 2. Em quem pode ser aplicado 08 3. Quem pode aplica-lo 08 4. Como é aplicado 09 5. Material utilizado 09 6. Fundamentos 13 6.1 Movimentos Funcionais 13 6.2 Controle Contínuo da Frequência Cardíaca 21 6.3 Estímulo Óculo-motor 34 6.4 Comando Verbal 37 6.5 Estímulo pelo Toque 39 7. Padrões de Movimento 41 8. Fases 48 9. Gráfico de Periodização 41 10. Preparação 52 11. Consulta 53 11.1 Planilhas e Formulários 55 11.2 Composição Corporal 58 11.3 Força Estática – Dinamometria Manual 59 11.4 Mobilidade Articular – Geral e Específica 60 11.5 Força Dinâmica Específica 61 11.6 Nível de Condicionamento Físico 62 11.7 O Teste Funcional 63 11.8 O Laudo – Parecer da Consulta 66 12. A Prescrição 68 13. Glossário 73 14. Referências 79 5 PREFÁCIO Podemos definir exercícios resistidos, ou exercícios físicos resistidos, como atos motores que se caracterizam por contrações musculares específicas contra uma resistência externa, independentemente da técnica utilizada: pesos, borrachas, a mão, água, maquinário e etc. Desta forma, qualquer exercício físico provoca uma musculação, ou “ação muscular”. O termo musculação, que na realidade é traduzido como “ação muscular” é confundido muitas vezes somente como exercícios físicos com pesos. Isto induz a se pensar que a musculação é exclusivamente realizada para fisiculturismo ou hipertrofia. Mas, qualquer técnica de “ação muscular” que oferece resistência suficiente ao movimento, para a recuperação físico-funcional, manutenção ou aprimoramento atlético, pode ser entendida como musculação. Surge então a nômina musculação, que quando aplicada com fins de recuperação e posterior manutenção das funções inerentes ao sistema musculoesquelético é chamada de terapêutica. E é neste cenário que apresentamos um método, ou sistema de aplicação de exercícios físicos, que diferentemente da musculação utilizada para fisiculturismo, não busca a hipertrofia estética e sim o trofismo funcional, ou eutrofismo. Consequentemente é eficaz para determinação dos parâmetros mínimos ideais de força, flexibilidade e capacidade aeróbia. Estas valências físicas, quando em nível adequado, são imprescindíveis para a realização de diferentes tarefas cotidianas, sendo que sua redução pode muitas vezes pode ocasionar perda antecipada da autonomia funcional, afetando diretamente a qualidade de vida. Percebe-se na literatura especializada um consenso com relação à prescrição de musculação para populações específicas, de modo que parece não haver mais dúvidas a respeito dos benefícios que provocam, como a redução de fatores de risco ligados às doenças cardiovasculares, ao diabetes mellitus tipo 2, à osteoporose, bem como para manutenção da massa magra, melhora do equilíbrio e preservação da capacidade funcional. Dessa forma, tem aumentado consideravelmente o número de praticantes de programas de exercícios resistidos em todas as faixas etárias e em ambos os sexos. O ACSM – American College of Sports Medicine (Colégio Americano de Medicina Esportiva), há muito tempo demonstra que a saúde está diretamente relacionada à capacidade aeróbia, à flexibilidade e à força dos indivíduos. Assim, qualquer modalidade de exercício físico que seja capaz de melhorar ou recuperar estes parâmetros e posteriormente mantê-los, são úteis ao ser humano e pode ser considerado terapêutico. É 6 sobre este pilar que é executada a modalidade de exercício comumente chamada de “Musculação Terapêutica”. Termos comuns citados pelo ACSM são Strength Training (Treinamento de Força) e Resistive Training (Treinamento de Resistência), cujo segundo é na realidade é uma modalidade de treinamento de força. Vários são os estudos que demonstram os benefícios dos “exercícios resistidos” no aprimoramento da composição corporal e no equilíbrio das relações hormonais/metabólicas humanas. O Método STS (Strength Training Strategies) é um sistema de treinamento de força, e seus fundamentos podem ser utilizados nos diversos campos de atuação das ciências que norteiam o movimento humano. Sendo assim, podemos destacar destas ciências a Fisioterapia e a Educação Física como potenciais usuárias do método, pelo próprio fim que destina suas atuações profissionais. Esta obra tem o objetivo de apresentar o Sistema STS – Strength Training Strategies de Musculação Terapêutica e de Treinamento Físico, definindo suas modalidades técnicas, aplicações e controle. O leitor perceberá que se utilizá-lo em consonância com o que prescreve as ciências relacionadas ao movimento humano, tais como a biomecânica, a neurologia e a fisiologia, obterá com facilidade reproduzível os resultados buscados sobre seus clientes. Desta forma, acreditamos que a simplicidade do Método, como um sistema de aplicação de exercício físico, possa ser um fator contributivo ao tratamento dos diversos males físico-funcionais da população moderna. Ricardo Wallace das Chagas Lucas CBO – 2236-05 / CREFITO 10 14404 - F Coordenador da ABMT – Associação Brasileira de Musculação Terapêutica 7 1. HISTÓRICO DO MÉTODO “STS – STRENGTH TRAINING STRATEGIES” DE MUSCULAÇÃO TERAPÊUTICA E DE TREINAMENTO FÍSICO A partir da década de 90, houve um aumento significativo de produções científicas que comprovassem os benefícios dos exercícios resistidos (glicolíticos) em populações especiais, onde se enquadram os idosos, diabéticos, hipertensos e obesos. A referência até então era que para esta população o ideal seria a aplicação de exercícios aeróbios/cíclicos (oxidativos). Aproveitando estes referenciais científicos, o CEBRAF – Centro Brasileiro de Fisioterapia, sob a coordenação do Professor Ricardo Wallace das Chagas Lucas, no início dos anos 90, iniciou a formatação do Sistema STS (Strength Training Strategies) de Musculação Terapêutica para atuar inicialmente sobre indivíduos idosos e clinicamente comprometidos, internados em instituições asilares da cidade de Curitiba, Brasil. Este sistema, pelas características pontuais de sua aplicação, comercialmente passou a ser designado como um “Método” e ganhou força para sua criação por haver até então muita carência na literatura fisioterapêutica e de educação física de exercícios físicos e de cinesioterapia, fundamentados em “movimentos funcionais” e de carga prescrita individualmente com base em preceitos da frequência cardíaca. Os exercícios desenvolvidos para o Método são elaboradosa partir de “padrões de movimentos” e foram exaustivamente testados em militares do exército brasileiro, especificamente no Hospital Geral de Curitiba, onde Professor Ricardo Wallace das Chagas Lucas exercia suas atividades docentes e também profissionais como militar de carreira. O STS é a abreviação da aplicação de “estratégias para a aplicação de treinamentos e tratamentos de força”. Esta sigla foi escolhida por se valer do termo em inglês “Strength Training” encontrado em grande número de produções científicas relativas ao exercício resistido ou musculação. Somente no final da década de 90 o Método STS ganhou o mercado. O que alavancou sua exposição para demais indivíduos fora do ambiente da gerontologia e geriatria, foi o interesse de um grupo de fisioterapeutas pesquisadoras da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do paraná, que demonstraram interesse em elaborar uma monografia de conclusão de curso voltada para a “musculação terapêutica”. Esta denominação foi utilizada pela primeira vez pelos próprios usuários do Método STS, como critério de diferenciação da “musculação de academia” referida por eles. 8 2. EM QUEM PODE SER APLICADO? Pesquisas têm mostrado que a musculação, ou exercícios físicos resistidos são seguros e eficazes para as mulheres e homens de todas as idades, incluindo aqueles que não estão em perfeita saúde. Na verdade, as pessoas com problemas de saúde, incluindo doenças cardíacas ou autoimunes, são muitas vezes os mais beneficiados por um programa de exercícios que inclui manuseamento de pesos, ou outra forma de contrarresistência efetiva algumas vezes por semana. O treinamento de força, especialmente em conjunto com exercícios aeróbios (oxidativos) regulares, também pode ter um profundo impacto sobre a saúde mental e emocional de uma pessoa. Há inúmeros benefícios ao treinamento de força regular. Ele pode ser muito poderoso na redução dos sinais e sintomas de várias doenças e condições crônicas físico- funcionais, dentre elas: Artrite; Diabetes; Osteoporose; Obesidade; Lombalgias; Depressão; Doenças Arteriais Coronarianas; Acidentes Vasculares Encefálicos, Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica. Produz benefícios ainda em transplantes de órgãos, em programas de ginástica laboral e até em disfunções físico-funcionais de crianças e adolescentes. 3. QUEM PODE APLICÁ-LO? Profissionais formados (no Brasil) nas faculdades de Fisioterapia e Educação Física, pois ambas são oriundas da Ciência do Movimento Humano, e como partes deste grande universo de estudo, se caracterizam hoje como áreas de atuação do mesmo. Assim, racionalmente, devemos entender que são vários os conceitos da Ciência do Movimento Humano que podem ser aplicados nestas áreas de atuação, caracterizadas hoje como profissões constituídas, cada uma com o seu respectivo Conselho. Dentre estes conceitos podemos citar todas as bases anatomofisiológicas do movimento, englobando aí a biomecânica e o metabolismo energético. Movimento este que pode estar comprometido em situações de baixo rendimento físico (sedentarismo ou doença instalada) ou de alto rendimento físico (desportistas e atletas). Desta forma, a utilização de ferramentas ou recursos baseados nestes conceitos, que podemos entender até como técnicas, devem e podem ser usadas por ambas as profissões, cada uma no seu universo de atuação. Não podemos então afirmar que o Método STS – Strength Training Strategies 9 seja de uma ou de outra profissão, devemos sim compreender que determinados conceitos podem ser utilizados pela Fisioterapia ou pela Educação Física em seus clientes. 4. COMO ELE É APLICADO? Os fundamentos do Método STS podem ser aplicados de 03 (três) formas: 4.1 COMPLETA – Quando a intervenção (também conhecida inadequadamente como sessão) é 100% personalizada. Oferece o maior controle metabólico e periodização individual. É fundamental nas ações de emagrecimento controlado, correção postural, controle de problemas metabólicos e melhora da performance esportiva. 4.2 PARA GRUPOS HOMOGÊNEOS – Quando as intervenções objetivam atender grupos com perfis físico-funcionais semelhantes, ou clínicos semelhantes. Como exemplo, podemos citar indivíduos com estratificação de riscos similares para reabilitação cardiopulmonar e metabólica, reabilitação pulmonar, grupos de ginástica laboral, e turmas de ginástica em academias. 4.3 PARA RECUPERAÇÃO OU POTENCIALIZAÇÃO DE PARTES ISOLADAS DO CORPO (segmentos) – Quando necessitamos tratar ou treinar um determinado membro ou articulação, como por exemplo, um pós operatório de ligamento cruzado anterior, ou treinamento específico para melhora de performance em um ombro de nadador. 5. MATERIAL UTILIZADO 5.1 PREPARAÇÃO: A preparação é a denominação do aquecimento, utilizada pelos executantes do Método STS. Podem ser utilizadas: esteiras ergométrica (mecânicas ou elétricas); bicicletas estacionárias; bicicletas móveis (normais); elípticos; steps; cicloergômetros e qualquer equipamento apto a desenvolver o aquecimento do cliente por utilização de movimentação cíclica: 10 Fig 01 – Esteira Ergométrica Fig 02 – Bicicleta Ergométrica Fig 03 – Elíptico Ergométrico Fig 04 – Step 5.2 INTERVENÇÃO/SESSÃO: Pesos livres em forma de Halteres e Caneleiras, ou equipamentos de contrarresistência tais como “Thera-band” ou outras modalidades de extensores elásticos. Pode também ser realizada a contrarresistência pela mão do profissional ou pelo meio líquido, adicionado ou não de outras formas adicionais de resistência para este ambiente (pás, flutuadores ou nadadeiras). Para o controle de intensidade são utilizados monitores de frequência cardíaca, e para a mensuração dos intervalos e do tempo total são utilizados cronômetros. A utilização de uma maca ou colchonete também é necessária, assim como de um espelho que se adeque à estatura do cliente, preferencialmente com grades de correção: 11 Fig. 05 – Caneleiras de 1kg a 5 kg Fig. 06 - Halteres de 1kg a 5 kg Fig. 08 – Tensor Elástico Fig. 09 – Monitor de Frequência Cardíaca: Cinta Transmissora e Relógio Receptor Fig. 10 – Cronômetro Fig. 11 – Espelho com grade de correção 12 Fig. 12 – Colchonete Fig. 11 – Maca Poucos são os aparelhos de musculação no mercado que permitem a aplicação completa do Método STS de Musculação Terapêutica e de Treinamento Físico. Desta forma, foram desenvolvidos equipamentos específicos para a execução de exercícios que permitam a utilização dos fundamentos do STS. Mas, a profissional de fisioterapia e educação física devem analisar cada equipamento de ginástica no mercado para verificar quais poderiam ser utilizados totalmente ou parcialmente para este fim: Fig. 11 – Exemplo de equipamentos específicos para aplicação do Método STS na R3 Academia de Reabilitação / Juiz de Fora - MG 13 Planilha da Intervenção/Sessão, para controle metabólico e do microciclo de treinamento tratamento: Fig. 12 – Modelo de Planilha de Intervenção/Sessão Personalizada 6. FUNDAMENTOS: O Método STS de Musculação Terapêutica e Treinamento Físico deve ser aplicado perante 05 (cinco) fundamentos. Destes, 02 (dois) são considerados obrigatórios e 03 (três) são considerados complementares. Os obrigatórios são a Execução de Movimentos Funcionais e Controle Contínuo da Frequência Cardíaca. E os complementares são o Estímulo Óculo-motor, o Comando Verbal e o Estímulo pelo Toque. 6.1 MOVIMENTOS FUNCIONAIS OMétodo STS (Strength Training Strategies) de Musculação Terapêutica e de Treinamento Físico tem como especificidade, a aplicação de movimentos 14 contrarresistência sob os perfis mais naturais possíveis de ação à luz de um metabolismo energético totalmente mensurável e baseado na capacidade de adaptação e variabilidade do sistema cardiorrespiratório. Entendemos, que em função de todas as bases neurológicas, fisiológicas e biomecânicas do Método STS estarem descritas em extensa literatura, convém explicitarmos estas bases, correlacionando-as com as suas fases e os padrões de movimento. A definição de Movimento Funcional evoluiu de “movimento fundamental” ou normal, e esclarece o próprio objetivo da motricidade humana, isto é, o movimento realizado por uma consequência anatômica, ou anatomofuncional, que em função disso é provido de eficiência e eficácia, e desprovido de grandes margens de erro causadoras de lesões. “.... por trás da variedade dos movimentos da pessoa normal, adaptados a cada objeto e finalidade, podemos encontrar, inscrito na anatomia humana, um movimento de base, independente do objeto e do meio externo, que chamamos de movimento fundamental.” (Piret e Béziers, 1992). Se analisarmos, em um indivíduo sadio, quais os tipos de movimento causadores (ou que predispõe) de distúrbios osteomusculares, observaremos que estes movimentos possuem características iatrogênicas à sua função. Isto quer dizer, que metabolicamente, neurologicamente ou mecanicamente, estes movimentos não deveriam ser realizados, levando em consideração o tempo ou a intensidade a esta exposição não favorável. Isto nos remete então a um pensamento conflitante, pois a maioria dos desportos instituídos pelo homem é composta de movimentos “não funcionais”. Estaríamos então predispondo o corpo do “desportista” às lesões ou doenças metabólicas tão comuns no nosso cotidiano? Esta resposta é positiva, e muito mais agora em um mundo onde o sedentarismo apresenta-se como algo “normal” para a maioria da população. Os movimentos funcionais, e o substrato energético para a sua realização, estão intimamente ligados, e o grande objetivo de ambos é conseguir agir perante uma perfeita sintonia econômica, isto é, gastar a menor quantidade de energia possível, com o máximo de vantagem mecânica. Por isso a existência do torque, que nos 15 induz às espirais de movimento, por isso a coordenação intramuscular e intermuscular, e por isso um controle neurológico central e periférico das ações motoras. Isto demonstra que falar em movimento funcional não é simplesmente relacionar a ação do movimento com a biomecânica. Mas, como a motricidade humana inicia realmente os seus estudos sob a égide da arquitetura osteomuscular, hoje se demonstra que um movimento articular não se processa isoladamente. Daí a nômina muito utilizada atualmente, para nortear um movimento funcional, é “unidade de coordenação”, onde se verifica realmente a mobilidade sobre vários planos e eixos de movimento, caracterizando o que seria o movimento “normal”. Esse movimento fundamental está baseado nos seguintes princípios, de acordo com Piret e Béziers (1992): “É importante salientar que um osso vivo, muito diferente dos ossos mortos utilizados nos estudos de anatomia, é plástico, maleável e deformável. É um tecido conjuntivo densificado, com uma relativa elasticidade. Criam goteiras definitivas e podem deformar-se de acordo com as tensões musculares que atuam sobre eles. A densificação do tecido conjuntivo ocorre devido a uma maior interligação das fibras colágenas, reticulares e elásticas, e ao espessamento da substância fundamental amorfa — que tornam-se mais “sol” do que “gel”. Certos músculos pluriarticulares são organizadores do movimento porque transmitem a contração aos músculos subsequentes, monoarticulares, assegurando o início do trabalho destes. Por conduzirem o movimento de intervalo a intervalo, são chamados de músculos condutores. Cada um dos músculos condutores do movimento realiza seu trabalho a partir do precedente e assegura o trabalho do seguinte. O estado de tensão do corpo se baseia no tônus muscular, na organização dos músculos dois a dois (antagonistas) e na de todos os músculos entre si, constituindo-se, assim, a coordenação motora. O estado de tensão é constituído de unidades de coordenação que, ao reunirem-se, tensionam todo o corpo. 16 Há cinco unidades de coordenação, sendo elas: as transacionais, representadas pelos quatro membros, onde as três dimensões no espaço são indissociáveis, e a de enrolamento, representada pelo tronco e pela cabeça, que tem duas formas, uma vez que as três dimensões no espaço são dissociáveis. Cada unidade de coordenação se relaciona com sua unidade de coordenação vizinha por encaixe de um elemento esférico e pela ação dos músculos pluriarticulares e monoarticulares que a envolvem. A forma das superfícies articulares e a disposição dos músculos, em particular os pluriarticulares, favorecem a torção dos segmentos ósseos, uns em relação aos outros, durante seus deslocamentos. Essa torção gera uma tensão que dá ao segmento considerado sua estrutura e sua forma. A coordenação motora nos permite compreender o movimento como um todo organizado, capaz de situar-se paralelamente ao psiquismo, com ele e perante ele”. Complementando o entendimento de movimento funcional, normal, ou fundamental, Denys-Struyf (1995) destaca três noções básicas advindas dos conceitos utilizados por Piret e Béziers: “As tensões e as torções presentes nas unidades de coordenação determinam a estrutura e a forma do corpo; A forma do corpo é influenciada pelo gesto; e O gesto está ligado às estruturas psíquicas do indivíduo”. Para uma releitura mais moderna dos textos de Piret e Béziers, citamos Santos, que em seu livro intitulado “Biomecânica da Coordenação Motora”, editado em 2002, apresenta didaticamente as unidades de coordenação: “Unidade de Coordenação é um segmento corporal constituído por dois elementos rotatórios capazes de girarem simultaneamente em sentidos opostos graças à contração de um músculo poliarticular denominado condutor, realizando uma torção que cria uma tensão capaz de manifestar-se em uma articulação situada entre os dois elementos rotatórios sob forma de flexão. Em outras palavras, toda 17 flexão é fruto de duas rotações, que ocorrem em sentidos opostos de um lado e outro da articulação que se move. Este segmento é capaz de um movimento reconhecível como humano, porque é um movimento fluido, continuo, sem interrupções bruscas, um compromisso entre vários movimentos. O movimento humano não é aquele descrito pelos livros de anatomia ou cinesiologia tradicional com um segmento movendo-se em um único plano em torno de um eixo situado em um plano perpendicular ao do movimento, descrito um a um. A unidade de coordenação envolve várias articulações e vários pequenos movimentos concomitantes ao movimento básico. A unidade de coordenação braço “A porção longa do bíceps parte da região superior da glenóide. Não se insere sobre o úmero, dirige-se para fora, encaixa-se na goteira bicipital e desce para o antebraço. Distalmente insere-se na região póstero-interna do rádio. Ao se contrair, este músculo traciona o membro superior para fora, porque vai de uma região medial, glenóide, para uma lateral, goteira bicipital; para frente, porque é um músculo anterior e para dentro porque, ao contrair-se, apoia fortemente contra a tuberosidade interna da goteira bicipital, rodando o osso internamente. Ao mesmo tempo fleteo cotovelo e gira o antebraço e mão para fora em supinação. O bíceps longo não é capaz de realizar sozinho todo este movimento, mas é o único capaz de fazer tudo isto concomitantemente com a ajuda de músculos mono articulares que reforçam o movimento, contraindo-se na fase para a qual é mais adequado. Assim, este músculo poliarticular é como um maestro, conhecedor e capaz de executar cada porção de uma sinfonia e que a conduz solicitando a entrada de cada instrumento mono articular no momento preciso. O úmero realiza um movimento que é uma composição de flexão, abdução, rotação interna, enquanto o antebraço realiza flexão e rotação externa - isto cria um estado de tensão exatamente como quando uma peça de roupa é torcida girando- se uma extremidade para cada lado. Em um dado momento, a peça torcida se dobra. O cotovelo é a estrutura situada no centro do segmento para que ele se dobre 18 sempre no mesmo local. A porção longa do bíceps é o músculo que "conduz" a ação, por isso é denominado músculo condutor. Podemos generalizar este conceito dizendo que: Dois elementos rotatórios - cabeça umeral e punho-mão, opõem suas rotações - interna no úmero, externa na mão, graças a um músculo poliarticular dito "músculo condutor" - bíceps longo, criando um estado de tensão que se manifesta em uma articulação intermediária - o cotovelo, cujo movimento principal é a flexoextensão. Todo o corpo pode ser subdividido em segmentos que são unidades de coordenação: Para cada uma destas unidades podemos descrever (02) dois elementos esféricos rotatórios, Um elemento intermediário de flexo-extensão, Um sistema muscular condutor, Um movimento básico, característico da unidade de coordenação. Cada unidade de coordenação une-se à unidade vizinha através de encaixe de elementos côncavos e convexos unidos por músculos mono articulares. Assim, o movimento de uma unidade é indissociável daquele da unidade vizinha. O músculo condutor é aquele capaz de realizar o movimento da unidade de coordenação a partir do precedente e transmiti-lo para o segmento seguinte. Mas se assim for, de onde vem o primeiro movimento e para onde vai? Qual o movimento de origem? Unidades transicionais e unidades de enrolamento Conforme já definido, Unidade de Coordenação é o segmento corporal que contém dois elementos rotatórios capazes de opor suas rotações graças à contração de um músculo condutor, o que cria um estado de tensão que acaba por manifestar- se sob forma de flexão em uma articulação intermediária. Existem unidades que efetivamente só podem tensionar-se desta forma, através de duas rotações opostas dos elementos rotatórios. Outras conseguem também tensionar-se por enrolamento, isto é, pela aproximação dos dois elementos 19 rotatórios. Por exemplo: na unidade de coordenação tronco os dois elementos rotatórios: a abóboda pélvica, para cima e a abóboda esfenoidiana, para baixo podem girar para lados opostos, o que faz com que todo o tronco tensione, fletindo-se ligeiramente pela somatória de pequenos movimentos ao longo das articulações vertebrais interapofisárias. No entanto, estes dois elementos podem também aproximar-se um do outro, tensionando esta mesma estrutura pelo enrolamento, que também é uma flexão. As unidades que têm a possibilidade de tensionar-se por torção, ou oposição das rotações, e também por enrolamento são denominadas unidades de enrolamento. Aquelas que só se tensionam por torção denominam-se unidades transicionais. As unidades transicionais têm a função de transmitir movimento. As unidades de enrolamento têm a função de originar ou recepcionar movimento. Unidades de enrolamento são: tronco, mãos e pés. Unidades transicionais são: escápula, braço, ilíaco e perna. Assim, do tronco partem movimentos que têm o objetivo de chegar às mãos, para a função de preensão, passando pela escápula e braço; ou aos pés, para a função de locomoção, passando pelo ilíaco e perna. As unidades de origem e recepção dos movimentos são as de enrolamento. As unidades intermediárias são transicionais, com função de transmitir o movimento. No tronco, o músculo condutor capaz de tensioná-lo por enrolamento não é um músculo, mas um sistema muscular - o sistema reto. O músculo capaz de tensioná- lo por torção, também é um sistema muscular - o sistema cruzado. O aprofundamento desses conceitos, conhecendo cada uma dessas unidades de coordenação, de que forma o movimento ocorre em cada uma, obtemos um vastíssimo material para a construção do movimento ideal, coordenado, econômico. Formas de realizar movimentos fluem a partir desse trabalho original”. 20 Fig. 13 – Unidades de Coordenação Em resumo, para entendimento geral do que significa então ser um movimento “funcional” é necessário que se faça a análise da existência de quatro parâmetros/preceitos durante ou para a execução do mesmo, que pode ser feita em forma de perguntas: 1. O movimento respeita a anatomia das estruturas envolvidas? Por exemplo. Ao realizar abdução do complexo articular do ombro necessariamente com rotação lateral para evitar impacto de estruturas anatomicamente confrontantes na ausência desta rotação. Realizar a flexão do cotovelo com necessária supinação e extensão do mesmo com pronação, em função da existência da cabeça do rádio que possui objetivamente a função de giro por sua anatomia. 2. O movimento respeita as leis da biomecânica? Há vantagem mecânica nos exemplos citados anteriormente tendo em vista o componente rotacional obrigatório para o 21 aumento da potência ao movimento (energia potencial armazenada transformada em energia cinética). 3. O movimento respeita o aspecto neurológico central e periférico da ação motora? Os movimentos exemplificados possuem engramas neurológicos pré-formados que possibilitam economia energética no recrutamento de unidades motoras, permitindo que menos movimentos sejam mais eficientes para a manutenção e recuperação da função normal, ou acima do normal. 4. O movimento respeita a carga metabólica específica para o mesmo? Não se deve executar um movimento acima da capacidade metabólica (de força em relação aos substratos energéticos e de acordo com os tipos de fibras musculares presentes) do segmento ou corpo todo. O profissional executante do Método STS deve ter em mente que não basta somente executar o movimento, mas prescrevê-lo antes da sua aplicação prática. E para isto é necessária e obrigatória a realização de uma consulta para que se determine as incapacidades físico-funcionais do cliente. 6.2 CONTROLE CONTÍNUO DA FREQUÊNCIA CARDÍACA Ficou claro então que 03 (três) preceitos do que vem a ser um movimento funcional têm relação direta com os estudos de Piret e Béziers (1992), onde fica claro o componente anatômico, biomecânico e neurológico do movimento. A complementação para a execução do movimento de forma efetivamente funcional depende da carga executada sobre o mesmo, levando em consideração a sua 22 capacidade metabólica. Desta forma existe uma inter-relação do último preceito do que vem a ser um movimento funcional com o segundo fundamento do Método STS, que é o controle contínuo da frequência cardíaca. Nenhuma prescrição de exercício, inclusive de musculação terapêutica deve ser realizada sem se compreender o nível de condicionamento físico do praticante. E uma vez conhecido este nível de condicionamento é possível utilizar parâmetros da frequência cardíaca para que aexecução dos exercícios seja adequada ao indivíduo. A prática da atividade física, exercício físico, ou atividade laboral há muito já utiliza parâmetros de frequência cardíaca como preditor de carga e de evolução da performance. Assim, se é capaz de verificar a importância dos dados de frequência cardíaca, pois suas respostas e adaptações são objeto de investigação científica, sendo inclusive apontada como a mais destacada informação extraída de um teste de exercício cardiopulmonar ou teste ergoespirométrico. É possível então que o profissional submeta alguns de seus clientes ao teste ergoespirométrico para a determinação do consumo máximo atual de oxigênio, da frequência cardíaca máxima e das faixas limites de frequência cardíaca para e execução de seus exercícios físicos, com base no limiar anaeróbio e no ponto de compensação respiratória do laudo do exame. Mas, como nem todos os clientes terão acesso a esta modalidade de exame há opção de se utilizar estratos de faixas de frequência cardíaca a partir da frequência cardíaca máxima. Para tanto o Método STS se baseia em duas fórmulas de predição de frequência cardíaca máxima, de acordo com o gênero e a idade do indivíduo: Para Homens: Equação de Tanaka (2001) FC Máxima = 208 – (0,7 x idade) Para Mulheres: Equação de Gulati (2010) FC Máxima = 206 – (0,88 x idade) Em relação à frequência cardíaca a prática do Método STS pode ser balizada perante 03 (três) momentos, de acordo com o condicionamento do cliente/paciente/aluno: 23 I. Faixa de Recuperação Físico-funcional II. Faixa de Tratamento e Treinamento Físico III. Faixa de Treinamento Atlético FAIXA DE RECUPERAÇÃO FÍSICO-FUNCIONAL A Faixa de Recuperação Físico-funcional fica compreendida entre a frequência cardíaca de repouso e a FCL ou frequência cardíaca limite do indivíduo e o profissional de eleição para o atendimento de indivíduos nesta faixa é o fisioterapeuta. A FCL é o equivalente a 40% da carga cardiovascular do indivíduo e efetivamente tem valores bem próximos a 60% de sua FCM ou frequência cardíaca máxima. Nesta faixa de encontram indivíduos em estado de baixíssimo nível de condicionamento físico geral ou na presença de alguma doença ou estado de comprometimento físico patológico. Da mesma forma, a recuperação físico-funcional de algum segmento corporal ou articulação comprometidos, devem ter a FCL como parâmetro de máxima intensidade de esforço durante a aplicação dos exercícios compostos por movimentos funcionais. Assim a frequência cardíaca limite (FCL), ou frequência cardíaca máxima em situações clínicas é a própria frequência cardíaca limite e pode ser determinada pela seguinte fórmula idealizada por Elias Simon Apud (1997): FCL = [0,4 x (FCM – FCR)] + FCR É importante que o fisioterapeuta tenha em mente que eventualmente pode se deparar com um cliente que possua um segmento comprometido mas precise empreender tratamento nos demais segmentos corporais, aplicando intensidades diferentes a do segmento lesado. Desta forma é fundamental que não pense somente em “tratar a lesão”, pois a maior parte dos indivíduos também necessitam de trabalho físicos globais além da “lesão”. Podemos exemplificar comentando sobre um indivíduo possuidor de alto nível de condicionamento físico e que sofreu um mecanismo de trauma em um dos joelhos. O fisioterapeuta deve elaborar prescrição cinesioterapêutica para o membro comprometido, mas deve também empreender tratamento físico com 24 intensidade mais alta nos demais segmentos corporais deste indivíduo. Isto não serve somente para manter (ou aumentar) o nível de condicionamento das outras partes do corpo, mas serve também para potencializar a melhora do segmento comprometido. Normalmente um segmento lesado possui limiares de dor muito baixos. Este é mais um motivo para o fisioterapeuta monitorar a frequência cardíaca do paciente durante a cinesioterapia, pois da mesma forma, o limite para a cessação da série de exercício ou das técnicas de alongamento executadas, deve ser também a FCL. Então o fisioterapeuta deve compreender que não deve querer completar séries de exercícios com o paciente, se antes de alcançar o número proposto o paciente já atingiu ou chegou muito perto da FCL FAIXA DE TRATAMENTO E TREINAMENTO FÍSICO Sem a utilização de exames ergoespirométricos, execução do Método STS para indivíduos com níveis de condicionamento físico respectivamente determinados como baixo, médio e alto, também se baseia na frequência cardíaca máxima (FCM) predita pelas formulas de Tanaka ou Gulati. Assim, determina-se subfaixas de estratos de frequência cardíaca com os seguintes limites generalizados: 60 a 70% da FCM – Prescrição para níveis baixos de condicionamento 70 a 80% da FCM – Prescrição para níveis médios de condicionamento 80 a 90% da FCM – Prescrição para níveis altos de condicionamento Nestas faixas o Método STS pode ser aplicado tanto por profissionais de educação física como por fisioterapeutas. Obviamente o que determinara que profissional efetivamente comporá as prescrições e as intervenções é a história clínica do indivíduo. Basicamente o indivíduo portador de disfunções físico- funcionais e metabólicas são direcionados à atuação fisioterapêutica e indivíduos com ausência das mesmas devem ser direcionados à atuação do 25 profissional de educação física, conforme determinado pelos respectivos conselhos. Para o trabalho do Método STS nesta faixa é relevante o conhecimento da relação quase linear da frequência cardíaca com o consumo de oxigênio durante o exercício físico: Fig. 14 – Relação linear do VO2 com a FC. Fonte: Pini (1983); McArdle & Katch & Katch (1986); Wallace (1993); Powers & Howley (2000). O conhecimento desta relação é fundamental para que o profissional possa quantificar metabolicamente o resultado ou a prescrição do exercício físico, independentemente de ser funcional ou não. Ou seja para se determinar o gasto calórico do exercício e seus substratos. O profissional pode utilizar a ergoespirometria ou equações de predição para a determinação consumo máximo atual de oxigênio ou VO2 máximo do indivíduo. Para o Método STS utilizamos a equação foi desenvolvida por pesquisadores do Human Performance Lab, do campus Davis, da Universidade da Califórnia e foi validada para a população brasileira pelo Professor Ricardo Wallace das Chagas Lucas em 2006). Esta equação utiliza a idade e o percentual de gordura do indivíduo para apresentar o VO2 máximo relativo do indivíduo. Ou seja, ela determina o consumo de oxigênio máximo para cada quilograma de massa corporal magra do indivíduo. 26 VO2 Máximo relativo = 57,50 – [(0,31 x Idade) - (0,37 x Percentual de Gordura)] Consequentemente, para a determinação do VO2 Máximo absoluto, ou consumo máximo de oxigênio em litros para o indivíduo inteiro, também conhecido como VO2 de pico ou atual, é necessário que o profissional saiba também determinar o percentual de gordura do indivíduo e sua massa magra. Exemplo 1: Um indivíduo do sexo masculino, de 1,70 m, 70 Kg de Massa Corporal Total (conhecido erroneamente como peso corporal), de 25 anos de idade e possuidor de percentual de gordura de 15% (determinado através de qualquer modalidade válida) possui o seguinte VO2 Máximo absoluto: 1) Primeiro Passo – Determina-se o VO2 relativo: VO2 = 57,50 – (0,31 x 25) – (0,37 x 15) VO2 = 57,5 – (7,75) – (5,55) VO2 relativo = 44,2 mL / O2 / kg / min 2) Segundo Passo – Determina-se a Massa Magra. Massa Magra é igual à Massa Isenta de Gordura somada da Massa deGordura Essencial (MM = MIG + MGess), ou podemos também utilizar o procedimento que diz que ela é igual à Massa Corporal Total menos a massa de gordura equivalente à diferença entre o percentual de gordura atual e o percentual de gordura essencial. Percentual de Gordura Atual – Percentual de Gordura Essencial 15% (valor encontrado pela análise/teste) - 4% (valor na tabela abaixo) = 11% 27 Fig. 15 – Tabela de percentuais de gordura por faixa etária e gênero. Pollock & Wilmore. 1993. 11% da Massa Corporal Total = 11% de 70 kg = 7,7 kg MM = MCT – 7,7 MM = 70 – 7,7 = 62,3 kg Massa Magra = 62,3 kg 3) Terceiro Passo – Determina-se o VO2 absoluto: Como cada quilograma de massa consome 44,2 mL, multiplica-se por 62,3 kg, resultando em 2753,66 mL / O2 / kg / min. Transformando em litros divide-se por 1000, resultando em 2,75 L / O2 / min VO2 Máximo absoluto = 2,75 L / O2 / min Também é possível localizar o VO2 Máximo relativo consultando as tabelas abaixo. Basta encontrar na barra vertical a idade do indivíduo e na barra horizontal o percentual de gordura. Traça-se então duas linhas perpendiculares e o encontro entre as mesmas determinará o VO2 Máximo relativo. 28 Fig. 16. Tabela 01 de VO2 Relativo em ml/kg/min: % de Gordura x Idade. 29 Fig. 17. Tabela 02 de VO2 Relativo em ml/kg/min: % de Gordura x Idade. Encontrado o VO2 Máximo absoluto atual do indivíduo e sabendo das relações lineares entre valores dos seus percentuais com os valores da FCM, fica faltando somente saber ao profissional qual seria os valores em quilocalorias por litro que o indivíduo estaria utilizando durante o exercício realizado ou a ser prescrito, para que seja possível determinar o quantitativo em consumo calórico do referido exercício. Se o indivíduo (paciente/cliente/aluno) possuísse médio nível de condicionamento, necessitaria realizar uma intervenção do Método STS com frequências cardíacas compreendidas entre 70% e 80% de sua frequência 30 cardíaca máxima. Como os exercícios são acíclicos (intervalados) seria possível que executasse alguns exercícios com frequência cardíaca que atingisse 85% da máxima. Mas, para fins didáticos ele deveria possuir uma média final de exercício próxima a 75% de sua frequência cardíaca máxima. Poderíamos então calcular qual seria o seu consumo calórico sabendo qual teria sido o tempo total da intervenção. Exemplo 2 - Imaginando que o indivíduo do exemplo 1 tenha concluído a intervenção do Método STS ou qualquer outro tipo de exercício físico com uma média de 140 bpm, em um tempo de 45 minutos, da seguinte forma poderíamos saber o seu gasto calórico mínimo: 1) Primeiro Passo – Determina-se sua FCM: FCM = (208 – 0,7 x id) FCM = (208 – 0,7 x 25) FCM = 190,5 (191 por arredondamento) FCM = 191 bpm 2) Segundo Passo – Determina-se a média percentual da FC da intervenção. 100% -------------------------- 191 bpm X%-----------------------------140 bpm Média do Percentual da FC da Intervenção = 73,2 % 3) Terceiro Passo – Determina-se o a média percentual do VO2 da intervenção: Como o intervalo de percentual da média da frequência cardíaca da intervenção está entre 70% e 80% e é conhecido o equivalente em VO2 pela figura 14, podemos utilizar a parte “A” da equação desenvolvida por Ricardo Wallace das Chagas Lucas (1996), que se baseia na proporcionalidade dos intervalos da relação linear VO2 x FC: 31 Li = Limite Inferior = 56% do VO2 Máx absoluto (equivalente a 70% da FCM) Ls = Limite Superior = 70% do VO2 Máx absoluto (equivalente a 80% da FCM) Ω = Média da frequência cardíaca da intervenção – Limite Inferior da FCM = 3,2 (73,2% - 70%) Média do Percentual VO2 Máximo da Intervenção = 60,48 % 4) Quarto Passo – Determina-se a quantidade média de litros de O2 consumidos por minuto durante a intervenção; 100% ---------------------------- 2,75 L / O2 / min 60,48% --------------------------- X L / O2 / min Litros de O2 / Intervenção = 1,66 L / min 5) Quinto Passo – Determina-se o valor em quilocalorias de cada litro de O2 na média da frequência cardíaca da intervenção. Podemos utilizar a parte “B” da equação desenvolvida por Ricardo Wallace das Chagas Lucas (1996), que se baseia na proporcionalidade dos intervalos entre o valor máximo e o valor mínimo de quilocaloria por litro no exercício, de acordo com Nathan Zunts (1901): A = Média do Percentual VO2 Máximo da Intervenção = 60,48 % Valor em quilocaloria por litro de O2 na intervenção = 4,85 Kcal / L 6) Sexto Passo – Determina-se o valor médio de quilocalorias por minuto consumidas durante a intervenção, multiplicando-se valor em quilocalorias por litro de O2 na intervenção por litros de O2 por minuto da Intervenção: 32 4,85 Kcal / L x 1,66 L / min x 4,85 Quilocalorias por minuto na intervenção = 8,1 kcal / min 7) Sétimo Passo – Determina-se o gasto calórico mínimo (pois nos baseamos na massa magra) multiplicando o valor em quilocalorias por minuto da intervenção pelo total do tempo da intervenção: 8,1 kcal / min x 45 minutos Gasto Calórico = 365 kcal Também é possível utilizar a Tabela de Relações Metabólicas para a determinação dos valores do percentual do VO2 da intervenção, assim como dos valores em quilocalorias relacionados aos litros de O2 utilizados. Para tanto basta encontrar o percentual da média da frequência cardíaca do exercício e seguir horizontalmente na tabela: 33 Fig. 18. Tabela de Relações Metabólicas. 34 FAIXA DE TREINAMENTO ATLÉTICO Se o indivíduo a ser treinado possuir altíssimo nível de condicionamento físico, determinado pela consulta física ou pela consulta físico-funcional, convém que o treinamento proposto possua característica específicas perante suas valências físicas e habilidades desportivas. Ou seja, as cargas devem ser altas e as séries dos padrões de movimento direcionadas neuromotoramente para este fim. Desta forma, a aplicação do Método STS não estará caracterizada efetivamente como terapêutico mas como de treinamento físico ou desportivo, com seus fundamentos sendo utilizado nos limites superiores de estímulos. A característica principal desta faixa de condicionamento físico perante o Método STS é que o mesmo utiliza padrões funcionais combinados e com variações que elevam a carga biomecânica. Somente desta forma o estímulo é possível produzir aumento de performance no indivíduo, já que os movimentos funcionais devem ser desenvolvidos a partir das modalidades atléticas ou desportivas do indivíduo. Desta maneira, o profissional de educação física é o profissional que possui características de formação habilitadas ao atendimento de indivíduos nesta faixa. 6.2 ESTÍMULO ÓCULOMOTOR O Método STS lançou mão desta modalidade de estímulo para este fundamento, baseado na sua longa utilização pela fisioterapia e das aulas de ginástica em academia. Em ambas as atividades são utilizados espelhos, e os benefícios de sua utilização para o aprendizado neuromotor e correção postural são evidentes quando comparados a grupos que não fazem uso dos mesmos. Muito se especulava sobre a verdadeira ação deste reforço neuromotor e estímulo de aprendizagem. Recentemente, com a utilização de equipamentos sofisticados de análise de funções cerebrais, confirmou-se a presença dos “Neurônios Espelhos” e atribui-se aos mesmos grande parte desta ação. Acreditamos que ao se pôr um indivíduo perante um espelho, onde o mesmo possa ver a execução dos padrõesfuncionais realizado pela sua própria imagem, estamos 35 potencializando a ativação ou reativação destes neurônios espelhos. E por se tratar de movimentações também funcionais, ou seja, estes neurônios foram desenvolvidos para realizarem esta função, estamos também retroalimentando a função cognitiva que ativa a memória motora. Os neurônios espelho desempenham uma função crucial para o comportamento humano. Eles são ativados quando alguém observa uma ação de outra pessoa. O mais impressionante é o fato desse espelhamento não depender obrigatoriamente da nossa memória. Se alguém faz um movimento corporal complexo que nunca realizamos antes, os nossos neurônios-espelho identificam no nosso sistema corporal os mecanismos proprioceptivos e musculares correspondentes e tendemos a imitar, inconscientemente, aquilo que observamos, ouvimos ou percebemos de alguma forma. E no caso do Método STS, este alguém é o próprio indivíduo que recebe os padrões de exercício. De acordo com Rizzolatti e Craighero (2004), o que caracteriza e garante a sobrevivência dos seres humanos é o fato de sermos capazes de nos organizar socialmente, e isso só é possível porque somos seres capazes de entender a ação de outras pessoas. Além disso, também somos capazes de aprender através da imitação e essa faculdade é a base da cultura humana. Os neurônios espelho foram descobertos na área pré-motora de macacos Rhesus na década de 90. Onde se demonstrou que alguns neurônios da área F5, localizada no lobo frontal, que eram ativados quando o animal realizava um movimento com uma finalidade específica (tipo apanhar uma uva passa com os dedos) também eram ativados quando o animal observava um outro indivíduo realizando a mesma tarefa. De acordo com Lameira (2006): “A importância desta descoberta para a compreensão direta da ação e/ou da intenção do outro animal ou ser humano foi imediatamente percebida. Ou seja, os neurônios espelho, quando ativados pela observação de uma ação, permitem que o significado da mesma seja compreendida automaticamente (de modo pré-atencional) que pode ou não ser seguida por etapas conscientes que permitem uma compreensão mais abrangente 36 dos eventos através de mecanismos cognitivos mais sofisticados. Além de um estímulo visual explícito (observação de uma ação), estes neurônios podem também ser ativados por eventos que possuem apenas relação indireta com uma determinada ação: 1. A partir de um som habitualmente associado a uma ação, como por exemplo, o barulho da quebra da casca de um amendoim (Kohler et al., 2002) 2. Pela dedução implícita da continuidade de uma ação, como, por exemplo, quando um macaco observa o movimento de uma mão na direção de um objeto oculto por um anteparo colocado posteriormente à apresentação do objeto ao animal (Umiltà et al., 2001). Da mesma forma, não é só a ação manual que é capaz de ativar os neurônios espelho. Por exemplo, existem neurônios-espelho que são ativados quando o macaco executa e/ou observa ações relacionadas com a boca, tais como lamber, morder ou mastigar alimentos. Além disso, na mesma região onde são encontrados estes neurônios existe uma pequena percentagem de células que dispara quando macaco observa o experimentador fazer ações faciais comunicativas na sua frente (Ferrari, Gallese, Rizzolatti, & Fogassi, 2003). Em outro estudo foram comparadas as regiões cerebrais ativadas pela observação de ações comunicativas da região orofacial de cães (latir), macacos (movimentos labiais) e humanos (fala em silêncio). Os resultados, em seres humanos, mostraram que a observação da fala em silêncio ativa a área de Broca no hemisfério esquerdo e a observação dos movimentos labiais de macacos ativam uma parte menor da mesma região cerebral em ambos os hemisférios, mas que a observação do latir do cão só ativa áreas visuais extra-estriadas (Buccino, Binkofski, & Riggio, 2004). Ou seja, quando a ação observada (o latir) não faz parte do repertório de ações do ser humano, os neurônios espelho não são ativados. Além disso, considerando que a capacidade humana de abstrair intenção a partir da observação de conspecíficos é considerada crucial na transmissão de cultura. A descoberta dos neurônios-espelho é de importância fundamental 37 para compreendermos o que nos faz diferente de outros animais, em termos cognitivos”. Podemos suspeitar inclusive, a partir destas informações a respeito dos neurônios espelho, que a fala nas crianças e até o mecanismo de aprendizado de sotaques, estejam relacionados. A fala se utiliza do mecanismo visual e do auditivo para se desenvolver, pois a criança visualiza o movimentar da boca das pessoas que falam para elas, e ouvem o som de suas vozes, e por este mecanismo viso-auditivo-motor tenta reproduzir a fala. Já o sotaque se vale somente do mecanismo auditivo para se desenvolver, e não é necessária nenhuma consciência para tal, por isso a maioria das pessoas não chega nem a perceber que “pegou” determinado sotaque. Aí estaria a ação dos neurônios espelho, que empresta suas características não só para o aspecto visual mas também para o auditivo, relacionando-se assim também com o fundamento de “Comando Verbal” do Método STS. É importante levar em consideração que o estímulo visual também pode desencadear mecanismos negativos à correta postura dinâmica e estática em um indivíduo que não possua uma boa relação com sua imagem corporal. Desta forma o profissional que aplica o Método deve se preocupar com este detalhe, quando realizar a sua consulta. 6.4 COMANDO VERBAL Quando se executa os exercícios construídos a partir de padrões de movimentos do Método STS em uma intervenção segmentada, personalizada completa ou de grupo, o fundamento “Comando Verbal” tem o objetivo de estimular à coordenação intermuscular, potencializar a concentração no exercício, motivar e reforçar a memória motora. Segundo Voss (1987), o comando verbal, ou estímulo vocal direcionado, seria a codificação em palavras que deve ser compreendida por um sujeito sob a atuação de um profissional (de reabilitação, exercício físico e até nas forças armadas), para a obtenção de uma determinada expressão motora, ou mudança de comportamento. 38 Profissionais de educação física e fisioterapeutas utilizam o comando verbal tanto no trabalho individualizado ou em grupo, para diferentes atividades elaboradas e com diferentes objetivos terapêuticos e de condicionamento físico. Assim como o Método STS, diferentes métodos de cinesioterapia (e exercícios físicos), como o Método Kabat de Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva, o Método de Reeducação Postural Global, Ginásticas de Grupo em academias, e o Método de Godelieve Denys-Struyf, fazem uso de diferentes modalidades de aplicação de comando verbal. De acordo com Pardo (2005), são feitas as seguintes considerações em relação ao comando verbal: “..... no treinamento de exercícios cinesioterapêuticos, ao passo que o fisioterapeuta fornece o comando verbal, o sujeito ouve e executa conforme o ordenado, sendo informado da adequação do movimento ou, se necessário, seguindo correções determinadas verbal e/ou gestualmente pelo fisioterapeuta. Acredita-se que o comando verbal pode interferir no sucesso da tarefa a ser executada, bem como na execução da técnica e nos resultados do tratamento como um todo. Pequenas mudanças no comando verbal podem implicar diferenças significativas na resposta do movimento realizado, podendo afetar, por exemplo, a velocidade da execução, a trajetória, o recrutamento de grupos musculares, os grupos musculares estabilizadoresdo segmento em movimento e do corpo. Os efeitos do treinamento também poderão variar na melhora da coordenação motora, na amplitude de movimento ou em sua intensidade.....” “.......Skinner (1957), citado por Hübner (1999), introduziu a expressão comportamento verbal no livro Verbal Behavior, em substituição ao termo linguagem, pois este permitia várias interpretações, gerando distorções ao uso, à prática e à ação. A introdução da expressão comportamento verbal determina um melhor uso e entendimento da palavra, dando ênfase à “linguagem como comportamento modelado” (Hübner, 1999), isto é, a linguagem utilizada 39 como instrumento consciente de reforço de uma prática, para que a resposta seja a do aprendizado. Hübner (1999) explica que “a casuística definidora do comportamento verbal é a de que ele é estabelecido e mantido por reforço mediado por outra pessoa”. Para que o sujeito seja adequadamente influenciado pela ação do comportamento verbal, será necessário passar por um treinamento específico, aumentando seu aprendizado e fortalecendo seu entendimento. Para isso é preciso que o sujeito aja de acordo com o comportamento verbal operado (Hübner, 1999). De Rose (1999) afirma que a utilização de recursos verbais não se limita à Psicologia, mas ocorre em praticamente todas as ciências que lidam com o homem, e está sujeita a limitações de atenção, memória, acessibilidade e, ainda, às possibilidades de distorções deliberadas por parte do ouvinte. No caso da Fisioterapia, o comportamento verbal utiliza o reforço, na forma de feedback e de instrução verbal, geralmente associada ao modelo gestual, como forma de ensino do comportamento motor a ser apreendido. A avaliação dos efeitos de diferentes comportamentos verbais sobre um mesmo objetivo terapêutico, como, por exemplo, a influência do comportamento verbal na condução da prática de exercícios físicos, não é explorada na literatura.....” 6.5 TOQUE MANUAL Os circuitos neurais de cada padrão de movimento são anatomicamente distintos, mas todos eles estão física e funcionalmente integrados. O toque realizado no indivíduo que é submetido às várias modalidades de cinesioterapia manual, também é responsável pela potencialização dos mecanismos posturais. Lembrando que a postura pode ser referida à situação estática ou dinâmica, e de 40 forma segmentada ou global, e os mecanismos posturais são desencadeados por vários “detectores” locais, aferência somatossensorial e eferência motora. Os circuitos proprioceptivos têm preferência no estudo do controle do movimento, e o Método STS usa o fundamento do toque no ventre muscular do músculo motor primário do movimento funcional (durante o movimento excêntrico principalmente). Pois se acredita poder se somar o estímulo tátil suave ao estímulo proprioceptivo, que é conduzido por vias de grande velocidade e calibre (fascículo grácil e cuneiforme). Agora vejamos a sequência de eventos neurais que podem ocorrer durante um padrão de movimento do Método STS: O indivíduo prepara-se interpretando as informações visuais (utilizando o espelho de postura ou da sala de ginástica), auditivas (comandos verbais do profissional) proprioceptivas (sua própria posição do corpo, da cabeça e dos membros) e vestibulares (seu próprio movimento da cabeça). Todas essas informações são enviadas para as áreas associativas, e o indivíduo obtém uma noção de posição do seu corpo no espaço em relação ao movimento segmentar e a contrarresistência (integração realizada no córtex parietal posterior). Com as experiências previamente acumuladas pela memória motora e levando-se em consideração o grau de dificuldade do movimento, o peso absoluto empregado, a velocidade do movimento, e as descargas aferentes, ele tem algumas alternativas de como fixar realmente o padrão motor. Este somatório de ações e fundamentos do Método STS e seus padrões de movimento são coavaliados pelos núcleos da base e pelo cerebelo. O córtex motor e o cerebelo elaboram a tática de execução do movimento (planejamento) e instruem os neurônios motores do tronco encefálico e da medula que inervam os grupos de músculos que serão recrutados. 41 Desta forma, a execução no dia a dia de movimentos fundamentais (funcionais, originais, naturais ou anatomofuncionais), acaba por reforçar o resultado neurológico e metabólico propiciado pelo exercício, ou cinesioterapia, contrarresistidos. Resumindo, a utilização do Método STS de Musculação Terapêutica é eficiente e eficaz por: Desenvolver resultados de correção das disfunções físico-funcionais e de melhora de performance com menos estímulos; Por possuir um uma perda dos ganhos de forma mais lenta perante a cessação destes estímulos; e Utilizar poucos recursos matérias para sua execução. 7. PADRÕES DE MOVIMENTO O Método STS é desenvolvido sobre 16 (dezesseis) Padrões Básicos e 05 (cinco) Padrões Variantes de movimentos anatomofuncionais que podem determinar centenas de exercícios diferente. Além destes padrões o Método STS também utiliza a denominação de Padrões Combinados e Padrões Alternativos de acordo com a modalidade de aplicação e os recursos utilizados, respectivamente. Estes movimentos são sempre caracterizados com uma contrarresistência. E esta pode ser determinada por pesos livres (halteres e caneleiras), maquinário específico, tensores elásticos, o meio líquido e a mão do profissional dentre outros meios. Os exercícios físicos elaborados a partir destes padrões podem ser feitos de forma individual ou combinados entre si. Além disso a postura (posição) para suas realizações podem ser diversas e normalmente relacionadas ao objetivo do tratamento ou do 42 treinamento, podendo variar então os graus de dificuldade para sua execução. Assim, os exercícios desenvolvidos a partir dos padrões de movimento não são iguais e o profissional conhecedor da cinesiologia e biomecânica é capaz de elaborá-los especificamente para a faixa de condicionamento que o indivíduo possui, promovendo a evolução dos graus de dificuldade dos mesmos, pois com um grau de dificuldade mais baixo diminui-se a carga física de trabalho imposto e um grau de dificuldade mais alto aumenta-se a carga física de trabalho imposto. Um maior ou menor grau de dificuldade é verificado pelo aumento ou diminuição da frequência cardíaca monitorada. Para a forma de execução o Método STS determinou dois tipos de padrões. Padrões de Massa e Padrões Alternados. Os primeiros são considerados padrões "primitivos” de movimento (de acordo com o processo neuroevolutivo), e em suas execuções os dois segmentos corporais se movimentam em conjunto. Já nos padrões alternados os dois segmentos corporais se movimentam alternadamente. Alguns padrões de massa são também denominados de padrões posturais e se eventualmente o desenvolvimento do exercício é somente para um segmento não há necessidade de utilizar está denominação, mas simplesmente dizer o nome do padrão. Em uma intervenção personalizada é necessário que seja construído um gráfico de periodização ou de evolução dos exercícios durante a intervenção, os padrões são executados de forma sequencial e progressiva, respeitando a forma de microciclo em “dente de serra”, ou “em escada” cuja característica principal é a de corresponder à curva cardíaca de progressão e recuperação. Assim, as frequências cardíacas máximas atingidas pelos padrões subsequentes devem ser maiores que as anteriores, até se atingir o padrão de pico. A partir deste, as frequências cardíacas máximas devem ser regressivas, conforme demonstradopela figura abaixo: 43 Fig. 19 - Demonstração da curva de oscilação da FC entre as séries de uma intervenção personalizada. Observa-se ainda como o micro e o mesociclo das sessões respeitam o perfil da curva eletrocardiográfica. 7.1 PADRÕES BÁSICOS B1 ou Bíceps 1 - Movimentação conjunta de ambos os MMSS, com flexoextensão do cotovelo concomitantemente à prono-supinação das mãos. Em função da mobilidade conjunta dos MMSS é considerado um padrão de massa. B2 ou Bíceps 2 - Movimentação alternada de ambos os MMSS, com flexoextensão do cotovelo concomitantemente à pronosupinação das mãos. D1 ou Deltóide 1 – Movimentação conjunta de ambos os MMSS, com abdução do ombro concomitantemente à sua rotação lateral ou externa até 50% da amplitude de abdução. Em função da mobilidade conjunta dos MMSS é considerado um padrão de massa do tipo postural. D2 ou Deltóide 2 – Movimentação conjunta de ambos os MMSS, com isometria de rombóides e fibras superiores de trapézio, com inclinação anterior do tronco, com 44 ambos cotovelos a 135º de flexão em posição de Bíceps 1, promove-se abdução dos ombros. Em função da mobilidade conjunta dos MMSS também é considerado um padrão de massa do tipo postural. P1 ou Peitoral 1 - Movimentação conjunta de ambos os MMSS, a partir de decúbito dorsal, com isometria de rombóides e fibras superiores de trapézio, partindo da posição de abdução de ombros em rotação lateral, promove-se a adução de ombros. Em função da mobilidade conjunta dos MMSS é considerado um padrão de massa. P2 ou Peitoral 2 - Movimentação alternada de ambos os MMSS, a partir de decúbito dorsal, com isometria de rombóides e fibras superiores de trapézio, partindo da posição de abdução de ombros em rotação lateral, promove-se a adução de ombros. T1 ou Tríceps 1 - Movimentação conjunta de ambos os MMSS, a partir de decúbito dorsal, com isometria de rombóides e fibras superiores de trapézio, partindo da posição de flexão do cotovelo e ombros a 90º em posição de B1, promove-se a extensão dos cotovelos. Em função da mobilidade conjunta dos MMSS é considerado um padrão de massa. T2 ou Tríceps 2 - Movimentação alternada de ambos os MMSS, a partir de decúbito dorsal, com isometria de rombóides e fibras superiores de trapézio, partindo da posição de flexão dos cotovelos e ombros a 90º em posição de B1, promove-se a extensão dos cotovelos. Q1 ou Quadríceps 1 - Movimentação conjunta de ambos os MMII, a partir de decúbito dorsal, com flexão a 90º das coxofemorais e joelhos, com dorsiflexão dos tornozelos, com leve inversão dos pés, promove-se a extensão do joelho. Em função da mobilidade conjunta dos MMII é considerado um padrão de massa. Q2 ou Quadríceps 2 - Movimentação alternada de ambos os MMII, a partir de decúbito dorsal, com flexão a 90º das coxofemorais e joelhos, com dorsiflexão dos tornozelos, com leve inversão do pés, promove-se a extensão do joelho. IT1 ou Ísquiotibial 1 - Movimentação conjunta de ambos os MMII, a partir de decúbito ventral, com extensão das coxofemorais e joelhos, com dorsiflexão dos 45 tornozelos, com leve inversão do pés, promove-se a flexão dos joelhos ao máximo de 45º. Em função da mobilidade conjunta dos MMII é considerado um padrão de massa. IT2 ou Ísquiotibial 2 - Movimentação alternada de ambos os MMII, a partir de decúbito ventral, com extensão das coxofemorais e joelhos, com dorsiflexão dos tornozelos, com leve inversão do pés, promove-se a flexão dos joelhos ao máximo de 45º. G/S ou Gastrocnêmio e Sóleo – Movimentação conjunta de ambos os MMII, a partir da postura bípede ostostática, com calcanhares elevados, posição final de D1, promove-se a flexão dos joelhos ao máximo de 90º. Em função da mobilidade conjunta dos MMII é considerado um padrão de massa, também do tipo postural. A1 ou Abdominal 1 – Isometria de abdominais, a partir de decúbito dorsal, com flexão a 90º das coxofemorais e joelhos, com dorsiflexão dos tornozelos, com leve inversão dos pés sem contato com o solo. A2 ou Abdominal 2 – Movimentação rotacional de abdominais, a partir de decúbito dorsal, com flexão a 90º das coxofemorais e joelhos, com dorsiflexão dos tornozelos, com leve inversão dos pés, apoiados. A3 ou Abdominal 3 – Movimentação flexora de abdominais, a partir de decúbito dorsal, com flexão a 90º das coxofemorais e joelhos, com dorsiflexão dos tornozelos, com leve inversão dos pés apoiados. 7.2 PADRÕES VARIANTES São variações dos padrões D1 e D2 e são dotados de complexidade motora maior para sua execução. Diferentemente dos padrões básicos que podem ser executados em pelo menos 03 (três) graus de dificuldade diferentes (baixo, médio e alto), os padrões variantes devem sempre ser executados no mesmo grau de dificuldade, caracterizando efetivamente um exercício. Obviamente se um indivíduo não possui condições motoras ou de condicionamento físico para realizar padrões 46 variantes convém que se execute padrões básicos em posturas e graus de dificuldade compatíveis. 1VD1 ou Primeiro Variante de D1 – Abdução completa de ambos os ombros a partir da posição inicial de D1, terminando o componente rotacional externo a partir completando 180º de abdução. 1VD1A ou Primeiro Variante de D1 Alternado - Abdução completa de ambos os ombros a partir da posição inicial de D1, terminando o componente rotacional externo a partir completando 180º de abdução, de forma alternada. 2VD1 ou Segundo Variante de D1 – Abdução completa de ambos os ombros a partir da posição final de D1, terminando o componente rotacional externo a partir de 90º de abdução. 2VD1A ou Segundo Variante de D1 Alternado – Abdução completa de ambos os ombros a partir da posição final de D1, terminando o componente rotacional externo a partir de 90º de abdução, de forma alternada. 3VD1 ou Terceiro Variante de D1 – Abdução completa de ambos os ombros a partir da posição final de D1 com flexão do cotovelo a 90º, terminando o componente rotacional externo a partir de 90º de abdução dos ombros. 3VD1A ou Terceiro Variante de D1 Alternado – Abdução completa de ambos os ombros a partir da posição final de D1 com flexão do cotovelo a 90º, terminando o componente rotacional externo a partir de 90º de abdução dos ombros de forma alternada. 1VD2 ou Primeiro Variante de D2 – Posição Inicial: flexão de ombros a 90º. Primeiro tempo: Flexão completa dos ombros. Segundo tempo: Movimento Excêntrico até posição final de D1. Terceiro tempo: Retorno à flexão de ombros a 90º. 1VD2A ou Primeiro Variante de D2 Alternado - Posição Inicial: flexão de ombros a 90º. Primeiro tempo: Flexão completa dos ombros. Segundo tempo: Movimento Excêntrico até posição final de D1. Terceiro tempo: Retorno à flexão de ombros a 90º, de forma alternada. 47 2VD2 ou Segundo Variante de D2 – Posição Inicial: flexão de ombros a 90º. Primeiro tempo: Abdução dos ombros até posição final de D1. Segundo tempo: Adução total dos ombros. Terceiro tempo: Retorno à flexão de ombros a 90º. 2VD2A ou Segundo Variante de D2 Alternado – Posição Inicial: flexão de ombros a 90º. Primeiro tempo: Abdução dos ombros até posição final de D1. Segundo tempo: Adução total dos ombros. Terceiro tempo: Retorno à flexão de ombros a 90º, de forma alternada. Caso suas execuções sejam promovidas em posturas diferentes da bípede ortostática, deve ser adicionada a postura na planilha da intervenção. Por exemplo: 1VD1DD significa que o padrão foi realizado em decúbito dorsal. Da mesma forma DV significa decúbito ventral e S significa sentado. 7.3 PADRÕES COMBINADOS São os padrões que tem como principalpúblico indivíduos com moderado a alto nível de condicionamento físico ou indivíduos que necessitam grande aporte de estímulos de coordenação motora. Para a primeira situação as combinações utilizam grande carga e na segunda não necessariamente. Há possibilidade de utilização de padrões de duas, três e até quatro combinações, utilizando variações de padrões básicos e variantes. 7.4 PADRÕES ALTERNATIVOS São considerados os padrões de movimento do Método STS que diferem do tradicional uso de halteres e caneleiras, podendo ser possível a aplicação em superfícies instáveis tais como: bolas, plataformas vibratórias, pranchas de equilíbrio, dentre outras. Os padrões onde também se utiliza também as mãos do profissional, e outros meios contrarresistência também são considerados padrões alternativos. 48 8. FASES DO MÉTODO STS DE MUSCULAÇÃO TERAPÊUTICA E TREINAMENTO FÍSICO- As fases do Método STS coincidem com as faixas relacionadas ao nível de condicionamento físico geral ou específico (de determinados grupamentos musculares) apresentadas junto ao fundamento do controle contínuo da frequência cardíaca, sendo de uma maneira geral assim determinadas: Fase de Choque - Faixa de Recuperação Físico-funcional Da FC de repouso até a FC limite – Baixíssimos níveis de condicionamento Fase de Adaptação - Faixa de Tratamento e Treinamento Físico 60 a 70% da FCM – Baixos níveis de condicionamento 70 a 80% da FCM – Médios níveis de condicionamento Fase de Condicionamento - 80 a 90% da FCM – Altos níveis de condicionamento Fase Atlética - Faixa de Treinamento Atlético 90 a 100% da FCM – Altíssimos níveis de condicionamento Em trabalhos personalizados enquadrados na faixa de tratamento e treinamento físico, o indivíduo é submetido à execução de planilhas-prontuário. Considerando um indivíduo com baixíssimo nível de condicionamento físico, Método STS completo alcança uma média de 90 (noventa) intervenções, em um intervalo que varia de 02 a 06 meses. Ou seja, intervenções suficientes para o indivíduo alcançar a Fase de Condicionamento. O número de séries e repetições durante uma intervenção personalizada do Método STS são referenciais e não devem ser parâmetro para finalizar um exercício, pois o mais importante é manter o desenho do gráfico de periodização. Ou seja, mesmo que a repetição idealizada tenha sido atingida mas a intensidade do exercício não tenha sido, se deve realizar mais repetições até que a referida intensidade seja alcançada. Da mesma forma, se a intensidade proposta foi alcançada antes de se atingir o número de repetições estipulado, o exercício deve ser cessado. Desta forma fica claro que é a intensidade representada pelos valores da frequência cardíaca que determinam a interrupção do exercício. 49 Mas para fins didáticos o número de séries para as chamadas Séries Simples (normalmente para indivíduos com baixo nível de condicionamento) é no mínimo de 03 (três). Para este mesmo perfil de indivíduo o número de repetições é de no mínimo 08 (oito) e no máximo 12 (doze). Ainda existe o perfil de padrões em circuito, ou super séries, chamadas de Séries de Circuito, onde o número de séries é de no máximo 02 (duas) e o número de repetições é de 24 (vinte e quatro) ou 36 (trinta e seis), que equivale a três séries de oito sem intervalo, e três séries de doze sem intervalo. Se o indivíduo não conseguir realizar pelo menos 08 (oito) repetições dos exercícios elaborados, é possível a carga geral esteja alta. Nesta situação é importante analisar o posicionamento utilizado, para eventualmente adequá-lo em um nível mais baixo. Isto pode ser o suficiente para baixar a carga. Os intervalos entre as séries devem ser baseados no cálculo da Faixa de Treinamento. Isto é, não devemos deixar a frequência cardíaca no intervalo ficar em patamares menores que o limite inferior previsto. Para isto normalmente o intervalo não deve ser menor que 30 (trinta) segundos e não deve ser maior que um minuto e trinta segundos. Mas, independentemente do tempo, o mais importante é permitir que os valores de frequência cardíaca não fiquem mais baixo que o programado para o intervalo. Por isso todo o trabalho é realizado com monitoração cardíaca constante. É importante também que se faça a análise do artefato (peso) que o indivíduo deve utilizar em sua intervenção terapêutica ou de treinamento físico. Obviamente quanto maior o peso do artefato maior deve ser o nível de condicionamento do indivíduo. No Método STS o maior valor utilizado é de 05 (cinco) quilogramas tanto para artefatos de membros inferiores (tornozeleiras) como para artefatos para membros superiores (halteres). Também é importante frisar que no Método STS os valores em quilogramas utilizados nos artefatos não são a carga, mas sim um dos integrantes da mesma Ainda dentro do Método, quando realizado de forma completa, convém que o profissional desenvolva intervenções alternativas para o dia de reanálise seriada. O Método desenvolveu 03 (três) possibilidades de intervenções alternativas: Cinesioalongamento – Alongamentos proprioceptivos com monitorização da FC. Aeróbio Longo – Aquecimento realizado com dobro do tempo usual na intervenção. Intervenção de Abdominais – Circuito com as três modalidades de abdominais. 50 9. O GRÁFICO DE PERIODIZAÇÃO DO MÉTODO STS DE MUSCULAÇÃO TERAPÊUTICA E TREINAMENTO FÍSICO No trabalho personalizado, todo o processo de execução do Método é registrado em uma planilha diária, que gera um gráfico de periodização da intervenção, comumente chamada de sessão. Quando o Método STS é aplicado para conferir modificações físico-funcionais globais, como no caso de emagrecimento ou de melhora de nível de condicionamento geral, as intervenções são realizadas (normalmente) de forma diária intercalada, sendo o ciclo composto de padrões diferentes, ou seja, um dia focando mais membros superiores e outro mais de membros inferiores com abdominais. O mais importante nesta modalidade de intervenção é permitir uma construção de um gráfico de periodização dos padrões com o melhor perfil fisiológico possível. Isto quer dizer que devemos nos preocupar com a progressão e a regressão de seu desenho, de acordo com o menor ciclo de trabalho muscular possível, que é o de um batimento cardíaco. Por esta razão o desenho deste gráfico é caracterizado como a forma de uma onda eletrocardiográfica, conforme apresentado na figura 19. Para cada padrão executado a partir do início da intervenção, devemos progredir até o exercício que utilize um padrão de movimento que permita que seu valor de intensidade seja o pico da intervenção. Após este pico devemos regredir até o ultimo padrão, de forma oscilante. Ou seja, o retorno deve possuir um padrão mais baixo que o pico, o próximo mais alto que o anterior mas sem ultrapassar o pico e assim sucessivamente. Cada intervenção personalizada e passiva de construção de gráfico deve possuir no mínimo 08 (oito) exercícios funcionais. Nestas, convém que o padrão de pico seja apresentado no quinto exercício. Mas o profissional é livre para executar quantos padrões de exercícios quiser, de acordo com o objetivo que queira alcançar com o seu cliente e o histórico físico funcional do mesmo. 51 Fig. 20 – Exemplo Gráfico de Periodização com pico no quinto exercício Como prática diária é importante que o profissional quando for realizar uma intervenção personalizada procure imaginar qual deveria ser o valor da frequência cardíaca do padrão/exercício do pico e qual deveria ser o valor da frequência cardíaca do padrão/exercício inicial. Isto é fundamental para que
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