Buscar

Anatomia e qualidade do carvão de Mimosa tenuiflora

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

311
Sociedade de Investigações Florestais
ESTRUTURA ANATÔMICA DA MADEIRA E QUALIDADE DO CARVÃO DE
Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir1
Elisabeth de Oliveira2, Benedito Rocha Vital3, Alexandre Santos Pimenta3, Ricardo Marius Della Lucia3,
Ana Márcia M. Ladeira4 e Angélica de Cássia Oliveira Carneiro5
RESUMO – Este trabalho objetivou determinar algumas características anatômicas e dimensões de fibras, elementos
dos vasos, células do parênquima e dos raios da madeira da Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. Determinaram-
se, ainda, a fração parede das fibras e o porcentual das fibras, dos vasos, dos raios e das células parenquimatosas,
bem como a densidade, rendimento e propriedades do carvão vegetal. Conclui-se que a madeira de Mimosa
tenuiflora possui poros predominantemente solitários, geminados e múltiplos em agrupamento radial; poros
distribuídos em porosidade difusa uniforme; parênquima axial paratraqueal vasicêntrico, vasicêntrico confluente,
aliforme e aliforme confluente; raios multisseriados, bisseriados e, menos freqüentemente, unisseriados; e fibras
de parede espessa e muito curtas. Obteve-se um rendimento de 39,68% em carvão vegetal, com teor de carbono
fixo de 71,70%, densidade igual a 0,51g/cm3, carbono fixo de 71,79 e poder calórico de 6.866 cal/g.
Palavras-chave: Jurema-preta, qualidade da madeira, características anatômicas e propriedades do carvão vegetal.
ANATOMICAL STRUCTURE AND CHARCOAL QUALITY OF Mimosa
tenuiflora (Willd.) Poir. WOOD
ABSTRACT – The objective of this work was to determine anatomical characteristics, and dimensions of fibers,
vessels and parenchyma and ray cells of Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir wood. Fibers wall fraction, the
percentage of fibers, vessels and ray and parenchyma cells, as well as density and charcoal production and
properties were determined. The wood of Mimosa teniflora presents predominantly solitary, geminated and
multiple porous in radial groups; porous distributed in uniform diffuse porosity; axial parenchyma paratracheal
vasicentric, confluent vasicentric, aliform and confluent aliform; multiseriate, biseiat rays and, less frequently,
uniseriate ones; very short fibers with thick walls. Charcoal yield was 39.68% with a 0.51g/cm3 density, 71.79%
carbon content and 6886cal/g calorific value.
Keywords: Mimosa tenuiflora, wood quality, anatomical characteristics and charcoal properties.
R. Árvore, Viçosa-MG, v.30, n.2, p.311-318, 2006
1 Recebido em 16.09.2004 e aceito para publicação em 10.11.2005.
2 Departamento de Engenharia Florestal da UFCG, Patos-PB.
3 Departamento de Engenharia Florestal da UFV, Viçosa, MG.
4 Engenheira Florestal – Pesquisadora da UFV.
5 Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais da UFV.
1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, o crescimento populacional,
o avanço tecnológico e a crise dos combustíveis fósseis
aumentaram a pressão sobre a flora nativa de muitas
regiões, em diferentes partes do mundo, incluindo o
Brasil, nas mais variadas formas, com destaque para
a produção de lenha e de carvão vegetal. Como a
exploração, de modo geral, vem ocorrendo de forma
irracional, sem atender a qualquer regime de manejo,
cresce a preocupação com o uso indiscriminado das
florestas, que poderá gerar, como conseqüência, o
aparecimento de grandes áreas degradadas.
312 OLIVEIRA, E. et al.
Embora a dimensão territorial da Paraíba não seja
das mais significativas no contexto do país, a sua
importância é evidente quando se consideram a
diversidade de paisagem e a vegetação. Há grande
riqueza de espécies vegetais que exercem papel
fundamental para a população. Os recursos florestais
são fonte de sobrevivência, e a vegetação é fonte de
alimento, madeira para construção, para fins medicinais,
combustível e comércio, dentre outros. Assim, na
Microrregião de Patos, Estado da Paraíba, inserida na
Mesorregião do Sertão Paraibano, constata-se o crescente
número de atividades consumidoras de lenha como
combustível, principalmente padarias, olarias e cerâmicas.
Esse crescimento tem aumentado a demanda de recursos
da caatinga para a produção de combustíveis lenhosos.
Caatinga é o termo genérico empregado para
designar um complexo de vegetação decídua e xerófila,
constituída de vegetais lenhosos e mais ou menos rica
em cactáceas e bromeliáceas. Ora dominam os primeiros,
ora as segundas, exibindo misturas em proporção muito
variada, conforme a natureza do substrato e a secura
do clima. Há, pois, nela várias formações entrelaçadas,
compondo diversos tipos de caatinga (RIZZINI, 1997).
A vegetação característica da caatinga, devido ao seu
porte arbóreo-arbustivo com muitas ramificações e fustes
tortuosos e retorcidos, limita a sua aplicação para fins
industriais. Sua utilização tem sido restrita para estacas,
lenha e carvão.
Embora diversas espécies da caatinga já sejam
utilizadas para fins energéticos, existem poucos estudos
sobre essas espécies. Segundo Johnson (1985), as
principais empregadas para a produção de carvão são:
jurema-preta (Mimosa hostilis), catingueira (Caesalpinia
pyramidalis), angico (Anadenanthera colubrina), jucá
(Caesalpinia ferrea), mororó (Bauhinia forficata),
pereiro (Aspidospema pyrifolium) e craibeira (Tabebuia
aurea)5 .
Oliveira (1988) citou a utilização da jurema-preta
para lenha, e Tigre (1970) relatou que essa espécie
produz carvão com elevado poder calorífico, que é
utilizado em forjas e fundições. Segundo Miranda (1989),
o pereiro e a catingueira são, também, espécies das
quais se produz carvão com boas características físicas
e químicas. Contudo, a utilização mais racional dos
recursos florestais depende do conhecimento entre
outros da estrutura e organização dos elementos celulares
que determinam a sua aptidão para o uso comercial.
Assim, estudos anatômicos têm sido utilizados com
o objetivo de auxiliar a taxonomia e identificação de
espécies. Porém, além da descrição anatômica (BURGER
e RICHTER, 1991), outras propriedades, como a densidade
básica (VITAL, 1984), são parâmetros que formam a
base para estudos tecnológicos, visando estabelecer
o seu potencial para diversos usos. Na verdade, a
descrição anatômica das madeiras é de fundamental
importância para a determinação de seu aproveitamento
tecnológico. Essa afirmação está baseada no fato de
que as dimensões, as freqüências e o arranjo dos
elementos anatômicos têm grande influência sobre as
propriedades físicas e mecânicas da madeira. Segundo
Paula et al. (2000), é possível classificar e agrupar espécies,
direcionando-as, então, para estudos tecnológicos
específicos. Contudo, após uma seleção prévia, o real
potencial de uma espécie para determinada utilização
depende da avaliação da qualidade do produto sendo
fabricado.
Um problema relacionado à utilização do carvão
vegetal é a elevada variabilidade nas suas propriedades;
ele sofre grande influência da madeira que lhe deu origem
e do sistema de produção.
Segundo Shimoyama (1990), citado por Garcia (1995),
a densidade básica é uma quantificação direta do material
lenhoso, por unidade de volume, estando relacionada
com muitas propriedades e características tecnológicas
importantes para a produção e a utilização dos produtos
florestais. A densidade é uma das características mais
importantes entre as propriedades físicas, pois afeta
todas as demais propriedades da madeira. Segundo
Paula et al. (2000), madeira com baixa densidade é rica
em parênquima axial ou radial, ou em ambos, ou em
fibras de paredes finas. Normalmente, as células
parenquimatosas possuem parede fina e, portanto, baixo
teor de lignina.
5 Nomes científicos atualizados – jurema-preta (Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir., catingueira (Caesalpinia pyramidalis Tul.),
angico (Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan var. cebil (Griseb.) Altchul), jucá (Caesalpinia ferrea Mart.), mororó (Bauhinia
forficata Link), pereiro (Aspidospema pyrifolium Mart.) e craibeira (Tabebuia aurea (Silva Manso)Benth. & Hook. f. ex
S. Moore).
R. Árvore, Viçosa-MG, v.30, n.2, p.311-318, 2006
313Estrutura anatômica da madeira e qualidade do carvão …
Assim, o objetivo deste trabalho foi caracterizar
a estrutura anatômica da madeira da espécie Mimosa
tenuiflora (Willd.) Poir., bem como determinar alguns
parâmetros de produção e de qualidade do carvão
vegetal, com o intuito de estabelecer o potencial da
espécie para essa atividade. A Mimosa tenuiflora (Willd.)
Poir. foi selecionada porque é uma espécie já utilizada
e tem boa ocorrência na região.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O Estado da Paraíba está situado na parte oriental
do Nordeste brasileiro, entre os meridianos de 34º 45’
54” e 38º 45’ 45” de longitude oeste e os paralelos de
6º 2’ 12” e 8º 19’ 18” de latitude sul, ocupando uma
área de 56.372 km2 .
A microrregião de Patos está situada na porção
central do Estado da Paraíba, integrante da Mesorregião
do Sertão Paraibano, em terras que correspondem à
Bacia do Rio Espinharas. Com seus 2.843,5 km2, a área
em foco ocupa 4,4% da superfície total do espaço
paraibano (56.372 km2) e abrange nove municípios: Areia
de Baraúna, Cacimba de Areia, Mãe D¢água, Passagem,
Patos, Quixaba, São José de Espinharas, São José do
Bonfim e Santa Terezinha. A cidade de Patos é a mais
importante da região, destacando-se como centro de
comercialização e prestação de serviços (IBGE, 2000).
A microrregião de Patos tem uma população de
aproximadamente 117.557 habitantes, o que representa
3,4% da população da Paraíba (IBGE, 2000).
O clima da área em estudo caracteriza-se por elevadas
temperaturas médias anuais (26 ºC), pequena amplitude
térmica anual (5 ºC), médias totais anuais de precipitação
que oscilam entre 500 e 800 mm/ano, apresentando
ainda forte concentração de chuva, com marcada
irregularidade na sua distribuição e longa estação de
seca.
Para este trabalho foram selecionadas aleatoriamente
nove árvores, que apresentaram boa fitossanidade, sendo
três árvores em cada localidade, Fazenda NUPEÁRIDO,
em Patos, PB, Fazenda Lameirão em Santa Terezinha, PB,
e Fazenda Caicu em São José de Espinharas, PB, todos
na Microregião de Patos, PB.
De cada árvore foram retirados toretes de 30 cm
de altura a 0 (base), 25, 50, 75 e 100% da altura comercial
do tronco, considerada até 5 cm de diâmetro. Essas
amostras foram identificadas e transportadas para o
Departamento de Engenharia Florestal da Universidade
Federal de Viçosa, em Viçosa, MG, onde foram realizados
os estudos. Na porção mediana de cada torete foi retirado
um disco de 2,5 cm de espessura, o qual foi subdividido
em quatro partes, em forma de cunha, passando pela
medula. A primeira parte foi destinada às análises
anatômicas (dimensões das fibras e dos elementos
vasculares), a segunda parte destinada à determinação
da densidade básica, a terceira parte destinada à
carbonização e o restante reservado para estudos
posteriores de outras características tecnológicas. Para
a caracterização anatômica, foram utilizadas lâminas
contendo os cortes histológicos: transversal, tangencial
e radial. As lâminas foram preparadas por Silva (1988).
As amostras foram retiradas do cerne periférico, com
1 cm de aresta e fervidas em água durante uma e meia
a duas horas. Os cortes foram realizados em micrótomo
tipo corrediça. Os cortes das seções transversais e
tangencial foram coloridos com solução de verde-
malaquita e os da seção radial, com solução de safranina,
e foram montados com bálsamo do Canadá sobre lâminas
de microscópico.
As descrições das estruturas anatômicas e
mensurações dos elementos de vasos, parênquima axial
e raios foram feitas em um microscópio óptico, utilizando
a objetiva de 70x para corte transversal e objetiva de
500x para os cortes longitudinal, radial e tangencial,
acoplada a um projetor que gera imagem que é capturada
e analisada por um programa Pro-Imagem 3.2. Para a
descrição anatômica, adotou-se a terminologia constante
da literatura (IAWA, 1989; IBAMA, 1992).
A densidade básica foi determinada de acordo
com o método de imersão em água, descrito por Vital
(1984).
Para a determinação das dimensões das fibras e
dos elementos vasculares, foram confeccionados palitos
do material restante dos discos, compondo-se uma
amostra por árvore, que foram tratados com solução
macerante de acordo com o método nítrico-acético 1:5
(RAMALHO, 1987). Uma vez individualizados os
elementos anatômicos, foram montadas lâminas, sendo
elas mensuradas. As medições das dimensões das fibras
e dos elementos vasculares foram feitas em um
microscópio óptico acoplado a um projetor, que gera
imagem que é capturada e analisada por um programa
Pro-Imagem 3.2. Foram medidos o comprimento (objetiva
70x), a largura e o diâmetro de lúme das fibras (objetiva
1.000x), num total de 100 fibras por árvore.
R. Árvore, Viçosa-MG, v.30, n.2, p.311-318, 2006
314
de materiais voláteis, teor de cinzas e teor de carbono
fixo, em base seca. O rendimento em carbono fixo foi
obtido pelo produto entre teor de carbono fixo e rendimento
gravimétrico da carbonização.
A densidade verdadeira e aparente do carvão e
a porosidade foram feitas de acordo com as ASTM-
D-167-73, adaptada por Oliveira et al. (1982).
O poder calorífico superior foi determinado por
meio de um calorímetro adiabático, conforme a Norma
NBR 8633 (ABNT, 1983).
Foi determinado o rendimento em líquido pirolenhoso
obtido em relação ao peso de madeira seca carbonizada.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nas Figuras 1, 2, 3 e 4, podem ser observados
os cortes anatômicos da Mimosa tenuiflora. Sua madeira
caracteriza-se por possuir:
Vasos: Poros predominantemente solitários,
ocorrendo também geminados e múltiplos em
agrupamento radial de dois a seis poros, raramente
racemiforme, cujo diâmetro médio foi de 121,96 µm;
variando de 30 a 155 µm; em média oito poros/mm2,
distribuídos em porosidade difusa uniforme (Figura
2); seção transversal circular nos poros solitários; tilos
esclerosados presentes; elementos vasculares muitos
curtos, 238 µm de comprimento médio, variando de
219 a 267 µm, cuja largura média foi de 126 µm, variando
de 108 a 136 µm, com apêndice curto presente em uma
ou duas extremidades; com placa de perfuração simples,
pontuações intervasculares opostas, areoladas, com
abertura inclusa. A área ocupada pelos vasos é de 6,80%.
Parênquima axial: Paratraqueal vasicêntrico,
vasicêntrico confluente, aliforme e aliforme confluente
(Figuras 1e 2), com células retangulares de maior dimensão
no sentido vertical. Presença de cristais de oxalato
de cálcio. A área ocupada por parênquima é de 22,93%.
Raios: Predominam os multisseriados com três
a quatro células de largura, os bisseriados e, menos
freqüentes, os unisseriados; muito finos, com 14,15 µm
de largura média, variando de 6,16 a 29 µm, extremamente
baixos, e 0,10 mm de altura média, variando de 0,03 mm
a 0,29 mm, heterogêneos, formados por células
procumbentes (horizontais) e quadradas (Figuras 3
e 4), pouco numerosos, de 4 a 8 raios por mm. A área
ocupada pelo raio é de 13,04%.
Obtidas as dimensões das fibras, foram calculados:
Espessura Média (EP) = (D-d)/2;
Fração Parede (FP) = (2P)/D) x 100;
Índice de Runkel(IR) = 2P/Lu;
Índice de Enfeltramento (EF) = (C/D) x 1.000; e
Coeficiente de Flexibilidade (CF) = (Lu/D) x 100.
Em que:
P = espessura da parede;
d = diâmetro do lume;
L = comprimento da fibra; e
D = diâmetro tangencial da fibra.
As amostras destinadas à carbonização foram
transformadas em cavacos, secadas ao ar livre,
homogeneizadas e levadas à estufa a 105 ± 3 ºC por
24 horas.
A carbonização foi feita em cadinho metálico com
capacidade de aproximadamente 220 g, aquecido em
forno elétrico, com controle de temperatura. O controle
de aquecimento foi manual, de acordo com a seguinte
marcha:
150 °C por 1 hora
200 °C por 1 hora
250 °C por 1:30 horas
350 °C por 1:30 horas450 °C 30 minutos
A carbonização ocorreu em um tempo total de cinco
horas e trinta minutos, com duas repetições por amostra,
totalizando 18 carbonizações. Os gases gerados foram
conduzidos para um condensador tubular, com
recolhimento do líquido pirolenhoso.
Após a carbonização, o rendimento gravimétrico
foi determinado, dividindo-se o peso do carvão seco
produzido pelo peso da madeira seca.
As análises do carvão foram realizadas em duplicatas,
em que foram realizadas análises químicas imediatas,
determinação do rendimento em carbono fixo,
determinação da densidade verdadeira, densidade
aparente e porosidade.
A composição química imediata foi feita de acordo
com a Norma NBR 8112 (ABNT, 1983), com determinações
OLIVEIRA, E. et al.
R. Árvore, Viçosa-MG, v.30, n.2, p.311-318, 2006
315
Fibras: De paredes espessas, 5,32 µm de
espessura média, variando de 4,74 a 5,83 µm, muito
curtas, 0,75 mm de comprimento médio, variando de
0,64 a 0,79 mm; e com 16,43 mm de largura média, variando
de 15,38 a 17,73 µm. A área ocupada por fibras é de
57,23%.
Figura 1 – Corte transversal (70X) mostrando porosidade,
fibras abundantes (parte vermelho-escura), vasos
(partes claras e ovais) e faixas de parênquima axial
associados a vasos (parênquima vasicêntrico,
vasicêntrico confluente, aliforme e aliforme
confluente).
Figure 1 – Cross section (70X) showing porosity, abundant
fibers dark red in color, vessels light in color and
oval parts and strips of axial parenchyma associated
to vessels (vasicentric parenchyma, confluent
vasicentric, aliform and confluent aliform).
Figura 2 – Corte transversal (500X) mostrando detalhes dos
elementos de vasos e parênquimas.
Figure 2 – Cross section (500X) showing heterogeneous rays
composed of procumbent and square cells.
Figura 3 – Corte radial (500X) mostrando raios heterogêneos
constituídos por células procumbentes e quadradas.
Figure 3 – Radial section (500X) showing heterogeneous
rays composed by procumbent and square cells.
Figura 4 – Corte tangencial (500X) mostrando raios multisseriados
de três células de largura, os bisseriados e os
unisseriados.
Figure 4 – Tangencial section (500X) showing multiseriate
rays with three cells wide, the biseriate and uniseriate
ones.
Estrutura anatômica da madeira e qualidade do carvão …
R. Árvore, Viçosa-MG, v.30, n.2, p.311-318, 2006
316
No Quadro 1, mostram-se os valores médios da
densidade básica e das dimensões de fibras. No Quadro
2, apresentam-se os valores médios das dimensões
dos elementos de vasos, raios e parênquima axial,
enquanto o Quadro 3 contém os resultados da
carbonização e as análises do carvão.
Para a produção de carvão vegetal, é importante
que a madeira apresente elevada densidade, com a
conseqüente presença de fibras com elevada fração
parede e baixas proporções de tecidos parenquimáticos
e vasos. A espécie Mimosa tenuiflora apresenta uma
madeira pesada, com uma densidade em média de 0,91
g/cm3 (Quadro 1), contudo inferior ao citado por Lorenzi
(1998), que foi igual a 1,12 g/cm3.
A madeira apresenta um valor porcentual de vasos
e parênquimas de 42,77% e porcentagem de fibras de
57,23%, com uma fração parede das fibras de 64,74
(Quadro1), que é um bom indicativo da espécie para
a produção de energia. Segundo Paula, (1999), madeiras
com alta porcentagem de fibras com fração parede acima
de 60% são de boa qualidade para gerar energia, ao
contrário de madeiras ricas em parênquimas e vasos,
pois estes apresentam fração parede muito baixa.
O índice de Runkel, índice de enfeltramento e
coeficiente de flexibilidade encontrados foram de 1,86;
45,54; e 35,25%, respectivamente, conforme pode ser
observado no Quadro 1. O coeficiente de flexibilidade
indica o grau de colapso (achatamento) que as fibras
sofrem durante o processo de fabricação do papel.
Nesse sentido, o índice de Runkel, na prática, tem o
mesmo significado do coeficiente de flexibilidade.
A carbonização da madeira de Mimosa tenuiflora
resultou em um rendimento gravimétrico em carvão
de 39,68% com teor de carbono fixo de 71,97% e poder
calorífico de 6.866 cal/g, conforme pode ser observado
no Quadro 3. Para madeira de Eucalyptus grandis,
usualmente empregada na produção de carvão vegetal,
carbonizada nas mesmas condições, Oliveira (2003)
obteve 33,68% de rendimento gravimétrico em carvão
com um teor de carbono fixo de 72,61% e densidade
igual a 0,29 g/cm3. Esses fatores, além da densidade
aparente média do carvão de 0,51 g/cm3, indicam que
é possível produzir carvão de boa qualidade em termos
energéticos e de rendimento com a madeira de jurema-
preta. Portanto, a espécie tem bom potencial para a
produção de carvão e geração de energia.
Local/Árvore DBM g/cm3 *L/mm *D/µm *e/µm *d/µm 2e/d L/D FP% CR%
1.1 0,94 0,71 15,38 4,74 5,90 1,59 46,16 61,63 38,36
2.1 0,91 0,64 15,58 4,99 5,59 1,79 41,08 64,01 35,88
3.1 0,96 0,78 15,67 4,81 6,04 1,59 49,78 61,39 38,54
1.2 0,92 0,75 17,26 5,29 6,68 1,58 43,45 61,30 38,70
2.2 0,91 0,72 17,25 5,71 5,84 1,96 41,74 66,20 33,86
3.2 0,90 0,84 17,73 5,83 6,08 1,92 47,38 65,76 34,29
1.3 0,99 0,76 16,65 5,31 6,02 1,76 45,65 63,78 36,16
2.3 0,93 0,74 16,26 5,52 5,23 2,11 45,51 67,90 32,16
3.3 091 0,79 16,09 5,69 4,71 2,42 49,10 70,73 29,27
Média 0,91 0,75 16,43 5,32 5,79 1,86 45,54 64,74 35,25
C.V(%). 3,41 7,49 5,11 9,69 7,91 14,21 6,30 4,70 8,55
Quadro 1 – Valores médios da densidade básica e das dimensões de fibras
Table 1 – Mean values of basic density and fiber dimensions
* Valores médios de 100 medições; DB = densidade básica; L = comprimento (mm); D = diâmetro (µm); e = espessura da parede (µm);
d = diâmetro do lúme (µm), 2e/d, índice de Runkel; L/D = índice de enfeltramento; FP = fração parede; e CR = coeficiente de flexibilidade.
Vasos Raios Parênquima Axial
Diâmetro Número Altura Largura Número Largura Comprimento
(µm) (mm2) (µm) (µm) (mm2) (µm) (µm)
Média 80,96 8,88 100,00 14,15 6,9 15,43 113,05
Máximo 155,55 11,92 290,00 29,00 8,6 20,97 165,18
Mínimo 28,37 5,11 30,00 6,16 4,3 3,46 66,98
C V (%) 111,10 21,27 177,66 114,14 18,78 20,71 24,15
Quadro 2 – Valores médios das medições de vasos, raios e parênquima axial
Table 2 – Mean values of vessels, ray and axial parenchyma measures
OLIVEIRA, E. et al.
R. Árvore, Viçosa-MG, v.30, n.2, p.311-318, 2006
317
4. CONCLUSÕES
Sob a óptica dos resultados da análise anatômica,
há indicações de que a madeira poderá ser utilizada
para várias finalidades, porém é necessário que se
confirmem seu desempenho sob outros aspectos
tecnológicos.
Considerando o rendimento gravimétrico em carvão
e em carbono fixo, poder calorífico e densidade aparente,
conclui-se que a espécie Mimosa tenuiflora apresentou
um bom potencial para a produção de carvão vegetal.
De acordo com os resultados deste estudo, aliados
a informações da adaptabilidade da espécie na região,
em termos de crescimento nas condições de solo e
clima da região semi-árida, pode-se considerá-la apta
à produção sustentada de biomassa para geração de
energia, uma vez que ela apresenta potencial energético
que supera o do Eucalyptus grandis W. Hill ex Maiden
e muitas espécies da própria caatinga.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, L. A.; REIS, M. G.; REIS, G. G.
Classificação ecológica do Estado da Paraíba.
Interpolação de dados climáticos por
aproximação numérica. Revista Árvore,
v.23, n. 1, p. 23-32, 1989.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS-ABNT. Normas técnicas NBR
8633. Brasília: 1983. não paginado.
Amostra No RG RLC DA DV U MV CIZ CF RCF PCS
1.1 39,87 33,12 0,46 1,39 1,41 25,83 1,07 73,10 29,14 6969
2.1 40,47 30,56 0,48 1,37 1,25 25,85 1,94 72,22 29,23 6917
3.1 37,91 34,31 0,61 1,34 0,71 27,69 1,11 71,20 26,99 6955
1.2 39,49 33,17 0,45 1,43 1,75 28,49 1,24 70,28 27,75 6987
2.2 39,36 32,70 0,50 1,43 0,67 25,12 1,23 73,65 28,98 7039
3.2 37,82 31,75 0,53 1,42 1,21 27,30 1,49 71,22 26,937041
1.3 40,60 33,15 0,51 1,38 1,31 26,04 1,40 72,57 29,46 5814
2.3 40,70 32,53 0,53 1,41 0,65 26,96 1,43 71,61 29,14 7049
3.3 41,06 32,37 0,54 1,40 0,35 27,16 1,00 71,84 29,50 7020
Média 39,68 32,63 0,51 1,40 1,03 26,72 1,32 71,97 28,57 6866
C.V. 2,98 3,21 9,24 3,08 41,65 4,02 21,47 1,45 3,46 5,78
RG = rendimento gravimétrico (%), RLC = rendimento em líquido condensado (%), DA = densidade aparente (g/cm3), DV = densidade
verdadeira (g/cm3), U = umidade (%), MV = materiais voláteis (%), CIZ = cinzas (%), RCF = rendimento em carbono fixo (%),CF =
carbono fixo (%) e PCS = poder calorífico superior (cal/g).
Quadro 3 – Valores médios das análises do carvão
Table 3 – Mean values of charcoal analyses
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS-ABNT. Normas técnicas NBR
8122. Brasília: 1983. não paginado.
BURGER, L. L.; RICHITER, H. G. Anatomia da
madeira. São Paulo: Nobel, 1991. 154 p.
GARCIA, C. B. Anatomia, composição e
propriedades de cinco madeiras
Paraguaias. 1995. 126 f. Dissertação
(Mestrado em Ciência Florestal) – Universidade
Federal de Viçosa, Viçosa, 1995.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍSTICA – IBGE. Censo Demográfico:
Paraíba. Rio de Janeiro: 2000. v. 7.
(Recenseamento Geral do Brasil. 2000).
INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E
DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS –
IBAMA. Normas para procedimentos
em estudos de anatomia de madeira: I
– Angiospermae, II – Gimnospermae. Brasília.
1992. 19 p. (Serie Técnica, 15).
INTERNATIONAL ASSOCIATION OF WOOD
ANATOMY – IAWA. Lent of microscopic
features for hardwood identification. IAWA
Bulletin, v. 10, n. 3, p. 220-359, 1989.
JOHNSON, D. V. Relatório sobre o manejo
da caatinga, semi-árido do Nordeste
Brasileiro. In: PROJETO PNUD/FAO/BRA/85/007.
Natal: 1985. (Circular Técnica, 3).
Estrutura anatômica da madeira e qualidade do carvão …
R. Árvore, Viçosa-MG, v.30, n.2, p.311-318, 2006
318
LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual
de identificação e cultivo de plantas
arbóreas nativas do Brasil. 2.ed. Nova
Odessa: 1998. v. 2. 352 p.
MIRANDA, G. Potencial energético de
três espécies florestais da região semi-
árida do Nordeste do Brasil. 1989. 141
f. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais)
– Universidade Federal do Paraná, Curitiba,1989.
OLIVEIRA, E. Correlação entre
parâmetros de qualidade da madeira
e do carvão de Eucalyptus grandis W. Hill
ex Maiden. 1988. 47 f. Dissertação
(Mestrado em Ciências Florestais) – Universidade
Federal de Viçosa, Viçosa, 1988.
OLIVEIRA, E. Características anatômicas,
químicas e térmicas da madeira de
três espécies de maior ocorrência no
semi-árido nordestino. 2003. 122 f. Tese
(Doutorado em Ciências Florestais) –
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2003
OLIVEIRA, J. B.; GOMES, P. A.; ALMEIDA, M. R.
Estudos preliminares de normatização de testes de
controle de qualidade do carvão vegetal. In:
PENEDO, W. R. Carvão Vegetal. Belo
Horizonte, CETEC, 1982. p. 7-38. (Série de
Publicações Técnica, 006).
PAULA, J. E. Caracterização anatômica de
madeiras nativas do cerrado com vistas à
produção de energia. Cerne, v. 5, p. 26-40, 1999.
PAULA, J. E.; SILVA JÚNIOR, F. G.; SILVA, A. P.
P. Caracterização anatômica de madeiras nativas
de matas ciliares do Centro-Oeste brasileiro.
Scientia Forestalis, n. 58, p. 73-89, 2000.
RAMALHO, R. S. O uso de macerado
no estudo anatômico de madeiras .
Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa,
1987. 4 p.
RIZZINI, C. T. Tratado de fitogeografia
do Brasil: aspectos ecológicos, sociológicos
e florísticos. Rio de Janeiro: Âmbito Cultural,
1997. 747 p.
SILVA, J.O. Características dendrológicas
e anatômicas da madeira de dez
espécies ocorrentes no Nordeste semi-
árido. 1988. 109 f. Dissertação (Mestrado em
Ciências Florestais) – Universidade Federal de
Viçosa, Viçosa, 1988.
VITAL, B. R. Métodos de determinação
da densidade da madeira. Viçosa, MG:
SIF, 1984. 21 p. (Boletim Técnico, 1).
OLIVEIRA, E. et al.
R. Árvore, Viçosa-MG, v.30, n.2, p.311-318, 2006

Continue navegando