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O Direito penal é capaz de conter a violência

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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA AMAZONIA REUNIDA
FESAR
Curso de Bacharel em Direito
O Direito Penal é capaz de conter a violência?
Redenção – PA
2017
FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA AMAZONIA REUNIDA
FESAR
Ana Beatriz Gomes da Silva;
Andrea Ribeiro da Cunha Camara;
Carla Terra Barros Soares;
Caroline de Souza;
Caroline Sousa Vilanova;
Hemerson dos Santos Araujo;
Nathalia Augusta de Sá Silva;
Wagno Gonçalves Santos.
Redenção – PA
2017
O Direito penal é capaz de conter a violência?
Sob a visão de Céssare Beccaria * 
“Dos delitos e das penas” 
Beccaria inicia um debate sobre os efeitos futuros para o condenado, e a sociedade como um todo, atribuídas a condição da pena. Dos delitos e das penas foi escrito em 1764, ele critica as lacunas do sistema penal da sua época, em razão de leis incertas e antigas. Afirmava que Crime é crime, pecado é pecado.
Quando o livro foi escrito não existia pena que restringia a liberdade. Céssare Beccaria era contra a: pena de morte, arbitrariedade Judicial, tortura.
Afirmava que até mesmo nos países onde as penas eram mais cruéis, não havia diminuição da criminalidade, ou seja, mesmo ultrapassando a proporção a que determinado crime deveria ser imposta uma pena, o criminoso não se intimidava com o rigor da punição que viria a sofrer. Cessare Beccaria era defensor da proporcionalidade da pena, que a seu ver deveria guardar proporcionalidade entre o delito cometido pelo indivíduo e a sanção imposta e sua humanização. 
Quereis prevenir delitos? Fazei com que as leis sejam claras e simples. Quanto mais a pena for rápida e próxima do delito, tanto mais justa e útil ela será. 
 	Para Durkheim, a punição será dirigida para a devolução, àquele que foi prejudicado, daquilo que lhe foi tirado. É o direito restitutivo. “É melhor prevenir os crimes do que ter de puni-los. O meio mais seguro, mas ao mesmo tempo mais difícil de tornar os homens menos inclinados a praticar o mal, é aperfeiçoar a educação.” 
Podemos compartilhar da ideia de Beccaria, e consolidar parafraseando Pitágoras, dizendo que “Educando a criança, jamais será necessário punir o adulto”. 
Sem dúvidas a função simbólica do Direito Penal deve ser rechaçada. Cabe ao legislador estudar todas as formas capazes de contribuir para o combate da criminalidade. A criação desenfreada de normas e o endurecimento das penas não são capazes de deter a criminalidade. 
Beccaria era de família nobre, foi um político criminal, ele não foi um criador ele foi um sistematizador, leu Voltaire, Montesquieu, Diderot, Dalambert, Hume. Seu livro foi o mais vendido na Europa no século XVIII embora tenha sido proibido pela igreja entrou no index proibitório. 
Só publicar a lei no Diário Oficial não adianta, não vai resolver nada. Sustentou reformas sócio econômicas “Quer prevenir o crime reforme a sociedade”. Crimes de rua, estupro, roubo, furto etc... 
Depois do processo de redemocratização em 1985 no Brasil foi elaborado um novo ordenamento cheio de garantias e direitos fundamentais mais de eficácia extremamente restrita, a algumas classes sociais, maioria das pessoas hoje estão fora do estado democrático de direito. Podemos lembrar de Marx. 
O ECA prevê seis medidas educativas: advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade e internação. Recomenda que a medida seja aplicada de acordo com a capacidade de cumpri-la, as circunstâncias do fato e a gravidade da infração.
POLÍTICAS PÚBLICAS NO COMBATE A CRIMINALIDADE
Criminalidade e violência, entretanto, configuram-se como comportamentos inerentes à natureza humana. O que faz com que tais formas de conduta assumam um caráter de patologia social são suas elevadas taxas de ocorrência. É o que constata Durkheim (1895) ao afirmar que a existência do crime é fato social normal, embora sempre abominável e, logo, punível seu autor.
Diante do caos em que se encontra a sociedade, é importante se verificar onde nasce toda essa violência. É necessário descobrir as fontes da violência e, através dessa descoberta, combatê-las.
É dever do Estado promover a segurança pública, contudo, não se pode esquecer que a criminalidade não é questão que se deve ser combatida apenas pelo Estado, cabe compreender que a segurança pública não é apenas um direito posto ao cidadão pelo Estado, é também uma responsabilidade de todos. A segurança pública é a garantia dada pelo Estado de uma convivência social isenta de ameaça de violência, permitindo a todos o gozo dos seus direitos assegurados pela Constituição Federal, por meio do exercício do poder de polícia.
Cabe destacar, também, que a visão que o Estado tem de aplicar penas duras e encarcerar os que cometem atos ilícitos encontra-se defasada, uma vez que, diante do sistema carcerário brasileiro, o delinquente que cometeu um ilícito penal, que será posto em convívio com outros delinquentes e sem nenhuma ação do Estado para a sua recuperação, quando retornar ao convívio social, retornará mais violento e revoltado do que quando entrou.
Em 1989 a UNESCO colocou em prática um programa, “cultura de paz”, que tinha como objetivo a mobilização social para a contribuição de uma cultura de paz. Em 2000, com a Medida Provisória n.° 2029, surgiu o plano nacional de segurança pública, onde destaca a necessidade de a sociedade também lutar para que haja a diminuição da violência, no qual, Samuel Buzalo (2001, p. 52) destaca: “o grande desafio desse plano é justamente obter o apoio da população, porque se mais esse plano cair no descrédito, talvez se percam de forma irreversível as rédeas da segurança pública”.
A segurança pública é a garantia dada pelo Estado de uma convivência social isenta de ameaça de violência, permitindo a todos o gozo dos seus direitos assegurados pela Constituição Federal, por meio do exercício do poder de polícia.
A violência doméstica contribui em uma parcela para o crescimento da violência, como podemos citar, o exemplo de que o pai estará dando ao seu filho ao agredi-lo, este perpetuará a agressividade sofrida em sua própria casa.
Contudo, não se pode deixar a culpa da criminalidade somente para àqueles que são marginalizados, a sociedade também possui sua parcela de culpa nesse problema.
Portanto, podemos afirmar que com a participação direta da sociedade em conjunto com as instituições públicas será mais fácil combater a violência e a criminalidade, pois é somente através dessa união que se pode visualizar uma segurança pública eficaz. 
Foi com a promulgação da Carta Magna de 1988 que os direitos e garantias na seara criminal deram orientações, no ordenamento jurídico, para as políticas que seriam adotadas pelo Estado para combater a criminalidade.
As normas que foram catalogadas por esta reforma, encontram-se expressas e implicitamente dentro das garantias e direitos individuais e coletivos, e representam a forma com o Estado punirá o criminoso, suas limitações, evitando, com isso o excesso de punição estatal. A criminalidade é enfrentada com uma política criminal séria, definida e que tem o objetivo de punir aquele que desviou dos fins éticos e morais definidos pela sociedade e passou a transgredir e cometer atos tidos, no direito penal, como crime.
Não se combate a criminalidade somente com o direito penal. O direito penal tem extrema relevância para a solução dos ilícitos, dos problemas penais, já a criminalidade deve ser vista como mais uma das facetas de uma sociedade injusta, a qual induz os cidadãos ao crime.
Contudo, somente o direito penal poderá buscar meios e medidas diferenciadas para combater a criminalidade. Sobre o assunto, Jorge Henrique Shaefer Martins (1999, p. 176) afirma: 
A prisão é um mal necessário, mas deve-se resguardá-la para o criminoso que realmente é pernicioso à sociedade. Para aquele que, em liberdade, não sabe dela usufruir sem ocasionar danos a terceiros, sem provocar o temor por suas ações inescrupulosas.Em suma, para aquele que, livre, somente encontra estímulos para infringir as normas penais, atentando contra a ordem pública, sem dar atenção às consequências que poderão atingi-lo, como à própria sociedade
Num artigo publicado pelo site Fórum segurança, fica evidente que o direito penal não regula os comportamentos humanos, lá tem expresso que:
Evidentemente que o Direito Penal não regula todos os comportamentos sociais, bem como nem pode, sob pena de cair em descrédito. Reserva a esta Ciência o controle das atividades mais nocivas que um ser humano pode praticar em sociedade – Princípio do Direito Penal Mínimo. Contudo, a aplicação do Direito Criminal está jungida a uma teia organizacional composta de vários órgãos chamada de Sistema de Justiça Criminal.  O Sistema de Justiça Criminal deve ser considerado sob dois ângulos: “lato sensu” e “estricto senso”. O primeiro leva em consideração todas as medidas estatais preventivas da criminalidade, como a distribuição da renda, educação, saúde, saneamento básico, emprego etc., em síntese, tem enfoque sociológico. O segundo é o que interessa no momento. 
Não podemos nos esquecer de que políticas públicas são conjuntos de ações coordenadas pelo Estado, contudo, de suma importância, é a participação da sociedade para, com isso, se alcançar o fim almejado.
As políticas públicas devem ser implantadas para que o indivíduo marginalizado possa, através destas, seguir outro caminho que não a criminalidade, novas propostas de vida, através das políticas públicas, serão a eles oferecidas.
A construção da Categoria Crime
(ou o direito penal em ação)
Há uma variação da definição crime, que podemos dizer que acompanha as sociedades, sendo então, um conceito construído aos poucos, o conceito de crime é variável historicamente. 
SEGUNDO DURKHEIM, “um ato é criminoso quando ofende os estados fortes e definidos da consciência coletiva”, o que significa que, segundo Durkheim, quando um ato, seja qual for, não “ofende os estados fortes e definidos da consciência coletiva”, então não é um ato criminoso. Isto parece uma verdade de La Palisse, mas não é tanto assim.
Seguindo o raciocínio de Durkheim: se — por absurdo que possa ser — numa sociedade determinada, o homicídio não causar alarme social, ou seja, “não ofender os estados fortes da consciência coletiva”, então deixa de ser crime.
O campo do Direito Penal responsabiliza se por regular as condutas através do crime, este necessita da construção do crime em si e a escolha das consequências do crime, criação deste em norma e sanção.
É de prática do senso comum, associarmos o crime à violência, entretanto um crime não necessariamente irá causar um malefício à outra pessoa como grande maioria das pessoas pensa. Para fazermos um estudo sociológico, a dissociação deste vínculo há de ser concretizada, visto que nem todo crime há uso de violência.
Segundo, Alberto Silva Franco, “é extremamente prejudicial dizer que se existe crime, logo há violência. Violência é um conceito muito mais amplo do que o crime. A concentração das riquezas é um tipo de violência”. Esta foi uma parte de sua entrevista dada no ano de 2007, podemos perceber 	que mesmo após alguns anos, a conceito não teve grandes mudanças, e que o exemplo citado por Franco, ainda enquadra se na nossa realidade e de muitas outras sociedades. 
CF - Art. 5º, XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. A criminalização ou não de certos atos, práticas é apenas uma parte do processo de criminalização de um fato em qualquer crime. 
A definição de crime torna se uma disputa no processo penal, pois através de um procedimento normatizado que se inicia a notícia de ocorrência de um fato, é realizada por meio de atores do sistema jurídico. Todo caso vai abrir espaço para apuração real dos fatos, se aconteceu ou não, os elementos, se foi uma conduta planejada ou ocasional, se os possíveis autores eram dotados de capacidade segundo o direito, entre outros detalhes, tais questões são levadas a tona, para então conseguirem provar validade durante um processo. 
Os limites dos conceitos jurídicos não são objetivos, não são certos, são disputáveis mesmo que esteja dentro de certos limites. A rede dos conceitos dogmáticos funciona muito mais sendo o juiz ditando as regras do que como oráculo que nos dá as respostas.
Existe uma possibilidade de reinterpretar as normas aplicáveis e mudar o resultado da solução do momento, por isso deve-se ter cautela quando julgar algo como crime ou apontar um criminoso antes que o caso tenha terminado considerando um equivoco segundo o sistema jurídico.
O crime não é um fato da natureza sobre o qual recai a norma penal que estava esperando que o fato acontecesse, a ocorrência do fato é o que da inicio a toda a construção, mas quando falamos em crime tratamos de uma categoria construída por meio de um processo regulado em uma serie de instituições, em que manejam conjunto de normas, princípios, doutrinas por meio de raciocínios que seguem uma logica da argumentação jurídica onde articulam tudo isso com a discussão do caso e das suas circunstâncias concretas por sua vez essas produzem a denominada produção da “verdade”, que o processo penal alcança uma definição sobre o a ocorrência do crime e sobre seu autor.
Portanto, a construção da categoria crime constitui o próprio mecanismo do direito penal em ação, quando não observa o processo como que envolve disputas, atores e instituições que se articulam de uma determinada forma e estão inscritas em circunstâncias bastante concretas temos a tendência de achar que o crime é um fato do mundo, que existe por si só na natureza, como se fosse auto evidente e não sujeito a disputa.
A prisão conhecida também como pena aflitiva é a forma como as maiores partes dos sistemas penais ocidentais usaram como a consequência jurídica de que um determinado crime aconteceu e quem foi seu autor.
A PENA PREVINE A VIOLÊNCIA?
Quando concluímos que houve um crime, aplicamos de forma natural e quase automática uma pena que tem como base a inflição de sofrimento ao autor da conduta criminal. Para decidirmos se ocorreu ou não um crime, necessitamos de um debate longo e que possuiu inúmeras articulações entres vastos elementos, tornando assim esse processo complexo. O direito penal organizou esse debate em forma de teorias do delito, é por meio delas que são dados os elementos e definições de crime, justificando o processo de imputação.
Porém temos inúmeros estudiosos que veem esse tipo de pena (que gera sofrimento ao agente), como Doob e Webster que nos trazem a demonstração que a pena ou a severidade não tem relação de forma direta com a redução das taxas de criminalidade presentes na sociedade. Pois segundo esses dois doutrinadores a criminalidade resulta da falta de condições básicas de vida para a maioria dos indivíduos que compõem nossa sociedade. Fazendo com que essas pessoas ingressem no mundo do crime em busca de melhoria de vida, já que a sociedade não lhes dá chance de melhorar de vida na forma lícita. 
 Ismar Viana diz que "A tão almejada paz social depende mais da virtude do cidadão do que da força normativa. A lei, por si só, não é forte o suficiente para fazer com que o "homem do mal" venha a se tornar um "homem de bem". É um ato de ingenuidade, portanto, imaginar que o rigor legal, tão somente, tenha o condão de intimidar o delinquente e, consequentemente, reduzir o número de crime [...]”.
Existem também aqueles que acham que a pena não pode ser mais leve do que o crime cometido como o estudioso Roberto Motta “A sentença do bandido não pode ser mais leve do que a sentença da vítima. Isso não é Lei de Talião, a que diz “olho por olho, dente por dente”. É apenas Justiça, com ‘J’ maiúsculo”.
Logo podemos concluir que é necessário procurar outros modos de levar aqueles que cometem delitos à justiça, e não apenas as penas que afligem sofrimento aos condenados. Como Beccaria já nos disse ser “mais fácil, mais útil, prevenir do que reprimir” (1775,p. 77). Destacamos três tipos distintos de prevenção: a primária, secundária e a terciária. 
A prevenção primária possui objetivo principal o combate dos fatores indutores da criminalidade antes que eles influenciem os indivíduos a cometerem tais atos. Ou seja, neutraliza o delito antes que ele ocorra. García-Pablos de Molina (2006, p. 399), preceitua que “educação e socialização, casa, trabalho, bem-estar social e qualidade de vida são âmbitos essenciais para uma prevenção primária”. Para que esse tipo de prevenção surta efeito é necessário um grande investimento de longo e médio prazo na área social.
A prevenção secundária consiste em medidas voltadas aqueles indivíduos que possuem uma predisposição á cometerem delitos. Ela acontece em curto e médio prazo, já que age onde e quando ocorre o crime. Portanto, busca erradicar o caráter que potencializa o crime em grupos de risco. 
Já a prevenção terciária é voltada pra população que está encarcerada onde busca evitar a reincidência do crime. Opera através de programas de reabilitação e ressocialização, e amparando as famílias dos presos. Prega que além de ter a separação do individuo da sociedade, é necessário buscar formas de integra-lo novamente na sociedade. O essencial seria que os três tipos prevenção atuassem em conjunto, pois cada um opera em um campo especifico da sociedade com o intuito de diminuir o nível de criminalidade social.

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