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TCC MICHEL (1)

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UNIVERSIDADE DA REGIÃO DE JOINVILLE – UNIVILLE
CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA:
APLICAÇÃO NOS TRIBUNAIS SUPERIORES NO BRASIL
 JEAN MICHEL SOARES BOMFIM
Orientador(a): Prof. Hsc. Karina Camargo Boaretto Lopes
Joinville (SC) novembro de 2017
 
UNIVERSIDADE DA REGIÃO DE JOINVILLE – UNIVILLE
CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA
 O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 
 Aplicação nos Tribunais Superiores no Brasil
 JEAN MICHEL SOARES BOMFIM
Monografia submetida à
 Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE,
como requisito parcial à obtenção
do título de Bacharel em Direito.
Orientador(a): Prof. Hsc. Karina Camargo Boaretto Lopes
Joinville (SC), novembro 2017
Meus agradecimentos
A minha professora orientadora Karina Camargo Boaretto Lopes
Por ter me auxiliado na conclusão
Desse projeto.
Dedico esta obra:
Aos meus filhos Miguel e Pedro
A Deus por me dar a oportunidade de viver, aprender e
Buscar ser alguém mais humilde todos os dias.
As minhas irmãs Vanessa e denise
A minha Avó Nira, 
A meu avô Adilson e sua nobre esposa
In memoriam
A meu pai Jocenilson Bomfim, 
A minha Avó Terezinha Piech, que já.
A todos os que esqueci de mencionar
 mas que fizeram, fazem ou futuramente
Faram parte da minha vida.
“Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha, é porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra! Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha e não nos deixa só porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós. Essa é a mais bela responsabilidade da vida e a prova de que as pessoas não se encontram por acaso”
(Charlie Chaplin).
PÁGINA DE APROVAÇÃO
 A presente monografia de conclusão de Curso de Direito da Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE, elaborada pelo(a) graduando(a) JEAN MICHEL SOARES DE BOMFIM, sob o título Princípio da Insignificância: Sua aplicação nos Tribunais Superiores do Brasil, foi submetida em _____de __________de 2017 à Banca Examinadora, obtendo a média final _____ (______________________________________), tendo sido considerada aprovada.
Joinville, _____ de _________________ de 2017.
_________________ __________________ ___________________
Prof. Prof. Prof.
DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora, o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Joinville(SC), _____ de _________________ de 2017
Jean Michel Soares de Bomfim
Graduando
ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CRFB		Constituição da República Federativa do Brasil
MP		Ministério Público
OAB		Ordem dos Advogados do Brasil
SC		Estado de Santa Catarina
STF		Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
TJSP Tribunal de Justiça de São Paulo
TJSC Tribunal de Justiça de Santa Catarina
TJDF Tribunal de Justiça do Distrito Federal
TJRS Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
TJPR Tribunal de Justiça do Paraná
HC Habeas Corpus
RHC Recurso em Habeas Corpus
Resp Recurso Especial
RE Recurso Extraordinário
UNIVILLE	 Universidade da Região de Joinville
CP Código Penal
CPM Código Penal Militar
CPP Código de Processo Penal
MPAS Ministério da Previdencia Social
ECA Estatuta da Criança e do Adolecente
CNPJ Cadastro Nacional de Pessoa Juridica
AUTORIZAÇÃO DE PUBLICAÇÃO PARA FINS CIENTÍFICOS
Autorizo a publicação do presente trabalho, para fins unicamente científicos, na rede mundial de computadores, sítio da Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE, sem quaisquer ônus a esta.
Declaro, ainda, ter sido informado de que a presente autorização não me foi colocada de forma obrigatória e que a aprovação do presente conteúdo perante a Banca Examinadora não depende daquela.
Joinville (SC), _____ de _____________ de 2017
 Jean Michel Soares de Bomfim
Graduando
SUMÁRIO 
RESUMO	.
INTRODUÇÃO	
Capítulo 1
BREVE ESTUDO DAS ORIGENS DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
1.1. PANORAMA HISTÓRICO	15
1.2. A ORIGEM DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NO BRASIL	16
1.3.PRINCÍPIOS RELACIONADOS	17
1.3.1. Princípio da igualdade e liberdade	19
1.3.2. Princípio da legalidade	19
1.3.3.Princípio da intervensão mínima	20
1.3.4. Princípio da Fragmentariedade e subsidiariedade	21
1.3.5. Princípio da proporcionalidade	22
1.3.6. princípio da adequação social	23
1.4. O direito penal do autor e o estado de direito	24
Capítulo 2
O PRINCÌPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
2.1. CONCEITO	26
2.2. REQUISITOS PARA SUA CARACTERIZAÇÃO	28
2.2.1. Mínima ofensividade da conduta do agente	29
2.2.2. Ausência de periculosidade social na ação	29
2.2.3. Reduzido grau de reprovabilidade da ação	30
2.2.4. Inexpressividade da lesão jurídica provocada	30
2.3. NATUREZA JURÍDICA	31
2.4. VALORAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA	31
2.5. RECONHECIMENTO DA CONDUTA INSIGNIFICANTE	32
2.6. POLITÍCA CRIMINAL	34
2.7. OBJEÇÕES AO PRINCÍPIO	35
2.8. A INDETERMINAÇÃO SOCIAL	36
2.9. INSIGNIFICÂNCIA EM ALGUNS RAMOS DO DIREITO	37
2.9.1 Insignificância previdenciária	37
2.9.2 Insignificância em crimes ambientais	40
2.9.3. Insignificância na lei de antitóxicos	41
2.9.4 Insignificância tributaria	42
2.9.5.Insignificância nos atos infracionais	43
2.9.6. PRINCÌPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NA FASE INQUISITORIAL	44
2.9.6.1 Da autoridade policial	44
2.9.6.2 Da discricionariedade da autoridade policial	46
2.9.6.3 Da prisão em flagrante	46
Capítulo 3
O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NOS TRIBUNAIS SUPERIORES
3.1. O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NA JURISPRUDÊNCIA DO STF	48
3.2. O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NA JURISPRUDÊNCIA DO STJ	51
3.2.1. Condutas reprovável	51
3.2.2. Reicidência	52
3.2.3 Inaplicabilidade	53
3.2.4 Insignificância em furto famélico	54
3.2.5 Jurisprudência em matéria tributária	55
3.3.O DIREITO PENAL DO AUTOR NO DISCURSO DOS TRIBUNAIS SUPERIORES A RESPEITO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 	57
CONCLUSÃO	59
REFERÊNCIAS	60
REFERÊNCIAS LEGISLATIVAS	63
REFERÊNCIAS JURISPRUDÊNCIAIS	64
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo averiguar o discurso dos Tribunais Superiores (Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal) a respeito do princípio da insignificância penal, bem como identificar se tal discurso é compatível com o Estado Democrático de Direito. Para tanto, nesse trabalho, após uma breve abordagem histórica a respeito do tema, são pontuados outros princípios que possuem relação direta com aquele em estudo. Isto porque, não há no ordenamento jurídico brasileiro uma norma expressa que regularmente sua aplicabilidade, ficando ou critérios a cargo da jurisprudência. Ainda que a temática aqui abordada já tenha sido amplamente debatida, o tema, o tema é relevante uma vez que evidenciando-se na jurisprudência um discurso que viola garantias fundamentais e legitima o Direito penal doautor o debate precisa permanecer forte a fim de garantir o respeito das liberdades, através do estabelecimento de uma proteção jurídica. Assim para alcançar os objetivos almejados, foi realizada pesquisa bibliográfica, com a compilação de teses doutrinárias e posicionamentos judiciais.
Palavras-chave: Direito Penal; Princípio da insignificância; Estado Democrático de Direito.
 INTRODUÇÃO
 O Princípio da Insignificância é o tema tratado no Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação do curso de direito da Universidade da Região de Joinville-UNIVILLE
 Trata-se de um tema extremamente interessante, de grande relevância para os aplicadores do Direito, em especial àqueles que trabalham com o direito penal e o processo penal, sejam advogados, promotores, defensores ou magistrados, bem como de grande importância para os réus, no processo penal (aqueles que sofrem a angústia de um processo demorado, o qual, muitas das vezes precisa chegar à última instância, para se ter reconhecida a sua insignificância).
 Neste trabalho pretende-se conceituar o princípio da insignificância, fazer um apanhado histórico, estudar sua correlação com outros princípios, abordar os ramos do direito nos quais tem sido aplicado o princípio da insignificância, buscando-se verificar como tem sido aplicado o princípio da insignificância no processo penal brasileiro, se tem sido adotado e aplicado aos casos dos processos penais em nosso país.
 Assim, o que é o princípio da insignificância, como tem sido sua evolução, em quais delitos se aplicam ou não, como tem sido o aceite e aplicação por parte dos aplicadores do direito são algumas das questões que procuraremos responder no decorrer do trabalho. 
 O foco principal desse trabalho é analisar a aplicação de tal princípio nos tribunais superiores do Brasil, como em alguns Tribunais de Justiça da federação, e principalmente seus requisitos e sua aplicação no Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal.
 
 
 CAPITULO 1
BREVE ESTUDO DAS ORIGENS DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
1.1.PANORAMA HISTÓRICO
 Não há nos registros históricos um concenso definitivo sobre a origem do princípio da insignificância , para muitos o princípio da insignificância tem origem no direito romano, como bem explica José Henrique Guaracy Rebelo “
A mencionada maxima juridica anonima, da idade média, eventualmente usada na forma MINIMIS NON CURAT PROETOR, significa que um magistrado deve desprezar as causas consideradas insignificantes para se concentrar não causas realmente inadiaveis [1: REBÊLO, José Henrique Guaracy. Princípio da insignificância: interpretação jurisprudencial. p. 31.]
 Apesar da sua origem romana ser dada praticamente como certa para alguns doutrinadores há dúvidas se esse princípio era utilizado no direito Romano antigo.
 O doutrinador Ivan Silva argumenta de forma clara que existem duas origens do princípio da insignificância, destacando duas correntes. A primeira corrente afirma que tal princípio teve origem no direito romano antigo como já foi citado no início. Já a segunda entende que o princípio da insignificância teve origem através do pensamento jusfilosóficos dos iluministas e estaria ligado diretamente ao princípio da legalidade.
 Para Ribeiro Lopes, um dos maiores doutrinadores penais do Brasil, o princípio da insignificância teve sua origem no direito romano antigo, porém foi com a ideia iluminista do princípio , que vimos sua influência nos dias atuais, tendo seu auge na Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789.”O artigo 5 revela que a lei senão as açoes nocivas a sociedade, oque cria um carater seletivo para o direito penal, e o desprezo as ações insignificantes.”[2: LOPES, Maurício Antônio Ribeiro. Princípio da Insignificância no Direito Penal. 2° ed. p. 43.]
 Para a segunda vertente liderada pelo doutrinador Guzmán Dalbora o princípio da insignificância , não teve sua origem romana como afirna a grande maioria doutrinária, e que a minimis non curat proetor SEGUNDO Guzmán , não existia no direito romano antigo, e ainda que tal princípio está mais ligado ao pensamento liberal dos humanistas do renascimento do que ao pensamento autoritário dos Romanos antigos.
 (...)Que o juiz se despreocupe do quantitativamente insignificante responde melhor ao sensato e arrazoado juizo de quem sabe-ou intui-que o instrumento do coação juridica não pode estar para o serviço de qualquer assunto, senão só para os de alguma monta, aqueles que possuamum significado juridicamente relevante.É isto, me parece enquadre-se melhor com o pensamento liberal que com um autoritario.[3: DALBORA, José Luis Gusmán. La insignificância: especificación y reducción valorativas en elámbito de lo injusto típico. Revista Brasileira de Ciências Criminais. p. 41]
 O princípio da insignificância só foi introduzido na Doutrina Penal no ano de 1964 por intermédio de Claus Roxin na Alemanha, como bem afirma Odone Sanguiné.
O recente aspecto histórico do Princípio da Insignificância é inafastávelmente , devido a Claus Roxin, que, no ano de 1964, o formulou como base de validez geral para a determinação do injusto, a partir de considerações sobre a máxima latina mínima non curat proetor[4: SANGUINÉ, Odone. Observações sobre o princípio da insignificância. Fascículos de Ciências Penais. p.39.]
 Para Mauricio ribeiro Lopes, o princípio da insignificância de alastrou na Europa provavelmente durante e após a Segunda Guerra Mundial, devido a situação econômica em que o continente europeu se encontrava na época, podendo se dizer que os furtos ocorridos naquela época eram por estado de necessidade.[5: LOPES, Mauricio Antônio Ribeiro. Princípio da Insignificância no Direito Penal. 2°ed, p.42]
1.2. A ORIGEM DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NO BRASIL
 No Brasil o primeiro doutrinador a defender in verbis o princípio da insignificância foi Francisco Assis Toledo:
Segundo o princípio da insignificância, que se revela por inteiro pela sua própria denominação, o direito penal, por sua natureza fragmentária, só vai até onde seja necessário para a proteção do bem jurídico. Não deve ocupar-se de bagatelas. Assim, no sistema penal brasileiro, por exemplo, o dano do art. 163 do Código Penal não deve ser qualquer lesão à coisa alheia, mas sim aquela que possa representar prejuízo de alguma significação para o proprietário da coisa; o descaminho do artigo 334, parágrafo 1°, d, não será certamente a posse de pequena quantidade de produto estrangeiro, de valor reduzido, mas sim a de mercadoria cuja quantidade ou cujo valor indique lesão tributária, de certa expressão, para o Fisco; o peculato do artigo 312 não pode ser dirigido para ninharias como a que vimos em um volumoso processo no qual se acusava antigo servidor público de ter cometido peculato consistente no desvio de algumas poucas amostras de amêndoas; a injúria, a difamação e a calúnia dos artigos 140, 139 e 138, devem igualmente restringir-se a fatos que realmente possam afetar a dignidade, a reputação, a honra, o que exclui ofensas tartamudeadas e sem consequências palpáveis; e assim por diante.
 Apesar de ser defendido pela ampla maioria dos doutrinadores brasileiros, há no Brasil alguns mais conservadores que o consideram “muito liberal”, segundo alguns autores não é fácil medir a valorização do bem, para dar-lhe proteção jurídica, e a adoção do princípio da insignificância seria muito perigosa, pois algo que é insignificante para um pode não ser necessariamente insignificante para outro.
 Apesar da ampla abordagem jurisprudencial a respeito do princípio da insignificância, a conceituação não se encontra numa dogmática jurídica, como bem nos ensina Ribeiro LopesNenhum instrumento legislativo ordinário ou constitucional o define ou o acata formalmente, apenas podendo ser inferido na exata proporção em que aceitam limites para a interpretação constitucional e das leis em geral. É de criação exclusivamente doutrinária e pretoriana o que se faz justificar estas como autenticas fontes de direito[6: LOPES, Mauricio Antônio Ribeiro. Princípio da Insignificância no Direito Penal. 2°ed.p.45.]
1.3. PRINCÍPIOS RELACIONADOS AO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
A palavra princípio vem do latim princípium e tem significação variada, podendo dar a ideia de começo, início, origem, ponto de partida, ou, ainda, a ideia de verdade primeira, que serve de fundamento, de base para algo.
Nesse sentido, in verbis, lição de Alexy:[7: ALEXY, Robert. Colisão e ponderação como problema fundamental da dogmática dos direitos fundamentais. Palestra proferida na Fundação Casa de Ruy Barbosa, Rio de Janeiro, em 10.12.1998.]
 (...) princípios são normas que ordenam que algo seja realizado na medida possível, dentro das possibilidades jurídicas e reais existentes. Portanto, os princípios são mandamentos de otimização, que estão caracterizados pelo fato de que podem ser cumpridos em diferente grau e que a medida devida de seu cumprimento não só depende das possibilidades reais, mas também das jurídicas. O âmbito das possibilidades jurídicas é determinado pelos princípios e regras opostos
Para Harger princípios são:
 Normas positivadas ou implícitas no ordenamento jurídico com um grau de generalidade e abstração elevado e que em virtude disso, não possuem hipóteses de aplicação pré determinadas, embora exerçam um papel de prepondência em relação as demais regras, que não podem contraria-los, por serem as vigas mestras do ordenamento jurídico e representarem os valores positivados fundamentais da sociedade.[8: HARGER, Marcelo. Princípios constitucionais do processo administrativo .p. 16]
 
 Ivan Luiz da Silva fala sobre princípios jurídicos citando outro autor, De Plácido e Silva que nos explica a origem etimológica da palavra princípio:
No sentido jurídico notadamente no plural, quer significaras normas elementares ou os requisitos primordiais instituídos como alicerce de alguma coisa. E, assim, princípios revelam o conjunto de regras e preceitos, que se fixaram, para servir de norma a toda espécie de ação jurídica, traçando assim, a conduta a ser tida em qualquer operação jurídica. Desse modo , exprimem sentido, mostram a própria razão fundamental de ser das coisas jurídicas, convertendo-os em perfeitos, axiomas. Princípios jurídicos, sem dúvida, significam pontos básicos que servem de ponto de partida ou de elementos vitais do próprio direito .E nesta acepção, não se compreendem somente os fundamentos jurídicos, legalmente instituídos, mas todo axioma jurídico derivado de outra cultura jurídica universal, compreendem, pois, os fundamentos da ciência jurídica, onde se firmaram as normas originarias, ou as leis cientificas do direito, que traçam as noções em que se estrutura o próprio direito. Assim nem sempre os princípios inscrevem-se nas leis, mas porque servem de base ao direito, são tidos como preceitos fundamentais para a pratica e prestação do direito[9: De PLÁCIDO E SILVA, Vocabulário jurídico, p. 447. apud Silva, op. cit., p.28.]
 Portanto, o princípio da insignificância surge para evitar que os tipos penais abarquem os comportamentos que não provocam prejuízos relevantes para a sociedade.
1.3.1 Princípio da igualdade e liberdade
O legislador originário de 1988, consagrou tais princípios no artigo 5, caput.
 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes
Para Marcelo Novelino: O princípio da isonomia tem por finalidade impedir discriminações, distinções e privilégios arbitrários, preconceituosos ou injustificáveis 
 O Sábio doutrinador Mauricio Lopes fala sobre a necessidade da busca da igualdade material, no princípio da insignificância:
Na aplicação da lei penal cabe ao Magistrado suplantar os limites da isonomia formal e adequar a respectiva sanção à conduta individualmente considerada, atingindo assim grau de individualização da reprimenda que corresponda a real culpabilidade do agente, recuperando assim o valor de igualdade real entre os acusados[10: LOPES, Maurício Antônio Ribeiro. Princípio da insignificância no Direito Penal. 2°ed, p. 56.]
A aplicação do Princípio da Insignificância possibilita a proteção ao valor constitucional supremo da liberdade. Tais princípios visam reduzir a incidência de medidas constritivas tendentes a suprimir a liberdade individual, pois a pena, em muitas situações, evidencia-se desproporcionalmente mais maléfica que o delito praticado.[11: GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Geral. Volume 1 p.47.]
1.3.2 Princípio da legalidade
 Diferentemente do princípio da insignificância, o princípio da legalidade está expresso já no artigo primeiro do Código Penal: "Art. 1º Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal"[12: BRASIL. Vade Mecum: Saraiva, 2013, p. 523.]
 Todavia com a evolução desse princípio chegou-se a ideia de que não há crime sem que exista grave prejuízo relevante a um bem jurídico protegido, essa expressão Lopes define em latim como: nuilum crimem nu/la poena sine iuria.[13: LOPES, Maurício Antônio Ribeiro. Princípio da insignificância no Direito Penal. 2°ed, p. 43]
 Justamente por haver essa extensividade do princípio da legalidade, que ele passou a ser relacionado com o princípio da insignificância, objetivando dessa forma que em casos concretos tais condutas não cheguem ao judiciário e assim não o congestionem com causas de apelo ínfimo.
 Há na doutrina alguns autores que defendem a inaplicabilidade do princípio da insignificância por não haver previsão legal.
 Já Silva descreve de forma clara tal princípio:
As garantias que este princípio propicia ao cidadão também são uma forma de segurança. Com a atividade estatal limitada aos mandantes legais e com o aumento crescente, absurdo até, da interferência do estado na sociedade civil, a previsibilidade de suas atitudes são da maior importância. Se o cidadão não tiver um mínimo desta previsibilidade relativamente ao estado, estará vivendo uma situação absurda, em que um gigante pode invadir seu quintal a qualquer momento com a força de um elefante e a astucia de uma raposa, vale dizer, viverá uma situação de angustia
 Para Bastos o princípio da legalidade assim se define:
O princípio da legalidade mais se aproxima de uma garantia constitucional do que de um direito individual, já que ele não tutela, especificamente, um bem da vida, mas assegura, ao particular, a prerrogativa de repelir as injunções que lhe sejam impostas por uma outra via que não seja a da lei [14: BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. p. 25]
 Não há como se duvidar que o princípio da legalidade é uma garantia de todos nós, cidadãos, pois qualquer ato do Estado somente terá validade se formalizado.
 
1.3.3 Princípio da intervenção mínima
 Tal princípio ocupa função importante que assegura as garantias individuais previstas na Constituição. 
 Por esse princípio o direito penal deve-se abster de intervir em causas consideradas irrelevantes, e se preocupar com causa que tenha relevância jurídico penal, mantendo assim um caráter fragmentário e subsidiário.
 O princípio da intervenção mínima tem um papel precioso em um Estado Democrático de Direito, pois evita que os autores de crimes considerados insignificantes sejam julgados e condenados porque sua conduta estava descrita em um tipo penal incriminadora. 
 Segundo DOTTI:
Visa restringir a incidência dasnormas incriminadoras aos casos de ofensas aos bens jurídicos fundamentais, reservando-se para os demais ramos do ordenamento jurídico a vasta gama de ilicitudes de menor expressão, em termos de dano ou perigo de dano. A aplicação do princípio resguarda o prestígio da ciência penal e do magistério punitivo contra os males da e exaustão e da insegurança que a conduz a chamada inflação legislativa.[15: Dou, Renê Anel. Alternativas Para o Direito Penal e o Princípio da IntervençãoMínima. p 52]
 Nesse Contexto o princípio da intervenção mínima visa em regra limitar e em alguns casos eliminar o poder do legislador, visto que o princípio da legalidade apenas coloca barreiras ao arbítrio judicial, porém não impede que o estado através do legislador com base no princípio da reserva legal, crie leis consideradas imperfeitas.
 
1.3.4 Princípio da Fragmentariedade e da subsidiariedade
 O princípio da Fragmentariedade decorre de outros três importantes princípios, o da legalidade como explicarei mais adiante, o da intervenção mínima, e da lesividade, tem como base que somente condutas relevantes e que atentem contra bem jurídico relevante, necessitam dos rigores e punições do direito penal. Sobre este assunto vale citar Rogério Greco:
O caráter fragmentário do Direito Penal significa, em síntese, que uma vez escolhidos aqueles bens fundamentais, comprovada a lesividade e a inadequação das condutas que os ofendem, esses bens passarão a fazer parte de uma pequena parcela que é protegida pelo Direito Penal, originando-se, assim, a sua Fragmentariedade.
 
 Tal citação nos leva a entender que o princípio da Fragmentariedade serve como base ao princípio da insignificância, pois nem todos os atos ilícitos devem ser punidos com rigor pelo direito penal, devendo o magistrado, ou outro agente judiciário avaliar a conduta e a lesividade caso a caso.
 Na lição de Mañas:
“O princípio da insignificância surge justamente para evitar situações dessa espécie, atuando como instrumento de interpretação restritiva do tipo penal, com o significado sistemático e político-criminal de expressão da regra constitucional do nulium crinmen sine lege, nada mais faz do que revelar a natureza subsidiária e fragmentária do direito penal.”[16: MA1AS, Vico. O Princípio da Insignificância como Excludente no Direito Penal.p.21.]
 Sendo de natureza fragmentaria o direito penal, deve se ocupar apenas de punir condutas que realmente ameacem bem jurídicos tutelados considerados relevantes.
1.3.5 Princípio da proporcionalidade
 Está relacionado a não aplicação do excesso, tendo como principal função no ordenamento jurídico brasileiro coibir as práticas excessivas e desnecessárias, tal princípio vem para evitar punições excessivas que venham a prejudicar ou ferir princípios fundamentais básicos, o princípio da proporcionalidade, é sem dúvida nenhuma um dos fundamentos do princípio da insignificância, visto que sua aplicação deve incidir nas condutas penalmente insignificantes fazendo com que a punição seja de fato proporcional ao bem jurídico lesado. 
 Ivan Silva cita em sua obra uma citação de Sanguiné:
O fundamento do princípio da insignificância está na ideia de proporcionalidade que a pena deve guardar em relação a gravidade do crime. Nos casos de ínfima afetação ao bem jurídico, o conteúdo de injusto, é tão pequeno que não subsiste nenhuma razão para o palhos ético da pena. Ainda a mínima pena aplicada seria desproporcional a significação social do fato.[17: SANGUINÉ, Odone. Observações sobre o princípio da insignificância. Fascículos de CiênciasPenais. p. 135]
 Nesta linha de pensamento afirma Maurach:[18: Segundo as palavras de MATAS.]
“Aplicar um recurso mais grave quando se obtém o mesmo resultado através de um mais suave: seria tão absurdo e reprovável criminalizar infrações contratuais civis quanto cominar ao homicídio tão só o pagamento das despesas funerárias”
 Através desse princípio ligado fundamentalmente ao princípio da insignificância, podemos concluir sem sombra de dúvidas que o princípio da proporcionalidade vem para realmente satisfazer a justiça, sem prejuízo a institutos fundamentais.
 Leciona Brucci:
O princípio da razoabilidade pode ser definido como aquele que exige proporcionalidade, justiça e adequação entre os meios utilizados pelo Poder Público, no exercício de suas atividades - administrativas ou legislativas -, e os fins por ela almejados, levando-se em conta critérios racionais e coerentes.[19: BRUCCI, Maria Paula Daliari. O princípio da razoabilidade em apoio à legalidade.Caderno de Direito Constitucional e Ciência Política. Revista dos Tribunais, p. 173, jul/set.]
 Para ilustrar o princípio da proporcionalidade é importante destacar o julgado do Superior Tribunal de Justiça no “Caso dos Minhocuçus”, onde é importante a citação do voto do Ministro Fernando Gonsalves:
O ato dos réus em apanhar quatro minhocuçus não tem relevância jurídica. Incide aqui o princípio da insignificância, porque a conduta dos acusados não tem poder lesivo suficiente para atingir o bem jurídico tutelado pela Lei n° 5.197/67. A pena por ventura aplicada seria mais gravosa do que o dano provocado pelo ato delituoso.[20: STJ, CC 2032/MG, Rei. Min. Fernando Gonçalves, DJU 23 .08.99.]
 Proporcionalidade refere-se ao equilíbrio entre as partes, praticamente tendo dois lados a serem analisados. O princípio da proporcionalidade exige que se faça um juízo de valor sobre a relação
1.3.6 Princípio da adequação social 
 Tal teoria tem origem alemã com WELZEL, surgiu para ser um princípio geral de interpretação das normas penais, esse princípio de encaixa perfeitamente em legislações defasadas de reforma ou atualização legislativa, quando as normas são ultrapassadas pela mudança daquela sociedade em questão, excluindo condutas penalmente atípicas, configurando a ação um comportamento tolerado.
 Adequação social são aquelas condutas socialmente aceitas que apesar de estarem descritas no nosso código penal, não são passiveis de punição, como por exemplo a mão que fura a orelha da filha, tal conduta é considerada uma lesão corporal leve porém não é algo passível de punição, tal princípio é fundamental para tirar da esfera punitiva do direito penal condutas que são aceitas, seja pelos nossos costumes, folclore, ou cultura.
 Nesta linha de pensamento temos como referencial a citação de Klaus Roxin em sua obra Politica criminal e sistema jurídico penal, traduzida por Greco:
Interpretação restritiva, que realize a função de Magna Carta e a natureza fragmentaria do direito penal, que mantenha íntegro somente o campo de punibilidade indispensável para a proteção do bem jurídico. Para tanto, são necessários princípios regulativos como a adequação social introduzida por WELZEL, que não é elementar do tipo, mas certamente um auxilio de interpretação para restringir formulações literais que também abranjam comportamentos socialmente suportáveis. Aqui pertence igualmente o chamado princípio da insignificância que permite excluir logo de plano lesões de bagatela da maioria dos tipos (...). Se reorganizássemos o instrumentário de nossa interpretação dos tipos a partir destes princípios, daríamos uma significativa contribuição para diminuir a criminalidade em nosso pais. [21: ROXIN, Claus. Política Criminal e Sistema Jurídico Penal. Trad. Luís Greco. p 54.]
 É certo que tal princípio não é estático, como também não é a sociedade. Assim, é possível que determinadas condutas que já foram entendidas com atípicas deixem de ser toleradas.
1.4.O DIREITO PENAL DO AUTOR E O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
 O direito penal do autor como será exposto nessa trabalho, mostra uma violação a legalidade, visto que, pune o autor do fato pelo oque ele é, e não pelo fato ou crime praticado por esse agente, vale destacar que muitas vezes, apesar de parecer ilegal, certas condutas são amparadas pelo ordenamento jurídico,tal conduta era usada por exemplo na Alemanha Nazista, que durante o holocausto perseguia Judeus, pelo simples fato de serem Judeus, mesmo que essas pessoas não tivessem cometidos nenhum tipo de crime ou contravenção.
Com o Direito Penal de autor a personalidade passa a ser criminalizada, e não a conduta. Não se despreza o fato, o qual, no entanto, tem apenas significado sintomático: presta-se apenas como ponto de partida ou como pressuposto da aplicação da pena. Neste cenário, leva em consideração a vida do autor do fato, e não somente a conduta por ele ali praticada, como bem leciona FERRAJOLI:
Não admite normas que criem ou constituem ipso, jure as situações de desvio sem nada prescrever, mas somente regras de comportamento que estabelecem uma proibição,quer dizer uma modalidade deôntica, cujo conteúdo não pode mais ser mais do que uma ação. FERRAJOLI 2006 P.39[22: FERRAJOLI, Luigi. Direito Penal e Razão: teoria do garantismo penal​ p 32.]
Para FERRAJOLI, o direito penal do autor adquiriu caráter discriminatório, pois considera o agente mais importante que sua conduta.
CAPITULO 2
O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
2.1. CONCEITO 
 O princípio da insignificância tem como principal função afastar a tipicidade penal da realidade do fato, ou seja, em outras palavras tem a função de não considerar condutas penais insignificantes como penalmente punitivas, por esse motivo sua aplicação consiste na absolvição do réu e não apenas na atenuação de sua pena.
 Sua aplicação decorre de uma conduta insignificante não deve ocupar espaço e tempo da justiça, por não caracterizar lesão significativa, e que por isso mesmo não gere prejuízo relevante nem a ordem social nem a vítima.
 O Excelentíssimo ex Ministro do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello se manifestou acerca do princípio da insignificância no RHC STF 107264:
“O princípio da insignificância -que deve ser analisado em conexão com os postulados da Fragmentariedade e da intervenção mínima do estado em matéria penal-tem o sentido de excluir ou de afastar a própria tipicidade penal, examinada na perspectiva de seu caráter material. Doutrina, tal postulado- que considera necessária, na aferição do relevo material da tipicidade penal, a presença de certos valores, tais como (a) a mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma periculosidade social da ação,(c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada -apoiou-se, em seu processo de formulação teórica no reconhecimento de que o caráter subsidiário do sistema penal reclama e impõe, em função dos próprios objetivos por ele visados, a intervenção mínima do poder público. O postulado da insignificância é a função do direito penal. ”De minimis non curat proetor”, - O sistema jurídico há de considerar a relevantíssima circunstancia de que a privação da liberdade e a restrição de direitos do individuo somente se justificam quando estritamente necessárias a própria proteção das pessoas, da sociedade e de outros bens jurídicos que lhes sejam essenciais, notadamente naqueles casos em que os valores penalmente tutelados se exponham a dano, efetivo ou potencial, impregnado de significativa lesividade.[23: RHC STF 107264, acesso em 4 de junho de 2017]
 Outro Ministro do STF na época também se manifestou em outro julgamento de HABEAS CORPUS no HC STF 109277 foi Ayres Britto:[24: HC STF 109277, acesso em 10 de junho de 2017.]
O tema da insignificância penal diz respeito à chamada “legalidade penal”, expressamente positivada como ato-condição da descrição de determinada conduta humana como crime, e, nessa medida, passível de apenamento estatal, tudo conforme a regra que se extrai do inciso XXXIX do art. 5º da CF, literis: “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. É que a norma criminalizante (seja ela proibitiva, seja impositiva de condutas) opera, ela mesma, como instrumento de calibração entre o poder persecutório-punitivo do Estado e a liberdade individual.
Destaca-se também a citação de Alberto Silva Franco, em sua obra Código penal e sua interpretação jurisprudencial, define o princípio da insignificância da seguinte forma:
Um princípio bem próximo ao da adequação social é o da insignificância. Alguns autores chegam até a dizer que este se inclui naquele. Roxin ('Politica Criminal y Sistema del Derecho Penal', Bosch, Barcelona, 1972), por exemplo, afirma que às condutas socialmente admissíveis, 'pertence o denominado princípio da insignificância que permite na maior parte dos tipos excluir desde logo dano de pouca importância: mau trato não é qualquer tipo de lesão à integridade corporal, mas apenas um que seja relevante; analogamente, indecorosa, no sentido do Código Penal é somente a ação sexual de uma certa importância; injuriosa, do ponto de vista delitivo, é tão somente a lesão grave à pretensão social de respeito. Como 'força' deve ser considerado unicamente um obstáculo de certa importância, igualmente também a ameaça deve ser 'sensível' para passar o umbral da criminalidade'. Não obstante o posicionamento de Roxin, força é convir que o princípio da insignificância atua paralelamente ao princípio da ação socialmente adequada, mas com ele não se confunde. Distingue um do outro a circunstância de que o princípio da insignificância 'não pressupõe a total aprovação social da conduta, mas apenas uma relativa tolerância dessa conduta, por sua escassa gravidade' (Mir Puig, ob. cit., p. 46)[25:  FRANCO. Alberto Silva, Código penal e sua interpretação jurisprudencial , parte geral, p. 45., ]
 Cabe dizer que o princípio da insignificância pode e deve ser utilizado no momento da ocorrência ou da interpretação dos fatos, usando critérios como razoabilidade, e princípios como o da proporcionalidade chegando até a completa destituição da reprovabilidade do fato excluindo-se a tipicidade e isentando o agente de punição.
 Mirabete e Fabbrini citam ensinamentos de Luiz Flavio Gomes acerca dos requisitos da incidência do princípio da insignificância:
(a) escassa reprovabilidade; (b) ofensa a bem jurídico de menor relevância; (c) habitualidade; (d) maior incidência nos crimes contra o patrimônio e no trânsito, além de uma característica de natureza político-criminal, qual seja, a da dispensabilidade de pena do ponto de vista da prevenção geral, se não mesmo sua inconveniência do ponto de vista da prevenção especial.[26: MIRABETE, Julio Fabbrini e FABBRINI, Renato N. Manual de direito penal – parte geral, arts. 1º a 120 do CP. p. 105.]
O princípio da insignificância tem como principal objetivo tirar crimes de conteúdo insignificantes do direito penal, fazendo com que tal ramo do direito se ocupe com causas relevantes. Nesta linha de pensamento nos ensina Ackel:
O princípio da insignificância pode ser conceituado como aquele que permite ínfimar a tipicidade de fatos que por sua inexpressividade, constituem ações de bagatela, desprovida de reprovabilidade, de modo a não merecerem valorização da norma penal, exaurindo pois, como irrelevantes a tais ações, falta o juízo de censura penal(ACKEL FILHO,1988)” [27: ACKEL FILHO, Diomar. O princípio da insignificância no direito penal. Revista de Jurisprudênciado Tribunal de Alçada de São Paulo. p. 72-77]
 
 Nessa última citação, o autor fala que apenas condutas criminosas relevantes devem ser inseridas no Código Penal, e que fatos tidos como insignificantes devem ser interpretados apenas pela jurisprudência, apesar dessa posição, muitos autores entendem que tipificando o Princípio da Insignificância, sua aplicação seria de maior abrangência. 
2.2 REQUISITOS PARA SUA CARACTERIZAÇÃO
O princípio da insignificância não está tipificado de modo expresso no ordenamento jurídico brasileiro. Porém, apesar dafalta de normatização, o princípio em questão precisa observar uma série de critérios estabelecidos em requisitos de ordem subjetiva, que autorizam a sua aplicação como modo de utilização da excludente de tipicidade, tais requisitos são costumeiramente citados pela doutrina, e pela Jurisprudência tanto do STJ, quanto do STF, cabe nesse contexto citar o RHC 24.326/MG, o qual em sua síntese diz:[28: MIRABETE, Julio Fabbrini e FABBRINI, Renato N. Manual de direito penal – parte geral, arts. 1º a 120 do CP.p. 105]
Nesse sentido, em determinadas hipóteses, aplicável o princípio da insignificância, que, como assentado pelo Ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC nº 84.412-0/SP, deve ter em conta a mínima ofensividade da conduta do agente, a nenhuma periculosidade social da ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica provocada[29: BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso em Habeas Corpus 24326/MG. Matéria criminal. Penal – Crimes contra o Patrimônio – Furto. Relator: Min. Paulo Gallotti. 6ª. Turma. j. 17.03.2009. ]
No mesmo julgamento o então Ministro do STJ Paulo Gallotti afirma:
(...) o reconhecimento de tais pressupostos demanda o minucioso exame de cada caso sob julgamento, não se mostrando possível nem razoável a criação de estereótipos, tal como a fixação antecipada de valor aquém do qual se estaria diante da incidência do princípio, que é de caráter excepcional, mostrando-se de rigor a verificação cuidadosa da presença desses elementos para evitar a vulgarização da prática de delitos[30: Idem.]
 Esses requisitos ainda causam muita discussão, pois, está cada vez mais longe da realidade, causando discordância entre seus aplicadores.
2.2.1. Mínima ofensividade da conduta do agente
 Tal requisito não trata especificadamente do dano sofrido pela vítima, o que realmente importa é saber caracterizar o grau de ofensividade da conduta cometida pelo agente, não importando saber a lesão no determinado momento.
 Neste requisito somente é justificado a intervenção do estado se houver um concreto ataque a um bem jurídico tutelado que seja relevante.
2.2.2. Ausência de periculosidade social na ação
 A análise do segundo requisito para a caracterização do princípio da insignificância, mostra a premissa de que a sociedade em geral não pode de maneira nenhuma sofrer algum risco com a conduta, dessa forma será analisada a conduta do agente e verificado se há ou não periculosidade social que possa o isentar da penalização. 
2.2.3. Reduzido grau de reprovabilidade da conduta do agente
 Neste terceiro requisito o comportamento do agente deve ser considerado insignificante ou inexpressível, diante da mínima caracterização da aceitação de sua conduta, de modo que suas atitudes sejam passiveis de compreensão e de não reprovação.
Segundo Ivan Luiz da Silva: “Uma vez identificada à insignificância do desvalor da ação e desvalor do resultado, tem-se determinada à conduta penalmente insignificante em razão da sua irrelevância jurídico-penal”..[31: SILVA, Ivan Luiz da. Princípio da insignificância no direito penal. p. 160.]
2.2.4.Inexpressividade da lesão jurídica provocada
 Em análise ao último requisito para a concessão da aplicação do princípio da insignificância está à inexpressividade da lesão jurídica provocada, onde, para que haja seu reconhecimento, este não deverá ofender ao interesse jurídico tutelado
 Assim, conforme doutrina do professor Luiz Flávio Gomes:
Se a conduta for insignificante são exigidos os três critérios concernentes à conduta, quais sejam: ausência de periculosidade social da ação, mínima idoneidade ofensiva da conduta e falta de reprovabilidade da conduta. Caso a insignificância ocorra quanto ao resultado aplica-se somente o requisito concernente ao resultado, qual seja: inexpressividade da lesão jurídica causada. Agora, se a insignificância ocorrer tanto na conduta quanto no resultado, os quatros requisitos se fazem necessários cumulativamente.[32: GOMES, Luiz Flávio. Princípio da insignificância e outras excludentes da tipicidade.p. 16.]
 Esse último requisito, mostra que a inexpressividade da lesão jurídica provocada, deve ser aplicada pelo magistrado, caso a insignificância ocorra quanto ao resultado, agora se ocorrer a insignificância pela conduta e pelo resultado, é necessário que o juiz aplique os quatro requisitos.
2.3. NATUREZA JURIDICA
Não há como negar, crime está tradicionalmente ligado a ideia de legalidade, pois para haver crime tem que haver uma norma que o incrimine e o pune, porém, ocorre que ao tutelar a proteção de um bem o Estado acaba por caracterizar condutas graves e condutas insignificantes da mesma forma, criando uma desproporção entre a conduta irrelevante e o valor ou bem tutelado, criando assim desigualdade.
 Com o tempo passou-se a entender que o direito não poderia usar apenas critérios lógicos para descrever e punir condutas criminosas, mas sim deveria haver uma valoração no caso concreto, dessa forma a tipicidade passou a ser interpretada e dividida em duas, a tipicidade formal e a tipicidade material.
 De tal modo foi constatada a necessidade da aplicação nos casos insignificantes da tipicidade material, que é ao meu ver bem mais justa na descrição da conduta do agente.
 Dessa forma quando há a violação de um bem jurídico tutelado porém sem dano e sem ofensa a vítima e a sociedade, deve ser aplicado a excludente de tipicidade, entendida em sentido material, assim concluímos que para ser penalizada a conduta deve além de se adequar a literalidade formal fornecer dano significante ou perigo de dano significante para a vítima e para a sociedade.
 
2.4. VALORAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
 O princípio da insignificância incide na não penalização criminal de condutas onde o bem jurídico ofendido é considerado irrelevante, não ocasionando prejuízo sério a vítima nem a sociedade como um todo.
 Como não há em nosso ordenamento jurídico atual nenhuma lei que o descreva, há muita divergência e questionamentos na hora de definir o que é um valor considerado insignificante.
 A doutrina dominante no Brasil alega que para ser insignificante o bem jurídico ofendido deve ser absolutamente desprezível, incapaz de causar qualquer forma de prejuízo a vítima.
 Alguns doutrinadores entendem que é considerado ínfimo o bem com valor no teto do salário mínimo vigente no país na época da ocorrência do fato, como veremos mais adiante, em algumas jurisprudências de tribunais superiores em nosso país.
 Para ilustrar o quanto é majoritário o uso do salário mínimo como base para caracterização da insignificância cito um julgado do Superior Tribunal de Justiça.
HABEAS CORPUS IMPETRADO EM SUBSTITUIÇÃO A RECURSO PRÓPRIO. NÃO
CABIMENTO. IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA. AMEAÇA E TENTATIVA DE FURTO
QUALIFICADO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. NÃO INCIDÊNCIA. DELITO
QUALIFICADO, PACIENTE REINCIDENTE E VALOR DO BEM QUE ULTRAPASSA 10%
DO VALOR DO SALÁRIO MÍNIMO VIGENTE À ÉPOCA DO DELITO. PENAS-BASE
APLICADAS ACIMA DOS PISOS LEGAIS. MAUS ANTECEDENTES QUE JUSTIFICAM O
AUMENTO ESCOLHIDO. RESPEITO À DISCRICIONARIEDADE VINCULADA DO
JULGADOR. CONFISSÃO E REINCIDÊNCIA ESPECÍFICA. COMPENSAÇÃO INTEGRAL.
POSSIBILIDADE. PENAS REDUZIDAS. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO.
HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.( HC 412828 / RJ, Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, 24/10/2017)[33: STJ. HC412828/RJ Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, J. 24/10/2017]
 A de se observar que o salário mínimo como quantum caracterizador é utilizado de forma geral, porém em crimes tributários, por exemplo, esse valor é muito maior, como valores que na maioria dos casos não é insignificante para a maioria das pessoas comuns.
2.5 RECONHECIMENTO DA CONDUTA INSIGNIFICÂNTE
Durante anos o direito penal não tinhacritérios que caracterizavam a conduta insignificante, isso ocorre pelo fato de ainda não haver a positivação desse princípio em nosso ordenamento jurídico, sendo que hoje em dia, tais critérios não são vinculantes e por isso dependem da análise do caso concreto.
 Para Ivan da Silva, deve se observar o modelo clássico de determinação para se reconhecer a conduta penalmente insignificante:[34: SILVA, Ivan Luiz da Silva. Princípio da Insignificância no direito penal. p.150.]
 Trata-se de uma avaliação dos índices de desvalor da ação e desvalor do resultado da conduta praticada, como fito de se determinar o grau quantitativo-qualitativo da lesividade em relação ao bem jurídico atacado”. Desta forma, para o referido autor “é a avaliação da concretização dos elementos da conduta praticada que indicará o que é significante ou insignificante, fazendo incidir ou não o Direito Penal
Nesta mesma linha de pensamento não posso deixar de citar Tavarez em sua obra “Teoria do Injusto Penal”.[35: TAVARES, Juarez. Teoria do injusto penal. . p. 238]
Ao determinar as características do comportamento proibido, o legislador procede a uma avaliação negativa sobre a conduta e o resultado por ela produzido. Esta dupla avaliação é denominada de desvalor do ato e do resultado.
 Na Doutrina de Saguiné, o índice desvalor da ação:
Refere-se ao grau de probabilidade da conduta para realizar o evento na concreta modalidade lesiva assumida pelo agente”. Já o índice desvalor do resultado é obtido “da importância do bem jurídico atacado e da gravidade do dano provocado.[36: SANGUINÉ, Odone. Observações sobre o princípio da insignificância. Fascículos de CiênciasPenais. p. 135]
 Importante notarmos na doutrina de Saguiné, que para ser configurado um fato insignificante deve ser concorrente insignificante a conduta e o resultado.
 Para Luiz Flavio Gomes,com o princípio da insignificância o magistrado deixou de ter que apenas aplicar a norma penal legal, adquirindo assim mais valoração as suas decisões: ”O Princípio da Insignificância tem tudo a ver com a moderna posição do juiz, o qual não mais está bitolado pelos parâmetros abstratos da lei, mas sim pelos interesses em jogo em cada situação concreta”[37: GOMES, Luiz Flávio. Princípio da insignificância e outras excludentes da tipicidade.p.19.]
 Ou seja, diante da atual realidade do judiciário, que está sobrecarregado e de um sistema prisional deficitário e desumano, aplicar o princípio da insignificância é ao meu ver a única e mais concreta forma de se fazer a justiça.
 Apesar de tutelar e proteger bens jurídicos, nem todos esses bens merecem ser protegidos pela ordem penal, pois são irrelevantes e insignificantes para a sociedade.
 
2.6. POLÍTICA CRIMINAL
Há na doutrina vários conceitos de política criminal, podemos conceitua-la como “O conjunto dos procedimentos através dos quais o corpo social organiza as respostas ao fenômeno criminal”. Para Fragoso a política criminal é:[38: DELMAS-MARTY, Mireille. Modelos e movimentos de política criminal. p. 24.]
A atividade que tem por fim a pesquisa dos meios mais adequados para o controle da criminalidade, valendo-se dos resultados que proporciona a criminologia, inclusive através da análise e crítica do sistema punitivo vigente[39: FRAGOSO, Heleno Claudio. Lições de direito penal – Parte geral p. 18. ]
Para a professora Bianchini em “Política Criminal: Direito de punir do estado e finalidade do direito penal”, define tal política:
O Direito Penal tem tido uma função simbólica, qual seja, manter um nível de tranquilidade na opinião pública, fundado na impressão de que o legislador se encontra em sintonia com as preocupações que emanam da sociedade. Criam-se, assim, novos tipos penais, incrementam-se penas, restringem-se direitos sem que, substancialmente, tais opções representem perspectivas de mudança do quadro que determinou a alteração (ou criação) legislativa. Produz-se a ilusão de que soluções foram encaminhadas.[40: BIANCHINI, Alice. Política Criminal, Direito de punir do Estado e finalidade do Direito Penal.Materia da 1ª. Aula da Disciplina Política Criminal, ministrada no Curso de Pós-Graduação LatoSensu Televirtual em Ciências Penais – Universidade Anhanguera-Uniderp – REDE LFG.]
 
Hoje, temos claramente uma política criminal repressiva no Brasil, onde o ideal seriamos ter uma política preventiva. Essa tal política repressiva decorre do chamado populismo penal, difundido em grande parte pela mídia em nosso, pais, que prega o direito penal máximo, não admitindo inclusive a excludente de tipicidade nos casos considerados insignificantes, essa máxima penalização leva ao crescimento da criminalidade, a superlotação carcerária e a segregação dos agentes.
Para algumas pessoas aplicar o princípio da insignificância geraria um retrocesso no direito penal, aumentando a sensação de impunidade.
Carlos Mañas define tal sentimento:[41: MAÑAS, Carlos Vico, op. cit.]
Tal temor é fruto do desconhecimento da natureza fragmentária e subsidiária do direito penal, pois a proposta não é que as condutas lesivas de pouca relevância passem a ser consideradas lícitas. A ideia é apenas retirá-las da área de influência do direito penal, transferindo a solução do problema para outros ramos do ordenamento jurídico ou mesmo outros instrumentos de controle social.
A insignificância ganha notoriedade no direito penal, em razão do fracasso das penas como forma de socializar o réu. Na verdade, em muitas vezes, inserir o indivíduo nesse sistema carcerário corrompe mais, pelo que a sanção penal perde seu objetivo: punir o delito e evitar novas incursões típicas.
2.7. OBJEÇÕES AO PRINCÍPIO
 Embora a maioria esmagadora dos doutrinadores defendam o princípio da insignificância há alguns que defendem a inaplicabilidade da sua aplicação.
 A grande objeção está na dificuldade de caracterizar critérios precisos na hora de definir uma conduta insignificante, outra objeção está na aplicação do princípio em condutas que o legislador considera, apesar de pouca relevância, criminosas, pois isso geraria a chamada Incongruência sistemática.
 Há ainda alguns que defendem a não aplicação de tal princípio por não estar devidamente formalizado, legislado. Esses doutrinadores mais formalistas defendem que aplicação de tal princípio geraria uma sensação de insegurança na população.
Apesar de haver críticas quanto a aplicação do princípio da insignificância, não há como o excluir do nosso direito penal pois é uma forma político criminal de descriminalização sistemática. 
 Ensina Mañas que:
É inegável que a utilização do conceito indeterminado ou vago pode implicar risco para a segurança jurídica que deve proporcionar o sistema, até porque este tem por objetivo básico impedir a arbitrariedade[42: MAÑAS Carlos Vico op.cit.pg.59]
Todavia, deve ser entendida a aplicabilidade do princípio da insignificância inserido na dogmática penal; na origem do crime, fundamentando em seu próprio conceito os fins a que se destina o direito penal, com vistas aos bens jurídicos e os interesses sociais, de forma a enxergar a realidade social.
2.8. A INDETERMINAÇÃO SOCIAL
 Por proporcionar um certo risco a segurança jurídica com fundamento no risco da arbitrariedade, é que se evita a conceituação indeterminado ou vago.
 A ausência de previsão legal é uma das maiores críticas a aplicabilidade de tal princípio, na medida que o princípio da insignificância não encontra previsão legal sendo apenas segundo muitos autores apenas “criação doutrinária”, cria na visão de alguns uma profunda insegurança jurídica.
 Segundo Bemfica:
O princípio da insignificância é muito liberal, e procura esvaziar o direito penal, não é fácil medir a valoração do bem para dar-lhe segurança jurídica e sua adoção é perigosa, mormente porque a medida que se restringe o conceito de moral , mais fraco se torna o direito penal que nem sempre deve acompanhar as mutações da vida social[43: BEMFICA.Francisco Vani. Da teoria do crime..72.]
Apesar de ainda haver na doutrina objeção ao princípio da insignificância, a jurisprudência vem cada vez mais consolidando tal instituto, pois a lei deve sim se adequar a realidade social de seu, atenuando desigualdades, e fazendo o direito material acima do formal.
2.9. INSIGNIFICÂNCIA EM OUTROS RAMOS DIREITO
 Como pode ser observado nos tópicos anteriores o princípio da insignificância está relacionado não apenas com o código penal em si mas com todos os sub-ramos do direito, quer seja de maneira direta que de maneira indireta, como por exemplo em questões penais previdenciárias, patrimoniais, tributarias, em questões fiscais, delitos de transito, lei de drogas, e no direito ambiental.
2.9.1. Insignificância previdenciária
 A Lei 9.983/2000, incluiu no código penal os crimes de apropriação indébita previdenciária (CP art.168-A) e sonegação de contribuição previdenciária (CP art.337-A), antes tais dispositivos eram tratados em leis separadas, contam com a previsão do perdão judicial, estando facultado ao juiz deixar de aplicar a pena restritiva de liberdade, ou em alguns casos aplicar apenas a pena de multa, desde que o agente tenha bons antecedentes e seja réu primário .Assim dispõe a lei.:
Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social previdenciária e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
I - omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de informações previsto pela legislação previdenciária segurados empregado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a este equiparado que lhe prestem serviços; (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
II - deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da contabilidade da empresa as quantias descontadas dos segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de serviços; (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
III - omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações pagas ou creditadas e demais fatos geradores de contribuições sociais previdenciárias: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
§ 1o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara e confessa as contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
§ 2o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
I - (VETADO) (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
II - o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
§ 3o Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha de pagamento mensal não ultrapassa R$ 1.510,00 (um mil, quinhentos e dez reais), o juiz poderá reduzir a pena de um terço até a metade ou aplicar apenas a de multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
§ 4o O valor a que se refere o parágrafo anterior será reajustado nas mesmas datas e nos mesmos índices do reajuste dos benefícios da previdência social. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)[44: BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal]
 Por conta desse dispositivo inserido no código penal, alguns consideram desnecessário aplicar o princípio da insignificância pois já consideram que a própria lei já o fez formalmente.
 A de enaltecer a sabia lição de Francisco Dias Teixeira:[45: TEIXEIRA, Francisco Dias. Crimes contra a Previdência Social em face da Lei n° 9.983/00. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_20/artigos/FranciscoDias_rev20.ht 15]
Poder-se-á objetar essa interpretação dizendo que, se a insignificância prejudica a sua própria tipificação, até um determinado grau, sequer poderá haver ação penal, porque crime não existe. O argumento é válido sob o aspecto da coerência da teoria da insignificância. Mas, de qualquer sorte, ainda que assim se entenda, o certo é que esse “grau” até onde o fato seja considerado insignificante deve estar abaixo da linha estabelecida, pela lei, como máximo para o perdão judicial. Do contrário, estar-se-ia revogando a lei, que confere significância penal ao fato, exigindo a respectiva ação (porque, para que o Judiciário perdoe, o Ministério Público tem que processar), pela teoria, que preconiza a falta de justa causa para o processo.
 
 Outros doutrinadores entendem que tal crítica não é válida, extraindo-se dos tribunais uma verdadeira desarmonia, quanto a fixação do valor mínimo para sua caracterização, apesar das críticas não restam dúvidas sobre a possibilidade de aplicação do princípio da insignificância nos crimes previdenciários.
 Explicita o art. 4. da Portaria MPAS n o 4.910, de 4 de janeiro de 1999:
Art. 40 A Dívida Ativa do INSS de valor até R$5.000,00 (cinco mil reais), considerada por CGC/CNPJ, não será ajuizada, exceto quando, em face do mesmo devedor, existirem outras dívidas, caso em que estas serão agrupadas para fins de ajuizamento. (BRASIL. Ministério da Previdência e Assistência Social, Portaria MPAS n° 4.910, de 4 de janeiro de 1999. Dispõe sobre o parcelamento simplificado da dívida ativa do Instituto Nacional do Seguro Social)[46: BRASIL. Ministério da Previdência e Assistência Social, Portaria MPAS n° 4.910, de 4 de janeiro de 1999.disponivel em: http://sislex.previdencia.gov.br/paginas/66/MPAS/1999/4992.htm]
 Segundo a jurisprudência, se a quantis não for descontada nem repassada ao INSS aplica-se o princípio da insignificância.[47: SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Recurso Especial n° 261403. Relator: Min. Gilson Dipp. Brasília, DF. 16 de outubro de 2001.]
Vale dizer que o Supremo Tribunal Federal tem aplicado o princípio da insignificância no crime de descaminho, quando o valor sonegado pelo agente for inferior a R$10.000,00(dez mil reais). Para arquivamento sem baixa de distribuição:
Lei nº 10.522 de 19 de Julho de 2002
Dispõe sobre o Cadastro Informativo dos créditos não quitados de órgãos e entidades federais e dá outras providências.
Art. 20. Serão arquivados, sem baixa na distribuição, mediante requerimento do Procurador da Fazenda Nacional, os autos das execuções fiscais de débitos inscritos como Dívida Ativa da União pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional ou por ela cobrados, de valor consolidado igual ou inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais). (Redação dada pela Lei nº 11.033, de 2004)
§ 1o Os autos de execução a que se refere este artigo serão reativados quando os valores dos débitos ultrapassarem os limites indicados.
§ 2o Serão extintas as execuções que versem exclusivamente sobre honorários devidos à Fazenda Nacional de valor igual ou inferior a 100 Ufirs (cem Unidades Fiscais de Referência).
§ 2o Serão extintas, mediante requerimento do Procurador da Fazenda Nacional, as execuções que versem exclusivamente sobre honorários devidos à Fazenda Nacional de valor igual ou inferior a R$ 1.000,00 (mil reais). (Redação dada pela Lei nº 11.033, de 2004)
§ 3o O disposto neste artigo não se aplica às execuções relativas à contribuição para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço.
(Revogado pela Medida Provisória nº 651, de 2014)
(Revogado pela Lei nº 13.043, de 2014)
§ 4o No caso de reunião de processos contra o mesmo devedor, na forma do art. 28 da Lei no 6.830, de 22 de setembro de 1980, para os fins de que trata o limite indicado no caput deste artigo, será considerada a soma dos débitos consolidados das inscrições reunidas. (Incluído pela Lei nº 11.033, de 2004)
Apesar de haver alguma resistência o princípio da insignificância já é uma das mais importantes formas de excludente de tipicidade, antes ligadaexclusivamente ao direito penal e cada vez mais chegando a outros ramos e sub-ramos do direito.
2.9.2 Insignificância em crimes ambientais
 Segundo a lei 9.605 de 1998 dispõe que sobre penas nos crimes ambientais. Há um certo entendimento que em matéria ambiental não podemos aplicar o princípio da insignificância visto que o meio ambiente ao sofrer uma lesão tem seu ecossistema prejudicado direta e indiretamente, não existindo uma conduta lesiva ambiental insignificante, porem assim como em outros ramos o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça, estão aplicando tal princípio desde que estejam preenchidos todos os requisitos.
 O artigo 34 da Lei 9.605/98 tipifica como crime, a proibição da pesca em certos períodos interditos durante o ano. Vejamos:
Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente:
Pena - detenção de um ano a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem:
I - pesca espécies que devam ser preservadas ou espécimes com tamanhos inferiores aos permitidos;
II - pesca quantidades superiores às permitidas, ou mediante a utilização de aparelhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos;
III - transporta, comercializa, beneficia ou industrializa espécimes provenientes da coleta, apanha e pesca proibidas[48: BRASIL. Lei nº 9.605, de 12 de Fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Brasília: 1998.]
 Porém não seria razoável apesar da lei ambiental ser bastante rigorosa aplicar tal penalidade a um pescador que por exemplo pesca uma quantidade muito pequena de peixes, e em julgados assim que o Supremo Tribunal Federal, tem aplicado o princípio da insignificância.
2.9.3 Insignificância na lei de antitóxicos 
 
 Na época da criação da lei 6.368/76, a jurisprudência tinha dificuldade em relacionar a conduta criminosa descrita na lei com o princípio da insignificância, com a nova lei 11.343/06 a jurisprudência ficou melhor estruturada passando a admitir pequenas quantidades como insignificantes.[49: GOMES, Luiz Flavio. Princípio da insignificância e outras excludentes de tipicidade. 3.ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 137]
 Diz a Lei, em seu art. 33:
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar
:
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.
§ 1 Nas mesmas penas incorre quem: importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas;
II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas
III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.
§ 2 Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300
(trezentos) dias-multa. 
§ 3 Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28.
§ 4 Nos delitos definidos no caput e no § 1 deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons o antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.[50: BRASIL Lei 11.343/2006.disponivel em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm]
 
 Com isso, vê-se plenamente aplicável ainda, sob os mesmos fundamento anteriores (da Lei n 6.367/76), o princípio da insignificância, com referência à ofensa ao bem jurídico tutelado (desvalor da conduta e resultado), posto que está afastada tipicidade, ou seja, exclui o crime e não a penalização com base em mera desproporção entre o desvalor da conduta e a pena.
 2.9.4. Insignificância tributaria
 Quanto à insignificância na ordem tributária, atualmente, tanto o Superior Tribunal de Justiça quanto o Supremo Tribunal Federal “firmaram entendimento no sentido de que, nas hipóteses em que o valor do crédito tributário for inferior ao montante previsto para o arquivamento da execução fiscal.
A previsão está disposta nos arts. 1º, I, e 2º, da Portaria nº 75, de 22 de março de 2012, alterada pela Portaria MF nº 130, de 19 de abril de 2012. 
Art. 1º Determinar:
I - a não inscrição na Dívida Ativa da União de débito de um mesmo devedor com a Fazenda Nacional de valor consolidado igual ou inferior a R$ 1.000,00 (mil reais); e
II - o não ajuizamento de execuções fiscais de débitos com a Fazenda Nacional, cujo valor consolidado seja igual ou inferior a R$ 20.000,00 (vinte mil reais).
(...)
Art. 2º O Procurador da Fazenda Nacional requererá o arquivamento, sem baixa na distribuição, das execuções fiscais de débitos com a Fazenda Nacional, cujo valor consolidado seja igual ou inferior a R$ 20.000,00 (vinte mil reais), desde que não conste dos autos garantia, integral ou parcial, útil à satisfação do crédito. (Redação dada pela Portaria MF nº 130, de 19 de abril de 2012 ).[51: BRASIL. Portaria MF nº 75, de 22 de março de 2012. Dispõe sobre a inscrição de débitos na Dívida Ativa da União e o ajuizamento de execuções fiscais pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. Alterada pela Portaria MF nº 130, de 19 de abril de 2012.]
 A contudo divergência entre os antecedentes, alguns doutrinadores entendem que o fato de existirem antecedentes análogos não implica no afastamento do princípio da insignificância, já para outros ter antecedentes é causa sim para o afastamento de tal princípio.
 Portanto, o agente ao praticar alternativamente o crime de modo a iludir no todo ou em parte imposto devido de valor ínfimo, ou praticando o contrabando, importando ou exportando mercadoria proibida que seja considerada de baixo valor, sobre estas condutas, entende-se de forma dominante que é possível a incidência do princípio da insignificância.
2.9.5. Insignificância nos atos infracionais
Apesar do ato cometido pelo menor ser formalmente tipificado no Código Penal como crime ou Contravenção Penal, tanto STJ quanto STF tem se mostrado flexível na fixação das penalidades e em alguns casos aplicado o princípio da insignificância também nos chamados Atos infracionais.
 O Superior Tribunal de Justiça, já possui entendimento pacificado sobre o assunto:
A jurisprudência desta Corte tem pacificamente enunciado a possibilidade de aplicação do princípio da insignificância ao fato cujo agente tenha praticado ato infracional equiparado a delito penal sem significativa repercussão social, lesão inexpressiva ao bem jurídico tutelado e diminuta periculosidade de seu autor[52: BRASIL. RIO GRANDE DO SUL. Superior Tribunal de Justiça, HC 186.728, 5ªT, Relator: Min. Napoleão Nunes Maia Filho, 2011.]
Gomez leciona:
A incidência do princípio da insignificância nos atos infracionais(tal como reconhecidos no ECA) é tese totalmente correta. Na verdade, o ECA não descreve (em regra) os delitos, apenas reconhece como atos infracionais os delitos e as contravenções penais. Ora, tudo quando se aplica para tais injustos penais automaticamente vale para os atos infracionais[53: GOMES, Luiz Flavio. Princípio da insignificância e outras excludentes de tipicidadep.158.]
Ainda neste contexto Gomes e Maria Sousa dizem:
Se a prática infracional estiver de acordo com os requisitos impostos ao reconhecimento do mencionado princípio, vislumbra-se também hipótese de falta de interesse de agir do Ministério Público na ação socioeducativa. Em outras palavras, presentes a mínima ofensividade da conduta do menor, a ausência de periculosidade social da ação, o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento, bem como a inexpressividade da lesão ao bem juridicamente tutelado (que são os critérios orientadores do princípio da insignificância, consoante o HC 84.412-SP, do STF), a conduta do menor infrator é insignificante. Logo, materialmente atípica.[54: GOMES, Luiz Flávio. SOUSA, Áurea Maria Ferraz de Sousa. Ato infracional: admite o princípio da insignificância. disponível em: https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/2314456/artigo-do-dia-ato-infracional-admite-o-principio-da-insignificancia.]
Se a conduta infracional do agente preencher os requisitos estabelecidos pelo Supremo Tribunal Federal, a de declarar a conduta do agente atípica, visto que faltará ao Ministério Público o interesse de agir.
2.9.6. Aplicação do princípio da insignificância na faze inquisitorial
Está certo, que obedecendo os requisitos mínimos, o princípio da insignificância deve ser aplicado pelo magistrado, a discussão agora é saber, se a autoridade policial, no inquérito ou na fase pré inquisitorial, pode de oficio aplicar o princípio da insignificância. 
2.9.6.1. Da autoridade policial
 Entende-se por autoridade policial os delegados de polícia de carreira, para os quais são dados poderes de polícia judiciaria, como está tipificado na Constituição Federal de 1988 que diz:
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.[55: BRASIL. Vade Mecum: Saraiva. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 52.]
 O artigo 69 da lei 9.099/95 também menciona tal figura:
Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima. (Redação dada pela Lei nº 10.455, de 13.5.2002))[56: BRASIL. Vade Mecum: Saraiva. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 1612.]
 Entretanto cabe ao delegado, como bem dispõe o artigo 4º do Código de Processo Penal, apurar as infrações penais e sua autoria:
Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria. (Redação dada pela Lei nº 9.043, de 9.5.1995)
Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função.[57: BRASIL. Vade Mecum: Saraiva. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 607.]
2.9.6.2. Da discricionariedade da autoridade policial
 É bom lembrar antes de iniciar mais esse tópico que discricionariedade significa liberdade de atuação dentro dos limites da lei.
 Brutti leciona que:
O Delegado de Polícia é o primeiro receptor do caso em concreto, sendo-lhe compelido pelo ordenamento jurídico agir com cautela e prudência ante a íntima proximidade das suas atribuições para com o direito fundamental da liberdade da pessoa humana.[58: BRUTTI, Roger Spode. O princípio da insignificância frente ao poder discricionário do delegado de polícia. Disponível em: http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=1463 ]
 Embora se fale em poder discricionário, as decisões dos delegados de polícia devem se basear no princípio do livre convencimento motivado, que funciona corno forma de limitar o poder das autoridades policiais.
 Atinente a isso Meirelles diz:
Tanto nos atos vinculados corno nos que resultam da faculdade discricionária do Poder Público, o administrador terá de decidir sobre a conveniência de sua prática, escolhendo a melhor oportunidade e atendendo a todas as circunstâncias que conduzam a atividade administrativa ao seu verdadeiro e único objetivo - o bem comum[59: MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro.  p. 205.]
 Com isso fica claro que a autoridade policial não está obrigada em a lavrar autos de prisão em flagrante, pois o delegado possui discricionariedade diante do caso concreto.
2.9.6.3. Da prisão em flagrante
 Depois do direito á vida, talvez o direito á liberdade é o direito mais precioso consagrado em nossa Constituição, que após anos de censura pela ditadura, ansiava pela liberdade, Consagrado no artigo 5º, caput, está no rol de direitos fundamentais a vida digna de qualquer cidadão, lecionam alguns autores que o direito a liberdade está acima até do direito a vida, pois de nada adianta a vida sem a liberdade.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:[60: BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.]
Nas condutas insignificantes, levando-se em consideração a mínima ofensividade do ato, não se justifica nem a condenação muito menos o encarceramento prévio.
A princípio, utilizando-se do livre convencimento motivado, a discricionariedade do poder de polícia, bem como, para resguardar possível reforma de sua decisão, deverá o delegado tornar por termo todas as circunstâncias e elementos que envolvem o suposto delito, indagando a possível vítima, se detectável, se tem interesse em requer a lavratura de flagrante , reduzindo a termo os requerimentos dos interessados, para após, devidamente fundamentando, indeferir o pedido, deixar em liberdade o conduzido e informar a quem interessar, em caso de inconformismo, que caberá recurso para a autoridade que faça as vezes do Chefe de Polícia.[61: .]
 Brutti afirma que:
O desiderato da custódia cautelar é retirar de circulação sujeitos que, pela sua conduta irregular, oferecem risco à sociedade. Em síntese, o risco, inexoravelmente, precisa abalar a ordem pública, quer seja pela intensidade da ofensa, quer seja pela reiteração de um conjunto de ofensas. Há, destarte, que tratar-se desigualmente os desiguais. Assim, pois, encarcerar-se, por meio da prisão em flagrante, o autor de um homicídio ou de um roubo é atitude equânime com a gravidade de referidas ofensas.[62: BRUTTI, Roger Spode. O princípio da insignificância frente ao poder discricionário do delegado de polícia. Disponível em Disponível em: http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=1463 ..]
 Há a possibilidade da autoridade policial, na figura do delegado, utilizando-se de suas prerrogativas, e sua discricionariedade,

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