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1 Figuras de estilo Sérgio Nogueira Texto 1 Era só uma metáfora Caro leitor, você sabe o que é linguagem conotativa? Se não sabe, eu explico: “linguagem conotativa é o contrário da denotativa”. Pronto, você nunca viu uma explicação tão clara! Só não entendeu quem não quis. É, você tem razão, foi uma explicação ridícula. É do tipo “definição circular”: ficamos dando voltas e não chegamos a lugar algum. Bem, vamos falar sério. Linguagem conotativa é o uso da linguagem figurada, é o uso das palavras fora de seu sentido real. É aqui que encontramos as figuras de linguagem. A metáfora, por exemplo, é aquela figura em que seu criador parte de uma comparação. Quando alguém diz que “a menina é uma flor”, temos uma metáfora: para o autor, a tal menina é tão linda, tão delicada quanto uma flor. O autor faz uma comparação da beleza da menina com a da flor. É interessante observarmos o seguinte: se usarmos os elementos de comparação (assim como, tal qual, tanto ... quanto), não teremos a metáfora, e sim a própria comparação. Exemplos Ela é tão bonita quanto uma flor. (= comparação) Ela é uma flor. (= metáfora) 2 Isso significa que, para entender uma metáfora, é preciso perceber a comparação subentendida. Quando José de Alencar diz que Iracema é “a virgem dos lábios de mel”, significa que “os lábios de Iracema são tão doces quanto o mel”. Para João Cabral de Melo Neto, a serra do sertão é “magra e ossuda”, ou seja, é tão seca (= sem vegetação) que parece um ser muito magro – tão magro e ossudo como o sertanejo em geral. Assim sendo, chamar alguém de “burro” é só uma metáfora. Significa que estamos comparando a inteligência do ofendido com a de um burro, que dizem ser mais inteligente que o cavalo. Mas isso é outra história. Texto 2 A borracheiro e a metonímia Metonímia é uma palavra de origem grega, formada por: META (= mudança) + ONÍMIA (= nome) Ao pé da letra, metonímia é o uso de um nome por outro. Trata-se de uma figura de retórica que consiste no emprego de uma palavra fora de seu sentido básico (de seu contexto semântico normal), por efeito de contiguidade, de associação de ideias. É diferente da metáfora, que consiste no emprego de uma palavra fora de seu sentido básico por efeito de uma semelhança. No caso da metáfora, há uma relação comparativa; no caso da metonímia, há uma relação objetiva, de base contextual. 3 Exemplos 1. Relação metonímica de tipo qualitativo a) Matéria por objeto O ouro só lhe trouxe infelicidade. (= dinheiro) Os bronzes repicavam no alto do campanário. (= sinos) b) Autor por obra Seu maior sonho era comprar um Picasso. (= quadro de Picasso) Adorava ler Jorge Amado. (= livros de Jorge Amado) c) Proprietário pela propriedade Ontem, fomos ao Álvaro. (= bar do Álvaro) d) Continente por conteúdo Adora macarrão. Por isso, comeu três pratos. (= o macarrão de três pratos) e) Consequência pela causa ou metalepse Ele não respeitou seus cabelos brancos. (= velhice) Venceu graças ao suor de seu rosto. (= trabalho, esforço) f) Cor pelo objeto O vermelho lhe corria pelas veias. (= sangue) As andorinhas voavam pelo azul do Rio de Janeiro. (= céu) g) Instrumento pelo agente Ayrton Senna foi um grande volante. (= piloto de carros de corrida) h) Abstrato pelo concreto O crime habita aquela casa. (= criminosos) Esperava pelo voto das lideranças. (= líderes) 4 2. Relação metonímica do tipo quantitativo ou sinédoque a) Parte pelo todo As asas cortavam os céus de Copacabana. (= pássaros) Precisa de mais braços para desenvolver sua lavoura. (= trabalhadores) b) Singular pelo plural O inimigo estava em toda parte. (= inimigos) Precisamos pensar mais no idoso. (= pessoas idosas) c) Gênero pela espécie ou vice-versa Seu maior sonho era pertencer à sociedade paulistana. (= alta sociedade) O homem deve respeitar mais a natureza. (= humanidade) Certo leitor quis saber se “ir ao borracheiro” não está errado, pois, verdadeiramente, “vamos à borracharia”. Não é uma questão de certo ou errado. “Borracharia” é o estabelecimento onde se vendem ou se consertam pneumáticos e câmaras de ar. “Borracheiro” é quem trabalha em uma borracharia, mas também pode ser usado como sinônimo de “borracharia”. Trata-se de uma relação metonímica perfeitamente aceitável e registrada em nossos principais dicionários. É um caso semelhante ao de “ir ao dentista” (= clínica dentária) e “ir ao médico” (= consultório médico). Fonte G1 – O portal de notícias da Globo. Educação. Dicas de Português. Publicação: 14 jul. 2010. Disponível em: <http://g1.globo.com/educacao/blog/dicas-de-portugues/post/figuras-de-estilo.html>. Acesso em: 11 ago. 2015.
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