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Caderno P2 - Economia Brasileira Contemporânea III - Mariana Jensen

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Apresentação do tripé macroeconômico – em contraposição com o sistema de âncora cambial -, destacando a tendência de sobrecarregamento do resultado fiscal; O tripé macroeconômico, como o nome já diz, consiste em um conjunto de três elementos: O câmbio flutuante que é o regime cambial adotado no Brasil. Segundo este regime, o preço de uma moeda em relação a outra no mercado de câmbio varia de acordo com a oferta e a procura por aquela moeda. A meta de inflação, Através desse mecanismo, um órgão do Governo Federal determina a taxa de inflação que a economia brasileira deve ter a cada ano. De posse dessa informação, as autoridades monetárias que compõem o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúnem periodicamente e estabelecem qual deverá ser a taxa básica de juros (Selic) para alcançar a inflação desejada. A meta fiscal que muitas vezes referida como meta de superávit, a meta fiscal é definida todo ano pelo Congresso Nacional, por meio da Lei Orçamentária Anual (LOA).O regime cambial de câmbio fixo conhecido como âncora cambial foi essencial para o sucesso do Plano Real quando de sua implantação entre 1993 e 1994. Sob esse regime, o Banco Central precisava realizar operações financeiras no mercado de câmbio a fim de que a moeda brasileira se mantivesse no mesmo patamar de valor. A moeda, cujo preço não variava no mercado de câmbio internacional, foi um dos instrumentos que levou o Brasil a resolver o problema da inflação. Além disso, o dólar barato permitia que fosse maior a entrada de produtos importados no mercado nacional, o que levava a uma baixa dos preços no Brasil e fazia com que a inflação desacelerasse ainda mais. Por conta da sobrevalorização, o governo brasileiro tinha que atuar no mercado de câmbio realizando operações que mantinham o preço do real, mas que eram muito custosas. Essa atuação implicava saldos negativos para o chamado balanço de pagamentos, o que significava que no Brasil entravam mais produtos, serviços e capital do que saíam. Buscando compensar o saldo negativo e resolver esse problema, o governo procurou atrair capitais internacionais para o Brasil. A saída encontrada foi o estabelecimento de uma taxa de juros básica alta, que seria paga a quem comprasse títulos da dívida brasileira. Sistemas parecidos eram aplicados por outras economias semelhantes ao Brasil no resto do mundo. No entanto, gerava desconfiança nos credores internacionais, que muitas vezes, com medo dos governos não conseguirem equilibrar os balanços de pagamentos, ameaçavam tirar seu dinheiro dos países que adotavam essas práticas. Passadas as eleições presidenciais de 1998, que garantiram o segundo mandato a Fernando Henrique Cardoso, o sistema teve que ser reestruturado. No início de 1999, Armínio Fraga foi nomeado para efetuar essa reforma. Essencialmente, o novo Ministro inverteu as funções da taxa de câmbio e da taxa de juros, justamente No lugar da âncora cambial, adotou-se o regime cambial de câmbio flutuante que, ao permitir que o mercado definisse o preço do Real, eliminava a sobrevalorização da nossa moeda e, consequentemente, os saldos negativos que isso causava no balanço de pagamentos. A taxa de câmbio deixou de ter o papel principal no controle da inflação. Apesar de ter perdido o papel principal, a taxa de câmbio é um instrumento de grande peso na definição da inflação no Brasil. O real mais valorizado tende a significar inflação menor. A taxa básica de juros por sua vez, assumiu a condição de principal instrumento do controle de inflação. Em regra, quanto mais altos são os juros de uma economia, menor é a atividade econômica e a tendência de aumento da inflação. Quando associada ao regime de metas de inflação, o manejo da Selic permitiu o controle da taxa da inflação ao mirar sempre a meta prevista.
2) Discutir os impactos, os impasses e as limitações do sistema de metas de inflação; O regime de metas de inflação contribui para um melhor desempenho em termos de produto e inflação nos países que passam a adotar o regime. Svensson (1997) defende que o regime de metas de inflação gera benefícios sobre as economias por resolver o problema da inconsistência intertemporal, fonte do viés inflacionário. Além disso, o regime reduz a variabilidade da inflação e, quando implementado com certa flexibilidade em relação à convergência das taxas de inflação para a meta, o regime também pode gerar benefícios sobre o produto, reduzindo a sua variabilidade. Entretanto, um estudo realizado por Ball e Sheridan (2005) questiona se a adoção oficial do regime de metas de inflação melhora o desempenho econômico dos países em termos de inflação e crescimento do produto. 1 Os autores chegaram à conclusão de que após controlar para o estado inicial dessas variáveis, não é encontrada nenhuma diferença significativa no desempenho econômico entre os grupos de países que adotaram o regime de metas de inflação e os que não adotaram. A partir de janeiro de 1999, o governo brasileiro articulou juntamente com o FMI uma política macroeconômica ancorada em três pilares: taxa de câmbio flutuante com livre mobilidade de capitais, para ajustar as contas externas; taxa de juro real elevada, para garantir o cumprimento das metas de inflação; superávit primário crescente, para conter o endividamento do setor público. O horizonte temporal determinado para o cumprimento das metas (doze meses),estreito demais, também contribui para a manutenção de uma política monetária contracionista, com custos elevados tanto para a dinâmica do crescimento, do emprego e da retomada dos investimentos como para a evolução do estoque da dívida pública, a despeito de superávits fiscais permanentes e crescentes. Além dessas limitações do regime de metas para a inflação associadas aos mecanismos de formação de preços, a partir de 2004 os pequenos sinais de recuperação do poder de compra do consumidor estimularam o mercado de crédito ao consumo, reduzindo a eficácia da política de juros altos no curto prazo.·.
Final da questão 3:
Contrariamente às expectativas pessimistas prevalecentes no final de 2008, a taxa de desemprego no Brasil não subiu muito, os salários e os empregos voltaram a crescer, e a confiança dos consumidores e dos empresários se recuperou rapidamente ao longo de 2009. Assim, apesar da intensidade da crise, o Brasil pode retomar seu patamar de crescimento pré-crise já em 2010.
3) Descrever a inflexão do Governo Lula, de maneira a apresentar a resposta brasileira à crise da primeira década e os impactos (podendo estender-se ao Governo Dilma): Três iniciativas tomadas na execução da política fiscal, ainda em 2006, marcaram a inflexão econômica: elevação substancial no salário mínimo; aumento no investimento público; e reestruturação de carreiras e salários dos servidores públicos. Este aumento no salário mínimo foi muito criticado na época por seus pretensos efeitos inflacionários, ajudou decisivamente a estimular o mercado doméstico e a consolidar o novo modelo de desenvolvimento de crescimento com distribuição de renda. A política de aumentos reais no salário mínimo também ajudou o Brasil a enfrentar a crise. Como vimos na última seção, o crescimento do salário mínimo acelerou a partir de 2006. Em 2008, mesmo diante da crise internacional, o governo Lula decidiu manter os percentuais de aumento nominal do salário mínimo programados para 2009 (12%). Esta decisão aumentou as transferências de renda por meio da previdência social e do seguro desemprego e, fundamentalmente, estabeleceu um piso mais elevado para os salários de mercado, em particular para os salários dos trabalhadores do setor informal de serviços, no período mais agudo da crise. A partir de 2006, o aumento do investimento em infraestrutura se tornaria prioridade para o governo federal e, no início do segundo mandato, em 2007, as políticas federais nesta área seriam reorganizadas, centralizadas e ampliadas, com a adoção do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Com o PAC, o país recuperou a capacidadede induzir, por meio da iniciativa governamental, o desenvolvimento de amplo espectro de setores fundamentais para a modernização da economia. A estratégia do governo federal, pela primeira vez em muitas décadas, foi apoiar a formação de capital da parte do setor privado e, simultaneamente, aumentar o investimento público em infraestrutura. De modo geral, o principal mérito do PAC foi liberar recursos para o aumento do investimento público e estimular o investimento privado. Sua adoção fez aumentar os investimentos por parte da União, que passaram de uma média de 0,4% do PIB, em 2003-2005, para 0,7% do PIB, em 2006-2008. O governo federal manteve inalterado seu programa de investimento iniciado antes da crise. Diante da queda no investimento privado, o PAC tornou-se importante instrumento anticíclico ao longo de 2009. Em um contexto de crise, o governo federal decidiu manter tais desonerações, o que gerou aumento na renda disponível das empresas brasileiras em um ano de restrição de crédito e queda nos lucros. A partir de 2006, diante da necessidade de aperfeiçoar as funções do Estado e da própria demanda reprimida por aumentos salariais por parte dos servidores públicos, o governo federal iniciou um processo de reestruturação de sua folha de pagamento. Esta iniciativa se traduziu em três ações: aumentos salariais para carreiras típicas de Estado; ampliação de contratações por concurso público; e substituição de funcionários terceirizados por servidores públicos em atividade tipicamente de Estado. O resultado inicial de tais ações foi um aumento moderado no gasto com pessoal por parte da União, isto é, de 4,3% do PIB, em 2005, para 4,5% do PIB, em 2008. O governo Lula também decidiu manter inalterado o cronograma de reajustes salariais e contratações para o serviço público ao longo de 2009. O objetivo desta decisão foi completar o programa iniciado em 2008 e cumprir os acordos estabelecidos com os sindicatos dos servidores públicos, bem como garantir uma forma adicional de sustentação da 24 demanda agregada em um contexto de crise. Em consequência da desaceleração no crescimento do PIB e da concentração dos aumentos salariais em 2009, o resultado macroeconômico foi um aumento substancial na folha de pagamento da União: de 4,5% do PIB, em 2008, para 4,86 % do PIB, no acumulado em doze meses até novembro de 2009.

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