Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Texto 1 Testemunha tranquila1 O camarada chegou assim com ar suspeito, olhou pros lados e como não parecia ter ninguém por perto forçou a porta do apartamento e entrou. Eu estava parado olhando, para ver no que ia dar aquilo. Na verdade, eu estava vendo nitidamente toda a cena e senti que o camarada era um mau-caráter. E foi batata. Entrou no apartamento e olhou em volta. Penumbra total. Caminhou até o telefone e desligou com cuidado, na certa para que o aparelho não tocasse enquanto ele estivesse ali. Isto ― pensei — é porque ele não quer que ninguém note a sua presença: logo, só pode ser um ladrão, ou coisa assim. Mas não era. Se fosse ladrão estaria revistando as gavetas, mexendo em tudo, procurando coisas para levar. O cara — ao contrário — parecia morar perfeitamente no ambiente, pois mesmo na penumbra se orientou muito bem e andou desembaraçado até uma poltrona, onde sentou e ficou quieto: — Pior que ladrão. Esse cara deve ser um assassino e está esperando alguém chegar para matar — eu tornei a pensar e me lembro (inclusive) que cheguei a suspirar aliviado por não conhecer o homem e — portanto — ser difícil que ele estivesse esperando por mim. Pensamento bobo, de resto, pois eu não tinha nada a ver com aquilo. De repente ele se retesou na cadeira. Passos no corredor. Os passos, ou melhor, a pessoa que dava os passos parou em frente à porta do apartamento. O detalhe era visível pela réstia de luz, que vinha por baixo da porta. 1 PONTE PRETA, Stanislaw. Testemunha tranquila. In: Garoto linha dura. 4. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975. p.51-5. 2 Som de chave na fechadura e a porta se abriu lentamente e logo a silhueta de uma mulher se desenhou contra a luz. Bonita ou feia? — pensei eu. Pois era uma graça, meus caros. Quando ela acendeu a luz da sala é que eu pude ver. Era boa às pampas. Quando viu o cara na poltrona ainda tentou recuar, mas ele avançou e fechou a porta com um pontapé... e eu ali olhando. Fechou a porta, caminhou em direção à bonitinha e pataco!... tacou-lhe a primeira bolacha. Ela estremeceu nos alicerces e pimpa... tacou outra. Os caros leitores perguntarão: — E você? Assistindo aquilo tudo sem tomar uma atitude? — a pergunta é razoável. Eu tomei uma atitude, realmente. Desliguei a televisão, a imagem dos dois desapareceu e eu fui dormir. Texto 2 (Enredo linear) Minicorpo2 Era um homem ultrarradical. Um dia encontrou-se com o vigário da sua paróquia. Ele disse ao homem radical: — Bom dia, meu filho querido. Não disse palavra. Foi para casa. Pegou o revólver. Matou a mãe. 2 Texto de aluna 3 Texto 2 (Enredo não linear) Fatos em ordem cronológica: 8h - Carlos de Arruda se desentende com seu vizinho, Pedro Durão, que fora receber o aluguel. 8h e 5min - Os dois passam a discutir violentamente. (Carlos não tinha o dinheiro para pagar o aluguel a Durão, proprietário da casa onde o primeiro reside) 8h e 10min - Durão sai. 8h e 13min - Durão volta com um revólver. 8h e 14min - Sem dizer nada, Durão mata Carlos com três tiros à queima-roupa. Texto não linear: Hoje, Pedro Durão matou seu vizinho e inquilino, Carlos de Arruda. O assassino fora à casa da vítima receber o aluguel, tendo Carlos alegado que não tinha dinheiro para lhe pagar. Ato contínuo, o locador apareceu com um revólver e executou seu inquilino com três tiros à queima-roupa. Discurso Direto O mendigo bateu à porta. A dona-de-casa atendeu e ele disse: — A senhora podia me dar um pedaço de bolo? — Bolo?! — disse a senhora — Onde é que já se viu isto?! Se o senhor pedisse uma sobra de comida, um pedaço de pão, qualquer coisa assim, eu ainda entenderia, mas, que negócio é este de pedir logo bolo?! O mendigo sorriu meio sem graça e explicou: — É que hoje é meu aniversário.3 3 ZIRALDO, As anedotinhas de Pasquim. 4 Discurso indireto4 Um mendigo bateu na porta duma casa. Quando a senhora atendeu, ele pediu-lhe um pedaço de bolo. A senhora estranhou e disse ao mendigo que comumente lhe pediam pão e comida, mas bolo nunca. O mendigo lhe respondeu que pedia bolo porque aquele era o dia do aniversário dele. Foco narrativo Narrador-observador Este tipo de narrador está fora do seu texto. Conta somente os fatos que viu ou as palavras que ouviu, sempre usando a 3ª pessoa. É uma testemunha ocular ou ouvinte dos fatos. Ele diz assim: “O Ernesto deu um tapa no rosto do Pangrácio. Este revidou com um murro no nariz do Ernesto. Aí chegou o guarda e apartou os dois.” Narrador-personagem Este tipo de narrador participa dos fatos narrados. Está dentro do texto, como uma das personagens. Vamos supor que o Pangrácio dê ao delegado sua versão. Ele dirá mais ou menos assim: “Doutor, não fui eu que comecei a briga. Vinha chegando e já levei um tapa na cara, aí virei um murro no nariz do Ernesto. Aí a polícia chegou e me trouxe aqui...” 4 Em situações corporativas, é muito mais comum a utilização do discurso indireto. 5 Narrador-onisciente Este tipo de narrador é um deus. Ele sabe tudo o que se passa dentro da personagem, seus sonhos, suas intenções etc. Ele comumente faz uso do discurso indireto livre quando revela, por exemplo, o fluxo dos pensamentos, o que se passa dentro da cabeça da sua personagem. “Pensava e pensava. Onde errara? A vida torta, a polícia, a megera lá com o outro... parece praga de parteira. É, realmente não se tinha dado bem no cais. Agora era sumir pruns tempos... quem sabe depois... mas o caso da Margarida não ia ficar assim... ah se não ia, a vida que fosse pros diabo que a carregue...” 5 5 Texto de aluna
Compartilhar