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manifestacoes culturais V

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Manifestações 
Culturais Esportivas II
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. Ivan Luis dos Santos
Revisão Textual:
Prof. Esp. Claudio Pereira do Nascimento
Tematizando as Manifestações Esportivas nas Aulas 
de Educação Física
• Tematização das Manifestações Esportivas e a Produção
Rizomática dos Conhecimentos
• Problematização e a Desconstrução das Representações
Hegemônicas nos Esportes
• A Genealogia Arqueológica e a Etnografia como Alternativas 
Metodológicas para Tematização e Problematização das 
Manifestações Esportivas
 · Compreender os conceito de tematização e problematização, bem 
como suas influências teóricas.
 · Reconhecer possibilidades didáticas para a produção dos conheci-
mentos esportivos e desconstrução das representações hegemônicas 
no âmbito do currículo da Educação Física
 · Reconhecer a genealogia arqueológica e a etnografia como alternati-
vas metodológicas para tematização e problematização das manifes-
tações culturais esportivas
OBJETIVO DE APRENDIZADO
Tematizando as Manifestações 
Esportivas nas Aulas de Educação Física
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas: 
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e 
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também 
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua 
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, 
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato 
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE Tematizando as Manifestações Esportivas 
 nas Aulas de Educação Física
Contextualização
O planejamento dos temas esportivos nas aulas de Educação Física não pode se 
dar apartado de alguns princípios e procedimentos didáticos que, uma vez somados, 
contribuem para que os alunos leiam as manifestações culturais esportivas – 
inseridas na sociedade mais ampla – sob uma perspectiva crítica e afeita às relações 
solidárias entre os sujeitos.
De acordo com Françoso e Neira (2014), a utilização do esporte como instrumento 
de promoção de saúde ou de propagação do discurso da perseverança individual 
(“adquirir certas habilidades e competências para ser – e continuar sendo – um 
desportista”) não ajudam o processo de democratização das relações humanas. 
Além disso, permanecer somente na crítica de maneira passiva de nada adianta. 
É preciso que os docentes busquem reinventar cotidianamente sua ação didática a 
fim promover experiências que auxiliem efetivamente no alcance da justiça social.
Assim sendo, opondo-se ao ensino escolar que despreza o entendimento 
que os sujeitos possuem da realidade, Paulo Freire propôs a tematização das 
práticas culturais – e os esportes, não escapam!! –, validando os seus respectivos 
modos de ocorrência na sociedade. Mais especificamente, o autor desenvolveu 
uma concepção de prática educativa alternativa à educação bancária, portanto, 
alternativa à educação cujo saber.
[...] é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber. 
Doação que se funda numa das manifestações instrumentais da ideologia, 
da opressão a absolutização da ignorância, que constitui o que chamamos 
de alienação da ignorância, segundo a qual esta se encontra sempre no 
outro (FREIRE, 2005, p. 67).
Você já tinha ouvido falar de Paulo Freire?
Ultima Entrevista a Paulo Freire 1° parte: https://youtu.be/Ul90heSRYfE
Paulo Freire Ultima Entrevista 2° parte: https://youtu.be/fBXFV4Jx6Y8Ex
pl
or
Sobre suas contribuições para área da Educação e da Educação Física? Dos 
conceitos de tematização e problematização por ele inaugurado? 
A partir das ideias freireanas e de suas ressignificações pelo referencial das 
teorias pós-críticas – de Michel Foucault, Gilles Deleuze, Jacques Derrida –, NÃO 
é mais possível que pensemos o trabalho com as práticas esportivas no currículo 
escolar organizado linearmente, pautado em sequencias didáticas, ou ainda, que 
se dê ausente de problematizações e ações metodológicas que atuem sobre/nas 
relações de poder.
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Afinal, como pode um professor de Educação Física lutar contra as forças que 
parecem empurrar-nos para a desumanização? Ao tematizar o esporte, o docente 
não pode ocultar os inúmeros casos de doping nas competições, os desvios de 
recursos públicos destinados à organização dos megaeventos, o superfaturamento 
de multinacionais que comercializam materiais esportivos, a exploração do 
trabalho infantil para confecção de bolas e chuteiras em países de Terceiro Mundo, 
o aumento exorbitante dos preços de ingressos em partidas de futebol, a máfia 
dos cambistas, a fixação de horários dos jogos para atender aos interesses das 
emissoras de televisão, os vários casos de falsificação de documentos que alteram 
a idade de atletas que enxergam na fraude o único meio de vencer, entre tantos 
outros acontecimentos que rodeiam o mundo esportivo.
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UNIDADE Tematizando as Manifestações Esportivas 
 nas Aulas de Educação Física
Tematização das Manifestações 
Esportivas e a Produção Rizomática 
dos Conhecimentos
Conforme já vimos até este momento da disciplina, na proposta cultural da 
Educação Física o ponto de partida para escolha dos conteúdos e das atividades 
de ensino é a prática social da manifestação esportiva em foco. Reconhecemos 
que o patrimônio cultural corporal encontra-se imerso num intrincado processo 
de relações e significados e que, portanto, ler e interpretar os códigos veiculados 
pelas manifestações esportivas constitui-se numa ação didática fundamental, base 
da necessária crítica cultural. 
De acordo com Moreira e Macedo (2001), a crítica cultural é uma via para analisar 
as identidades, criticar mitos sociais que subjugam determinados grupos, gerar 
conhecimento baseado na pluralidade e construir um ambiente solidário em torno 
dos princípios da liberdade, prática social e democracia.
A organização de atividades de leitura das práticas esportivas proporciona 
condições necessárias para a crítica cultural. Segundo Neira (2011), mediante a 
leitura da prática esportiva objeto de estudo, os alunos analisam sua configuração 
e posicionamento no tecido social, bem como a dos seus representantes 
(procedimentos, características da prática, regras, técnicas, táticas, participantes, 
recursos necessários, localização etc.); o modo como é organizada; como é 
representada pelos próprios alunos ou por outros grupos culturais;quais os 
discursos pronunciados sobre ela etc. Para o autor, esse modo de proceder dá 
visibilidade a uma multiplicidade de aspectos que remeteram os alunos à análise 
da existência cotidiana daquela manifestação cultural esportiva, sendo necessário 
recorrer a conhecimentos de outras áreas para adquirir uma noção da complexidade 
das relações sociais que assolam as práticas na cultura.
Assim sendo, a ação do currículo deve consistir numa mobilização de múltiplos 
saberes, que estabelecem relações de diversas naturezas e que dialogam com 
múltiplas formas de explicar o real, inclusive o senso comum (NEIRA, 2011). Isso 
torna possível afirmar que a tematização das manifestações esportivas em aulas de 
Educação Física não se preocupa em alcançar uma única verdade. Pelo contrário, 
busca combater a universalização e naturalização dos conceitos, fecundando o 
questionamento dos discursos, desnudando-os de forma a tornar explícitos os 
jogos de poder-saber em que foram produzidos e dotados de estatuto social. Na 
tematização, a estrutura do conhecimento assume forma fascicular, em que não 
há ramificações e sim pontos que se originam de qualquer parte e se dirigem para 
quaisquer outros pontos.
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Tomando de empréstimo a imagem criada por Deleuze e Guattari (1995), temos 
que na proposta cultural da Educação Física o conhecimento sobre as práticas 
esportivas é tecido rizomaticamente no currículo.
Utilizando-se de uma referência imagética oriunda da Biologia – o rizoma – e valendo-se de 
categorizações avessas à Psicologia e à tradição fi losófi ca ocidental, Deleuze e Guattari (1995) 
propuseram o arquétipo de um emaranhado conceitual, no qual se desenvolveria por meio 
de conexões circunstanciais, a maturação do conhecer humano. Oposto a árvore, o rizoma 
não é objeto de reprodução externa como árvore-imagem, nem reprodução interna como 
estrutura-árvore. A crítica deleuze-guattariana está na própria inércia instituída pelo modelo 
ocidental-moderno de pensamento arborescente cujos galhos só podem se comunicar com 
o tronco e nunca entre si. Um rizoma, por sua vez, está sempre a caminho. “Um rizoma nem 
começa nem conclui, ele se encontra sempre no meio, entre as coisas, inter-se, intermezzo. 
A árvore é fi liação, mas o rizoma é aliança, unicamente aliança” (DELEUZE; GUATTARI, 1995, 
p. 37). A metáfora do rizoma faz com que o processo pedagógico questione as fronteiras 
estabelecidas pela modernidade que colocam o conhecimento científi co de um lado e o 
conhecimento tecido nas esferas cotidianas da sociedade de outro.
Conceber o trabalho pedagógico na perspectiva rizomática requer, sobretudo, 
a compreensão de que existem diversas formas de conhecimento que dialogam 
entre si dentro de contextos histórico-sociais específicos, e a partir das múltiplas 
conexões estabelecidas entre os saberes da ciência, do popular, do mítico, do 
artístico etc. Sob esta compreensão, a tematização das manifestações esportivas no 
currículo escolar não tem por objetivo estabelecer uma aprendizagem de causa e 
efeito. Procura simplesmente “abordar as infinitas possibilidades que emergem das 
leituras e interpretações da prática social de cada manifestação” (NEIRA; NUNES, 
2009, p. 262).
Tamanho conjunto de elementos e relações impossibilita a previsão de todas as 
condições do fenômeno educativo (atividades, respostas dos alunos, surgimento de 
novas ideias, modificações do contexto etc.), de modo a garantir um determinado 
percurso formativo. Daí atribuir-se à tematização das manifestações culturais 
esportivas um caráter aberto, não determinista, não linear e não sequencial; limitado 
e estabelecido apenas em termos amplos, que tecem a todo momento uma rede de 
significados a partir da ação e interação dos seus participantes.
Contando com a riqueza de possibilidades provenientes dos alunos e do docente 
mediante os acontecimentos das aulas, a tematização constitui-se sempre de forma 
dinâmica e complexa. Sendo assim, as intenções educativas, objetivos e conteúdos 
postos ao longo do processo vão sendo enriquecidos de infinitas maneiras tal como 
podemos observar no relato de experiência do professor Alexandre, que tematizou 
o futebol americano e o rugby junto a um grupo de alunos do Ensino Médio. Conta-
nos o professor que:
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UNIDADE Tematizando as Manifestações Esportivas 
 nas Aulas de Educação Física
[...] Após assistirem os vídeos, os alunos observaram que a organização do 
rúgbi não era tão diferente do futebol americano, no que diz respeito às 
funções dos jogadores. A gente não aprofundou isso naquele momento, 
mas levantei algumas questões, referente ao que era distintivo entre estas 
práticas esportivas: ‘Quanto à organização do jogo, será que são diferentes 
só pela questão de jogar com os pés, ou há uma questão ideológica nessa 
formação?’ Eles discutiram muito essa questão. [...] No rúgbi toca-se a bola 
para o lado ou para trás e no futebol americano é permitido lançar; no rúgbi 
só é possível lançar com os pés. [...] Durante as vivências que fizemos na 
quadra muitas discussões estavam relacionadas às ações que aconteciam no 
jogo. Mas aí eles partiram para uma discussão para ver o que era melhor 
no futebol e o que era melhor no rúgbi. ‘Isso é bom no rúgbi. Isso é bom no 
futebol americano’. Alguns diziam: ‘O Futebol Americano é mais legal, tem 
equipamentos! O rugby é mais chato, ficam todos amontoados. Rugby não 
tem choque! Futebol Americano tem mais ação. Super Bowl, é da hora!’. 
Muitas falas já evidenciavam que os alunos tinham buscado dados sobre 
as práticas e tentavam sustentar-se neles. Foi um embate interessante. 
Refletindo sobre estes acontecimentos, cheguei e disse: ‘por que ao invés 
de discutir o que é melhor, a gente não identifica o que caracteriza o rúgbi 
e o que caracteriza o futebol?’ (MAZZONI, 2011, p. 2).
Saiba mais sobre o relato de experiência, acessando: https://goo.gl/1Wzs1u
Ex
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or
Da mesma forma que na prática pedagógica narrada pelo professor Alexandre, 
podemos notar semelhante tessitura rizomática do currículo no relato de experiência 
levado a cabo pela professora Nyna, que tematizou a bicicleta e, dentre outras 
coisas, o uso desta nas práticas esportivas.
A partir dos resultados da pesquisa sobre o ciclismo realizada pela aluna 
Viviane e descritos num texto bastante objetivo, teve início uma ampla dis-
cussão desse esporte. O trabalho trouxe fragmentos da história da modali-
dade e apresentou as quatro categorias de competição: provas de estrada, 
provas em pista, provas de montanha (mountain bike) e BMX. Para cada 
uma delas há um tipo específico de bicicleta. Viviane também contribuiu, 
apresentando as subcategorias da mountain bike e as curiosidades do 
evento Down Town de Lisboa. As ideias veiculadas nos levaram a retomar 
e problematizar a pesquisa do Henrique sobre o BMX e suas manobras, 
com destaque para a independência desse esporte com relação aos cam-
peonatos e torneios oficiais. Ao final das exposições, fui esclarecendo os 
questionamentos dos alunos que pesquisaram, bem como dos colegas que 
acompanharam as apresentações (ESCUDERO, 2009, p. 12).
De acordo com Neira (2011), a proposta cultural da Educação Física, tal 
como pode ser observado nos excertos acima, mantém-se atenta aos diversos 
posicionamentos e discursos que eclodem nas aulas, durante toda tematização. 
No diálogo aberto, o exercício da argumentação dos sujeitos que dele participam 
garante que as posições diferentes tenham iguais condições de serem ouvidas. Ao 
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dialogarem sobre as práticas esportivas do futebol americano e do rugby, bem como 
da bicicleta, num primeiro momento, os alunos dos professores Alexandre e Nyna, 
respectivamente, externaram seus conhecimentos de forma difusa e sincrética. Em 
seguida, as problematizações fomentaram análises cada vez mais profundas e o 
acesso a outros olhares/saberes,possibilitando a construção de sínteses pessoais 
e coletivas. 
Portanto, são as problematizações que movimentam a tematização em curso 
(SANTOS, 2016). Mais especificamente, o autor destaca que, quanto mais se 
problematiza, maiores são as chances da tematização manter-se atenta ao processo 
de fixação simbólica, dada a intensificação da circulação dos discursos sobre as 
práticas esportivas e seus representantes. 
Sob essas circunstâncias, a ação do(a) professor(a) é continuamente (re)
centralizada, colocada em devir. Estamos a assumir que a tematização, 
enquanto processo, tem na problematização o seu vetor, que tece o 
rizoma e intenciona a desconstrução dos discursos hegemônicos. [...] Com 
a problematização, a tematização torna-se permeável a agenciamentos 
inesperados, desrruptivos e criadores, que prolongam as linhas de fuga do 
próprio currículo em ação (SANTOS, 2016, p. 159).
Problematização e a Desconstrução das 
Representações Hegemônicas nos Esportes
Conforme destaca Neira (2011, p. 116), “o currículo cultural da Educação Física 
adota uma concepção metodológica dialética, nos mesmos moldes da pedagogia 
freireana”. Nesse sentido, o ato de conhecer/ aprender as manifestações esportivas 
não é uma ação isolada – individual – ou desinteressada, uma vez que envolve 
intercomunicação, intersubjetividade e intenção, mediante situações concretas que 
fundamentam as vidas diárias dos sujeitos envolvidos no processo. O atletismo, o 
tênis de mesa, o boliche, o futebol, o poker, o snooker, o basquete dentre outras 
manifestações esportivas, são textos da cultura corporal que, ao adentrarem ao 
currículo da Educação Física, são lidos (e produzidos) a partir da perspectiva de 
cada aluno, dadas suas experiências e conhecimentos acumulados em outros 
espaços vividos.
Para Silva (2011, p. 59), é, justamente, “a intersubjetividade do conhecimento 
que permite a Freire conceber o ato pedagógico como um ato dialógico”, através 
do qual o mundo – objeto a ser conhecido – não é simplesmente comunicado; o ato 
pedagógico não consiste em simplesmente comunicar o mundo. Em vez disso, cria-
se dialogicamente um conhecimento do mundo. Na perspectiva freireana, o diálogo 
passa a ser uma estratégia epistemológica e pedagógica em que a relação dialógica 
dos sujeitos entre si e com a realidade cognoscível constitui relações dialéticas de 
transformação que os homens e o mundo travam entre si.
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UNIDADE Tematizando as Manifestações Esportivas 
 nas Aulas de Educação Física
Mais precisamente, o conhecimento escolar sobre as práticas esportivas conver-
te-se num processo resultante da mediação entre os saberes escolares e os saberes 
populares, por meio da problematização das situações vividas, de forma a instru-
mentalizar os educandos a intervirem nas diversas situações sociais mais amplas. 
Isso implica, portanto, conceber a prática pedagógica a partir de uma práxis de 
investigação do contexto em que os educandos estão inseridos. Ou seja, rompe-se 
com a ideia de propostas abstratas para sujeitos abstratos. Passa-se a pensar na 
organização de experiências pedagógicas em forma de práticas culturais que levem 
a modos – de aprendizagem e de luta – mais críticos, questionadores e coletivos.
Importante!
Desde Paulo Freire, é inconcebível pensarmos o fazer pedagógico descomprometido com 
o universo cultural dos alunos e com a construção de uma visão crítica e democrática 
de sociedade. Nesse contexto, a problematização emerge como um artefato da prática 
pedagógica imprescindível para suspender os discursos naturalizados e fazer circular 
uma multiplicidade de textos que compõem as culturas esportivas.
Em Síntese
A problematização implica um constante desvelo das ocorrências sociais 
percebidas, constituindo num esforço permanente de perceber como as coisas estão 
no mundo. Tal encaminhamento pode ser percebido nas experiências pedagógicas 
relatadas pela professora Rose:
Durante as vivências na quadra, percebi que, num dado momento, os 
alunos optaram por organizar as equipes em função dos times para os 
quais torciam. [...] Os questionei sobre ‘qual competição de futebol está 
acontecendo no momento, e que envolve equipes tradicionais (aquelas 
que foram ditas e utilizadas como critério para divisão das equipes na 
quadra) no Estado de São Paulo?’ A grande maioria dos alunos respondeu: 
‘Paulistão, Campeonato Paulista’. Informei que, então, estudaríamos na 
sequencia do projeto este campeonato e sua organização. Ao indagar 
sobre o Campeonato Paulista, poucos sabiam sobre o regulamento, 
tabela e a classificação. [...] Iniciei a aula perguntando o que mais 
havia chamado atenção na última rodada. Os alunos se manifestaram 
sobre a violência ocorrida no jogo entre Palmeiras e São Paulo Futebol 
Clube (21/02/2010). [...] Para o próximo encontro trouxe dois textos 
jornalísticos com as seguintes manchetes: ‘Um morto e muitos feridos 
após brigas entre torcidas’ e ‘Pela cidade brigas por todos os cantos’. No 
último texto discutimos a opinião do promotor de justiça que defendeu 
torcida única nos clássicos paulistas. A maioria dos alunos discordou da 
torcida única, mas concordou com a fala do promotor ao dizer que alguns 
não são torcedores, são maus elementos predispostos ao confronto. 
Percebi que nestas discussões havia uma participação maior por parte dos 
meninos. Levantamos opiniões acerca desta participação. Os meninos 
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relataram que discutem mais sobre futebol, praticam mais e estão sempre 
mais informados. A maioria das meninas disse que não valorizam o 
futebol tanto quanto os meninos, salvo algumas exceções. Concluímos 
que culturalmente vamos aprendendo valores, assumindo papéis e 
comportamentos (COLOMBERO, 2010, p. 3-4).
Não à toa, Neira (2011) chama atenção para o fato do professor manter-se 
atento às relações presentes na trajetória e organização da manifestação cultural 
esportiva tematizada, procurando ajudar os alunos a interpretá-las e desvendar 
quais identidades são legitimadas e/ou negadas. Isto é, problematizar o que está 
sendo produzido como a identidade e o que está sendo produzido como a diferença 
na prática esportiva objeto de análise. “Nessas circunstâncias, pode-se indagar 
acerca das condições assimétricas de poder veiculadas nas questões de gênero, 
etnia, consumo, local geográfico, faixa etária, entre outros aspectos, visíveis ou 
não” (NEIRA, 2011, p. 117).
A identidade e a diferença são produções discursivas permeadas por relações de 
poder que não podem ser compreendidas fora do sistema de significação em que 
são representadas. Nestes termos, a problematização busca uma radicalização do 
fenômeno da linguagem por meio de um processo de ‘desconstrução’.
A desconstrução é um conceito empregado por Jacques Derrida utilizado 
para caracterizar o modo pelo qual um texto pode ser lido e denunciado em suas 
contradições e irredutibilidades. A desconstrução pretende minar todas correntes 
hierárquicas sustentadoras do pensamento binário ocidental, tais como: dentro/
fora; corpo/mente; fala/escrita; presença/ausência; natureza/cultura; forma/
sentido (SANTOS, 2016).
De acordo com Derrida e Roudinesco (2004), o binarismo acompanha a rede de 
poder que predomina nas sociedades ocidentais e a reforça através da linguagem 
que atribui sentidos e valores às pessoas e aos objetos que compõem a realidade. 
Para os autores, a elaboração de pares de opostos cria efeitos de verdade que, 
consequentemente, estabelecem hierarquias. No caso das manifestações culturais 
esportivas, por exemplo, não são raros os discursos que polarizam tais práticas em 
masculinas e femininas, infantis e adultas etc. Uma vez postos em circulação por 
meio de dispositivos linguísticos, marcam quem pertence e quem não pertence a 
determinado grupo, quem é a identidade e quem é a diferença.
Conforme aponta Santos (2016),
Ao interrogar incansavelmenteos diferentes discursos que pretende 
decompor, a estratégia derridiana da desconstrução abandona a intenção 
da tradição histórica e filosófica ocidental da busca por uma origem e 
uma presença, que seriam capazes de explicitar o fundamento ou a 
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UNIDADE Tematizando as Manifestações Esportivas 
 nas Aulas de Educação Física
determinação primordial do sentido e do conceito que supostamente o 
traduziria. Trata-se do esforço de permanecer num jogo em que nenhum 
dos polos do binarismo é valorizado em detrimento do outro, uma tentativa 
de remeter-se a ambos sempre: um jogo de “nem um... nem outro...”, 
“ao mesmo tempo...”, “por um lado... por outro...” (p. 87).
A desconstrução “não destrói” o texto, alvo de sua reflexão, mas questiona 
o significado já conferido a este texto e constitui uma “atividade infindável que 
visa desmascarar passo a passo a construção dessa malha de significados” 
(RAJAGOPALAN, 1992, p. 27). Assim, a problematização dos significados 
socialmente atribuídos às práticas esportivas, permite com que estas sejam 
compreendidas sempre como efeito da diferença, ou seja, como movimentos de 
significação que operam sob determinadas lógicas de poder.
Ao relatar o trabalho pedagógico desenvolvido pela professora Dayane com 
alunos do 3° ano do Ensino Fundamental, a professora Nyna (sua parceira), dentre 
outras coisas, nos conta como Dayane problematizou a participação dos sujeitos na 
prática do futebol, de maneira a promover o adiamento da presença do significado 
(masculino) no texto (futebol).
Para que a narrativa única sobre o futebol, alicerçada na crença de que 
esse esporte é uma prática do universo masculino fosse problematizada, 
a professora Dayane selecionou três vídeos: o primeiro trazia uma 
reportagem exibida pela Rede Globo, na qual uma menina de quinze 
anos, que faz embaixadinha, visita o centro de treinamento do Grêmio 
portoalegrense. Além de trazer uma figura feminina realizando movimentos 
próprios do futebol, a matéria a coloca numa condição de quem ensina 
os jogadores, que revelam não dominar essa habilidade tanto quanto 
ela. O segundo vídeos mostra mulheres realizando embaixadinhas e o 
terceiro traz os melhores momentos do jogo de futebol feminino Brasil x 
Estados Unidos, os quais destacam a figura da atleta Marta. A jogadora foi 
lembrada por uma aluna, que trouxe para o conhecimento dos colegas o 
programa de televisão intitulado “Menino de Ouro”, em que a futebolista 
participa. Neste programa, ela atua ensinando alguns movimentos para 
três meninos, sendo premiado com o troféu “Menino de ouro” aquele 
que apresentou melhor desempenho. A leitura dos vídeos provocou 
certo estranhamento com relação ao fato das habilidades revelado pelas 
mulheres dos filmes. A professora percebendo a surpresa perguntou: as 
mulheres não sabem ou não conseguem jogar futebol? Por que as nossas 
meninas não desenvolveram habilidades semelhantes às das mulheres 
dos vídeos, que foi acompanhado pelas provocações à turma: E ensinar 
será que apenas os meninos sabem? Quanto tempo vocês acham que a 
jogadora que aparece no vídeo treina para conseguir esta performance? 
As respostas dos alunos revelaram que aquilo que parecia verdade sobre 
o futebol não se apresenta tão verdadeiro assim, as suas representações 
foram desestabilizadas (PORTAPILLA; ESCUDERO, 2015, p. 9).
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A partir dos “elementos disparadores” (no caso do excerto acima, os vídeos 
selecionados pela professora) e “elementos provocadores” (no caso, as questões 
encaminhadas pela por Dayane), a problematização faz-se enquanto um vetor de 
força que atua nas ocorrências discursivas produzidas ao longo da tematização, 
permitindo colocar em xeque as representações hegemônicas historicamente 
difundidas (e naturalizadas) sobre prática esportiva objeto de estudo. Santos 
(2016) entende que a problematização faz a tematização manter-se a atenta às 
contingências e ao processo de fixação simbólica empenhado discursivamente pelo 
grupo de alunos sobre as prática da cultura corporal.
Santos (2016) ainda nos chama atenção para o fato de que cada prática 
corporal (incluindo as práticas esportivas) cria um universo próprio de sentidos que 
expressam ou comunicam significados, tanto para quem dela participa, quanto para 
quem a observa. Tomando como campo de análise os Estudos Culturais e, portanto 
fundamentando-se nas ideias de Stuart Hall, Santos (2016) registra que, através do 
uso que fazemos das coisas, ou como as integramos em nossas práticas do cotidiano, 
vamos dados significado à vida e ao mundo. Sendo assim, a problematização, 
de uma forma geral, tem muita relação com a prática esportiva que está sendo 
estudada e o seu contexto de ocorrência, que é diferente de escola para escola, 
de turma para turma. Não à toa, a relação da identidade com a diferença torna-se 
bastante transitória e provisória, consumando-se das formas mais diversas.
[...] essa é a condição que permite que cada cultura construa constantemente 
novas significações, uma vez que os textos corporais estão sempre abertos 
à contingência, sempre imprevisíveis e potencializados no contato entre 
os sujeitos, dos sujeitos com as práticas da cultura e com as situações de 
inserção desta última – escola, bairro etc. (SANTOS, 2016, p. 150).
Talvez, se o futebol fosse tematizado em outra escola – ou mesmo, com outra turma de 
alunos da escola da professora Dayane –, as problematizações poderiam caminhar em torno 
de outros marcadores sociais, que não o de gênero. 
Ex
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Contudo, segundo Costa (2010), a desconstrução não se completa se ausente 
de procedimentos de análise do discurso, “que possam mostrar as operações, 
os processos que estão implicados na formulação de narrativas tomadas como 
verdades, em geral, tidas como universais e inquestionáveis” (p. 140). Para a 
autora, a desconstrução deve desnudar as relações entre os discursos e o poder, 
constituídas historicamente.
É por isso que, quando abordadas na escola, as manifestações culturais esportivas 
necessitam ser submetidas a uma genealogia arqueológica (ou arquegenealogia) e a 
um estudo etnográfico, de maneira a se compreender melhor não só as manifestações 
esportivas em si, como também aqueles que a produziram e reproduziram sob 
determinados contextos de pensamento e regimes de verdade.
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UNIDADE Tematizando as Manifestações Esportivas 
 nas Aulas de Educação Física
A Genealogia Arqueológica e a Etnografia 
como Alternativas Metodológicas para 
Tematização e Problematização das 
Manifestações Esportivas
De acordo com Neira (2011), para além de uma metodologia dialética, a 
proposta cultural da Educação Física sofre influências da genealogia arqueológica e 
da etnografia, enquanto abordagens didáticas. Para o autor, quando os processos 
sócio-histórico-políticos que configuram a hierarquização das práticas corporais 
são desvelados, as condições desiguais de produção e reprodução, bem como os 
discursos utilizados para exaltar ou marginalizar tais práticas são evidenciados, o 
que facilita a compreensão do processo de subjetivação que envolve os mecanismos 
de identificação e diferenciação.
O filósofo alemão Friedrich Nietzsche referia-se à genealogia como sua forma 
de estudo: analisar a evolução dos conceitos morais, suas origens e os modos como 
eles evoluíram. A arqueologia é o termo utilizado por outro filósofo, o francês Michel 
Foucault para designar um método próprio de investigação e análise exaustiva dos 
documentos de época que procuram as regras do pensamento e as suas limitações. 
Para o filósofo francês, cada momento histórico produz o seu conjunto de verdades 
e falsidades que se materializam nos discursos e nas relações sociais. Aquele que 
fala é quem determina o que é.
Dessa maneira, a genealogia arqueológica fornece aos envolvidos a possibilidade 
da análise dos contextos de pensamento edo conjunto de verdades que validam 
ou negam as manifestações culturais. No contexto da tematização das práticas 
esportivas, Neira (2011) destaca que a genealogia arqueológica ajuda a desconstruir 
as representações provocadas pelas informações distorcidas ou fantasiosas 
presentes no âmbito social e a reconhecer ou adquirir uma nova visão sobre os 
saberes esportivos disponíveis, sejam eles valorizados ou marginalizados.
Ao tematizar o tênis junto a uma turma do 5° ano do Ensino Fundamental, de 
uma escola localizada na região do Capão Redondo, periferia da cidade de São 
Paulo, o professor Leandro relata que buscou problematizar sobre a participação 
dos atletas negros na modalidade, de maneira a desconstruir alguns discursos que, 
naquele momento, emergiam entre os alunos. Conta-nos o professor que:
Saiba mais sobre o relato de experiência, acessando: https://goo.gl/7Md6wV
Ex
pl
or
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[...] Pedi que os alunos me dissessem quem são os personagens do tênis. 
[...] Citaram alguns (poucos) nomes de jogadores, mencionaram sobre 
a presença do árbitro sentado na cadeira e dos pegadores de bolinha, 
os quais chamaram de “gandulas”. Nesse momento surgiram alguns 
comentários: ‘Professor, o estranho é que todas as vezes que eu assisto 
os jogos só vejo pessoas brancas. Olho na quadra, na arquibancada e não 
vejo ninguém negro. Só existe jogador de tênis branco?’ Houve alguns 
que comentaram ter assistido a um jogo, onde um jogador negro com 
cabelo de capoeira ou rastafári venceu um branco. [...] Então assistimos 
ao vídeo do jogo mencionado pelos alunos: Dustin Brown x Rafael 
Nadal. [...] Agora sabendo que há jogadores negros no tênis, perguntei 
aos educandos se era fácil se tornar um(a) jogador(a) de tênis. A maioria 
dos alunos afirmou que só era jogar bastante que qualquer pessoa se 
tornaria jogadora de tênis. Estes discursos, me levaram a solicitar que 
os educandos pesquisassem como os jogadores Rafael Nadal e Dustin 
Brown se tornaram jogadores profissionais e apontassem quais deles 
encontraram mais dificuldades para se tornarem atletas profissionais. [...] 
Segundo os alunos, ao pesquisarem as trajetórias percorridas por cada 
atleta foi possível perceber como elas são tão diferentes. Com as análises 
das carreiras dos atletas, os educandos puderam reconhecer que não é 
simples e nem fácil se tornar um(a) jogador(a) de tênis, ainda mais quando 
o atleta nasce em uma família pobre. Os alunos puderam perceber que 
falta de recursos financeiros fez com que Brown levasse mais tempo que 
Nadal para se tornar um jogador profissional. Assim foi perceptível para 
os educandos que as condições econômicas de uma família podem alterar 
totalmente na vida das pessoas, seja no que elas irão vestir, calçar, comer, 
trabalhar e acessar na sociedade. [...] percebemos que um dos fatores que 
permite ou proibi o acesso das diversas pessoas ao tênis é socioeconômico. 
[...] Ou seja, os altos valores cobrados pelas aulas e a falta de quadras 
públicas afastam os negros e pobres dessa modalidade esportiva. Soma-
se a isso os altos valores dos ingressos, dos artigos esportivos (raquetes, 
bolas, redes, calçados, roupas e outros equipamentos) etc. (SOUZA, 
2016, p. 35-44).
O exercício arquegenealógico permitiu ao professor Leandro, gradativamente, 
desnudar junto aos alunos os regimes discursivos que instauram as verdades 
e congelam as representações circundantes aos jogadores de tênis. Para tal, o 
professor também agregou atividades de ensino em torno dos fragmentos 
históricos do tênis, que revelaram alguns traços do seu surgimento e disseminação 
na burguesia europeia.
Pedi que os alunos lessem sobre alguns textos que localizei sobre a história 
do tênis. [...] Vimos que os primeiros praticantes (os monges) de jeu de 
paume ficavam brincando de bater na bola com a palma das mãos e 
no decorrer dos anos o jogo passou por diversas alterações. Os monges 
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UNIDADE Tematizando as Manifestações Esportivas 
 nas Aulas de Educação Física
usavam os pavimentos, paredes e vigas dos pátios dos mosteiros para 
praticar o jogo. [...] os jovens nobres que estudavam nos mosteiros, 
transportaram cópias dos jogos para os castelos. No século XVI as quadras 
passaram a ser construídas em diversos lugares para atender o entusiasmo 
esportivo dos burgueses [...] (SOUZA, 2016, p. 35-44).
Podemos perceber que, a partir dos excertos destacados acima, a tematização de 
uma manifestação esportiva no currículo escolar deve atuar no sentido da descons-
trução das representações hegemônicas por meio das problematizações. Tal intento 
exige com que professor e alunos embrenhem-se no estudo da prática corporal em 
questão, assumindo, aos dizeres de Neira (2011), uma postura etnográfica.
De acordo com Neira (2011), a etnografia, concebida como ação didática do 
currículo cultural da Educação Física, implica numa aproximação das práticas 
corporais e, tal como se fosse colocada uma lente de aumento sobre estas práticas, 
permite enxergar a dinâmica das relações e interações que constituem os seus 
funcionamentos. A etnografia é, portanto, um exercício de leitura dos diversos textos 
culturais e que exige o envolvimento do professor e dos alunos em investigações 
ora individuais, ora coletivas, sobre os múltiplos aspectos que os compõem.
Convido-o, neste momento, a acompanhar o vídeo disponível em: 
https://youtu.be/5uxlGnamq98, que apresenta um estudo etnográfico realizado sobe a pipa.Ex
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or
Sugiro também que acesse o texto “Etnografando a prática do skate”, referenciado ao final 
desta unidade e disponível em: https://goo.gl/79fwkMEx
pl
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A etnografia pressupõe observações nos locais de ocorrência das manifestações 
esportivas, entrevistas juntos aos praticantes, seleção de textos, reportagens 
e vídeos retirados da internet etc. O material resultante da etnografia deve ser 
interpretado e problematizado durante as atividades de ensino. O professor e os 
alunos discutem suas impressões sobre os dados coletados e intercambiam pontos 
de vista, confrontando-os com as próprias experiências realizadas nas aulas ou em 
outras esferas. Busca-se com isso, desvendar os múltiplos aspectos ainda encobertos 
sobre a prática esportiva objeto de estudo, o que significa empreender uma leitura 
bem mais profunda e cuidadosa (NEIRA, 2014)
Além disso, o mesmo autor destaca o fato de que, à medida que o professor se 
embrenha no trabalho etnográfico, melhora sua compreensão sobre a prática pe-
dagógica enquanto atividade de análise social e cultural. Durante o processo, des-
cobre as forças construtoras tais como códigos linguísticos, signos culturais, ações 
movidas pelo poder e ideologias incrustadas nas manifestações da cultura corporal 
e, com isso, aprende a investigar, ensinar e pensar criticamente (NEIRA, 2014).
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A título de uma experiência formativa arrisque fazer um estudo etnográfico sobre 
uma manifestação cultural esportiva. Então, após selecioná-la, acesse diferentes 
fontes como vídeos, reportagens, livros, artigos ou conversas com pessoas 
conhecidas, a fim de levantar questões. Com base nas suas dúvidas, vá a campo em 
busca de respostas. É esperado que em contato com a ocorrência social da prática 
esportiva, surjam novas questões.
Importante!
Lembre-se que o objetivo da etnografi a é compreender uma dada prática corporal 
a partir do olhar do seu praticante. Tomada como atividade didática, os resultados 
enriquecem o processo pedagógico e permitem às crianças conhecerem outros pontos 
de vista para além daqueles apresentados pelo/a professor/a.
Importante!
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UNIDADE Tematizando as Manifestações Esportivas 
 nas Aulas de Educação Física
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Vídeos
Dimensão Olímpica - Mulheres no Esporte
https://youtu.be/kPtpDXaaBNA
Documentário Paulo FreireContemporâneo [HD]
https://youtu.be/5y9KMq6G8l8
COPA DA PAZ 2010: A Várzea na Comunidade do Paraisópolis
https://youtu.be/eVBLdubl8kM
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Referências
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Ministro Synésio Rocha. São Paulo, SP. In: Relatos de Experiência. Grupo de 
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www.gpef.fe.usp.br/teses/alexandre_02.pdf>. Acesso em mar. 2017.
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UNIDADE Tematizando as Manifestações Esportivas 
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