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A Falseabilidade em Karl Popper, Capítulo IV da Lógica da Pesquisa Científica

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A Falseabilidade em Karl Popper
Capítulo IV da Lógica da Pesquisa Científica
Carlos Alberto Eugênio Júnior
 	Aquilo que chamamos experiência ocorre num sentido estritamente particular e individual, por mais profundo e freqüente que o resultado de experiências sensíveis se apresente ao espírito do cientista, nada irá garantir a elaboração de enunciados universais a partir de enunciados singulares. Tendo como ponto de partida a negação da Lógica Indutiva, Popper então propõe a demarcação entre aquilo que é metafísico e aquilo que é empírico, assim como a matemática e a lógica. O critério utilizado por Popper para demarcar a ciência empírica é a Falseabilidade de um enunciado, deste ponto de vista, o que diferenciaria os enunciados científicos de não científicos é o aspecto possível de falseamento de tal enunciado. Contudo, voltemos ao problema em sua raiz.
	Enquanto Hume considerava o problema da indução como cerne de sua discussão, Kant apontava para a Demarcação como a principal questão a ser respondida por uma teoria do conhecimento. O que separaria os enunciados metafísicos de enunciados pertencentes à ciência empírica?
	A aniquilação da Metafísica por parte dos Positivistas é destacada por Popper, segundo ele, os positivistas encaram o problema da demarcação de forma naturalista, dessa forma esquecem-se da busca por uma convenção adequada que consiga caracterizar a ciência empírica distinguindo-a da metafísica e procuram de maneira errônea uma diferença constituinte da natureza das coisas da metafísica e da ciência empírica. Ainda para Popper, a Metafísica é constantemente classificada como “vazia” e “sem sentido”, essa caracterização da Metafísica não buscaria uma distinção nítida entre metafísica e ciência empírica, para o autor o que positivistas realmente almejavam era o total abandono da metafísica, assim como a fogueira de livros idealizada por Hume.
	O que demarcaria a ciência empírica aos olhos dos positivistas seria a capacidade de enunciados científicos serem reduzíveis a verdades elementares, como no caso de Wittgenstein. Se trocarmos o conceito “significativo” pelo conceito “científico” seria possível demarcar os enunciados científicos como aqueles que são reduzíveis a enunciados atômicos ou afigurações da realidade. Contudo, esse não pode ser o critério de delimita esses dois campos do saber. Se por um lado os enunciados metafísicos não se reduzem a enunciados atômicos, que no caso específico de Wittgenstein se referem a Estado de Coisas, os enunciados da física teórica moderna também não correspondem a tais afigurações da realidade, em outras palavras, se for possível demarcar o que é científico como aquilo que se refere ao que é reduzível a proposições atômicas, a própria ciência empírica se apresentaria como não significativa. Ao tentar se aniquilar a metafísica se aniquilaria, senão toda, mas boa parte do que chamamos ciência empírica.
	Popper assume que seu trabalho será determinar uma convenção adequada a respeito daquilo que caracterizaria a ciência empírica. Esse princípio demarcador seria capaz de ultrapassar a racionalidade, o autor ainda salienta que aqueles que admitem ser papel da ciência afirmar enunciados verdadeiros e certos dificilmente aceitarão os critérios e as propostas de Popper. 
	O critério da falseabilidade não pode ser aplicado à ciência empírica caso a compreendamos como os convencionalistas, segundo estes, as teorias são arranjos construídos de forma lógica e não teorias que exprimem o mundo físico. Para os convencionalistas as teorias científicas constroem as propriedades do mundo e as experiências. Dentro da perspectiva de ciência dos convencionalistas a experiência não é capaz de falsear uma teoria. A simplicidade é encarada como critério suficiente de demarcação, no fim o que os convencionalistas anseiam é uma predileção das teorias clássicas mais simples frente a novas descobertas e teorias mais estranhas na contemporaneidade. 
	Para Popper a noção de ciência dos convencionalistas se funda em uma ciência que busca a construção de leis fundadas em bases definitivas. Se por um lado a ciência empírica de Popper não demanda uma certeza final, os objetivos e propósitos da ciência empírica dentro da perspectiva de um convencionalista não seriam contestados caso uma experiência mostre o seu contraditório. Frente a um caso que falseie a teoria clássica o convencionalista usa hipóteses “ad hoc” e até altera os instrumentos de mensuração científica. 
	Para os convencionalistas a ciência empírica não elabora leis passíveis de observação, para eles a própria possibilidade de observação é determinada na medida em que as leis naturais em vigor aceitam tal observação em seu horizonte lógico. Deste ponto de vista, as leis da natureza não seriam falseáveis, essas leis ditariam até mesmo as regras das mensurações cientificas.
	Popper não espera a verdade e muito menos a exige da ciência empírica, ao contrário dos convencionalistas que acreditavam que a ciência poderia produzir certa gama de conhecimentos fundados em leis definitivas. 
	Existe uma referência a um princípio de simplicidade que garantiria a predileção de uma teoria sobre as outras. Não nos parece claro, no texto de Popper, que conceito é esse de simplicidade. As teorias seriam selecionadas conforme a economia de seus termos e a total correspondência de seus conceitos com objetos na realidade sensível. Contudo, os convencionalistas não pretendem dar atenção a casos singulares que contradigam a teoria vigente, estariam dispostos até mesmo em lançar mão de estratagemas responsáveis pelo atraso e retardamento do desenvolvimento do processo científico. 
	Não seria possível, a partir do ponto de vista dos convencionalistas, dividirmos as teorias em falseáveis e não falseáveis, ou seja, o critério de demarcação proposto por Popper não seria suficiente na busca pela caracterização daquilo que chamamos ciência empírica. Mesmo diante de um experimento que contradiga a teoria, o convencionalista faz uso de hipóteses ad hoc, modifica as definições ostensivas, suspeita da confiabilidade do experimentador e acredita numa supremacia das teorias clássicas em vigor. Dessa forma os convencionalistas teriam fortes motivos para rejeitarem a falseabilidade popperiana.
	Popper apresenta, enfim, algumas regras metodológicas para que possamos compreender melhor seu critério de falseabilidade. Para ele é impossível falsear um sistema de enunciados, ou seja, não é possível falsear uma teoria a partir de uma análise estritamente lógica dos seus enunciados. Outra distinção importante deve ser percebida entre aquilo que representa uma teoria convencional irrefutável daquilo que é um sistema empírico. Popper abandona os estratagemas convencionalistas e parte para uma investigação acerca dos métodos aplicados a um sistema empírico. 
	É importante salientar que alinhar os fenômenos para se correlacionarem com teorias convencionais nada ou pouco ajudam dentro do avanço do conhecimento. É necessário observar quando se faz uso de algum estratagema convencionalista, não apenas para detectá-lo, mas assim como combatê-lo. 
	A fim de que uma teoria ganhe um campo de proibição maior, as hipóteses auxiliares serão aceitas desde que não reduzam o grau de falseabilidade da teoria. Isso também ocorre quando recorremos a definições explícitas, quando trocamos significados de conceitos de um axioma por conceitos de outros axiomas de menor grau de universalidade. 
	Para caracterizar a falseabilidade de uma teoria é necessário construir uma lógica que possibilite o falseamento de uma teoria através do acesso a enunciados básicos que se relacionam de forma direta com a teoria. Os enunciados básicos são enunciados singulares, nessa medida são todos os enunciados singulares autocompatíveis, mesmo que em sua totalidade se apresentem mutuamente incompatíveis. 
	 A primeira tentativa de caracterização da ciência empírica corresponderia àquela teoria que da qual fosse capaz extrair enunciados singulares. A segunda tentativa chamaria deempírica a teoria da qual fosse capaz de extrair enunciados singulares a partir de outros enunciados singulares, funcionando como condições iniciais. A fim de superar o problema surge a necessidade de se compreender os enunciados básicos que, segundo Popper, se dividem em duas classes: a classe dos falseadores potenciais e a classe dos enunciados básicos que a teoria permite. 
	Deste ponto de vista, dizemos que uma teoria é falseável caso ela contenha falseadores potenciais, ou seja, casos singulares que não poderiam ocorrer segundo a teoria. Quanto aos enunciados básicos permitidos pela teoria sequer podemos afirmar que são verdadeiros, e nada ou pouco podem dizer acerca da teoria.
	Para podermos inferir a falsidade de uma teoria a partir da falseabilidade de seus enunciados básicos é necessário descobrirmos um efeito suscetível de reprodução que refute a teoria, ou seja, é necessário que um enunciado básico seja capaz de oferecer uma experiência que possa ser repetida quantas vezes for demandada. Quando isso ocorre temos uma hipótese falseadora.
	A fim de facilitar o acesso ao conteúdo até então exposto, Popper propõe uma apresentação mais realista de alguns aspectos da falseabilidade. Segundo ele um enunciado básico descreve uma ocorrência, dessa forma uma teoria proíbe algumas ocorrências de acontecer, a teoria será falseada caso algum dessas ocorrências proibidas venham de fato a ocorrerem. 
	É necessário definir o que Popper entende por ocorrência justamente para se livrar das possíveis críticas dos epistemológicos que renegam o uso dos termos “ocorrência” e “evento”. Para o autor é importante compreendermos o termo “ocorrência” como uma classe de enunciados, desse modo dois enunciados mutuamente dedutíveis descreveriam a mesma ocorrência. 
	Quando temos uma classe de ocorrências ou quando usamos termos para universalizar o conteúdo de uma ocorrência concebemos um “evento”. Deste modo quando digo “acabei de derramar um copo de água aqui” descrevo uma ocorrência através de um enunciado básico, esse enunciado possui enunciados equivalentes que descrevem o “evento” “derramamento de um copo de água”. 
	Isso significa dizer: Uma ocorrência P¹ contém enunciados básicos p¹ que são elementos do evento (P).
	Portanto, uma teoria se mostra falseável quando ela rejeita ou proíbe um evento, e não uma ocorrência. Surge então uma nova distinção entre aquilo que Popper chama de enunciado equivalente e enunciado homotípico, o primeiro diz respeito a enunciados que descrevem uma ocorrência, já o segundo se identificam com os enunciados que descrevem um evento. 
	Assim uma teoria para ser considerada empírica deve possuir ao menos uma quantidade mínima de enunciados homotípicos em seu horizonte de enunciados básicos, ou seja, possuir ao menos um enunciado que descreva um evento que seja proibido pela teoria.
 	Segundo Popper os enunciados existenciais, as tautologias e outros enunciados não falseáveis afirmam quase nada a cerca dos enunciados autocontraditórios. Ainda segundo o autor, o método da falseabilidade possibilita um melhor tratamento aos enunciados autocontraditórios, superando as mazelas do método de verificação diante desses casos. 
	A condição de compatibilidade é a primeira exigência para teorias empíricas e não empíricas. Uma teoria não pode oferecer um sistema autocontraditório, caso contrário qualquer conclusão poderia ser tirada de tal teoria. Um sistema compatível oferece de um lado os enunciados que a ela contradiz, e de outro, os enunciados que a ela são compatíveis, assim como as conclusões que podem ser deduzidas do sistema teórico. Ainda para Popper, a compatibilidade é o primeiro requisito para teorias empíricas ou não empíricas que aspiram alguma utilidade.
	Por fim, toda teoria deve ser falseável e compatível, caso contrário não seria possível estabelecer uma diferença básica entre dois enunciados quaisquer. A falseabilidade e a compatibilidade são duas faces da mesma moeda, uma teoria compatível apresenta a falseabilidade em seus enunciados, assim como uma teoria falseável que se mostra compatível para com o método de demarcação proposto por Popper.

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