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PRINCIPAIS ELEMENTOS DA FUNDIÇÃO A fundição em areia é um dos principais métodos para obtenção de peças fundidas, sua grande utilização deve-se ao seu custo relativamente baixo e manufatura simples. Faz-se necessário, para inicio de estudo, o conhecimento sobre os principais componentes para obtenção de fundidos: o molde, o modelo e o macho. MODELO O modelo é uma copia da peça que se deseja obter, pode ser fabricado em metal (alumínio e aço na maioria dos casos), madeira (cedro, pinho, compensado entre outros) e resinas do tipo epóxi. Sendo mais utilizados modelos em madeira pelo baixo custo e facilidade de trabalho, sendo agravantes à sua utilização as deformações com o tempo por umidade e mudanças de temperatura. A construção de modelos deve respeitar regras que garantem a qualidade dos fundidos. Isto depende em que, o mesmo será empregado, tendo variações de acabamento superficial, resistência mecânica, tolerância dimensional, necessidade ou não de emprego de maquinas para acabamento. Começando pelo acabamento superficial o molde deve conservar uma superfície lisa e livre de impurezas para que seu acabamento seja o melhor possível, para isto podem ser empregadas tintas, tanto para a melhora do acabamento como para que impeça que a areia adira ao modelo. Tolerância dimensional o modelo deve ser construído de tal forma que a cavidade resultante no molde compense a contração do metal. Essa contração é comum a todos os metais, porém as porcentagens são diferentes, assim é necessário um projeto de modelo para cada tipo de metal. O emprego de ferramentas para acabamento após a fundição pode ou não ser empregado, dependendo do uso pode-se melhorar o acabamento utilizando-se modelos metálicos, porém este é um parâmetro de projeto que pode ser dispensado caso a maquinação seja indispensável para conclusão do trabalho. Um bom projeto de modelo é de extrema importância na qualidade de fundidos e deve ser sempre considerada sua forma, já que areia tem limitações quanto a sua resistência mecânica. 2 Paulo S. Camargos Tabela 1: Características de alguns materiais utilizados na fabricação de moldelos. MOLDE O molde representa a cavidade em que o metal será vazado, ou seja, constitui o “negativo” da peça produzida. O molde é fabricado a partir do modelo que na maioria dos processos é colocado em uma caixa de moldagem onde é inserida e compactada a areia. O método mais comum para a produção é utilizando-se um modelo bipartido e duas caixas de moldagem, mas pode variar conforme a complexidade da peça ou outros parâmetros do projeto. MACHO O macho é responsável pelos furos e reentrâncias no interior da peça, geralmente é fabricado em areia porem há no mercado alguns materiais refratários alternativos. As propriedades requeridas pelo macho são semelhantes às requeridas pelos moldes e será especificada a frente já que dependem das areias. 3 Paulo S. Camargos Figura 1: Seqüência de fabricação de um molde 4 Paulo S. Camargos AREIAS DE MOLDAGEM Há diversos tipos de areia que podem ser empregadas na fundição, entre elas destacam-se: Sílica (óxido de silício - SiO2); Cromita (FeOCr2O3); Zirconita (silicato de zircônio – ZrO2SiO2); Areia base olivina – Forsterita (2MgO . SiO2) e faialita (2FeO . SiO2); e areia base Chamote. A areia é de vital importância para obter-se um fundido de qualidade, pois é desta que será feito os moldes, machos e canais. Sendo assim as areias necessitam de uma série de propriedades para a melhora da qualidade do produto. Sendo elas: Refratariedade: A areia deve resistir ao calor o máximo possível a fim de não se fundir com facilidade, causando assim penetração no metal. Quanto mais elevado for o ponto de fusão de uma areia melhor será sua refratariedade. Permeabilidade: Esta propriedade é requerida para que os gases resultantes da entrada do metal no molde e de desprendimentos durante o resfriamento sejam expulsos. Pode ser adquirida observando-se a granulometria da areia, onde um maior diâmetro dos grãos representa maior permeabilidade, porém causa perda de qualidade no acabamento superficial das peças. Na tabela abaixo são exemplificados outros fatores que influenciam na permeabilidade. Fatores que influenciam Influência na permeabilidade Areia mais adequada Presença de finos Diminui a permeabilidade AN101SE Tamanho de grão maior Aumenta a permeabilidade AN101SE Presença de argila Diminui a permeabilidade AN153SE Alta concentração granulométrica Aumenta a permeabilidade AN107SE Umidade da areia-base Aumenta a permeabilidade até um ponto ótimo de água Não existe variação Grãos redondos e subangulares Aumenta a permeabilidade Não existe variação Maior tempo de mistura de aglomerante Aumenta a permeabilidade Não existe variação Alto grau de compressão (socagem) Diminui a permeabilidade Não existe variação Tabela 2: Resumo dos fatores que mais influenciam na permeabilidade. Escoabilidade: Capacidade de escoamento dos grãos de modo que a areia tome a forma do modelo e reaja à ação de forças externas. Plasticidade: É um efeito que gera compactação plástica da areia para permitir a extração do modelo e colocação dos machos, sem que ocorra colapso do molde. 5 Paulo S. Camargos Dilatação: A maioria dos materiais expandem com determinado aumento de temperatura, a areia não é diferente, porem isto deve ser observado para que não cause problemas ao fundido. Esta dilatação é responsável por vários defeitos de forma e dimensão em peças vazadas, tais defeitos podem ser evitados escolhendo um determinado tipo de areia para a temperatura em que será derramado o metal.Como pode ser visto no gráfico abaixo. Figura 2: Representação gráfica da dilatação de areias de moldagem. Inércia química: Propriedade que deve atuar para minimizar/extinguir reações entre o molde e o metal líquido. Com base nestas e em outras propriedades é possível selecionar corretamente a melhor areia para obter um resultado final satisfatório e aplicável. Para muitas das propriedades acima citadas sua intensificação é conseguida a partir de outros componentes como os aglomerantes. Segundo Gloria Soares (2000, p.18), aglomerantes “são materiais que envolvendo e ligando entre si os grãos conferem à areia, após a compactação, secagem ou reação química, as características necessárias ao processo de moldagem, isto é, resistência às solicitações dinâmicas, estáticas e térmicas provocadas pelo metal fundido”. As propriedades da areia de fundição são determinadas em função das quantidades e tipos de aglomerantes e dos aditivos usados. 6 Paulo S. Camargos PROCESSOS DE FUNDIÇÃO EM AREIA Os processos de fundição são de grande destaque na indústria, pois proporcionam a fabricação de peças que praticamente não necessitam de acabamento final. Dentre estes a fundição em areia destaca-se pela sua qualidade e baixo custo de aplicação. Além disso, a fundição proporciona a fabricação de peças complexas que dificilmente seriam conseguidas por outro processo. Os processos mais comuns para produção de peças em areia são: Processo de moldagem em areia verde. Processo de moldagem em areia seca. Processo de moldagem CO2/Silicato. Processo de moldagem Shell –Moulding. A fundição em areia verde é caracterizada pela sua composição. Em termos gerais a areia verde é composta por: areia base (sílica - mais comum); argila (bentonita); água e aditivos (pó de carvão, pó de madeira, amido,etc.). Em termos de porcentagem a areia constitui uma mistura de aproximadamente 75% de areia silicosa, 20% de argila e 5% de água, esta é uma composição média e pode variar conforme o tipo de argila ou areia utilizada. Neste processo a areia mantém sua umidade original dispensando a utilização de estufas por isso o nome “areia verde”. São utilizados misturadores para homogeneizar a mistura, sendo todos os componentes secos misturados primeiro e depois se acrescenta a água. Os moldes podem ser preparados manualmente com soquetes ou por emprego de maquinas de compressão, impacto, vibração ou projeção centrífuga. A areia utilizada pode, em grande parte, ser reutilizada necessitando apenas de um processo para retirada de impurezas, como partes metálicas. Este processo, como todos os outros, apresenta vantagens e desvantagens. Vantagens: adapta-se a grandes e pequenas séries, a tecnologia pode ser usada para metais ferrosos e não ferrosos, fácil desmoldagem, não requer uso de equipamentos especiais, baixo custo. 7 Paulo S. Camargos Desvantagens: acabamento superficial e tolerâncias dimensionais limitadas, é vedada a utilização às grandes peças devido à baixa resistência mecânica do molde, pode haver incrustação de areia na superfície da peça. Fundição em areia seca é um processo semelhante ao em areia verde, neste caso, é composto por areias sintéticas ou semi-sintéticas e aglomerantes orgânicos e inorgânicos. A diferença aqui se faz pela utilização de estufas que atingem temperatura entre 150ºC e 300ºC ou a utilização de maçaricos para que sua resistência mecânica seja ampliada. Também é comum que a superfície em contato com a peça seja pintada, com tinta refrataria, para melhorar o acabamento superficial. Diferente do molde em areia verde, este pode ser utilizado para fabricação de peças grandes devido à melhora da resistência mecânica que se faz através da cura do molde. São mais permeáveis que os de areia verde e permitem uma melhora no acabamento superficial, porém a areia não pode ser reaproveitada. Processo de moldagem CO2/Silicato consiste na mistura de uma areia de sílica de elevada pureza com um gel viscoso,de composição ternaria de silicato de sódio (Sílica+Óxido de sódio+água). Após a mistura estar compactada o molde é submetido a um tratamento com CO2 (cerca de 11% da massa do silicato).Este processo primeiro da origem à desidratação e depois à reação: O emprego desta técnica permite a produção de peças com precisão dimensional superior ao obtido com areia seca, dispensa a necessidade de estufas e proporciona uma rápida produção com resistência elevada. Também apresenta algumas desvantagens como a difícil colapsidade, componentes residuais do sódio reduzem a refratariedade, necessidade de rigoroso controle sobre as variáveis do processo temperatura, tempo de insuflação, etc. Processo de moldagem Shell –Moulding este processo utiliza modelos metálicos, montados em placa-molde, os quais são aquecidos a uma temperatura de regime entre 150ºC e 300ºC durante intervalos de 3 a 5 minutos. Os modelos 8 Paulo S. Camargos metálicos podem ser fabricados em ferro, cobre, bronze ou latão, sobre as quais é depositada uma camada de areia termoendurecível, pré-revestida com resina, a qual aquece por condução, convecção e radiação, então ela sofre um processo de polimerização que liga os grãos de areia em uma determinada espessura, formando a carapaça ou “Shell”.A outra parte do molde é feita de modo semelhante sendo as duas partes posicionadas uma ao lado da outra, respeitando-se a simetria, a fim de obter o molde final. As vantagens são: a boa precisão dimensional, pode-se aplicar uma areia com glanolometria refinada o que resulta um melhor acabamento sem prejuízo permeabilidade. As desvantagens ficam por conta do custo elevado de todo processo, as dimensões das peças limitadas e a areia é de difícil manuseio e armazenamento. Figura 3: Processo de confecção de molde para fundição em Shell moulding. 9 Paulo S. Camargos Tabela 3: Comparação geral entre os diversos tipos de moldagem SISTEMAS DE ALIMENTAÇÂO O massalote ou alimentador é um dispositivo utilizado para compensar a contração do metal vertido no molde. Quando o metal começa a solidificar este também contrai, isto resulta em vazios no interior da peça, este é o lugar mais propicio ao aparecimento de vazios, pois é nele que estão os chamados pontos quentes onde o metal resfria-se por último. São nestes pontos em que os massalotes são empregados servindo como reservatório de metal para preencher vazios e direcionar a solidificação. 1 O alimentador atmosférico pode ser coberto com um material isolante a fim de que a sua superfície permaneça liquida, de modo que o metal escoe para o molde por ação da gravidade e da pressão atmosférica. Nos alimentadores cegos pode-se aumentar a eficácia do alimentador, aproveitando a pressão atmosférica, com a inserção no topo destes um macho poroso para que haja contado entre o metal e a atmosfera. 1 SOARES, Gloria Almeida, Fundição: Mercado, Processos e Metalurgia, Pag. 85. Os massalotes são do tipo cilíndrico (massalote aberto) ou cilindro encimado por uma esfera (massalote cego - também chamado de atmosférico) e em relação ao molde podem se posicionar lateralmente ou no topo da peça, sendo que os mais empregados são o de topo aberto ou o lateral cego. 2. 10 Paulo S. Camargos Ao massalote são requeridas algumas propriedades para que este seja efetivo. Deve ter peso mínimo em relação à peça para maximizar o rendimento metálico. Estar localizado junto aos pontos quentes e solidificando-se após a peça assegurando assim a alimentação de todas as partes afetadas pela contração. Atuar com pressão máxima durante a solidificação para que o metal seja forçado a preencher a zona quente da peça. Contar metal suficiente para compensar a contração. SISTEMAS DE CANAIS O sistema de canais é responsável pela condução do metal liquido até o molde. Seus principais componentes são: o funil ou copo, canal de descida, canal de distribuição e canais de ataque. Todos estes desempenham papeis fundamentais não só por levar o metal até o molde, mas por controlar varias variáveis que influenciam e muito na qualidade do fundido. VARIÁVEIS DO SISTEMA DE ALIMENTAÇÃO Controle das condições de escoamento: Durante o enchimento do molde deve- se atingir rapidamente uma velocidade constante de escoamento, devendo estas ser previsíveis e mantidas constantes de um molde para outro. Minimizar turbulência: A turbulência pode acarretar em aumento de desgaste mecânico e térmico. Pode ainda provocar defeitos devido ao arrasto de ar que originará bolhas, produzir escórias ou inclusões através de reações de oxidação com o metal. Evitar erosão de moldes e machos: O escoamento com velocidades altas e mal direcionadas (movimentando ao encontro de machos e paredes dos moldes), isto pode causar peças com defeitos de inclusão e alargamento da cavidade do molde que danifica a geometria da peça. Evitar distorção na cavidade do molde: Este fenômeno acontece principalmente em peças de parede fina, em que a distribuição não uniforme do calor pode gerar 11 Paulo S. Camargos padrões de solidificação indesejáveisque provocam distorções e fissuras a quente nas peças. ELEMENTOS DE PROJETO PARA FUNDIÇÃO Este talvez seja a parte que definirá a qualidade da peça, claro que a qualidade da areia, o emprego de técnicas corretas e o conhecimento profundo de todo projeto são muito importantes, porém o projeto deve levar em conta praticamente todas as variáveis. Aqui serão abordadas apenas partes destas, são elas: mudança na espessura de seção, concentração de calor, linhas de apartação dos moldes, formação de rechupes, concentração de tensões, traçado para evitar a retenção de gases. Variação da espessura: Esta deve ser gradual. Os ângulos de entrada repentinos não são recomendáveis, é preferível que ambas as seções tenham a linha central comum, o melhor projeto é aquele no qual a mudança de seção se encontra inteiramente ao longo de um lado da seção fina. Figura 4: Representação da melhoria de um projeto aplicando-se as regras mencionadas acima. A variação gradual da espessura ajuda a combater o arraste de ar para dentro do molde. Concentração de calor: O aumento da massa numa junta pode favorecer o aparecimento de pontos quentes, para que isso não aconteça são utilizados alguns métodos para diminuir a espessura, como por exemplo, projetar membros da união de espessura menores possível, para junções do tipo x, desloca-se dois ramos de lados opostos. 12 Paulo S. Camargos Figura 5: Métodos que reduzem a concentração de calor. Linhas de apartação dos moldes: A linha de apartação é o encontro entre as partes da caixa de moldagem (superfície de contado entre as caixas), na maioria dos casos são necessárias apenas duas caixas de moldagem, porém para peças mais complexas pode-se exigir mais. O maior número de linhas de apartação traz alguns problemas, os riscos de deterioração do molde são maiores, intensifica-se o perigo de fuga do metal durante o vazamento e torna a rebarbagem mais trabalhosa, logo seu emprego deve ser dosado tomando-se algumas regras: preferir linhas de apartação planas e horizontais e procurar alternativas ao traçado, diminuindo assim o número de linhas de apartação. Concentração de tensões: Os fatores de concentração de tensões são especificados através de medidas fotoelásticas ou por utilização do extensômetro. A alta taxa concentração de tensões causa trincas na peça. O gráfico abaixo representa uma técnica para redução da concentração de tensões. 13 Paulo S. Camargos Figura 6: Fator que influencia na concentração de tensões. Formação de rechupes: Rechupes são vazios formados no seio da peça conseqüente à contração do metal liquido em razão da solidificação. Devido aos gradientes térmicos a solidificação tem inicio nas periferias da peça. A formação de rechupes pode ser evitada recorrendo-se a: utilização de alimentadores, ou seja, reservatório que fornece metal liquido aos pontos quentes da peça. A utilização de alimentadores é imposta pela forma da peça e pelo seu volume e é condicionado pelo consumo de metal e utilização de arrefecedores que direcionam a solidificação. Traçados para evitar a retenção de gases: A formação de poros no interior das peças pode acontecer devido a retenção de ar, por inadequação de projeto. Isto pode ser evitado realizando traçados com comunicações entre o interior e o exterior do molde (de preferência para a parte superior no sentido de enchimento); evitar formas complicadas que obriguem os gases a tomar percursos sinuosos e reduzir ao mínimo as partes maciças. 14 Paulo S. Camargos REFERÊNCIAS 1. SOARES, Gloria, Fundição: Mercado, Processos e Metalurgia, COPPE/UFRJ, 2000. 2. MACHADO, Izabel, Processos de Fundição e Sinterização, UFMG, 2002. 3. CHIAVERINI, V., Tecnologia Mecânica – Processos de fabricação e tratamento, McGraw-Hill, 1986. 4. BELEEY, Peter, Foundry Technology, Butterworth-Heinemann, 2001. 5. FERREIRA, José M. G. Carvalho, Tecnologia da Fundição, Fundação Calouste Gulbenkian, 1999. 6. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FUNDIÇÃO – ABIFA, Manual Técnico de Vendas: Aço, São Paulo, p.10. 7. TORRE, Jorge, Manual Prático de Fundição, Hemus, 1975. 8. THE MATERIALS INFORMATION SOCIETY - ASM, Metals Handbook – V.15 Casting, 1988. 15 Paulo S. Camargos
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