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Max Weber A POLÍTICA COMO VOCAÇÃO Tradução de Mauricio Tragtenberg Revisão técnica Oliver T olie :~ UnB FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DE BRASluA Reitor Lauro Morhy Vicc-Rdtor Timothy Martio Mulholland EDITORA UNIVERSIDADE DE BRASILlA Diretor Alexandre Uma Con.,c/ho Edilorial Presidente Elizabeth CanceUi Alexandre Lima, Clarimar Almeida do Valle. Henryk Siewierskí Equíp«dilorlal Severino Francisco (Supef\1são editorial); Rejane de Meneses (Acompanhamento editorial); Ana FI.via Magalhães e Yana Palankof (Preparação de originais e revisão); Márcio Duarte (Projeto gráfico. capa e editoração eletrônica); Raimunda Dias (Emendas); Elmano Rodrigues Pinheiro (Supervisão gráfica) Copyright o 2003 by Editora Universidade de Brasllia. pela tradução Título original: Politik aIs &ruI Impresso no Brasil Direitos exclusivos para esta ediçãO: Editora Universidade de Brasília SCS Q. 02. B1ocoC. N"7B Ed. OK, 2" andar 70300-500- Brasilia-DF Te!: (Oxxól)22ó-6B74 Fax: (Oxx61) 225-5611 e-mail: editora@unb.br Toclos 06 direiros reservados. Nenhuma parte desta publicação podet.í ser armazenada ou reproduzida por qualquer meio sem a autorização por escrito da Edirora. ficha cataiográfica elaborada pela Biblioteca Central da Universidade de Brasília Weber, Max W375 A politiea como vocação I Max Weber; tradução de Maurício Tragtenberg. - Bras1.lia : Editora Universidade de Brasilia, 2003. BOp. Tradução de: Politik aIs Beruf ISBN 85,230-0721-0 1. Teoria Política. I. Tragtenberg, Sérgio. 11. Titulo. CDU 32.001 MAX WEBER - Po/itik ais Beruf (A pol1tíca como vocação) in Gesammelte Politische Schriften (Escri tos políticos reunidos) ~ V"- -k. ~ \4 Cvv ~ ~.JJ 1... D 0'0 \)t>1:;, G', ~';. Sol.... ~ '( \:;>Vi;) II LtCi :3b 19 eil LO ( "6 r -""-) (, \L-~c>3 \ S'~"\ \b 2..J '-ó'-{ ~c.'t +=Fc 1-1 /",' '" ., 1_, / É inevitável que essa conferência, para a. qual fui convidado pelos senhores, os decepcione em mui, tos sentidos. A expectativa de todos é que eu adote uma posição a respeito dos problemas contemporâ~ neos. Isso só acontecerá de um modo puramente formal na conclusão, quando eu abordar certos pro' blemas a respeito do significado da ação política no contexto da atividade humana global, razão pela qual fica eliminada qualquer indagação referente a que pol1tica devemos seguir ou qual conteúdo de' vemos conferir ao nosso agir político. Tais questões nada têm a ver com o que me proponho a tratar nesta ocasião: o que significa a política como voca, ção e o que isso pode significar? Passemos ao tema que nos interessa, O que compreendemos por polltica? O concei to é demasiadamente amplo e incorpora todos os ti ~ MAX WEBER + pos de atividade de comando independente. Falamos da política monetária dos bancos, da pol1tica de descontos do Rdchsbank, da política de um sindica~ to durante uma greve; é também pertinente referir~ se à pol1tica educacional de uma comunidade rural ou urbana, à pólítica do presidente de uma associa~ ção e, finalmente, à política de uma esposa prudente que procura guiar seu marido. Inicialmente, devo esclarecer que nossas reflexões não se fundamen tam num conceito tão amplo de política. Desejamos no momento entender por pol1tica apenas a direção ou a influência sobre a direção de uma associação política, ou seja, de um Estado. Porém, o que é uma associação política do ponto de vista sociológico? O que é um Estado? Socíologi~ camente, não podemos definir um Estado a partir do contéudo do que faz. Não há nenhuma tarefa que 1:l'l!la associação política não tenha em algum momento tomado nas mãos, mas também nenhu~ ma de que pudéssemos dizer que foi sempre exclusi~ {; 1va dessas associações denominadas pol1ticas e hoje em dia são designadas como Estados, ou que fo~ ram historicamente as antecessoras do Estado mo~ / demo. Em' última instância, o Estado moderno / pode ser definido pelos meios peculiares que lhe são próprios, como é peculiar a toda associação polltica: /' o uso da força física. "ºu~9.l:1_er ~si~ª,9_º~~ta's~ na ~ A POLÍTICA COMO VOCAÇÃO + força", declarou Trotsky em Brest,Litovsk. De fato, trata~se de uma afirmação correta. Se inexistissem estruturas sociais fundadas na violênciã, teria sido eliminado o conceito de Estado e emergiria uma situação que mais adequadamente designaríamos como anarquia, no sentido específico da palavra. Naturalmente, a força não se constitui no meio único do Estado - ninguém jamais o afirmaria -, porém a força cons4tui~se num elemento específiço do Estado. Na época atual, a relação entre violência e Estado é profundamente próxima. No passado, as~ . socíações tão diferenciadas - começando pela famí~ lia- utilizaram como instrumento de poder a força física como algo inteiramente normal. Entretanto, atualmente, devemos dizer que um Estado épma comunidade humana que se atribui (com êxito) o monopólio legítimo da violência física, nos limites de um território definido. Observem que o território cdnsti~ tui uma das características do Estado. No período contemporâneo, o direito ao emprego da coação ca é assumido por outras instituições à medida que o Estado o permita. Considera-se o Estado como fonte única do direito de recorrer ã força. Conse qüentemente, para nós, política constitui o conjunto de esforços tendentes a participar da divisão do po~ der, influenciando sua divisão, seja entre Estados, seja entre grupos num Estado. 8 9J ~ MAX WEBER + Tal definição corresponde ao uso quotidiano do conceito. Quando se afirma que um problema é polí tico ou que um ministro de um gabinete ou um ofi cial é um funcionário político, ou quando se afirma que uma decisão é politicamente determinada, faz-se refe li rência ao fato de existirem interesses na distribuição, 11 na manutenção ou na transferência do poder, fatores I decisivos na solução daquela questão, na determi nação da decisão ou no âmbito de atuação do funcio nário. Os_qu~~~~m na política aspiram ao poder ou como meio para atingir outros fins, abstratos ou individuais, ou como poder pelo poder, para desfrutar da sensação de status que ele proporciona. como as instituições politicas que o prece deram historicamente, o Estado é uma relação de homens9c~~Jominam seus i~uais,mantida pela vio lência legiti_maji~to é, considerada legItima). Pa@ que o."§~ta.c!.º.(:!fͧta, os_ººminados devem oQ.~decer a supos~ "~~.t.?"lidade dos p.oderes dominante4Dal as seguintes perguntas: quando e por que obedecem os homens? Ora, em que justificaçOes· Íntrlnsecas ou extrínsecas se baseia essa dominação? . Para iniciarmos, em princIpio existem três tificações.internas como fundamentos da legitimaçdo ~..::'~:'.!:!;!;!~:i'U' Em primeiro lugar, a autoridade do ~ passado eterno, ou seja, dos costumes consagrados por meio de validade imemorial e da disposição de ~ A POLÍTICA COMO VOCAçAo + respeitá-los. É a dominaçeto tradicional ~~ercida-pelQ patriarca ou pelo príncipe patrimonial de outrora. Há também a autoridade do~om dagraç~, em que se fundam os~der~~~~traordinários de ~m indivi~ duo (ca.rismaLEssa dominação tem como funda mento a de:,~ç].o e ~ "abs~iut,!~e.ntepe~-= soais na revelação. no heroísmo ou em outras qualídades de caráter-E~ssoa1. ... Essa é a dominação carismática, tal como é exer _p!i~ii<#!.t~~u - p~~campo 4ª~it~_~~.p.do_ chefe guerreiro deito, pelo governante empossado "por plebiscito, pelo grande demagogo e pelo chefe de um partido político. Finalmente, temos a domi naçãõ .iÍnposta por me,io da.Leg']).W~~ fundada na . crença da.validade do estatuto legal e da competência funcional baseada e~ normas racionalme~te'definidas. Essa é a dominação exercida pe!~m~de~1l9_ servi.4or do Esta~~..:.po~ t:,dos o.s detentores do.poder . a ele assemelhados. Supõe-se na realidade que a obediência dos sú é determinada pelo temor ou pela esperança temor da vingança exercida pelos poderes mágicos ou daquele que exerce o poder ou pela esperança de recompensa neste ou noutro mundo. Interesses dos mais diversificados podem condicionar a obediência. Posteriormente, voltaremos a esse assunto. T odavía, ao considerarmos os fundamentos de legitimaçeto 10 II ~ MAX WEBER + dessa obediência, sem dúvida deparamos com esses três tipos puros que indicamos: domínação tradicional, carismática e legal. formas d~ legitimação e sua justificação '. interna são profundamente significativas para a com~ preensão da estrutura de domínação. Na realidade, e~ses três tipos puros raramente.são ençontrados. Hoje, não é possível nos ocuparmos das variantes, das transições e das combinações profundamente complexas desses tipos puros, seu estudo pertence à ciência política em geral. .,;: O poder fundado na submissão ao carisma purarmente pessoal é o que nos interessa tratar no mo mento. é a base da idéia de uma vocaçi!o na sua V" expressão mais alta. A devoção ao profeta portador de um carisma, ao dirigente da guerra, ou ao demagogo que age na ec:fl~ sia_ou no Parlamento significa que são chamados in teri9.rm~nte para conduzir os homens. Os homens obedecem por causa da crenç~.que depositam nos seus dirigentes e não em razão dos costumes ou. de um estatuto. Se o carisma for mais do que o produ~ to da conjuntura, o dirigente certamente viverá pela causa dos subordinados e procurará realizar sua obra. ./ É a pessoa e suas qualidades de chefia que orien -------- { tam a devoção <!le seus discípulos e adeptos. ---~-_.,~_ .. 12 .> A POLíTICA COMO VOCAçAo + A liderança carismática apareceu em todas as épocas históricas e em todos os lugares. No passa do, apareceu por um lado na figura do mágico e do profeta, por outro lado na figura do chefe guerreiro ou sob a forma de um grupo na qualidade de li condottiere. Nós estamos interessados na hegemonia politic~ exercida pelo demagogo livre, que emergiu na cidade-Estado. Porém, ele só triunfou no Ocidente. sobretudo nas regiões mediterrâneas. Além do mais, a hegemonia política na forma de chefe de par- parlamentar nasceu nq espaço do Estado cons titucional, tipico do Ocidente . _ -D Tais políticos orientados por uma vocaçi!o não são de modo algum as únicas figuras determinantes na luta politica pelo poder. Q§. meios de que dispõem os políticos são o fator decisiw. C9.!!:!2.§Is forças po- ,.. líticas conseguem _~ sua ~i.J.:w&ãp? É uma pergunta c<:J.b~_!1U!nálise de qualquer tipo de . domínação. valendo para a domínaçao politica em todas as suas formas, seja ela tradicional, legal ou carismática. T odá' dominação organizada que pretenqa man- v ter certa CQlltiI1!!idade administrativa requer uma c9_ncll.1~humana direcionada à obediência àqueles que pretendam ser depositários do podl;;:r fegltimo. Por outro lado, em virtude desse tipo' de obediência, a dominação o~ganizada pressupõe o contrºl~ da-.., 13 -+ MAX WEBER + { queles r~s !!l~~ necessários el!1 caso de utilízaSãO da Yio~ncia flsica. Portanto, a domina ção organizada requer \lm controle do ~ssoal bu rocrático e da existênçja ~ instrumentQ.s materiais de administração. O pessoal burocrático que repre senta no âmbito externo a organizaç!Q d~d.2!fiÍl"!a ção política, corno em qualquer outra organização, não se encontra vinculado a quem detém o poder somente por meio das concepções de legitimidade de que tratamos, mas obe~-Q eID Junção qc_ prestígio social e recomp~materiais. Feudos dos vassalos, m:rl>endas dos funcionários . patrimoniais, v_encimentos dos servidores públicos modernos, as honras dos cavaleiros, o priyilégjo dos . proprietários de terras e o 'Qrestí~io do funcionário público constituem seus salários. Além disso, o que 1ig~os funcionários burocráticos aos detentores do poder (o medg da~ s:l~s vantagws. Isso também vale para a dominação carismática: numa guerra, há glórias e riquezas para os seguidores; os adeptos do demagogo recebem despojos - isto é, a exploração dos dominados por meio do monopólio do cargo -,. e existem ~s..s~mios~ vaidade politicamente determinados. Tais recompensas surgem pela dominação exer cida por um lider carismático. Para manter a domi naçãO pela força, tal corno numa organização econô 14 -> A POLíTICA COMO VOCAÇÃO + mica, são necessários certos bens materiais, razão pela qual todos os_Estado.s podem ser classificados ..! na medida em que se fundamentam na posse dos meios -administrativos pelos funcionários ou magi~ trados ou no fato de seu pessoal burocrático achar::.~~_. separado desses J.lleios de administração. Tal distin ção é estabelecida quando nos referimos ao fato de n.~ empresas capitalist~ os empregados assalaria dos e o proletariado estarem, sepáradqs dos meios mate:rJ'-º~.sk produção. O detentor do poder precisa contar com a obediência dos funcionários, dos membros de sua equipe. Os recursos administrati vos podem consistir em dinheiro, edifícios, material de guerra, cavalos, veiculas e muit'as outras coisas. O problema central é saber se o detentor do pod~r . dirige e organiza pessoalmente a administração, de legando o poder executivo a funcionários de sua confiança, funcionários assalariados, membros de' sua família que não são proprietários, isto é, que não utilizam os meios administrativos com plenos direitos, ou, se pelo contrário, são dirigidos pelo che fe. Essas diferenciações aplicam-se a quaisquer or ganizações administrativas que já existiram. Às assoéÍações pol1ticas nas quais os meios ma teriais de administração são cçmtF.Q_lª~s parcial 0l!. totalm~m:~ pelo pessQ.<:tJ b1;lrocrático dependente denomin~re!!l9s de associaçõés orgª!Úzaclg§ de modo 15 ? M A X W E B E R' + \, corporativo. Exemplificamos com a sociedade feudal, 'n] qual as despesas administrativas e de aplicação da justiça eram fínaI?-ciadas .pelo vassalo no fe~do que lhe fora confiado. Tinha ele ainda a obrigação de se equipar para a guerra, o mesmo sucedia com seus subvassalos. Isso certamente implicava algumas con~ seqüências para o exercício do poder do SenhQr, ba~ sgdo somente na fé jurada em caráter pessoal e pelo fato de a legitimidade da posse do feudo pelo vas§.í!lo e da honra social dele derivarem d~ seu Senhor sup,etip.r. Tomando como ponto de referência até mesmo as mais antigas formações politicas, em todas as partes o Senhor aparece tomando a administração nas suas próprias mãos. Procura manter~se nessa posição por intermédio dos que depositam pessoal~ ·mente nele sua confiança: escravos, servos, favoritos, . prebendários enf~udacÍos, a quem ele destina vanta~ gen~ em espécie ou dinheiro. Ele faz frente ás despe sasadministrativas lançando mão de seus bens ou das rendas?e seu patrimônio, procurando ~ .,; exército qu~deQendade sua pe~, na medida em que é equipado com os frutos de suas colheitas, com i I o conteúdo de seus armazéns ou com os recursos de . I seus arsenais. No caso de uma associação \,/ estruturada êm Estados, uma aristocracia indepen d~ constitui seu sUQorte de .e0d~e1!l troca, exi~ 16 ? A POLÍTICA COMO VoCAçAO + ge aI:a.E.til~~ de~~_e pode~. Há o caso em que o Se- , nhor que administra pessoalmente conta com o. apoio de dependentes ou plebeus; também lhe resta o apoio ae sua família. Os plebeus e os dependentes v que o apóiam são camadas não proprietárias, despro vidas de honoràbilidade estamentaf própria. Mate rialmente, dependem inteiramente dele, sem en contrar apoio emoutro poder que possa contrapor-se ao soberano. . Todas as formas cÍe doIninação patriarcal e paqj~ moniaI -: despotismo de um sultão ou dominação \ burocrática pertencem a este último tipo.. A es trutura do Estado. burocrático é particularmente importante, e o $eú..desenvolvimemo rac~º.nal carac'" teriza o Estadglllodc:no. Em qualquer lugar, o desenvolvimento do Esí.:a~ do moderno inicia~se pela ªção dQ soqm.no. É ele quem cria as conc!ições neç~ssáriªs à expropriação v"" dos poderes a!HQnomQ~ }2.riYJldas que possuem o poder de adIninistrar os insumos financeiros, o exér cito, assim como bens poli~icamente úteis de qual quer tipo. No conjunto, observa~se um pàralellsmo como desenvolvimento da empresa capitalista por meio da exprcpriação grad1}al.dos produtores autô~ nomos. Finalmente, temos o Estado moderno que .,. exerce o controle dos recursos pollticos adminis- / . / trativos sob direção monocrática. Nele, nenhum , 17 ! -+ MAX WEBER + \ funcionário detém pessoalmente os recursos finan cejros, nem é proprietário dos edifícios, instrumen tos ou apetrechos d~ guerra de que dispõe. NoJ;.mt do f5!!.!.!!E!!JE!!râneo - e isso é essencial para o conceito de Estado -, realiza-se plenall'lWe a separClçào en~l..e os r~s materiais e Q.§ fU1!cionários e trabalha dores na organização administrativa .. Surge então um.p!.~ Ç>riginal que acompanhamos com nos sos olhos, que consiste na amea~ çl~ex'prollJjil( o exp:I'oprt,!-,q,or ~ rn.d..cls p()Jitíco§ e, d~§.ê~ maneira, do ,~ pqder político. A medida que esses dirigentes ocuparam o lugar das autoridades constituídas - como se deu n<l Revo lução Alemã de 1918 -, eles conseguiram ªJ?Qssar-sS,.. por; usurpação ou eleição, do ppder ~. c.antrQJ.aQ quadr'p administrativo e dos bens materiais, fundilll:: do a legitimidade de s~.~ n;'l_YQ,~~~g~ dos go vernm. A possibilidade de que, com base nesse êxito, ao menos aparentemente, os dirigentes te nham a esperança de realizar a expropriação das empresas, econômicas capitalistas constitui um problema diverso. Sem minimizar as profundasI 1 analogias existentes éntre a administração E(t.!?ll~. " ~ < e a privada, esta é regida Í2Qr leis totalmente dJvex -- , - s~das que r~gem a l2Iímeira. A esse respeito, não iremos pronunciar-nos ago v ra. AC~I1tuo apenas o a,specto conceitual d~q~ggo: o 18 + A POLÍTICA COMO VOCAçAo +- EstruJo mpderno é uma associação que" tem comolv~ funç.~g. a o.rgan,ização da dominaçao. Conseguiu o monopólio do uso legítimo da força física como meio de dominação nos limites de um território. Para con seguir essafinalidade, centralizou nas mãos dos ad ministradores o poder ao mesmo tempo em que ex propriava todos os funcionários que,· outrora, dispunham por direito próprio desses meios de ad ministração. O Estado ocupou seu lugar e hoje em dia' predomina. AQ longo~e pro~o ,de. eXJlli2.:. M\J.- ( priação política, que em mil!Qr ou meri.Q.!:g.rl1.u S!,: de MI&~V senvolveuem todQs os páí~.§.do'r;;.un~ s).lrgir~l1l.ê§" primeiras catego~ia~ dos políticos prPfi~sjQ11!Jjs. Inicial- '" mente a serviço do monarca, eram homens.que., con-. trariamente aos líderes carisfi'ático&, não desejavam, . ocupar o lugar de Senhores, mas estavam, sim!~ .s..~E::- viço deum ~ªncipe.Na luta pela co~~~tração dos poderes em torno do monarca, aliaram-se a ele, deri vando disso seu ganha-pão diário e as normas éticas com que orientavam sua existência. Novamente, é~ Oçidente ~ !!Dcontramos o polítiéo PI'()fissional. a. serviço d~ outros .poderes v ..J . que..J!!Q ()_poder dºJll()~ Em épocas remotas, rV1P"" eles constituíram 110 re~}lr@ çle l{oder mais sig nificativo com/que podia contar .º-.monarca e nos agentes do processo de expropriação política opera do em seu benefício. 19 i ? MAX WEBER + Antes de estudarmos analiticamente os políticos pr1fiSSion.ais,.. eSda. reçamos sob todos os ângulos o I V I siKnificado cJ~· .s.urgiroentg. A política, ig;ual~ ,_~",,~. ,! mente CQJ110 a ação e_conômica, pode ser uma ativi~( ~~~ \ dade transitória ou se cOllWtutr em vocação para a t...." pess~a. Como políti~~ possível tenta_r in \/" fluir ~obre a distribuição .~ poder 1lQ. i:nterior~Qas div~rg,s formações pºlíti~as ou entre elMo Ela pode ser objeto de um exercído ocasional, mas é também possível transformã~la em profissão principal ou secundária, como sucede na esfera econômica:.,.;l.,2 ~~~_~~a.I:.<:~ticos de ~casiào Çl!lango vot~ mos ou exp~~~~'l1.!1os.!'!':',~.~~_yont~<!U?()I!t~s:~_ªo pro,: ;jiüiiêlar '~~ discurso pol1tico.l. al2rova;ndo ou <c ~ -,.•,,,_____, ........... - "' ..- .. __ des~p.:?~':.~do als..o.~ para inúmera~ps;.$§ºª'ª'-.a ç.9J].vi~ vência com a esfera política reduz~se a isso. Atual mente, praticam a poiitica como atividade secundá ria os chefes de partidos oul!gme1lS.de cOIÚiança, que ~) só at.!L~ política por necessidade, para quem ela { .. -••....__. não . .constitui suavida, nemp.o plano ~ti.ljal !l~ no ig~~o. Isso se aplica aos membros_de conse ,lhos de Estado ou oqtros. órgãos delibe!~~i".2s simi lares, que só se manifestam quando convocados. O mesmo vale também para os parlamentares, que só atuam durante as sessões - isso era caracte~ rístico dos políticos do Antigo Regime, estruturado por Ordens. Constituíam-se em Ordens os que possuíam 20 I ? A POLÍTICA COMO VOCAÇÃO + os meios materiais deadministração, sej'àm civis ou militares, ou os,que usufruíam de privilégios de ca~ ráter pessoal. Eles, ·na sua maioria, não se consa~ gram totalmente à vida polítita, sendo ela objeto de sua dedicação a título temporário. As rendas ou as '\. vantagens pessoais, derivadas de suas prerrogativas, t eram o maior objetivo a ser atingido. No interior de suas Ordens, sua atividade política dav<,l-se por ordem . . expressa do Senhor. Da mesma forma agiam as forças auxiliares a serviço do monarca, no contextô da lu~a que este' desenvolvia na criação de uma' orgànização política à sua disposição. <irande parte dos conse lheiros que constituíam as cúrias ou,.se 'integravam em outros órgãos privados a serviço do monarca as sim como os conselheiros privados pertenciam a essa categoria. Porém, para o monarca, essas forças auxiliares dedicadas ocasionalmente à ação política natural~ mente. não s~tisfaziam. suas necessidades. Movido pela necessidade, tentou o monarca criar um quadro de adeptos ligados totalmente a ele e a seu serviço, ~l'!1.que.a ação 'pol1tíca constituísse a vocaç.ã,91?r!!l.9; paI. A estrutura daa~~ pol1tiwl dadínastia nª§.cente, a§.§illJ. çQ!!!Q ê.1#-. articulaç!o çQm á culturjl, dep<;:~ .... 'em II1uito clã orig~m soçJªl do§ªWtes r(!crutados. Isso vale com maior força ainda para as associa~ çôes políticas cujos inembros, após a limitação ou 21 -+ MAX WEBER + a abolição completa do poder senhorial, se constituí~ v r.;ím em cQmullas li~ - não no sentido de uma li~ , bertação da domil1ação fundada na violência,. mas pela in~xistência de-.!:!!!} poJig senhorial fllpdaçl.o (' , ,'. ~ nª legit~de tradjs;.IDllal (quase sempre consa~ grada pela religião )'como fonte exclusiva de auto ridade. Essas c0IUl!.lli!s nasceram no pe~ da cívili~ V zaçãg ocid,~llUl sob a fornm pJj!IÚtiva .de ,cí~~g._e, a qual vemos surgir pela primeira vez no âmQito da cívilíza.-'2o medí,terrânea. Vejamos sob que formas se apresentaramJodas as cat~orías anteriorl1lel).ç~_citadas que: fazem dà-", t...eoJ.1!i~a ;~;~~~fdQ~J?F9fjssãeilfí.!í~W'lL--=-- , ~fo;mas de fazer da política uma vocação) ,/OU se vive ~a~a_a política. ou.se,vive .da políticafiaI '1'CÕÚi:;aste não se dá ~ form"",a .e,xclu;i~à:. T.áil,'to na prática como no discurso, um.~~~a c:o.isiJ,5~~( ,~ ªQ me:gnQ t.emRQ; Quem vive pa!!!.a ~ol1tica a r torna o fim de sua.existência, ou porque essa atividade f permite obter prazer no simples exercicio do poder, I ou porque ~antém ~ eq~tlíbrio imerior e .§'lla ,/.-, auto~e"s.J:j!pa fund.a.Q.us na consciência de qHL§!la eX!~~a te!Jt sentido â m.ec:lida qu~ ~ a§e:l:'VJ.ç.9 ~ JJ1!la calJB)Num sentido profundo, todo_aq~ele que vive p-w uma ~ v!'y"~ dela tªmbém. E o - -+ A POL1TICA COMO VOCAçAo + ca uma fonte permanente de rendas, vive da pol1tica ~,omovoc:açãõ;~o caso-~~t?,-Ví~~~~_~,p.~:rÊ;Eoiíti~ ,.,. ~\Num regimeTU:ücIãdo na propriedade privada, sio necessárias certas precondíções que os senhores considerarão~banais para que um homem possa viver para apolític~. !~ condições normais, deve o homem político ser economicamente independente das ren~ das que a ação política lhe possa proporcionar. Isso, .."'" significa simplesmente que o político deve ser rico I • ou contar na vida com uma fonte de rendas indepen~ dentemente da sua qualidade de político. Isso é válido para condições normais, pois da mesma forma que o chefe guerreiro, os adeptos do agitador revolucionário não se preocupaJIl com as condições de lJma economia normal, pois num e ,noutro caso vivem de saques, roubos, confiscos, emissão de bônus sem lastro, o que no furido é a mesma coisa. Mas essas são situações necessaria~__ mente excepcionais ...N.il viÇl1!..ecq~ quotidia~'~, n~ s6 a posse de certa riqueza torna economica~ t mente independente qualquer pessoa. Porém, só isso! é insuficiente\ O ho..!J}W político d~ e,conomi~ V' -_crun.~ disponí~, a, preo~upação com sua subsistên~ /,." da pessoal não deve tomadhe todo o temp~.(OIni;is disponível no sentido que tratamos é aquele que re~ aspecto econômico um dos ªe~s importantes cebe rendas sem trabalho algum oriundas de títu~ dasondíção do, homem político. O que vê na políti~ . ,- los ou ,de fontes análogas. Isso à semelhança dos 22 23 i -+ MAX WEBER + grandes senhores da Antiguidade ou da Idade Mé~ dÍa, em que os escravos ou servos se constitulam em fonte de renda. Nem o operário nem o homem de negócios moderno têm tal disponibilidade - de~ dique~se ele a atividades industriais ou agrícolas, embora este últim~ seja beneficiado com o caráter sazonal da agricultura. Para o empresário, em geral, é muito difícil en~ contrar algum substituto em sua empresa, mesmo que temporariamente. Como o médico, quanto mais nome tem, mais consultado é e menos tempo dis~ pôe para outras atividades. Por razôes profissionais, as dificuldades são menores para o advogado, o que explica o fato de ele ter desempenhado na qualida~ . de de polltico profissional um papel mais signífica~ tivo e às vezes preponderante. É desnecessário de< senvolver essa casuística; mais importante é esclarecer algumas implicações da exposição feita. O fato de homens que vivem exclusivamente para a pqlítica e não da: política dirigirem um Esta~ Hr do ou um partido s~gnifica que o recrutamento des~ i I , ses dirigentes écQti~o de forma plutocrática. Issot I' ; não significa que a direção plutocrática não procure tirar vantagtns dessa situação procurando viver d~ política, explorando essa posição em função de seus interesses econômicos. . 24 -+ A POLíTICA COMO VOCAçAo + Na verdade, isso ocorre quase sempre~ Nunca existiram camada,s dirigentes que não viveram da política de uma ou de outra forma. Que~sª~ v ace.!.'!.t:!:illr q~ polítÍCoprqfissiQWll nãQ neces~ir~, . ºbter!:!!!lli rem~peração di!1;.~ã pelº§ serviços qy.!:... prest~, enquanto ôindivíduo. pobre. deve considerá~ a..-'" la em primeiro plano. Não é nossa intenção insinuar que homens desprovidos de propriedade procurem exclusivamente óu predominantemente' vantagens econômicas pessoais por meio da ação política, desconsiderando a causa a que servem. Nada seria mais falso do que taLafirmação. Sabe~~e, pela expe~ riência vivida, que a pre.Q9dl'~ção Gmn. a segyranca econômica é um el~!11ento vi,tal na.~ d~.aluém frrf 'l!:!..e pos§.9i f0!D!!l.a, t~.ph-ª-ele consçj~ncia di s9 oJ!.. não. O idealismo político acima de qualquer con sideraçãO ou princípio é praticado principalmente, quando não de maneira exclusiva, por aqueles que não são proprietários de bens e por isso estão afas~ tados das classes sociais interessadas na manutén~ ção de uma ordem econômica numa dada socieda de. Isso é válido principalmente para períOdO~ extraordinários, revolucionários. O que nos .inte~ ~, (,~!~~? ressa realçar é o seguinte: o recrutamento não ~i.cM' plutocrático de chefes e adeptos na áreapolftica I ~ pressupõe a possibilidade de a organização política I assegurar~lhes ganhos garantidos e regu.l~es. Sem~ . UFRG~5 i".ttf)orp,r~ '}(.'I'.lílai <!e Ciências SOCIaiS e rHJ(n~!:Hrladn ~ MAX WEBER + v pre existem duas alternativas. Ou a atividade poli ( tic,\ ,é exercida honorificamente, ist9 é, por pessoas, . como se diz, independentes em função de sua fortuna pessoal ou rendas, ou têm acesso ã carreira política homens sem propriedade que devem ser pagos. O político profissional que vive da polítiçq pode ser um beneficiário ou funcionário pago. Receberá ele hono rários ou emoluméntos - não passando as propinas de uma forma desnaturada e irregular de remunera ção - ou será remunerado em espécie ou dinheiro, ou ainda ambas as cQisas simultaneamente. O hOJ1lem político pod.e assl!Il!.!.r a figurá' de JJID empresário como o é o condottiçrç, o meeiro ou o que ocupa um cargo arrenda~o ou comprado ou como o chefe norte-americano,! que vê nas suas despesas um investimento de ,capital transformado em fonte de lucrospor meio da exploração de sua influênCia polltic~. Também pode recebeI remug,eralião fixa,co mo jornalista, secretário de partido, ministro de ga binete ou funcionário politic~(Antigamente, os pr1n cipes, os conquistadores vÍtÕriosos ou os chefes de , . f , IIII partido pagavam seus servidores com prebendas, '" i i . feudos, doação de terras, e, .com o deSenvolvi I mento da economia monetária, com gratifica.ções em dinheiro. Em nossa época, tais pagamentos são feitos mediante nomeação para cargos de todo tipo, seja em partidos ou em sociedades cooperati ~6' ~ A POLÍTICA COMO VOCAçAo + vas, seja em jornais ou na burocracia do Estado. Es ses cargos são considerados cargos de confiança pe los chefes de partido. , <1(' A finalidade da luta eh...!E. os pru:tido§ é a conse cução de fins objetivamente definidos, mas, acima de tudo, é ta~,al].l,~~pclQ poçlg de .Q.QP1ea,ção aos c,argo~ públicos. Na Alemanha, as lutas entre as tendências cen tralizadoras e descentralizadoras giram em torno do que acima enunciamos. Que poderes controlarão a distribuição de cargos públicos de Berlim, Muni~ que, Karlsruhe ou Dresde?9s par!idos sentem-se muito mª-i~afetados com. alimi~ªçAo a eles impQstl,l :,«" ao direito de nomeaçãQ aos cargos públicos do que com arr<lnhões em seus programas, Na França, a troca de prefeitos sempre foi consiâerada mais }ffi portante, mais em razão da política dos partidos do que de uma mudança no programa do governo: que possui significado de retórica vazia e oca. Alguns partidos pol1ticos nos Estados Unidos da América do Norte, após a superação dos antigos conflitos a respeito de interpretações de preceitos da Consti tuição, converteram-se em partidos. caça-empregos, v distribuindo çªJ;gQ,§ e modificando ~ogramas s:m função d2_s~aganhar. Na1Sp!.!!ha{nos últi mos anos, dois partidos revezaram-se no poder con , \ forme os princípios sk.alternã~!.a.consentida, funda- V'" 27 ~,'Í~I '11, i I !! ., ) . + MAX WEBER + v' da em eleiçOes préJabricadas pelas akã.s ciU2l!ks. pe\l!litindo assim que seus adeptos se beneficias~sem altet:!1adamente do exercído de cargos ..buro cráticos. Nas antigas colônias espanholas, tanto nas assim chamadas eleições quanto nas revoluções, o que se disputava era a dispensa do Estado com a qual desejavam alimentar-se os vencedores. Na Suíça, a divisão de cargos' era feita pacificamente, de forma proporcional, e alguns de nossos projetos revolucioná rios, por exemplo, o primeiro Projeto da ConstituÍ ção de Baden, pretepdiam ampliar esse sistema aos cargos ministeriais. Dessa forma, o EstaQIt e ºi~ v g.QS..burocráticos er~ considefl},PW institujç~Q!Je simp1e6IIl.l:Il.te p~Q2.0.rcionavªPl pr:y;;benda~. Especial mente, o Partido do Centro entusiasmou-se com tais projetos. Em Ba~en, ele estabeleceu como parte de sua plataforma política uma distribuiç:ão de càr gos proporcional às confissOes religiosas, inde pendentemente de qualquer consideração de mé rito ou filiação ao programa partidário, sem preocupar-se com a capacidade política dos futuros dirigentes. Tal tendência unívers#zou-~ no seio v dos demais pàrtidos pQlíticos em razão do·a.umento do nÚl1!~ d~j::argos por causa da burocratização geral, masotambém pela ambição cre:scente de indi víduos atraídos por uma ~!l!~ burocrática, que se transformou hoje em dia numa e.spéciede seguro V 28 I + A pOllTICA COMO VOCAÇÃO + relação1!Q ~. Para seus adeptos, o$...l2artidos v aparecem, cada vez IJiIoflis, como l!ma e.sca,d~ que lhes permitirá chegar ao objetivo báSico: garantir seu fu turo,sua~ " , A iss6 se o~' desenvolvimento mo~.dí!. v f~o~a em nossos tempos, com sua exigên~ cia de um corpo de trabalhadores intelectuais espe cializados, altamente qualificados, fruto de uma preparação que, ao longo dos anos, lhes permite um desempenho razoável de sua tarefa profissional. Ten , do em vista sua in!..e~o, a D1,llocracia moderna \~, deª-~!l~ um eleV<l~o sen!ime.m.o cQ~orativo W estal1!~l; na falta dele, estartamos ameaçados pela /; mais vulgar corrupção e pelo domínio dos filisteus. Desse modo, o simples rendimento técnico da má q'!lina estatal es~aria comprometido, numa época em que sua importância econômica é cada vez mais acentuada, tendo em vista as forças que a impulsio nam rumo à socialização. Mesmo v Unidos da América do Norte, onde c:;m épocas re motas inexistia a figura do burocrata de carreira, onde o diletantismo administrativo dos' políticos primários permitia que o acaso de uma eleição pre ) sidenciallevasse à substituição de centenas de mi lhares de funcionários públicos, mesmo lá, repeti mos, essa administração de amac!pres conhe"Çeu~ Ir' fim co_m ~rm~~~çoCivil.) 29' , I 1 1 I' ' t I t • -+ MAX WEBER «- I ! Es~rocesso obedece puramente .~éç~ I v nic'Qs-l_N'a Europa, ao longo de uma evolução milenar, surgiu a função pública organizada,.l!Jbe_de~ ~o aos pIjnciRios ª,-l! fl,ivisãO do trapal~Esse processo iniciou~se nas formações urbanas das sigtlorias italianas, passando às monarquias e aos Es~ tados conquistadores normandos. Porém, o ~ decisiva nessa direção deveu~se à dª§ ,/ finanC9s do soberano. Nas reformas administrativas do imperador Maximiliano !, pode~se ver como foi difícil para os funcionários, mesmo sob a pressão da;'\ ameaça turca e da extrema necessidad~~cindir/f do rei na administração financeira, embora seja esse . um terreno no qual é impossível contar com o diletantismo do dominante, que na época aparecia , 'como cavaleircf O desenvolvimento da mil!::. -/ t~exigiu um."~fig~ especial!~, o aperfeiçoa~ menta do processo judicial exigiu o jurista compe~ tente. Nas áreas financeira, militar e da .justiça, vtriunfunun Q§. fUl1çionários ÊS. cª,rreira, especial mente nos Estados ocidentais desenvolvidos, de modo definitivel no século XVI. Simultaneamente, com o predomínio do absolutismo real sobre os se~ nhores feudais, aumentou o espaço de ação dos funciom\rios que haviam auxiliad6 o rei na sua luta contra as Ordens. A ascensão d.os funcionários~ifi- \ éad~s deu~se apar com um processo que env?l~eu 30 -+ A POLÍTICA COMO VOCAçAo «- os dirigentes políticos, embora tal evolução nã,o fos~ se perceptível a olho nu. De há muito, em todàs as partes do mundo, indiscutivelmente houve conse lheiros do rei que (azaram de grande autoridade. , A figura do grão-vizir apareceu no Oriente para sal- \li( vaguardar a imagem do sultão da responsabilidade J I pelo sucesso de seu govern<>.- Nq Ocidente, durante ,Carlos V - época em que também viveu Maquij1veI-, i I sob a inflUência" d,os embaixagores yenezianos, a , pio macia COf!.vç~ numa conscientemente v .' praticada. Seus informes eram lidos apaixonadamente. \f - Os adeptos dessa ~~,~.,ger~~ortadores uma formação humanista, consideràvàrh~se especialistas, semelhantes aos estadi~as humanistas d«Çhinâ> no último período dol§~ado~'Eombaten't~s?) ," A necessidade de uma direção unificada da polí tica, inclusive da política interna, sob a égide de um só homem de Esfado, apareceu com clareza nos Es tados constitucionais. Sem dúvida, anteriormente apareceram fortes personalidades na qualidade de conselheiros ou guias do soberano. Não obstante, os rumos do Estado seguiram caminno diverso do que assinal.amos. Mesmo mais evolul~ dos; o que se nota em primeiro lugar é, a fo:rmação de um, c?rpo administrarivo'supremo 'de fórm,a " - , _. -.- --- .. -_...- --- ·--····7.- ' r co~~ia~Embora teoricamente e cada vez menos na prática, reuniram-se esses órgãos sob.a presi 31 i,· ! I I -+ MAX WEBER + dência pessoal do rei, o único a decidir. Tal sistema originou propostas, contrapropostas e votos que obedeciaJl1 ao princípio majoritário, além d~ apelar ~ homens.k c~;mijanca i~ ele pesêQalmente 11nculados o gakirlçy: -, porcuja mediação o rei decidia em resposta a resoluções dos Conselhos de Estado. O rei, cada vez mais colocado como um diletante, esperava dessa forma subtrair~se à influ ência e ao poder dos funcionários especializados, reservando para si a decisão em última instância. Essa luta liu:ente ~ os bWQc::r_g.J:l!§ especializados 'I}( e o governo.alltocrátigl ªI?-a,receu em t.9dosQ.§ lug,a~ ~ Ho e um dan a s~!!lentequando surgi ( ram Parlamentos a,s ª~12iraçõ.es ao podeJ d~ chd s J!!....Q.s poll~. Embora esse fenõme~ no se tenha desenv~lvido conforme a especificidade de cada pais, não obstante conduziu a idêntico· re sultado. Com algumas diferenças, é certo. Onde as tinastias conseguiram manter um poder real - nafAlemanha precisamente -, os interesses do rei leva~ I ram-no a aliar-se aos, burocratas contra a ação do \ Parlamento e suas aspirações ao poder. Os funcio nários estavam interessados em que dementos de seu meio ocupassem posições dirigentes, isto é, cargos ministeriais, que se transformavam dessa forma em alvo final de carreira. Por sua vez, o mo narca tinha interesse em nomear ministros, esco~ 32 -+ A POLÍTICA COMO VOCAçAo + lhendo-os entre os burocratas a ele ligados por de dicação pessoal. Os bur~as e o monarca tinham !111~~ interesse em manter-se unidos para enf:r~ soli~ t\t.;:e. d'!!iê~e ~ Par~.il~, substituir o sistema. colegiado por um chef~e gabinete que exprimisse a unidade do ministério. Para manter-se acima das lutas partidárias, pr.~s}sava 9)J.!9narca de_uma pes soa que lhe proporcionasse cob~, respondesse v * ,. aos parlamentares e negociasse éom os partidos po 'líticos. Tais ne~essidades conduziram a uma alJtor:F dade uill!icada de um mini@:g burQ9:al;a. Onde o Parlamento prevaleceu sobre o monarca - como na '~i I~teg;)-, o desenvolvimento do poder parla~ ~\illentar orÜ':.!J~ no sentido da unificação do v aparelho e~.tatal. Aqui, o gabinete, com a figura centralizadora do chefe do Parlamento no seu topo, o assim chamado líder, converteu-seem uma co missão que, apesar de ser ignorada pelas leis oficiais, era de fato a detentora do poder político de decisão, posto que era formada pelo partido que tinha no momento a maioria no Parlamento. Os partidos políticos Pªs~",ªgros órgãos do 120der p()litico dominante, e os organismos colegiados não pude ram mais per;manecer como os detentores reais do poder. O partido dirigente necessit,ava ~e um órg~ãO composto pelos seus verdadeiros dirigentes a fim d ~ tratar de forma reservada dos negócios, afirmar s 33 ,. ~ MAX WEBER + autoridade no plano interno e orientar a política ex terior. Tal órgão s6 poderia ser o gabinete. O públi co, especialmente o parlamentar, percebiil como chefe unicamente o chefe do gabinete. Na Europa,' a<lotou~se o sistema inglês sob a forma de ministé~ rios parlamentares. Somente nos Estados Unidos da Amé.rica do Norte e nas democracias sob sua in fluência se adotou um sistema diferente, em'que o chefe do partido vitorioso eleito por voto universal . estava â frente dos funcionários nomeados por ele; apenas em matéri;:ts de legislação e orçamento de Ps~dia do Parlamento. O desenvolvimento da. política mold;s rul~ .' pr~sariais, que reguería um aprendizado n? li.ttapelo pOQg: e acriacão de métodos - como de fato ocorreu com os partidos ~odemos -, condicionou a ~ V' dos funçionári.os públicos ~m duas çategorias. bem definidas: os administrativos e os "políticos". ( & (Os funcioná:n_QsP,Q./íti.cQs. no sentido propriamen te dito do conceito, identificam~se pela maneira com que podem ser facilmente deslocados, destituídos ou p~stos em disponibilidade~omo ocorre com os pre f~ítos na França ou com outros funcíonários em igual situação em outros países, em contraste com . a independência dos funcionários'com funções judi ciais. Na Inglaterra~~ funcionários políticos, confor me convenção estabelecida, colocam seus cargos â -o ~")" ~~ ,.\,.r 'J':) \; "'" '.", 1 \~'~~;.S"'\'34 . . . ,r) ~ I , . ". -+ A POLÍTICA COMO VOCAçAo +- disposição quando se produz uma mudança parla mentar e, conseqüentemente, uma alteraçào no gabi nete. Isso se dá especialmente com aqueles funcio nários incumbidos de velar pela administraçào interior, . manter a ordem no país.e;- conseqüentemente, man ter a relação de forças existent"e~a Prússia, confor~ me o decreto do ministro Puttkamer, com o intuito de evitar censuras, tais funcionários tinham a obri~ .", , \ gação de representar a política governamental e, da ,mesma forma que os prefeitos franceses, foram usa~ ~,dOS como íns.trumento bl:lrocátíco P1!Ii1 influenciar v Jn.Q çl~ das eleições. Porém, constitui uma culiaridade do si~,!1lemão - contrariamente ao que ocorria em outros países - o fato de o acesso às 'funções administrativas depender de estágio y prob~, exames esp.ec~os e t1n.J.J.osJJ~ sitários. Estão isentos nà Alemanha dessas exigên cias somente os ministros. Sob o Antigo Regime, era possível ser ministro de Educação na Prússia sem possuir diploma de ensino superior, ao passo que somente quem fosse aprovado no sistema de exames " tinha acesso ao cargo de alto funcionário ministerial encarregado de relatórios sobre as atividades do ór gão em que estava lotado. Um chefe de uma divisão administrativa de um ministério ou um conselheiro especial - por exem 35 I , ) i" I' I:', -+ MAX WEBER + pIo, na época em que Althoff era ministro da Educa ção da Prússia - estavam mais informados que qual quer chefe de departamento sobre os problemas técnicos a ele afetos. O ITl!,:smo ocorreu na Inglater r~ra._issº-explica por qu~fl,mcionário especializado j , l.......--"'= • ./l" éo:~ºel'lJ informado Il°9.U~ refeIS; à r9..!inª.çlo trª.b.ªlhoagministrati~o.1E isso não sem motivos ra cionais, pois o ministro era si~pl~wte o rep~ (' s,en.t-ª~ dç_UU1.J!. confi!Wracão po~ no pod~:r, da qual fazem parte avaliar, em função de um progra ma, as propostas apresentadas pelos funcionários especializados e..illdlJJjr ~ de seus subalternos v' conform~ a orien ão p.9,l,ttici vigen.!iS;.llil partido. Numa pre§..~articular, o mesmo acontece. O soberano verdadeiro, ou seja, a assembléia de acio " nistas tem tão diJlli,.nu,l;.Jl infhJêJl~i..a ~ a dir:~çlo ctl.s.negQ9.g§ qu'illtQ o P2Y..o dirirug9 PQf burocr:i~as especializados. Os que detêm poder. de decisão a respeito da política _da ~mpresa, os membros do ç~ administrativo, sob a hegemonia dos bancos, traçam apenas as diretrizes econômicas, atribuindo cargos ádministrativos a quem tem competência pa.ra dirigHa tecnicamente. A estrutura do atual Es~ tado revolucionário não apresenta nada de novo nes se sentido. A direção da administráção fica entregue a diletantes porque são eles que dispOem de armas, de metralhadoras; de igual modo, eles vêem nos 36 " -+ A P o L Í T I C A C o M o V o C AÇ À o + funcionários especializados simples auxiliares execu tivos. As dificuldades enfrentadas pelo atual sistema não radicam nisso, mas numa outra área que não abordaremos nesta conferência. Interessa-nos o estu~dos aSl2ectos especificos V dos ~s profissionais, tanto dos chefes politicos como de seus adeptos. Esses a§]ps:ç;tos mu.dãram "* a~ do t~I1lP.Q e aprese~m moder~te tr-ª:, ç().§. d~.ad.os. . , Verificamos que, no passado, os políticos profissio nais emergiram da luta entre os reis e os senhores feudais, colocando-se a serviço dos primeiros. Exa minemos com a devida brevidade os principais tipos em que se apresentam tais E.Cll!tíS:9s-PJ:Q.&siouªÚ!. ',l Na sua luta contra os senhores feudais, o rei ~~, apoiou-se nas camadas politiç-ª.mente indepens!fn ~#-$ , .!g, não sujeitas à ordem feudal. Pertencia a essa ~ camada o clero, não só nas Índias Ocidental e Orien tal, na China e no J~pão budistas e na Mongólia lamalsta, como também nos palses cristãos na Ida de Média. Isso tudo obedecia a~stécni!Xas: o c!gQ"do- "'" h1ina'y"'~ a té~~da ~~~. Emtodos os lugares, a incorporação de,brãmanes, sacerdotê'!S'budistas, la mas e o emprego de bisp92. ~gre§..C9U1-.P ÇQ~ lheiros RQlítisr~ ocorreu sob a poss!pili~e de cons~.81!.ir forç_~§..ad~nis~vas dotadas dCl, poder 37 UFR('~ fllbDofP.f'~ ")eTonaJ dE: C*ênCiai SoçlallJ ~ Hl.lmamaaClll -+ MAX WEBER + da escrita, as quais poderiam ser apmve;iradas na lq!]. dos imperadores, reis e khans çontúl <\ a~!st~~~.!" (,:11. O clérigo, especialmente o celibatário, estava à' mkrgem das lutas político/econômicas da época, dife/ rentemente do vassalo, que procurava em detri/ . mento do seu Senhor poder político especifico. Em virtude de sua condição religiosa, o sacerdote es/ tava separado dos meios administrativos do rei e il das intrigas que lá existiam, não havendo possibili/ dade de ele cair n~ tentação de amhicionar poder político para os de sua ordem. Os líteratos com formação humanista formavam outra categoria. Era uma época em que se aprendia a discursar em latim ou a cultivar poesias em grego como condição par~ se tornar conselheiro ou histo/ riógrafo do rei. Era a época do florescimento das escolas humanistas e da criação de cátedras de poé/ tica por ordem real. Apesar de ainda exercer consi/ deráveI influência no nosso sistema educacional, essa época foi de curta duração para nós e não teve ! I m~iiores 'implicações políticas. Do Extremo Orien~i i ~ .. te, não podemos dizer a mesma coisa. O 'ma:gdarilli , " chinês na ..§lli! oPgcn.. foi rruJito semelhante i!Q.v- . humªlli.2!.a do Renasç.i.Iwal,t:o: trátava-se de um le trado humanista versado na interPretação de textos antigos. Quem ler o diário de Li Hung/Chang de 38 'i ~, I -+ A POLÍTICA COMO VOCAÇÃO + duzirá que sua fonte maior de orgulho residia em ser poeta e ótimo caligrafo. Essacamada, que con, servou seus costumes desde a Antiguidade, deter/ minou todo o destino da China. Talvez tivéssemos' idêntico destino se os huIt:\,íiloHistas em sua época ti~ vessem tido a menor oportunidade de gozar de igual influência. ~ A nobreza cortesã constituiu a terceira camada. ~. _. ",-..~- Os~atraíram/na à sua Corte à meiliCla Rue e~ pr~ o ~ poder político como classe, atrihuin/. do-lhe funções politicas e diplomáticas. O patriciado, uma figura tiP~IJ;I!;pte in..J4ssa, com/ v põe a quarta categoria. Ele englohava a p-equenaIlo~ hreza e os rende~ aldeõ~ conhecidos tecnica, mente como a ge.n.~. Originariamente, ela era uma camada!disposicão d~a inglesa na sua luta çontra Qª harões, c.onfiandQ/lhe o sdFgovemWf.nt. V Porém, com o tempo, a própria realeza passou cada vez mais a depender dessa camada ascendente. O patriciado ocupou os postos de administração local ~~ remunerJ\>ªo, tendo ~_!Il!:r:ª-. v a.umentar seu própri9 Rºd~r.social. Esse fato salvOU) a Inglaterra da burocratizaçào, destino da totalidade dos países da Europa continental. Os jurist~ formados por universidades consti, tuem a @inta c~m~e são um fengmeno p~ v~ ao Ocidente, especialmente nos quadros do conti, 6f\/~ ~ 39 -+ MAX WEBER + nente europeu, com influxo decisivo na sua estru tura política. As p~s re~rcussões do dÍl;:~Ífo V rQmano, nlLform.a que assumira sOQ:o Esta<!9 ro .( mano_decadente, aparece com indiscutível nitidez' nb ~inte fato: a revolução da administração pú- If b],ica rumo a um E.§.!lld.o ra,c.i.\lJJ.al foi em todos os lugares fruto de juristas pro.fis~ionais. Esse fenô meno é paSSível de constatação também na Inglater~ ra, ~ de as grandes co,rporações..Qs.. jl!~ ,:I' comb~ a difusãQ do dÜ:eito romanQ.J1oQaís. Fenômeno análog? não se encontra em nenhuma outra parte do mundo. O embrião de um pensamento juridico racional desenvolvido pela escola_hindu de Mimansa e to das as aplicações posteriores do pensamento jurídi co antigo no Islão não desvincularam o pen~a,mento V· jlJrídico racional dácontaminacão teológica. Sobre tudo, a processualística legal não foi inteiramente i I racionalizada nos países islâmicos ou na Índia. Tal racionalização só aconteceu na Europa graças à ado~ ção, pelos juristas italianos, da antiga jurisprudência romàna .do proçluto de uma configuração política absolutamente esp~cífica. que se elevou a partir da cidade-Estado à dominação mundial. Qysus mop'~r.11lJs' , dos ju.p3tas e dos canQl1Ístas medievaij do !?Ji,esto ./ estava profundamente influe.!lºª-çlo. ttogas.do ... dír~natural. elaboradas pelo pensamento juridí 40 .. A PoLtTICA COMO VOCAçAo + co cristão, posteriormente secularizadas. O podestá v L,taliano; os juristas reais franceses (que criaram os ') recursos formais para abalar o domínio dos feudais ~"."'".. ,-... ~- ' a favor do rei); os canonistas e os teólogos do ' conciliarismo de inclinação.;asnaturalista; os juris~ tas da Corte e os juízes letrados dos príncipes do continente; os teóricos do direito natural na Holanda e os monarcômanos; os juris~as ingleses da Coroa e do Parlamento de Paris e finalmente _o.§.. advogados .da R:~YQ!!Kão WDce§a foram. o~ ªgt;ntes V JR~ impQ~s de§§.e P~Q~. Os adventos do absolutismo real e da grande Revo~ francesa .:: são inconcebíveis sem esse raçjQnalismo ~o. A partir de uma análise cuidadosa dos registr~ dos Parlamentos franceses. ou dos livros dos Esta _dos ~do século XVI a~~J789, pode-se verificar que eles são per:pJlssados pelo~~~p'ír\t.o cl9.aj\lristas v ! / profissionais. -< :'\ I Se examinarmos a estrutura ocupacional dos rng:mbros da convencão francesa. encontraremos um ".... único proletário - embora escolhido pela mesma lei eleitoral que seus colegas -, poucos empresários burgueses, mas um :nº-II}gQ, eX:"pre~de..j.J.u;,i"ata ..... .ru:!.Q.dQ ojiJ2Q, sem os quais seria impossível com preender a mentalidade específica desses intelectuais radicais e dos projetos por eles apresentados. É a 41 " -+ MAX WEBER ~ /1 partir da Re::::8!ução Francesa que o advogado l110~ 'demo e a democracia mQ"~Jl caminham juntos. , - Pois somente no Ocidente encontramos a partir da Id;dr~;·iidi;-~~d~kFoI"QO camada_ê2.gaI m-ªe~ 'pên~rgida por meio do intercessor d2.EE..0ces~ so g~rÍÍ}âl}iê:o, ,~9Ji_il_iõfl~~'-da raci;na~;ção de,sEe P!Q.~' Nada tem de acidental o surgimento dosadvo~ ~ a,dos e sua importânC,ia na, política ociden. t,aI a pa,r.R tir do surgimento, dos partidos. Os empreendi~r/ mQ!!.Q.s dirigidos };1.Qf R-artidosnada Inª~ são Q.Q.. ./ . " ~ar~!,Ç!lIas:ões çk_gru~ diP!:~. Logo veremos o . que isso significa. O oficio de advogado consiste em defender com eficiência seus clientes. Nesse senti~ do, ele é superior a qualquer funcionário, como nos demonstrou a supremacia da propaganda inimiga (propaganda aliada, 1914/1918). Ele pode ganhar .. v '. "" tecnicamente u~S~ cuLos argumentos possuem urna l~ f99, e, nesse sentido, a causa é fraca. Porém', é o único que tem condições de ganhar uma causa fundada etn sólidos argumentos, portanto boa nesse sentido. Acontece freqüentemente 'que o nm~ . cionárioçomo homem político faç~ de uma bo~~ g, d().R2!!i2 de "Ísta d2~ argymeDtos, uma caus<1;!w ~fug~ de eE!os t~çnicos. Temos disso alguma experiência, pois atualmente a política é feita pre~ 42 .> A POLlTICA COMO VOCAçAO ~ dominantemente no âmbito Público, por meio da laIa ou da escrita. Pesar o efeito das palavras é tarefa do advogado, não do funcio::"~~~~_pú~lic:2:.()-:~~~C:;._.: J> nata não é um ~á~e nã(? po~e sê~lo, p-õ~~ " ". finiçãg: Se, por infêlicidade, PiêteIide esse papel, irá L'umpri~lo mediocremente. O'y~rgadeiro bllrocrata - issQ é fundamental para \ .~ulgarmos noss~_Anti o Regime - ~~~dministr~ tudo ~~a(~arti.<:t.~.:~a e',~rn razão de sua vo~~~ ,~;10, nãodev.t:: f~zer po~tica Tarexíg;êríCíátã~§~.é " IfPliCáVe~_a.9~XUnciOn~riOs ditospol~~i:~~~ ~6~E1~ ( oficialmente e na medIda em 9.ue os interesses fun.::,. . I dame~tais ªª ordem exjstente - da razàa de Estada.;: . \ " ;1 não e;tejam em jogo.LPeve ele desempenhar sua r" ) t missão sem amor e sem ódio, razão pela quall}!g. idcvç fazer 0.iU!e con~j:jtui cargcterística básica dÇl"" Y -~I . homem p()litico: l~I!Tomar partido, lutar, apal' --JJ xonar~se por uma causa caracterizam o homem po~ lttico, acima de tudo o chefe político. Sua conduta está submetida a um princípio de responsabilidade: !,estr,anho e mesm~ontrário ao que nortei,a, o funcio' 'rI<\rio burocrãtic~~.ªº.J.lJ1TOçrata bQ~i'!:S!; na sua habilidade E~ÇÇJJlQ]; cooscientementej§. -1'!Tdens que eman~. ~c:lilliau~des superi0S' comose fos~~'sÚ::lS ~ºQ~i~~es.( Isso permanece válido sfàãutoridade insiste lla~dem p~\reça errônea aos olhos do 43 ~ MAX WEBER + seus protestos. Sem tal disciplina moral e sacrifício no sentido elevado do termo, toda organização cai~ ria por terra. A r~ponsabilidade ~l'é o element9 cQ1\stituinte da honra ,ç1Q chefe }?ol1tíco e está .im-:: pllijta na sua ,ação qualquer, sem que ele possa réjeitá~la ou delegá~la a quem quer que seja~ Os__.::'> funcionários com visão altamente ética de sua fun~ ção são !l~_s.ª!!nos politlcos, não ~!tan:_ãssilmir responsabilidades no sell.tido p~tíCQ.Q,o termo e, ~~"."~-, ._-,~' ;(1) desse ponto de vista, aparecem cO!!1() políticos ca~ nhestros. IllÍélizmente o~s repetidas vezes em posições <k.çhefia, É a isso Qll~ denQ!!Ú~s rrgime q~ fiwç'''nários. Não constitui todavia um atentado à honra de nossos burocratas revelar as falhas pol1ti~ cas do sistema, visto do ângulo de sua eficácia. Vol~ temos, porém, mais uma vez aos tipos de figuras políticas. . . O demagoi~,tem sido o tipo de chefe político do Ocidente desde a existência de Estados constitucio~nais e, de modo consolidado, desde a existência da democracia. O aspecto negativo do termo não nos deve fa~er esquecer que o primeiro a ostentá~lo foiI ' ) I PéJ;:icle§ e não Cléon. Diferentemente do preenchf~! ! mento dos cargos por sorteio, característica da anti~I I . l: ga democracia, PérieIes, como grande estrategista', dirigiu a ecclesia soberana do demos ate,ni,el~~..! ocu~I pando essa única função eletiva existente ~I -= ",,'144 ~ A POLÍTICA COMO VOCAÇÃO + I _&Q&a moderna t.é1rnbém emprega a oratória~ v , desme.§J!radamente, se pensarmos nos discursos I v"'" eleitorais que o candidato mOderno,d,,eve pronunciar!~j1'" ; porém utiliza preferentemente a paI?-~ impressa, ~ ' que, é Ipais ,d,t!,r~,,~' P,",o,r" esse J:.l!º,liU!. o publicista V! pplítico - e sol~.r~ oiQ,E!!,alista - é o rel1r~..n' \ tan~ l1!-ais n()társl 911 demagogi~. ( Não nos é possível, nos límítis desta conferên~ , cia, sequer delinear as características gerais da socio~ v i1lp.&<!.J!9 jQrnalismo m~ que, sob todos os \ aspectos, se constitui num capitulo à parte. So~ mente alguns aspectos deste são pertinentes no \ I' contexto desta conferência. O jornalista partilha da condição de todos os demagogos e, diga~se de pas~ sagem, a$sim C..QlllQ o adrogado eJLartista, es,~ qualq~ claSSificação §ocial mais ~. Pelo me~ nos é o que se dá no continente europeu, em oposi~ ção ao que ocorre na Inglaterra e ao que de resto se passava na Prússia. O jornalista pertence a uma es~ v p~de caga de pª,tgg que a sQcieda(k ju~_apar~{ ~, tir ç!,~se.!l§ rep!:e_s~~s mais inc!~corosos. Dai a razão da veiculação das idéias mais estranhas sobre os jornalistas e seu trabalho. Entretanto, na sua maioria, as pessoas ignoram que um trabalho jornalístico de valor requer tanta inteligência como qualquer trabalho erudito, esquecendo~se que se trata de uma tarefa a ser imediatamente executada 45 'li': , , ~j . + MAX WEBER ~ em obediência a ordens e que exige um nível de V eficiência imediata em condições opostas a qualquer outro tipo de ~tividade intelectual. Dificíl.I!lente se reconhece ..que...a_!.e~onsabílidade do jornalista é l(1uito grande,.!:. o sentido-d~- respon§ªoiIídáde ~ qualquer jornalista que se preze nada fica a dever a qualquer outro intelectual, e não é descabido dizer ~ que 'é superior quando se considera o que se' obser, vou durante a guerra. O descrédito do jornalismo aos olhos do público deu,se pelo fato de este ter guardado na sua(memória os erros e os abusos de jornalistas irresponsáveis, cuja influência na maio, - ria das vezes foi deploráveL É difícil fazer crer a guém que a discrição de um jornalista é em geral superior à de outras pessoas. As condições especí~ ./ ficas que rodeiam o trabalho jQrnalístico, com suas grandes tentações, levaram o público a olhá~lo'com um misto de desdém e piedosa covardia. Não pode~ , 1 mos discutir hoje o que deve ser feito. No momen '5',-po, i~a-JlQ.s o qestino profissional p~o c!9 . jQLnalista e.suas possibWdades de alcaDcar uma~ si® com~ PQllticC;:·Até o momento, ele teve iartido social~dem mas mesmo nesse partido, os postos de redator ti-, ''''- JI nham predominantemente a característica de car~. gos burocráticos, não constituindo um trampolim para o acesso a cargos de direção. 46 + A POLÍTICA COMO VOCAçAo ~ Nos partídos burgueses como um todo, em comparação com a geração anterior, as chances de se . alcançar a direção do partido por meio do jornalismo diminuíram consideravelmente. Naturalmente~ qual quer ~l1ti~ de importãnci. a precisava contar cõm a (inflUência a imprensa e assim cult~avª-..SJ,laSJ,"~la Ções com omelO jornalístico. Entretanto, etª inco m..!!!!! chcles PQllticos s~.Qg§ eªcalões dQ jorna- v hsmQ~ motivo para esse fenômeno reside no fato de qú-éos jornalistas se tornaram cada vez mais in dispensáveis para o seu setor, principalmente aqueles que eram destituídos de posses e, por conseguinte, financeiramente dependentes de sua profissão. Essa situação foi determinada pelo cr~scimento espanto §2 da força da empresa jornal1stica e de sua J3!laçã~ ~ com a.. atu,a~e. Essa dependência deve-se ao enorme crescimento das empresas jornal1sticas. A necessidade de ganhar uma remuneração escre vendo um artigo diário ou semanal atua como um obstáculo paralisaDJ;S: para aqueles jornalistas que, embora revelem tendência à direção pol1tica, se vêem bloÇllo.u~wios material e moralmente na.sua~ cen§A9 ao p.9der. As relações da imprensa com os poderes domi nantes na órbita do Estado e dos partidos sob o Antigo Regime (do kaiser) prejudicaram o nível do jornalismo, mas isso é um capitulo à margem do que 47 V ? MAX WEBER -+ estamos falando. Tais relações tomaram forma pro fundamente' diferente nos pa1ses inimigos da Ale manha (Aliado~). Mesmo ali, e isso vale para todos os Estados mo V d~os, o jornalista perde cada vez mais influência li medida que o magnata capitalista, do tipo çlj) "lorde" N_orthclíffe, aumenta seu poder. ,I'){ Atualmente, na Alemanha, quem difun<;!e o ~- I: \. liticismo~s~s~pos capitabistas que do ,p: min~ Q§ jornais que~~e anúncios p-~. Não poderiam obt~r lucros com uma politica inde pendente e sobretudo não poderiam contar com a vantajosa benevolência dos poderes dominantes. j O governo recorreu na última guerra ao s!§~.9s ~ { a~f.lncios para exercer influência po~tJ~ sobre..$ \ imprensa, e é previsível que atualmente se conti nue nessa orientação. Os pequenos jornais, cujà si tuação é delicada, não podem fugir a esse sist~ma, mas espera-se que os grandes jornais o façani. De l..-- / qualquer maneira, a carreira jornalí~t!Ç.~,~tualme!1.te ---- ,-_.•. '- entre .nós não constitui o caminho ara chegar a "'serum çll~_e tICO a despeito dos atrativos que ela p'a~sa ter e' do es aço de influência, ação e res- , pónsabilidade pol1tica que possa abrir para .quem queira a'ela dedicar-se. É necessário aguardar para ver o que se sucede. Talvez o jornalismo tenha perdido essa função 48 ? A POLITICA COMO VOCAçAo -+ ou talvez nem a tenha adquirido. É dificil dizer que o abandono ao princípio do anonimato defendido por alguns jornalistas - mas não pela sua totalidade possa alterar esse quadro. Desgraçadamente, a expe riência da imprensa alemã durante .a guerra com re lação a jornais que empregaram intelectuais com forte personalidade, que utilizavam explicitamente o seu próprio nome nos cargos de redator-chefe, re velou em alguns casos mais conhecidos que o méto do não era tão bom como se acreditava, no sentido de criar um alto senso de responsabilidade. Independentemente de partidos, foram os pio res pasquins que abandonaram o anonimato para au-J mentar suas vendas - e conseguiram-no. Tanto seus diretores como os jornalistas sensacionalistas ganharam muito dinheiro, porém honra nenhuma. Não se-ruga porém que, em princípio, se deva rejeitar os artigos assinados. O problema é bem complexo, , IJ!..o criticamos a necesSidade,da proDlQ,ão ç1e ven _4~ e o fenômeno do sensa~ionalismo irresponsável não é universaL No entanto, até o momento, o sen sacionalismo não foi o caminho para a formação de dirigentes autênticos e o exercício responsável da política. Somente o futuro nos dirá algo mais a res peito dessa situação. ,1 ;esar de tudo, a carreira jornalistica c~ sendo, sob quaisquer circunstâncias, uma das vias 49 '7 ~ MAX WEBER + . de atividade pol1tica~~~ mais Si~I1~ C:ml,'lllS. Po!'éft'l,~caminho nãQ.(!:§.t.â...ab.ert<L'!.tO.: .. .. ··d~~l{êspêci~lm~nte·i~·;;e;sÍvcl para as personali .. I . dád~~ inseguras e muito mais ainda para aqueles que ,não conseguem trabalhar sob tensão, embo~a~ida dQ intelect~l,m,esmQ iIlsegura, este,i9 I:!rotegj.q.a PQ! l:1.!!! uni~~rso d~conven!iões S9lidas: A vida do , jornalista é correr riscos em todos os sentidos em p condições que o põem à prova, sem nenhuma se~ lil: :1:: U melhança com qualquer outra profissão, embora o I aspecto menos p,enoso da atividade jornal1stica se .. jam as experiências por que passa em sua trajetória profissional. As exigências interiores a gue o jorna .. I !i v lista deullome está sujeito são parj:!çu~nte avassaladoras e cru.éis. Por razões profissionais, esse jornalista é ol;>rjgâ@ a freqü,~r os ~1I1~dEl4.o!!os.J~ davida, nos quais é achIlado ~ mesmo t~mEO em ~ é temido. Após abandonar o salão, tem plena consciência de que o anfitrião se desculpará ante os convidados pelo ,comparecimento desses lixeiros da imprçnsa. Além disso, não é nada fácil se manifestar sobre os tem!!s mais complexos da vida social com a rapidez que o mercado exige sem cair nª VIJlgarida.. v:- de O]! se.!!!. perder a p~óI:!ria dignidade; se o fize~, arcará tom as desastrosas conseqüências de tal ato. Ante tal constelação de forças, não constitui surpre; sa observar a degradação de alguns, o qu~ slJ.rJiieen.. "",o lJmGS .~ - .- Ciêncld'~cials e Humamdadll ~lbnofP,f.3 -;e,onat <1e • ~ A POLíTICA COMO VOCAçAo + é o contrário: a despeito das dificuldades anterior .. mente enumeradas, a corporação é constituída ainda por profissionais de valor indiscuttvel, em número maior do que os leigos possam supOJ(Relativamen .. te ao jornalista profissional, que, na qu~idade de político, tem uma história atrás de si, ~a.~~~ .. J \ J!!!icionário.do 12arti~~J??~l:~:O é b:J? r~<::t;~~APara compreender sua origem e evolução, é mister estu~ dar inicialmente a organização e a ação dos partidos POl1ticos,(Em quaisquer associações pol1ticas mais ,. ª-mplas,~~ transcendam a esfera dos interesses paroquiais e imediatos, nas quais os que exercem o poder são ~eitos com pqiodicidade,feI!lpresa pol1~. v ~ica as~e a for.ma de Ul!li'! orga~ização de int~ I s.~ê.o.Isso significa que um número relativamente pe<:,. queno de homens interessados pela vida política, isto é, para participar do poder, escolhe adeptos, apresenta~se ou apresenta seus protegidos como candidatos a cargos eletivos, reúne os recursos finan ..) ceiros exigidos e põe ..se à rua à procura de votos. Sem. teli. a}2oio admID.i§~ é iIJ1}2oss1vel e§.ttlJ.;. tur~! ~m.pro~ele~qu~englohe &n!.2Qs pol1.. v tiÇQ,s amplQs. Na prática, isso significa a di"Í..são clQ§.. cidadãos cQ!!l. dia:ito ·'LYQtQ em ativo.s e pªssivos ..... Como o livre~arbltrio de cada um é a base'dessa distinção, é impossível suprimi ..la, apesar de pro.. postas amplas como a do voto obrigatório, repre .. .'~~/ ')5 i' r ? MAX WEBER + sentação profissional ou qualquer outro meio que se proponha a eliminar a diferença e, dessa forma, o poder dos políticos profissionais. Uma di~~tiva com ac!~s re~rutac1os livremente é a base de qual~ ....~ quer pilIllik> político. Os militantes e, por sua w.. diação, o eleitorado ~~o são necessários à eleição do.~ politico orém, st~ dos partidos'-yª~ ria. Exemplificámos com os gudfós e os gibelinos, par~ tidos das cidades medievais formados por adeptos I ,I ~: erp função da devoção pessoal. Vjrios aspectos des~ '1'11 ses partidos medievais lembram o bolchevismo com l' _Q§. ~~9vi~ts. Consideremos o Statuto della parte \ Guelfa, certos itens como os referentes à confiscação de I, I: bens dos nobili - familias de cavaleiros potencialmente I!'" proprietárias de feudos - ou a supressão do direito de exercer determinada função ou supressão do di~ I : reito de voto, os cómitês de partidos inter~regioilais, v a rígida 0l"ianiza~ão rn.ili.t&e as vantagel!s da delação. I }J"P;4Ç I' Considerem o bolchevismo, com suas organizações militares rigorosamente controladas, sobretudo na Rússia, em suas organizações de informantes, a ne~ gação dos dir~itos politicos à burguesia, isto é, aos . empresários, comerciantes, clérigos, elementos liga~ , dós à antiga policia e à antiga dinastia. A analogia torna-se" tão mais surpreendente se considerannos que, por um lado, a organização militar do partido medieval era apoiada num exército de cavaleiros, no ./ ~,,_/ ,I ~ I 11::: 1 " ? A POLÍTICA COMO VOCAÇÃO + qual os nobres monopolizavam os cargos diretivos; considere~se o fato de o bolchevismo ter reintro~ duzido o empresário com alto salário, o trabalho for~ v çado, o sistema Taylor, a disciplina no exército e na fábrica, procurando ainda atrair capitais estrangei~ ;lr-os. para. acionarem a l.JlíÍQYina econômica e estatal, "* / viram~s.e obrigados a. aceitar1J.ldQ aquilo que conde~ v : { Ilª!@! COlJ).g...!:illla máquina e_statal burguesa, rein~ II tegrando nas suas funções os agentes da velha Ochrana , Czarista (polícia secreta) como principal instru~ \ \. mento de seu poder estatal. \ A nós não interessa tratar de organizaçõesI fundadas na violência; trataremos apenas dos poli~ '. ( ticos profissionais que lutam pelo poder mediante I) \ pacífi~ campanhas parti~s no mercaqo d9J!J \ ~oto§.eleitorais.,'! , Considerando os partidos políticos, na sua acep~ ção mais simples, encontramo~los em primeiro lu~ gar, como por exemplo na Inglaterra, como grupos dependentes da aristocracia. Se por um' motivo ou outro um par do reino trocava de partido, todos os seus dependentes seguiam~no. At:é a proclamação da R.eform 8.ill (de 1831), eram as grandes famílias no~ *" bres e não o rei que controlavam um grande núme~ ) rQ_ q~ burgos eleitorais. Semelhantes aos pª~t!dos ~ºçráticos, foram os pa.:rtidos gº§ notáveis, que.se desenvolveram posteriormente em razão da ~~cen~ ,~~..... I , -,,- ,.,.-, ..... ~.-~ ' , '. -+ MAX WEBER + _ são pol1tica ~ burguesia, conservando uma estru# tura bem próxima aos partidos da nobreza. Sob a :./ di~eção e~Eiritual dQ§ in~~lec!.uais, camada típica do Ocidente, os grupos que possuíam p~9priedade S .,r cultura se articularam conforme os inte..r~s d~ ",r ._- . . ~.. cla~. interesses familiares e motivos icl~!ógicos, formando partidos pol1ticos e assegurando a si a direção. Sacerdotes, professores, advogados, inédi# ( ..... cos, farmacêuticos, camponeses prósperos, fabrican# tes - na Inglaterra qualquer camada social que gava pertencer à classe dos gentlemen -, constituíam#se inicialmente em assºdações P9liticas de ocasião ou, na melhor das hipóteses, em (::!~.hes polític0!5 loç~.. '. Nessa época, pão ~~pat~Ldos poliQS.Qs .f&fZ ... organizados regiºl!ªlIJl~lJ.te com base em g~-J?º~ permanentes no il1terior do país. Em períodos de inquietação social, a pequena burguesia fazià#se ouvir, e o proletariado chegou certa vez a aparecer, mas os dirigentes escolhidos geralmente não provi~ nham da sua camada. Somente os parlam~es ga~ rantiam a coesão entre os vários a~pamentos políti# cos, apesar de p~~s~ dS .importância local ./ in~uen~m a e§colha dos canç.Udatos. Os prom~ ~ deitorais eram criados, em parte, ern~ das promess~s dos candidatos e em parte nas reu~§ çl..Qs n.9~ ou nas resoluções das facções par~ lamentares. Só em caráter secundário e a título ex~ ..~ '~~~ -+ A POLtTICA COMO VOCAçAo + clusivamente honorifico é que um homem de pro# jeção consagra parte de seu tempo livre às atividades ) de direção de um clube. Na inexistência do clube (como na maioria dos casos), de ex~PQ~c;lt.llm .... mQfto inteiramente irif~l c0l!1 aqll.cies pouçQ§. v intereSlilados, mesmg em époc~s norll1~s. O jorna~ ~. lista era o único político remunerado em caráter profissional e, além das sessões do Parlamento, só a imp~constituía uma organiza~o"polltica dota~ da de al~ma continuidade. Porém, em se tratando de uma ação política que requeressealguma conti~ nuidade, os parlamentares e os chefes de partido sa~ /bem a que lideres locais recorrer. Somente nas -_._-= - grandes cidades se instalam e funcionam as ~~s§ões pern:!.(l~sWs partidos, com mensalidades perio~ dlcamente pagas por seus membros e com reuniões t periódicas e públicas, nas quais o deputado presta ) contas de seu mandato. S9~ em épocas çl~ ções Mvida pq~~~. Contudo, a necessidade de maior organização in~ terna dos partidos fez~se sentir prontamente. T raba~ lhou nessa direção o interesse dos parlamentares em conseguir alia!l~deitorais em diferentes circuns~ crições, em estªbelecer programas de nivell}acional v vigorosos, í!P0iados por amplas camadas da ~~ ç@, criando uma agítacão u!lificada e!lltqdo o p~ís. '* .~ ,I II .. MAX WEBER ~ Mesmo sendo criadas se são redes de seções do partido em todas as cidades de média importância, } estendidas para todo o território nacio~l pelos y' homens de confiança, os quais perm~ em conta ~-te contínuo com um membro d()~o pal1.ªmen tar, a estrutura dq aparelho <:1..2 j2artido continuou to davia a mesma. Continuou sendo.uma es.trutu.J;U serviço dos .1lotáyds:jAfora os empregados da sede central, há ainda aITência de funcionários remune li;: '::1 Ilr: :111 rados. Assim, as associações políticas eramli'! Id l V" di~igidas p...QJ." pel?sQas estimadas IlQ seu meio, as n quais o faziam.e..m v:irtu.d.e d~pre~ttgio gue de outro modo já possuíam. Esses notáveís detinham eill..§1las mãos a atividade ~1Eparlam~, continuando a exercer idêntica influência à dos notáveís com assen to no Parlamento. As reuniões locais abertas e a im prensa nutriam-se 'do material fornecido pelas màni festações partidárias de caráter público. As contribuições regulares dos membros do partido eram indispensáveis, e uma parcela delas era desti nada, a cobrir os gastos do órgão central. í Até há bem pouco tempo, a maior parte das or { g~~:lÍzações partidárias alemãs encontrava-se nesse estágio. Na França, permaneciam as relações ipstá- . veis entre os parlamentares e os notáveís locais. Nesse pais, os programas ainda são feitos pelos seus can didatos ou por intelectuais a seu serviço, antes de /~. .. A POLITICA COMO VOCAçAo ~ iniciar-se a campanha eleitoral, embora as resolu ções parlamentares e os programas políticos tives sem de se adaptar em maior ou menor grau às exi-, gências locais. Lll,~ h! PQl!f.Q§ apo~ o número ~\v pessoas inteiramente dedi.fW à política er~Jm!ll,Q. \ pJ::queno. Na sua maior parte, o contingente de po-' \ líticos profissionais era formado por deputados elei- ii, tos, funcionários de órgãos centrais partidários eJ jornalistas profissionais. Na França, o sistema poltl" tico inclUía os arrivistas que ocupavam cargospol:í!t (" cos ou a eles se candidatavam: A p~ (sé~~sâtempô:)J nÚmero de deputados ~lcialménte mÍn1s{~riáveis era muito pequeno, assim como os candidatos a cargos eletivos. Isso se dava em virtude especialmente da sua condição de ~n9táV~i0 ,,: Ent~etanto, o número daqueles que indireta mente se interessavam pela política, especialmente no que se refere ao seu aspecto material, era imenso. Quaisquer medidas administrativas de um minis tério eram t(f)madas tendo em vista suas repercus sões eleitorais. Por intermédio do· delegado local, eram encaminhadas as reivindicações pessoais. Agia-se de forma tal que qualquer tipo de preten são fosse mediada pelo deputado local; a favor ou contra sua vontade, o ministro tinha de prestar-lhe atenção, sobretudo se o deputado fazia parte da 57 I -+ MAX WEBER <Eo maioria parlamentar, razão pela qual o deputado procurava fazer parte desta. O monopólio das no~ meações para cargos relativos aos negócios-de sua ctrcunscrição estava nas mãos do deputado. Este, por sua vez, agia cautelosamente em se tratando de representante de um poder local, tendo em vista sua reeleiçã€>o _~~7A esse estadoidílico dOlp,inação @§ notáveis 'lil <e subretudo dos parlamentares se opõem I1ldiçal~ II~: :!!Ii I'll.ell.t.e as formas mais moclernas çle .QIganízação , ',1 11 1:1' ; pªrtidsítía. Elas sãe} filhas @ democracia, do suf~á~ gio universal, da necessidade 9.~ propaganda..de' J'" "111 11: massas e da organiz~o dessas mesmas 1passas, do desenvolvimento da unidade mais elevada de co mando e da disciplina a mais rigorosa. É o fim da dominação dos notáveis e do comando dos parla mentares. §~~ ':pol1~~ prof~ssionais"_ewanhos ao Pªlamt'Jlto que tQL1l;!lil a aQmí:Aistl'ftção·nas I, -;-i;, O1L~~~E~~de.~~e_:empreendedQI~s:.-"tal! como o boss norte-americano e o dection agent inglês -, ou na de.Iuncionários com remuneração fixa. For malmente, tem lugar em amplo processo de demo~ cratização. Não é mais a facção parlamentar que cria" , . os programas normativos, tampouco os notávei~ locais detêm a candidatura, mas são as assembléias dos membros filiados ao partido que elegem os candidatos e delegam membros para as assembléias '5$ -+ A POLITICA COMO VOCAÇÃO <Eo de ordem superior, das quais possivelmente have rão ainda outras até o "congresso do partido". Toda via, n: realidade, o po~ está naturalmente 1'l-ªs mãos daqueles que ex:~rcem o trab~1ho amtinuada-rrtente 110 sei~ d_a adf!1jnistração burocrática. ou ainda daque les de que a administração depende, para o seu an-;/" / damento, de modo pecuniário ou pessoal, tal com<l< ' por exemplo, os mecenas ou dirigentes de podero sos clubes de interesse político (Tammany Hall). O aspecto decisivo é que todo esse aparelho pessoal - a "máquina", tal como é deomillada de modo ca racterístico nos países anglo-saxões - e ainda mais aqueles que O dirigem oferecem aos parlamentares as regras do jogo e estão de um modo bastante am- " pIo em condições de impor a eles as suas vontades. E isso tem significado especialmente na escolha da direçtlo do partido. Torna-se dirigente aquele que a máquina segue, e o mesmo vale para aquele que está I acima do comando do Parlamento. A criação de tais i1 máquinas significa, em outras palavras, a introdução da democracia por plebiscito. . . Os militantes e sobretudo os funcionários e os J !Jl~ dirigentes do partido esperam que· o triunfo do chefe lhes traga vantagens, posição ou outras com pensações. Esperam obter tais graças do chefe e não somente dos parlamentares: este é o ponto decisivo. Esperam que no processo da campanha eleitoral a 59 -+ MAX WEBER + v' influência demagógica da personalidade do chefe lhes traga alguma compensação pessoal, assegure lhes votos e mandatos, garanta-lhes o acesso.ao po der. Uma pessoa que se dedica com devoção espera por remediação e não se satisfaz apenas em traba: lhar para a causa de um programa abstrato de um /1.partido medíocre. um.. a das molas propulsoras de (f, toda a liderança é o elt'mento "carismático". " I De forma variável, essa nova maneira de organi zação dos partidos impôs-se, na maioria dos países, concorrendo com QS homens de importância local e com os parlamentares que não abrem mão de sua' ". influência. Esse novo estilo se manifestou primeiro nos partidos burgueses dos Estados Unidos e de v pois no partido ~-ºcial-democrata, particularmente OQalemão. Essa revolução é marcada por constantes regres-' sões, na medida em que não existe um dirigente aceito por consenso. Mesmo que tal chefe exista, são inevitáveis as concessões de todo tipo à vaidade e ao interesse individual das personalidades impor tantes do partido. Pode acontecer também que a..l!ill v qtlina fique ,!!!S mãos ç!Q§ funcionários.i!Q. partido. que são re$ponsáyeis pelo trabalhoregular. Segun-, do a opinião de alguns setores social-democratas, ! v' seu pªrtido ~ pa!sando PQLum procesSQ de ku.n?g:atjzação.
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