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3 SÉRIEa ENSINO MÉDIO Caderno do Professor Volume 4 SOCIOLOGIA Ciências Humanas Nome: Escola: 1 edição revistaGOVERNO DO ESTADO DE SãO PAULO SECRETARIA DA EDUCAçãO MATERIAL DE APOIO AO CURRÍCULO DO ESTADO DE SÃO PAULO CADERNO DO PROFESSOR SOCIOLOGIA ENSINO MÉDIO – 3ª SÉRIE VOLUME 4 a São Paulo, 2013 Governo do Estado de São Paulo Governador Geraldo Alckmin Vice-Governador Guilherme Afif Domingos Secretário da Educação Herman Voorwald Secretário-Adjunto João Cardoso Palma Filho Chefe de Gabinete Fernando Padula Novaes Subsecretária de Articulação Regional Rosania Morales Morroni Coordenadora da Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores – EFAP Silvia Andrade da Cunha Galletta Coordenadora de Gestão da Educação Básica Maria Elizabete da Costa Coordenador de Gestão de Recursos Humanos Jorge Sagae Coordenadora de Informação, Monitoramento e Avaliação Educacional Maria Lucia Guardia Coordenadora de Infraestrutura e Serviços Escolares Ana Leonor Sala Alonso Coordenadora de Orçamento e Finanças Claudia Chiaroni Afuso Presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Educação – FDE Barjas Negri CONCEPÇÃO E COORDENAÇÃO GERAL COORDENADORIA DE GESTÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA – CGEB Coordenadora Maria Elizabete da Costa Diretor do Departamento de Desenvolvimento Curricular de Gestão da Educação Básica João Freitas da Silva Diretora do Centro de Ensino Fundamental dos Anos Finais, Ensino Médio e Educação Profissional – CEFAF Valéria Tarantello de Georgel Coordenação Técnica Roberto Canossa Roberto Liberato EQUIPES CURRICULARES Área de Linguagens Arte: Carlos Eduardo Povinha, Kátia Lucila Bueno, Pio de Sousa Santana e Roseli Ventrela. Educação Física: Marcelo Ortega Amorim, Maria Elisa Kobs Zacarias, Mirna Leia Violin Brandt, Rosangela Aparecida de Paiva e Sergio Roberto Silveira. Língua Estrangeira Moderna (Inglês e Espanhol): Ana Paula de Oliveira Lopes, Jucimeire de Souza Bispo, Marina Tsunokawa Shimabukuro, Neide Ferreira Gaspar e Sílvia Cristina Gomes Nogueira. Língua Portuguesa e Literatura: Angela Maria Baltieri Souza, Claricia Akemi Eguti, Idê Moraes dos Santos, João Mário Santana, Kátia Regina Pessoa, Mara Lúcia David, Marcos Rodrigues Ferreira, Roseli Cordeiro Cardoso e Rozeli Frasca Bueno Alves. Área de Matemática Matemática: Carlos Tadeu da Graça Barros, Ivan Castilho, João dos Santos, Otavio Yoshio Yamanaka, Rodrigo Soares de Sá, Sandra Maira Zen Zacarias e Vanderley Aparecido Cornatione. Área de Ciências da Natureza Biologia: Aparecida Kida Sanches, Elizabeth Reymi Rodrigues, Juliana Pavani de Paula Bueno e Rodrigo Ponce. Ciências: Eleuza Vania Maria Lagos Guazzelli, Gisele Nanini Mathias, Herbert Gomes da Silva e Maria da Graça de Jesus Mendes. Física: Carolina dos Santos Batista, Fábio Bresighello Beig, Renata Cristina de Andrade Oliveira e Tatiana Souza da Luz Stroeymeyte. Química: Ana Joaquina Simões S. de Matos Carvalho, Jeronimo da Silva Barbosa Filho, João Batista Santos Junior e Natalina de Fátima Mateus. Área de Ciências Humanas Filosofia: Tânia Gonçalves e Teônia de Abreu Ferreira. Geografia: Andréia Cristina Barroso Cardoso, Débora Regina Aversan e Sérgio Luiz Damiati. História: Cynthia Moreira Marcucci e Maria Margarete dos Santos. Sociologia: Alan Vitor Corrêa, Carlos Fernando de Almeida, Sérgio Roberto Cardoso e Tony Shigueki Nakatani. PROFESSORES COORDENADORES DO NÚCLEO PEDAGÓGICO Área de Linguagens Educação Física: Ana Lucia Steidle, Eliana Cristine Budisk de Lima, Fabiana Oliveira da Silva, Isabel Cristina Albergoni, Karina Xavier, Katia Mendes, Liliane Renata Tank Gullo, Marcia Magali Rodrigues dos Santos, Mônica Antonia Cucatto da Silva, Patrícia Pinto Santiago, Regina Maria Lopes, Sandra Pereira Mendes, Sebastiana Gonçalves Ferreira Viscardi, Silvana Alves Muniz, Thiago Candido Biselli Farias e Welker José Mahler. Língua Estrangeira Moderna (Inglês): Célia Regina Teixeira da Costa, Cleide Antunes Silva, Ednéa Boso, Edney Couto de Souza, Elana Simone Schiavo Caramano, Eliane Graciela dos Santos Santana, Elisabeth Pacheco Lomba Kozokoski, Fabiola Maciel Saldão, Isabel Cristina dos Santos Dias, Juliana Munhoz dos Santos, Kátia Vitorian Gellers, Lídia Maria Batista Bomfim, Lindomar Alves de Oliveira, Lúcia Aparecida Arantes, Mauro Celso de Souza, Neusa A. Abrunhosa Tápias, Patrícia Helena Passos, Renata Motta Chicoli Belchior, Renato José de Souza, Sandra Regina Teixeira Batista de Campos e Silmara Santade Masiero. Língua Portuguesa: Andrea Righeto, Edilene Bachega R. Viveiros, Eliane Cristina Gonçalves Ramos, Graciana B. Ignacio Cunha, Letícia M. de Barros L. Viviani, Luciana de Paula Diniz, Márcia Regina Xavier Gardenal, Maria Cristina Cunha Riondet Costa, Maria José de Miranda Nascimento, Maria Márcia Zamprônio Pedroso, Patrícia Fernanda Morande Roveri, Ronaldo Cesar Alexandre Formici, Selma Rodrigues e Sílvia Regina Peres. Área de Matemática Matemática: Carlos Alexandre Emídio, Clóvis Antonio de Lima, Delizabeth Evanir Malavazzi, Edinei Pereira de Sousa, Eduardo Granado Garcia, Evaristo Glória, Everaldo José Machado de Lima, Fabio Augusto Trevisan, Inês Chiarelli Dias, Ivan Castilho, José Maria Sales Júnior, Luciana Moraes Funada, Luciana Vanessa de Almeida Buranello, Mário José Pagotto, Paula Pereira Guanais, Regina Helena de Oliveira Rodrigues, Robson Rossi, Rodrigo Soares de Sá, Rosana Jorge Monteiro, Rosângela Teodoro Gonçalves, Roseli Soares Jacomini, Silvia Ignês Peruquetti Bortolatto e Zilda Meira de Aguiar Gomes. Área de Ciências da Natureza Biologia: Aureli Martins Sartori de Toledo, Claudia Segantini Leme, Evandro Rodrigues Vargas Silvério, Fernanda Rezende Pedroza, Regiani Braguim Chioderoli e Sofia Valeriano Silva Ratz. Ciências: Davi Andrade Pacheco, Franklin Julio de Melo, Liamara P. Rocha da Silva, Marceline de Lima, Paulo Garcez Fernandes, Paulo Roberto Orlandi Valdastri, Rosimeire da Cunha e Wilson Luís Prati. Física: Ana Claudia Cossini Martins, Ana Paula Vieira Costa, André Henrique Ghelfi Rufino, Cristiane Gislene Bezerra, Fabiana Hernandes M. Garcia, Leandro dos Reis Marques, Marcio Bortoletto Fessel, Marta Ferreira Mafra, Rafael Plana Simões e Rui Buosi. Química: Armenak Bolean, Cirila Tacconi, Daniel B. Nascimento, Elizandra C. S. Lopes, Gerson N. Silva, Idma A. C. Ferreira, Laura C. A. Xavier, Marcos Antônio Gimenes, Massuko S. Warigoda, Roza K. Morikawa, Sílvia H. M. Fernandes, Valdir P. Berti e Willian G. Jesus. Área de Ciências Humanas Filosofia: Álex Roberto Genelhu Soares, Anderson Gomes de Paiva, Anderson Luiz Pereira, Claudio Nitsch Medeiros e José Aparecido Vidal. Geografia: Ana Helena Veneziani Vitor, Célio Batista da Silva, Edison Luiz Barbosa de Souza, Edivaldo Bezerra Viana, Elizete Buranello Perez, Márcio Luiz Verni, Milton Paulo dos Santos, Mônica Estevan, Regina Célia Batista, Rita de Cássia Araujo, Rosinei Aparecida Ribeiro Libório, Sandra Raquel Scassola Dias, Selma Marli Trivellato e Sonia Maria M. Romano. História: Aparecida de Fátima dos Santos Pereira, Carla Flaitt Valentini, Claudia Elisabete Silva, Cristiane Gonçalves de Campos, Cristina de Lima Cardoso Leme, Ellen Claudia Cardoso Doretto, Ester Galesi Gryga, Karin Sant’Ana Kossling, Marcia Aparecida Ferrari Salgado de Barros, Mercia Albertina de Lima Camargo, Priscila Lourenço, Rogerio Sicchieri, Sandra Maria Fodra e Walter Garcia de Carvalho Vilas Boas. Sociologia: Aparecido Antônio de Almeida, Jean Paulo de Araújo Miranda, Neide de Lima Moura e Tânia Fetchir. GESTÃO DO PROCESSO DE PRODUÇÃO EDITORIAL FUNDAÇÃO CARLOS ALBERTO VANZOLINI Presidente da Diretoria Executiva Antonio Rafael Namur Muscat Vice-presidente da Diretoria Executiva Alberto Wunderler Ramos GESTÃO DE TECNOLOGIAS APLICADASÀ EDUCAÇÃO Direção da Área Guilherme Ary Plonski Coordenação Executiva do Projeto Angela Sprenger e Beatriz Scavazza Gestão Editorial Denise Blanes Equipe de Produção Editorial: Ana C. S. Pelegrini, Cíntia Leitão, Karinna Alessandra Carvalho Taddeo, Mariana Góis, Marina Murphy, Michelangelo Russo, Natália S. Moreira, Olivia Frade Zambone, Priscila Risso, Regiane Monteiro Pimentel Barboza, Rodolfo Marinho, Stella Assumpção Mendes Mesquita e Tatiana F. Souza. Direitos autorais e iconografia: Beatriz Fonseca Micsik, Érica Marques, José Carlos Augusto, Maria Aparecida Acunzo Forli e Maria Magalhães de Alencastro. COORDENAÇÃO TÉCNICA Coordenadoria de Gestão da Educação Básica – CGEB COORDENAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DOS CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS DOS CADERNOS DOS PROFESSORES E DOS CADERNOS DOS ALUNOS Ghisleine Trigo Silveira CONCEPÇÃO Guiomar Namo de Mello Lino de Macedo Luis Carlos de Menezes Maria Inês Fini (coordenadora) Ruy Berger (em memória) AUTORES Linguagens Coordenador de área: Alice Vieira. Arte: Gisa Picosque, Mirian Celeste Martins, Geraldo de Oliveira Suzigan, Jéssica Mami Makino e Sayonara Pereira. Educação Física: Adalberto dos Santos Souza, Carla de Meira Leite, Jocimar Daolio, Luciana Venâncio, Luiz Sanches Neto, Mauro Betti, Renata Elsa Stark e Sérgio Roberto Silveira. LEM – Inglês: Adriana Ranelli Weigel Borges, Alzira da Silva Shimoura, Lívia de Araújo Donnini Rodrigues, Priscila Mayumi Hayama e Sueli Salles Fidalgo. LEM – Espanhol: Ana Maria López Ramírez, Isabel Gretel María Eres Fernández, Ivan Rodrigues Martin, Margareth dos Santos e Neide T. Maia González. Língua Portuguesa: Alice Vieira, Débora Mallet Pezarim de Angelo, Eliane Aparecida de Aguiar, José Luís Marques López Landeira e João Henrique Nogueira Mateos. Matemática Coordenador de área: Nílson José Machado. Matemática: Nílson José Machado, Carlos Eduardo de Souza Campos Granja, José Luiz Pastore Mello, Roberto Perides Moisés, Rogério Ferreira da Fonseca, Ruy César Pietropaolo e Walter Spinelli. Ciências Humanas Coordenador de área: Paulo Miceli. Filosofia: Paulo Miceli, Luiza Christov, Adilton Luís Martins e Renê José Trentin Silveira. Geografia: Angela Corrêa da Silva, Jaime Tadeu Oliva, Raul Borges Guimarães, Regina Araujo e Sérgio Adas. História: Paulo Miceli, Diego López Silva, Glaydson José da Silva, Mônica Lungov Bugelli e Raquel dos Santos Funari. Sociologia: Heloisa Helena Teixeira de Souza Martins, Marcelo Santos Masset Lacombe, Melissa de Mattos Pimenta e Stella Christina Schrijnemaekers. Ciências da Natureza Coordenador de área: Luis Carlos de Menezes. Biologia: Ghisleine Trigo Silveira, Fabíola Bovo Mendonça, Felipe Bandoni de Oliveira, Lucilene Aparecida Esperante Limp, Maria Augusta Querubim Rodrigues Pereira, Olga Aguilar Santana, Paulo Roberto da Cunha, Rodrigo Venturoso Mendes da Silveira e Solange Soares de Camargo. Ciências: Ghisleine Trigo Silveira, Cristina Leite, João Carlos Miguel Tomaz Micheletti Neto, Julio Cézar Foschini Lisbôa, Lucilene Aparecida Esperante Limp, Maíra Batistoni e Silva, Maria Augusta Querubim Rodrigues Pereira, Paulo Rogério Miranda Correia, Renata Alves Ribeiro, Ricardo Rechi Aguiar, Rosana dos Santos Jordão, Simone Jaconetti Ydi e Yassuko Hosoume. Física: Luis Carlos de Menezes, Estevam Rouxinol, Guilherme Brockington, Ivã Gurgel, Luís Paulo de Carvalho Piassi, Marcelo de Carvalho Bonetti, Maurício Pietrocola Pinto de Oliveira, Maxwell Roger da Purificação Siqueira, Sonia Salem e Yassuko Hosoume. Química: Maria Eunice Ribeiro Marcondes, Denilse Morais Zambom, Fabio Luiz de Souza, Hebe Ribeiro da Cruz Peixoto, Isis Valença de Sousa Santos, Luciane Hiromi Akahoshi, Maria Fernanda Penteado Lamas e Yvone Mussa Esperidião. Caderno do Gestor Lino de Macedo, Maria Eliza Fini e Zuleika de Felice Murrie. EQUIPE DE PRODUÇÃO Coordenação executiva: Beatriz Scavazza. Assessores: Alex Barros, Antonio Carlos de Carvalho, Beatriz Blay, Carla de Meira Leite, Eliane Yambanis, Heloisa Amaral Dias de Oliveira, José Carlos Augusto, Luiza Christov, Maria Eloisa Pires Tavares, Paulo Eduardo Mendes, Paulo Roberto da Cunha, Pepita Prata, Renata Elsa Stark, Solange Wagner Locatelli e Vanessa Dias Moretti. EQUIPE EDITORIAL Coordenação executiva: Angela Sprenger. Assessores: Denise Blanes e Luis Márcio Barbosa. Projeto editorial: Zuleika de Felice Murrie. Edição e Produção editorial: Jairo Souza Design Gráfico e Occy Design (projeto gráfico). APOIO Fundação para o Desenvolvimento da Educação – FDE CTP, Impressão e Acabamento Esdeva Indústria Gráfica S.A. A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo autoriza a reprodução do conteúdo do material de sua titularidade pelas demais secretarias de educação do país,desde que mantida a integridade da obra e dos créditos, ressaltando que direitos autorais protegidos* deverão ser diretamente negociados com seus próprios titulares, sob pena de infração aos artigos da Lei nº- 9.610/98. * Constituem “direitos autorais protegidos” todas e quaisquer obras de terceiros reproduzidas no material da SEE-SP que não estejam em domínio público nos termos do artigo 41 da Lei de Direitos Autorais. Catalogação na Fonte: Centro de Referência em Educação Mario Covas S239c São Paulo (Estado) Secretaria da Educação. Caderno do professor: sociologia, ensino médio - 3ª- série, volume 4 / Secretaria da Educação; coordenação geral, Maria Inês Fini; equipe, Heloísa Helena Teixeira de Souza Martins, Melissa de Mattos Pimenta, Stella Christina Schrijnemaekers. São Paulo: SEE, 2013. ISBN 978-85-7849-448-3 1. Sociologia 2. Ensino Médio 3. Estudo e ensino I. Fini, Maria Inês. II. Martins, Heloísa Helena Teixeira de Souza. III. Pimenta, Melissa de Mattos. IV. Schrijnemaekers, Stella Christina. V. Título. CDU: 373.5:316 * Nos Cadernos do Programa São Paulo faz escola são indicados sites para o aprofundamento de conhecimentos, como fonte de consulta dos conteúdos apresentados e como referências bibliográficas. Todos esses endereços eletrônicos foram checados. No entanto, como a internet é um meio dinâmico e sujeito a mudanças, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo não garante que os sites indicados permaneçam acessíveis ou inalterados. * As fotografias da agência Abblestock/Jupiter publicadas no material são de propriedade da Getty Images. * Os mapas reproduzidos no material são de autoria de terceiros e mantêm as características dos originais, no que diz respeito à grafia adotada e à inclusão e composição dos elementos cartográficos (escala, legenda e rosa dos ventos). Senhoras e senhores docentes, A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo sente-se honrada em tê-los como colabo- radores na reedição do Caderno do Professor, realizada a partir dos estudos e análises que per- mitiram consolidar a articulação do currículo proposto com aquele em ação nas salas de aula de todo o Estado de São Paulo. Para isso, o trabalho realizado em parceria com os PCNP e com os professores da rede de ensino tem sido basal para o aprofundamento analítico e crítico da abor- dagem dos materiais de apoio ao currículo. Essa ação, efetivada por meio do programa Educação — Compromisso de São Paulo, é de fundamentalimportância para a Pasta, que despende, neste programa, seus maiores esforços ao intensificar ações de avaliação e monitoramento da utilização dos diferentes materiais de apoio à implementação do currículo e ao empregar o Caderno nas ações de formação de professores e gestores da rede de ensino. Além disso, firma seu dever com a busca por uma educação paulista de qualidade ao promover estudos sobre os impactos gerados pelo uso do material do São Paulo Faz Escola nos resultados da rede, por meio do Saresp e do Ideb. Enfim, o Caderno do Professor, criado pelo programa São Paulo Faz Escola, apresenta orien- tações didático-pedagógicas e traz como base o conteúdo do Currículo Oficial do Estado de São Paulo, que pode ser utilizado como complemento à Matriz Curricular. Observem que as atividades ora propostas podem ser complementadas por outras que julgarem pertinentes ou necessárias, dependendo do seu planejamento e da adequação da proposta de ensino deste material à realidade da sua escola e de seus alunos. O Caderno tem a proposição de apoiá-los no planejamento de suas aulas para que explorem em seus alunos as competências e habilidades necessárias que comportam a construção do saber e a apropriação dos conteúdos das disciplinas, além de permitir uma avalia- ção constante, por parte dos docentes, das práticas metodológicas em sala de aula, objetivando a diversificação do ensino e a melhoria da qualidade do fazer pedagógico. Revigoram-se assim os esforços desta Secretaria no sentido de apoiá-los e mobilizá-los em seu trabalho e esperamos que o Caderno, ora apresentado, contribua para valorizar o ofício de ensinar e elevar nossos discentes à categoria de protagonistas de sua história. Contamos com nosso Magistério para a efetiva, contínua e renovada implementação do currículo. Bom trabalho! Herman Voorwald Secretário da Educação do Estado de São Paulo SUMáRIO Ficha do Caderno 7 Orientação sobre os conteúdos do volume 8 Tema 1 – O que é não cidadania? 10 Situação de Aprendizagem 1 – O processo de desumanização e coisificação do outro 10 Situação de Aprendizagem 2 – Reprodução da violência e da desigualdade social 15 Situação de aprendizagem 3 – O papel transformador da esperança e do sonho 22 Recursos para ampliar a perspectiva do professor e do aluno para a compreensão dos temas 39 FICHA DO CADERNO Desumanização e Esperança Nome da disciplina: Sociologia área: Ciências Humanas Etapa da educação básica: Ensino Médio Série: 3ª Volume: 4 Temas e conteúdos: O que é não cidadania? A desumanização e coisificação do outro Reprodução da violência e da desigualdade social O papel social e politicamente transformador da esperança e do sonho 7 ORIENTAçãO SOBRE OS CONTEúDOS DO VOLUME 8 Caro professor, Neste último volume da 3ª série, daremos fechamento à temática da cidadania, que temos discutido desde o início do ano letivo. Porém o enfoque agora é diametralmente oposto ao que já foi apresentado: se antes a preocupação foi compreender de que formas a cidadania foi construída histórica e socialmente, agora bus- camos exatamente o oposto, investigando e analisando práticas contemporâneas que vão na contramão do que entendemos hoje por o que é ser cidadão. Nesse sentido, a pergun- ta que direciona as duas primeiras Situações de Aprendizagem é: O que é não cidadania? Ela tem por objetivo propor temas para reflexão e debate, utilizando as ferramentas metodo- lógicas próprias da Sociologia, apreendidas ao longo do curso. Os temas percorrem práticas e situações atuais configuradas como violação de direitos e/ou em que os direitos não são garantidos, de modo a explicitar que há uma clara cisão entre a condição de cidadania e a de não cidadania. Essa ocorrência coloca em questão tanto o Estado democrático de direi- to, como o tipo de sociedade que efetivamen- te desejamos. A partir de exercícios de análise e crítica de situações sociais contemporâneas, pretende-se que os alunos compreendam o papel questionador da Sociologia diante da realidade social. Na última Situação de Aprendizagem, passaremos a um enfoque mais positivo, abordando como o pensamento e as ações políticas de três grandes personalidades abriram caminho para mudanças em seus con- textos históricos e sociais de origem. O foco da discussão será o papel social e politicamente transformador da esperança e do sonho, tra- duzido nas biografias de Mahatma Gandhi, Martin Luther King e Nelson Mandela. Conhecimentos priorizados Espera-se que, ao final do volume, os alu- nos estejam aptos a compreender o que sig- nifica a desumanização e a coisificação do outro e, especialmente, quais fatores contri- buem para a prevalência desses fenômenos. Além disso, espera-se que sejam capazes de compreender a importância de se resgatar a especificidade da condição humana e dos direitos fundamentais à vida, à liberdade, à dignidade, à pessoa e às condições mínimas de sobrevivência. Para tanto, serão prioriza- dos os conhecimentos adquiridos nos volu- mes anteriores, de modo a pôr em prática o questionamento sobre qual é o lugar do ser humano em meio ao conflito social, à intole- rância religiosa, ao racismo e à desigualdade social. Finalmente, pretende-se que os alunos possam estabelecer uma reflexão crítica acerca da importância do sonho e da esperança como transformadores da realidade social. Competências e habilidades As atividades aqui propostas visam a refor- çar o aprimoramento das habilidades de lei- tura e interpretação de textos; a associação à realidade cotidiana de temas, ideias e conteú- dos apreendidos em sala de aula; e a reflexão crítica de problemas e fenômenos sociais. Sociologia - 3a série - Volume 4 Metodologias e estratégias A metodologia e as estratégias utilizadas procuram proporcionar um conjunto de alter- nativas didático-pedagógicas que variam de aulas expositivas a aulas dialogadas, visando ao debate e à interação com os alunos, a exer- Avaliação De forma geral, é sugerido o desenvolvi- mento, por parte dos alunos, de textos disser- tativos argumentativos referentes aos temas e conteúdos apresentados em cada Situação de Aprendizagem. cícios de análise e interpretação de textos que buscam propiciar oportunidades de reflexão e elaboração de argumentos na forma escrita. 9 TEMA 1 – O QUE É NãO CIDADANIA? SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 1 O PROCESSO DE DESUMANIZAÇÃO E COISIfICAÇÃO DO OUTRO Nesta Situação de Aprendizagem, intro- duziremos o tema O que é não cidadania?, que se refere à questão central do Caderno. Para isso, partiremos de situações contem- porâneas em que práticas de violação siste- mática de direitos básicos levam ao processo de desumanização e coisificação do outro. A compreensão de como ocorre esse proces- so será de fundamental importância para a segunda Situação de Aprendizagem. Mais uma vez, recorremos ao recurso metodológico do estranhamento e da reflexão crítica de fenô- menos sociais com os quais o aluno se defronta na realidade brasileira. Por essa razão, incen- tivamos professores e alunos a recorrer à pes- quisa, em jornais, revistas ou internet, a fim de atualizarem suas informações sobre os assun- tos abordados no Caderno. Tempo previsto: 2 aulas. Conteúdos e temas: processos de desumanização e coisificação do outro: a escravidão contemporânea. Competências e habilidades:compreender o que constitui a condição social de não cidadania; apreender como ocorrem processos de desumanização e coisificação do outro; refletir critica- mente sobre a escravidão contemporânea no Brasil. Estratégias: leitura e interpretação de textos; aulas dialogadas; exercícios em sala de aula. Recursos: textos; consulta a materiais didáticos; pesquisas; livros; revistas; jornais e internet. Avaliação: elaboração de material educativo. 10 Sondagem e sensibilização O objetivo desta atividade de sensibi- lização é iniciar a reflexão sobre o tema central da Situação de Aprendizagem: o processo de desumanização e coisificação do outro, entendido sempre como um ser humano, que, entretanto, nunca é visto como tal. Para isso, a problemática que abordare- mos nas primeiras etapas do Caderno será a escravidão contemporânea. Você pode iniciar esta etapa colocando a seguinte pergunta na lousa: Quando terminou a escravidão no Brasil? Aguarde as respostas da turma. Com base nos conhecimentos Sociologia - 3a série - Volume 4 adquiridos nas aulas de História, é muito provável que os alunos respondam que a escravidão foi abolida em 1888, quando a princesa Isabel promulgou a Lei Áurea. Com efeito, oficialmente, a escravidão no Brasil foi abolida nessa data. Porém, ela ainda per- siste no século XXI, não apenas em alguns pontos do nosso país, mas em diversos outros lugares ao redor do mundo. Como isso acontece? Você pode perguntar aos seus alunos se ainda existe escravidão no Brasil, mesmo após a promulgação da Lei Áurea. Aguarde as con- tribuições da turma. As respostas poderão ser as mais variadas possíveis: alguns estu- dantes poderão argumentar que, de fato, ela não existe mais, outros poderão afirmar que há notícias de trabalho escravo denunciadas em jornais e outros, até nem saber como res- ponder à questão. Sugerimos que você mes- mo traga notícias sobre trabalho escravo no Brasil de hoje e deixe o material circular entre os alunos. Peça a um voluntário para ler em voz alta um dos textos selecionados ou, então, utilize o trecho a seguir: “Pedro, de 13 anos de idade, perdeu a conta das vezes em que passou frio, ensopado pelas tro- voadas amazônicas, debaixo da tenda de lona amarela que servia como casa durante os dias de semana. Nem bem amanhecia, ele engolia café preto engrossado com farinha de mandioca, abraçava a motosserra de 14 quilos e começava a transformar a floresta amazônica em cerca para o gado do patrão. foi libertado em uma ação do grupo móvel no dia 1º de maio de 2003 em uma fazenda, a oeste do município de Marabá, Sudeste do Pará.” SAKAMOTO, Leonardo (Coord.). Trabalho escravo no Brasil do século XXI. Brasília: Organização Internacional do Trabalho, 2007. p. 27-28. Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/forced_labour/pub/ trabalho_escravo_no_brasil_do_%20seculo_%20xxi_315.pdf>. Acesso em: 22 maio 2013. Após a leitura, discuta com a turma as seguintes questões: f Analise as informações contidas no pará- grafo. O que há de errado na situação vivenciada por Pedro? Segundo a legislação trabalhista brasi- leira, Pedro, por ser menor de idade, não poderia trabalhar. Além disso, a função que ele exercia é considerada insalubre e de alto risco para a sua idade. O desmata- mento da Floresta Amazônica para trans- formá-la em área de criação de gado hoje tem sérias restrições ambientais. As con- dições de alojamento e alimentação não eram adequadas para o exercício das suas funções. f O que a informação “foi libertado” significa? Essa informação quer dizer que Pedro, de alguma forma, encontrava-se privado da condi- ção de liberdade, ou seja, não podia, por alguma razão, deixar a fazenda onde trabalhava. Etapa 1 – A escravidão contemporânea Existem várias formas de escravidão con- temporânea. Nesta primeira etapa, discutire- mos a exploração do trabalho escravo rural. Para entender como ela funciona, solicite a um voluntário para ler o texto a seguir. Você pode realizar uma leitura individual, com- partilhada ou comentada: 11 “A assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, representou o fim do direito de propriedade de uma pessoa sobre a outra, acabando com a possibilidade de possuir legalmente um escravo no Brasil. No entanto, persistiram situações que mantêm o trabalhador sem possibilidade de se desligar de seus patrões. Há fazendeiros que, para realizar derrubadas de matas nativas para formação de pastos, pro- duzir carvão para a indústria siderúrgica, preparar o solo para plantio de sementes, algodão e soja, entre outras atividades agropecuárias, contratam mão de obra utilizando os contratadores de emprei- tada, os chamados ‘gatos’. Eles aliciam os trabalhadores, servindo de fachada para que os fazendeiros não sejam responsabilizados pelo crime. Esses gatos recrutam pessoas em regiões distantes do local da prestação de serviços ou em pensões localizadas nas cidades próximas. Na primeira abordagem, mostram-se agradáveis, portadores de boas oportunidades de trabalho. Oferecem serviço em fazendas, com garantia de salário, de alojamento e comida. Para seduzir o trabalhador, oferecem ‘adiantamentos’ para a família e garantia de transporte gratuito até o local do trabalho. O transporte é realizado por ônibus em péssimas condições de conservação ou por caminhões improvisa- dos sem qualquer segurança. Ao chegarem ao local do serviço, são surpreendidos com situações completa- mente diferentes das prometidas. Para começar, o gato lhes informa que já estão devendo. O adiantamento, o transporte e as despesas com alimentação na viagem já foram anotados em um ‘caderno’ de dívidas que ficará de posse do gato. Além disso, o trabalhador percebe que o custo de todos os instrumentos que preci- sar para o trabalho – foices, facões, motosserras, entre outros – também será anotado no caderno de dívidas, bem como botas, luvas, chapéus e roupas. Finalmente, despesas com os improvisados alojamentos e com a precária alimentação serão anotados, tudo a preço muito acima dos praticados no comércio. Convém lembrar que as fazendas estão distantes dos locais de comércio mais próximos, sendo impos- sível ao trabalhador não se submeter totalmente a esse sistema de ‘barracão’, imposto pelo gato a mando do fazendeiro ou diretamente pelo fazendeiro. Se o trabalhador pensar em ir embora, será impedido sob a alegação de que está endividado e de que não poderá sair enquanto não pagar o que deve. Muitas vezes, aqueles que reclamam das condições ou tentam fugir são vítimas de surras. No limite, podem perder a vida.” SAKAMOTO, Leonardo (Coord.). Trabalho escravo no Brasil do século XXI. Brasília: Organização Internacional do Trabalho, 2007. p. 21-22. Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/forced_labour/pub/trabalho_ escravo_no_brasil_do_%20seculo_%20xxi_315.pdf>. Acesso em: 22 maio 2013. Pergunte aos alunos o que entenderam do texto e verifique se eles têm dúvidas. Em seguida, questione a classe: Por que a situação descrita no texto é entendida como escravidão? Aguarde as respostas e aproveite-as ao máxi- mo para o desenvolvimento desta etapa. A escravidão vem sendo definida e qualifica- da por organismos internacionais desde o sécu- lo passado, por meio de uma série de convenções e tratados que visam a regulamentar1, coibir e abolir formas de exploração do trabalho que violam direitos constituídos ou que vieram a ser consideradas “similares à condição de escra- vidão”. O que vem a ser isso? Segundoa Organização das Nações Unidas (ONU), a escravidão é definida como o estado ou condição de um indivíduo sobre o qual se exercem, total ou parcialmente, os atributos de direito de propriedade2. Já os atos considerados similares à escravi- zação de seres humanos abrangem: 12 1 2 Por “regulamentar”, entendemos o ato de estabelecer regras, disposições e normas para a execução de leis, inclusive aquelas que restringem, proibem e estabelecem penas para a exploração do trabalho escravo. Convenção de 1926 das Nações Unidas sobre a Escravatura. Disponível em: <http://www.oit.org.br/sites/all/forced_labour/ legis_jur/sumario/CONVEN%C3%87%C3%83O%20S%C3%94BRE%20A%20ESCRAVATURA%20ASSINADA%20 EM%20GENEBRA.pdf>. Acesso em: 22 maio 2013. Sociologia - 3a série - Volume 4 f Servidão por dívidas, ou seja, quando alguém é obrigado a oferecer seus serviços ou de terceiros sobre os quais tenha autoridade, sem que haja definição sobre a duração dos serviços, tampouco o seu valor ou tipo (ausência de contrato). f Servidão por lei, costume ou acordo que obrigue uma pessoa a trabalhar sem poder mudar sua condição. f Práticas em que mulheres, crianças ou adolescentes são cedidas ou vendidas em casamento, por morte do marido ou a terceiros, para fins de exploração ou não. fonte: Convenção Suplementar sobre abolição da escravatura, do tráfico de escravos e das instituições e práticas análogas à escravatura. Disponível em: <http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OIT-Organiza%C3%A7%C3%A3o-Internacional- do-Trabalho/convencao-suplementar-sobre-abolicao-da-escravatura-do-trafico-de-escravos-e-das-instituicoes-e-praticas- analogas-a-escravatura-1956.html>. Acesso em: 7 jun. 2013. No Brasil, como essa questão tem sido trata- da? Atualmente, o repúdio à prática da escravidão não é apenas um movimento em defesa da liber- dade, mas uma proibição que se estende a todos os âmbitos do direito internacional e dos direitos humanos. Contudo, práticas que atentam contra esses direitos ainda são comuns no cenário na- cional, especialmente nos Estados do Pará, Mato Grosso, Tocantins, Piauí, Maranhão e Bahia3. Recentemente, o Congresso Nacional aprovou penas mais duras visando coibir o trabalho escravo. A Lei nº 10 803, de 11/12/2003, alterou o artigo nº 149 do Código Penal e estabeleceu com maior precisão os elementos a partir dos quais são identificadas as formas em que as víti- mas são reduzidas à condição de escravidão. A lei prescreveu também penas mais rigorosas para os infratores. Quais são as características da escravidão contemporânea? f A escravidão contemporânea não se reduz à condição de propriedade ou perda da liber- dade, mas envolve, principalmente, a ques- tão da exploração do trabalho. f Nesse sentido, uma condição fundamen- tal para o exercício da cidadania são as garantias fundamentais da dignidade humana. f Por essa razão, são consideradas formas análogas à escravidão o trabalho forçado e o trabalho degradante. Pergunte aos alunos o que eles entendem por “trabalho forçado” e “trabalho degradante”. Aguarde as respostas da classe e, então, solici- te a um voluntário para que leia as definições a seguir: Trabalho forçado (ou obrigatório): segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), é todo trabalho ou serviço exigido de uma pessoa sob a ameaça de sanção e para o qual não se tenha oferecido espontaneamente1. Trabalho degradante: é o trabalho em que as condições mais básicas são negadas ao trabalhador, como salário que atenda satisfatoriamente suas necessidades de sobrevivência e de sua família, o direito a uma jornada justa, que não ofereça riscos à sua saúde ou à sua segurança, e lhe per- mita o convívio social, sem limitações materiais quanto a alimentação, higiene e moradia. 1 Convenção nº 29 sobre o Trabalho forçado ou Obrigatório. Organização Internacional do Trabalho. Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/sites/all/forced_labour/oit/convencoes/conv_29.pdf>. Acesso em: 22 maio 2013. Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola. 3 Possibilidades jurídicas de combate à escravidão contemporânea. Brasília: Organização Internacional do Trabalho, 2007. Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/forced_labour/pub/escravidao_contemporanea_313. pdf>. Acesso em: 23 maio 2013. 13 Como Lição de Casa, você pode solicitar aos alunos que respondam à pergunta a seguir com base no que foi discutido durante a aula. f A escravidão hoje é a mesma de antes da abolição? Etapa 2 – A desumanização e a coisificação do outro A exploração do trabalho escravo não se limita aos meios rurais. Como foi mencionado na etapa anterior, há diversas formas contem- porâneas de exploração do trabalho que envol- vem o cerceamento de liberdade e a degradação do ser humano. Esses dois fatores, além de caracterizarem a condição de escravidão, estão estreitamente ligados a um processo ainda mais perverso, em que a pessoa se transforma em mercadoria comercializável, interessante somen- te por causa do seu valor de troca. Nesse caso, as maiores vítimas são, sobretudo, crianças, adolescentes e mulheres, transformadas em objetos de consumo. Nesta etapa, analisaremos de forma breve como a exploração sexual de crianças, adolescentes e mulheres, comercializa- das no interior dos esquemas de tráfico interna- cional de seres humanos, são desumanizadas e coisificadas, tornando-se objetos de transação no comércio global de armas e drogas. Para a realização desta etapa, sugerimos que você designe alguns dias antes, como Lição de Casa, que os alunos tragam informações sobre: f exploração sexual; f tráfico de pessoas. As informações podem ser obtidas de diver- sas formas: consultando materiais didáticos ou realizando pesquisas em livros, jornais, revistas e internet. Com base no que os alunos trouxerem para a sala de aula, coloque em debate a seguinte questão: De que forma as duas práticas estão relacionadas? Essas práticas estão relacionadas da seguinte maneira: há uma demanda em diversas regiões do mundo por mulheres, adolescentes e tam- bém crianças para serem usadas sexualmente, seja como prostitutas, seja como protagonistas de material pornográfico, alimentando, assim, redes internacionais de pedofilia. Isso propicia a existência do tráfico de pessoas. Como definir cada uma dessas práticas? A declaração aprovada durante o 1º Con- gresso Mundial contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes, ocor- rido em Estocolmo, em 1996, definiu a explora- ção sexual comercial de crianças e adolescentes como toda prática que compreende o abuso sexual por adultos e a remuneração em espécie ao menino, à menina, a terceiros ou várias outras pessoas. Nessa situação, a criança é tra- tada como um objeto sexual para o prazer de um adulto e uma mercadoria, pois a relação é consumada mediante pagamento. É uma vio- lação dos direitos fundamentais da criança e do adolescente, já que constitui uma forma de coerção e violência, geralmente acompanhada de trabalho forçado e formas contemporâneas de escravidão4. Já o tráfico de pessoas constitui o recruta- mento, transporte, transferência, alojamento ou recolhimento de pessoas pela força, ameaça ou outras formas de coerção, como fraude, engano ou abuso de autoridade5. É importante observar que o tráfico de pessoas envolve as mesmas con- 14 4 5 LEAL, Maria Lúcia; LEAL, Maria de fátima (Orgs.). Pesquisa sobre tráfico de mulheres, crianças e adolescentes para fins de exploração sexual comercial. PESTRAF: Relatório Nacional – Brasil-Brasília: CECRIA, 2002. Disponível em: <http://www.andi.org.br/sites/default/files/legislacao/Pestraf_2002.pdf>.Acesso em: 22 maio 2013. Essas disposições podem ser encontradas no Protocolo de Palermo, Artigo nº 2. Sociologia - 3a série - Volume 4 dições observadas no aliciamento para explora- ção de trabalho escravo, analisadas na Etapa 1. Nelas, o trabalhador também é submetido a condições materiais objetivas que abrangem estratégias de recrutamento, promessas de trans- porte e alojamento e condições subjetivas de rea- lização, que envolvem promessas de ganhos, ocupação, condições de trabalho melhores6. Após esclarecer a relação entre as duas prá- ticas, procure definir com os alunos o perfil das vítimas: Quem são as pessoas mais sujeitas ao aliciamento pelas redes de crime organizado que traficam seres humanos para fins de exploração sexual? Aguarde as respostas e então discuta as seguintes informações do boxe. Você pode soli- citar a um voluntário para ler o texto a seguir. Uma pesquisa coordenada nacionalmente pelo Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes (Cecria), em 2002, revelou que o perfil das pessoas aliciadas pelo tráfico de seres humanos é geralmente do sexo feminino, com idades entre 15 e 25 anos, pardas ou negras. A maioria é oriunda de classes sociais mais baixas, com pouca escolaridade, mora em bairros periféri- cos com carência de saneamento, transporte e outros serviços públicos, tem filhos e exerce atividades pouco qualificadas, como serviços domésticos (arrumadeira, empregada doméstica, cozinheira) ou no ramo de serviços (auxiliar de serviços gerais, garçonete, balconista). Mal remuneradas, sem regis- tro, muitas estabelecem uma rotina desmotivadora e desprovida de possibilidades de ascensão social, o que as torna presa fácil para os aliciadores, que prometem ganhos vultosos e rápidos no exterior. Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola. Proposta de Situação de Avaliação Com base no conteúdo das Etapas 1 e 2, sugerimos que você divida a turma em grupos de 3 a 4 alunos para a elaboração de um tra- balho educativo. O objetivo é produzir um material de campanha que visa esclarecer, orientar e alertar outras pessoas a respeito do trabalho escravo no Brasil ou o tráfico de seres humanos. Sugerimos que os alunos não se atenham somente às informações do Caderno do Aluno e aos conteúdos apreendidos em sala de aula, mas busquem também informa- ções em outras fontes, como impressos, carti- lhas, jornais, revista ou internet. O formato final do trabalho poderá ser um cartaz, fôlder ou folheto, apostila ou cartilha, conforme o grupo preferir. SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 2 REPRODUÇÃO DA VIOLÊNCIA E DA DESIGUALDADE SOCIAL Nesta Situação de Aprendizagem, analisa- remos como condições sociais diferenciadas interferem nas relações e interações entre grupos no interior de uma sociedade, con- tribuindo, assim, para explicar processos de reprodução de outros fenômenos sociais. Para isso, retomaremos o tema da Situação de Aprendizagem 1, a condição de “não cidadania” e, a partir dela, procuraremos estabelecer uma reflexão sobre como a cisão entre “cidadãos” e “não cidadãos” gera conflitos que, no limite, reproduzem a vio- lência e a desigualdade social nos grandes centros urbanos. 6 LEAL, M. L.; LEAL, M. de f. (Orgs.), op. cit., 2002. 15 Tempo previsto: 2 aulas. Conteúdos e temas: não cidadania; processo de reprodução da violência e da desigualdade social. Competências e habilidades: relacionar processos de reprodução da violência e da desigualdade social à não garantia dos direitos de cidadania; produzir reflexões críticas sobre a realidade social brasileira, a partir de uma compreensão sociológica de fenômenos sociais. Estratégias: leitura e interpretação de textos; aulas dialogadas; exercícios em sala de aula. Recursos: textos, documentário ou filme (caso a escola conte com esse recurso). Avaliação: elaboração de texto dissertativo. Sondagem e sensibilização Na Situação de Aprendizagem anterior, vimos que a condição de “não cidadania” está estreitamente ligada à desumanização e à coisificação do outro, na forma da explora- ção do trabalho escravo e do tráfico de seres humanos. Essa condição também contribui para explicar processos de reprodução de fenômenos sociais mais complexos, como a violência e a desigualdade social. Para isso, utilizaremos como referência alguns episó- dios intensamente noticiados na época de sua ocorrência. Solicite a um voluntário para ler os seguin- tes textos. Você pode realizar uma leitura com- partilhada deles. Texto 1 “A morte de sete crianças indefesas na madrugada do dia 23 de julho de 1993 chocou o país e o mundo, descortinando nossos olhares para uma dura realidade. O assassinato dos menores da Candelária ocorreu, segundo depoimento dos sobreviventes, em virtude da prisão de um homem chamado Neilton. Ele foi detido pela Polícia Militar pelo fato de carregar consigo três latas de cola durante uma passeata. Ao verem os PMs agredirem Neilton, os amigos do jovem apedrejaram um carro de polícia, quebrando-lhe os vidros. Um policial, ofendido com o ocorrido, ameaçou os meno- res, dizendo que voltaria ao local. Os garotos identificaram esse policial como tenente Sá. Um dia após o incidente, por volta da 0:30 hora, cerca de 50 menores que dormiam sob a mar- quise de um edifício na Praça Pio 10, ao lado da Igreja da Candelária, foram acordados por alguns homens que perguntavam por ‘um tal de Russo’. Ao identificarem o ‘Russo’, dispararam tiros de revólver sobre ele, matando-o. A partir daí o desespero tomou conta da cena: jovens, correndo para todos os lados, fugiam dos disparos. O saldo da ação violenta foi a morte de quatro menores, três após darem entrada no hospital Souza Aguiar. Dois foram vitimados depois de serem capturados pelos atiradores e empurrados para dentro de um carro. Receberam tiros no rosto e foram jogados nas imediações da Candelária.” PEDROSO, Regina C. Violência e cidadania no Brasil: 500 anos de exclusão. São Paulo: Ática, 2006. p. 70-71. 16 Sociologia - 3a série - Volume 4 Texto 2 “Jardim Botânico, cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, 12 de junho de 2000. Ondas ele- tromagnéticas atravessam o éter da cidade maravilhosa para levar aos lares de milhões de brasileiros pouco mais de cinco horas de imagens ao vivo de violência urbana, comum em muitas metrópoles. As imagens revelavam que um jovem, ao tentar assaltar um ônibus, teve sua ação interrompida pela polícia e pela imprensa, que cercaram o veículo. O assalto frustrado transformou-se, de um momento para outro, em sequestro. Dois anos depois, o diretor José Padilha realizou o documentário Ônibus 174, no qual retomou o acontecimento mencionado acima para tentar compreendê-lo. Nesse processo, o cineasta apresentou o principal protagonista do evento: Sandro do Nascimento – o sequestrador. A artista plástica Yvonne Bezerra de Mello, que conhecia Sandro desde os tempos em que ela desenvolvia um trabalho social com os meninos de rua da Candelária, em seu depoimento, informa que Sandro, aos seis anos de idade, presenciou o assassinato violento de sua mãe na favela do Rato Molhado. Sem ninguém para apoiá-lo – o pai desconhecido –, o menino acaba indo viver na rua, pri- meiro no Méier e depois na Zona Sul. Lá, afirma Yvonne, é mais fácil arranjar dinheiro com turistas. Com os laços familiares desfeitos, a criança termina por se juntar a uma gangue de meninos de rua. Sandro foi um dos meninos que sobreviveram ao massacre da Candelária.” RAMOS, Paulo. R. A imagem, o som e a fúria: a representação da violência no documentário brasileiro. In: Estudos Avançados, v. 21, nº 61, 2007. p. 228. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v21n61/a15v2161.pdf>. Acessoem: 22 maio 2013. Após a leitura dos textos, divida a turma em grupos de três a quatro pessoas. Estabeleça um tempo de trabalho e proponha as seguintes questões para análise e reflexão: a) Há alguma relação entre os aconteci- mentos descritos nos dois textos? Qual? Sim. O Texto 2 refere-se à tentativa de assalto de um ônibus, ocorrida em 2000, cujo autor foi um menino de rua, testemunha e sobrevivente dos acontecimentos descritos no Texto 1, quando, em 1993, sete meno- res foram assassinados a tiros pela Polícia Militar em frente à Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro. b) Enumere cada um dos episódios violen- tos mencionados nos textos e coloque-os em ordem cronológica. É possível iden- tificar relações entre esses episódios? 1. Assassinato da mãe de Sandro. 2. O menino se junta a uma gangue de meninos, primeiro no Méier, depois em Copacabana. 3. Agres- são e detenção de Neilton. 4. Apedrejamento da viatura policial. 5. Ameaça dos compa- nheiros de Neilton pela polícia. 6. Chacina da Candelária, com morte de sete menores de rua. 7. Tentativa de assalto do ônibus 174, que se transforma em sequestro. Sim, é possível identificar relações entre esses episódios. A extrema exposição à vio- lência levou o protagonista do sequestro a vivenciar, durante a maior parte de sua vida, a condição de “não cidadania” e exclusão social, em que esteve sempre em grande risco de vida. Embora não seja possível atribuir o assalto e o sequestro do ônibus exclusiva- mente ao episódio da Candelária, o compor- tamento violento de Sandro está relacionado à violência a que foi submetido durante toda a sua vida. c) Que outros fatores poderiam explicar os fatos descritos nos Textos 1 e 2? formule algumas hipóteses e discuta-as. 17 Etapa 1 – Não cidadania e processos de reprodução da violência e da desigualdade social Com base no que os alunos propuseram para explicar a relação entre a violência poli- cial, o massacre dos meninos da Candelária e o sequestro do ônibus 174, sugerimos que você realize esta etapa de forma dialogada com a turma. No início da aula, enumere as hipóteses referentes à questão c) formuladas na lousa e, em seguida, distribua os alunos em um grande círculo. Para começar a discussão, procure reconstruir as condições sociais nas quais Sandro e sua mãe viviam na favela do Rato Molhado e, posteriormente, como menino de rua com seus companheiros da Candelária. Que tipo de vida esses meninos de rua levavam? De que formas estavam expostos à violência? Essas perguntas poderão ser respondidas de diversas maneiras. Ouça as respostas dos alunos e, em seguida, enfatize a situação de vulnerabilidade social associada à condição de “não cidadania”. Pergunte à turma o que eles entendem por “vulnerabilidade social”. Em seguida, peça a um voluntário para ler a informação no boxe: Por vulnerabilidade social podemos entender o resultado negativo da relação entre a disponibi- lidade de recursos (materiais ou simbólicos) dos indivíduos e o acesso à estrutura de oportunidades sociais, econômicas, culturais que proveem do Estado, do mercado e da sociedade civil1. 1 ABRAMOVAY, Miriam et al., Juventude, violência e vulnerabilidade social na América Latina: desafios para políticas públicas. Brasília: Unesco Bid, 2002. 18 Em outras palavras, as pessoas que se encon- tram em situação de vulnerabilidade social dispõem de poucos recursos materiais (moradia adequada, renda, acesso a serviços públicos como saúde, energia, segurança) e simbólicos (informação, educação, conhecimento, rede de relações sociais) que lhes permitam partici- par social, econômica e culturalmente da socie- dade, do mercado e da proteção do Estado. No limite, quanto maior a vulnerabilidade, maio- res são as chances de exclusão social. Vejamos um exemplo: uma pessoa que não é alfabetizada não tem acesso às informações necessárias para o pleno exercício da cidada- nia; tem dificuldade ou mesmo incapacidade de resolver problemas cotidianos, como obten- ção de documentos, saber quais são os órgãos competentes para tratar cada questão ou quais são os serviços oferecidos pela rede de proteção social do seu município, incluindo as entidades não governamentais. Além disso, tem poucas chances de obter uma colocação mais bem remunerada no mercado de trabalho, conse- guir um emprego formal e gerar renda suficien- te para subsistir de forma digna. Em seguida, coloque em debate a seguin- te questão: A situação de vulnerabilidade social está necessariamente ligada à violência e à cri- minalidade? Mais uma vez, ouça as respostas dos alunos e então discuta. Estar em situação de vulnerabilidade social não faz necessaria- mente com que as pessoas se envolvam com a violência ou atos criminosos. Existe uma visão de senso comum que tende a associar vul- nerabilidade e exclusão social à deliquência. Se isso fosse verdade, os índices de criminali- dade observados na população mais pobre seriam infinitamente maiores, quando apenas uma pequena parcela dessa população efeti- vamente está envolvida em delitos. Por que isso acontece? Os fatores que atuam como geradores e reprodutores da violência são anteriores às Sociologia - 3a série - Volume 4 condições materiais e simbólicas que entende- mos por “vulnerabilidade social”. Eles só podem ser compreendidos no interior de relações sociais históricas entre grupos que ocupavam posições hierárquicas distintas, marcadas pelo conflito e pela dominação. Nesse sentido, a situação de vulnerabilidade social também significa o processo sistemáti- co de exclusão de determinadas pessoas em função da sua origem social, local de mora- dia, tipo físico, cor, postura, modo de vestir e de falar, entre outros. Na época do Império, os indivíduos que mais causavam apreensão por parte do Estado e da classe social mais favorecida eram os desempregados sem moradia (chamados de vadios), os capoeiras (que praticavam a capoei- ra ou outros rituais tradicionais africanos), os escravos e os estrangeiros. Qualquer uma des- sas pessoas que perturbasse a ordem poderia ser presa e, no caso dos escravos, ser açoitada ou ter a pena de morte decretada. Com o fim da escravidão, uma nova ideo- logia do trabalho passou a vigorar na socieda- de brasileira. Quem estava desocupado passou a ser malvisto. A ociosidade, encarada como “vagabundagem”, passou a ser considerada um “crime” e, como tal, passível de punição. A popu- lação mais pobre, especialmente os ex-escravos, que não conseguiram se integrar ao mercado de trabalho emergente após a abolição, tor- nou-se alvo preferencial do controle social do Estado. A segregação de todo um conjunto de pes- soas segundo determinadas características socioeconômicas situam-nas no interior de certos estereótipos sociais, tais como desocu- pado/vagabundo, vagabundo/perigoso, o que contribui para associar o pobre a um elemen- to perigoso para a sociedade. “Esse mundo da desordem, construído no imaginário da elite do final do século XIX, nada mais era do que o oposto do mundo do trabalho. Representava, dessa forma, o elemento fundamental para a reprodução das classes sociais. A existên- cia do crime, da vagabundagem e da ocio- sidade justificava o discurso de exclusão e perseguição policial às camadas populares pobres e despossuídas.” PEDROSO, Regina C. Violência ecidadania no Brasil: 500 anos de exclusão. São Paulo: Ática, 2006. p. 25. Porém a exclusão social do outro pode se dar antes mesmo do enquadramento legal, ou seja, antes que o delito seja cometido. As formas de exclusão podem ser mais ou menos explícitas e mais ou menos violentas, dependendo do contexto e dos atores sociais envolvidos. Temos como exemplo os casos dos moradores de rua, dos moradores de bairros periféricos ou de fave- la, concebida como “foco privilegiado de crimi- nalidade”, em que todos são suspeitos até que se prove o contrário. Embora essa associação seja feita tanto em relação aos homens como às mulheres, ela é particularmente contundente no caso do jovem do sexo masculino, morador da periferia, principalmente se for negro ou pardo7. Com base no que foi discutido até aqui, coloque para a turma a seguinte questão: Quais foram as motivações para o assassinato dos menores na Igreja da Candelária e como foi o desfecho do sequestro do ônibus 174? 7 Segundo Guimarães (Guimarães, Antonio Sérgio. Preconceito e Discriminação. São Paulo: Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo, Ed. 34, 2004), o que o faz ser confundido com um assaltante é o pressuposto, implicitamente aceito na sociedade brasileira, de que a maioria dos que agem contra a lei é negra. A cor torna-se signo de origem social, isto é, de um status atribuído ao negro que o torna suspeito, em princípio. 19 Caso os alunos não se recordem, uma das reféns foi morta e o sequestrador mor- reu sufocado pelos policiais a caminho da delegacia. Aguarde as contribuições dos alunos e apro- veite-as para a finalização desta etapa. As razões para a violência policial, embo- ra bastante complexas, podem ser entendidas no escopo mais amplo das relações sociais, quando analisadas não apenas do ponto de vista das instituições que organizam as forças de segurança pública, mas também do prisma de como os próprios cidadãos, ao interagirem com elas, exprimem suas expectativas, repre- sentações e concepções acerca do que é segu- rança, policiamento e cidadania. A violência policial pode ser compreendida a partir das concepções de segurança pública hoje vigentes e do modo como o “outro” (seja ele o crimi- noso ou apenas provável suspeito) é visto pelos cidadãos e por aqueles que detêm o “direito” ao uso legítimo da força. Solicite um voluntá- rio para ler os seguintes trechos: Do ponto de vista sociológico, a identidade social dos indivíduos nunca é dada, mas sempre (re) construída de forma mais ou menos (in)certa e duradoura na atividade com os outros. A atribuição de identidade (no caso aqui referido “criminoso” ou “suspeito”) por instituições e agentes que estão em interação direta com os indivíduos só pode ser analisada dentro dos sistemas de ação nos quais o indivíduo está implicado e resulta de relações de força entre todos os atores envolvidos, bem como da legitimidade das categorias utilizadas. Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola. “A ‘formalização’ legítima dessas categorias constitui um elemento essencial desse processo que, uma vez concluído, se impõe coletivamente, ao menos por um tempo, aos atores implicados. O pro- cesso leva a uma forma variável de rotulagem, produzindo o que Goffman denomina de identidades sociais ‘virtuais’ dos indivíduos assim definidos.” DUBAR, Claude. A socialização: construção das identidades sociais e profissionais. São Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 139. 20 Nesse sentido, pode-se dizer que a violência exercida pelas instituições de segurança pública sobre determinados segmentos da população é um desenvolvimento de processos mais amplos de identificação e atribuição de categorias e clas- sificações – que não necessariamente seguem critérios técnicos na definição da infração – a determinados grupos, anteriores ao uso legíti- mo da força na coibição da criminalidade. Para os agentes de segurança pública, os outros a serem reprimidos são definidos por meio da dinâmica das condições sociais que propiciam o aumento e a disseminação das principais formas de violência e criminalidade. Geralmente, segundo esses agentes, a violência e a criminalidade são resultado da combinação entre características sociodemográficas e da ocupação do espaço urbano. Porém os fatores geradores e reprodutores da violência e da criminalidade não constituem unicamente o resultado de determinantes socio- econômicas e espaciais características apenas do modo como as metrópoles vêm se desenvolven- do historicamente e de como as populações vieram a se distribuir em condições desiguais nas diversas localidades. Na realidade, as raí- zes da violência são muito mais complexas e derivam dos conflitos inerentes aos processos Sociologia - 3a série - Volume 4 de interação social entre membros de um mes- mo grupo, ou entre membros de grupos sociais diferentes. Do ponto de vista da análise das in- terações sociais, os mecanismos que explicam o conflito só podem ser compreendidos no inte- rior dos sistemas de ação nos quais ocorrem as negociações identitárias entre indivíduos, no- meadamente a atribuição de “identidades gené- ricas que permitem aos outros classificar alguém como membro de um grupo, de uma categoria, de uma classe”8. Tais atos de atribui- ção, entretanto, não correspondem necessaria- mente às “identidades para si” ou identidades singulares que os próprios indivíduos se atri- buem, gerando um “desacordo” entre a identi- dade social “virtual” conferida a uma pessoa e a identidade social “real” que ela mesma se atribui. Uma das resultantes mais importantes desse processo é a “rotulagem” sistemática de deter- minados grupos sociais segundo “esquemas de tipificação”9 em torno de um número limitado de características socialmente significativas que compõem uma imagem fluida do “elemento suspeito” ou “subcidadão”, principal alvo das ações e políticas de segurança pública. O que está em debate não são apenas as ações dos agentes de segurança e das institui- ções detentoras do “direito” de uso legítimo da força sobre a população, mas o pressupos- to subjacente a essa dinâmica de interações sociais: a concepção de cidadania. Há uma ampla literatura sobre o tema no Brasil que reflete acerca da coexistência de “cidadãos” e “não cidadãos” ocupando diferentes posições na sociedade e, consequen- temente, não dispondo dos mesmos direitos. Como vimos, a situação de não cidadania corresponde à não participação mínima no conjunto dos direitos instituídos e legitima- dos10. Uma das formas mais contundentes de manifestação da situação de “não cidadania” é a separação entre infratores ou “crimino- sos” ou pessoas sob “fundada suspeita” e os que são considerados cidadãos legítimos. Proposta de Situação de Avaliação Solicite aos alunos que desenvolvam um texto dissertativo com base no seguinte trecho: Todavia, a situação de “não cidadania” não é geradora de violência somente em termos do delito ou da suspeita do delito, mas contribui para a sua reprodução a partir do momento em que o acesso aos recursos básicos para a sobrevivência e o bem-estar não estão garantidos pelo Estado. As formas de vio- lência são muito mais sutis e têm suas raízes fundamentadas no modo como os diferentes grupos sociais interagem e atribuem uns aos outros categorias mutuamente excludentes de “cidadãos” e “não cidadãos”. Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola. Proposta de Situação de Recuperação Oriente os alunos para explicarem, em uma folha à parte, o que significa “não cidadania”, fundamentando,com exemplos, de que forma ela se manifesta na sociedade brasileira. Os exemplos podem ser apresentados a partir de estudos de caso, dados estatísticos, resultados de outras pesquisas e informações obtidas em livros, enciclopédias ou por meio da internet. 8 9 DUBAR, Claude. A socialização: construção das identidades sociais e profissionais. São Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 137. BERGER, Peter; LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade. Petrópolis: Vozes, 1999. 10 CORRÊA, Rosália do Socorro da Silva. Discutindo cidadania com policiais militares da Paraíba. Revista Brasileira de Segurança Pública, 2007. Ano 1, n. 2, p. 40-49. 21 SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 3 O PAPEL TRANSfORMADOR DA ESPERANÇA E DO SONHO Tempo previsto: 4 aulas. Conteúdos e temas: a elaboração da esperança e utopia; utopia e ação; a importância do sonho e da esperança na transformação da realidade. Competências e habilidades: reconhecer diferentes formas de atuação política; compreender a importância da participação política; estabelecer uma reflexão crítica acerca da importância do sonho e da esperança como transformadores da realidade social. Estratégias: aula dialogada; pesquisa. Recursos: discussão com a sala; letra de música e leitura de texto. Avaliação: texto dissertativo. 22 O papel transformador da esperança e do sonho Ao longo do volume, discutiu-se a ques- tão da não cidadania, da desumanização e da coisificação do outro. Nesta Situação de Aprendizagem o objetivo é o de estabelecer com os alunos uma reflexão sobre o papel transformador da esperança, do sonho e da importância da utopia como forma de resgate da própria condição humana perdida no pro- cesso de coisificação. Para tanto, propõe-se uma sensibilização inicial que os desper- te para a questão do sonho e da esperança, de tal forma que possam refletir sobre seus próprios sonhos, esperanças e possíveis uto- pias. Após a sensibilização, na Etapa 1, eles entrarão em contato com fragmentos da trajetória de três líderes do século XX que, valendo-se da utopia por uma sociedade mais justa, também sonharam e alimentaram a esperança, mas que procuraram, por diferentes formas de ação política, transformar a vida de pessoas que não conseguiam experimentar plenamente não só a cidadania, como tam- bém a condição humana. São eles: Nelson Mandela, Martin Luther King e Mahatma Gandhi. Infelizmente, não é possível discutir e debater de forma aprofundada as trajetó- rias desses três líderes tão importantes para o século XX. Dessa maneira, optou-se por esco- lher pontos significativos da trajetória de cada um e qual foi a utopia que marcou suas vidas. Outros homens e mulheres poderiam ter sido escolhidos para essa discussão, mas optou-se por esses três personagens que, incontestavel- mente, sonharam e tiveram a esperança trans- formada em ação política. Caso você queira explorar a trajetória de outras pessoas que, por meio de utopias, também se dedicaram a tornar realidade o sonho e a esperança, sin- ta-se à vontade para fazê-lo, seja na forma de uma aula expositiva ou dialogada, seja na de um trabalho a ser entregue pelos alunos ou de qualquer outro meio. Sondagem e sensibilização Nesta Situação de Aprendizagem, a discus- são sobre o papel da esperança e do sonho é vinculada ao papel da ação na transformação rimos que eles leiam a letra da música Apesar de você , de Chico Buarque. Você pode tambémSociologia - 3a série - Volume 4 da realidade. Para sensibilizar os alunos suge- possibilitar que eles ouçam a música: Apesar de você Chico Buarque Hoje você é quem manda Falou, tá falado Não tem discussão, não. A minha gente hoje anda Falando de lado e olhando pro chão, viu Você que inventou esse Estado Inventou de inventar Toda escuridão Você que inventou o pecado Esqueceu-se de inventar O perdão Apesar de você Amanhã há de ser Outro dia. Eu pergunto a você Onde vai se esconder Da enorme euforia Como vai proibir Quando o galo insistir Em cantar Água nova brotando E a gente se amando Sem parar. Quando chegar o momento Esse meu sofrimento Vou cobrar com juros, juro Todo esse amor reprimido Esse grito contido Esse samba no escuro Você que inventou a tristeza Ora, tenha a fineza Apesar de você Amanhã há de ser Outro dia Ainda pago pra ver O jardim florescer Qual você não queria. Você vai se amargar Vendo o dia raiar Sem lhe pedir licença E eu vou morrer de rir Que esse dia há de vir Antes do que você pensa. Apesar de você Apesar de você Amanhã há de ser Outro dia Você vai ter que ver A manhã renascer E esbanjar poesia. Como vai se explicar Vendo o céu clarear De repente, impunemente Como vai abafar Nosso coro a cantar Na sua frente Apesar de você Amanhã há de ser Outro dia Você vai se dar mal Etc. e tal. De desinventar Você vai pagar, e é dobrado Cada lágrima rolada Nesse meu penar 1970 © Marola Edições Musicais. 23 A sensibilização desta Situação de Apren- dizagem envolve a leitura e/ou audição da música, análise dela, pesquisa e uma redação. Você pode iniciar a análise da letra da músi- ca de Chico Buarque Apesar de você por meio das seguintes questões: Alguém conhece esta música? Alguém já a ouviu? E quem conhece... sabe que ela é uma música de Chico Buarque? Em seguida, pode perguntar aos alunos sobre o que eles acham que a música fala. Quem vocês acham que é o “você” da música, nas fra- ses de “Apesar de você”? Segundo a música, em que condições as pessoas se encontram? Trata-se de uma situação feliz e que permite a realização delas? Que palavras o compositor usa para marcar o desânimo, o medo, a incerteza, a perda das pers- pectivas e de liberdade? Divida a lousa no meio e anote de um lado as respostas dos alunos e com- plete, se necessário: escuro, sofrimento, amor reprimido, pessoas olhando para o chão, proibir, pecado, tristeza, lágrima, penar. Em seguida, peça aos alunos que apontem como Chico Buarque constrói a imagem de outra situação, que palavras ele usa para contrapor à situação daquele presente tenso e desprovido de esperan- ça. Espere a manifestação e anote as respostas usando o outro lado da lousa, completando: perdão, euforia, canto, águas brotando, gente se amando, florescer, risos, renascer, poesia, clari- dade. São palavras que negam as outras, usadas para reforçar a ideia da contradição que per- mite o surgimento de outra sociedade, de outro momento de liberdade e afirmação das pessoas. Explique para a classe a época em que essa músi- ca foi feita e o que pretendia transmitir: ela fala da esperança e foi escrita por Chico Buarque no período do regime militar para criticar a situa- ção de nosso país e dizer que toda aquela opres- são um dia, com certeza, terminaria. Expressa a esperança de que tudo seria superado e que é possível sonhar, pensar em um futuro em que tudo seria diferente. Não se esqueça de lembrá-los de que naquele período as pessoas não podiam estabelecer uma crítica livre da situação vigente e que era necessário o uso de metáforas. Chico Buarque – e outros compositores, como Geraldo Vandré, que se posicionaram criticamente durante o período militar – escreveu várias outras letras de protesto e esperança. Entre as músicas da época que estabeleceram uma crítica ao regime podemos citar, entre outras: Samba de Orly, Roda viva, Cálice, Pra não dizer que não falei de flores e O bêbado e a equilibrista. 24 Etapa 1 – Esperança e utopia Inicieesta etapa perguntando aos alunos: Por que vocês acham que a esperança e o sonho são importantes para a mudança? Espere a manifestação deles e mostre-lhes como a esperança e o sonho são necessários para que a resignação não tome conta das pessoas. Eles servem como estímulos à ação, sedimentam-se na ação das pessoas, não signi- ficando, portanto, uma espera passiva. Logo, a esperança é a base da superação da realidade. Em uma sociedade marcada por injustiças e desigualdades, na qual as pessoas estão envol- vidas em tensa complexidade social, constran- gidas pelos poderes do Estado e das instituições, a esperança expressa o inconformismo, a in- submissão. Ela sinaliza para os indivíduos um campo de possibilidades, no qual as criativida- des social e política dão o sentido de uma ação inovadora e insurgente para todos aqueles que carecem de liberdade, de imaginação e de esperança. A esperança nos ajuda a escapar do conformismo do silêncio e da conivência, a elaborar a resistência contra a exploração e Sociologia - 3a série - Volume 4 a injustiça que produzem a desumanização e a coisificação das pessoas. O texto a seguir estabelece uma reflexão poéti- ca dessa questão. Peça para que um aluno o leia: “O hoje e seu ser permanecem latentes nos desafios do possível e nas novas opressões derivadas da estatização da esperança e da institucionalização das carências sociais e políticas. É na insubor- nável e teimosa rebeldia dessa latência que o hoje pode ter sentido como amanhã, como esperança e não como espera, como sociedade e mundo tecidos a cada hora do dia, sem medo nem conformismo. O possível compreendido nas iniquidades sociais do impossível e repetitivo, o sonho invadindo a vigí- lia, o novo nascendo como rosa no meio dos espinhos, sem o que a rosa não teria cor nem sentido.” Texto de José de Souza Martins. Pergunte aos alunos o que eles entenderam do texto e aproveite para esclarecer o sentido de alguns termos que não tenham compreendido, como, por exemplo, a palavra latente. Se o hoje permanece latente, significa que ele permane- ce não manifesto, ou seja, como que oculto ou encoberto, mas já contendo em si as possibili- dades de superação da opressão e das carências sociais e políticas, como desafios e rebeldias que se constituem como prenúncio do futuro. Ou o esclarecimento do que se pode entender por possível. O possível, no texto, refere-se ao que é historicamente possível. O presente, o hoje, já contém em si aquilo que pode ser; já contém as possibilidades do futuro, do amanhã. Dado o cenário de contradições, o possível indica o que a sociedade pode ser, mas não é. A socie- dade não realiza o que poderia ser porque há fatores de bloqueio dessa possibilidade, isto é, a repetição, ou seja, a reprodução das condições sociais se sobrepõe à inovação. É importan- te que eles apreendam que, mesmo nas con- dições mais difíceis, marcadas por todo tipo de carências, é preciso rebelar-se contra o con- formismo e a apatia, construindo sonhos e esperanças que, ao reconhecerem as limitações do presente, trazem consigo a possibilidade de criar um futuro negador desse presente. É nesse sentido que a esperança permite a elaboração de utopias. Pergunte aos alunos se eles sabem o que sig- nifica a palavra utopia. Você pode escrevê-la bem grande na lousa e estimular para que o maior número de alunos expresse o seu entendimento. Explique, então, que, segundo o Novo Dicio- nário Aurélio da língua portuguesa (Curitiba: Positivo, 2004, p. 2028), a palavra utopia é uma palavra do latim moderno, mas tem origem grega: u = não + tópos = lugar. No sentido estrito designa um não lugar, ou seja, algo que não existe. De maneira geral, é usada para explicar um lugar que não existe ou uma ideia que não pode ser realizada, algo que se ligaria mais à fantasia, e não à realidade. Neste Caderno não é esse o sentido do uso do termo utopia que é proposto. Aqui a utilização do termo baseia-se na obra Ideologia e utopia, do sociólogo Karl Mannheim. Karl Mannheim nasceu em Budapeste, na Hungria, em 1893 e faleceu em Londres em 1947. Iniciou sua carreira como pensador político e em 1926 começou seu trabalho como sociólogo, como professor na Universidade de Heidelberg e, mais tarde, na de Frankfurt, ambas na Alemanha. Fugindo ao nazismo, do qual foi um dos maiores críticos, transferiu-se para a Inglaterra em 1933, onde foi professor na London School of Economics. Entre seus livros temos ainda O homem e a sociedade e Diagnóstico de nosso tempo. foi um sociólogo que procurou, entre outras questões, abordar em seus textos uma reflexão sobre a razão, observando-a de um ponto de vista crítico. 25 Peça que um aluno leia o trecho a seguir: Para Mannheim, utopia consiste em um sistema de pensamento elaborado em determinado contexto histórico e social, mas que se põe em desacordo com ele. Ou seja, em uma determinada época, em grupos com consciência de suas carências e necessidades, surgem ideias e valores que transcendem os limites da realidade. É no presente tenso e contraditório, portanto, que surge a uto- pia que consegue romper a ordem existente e conduzir a outra ordem. Nesse sentido, a utopia orienta a conduta dos indivíduos em direção a objetivos que visam a transformar a realidade histórica. Elaborado especialmente para o São Paulo faz Escola. 26 Você pode iniciar uma discussão com os alunos com o objetivo de apontar as princi- pais contribuições do texto para esta aula. É preciso mostrar inicialmente que, de manei- ra geral, a palavra utopia muitas vezes é vista de forma negativa, pois é associada como uma busca inútil por algo que nunca existiu e nem existirá, de algo “afastado da realidade”. Mas em Mannheim encontramos o uso positivo do termo, ou seja, a utopia como algo que pode ser realizado. Para esse autor, a utopia não é o mero fantasiar, ou o sonho de um ideal que não pode ser concretizado. Ele resgata a ideia de que a utopia pode, sim, ser realizada, des- de que os indivíduos ajam de forma a abalar a ordem existente. Ou seja, o estado de espíri- to utópico que transcenda a realidade deve ter a tendência de se materializar em uma ação transformadora. Nesse sentido, a utopia não é mero sonhar ou fantasiar outra situação, mas está ligada a uma ação para mudar a situação atual. A precondição para que ela exista é a construção de sonhos, é alimentar a esperan- ça, acreditar na utopia e evitar a resignação ou o conformismo. Pergunte aos alunos o que eles entendem por resignação. Deixe-os se manifestar e apro- veite as intervenções mais interessantes para questioná-los sobre o significado de resigna- ção. É provável que alguns não conheçam a palavra e que seja necessário escrevê-la na lou- sa ao lado de utopia. A utopia tal como é aqui proposta é o opos- to da resignação. Resignar-se é aceitar a realida- de tal como ela é, é conformar-se e submeter-se a ela e, dessa forma, colaborar para que as coi- sas continuem a ser como são, que a sociedade não se transforme e que a exploração e as ini- quidades se reproduzam. Mas o que esta discus- são a respeito da esperança e da utopia pretende é acentuar a importância da não resignação, da existência da esperança e do sonho e da impor- tância de buscar concretizar as utopias. E qual é a importância da construção de utopias? A utopia parte de uma crítica do presente. Não é, portanto, algo puramente fantasioso ou fruto da imaginação, pois a sua constituição decorre de reflexões sobre
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