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Aula 03 Sistema Tributário Nacional

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3- SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL
Conceito de Tributo (Art. 3º do CTN): tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.
Característica dos Tributos: com base no conceito legal, os tributos possuem as seguintes características:
Prestação pecuniária em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir: não há como admitir, em princípio, o pagamento de tributos em bens distintos de pecúnia. Para cumprir a obrigação tributária, o contribuinte deve efetuar o pagamento do tributo em dinheiro.
Entretanto, o CTN admite, como ressalva (Art. 156, XI), a dação em pagamento para bens imóveis, exclusivamente;
Prestação Compulsória: quando houver a ocorrência do fato gerador, aquele que o praticou será obrigado, independentemente de sua vontade, a pagar o tributo. Assim, temos que o tributo não é uma prestação contratual, voluntária ou facultativa;
Instituído em Lei: a criação ou instituição de um tributo depende de ser veiculada por lei. A EC nº 32/2001 derrogou parcialmente a Constituição (Art. 62, §§ 1º, III, e 2º, da CF), autorizando a instituição e a majoração dos impostos por Medida Provisória (salvo quanto aos instituídos por Lei Complementar);
Não constitui sanção por ato ilícito: o que se aplica quando há a ocorrência de ato ilícito é a pena, penalidade ou multa. A cobrança de tributo nunca é uma punição. Assim, temos que tributo não é multa e que multa não é tributo;
Cobrado mediante atividade administrativa plenamente vinculada: para constituir um crédito tributário e declarar a obrigação ao contribuinte, o Fisco necessita efetuar o lançamento, que é ato administrativo vinculado, consistente em ato documental de cobrança, por meio do qual é possível quantificar e qualificar a obrigação tributária (Art. 142 do CTN);
COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA
Conceito: competência tributária é o poder que a Constituição Federal atribui aos entes públicos para legislar a respeito de determinado tributo. É a divisão do poder de instituir e cobrar tributos entre os Fiscos. No sistema tributário, quem tem competência institui e legisla sobre determinado tributo (abstratamente define a hipótese de incidência). É a repartição do poder de tributar, constitucionalmente atribuído aos diversos entes públicos, de modo que cada um tenha o poder de instituir e arrecadar os tributos de sua exclusiva responsabilidade.
Envolve o poder de fiscalizar e cobrar tributos, bem como legislar a seu respeito.
É a aptidão para criar “in abstrato” o tributo, descrevendo legislativamente todos os elementos (sujeito passivo, fato gerador, base de cálculo, alíquota e multas).
- Características: a competência tributária possui 05 características:
Inalterabilidade: a competência tributária é estabelecida pela Constituição Federal, de modo que os entes tributantes não podem ampliar suas competências tributárias. Somente Emenda Constitucional pode alterar a Constituição e, conseqüentemente, as competências tributárias;
Facultatividade: o ente federativo pode exercitar ou não sua competência tributária, podendo ou não instituir o tributo. Todavia, uma vez instituído o tributo, o Fisco tem o dever de cobrá-lo, sob pena de aplicação da Lei de Responsabilidade Fiscal. Exemplo é o IGF (Imposto sobre Grandes Fortunas) em relação ao qual a União ainda não exercitou sua competência para instituir;
Indelegabilidade: não é possível ao ente político que recebeu a competência tributária delegá-la a outro ente ou a outra entidade. Entretanto, é possível a delegação da capacidade tributária ativa (Art. 7º do CTN).
- Diferença entre Competência Tributária e Capacidade Tributária Ativa: quem tem competência tributária pode instituir e legislar sobre determinado tributo. Já a capacidade tributária ativa nada mais é do que a capacidade de arrecadar, fiscalizar e administrar determinado tributo, não se confundindo, portanto, com a competência tributária, que se esgota com a instituição do tributo. A competência tributária é política e indelegável, não se confundindo com a capacidade tributária ativa, que é administrativa e delegável;
Irrenunciabilidade: em razão de a competência ser proveniente de regra constitucional, mesmo que o ente político não a queira ou dela não se valha, essa atitude não lhe entrega o poder de renunciar às regras de competência;
Incaducabilidade: essa característica garante ao ente político valer-se desse poder de tributar quando desejar, sem que tenha de se preocupar com seu “prazo de validade”. Não há prazo para o exercício da competência tributária. Nos termos do Art. 8º do CTN, o não exercício da competência tributária não a defere a pessoa jurídica de direito público diversa daquela a quem a Constituição Federal tenha atribuído tal competência;
- Espécies: são 05 as espécies de competência tributária:
Privativa: pode se falar que competência privativa é o poder legiferante das entidades tributantes, quanto à criação de tributos que lhes são exclusivamente peculiares. É, basicamente, o poder que têm os Fiscos para instituir impostos, que são exaustivamente enumerados na Constituição Federal. É privativa, no sentido de que a própria Constituição já determina o rol de impostos relativos a cada ente tributante. A competência para a instituição dos impostos é taxativa e, dessa forma, cada ente tributante tem os seus:
a.1) União (Art. 153 da CF): II, IE, IPI, IOF, IR, ITR e IGF;
a.2) Estados e DF (Art. 155 da CF): ICMS, IPVA e ITCMD;
a.3) Municípios (Art. 156 da CF): IPTU, ISS e ITBI;
Privativa quer dizer que, sobre determinada matéria específica, a competência só pode ser exercida por uma só pessoa.
OBS. 01: todos podem legislar sobre impostos, mas apenas sobre os impostos de sua competência. Exemplo: sobre o IR somente a União tem competência.
OBS. 02: alguns preferem chamar a competência privativa de competência exclusiva.
OBS. 03: alguns autores sustentam a existência de privatividade também nos seguintes casos: 
(i) para a União, quanto aos Empréstimos Compulsórios (Art. 148 da CF) e Contribuições Especiais (Art. 149 da CF); 
(ii) para os Estados, DF e Municípios, quanto às contribuições previdenciárias cobradas de seus próprios servidores (Art. 149, §1º, da CF); e 
(iii) para os Municípios e DF, quanto à CIP (ou COSIP – Contribuição de Iluminação Pública) – Art. 149-A da CF;
Comum: é o poder que têm os Fiscos para instituir Taxas e Contribuições de Melhoria, no âmbito de suas respectivas atribuições. Todos podem legislar sobre a mesma matéria, mas dentro de seus campos de atuação, ou seja, dos limites de competência tributária.
A competência comum é atribuída a cada ente político para impor os mesmos tributos (mas cada um no seu campo de atuação).
A competência para instituição de taxa e de contribuição de melhoria é comum, ou seja, da pessoa política competente para a realização da atividade que caracterize o fato gerador do tributo;
Cumulativa (Art. 147 da CF): competência cumulativa é o poder que tem a União de instituir, nos territórios federais, os impostos estaduais e, caso o território não seja dividido em municípios, a União ainda instituirá os impostos municipais.
O Distrito Federal tem competência cumulativa. Nos termos do Art. 32 da CF, o Distrito Federal não pode ser dividido em municípios. Nos termos do Art. 147 c.c 155 da CF, o Distrito Federal tem competência para instituir impostos municipais e estaduais;
Residual (Arts. 154, I, e 195, §4º, da CF): é o poder que tem a União de instituir impostos, diferentes de todos aqueles discriminados na CF, com fato gerador novo e nova base de cálculo, devendo tais exações ser criadas por Lei Complementar, respeitando-se o Princípio da Não-Cumulatividade. Refere-se também às contribuições previdenciárias (sociais) residuais.
- Não-cumulatividade: é princípio que evita o efeito cascata, ou seja,a incidência de imposto sobre imposto. Abate-se do débito gerado na saída o crédito correspondente do imposto cobrado na entrada. Admite-se, em cada nova operação, a compensação do valor já cobrado anteriormente pelo mesmo imposto;
Extraordinária (Art. 154, II, da CF e Art. 76 do CTN): é o poder que tem a União de instituir tributos independentemente de terem ou não fatos geradores idênticos aos já previstos pela CF, sejam pertencentes ao rol da própria União, Estados DF ou municípios.
Somente a União pode instituir outro imposto (IEG – Imposto Extraordinário de Guerra) em caso de guerra externa ou sua iminência, não devendo respeito ao princípio da anterioridade. Pode ser ele instituído por Lei Ordinária e há ampla liberdade de escolha do fato gerador.
OBS.: o IEG pode ser criado na situação de beligerância, tendo como participante o Brasil, com o objetivo de gerar receitas extras à manutenção das nossas forças armadas. O contexto é restritivo: guerra externa, iminente ou eclodida, e não uma mera “guerra civil”. A guerra é apenas o motivo deflagrador da cobrança, e não seu fato gerador, de forma que a União terá liberdade na escolha do fato gerador dentre aqueles que já existem ou não no sistema tributário;
Conflito de Competência: há conflito quando um ente político desrespeita a esfera de competência de outro; geralmente, quando entes políticos distintos (por exemplo: União e Estado-membro) exigem de um mesmo contribuinte tributos idênticos.
Bitributação: ocorre quando mais de um ente tributante cobra um ou mais tributos sobre o mesmo fato gerador. Não é possível no direito brasileiro, em razão da inexistência de solidariedade ativa no direito tributário (dois devedores na mesma relação jurídica é possível; mas não dois credores). A medida adequada para afastar a bitributação é a ação de consignação em pagamento. O IEG é o único caso de bitributação constitucionalmente admitida no sistema tributário.
Bis In Idem: ocorre quando o ente tributante cobra repetidamente a mesma coisa, sobre o mesmo fato. O mesmo ente político tributa mais de uma vez o mesmo contribuinte, em razão da mesma causa. Há mais de uma lei do mesmo ente político com previsão de incidência sobre o mesmo fato. 
O Bis In Idem configura-se pelos seguintes elementos: 
(a) única entidade tributante (apenas um Fisco); 
(b) identidade da causa jurídica; 
(c) identidade do contribuinte;
(d) duas normas jurídicas.
O lesado pode se valer de qualquer procedimento tributário para combater o Bis In Idem, não havendo uma ação específica, como acontece na bitributação.
FUNÇÃO DOS TRIBUTOS
Função Fiscal: para os tributos que têm como objetivo gerar recursos para o Estado. Seu objetivo é meramente arrecadatório.
Função Extrafiscal: quando o tributo possui função regulatória do mercado. Por meio do tributo o Estado intervém no domínio econômico.
Função Parafiscal: quando se arrecadam recursos para autarquias, fundações públicas, empresas estatais e até mesmo para pessoas de direito privado que desenvolvem atividades relevantes, mas que não são próprias do Estado (sistema “S” – SENAC, SESI, SEBRAE, SENAT, SEST, dentre outros). A entidade a quem se delegou o poder de arrecadar o tributo pode receber da lei autorização para ficar com o valor arrecadado e aplicá-lo em suas próprias finalidades (esse fato se denomina “parafiscalidade”).
CLASSIFICAÇÃO DOS TRIBUTOS
- Vinculados e Não Vinculados:
Vinculados: são aqueles cujo fato gerador é alguma atividade específica do Estado relativa ao contribuinte. Pago o tributo, há uma “contrapartida”, uma contraprestação. O produto da arrecadação é utilizado em benefício do próprio contribuinte (ex.: taxas);
Não Vinculados: são aqueles cujo fato gerador não se relaciona a nenhuma atividade específica do Estado direcionada ao contribuinte. Não há uma “contrapartida” pelo pagamento do tributo. O produto da arrecadação será utilizado em benefício da coletividade (ex.: impostos);
- Fiscais e Extrafiscais:
Fiscais: são aqueles que têm por finalidade preponderante a arrecadação, ou seja, o ingresso de recursos nos cofres públicos;
Extrafiscais: são aqueles que têm por finalidade principal outra que não seja a arrecadatória (ex.: finalidade precípua de proteger a indústria nacional frente a produtos estrangeiros);
- Diretos e Indiretos:
Diretos: são aqueles em que o contribuinte eleito pela lei tributária como obrigado ao seu pagamento não repassa diretamente o ônus do tributo para outrem. Quem arca com o encargo do tributo é o mesmo que pratica do fato gerador – quem pratica o fato gerador, paga o tributo (ex.: IR);
Indiretos: são aqueles em que o contribuinte eleito pela lei repassa diretamente o ônus tributário para um terceiro. Quem arca com o encargo do tributo é terceiro, mediante repasse (ex.: ICMS, em que a circulação dos bens é feita pelo varejista/vendedor, mas, por este embutir o valor do tributo no produto circulado, quem arca com o ônus do tributo é o consumidor);
- Reais e Pessoais:
Reais: são aqueles em que a lei tributária valoriza, objetivamente, a coisa, a operação, ou o bem que sofre a incidência tributária, desconsiderando as características pessoais do contribuinte. É o tributo que incide sobre o bem (ex.: IPTU, IPVA, ITR);
Pessoais: são aqueles em que a lei valoriza as características individuais de contribuinte. É o tributo que incide sobre a pessoa (ex.: IR);
- De Arrecadação Vinculada e de Arrecadação Não Vinculada:
De Arrecadação Vinculada: são aqueles cujo produto de arrecadação possui destinação específica, estando vinculado a determinada despesa;
De Arrecadação Não Vinculada: são aqueles em que não existe determinação prévia de vinculação do produto de sua receita a uma despesa específica;
ESPÉCIES DE TRIBUTOS
- Teorias: há algumas teorias acerca das espécies tributárias:
Teoria Tripartida: o Art. 5º do CTN e o Art. 145 da CF determinam que existam apenas três espécies tributárias: (a) impostos; (b) taxas; e (c) contribuições de melhoria.
A divisão dos tributos em três espécies denomina-se divisão tripartida ou tripé tributário.
Paulo de Barros Carvalho e Roque Antonio Carrazza filiam-se a esta divisão;
Teoria Quadripartida: há, no entanto, alguns autores que dividem os tributos em quatro espécies: (a) impostos; (b) taxas; (c) contribuições de melhoria; e (d) empréstimos compulsórios.
Os empréstimos compulsórios têm um traço que os distingue dos demais: a possibilidade de restituição.
Essa divisão denomina-se quadripartida, e tem como adeptos Fábio Fanucchi e o Ministro Carlos Veloso (RE 138.284-8);
Teoria Pentapartida: atualmente, prevalece o entendimento adotado pelo STF de que os tributos comportam cinco espécies: (a) impostos; (b) taxas; (c) contribuições de melhoria; (d) empréstimos compulsórios; e (e) contribuições especiais.
Essa teoria passou a ser conhecida como divisão pentapartida ou quinquipartida.
Os adeptos dessa teoria são Celso Ribeiro Bastos, Hugo de Brito Machado, Ives Gandra da Silva Martins e o Ministro Moreira Alves (RE 146.733-9);
Teoria Hexapartida: há, ainda, quem já começou a disseminar uma nova divisão, denominada hexapartida, incluindo a Contribuição de Iluminação Pública como uma sexta espécie tributária;

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