Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Consumismo Infantil: a criança no universo da mídia Eliete Hul (UNICENTRO) elietehul2007@yahoo.com.br Dr. Mario de Souza Martins (UNICENTRO) mariosm51@ig.com.br Resumo: Constata-se o desenvolvimento da temática do consumismo infantil na sociedade atual: a propaganda dirigida à criança faz com que ela se torne influente no ato da compra. Por meio desta premissa, realizou-se a presente pesquisa, tendo como objetivo analisar a influência da mídia, usando processos ideológicos, que transforma as crianças em consumistas. Para fundamentação teórica do estudo, utilizamos como principais autores: Linn (2006), Chauí (2006), Sarmento ([20__]), Ariès (1981), Souza; Fortaleza; Maciel (2009) e Karsaklian (2004). Historicamente a criança era vista como um ser anônimo, foi somente a partir do capitalismo que ela se transforma em um ser com direitos que devem ser respeitados. Daí a criança se torna um possível cliente, em quem se investe, visando o lucro. A publicidade dirigida ao público infantil seduzem-na usando instrumentos ideológicos como estratégias de marketing. A partir disto, a publicidade lança diariamente no mercado produtos inéditos, mostrando a excelência do mesmo para a sua aquisição, demonstrando que aquele produto tornará sua vida mais saudável e feliz. A influência das propagandas fazem com que a vida familiar seja abalada, na medida em que nem sempre os pais possuem renda suficiente para satisfazer todos os desejos de seus filhos. Em realidade, os consumidores não compram um produto, mas a fantasia que permeia o produto, principalmente para o público infantil. Palavras chave: Criança, Consumismo, Mídia, Ideologia. Children Consumerism: children in the media universe Abstract It is noticed a development of the theme of children consumerism in today's society: advertising directed to children makes the child to become influential in the act of purchasing. By this premise, the present research was made, having as an objective to analyze the influence of the media, using ideological processes, which transforms children in consumerists. For theoretical basis, we used as main authors: Linn (2006), Chauí (2006), Sarmento ([20__]), Ariès (1981), Souza; Fortaleza; Maciel (2009) and Karsaklian (2004). Historically, children were seen as anonymous beings, it was only from the capitalism on that they turn into beings with rights who must be respected. Hence, children become a potential customer, in whom it is invested in order to profit. Advertising directed at children seduce them using ideological instruments as marketing strategies. From this, advertising launches new products on the market on a daily basis, showing their excellence for their acquisition, demonstrating that that product will make their lives healthier and happier. The influence of advertisements makes family life unsettled, to the extent that parents not always have enough income to meet all their children´s wishes. In fact, consumers don't buy a product, but the fantasy that surrounds the product, especially for children. Key-words: Children, Consumerism, Media, Ideology. 1 Introdução A criança como consumidora está tornando-se uma das temáticas mais discutidas e estudadas por pesquisadores na atualidade. A publicidade direcionada ao público infantil, está fazendo com que a criança transforme-se a cada dia em uma grande consumidora. Por meio desta temática, a presente pesquisa emergiu, com o objetivo de analisar a influência mediática no contexto infantil, desvelando como a publicidade e as estratégias de marketing direcionadas ao público infantil conduzem a criança ao consumismo por meio de instrumentos ideológicos. Desde a descoberta da criança como cidadã consumista pelo capitalismo, a publicidade que antes voltava-se ao público adulto, hoje assumiu um novo redirecionamento, investindo no público infantil. Deste modo, ao mesmo tempo em que se investe no público infantil, investe-se também no público adulto, devido a criança ser grande influente em decisões na hora da compra. A publicidade através das propagandas faz com que os produtos ganhem nome, existência e identidade, representando-os como fantasia e não o produto propriamente dito. Desta maneira, publicitários estão cada vez mais investindo milhões em propagandas com alvo no público infantil, fazendo com que a criança seja induzida a comprar o produto que a partir da propaganda passa a desejar. A partir disto, a criança seduzida ativará o processo de petição até o momento em que seus pais possam sanar seu desejo, comprando o produto escolhido. Como consequência, a criança descobre que suas amolações são positivas solucionando seus problemas quanto à aquisição do produto desejado, tornando-se uma consumista mirim e as estratégias de marketing a manipulará mais facilmente. Através da elaboração dos conceitos da pesquisa, nossa intenção foi identificar a partir da literatura existente sobre o tema, como pratica-se o processo de sedução elaborado por publicitários, isto é, as estratégias de marketing utilizadas como ferramentas pela publicidade e que conduz a criança antecipadamente ao universo consumista. Por meio desta complexa realidade social, buscamos compatibilizar diversas hipóteses na tentativa de compreender e revelar as maneiras pela qual o consumo direcionado ao público infantil é induzido por processos ideológicos. 2 Criança, infância e consumo A criança existiu em todos os períodos históricos da humanidade, mas a compreensão do que se entende por criança, ou seja, o conceito de infância foi construído historicamente. A criança percorreu a história recebendo distintos tratamentos devido as suas diferentes relações na sociedade. Dessa forma, a criança e a infância não podem ser desvinculadas da história, pois todos os fatores históricos contribuíram para sua condição atual. Durante a Idade Média o índice de mortalidade infantil era alta, muitas crianças após o nascimento eram afastadas das famílias, para serem criadas por amas de leite em famílias nobre ou então afastavam-se da família muito jovens iniciando o trabalho ainda muito cedo. Segundo Ariès (1981), nesta época as crianças eram vistas pela sociedade como adultos em miniatura. Não havia consciência de que as crianças eram seres diferentes dos adultos e que necessitavam de atenção e cuidados. As crianças ainda muito jovens eram inseridas em meio aos adultos a partir do momento em que eram apartados de suas amas, como o autor assim afirma: Na Idade Média, no início dos tempos modernos, e por muito tempo ainda nas classes populares, as crianças misturavam-se com os adultos assim que eram considerados capazes de dispensar a ajuda das mães ou das amas, poucos anos depois de um desmame tardio – ou seja, aproximadamente, aos sete anos de idade. A partir desse momento, ingressavam imediatamente na grande comunidade dos homens, participando com seus amigos jovens ou velhos dos trabalhos e dos jogos de todos os dias. O movimento da vida coletiva arrastava numa mesma torrente as idades e as condições sociais [...] (ARIÈS, 1981, p.275). Na mesma época, para educação de cidadãos corretos, e costume de uma boa pedagogia, os professores costumavam levar as crianças para a exibição de execuções de criminosos, a fim de compreenderem como deveriam comportar-se na sociedade. (KARSAKLIAN, 2004). Ao discutir a concepção de infância, Ariès (1981) afirma que a sociedade da Idade Média desconhecia a expressão “infância”. A amabilidade era ausente, bem como o retrato de seres pequeninos e frágeis, neste sentido o autor descreve: [...] o sentimento da infância não existia - o que não quer dizer que as crianças fossem negligenciadas, abandonadas ou desprezadas. O sentimento da infâncianão significava o mesmo que afeição pelas crianças: corresponde à consciência da particularidade infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem. (ARIÈS, 1981, p. 156). Segundo Karsaklian (2004) a afetividade torna-se próxima entre pais e filhos durante os séculos XV e XVI e a criança passa a ser reconhecida como um ser distinto do adulto. Esta distinção tornou-se ainda mais difundida no século XVII, quando a expressão infância assumiu modernamente seu sentido, se referindo mais frequente a pequena criança. Nesta mesma linha teórica, a autora comenta que a propagação das escolas visava à transformação dos pais sobre os filhos que passavam a conviver com os pequenos até então tidos como enfeites, desta maneira, a organização da família passa a ter como eixo central os filhos. A partir do século XIX a criança sai do anonimato e concentra a atenção dos adultos. Descobre-se a teoria de que a criança necessita de amor, carinho, afeto e também precisa brincar, socializando-se com crianças de diferentes idades para o seu desenvolvimento cognitivo e psicossocial. Sarmento ([20__]) acrescenta que no final do século XX ocorreu uma ampla radicalização com a criação da escola, a importância do núcleo familiar no cuidado com os filhos, a geração de disciplinas e saberes periciais e a acessão da administração simbólica da infância, potencializando criticamente todos os seus efeitos. Neste sentido, expandiram-se e universalizaram-se as escolas, as famílias se reorganizaram, os conhecimentos disciplinares sobre a criança adquiriram autonomia e se desenvolveram e a aquisição de novos instrumentos reguladores para a administração simbólica com a Convenção dos Direitos da Criança. Com a descoberta da infância, a criança evolui com o decorrer do tempo, de um ser anônimo para um ser com direitos na sociedade. A criança passou a ter direitos pela Convenção dos Direitos da Criança. Neste documento toda a criança, em função da faixa etária, é capaz de expor opiniões, sendo-lhe assegurado o direito de opinar livremente e o direito de ser ouvida em assuntos que lhe diga o respeito e de forma séria. (SOARES; SARMENTO; TOMÁS, 2004). A criança é moldada por fatores culturais, que também se estruturam no avanço da tecnologia e do consumismo. Segundo Pinto (2007) apud Pereira (2002) a infância moderna molda-se no próprio surgimento do capitalismo, onde ser criança ainda transcreve-se na dependência do adulto, pela aprendizagem no processo de alfabetização sendo este, entre outros fatores, o que diferencia o estágio infantil do adulto. Neste contexto estão inseridas a escola e a família, que zelam o compromisso com a educação destas crianças. É neste instante que as crianças estão sendo preparadas para o capitalismo da produção, através de noções como divisão de trabalho e relações de poder. Sarmento ([20__]) discute e critica a participação da criança na economia de produção. O autor apresenta duas situações de trabalho infantil: as crianças que trabalham em indústria manufatureira em países periféricos e semiperiféricos em piores formas de trabalho; e outra situação, são as crianças que entraram no trabalho de marketing e são utilizadas para promoção de produtos da publicidade, e ainda inseridas para o consumo como segmento importante para o mercado que produz para as crianças. Souza Jr., Fortaleza e Maciel (2009) expõem que o mercado não observava a criança como representação de valor econômico, mas passou a percebê-la consumidora como influenciadora do adulto no ato da compra, e atualmente, a criança é compreendida como consumidora e cliente. A nova estrutura familiar, ou seja, o novo modelo familiar é o principal fator que destaca o fenômeno do consumismo infantil, propiciando o antecipamento da criança na cultura do consumo, sendo que, é o próprio núcleo familiar que deposita estas condições nas práticas da vida cotidiana. O novo modelo familiar é caracterizado pelos autores como “[...] ociosidade da criança em demasia – quando não, o tempo é consumido com serviços de esportes e lazer - a criação terceirizada dos filhos, redução da prole e consequente aumento da renda familiar.” (SOUZA JR.; FORTALEZA; MACIEL, 2009, p. 27). Karsaklian (2004) comenta que inicialmente as possibilidades de consumo das crianças são muito limitadas. Este fato manifesta-se devido a suas aptidões cognitivas restritas, bem como, pela razão universal no qual os eixos centrais de interesse são pouco variados como também seus recursos financeiros. Estes fatores citados serão desenvolvidos à medida que as crianças crescem, induzindo-as a ações simultâneas, e em seguida, a uma expansão veloz da esfera de consumo. A criança como consumidora na sociedade contemporânea, assume três papéis: a criança receptora das experiências vivenciadas desde bebê, quando acompanha os pais em compras do dia a dia; a criança consumidora que decodifica e transforma os signos veiculados pela propaganda, na busca de algo que não se identifique e configure como a necessidade material real; e a atuação da criança destinada a função de simulacro, como a utilização infantil em promoções de produtos, direcionando o alvo diretamente ao público infantil, mas que visam atingir o público adulto. (SOUZA JR.; FORTALEZA; MACIEL, 2009) O estágio de formação pela qual a criança transcorre é o período receptor de experiências, aquisição de conhecimentos relacionados à vida, sendo o momento em que ela está no mundo das curiosidades e sedenta de novidades. Diante disto, a representação da mídia se tornará umas de suas experiências representativas e comportamentais diante do turbilhão incessante do marketing. 3 A criança e a publicidade Atualmente a criança brasileira é muito independente, com ideias próprias sobre o consumo é conhecedora de produtos, marcas, griffes, sabendo com precisão o que deseja comprar e consumir. Cerca de um terço da população brasileira é constituído por crianças, representando um respeitável mercado de consumo, sendo as crianças que determinam a decisão em grande parte das compras e influenciam para outro tanto. (GADE, 1998). O interesse mercantil com alvo no público infantil é apenas a lucratividade. Diariamente novas propagandas surgem com novos produtos rotulados de personagens e novas estratégias de marketing que apontam diretamente aos pequenos consumidores, ampliando de modo preocupante o consumo entre as crianças. A televisão é um dos principais meios responsáveis pela exposição de produtos, modos de comportamentos, atitudes, moda, entre outros. A criança frente à televisão condiciona-se a comunicação das propagandas, sendo que a maioria delas são direcionadas aos pequenos consumidores, apontando toda a excelência do produto e alegando que com o consumo dele a criança terá uma infância mais feliz. Neste mesmo contexto, Sampaio (2009) enfatiza que em pesquisas realizadas em 1996, tendo como base 250 comerciais de TV, a tendência suprema da publicidade era valorizar imagens de uma infância feliz, pela qual a criança era cercada de atenção, carinho, afeto e cuidados. Identificou-se também, a exclusão de imagens em meios de comunicação que retratassem riscos aos elementos de harmonia e felicidade. Após mais de dez anos, novas pesquisas foram realizadas e não foram identificadas mudanças relevantes aos padrões referidos. De acordo com Veloso (2008) a televisão é um dos meios de maior transmissão de comunicação entre empresas e crianças. Sendo que, é por meio da televisão e de distintos tipos de canais, que as empresas conseguem expor e mostrar suas mensagens, utilizando tanto propagandas, quanto inserções comerciaise exposição de produtos. Segundo Sant’anna (2002) a televisão como veículo de publicidade, possui a forma de apresentar ao público de maneira que se possa gravar na mente mensagens faladas, acompanhadas de música e efeitos sonoros, apresentando o produto ou embalagem ou marca, e tornando-se sua influência decisiva na compra. Nesta perspectiva, Aguiar ([20__]) expõe que o marketing utiliza uma forma de sedução para com as crianças como estratégia para o consumo de novos produtos. A autora ainda relata que a maioria dos produtos são rotulados pelas indústrias com personagens, como em produtos de higiene (pasta de dente ou shampoo), peças do vestuário, material escolar, alimentos, entre outros. Assim, a propaganda cria na criança o desejo de possuir aquele determinado produto, pois de alguma forma faz com que ela se sinta próximo de seus personagens prediletos. Para Linn (2006) a publicidade cria estratégias de ligação entre produtos e personagens. Estas ligações planejadas, induzem as crianças a optarem por produtos associados a personagens de TV e filmes que mais lhe agradem, com objetivo de fazer com que a criança memorize, e possa lembram-se sempre dos produtos. A autora relata que especialistas em marketing utilizam tais estratégias com intuito de estabelecer circunstâncias a qual as crianças possam permanecer expostas às marcas por longos períodos diariamente ou semanalmente ou então em todos os locais que suas atividades são praticadas. Estes impactos intercorrem a vida das crianças proporcionando á muitas empresas a garantia de produzirem produtos inéditos no mercado para o setor infantil, ou seja, utiliza-se de todos os contextos possíveis para gerar um único interesse, o lucro. Nesta perspectiva Lemos (2007, p. 50) destaca: [...] a sociedade atual apropria-se das crianças – consumidores de amplo potencial. Existe uma organização interessada em apoderar-se desse corpo como valor de troca quando crianças-mercadorias são submetidas à extração de um ganho, seja dos pais, seja dos mercadores. A propaganda emprega fotografias, música, dança, poesia, por meio de revistas, jornais, rádio, televisão, entre outros. A propaganda comercial é a divulgação de produtos designados a venda e direcionados a consumidores. Esta propaganda é organizada da seguinte maneira segundo (CHAIU, 2006, p. 38): [...] 1) explicações simplificadas e elogios exagerados sobre os produtos; 2) slogans curtos que possam ser facilmente memorizados; 3) aparente informação e prestação de serviço ao consumidor; 4) garantia de que o consumidor será, ao mesmo tempo, igual a todo mundo e não um deslocado (pois consumirá o que outros consomem) e será diferente de todo mundo (pois o produto lhe dará uma individualidade especial). Para a propaganda surtir o efeito esperado, ela deve ser elaborada e configurada a estratégia da marca, apontando suas características que ampliem seu aspecto físico possibilitando a experimentação de sensações. Nesta premissa, Gade (1998) caracteriza que quando a comunicação é direcionada à criança deve ser considerada a faixa etária, sendo que, crianças novas gostam de cartoons, jingles, imagens, ação e efeitos especiais, música e ruídos, histórias, entre outras. As crianças percebem que os anúncios fazem parte da programação, aceitando como verdade o que acontece apenas no mundo da fantasia. As crianças maiores já distinguem as programações e as peças publicitárias, gostam de cartoons, como pequenas porções de fantasia e ação, principalmente os meninos, que gostam de personagens divertidos e com frequência incorporam o comportamento do personagem que lhe agrade. Linn (2006) explicita que a cultura do marketing compete com a cultura e valores familiares dentro dos pensamentos, alma e coração das crianças. Nos dias de hoje, a educação oferecida pela sociedade foi transformada pela mídia eletrônica, com poder presente em todos os lugares, sendo movida por comercialização durante toda a vida. Neste sentido, significa que as crianças são bombardeadas em todos os períodos do dia com mensagens produzidas no intuito apenas de vender algo, e não com objetivo em propiciar uma vida melhor. As marcas apresentadas pela publicidade dentro da sociedade de consumo se faz muito presente desde a criança ainda bebê. A maioria dos produtos próximos ao bebê tem etiquetas, cuja marca adotou algum valor simbólico para a representação. Mesmo não entendendo, a criança já se encontra inserida no contexto do consumo. Linn (2006, p. 69) afirma que: Ao anunciarem roupas de cama, móbiles e brinquedos de berço decorados de logos de marcas ou imagens de personagens licenciados, os profissionais de marketing fazem o que podem para assegurar que os bebês reconhecerão e pedirão produtos decorados de maneira semelhante, que vão desde cereais até bichinhos de pelúcia, à medida que suas habilidades verbais evoluírem. A autora enfatiza que as marcas expostas a criança desde pequena passa a fazer parte do seu cotidiano, compartilhando de sua formação simbólica. Mesmo não ocorrendo associação aos objetos com valor simbólico, a criança pausadamente familiariza-se a estes produtos. Atualmente está cada vez mais se tornando comum a participação de crianças em propagandas comerciais como estratégia de marketing. Através de estratégia busca-se atingir o emocional dos telespectadores. Sampaio (2000) apud Souza Jr., Fortaleza e Maciel (2009) cita algumas razões que justificam a presença da criança na mídia: a criança comove-se ouvindo outra criança, ou seja, a criança ouve outra criança; a criança transpassa fortemente um apelo sentimental, sensibilizando tanto o adulto como outra criança; a criança viabiliza rejuvenescimento da marca; e a criança possui favorecimento em aprovações de comerciais pela sua empatia. Por isso as crianças não participam apenas de propagandas infantis, mas também praticam as vendas de automóveis, seguro de vida, empréstimos, entre outras. Desde a descoberta da criança como um negócio lucrativo na sociedade dentro do sistema capitalista, é notável a atuação maçante da publicidade sobre as crianças para a venda de seus produtos sem poupar esforços. Publicitários investem milhões em publicidade oferecendo as crianças cada vez mais produtos atrativos para consumo, desde os produtos infantis a serviços que consequentemente também induzem o adulto ao consumo. 4 Influências e consequências das programações comerciais Hipóteses estão sendo discutidas e analisadas entre autores e pesquisadores que possuem como objeto de estudo a mídia e o consumismo infantil. Crianças estão precocemente tornando-se grandes consumidores, pois são as quais na hora da compra adotam as últimas decisões. As crianças como consumidoras são observadas pelo mercado como clientes, deste modo, a publicidade com objetivo na aquisição de lucro, está bombardeando as crianças diariamente através de propagandas. Em virtude disto, as crianças sofrem grandes influências da mídia que a todo instante induzem na aquisição de produtos que irá tornar a sua infância mais feliz e saudável. A partir desta premissa as consequências são alarmantes, e uma das consequências está inserida internamente no novo modelo familiar. De acordo com Aguiar ([20__]) uma das consequências pela qual influencia o consumismo infantil é o distanciamento entre pais e filhos. Em um mundo moderno e concorrente, os pais estão cada vez mais priorizando o trabalho em busca do aumento de renda, diminuindo desta maneira o tempo para a devida atenção aos seus filhos. Diante deste contexto, a criança encontra-se em uma atmosfera solitária mesmo tendo pouco cuidado de seus pais, assim as mesmas começam a brincar sozinhas frequentemente,passam mais tempo diante da TV, e com isso absorvem atentamente modos de outras crianças, que como elas, consomem os mesmos produtos. Complementando esta mesma perspectiva, Silva (2008) diz que na modernidade, a criança permanece mais tempo com os seus heróis da TV do que com os pais ou professores. A maioria das crianças supre a ausência que sentem dos pais com a televisão, pois ela está sempre presente, colorida e de fácil acesso. Assim para elas não se sentirem diferentes das outras, a mesma começa a exigir dos pais produtos anunciados pela mídia. Este é um dos contextos em que ocorre o consumismo infantil, pois os pais de maneira a ressarcir os filhos pela falta de atenção cedem com facilidade aos pedidos e desejos, como comprar e possuir. Em pesquisas realizadas, Gade (1998) apresenta que as estatísticas apontam que crianças que tem os pais separados tornam-se fortes consumidoras devido a competições entre os pais, pois o pai ou a mãe procuram comprar o afeto do filho. Neste sentido, a mídia executa sua função dirigindo apelos ao setor infantil, induzindo-os a aquisição de tais produtos, e fazendo com que a criança assuma cada vez seu papel ativo na sociedade, como a autora afirma: Uma enorme quantidade de apelos é dirigida diretamente à criança, não só para convertê-la ao consumo como transformá-la em promotora deste consumo. Isto porque se descobriu a nova imagem e o novo papel ativo da criança no núcleo familiar. Se a criança pede “algo” sem identificar o objeto, ela quer saber se os pais a amam , quer se assegurar deste amor através de coisas materiais. (GADE, 1998, p. 186). Linn (2006) explica que há sérias consequências frente ao processo de marketing na vida familiar. Há pedidos de compras pelos filhos, pais podem manter-se firmes e negarem aos pedidos ou então cederem e acostumar mal os filhos. Diante dessas situações, o fator amolação vem emergindo conflitos no núcleo familiar, pois a publicidade influência as crianças ao ato de petição. A autora destaca ainda que devido à descoberta do impacto da “amolação”, as vendas direcionadas as crianças estimam-se em 46%, atraindo a atenção do universo publicitário. O fator amolação, ou seja, a persistência das crianças para o ato da compra de determinado produto parece ampliar-se à medida que crescem. Pesquisas desenvolveram-se diante deste fato, e podemos citar que “[...] 750 crianças com idades entre 12 e 17 anos mostrou que, na média, elas pedem nove vezes antes de seus pais cederem (...) entre os adolescentes de doze e treze anos pesquisados, 11% disseram amolar seus pais mais de cinquenta vezes por algum produto específico [...]” (LINN, 2006, p. 59). Através destas circunstâncias, onde os profissionais de marketing estão cientes, a publicidade não mede esforços, caso contrário, as empresas não gastariam tanto capital. Para Gade (1998) os pais instigam a criança ao consumo, que posteriormente, se transformará em um pequeno consumidor. Inicialmente, a influência acontece antes do nascimento, quando os pais planejam e prometem dar aos filhos o que não tiveram quando criança. Com a maternidade, há mães que sentem vago sentimento de culpa, comprando assim tudo o que uma boa mãe deve comprar e realizar o possível para que os filhos pareçam com as crianças da propaganda ou anúncio. Com isso, a criança com o passar do tempo, torna-se de um telespectador passivo para ativo, sendo um mini protagonista e principal alvo da publicidade, e as propagandas não atingem mais somente os pais, mas a partir daquele momento, principalmente as crianças, fazendo com que ela peça o produto anunciado, mas como satisfação de amor, atenção, que está incluso na compra do produto. Na atualidade, um alto percentual de crianças tem televisores em seu próprio quarto ou distribuídos pelos cômodos da casa, o qual propicia a exposição excessiva das mesmas diante do meio de comunicação durante longos períodos do dia. Seguindo essa mesma ideia, Linn (2006) caracteriza que em pesquisas realizadas pela Universidade Tufts, há provas de que bebês possuem habilidades em captação de emoções transmitidas pela televisão. Após os bebês assistirem a uma seção da televisão, pelo qual uma atriz trazia consigo um brinquedo, dependendo das emoções que a mesma demonstrava com o objeto, os bebês podiam eleger ou rejeitar este mesmo brinquedo. Utilizando as mesmas palavras, mas alterando a voz e a expressão facial, a atriz expressava ânimo ou medo, e os bebês correspondiam da mesma maneira. Esta seção teve duração de vinte segundos, e os bebês conseguiram interpretar tais reações. Pesquisadores aconselham que os responsáveis tenham cuidados com as programações que os bebês são expostos. Diante desta situação, a autora destaca: Pesquisas recentes mostram que, na média, os pais colocam os bebês diante da telas aos seis meses de idade e que expõem a televisão aos nove meses. Bebês entre 1 e 23 meses assistem mais a televisão (uma média de 1,12 hora) do que a vídeos (0,41 hora). Ficam diante de uma tela por mais de 90 minutos todos os dias. (LINN, 2006, p. 76) A autora enfatiza que os pais deveriam refletir sobre a publicidade que produzem propagandas com finalidade de vender produtos infantis. Pois ao analisar a pesquisa, cujas crianças refletem emoções positivas e negativas de programações, as mesmas são alvos de manipulação, por não possuir aptidão cognitiva de mediar suas emoções. Para atender aos interesses econômicos dos patrocinadores, TV e rádio, a programação é dividida em blocos com duração de sete a dez minutos, onde cada bloco sofre interrupção de comerciais. Com esta divisão, o indivíduo é levado a concentrar sua atenção no bloco e se desconcentrar ou relaxar com as pausas entre os comerciais para a publicidade. Nesta mesma perspectiva, professores observam que seus alunos se distraem a cada dez minutos e voltam a se concentrar após uma pausa que dão a si mesmos. Nisto é possível identificar que a aula para os alunos ocorre como um programa ou comercial (CHAUÍ, 2006). As brincadeiras são atos naturais praticados pelas crianças. Brincam com frequência sem saber ao certo o que estão fazendo pelo fato de se expressarem para aquisição de controles sobre o seu universo. Devido aos conflitos da tecnologia mediática na atualidade e a exaltação do consumismo, cada vez mais está tornando-se difícil propiciar um ambiente que estimule a criatividade e o pensamento original dos pequenos. As crianças são violentadas com os ruídos da publicidade e com os produtos que comercializam desde o despertar até dormir. O tempo e o espaço para seus pensamentos, ideias e imagens originais, para interações sem pressa com texto e elucidações, subtraem-se a cada episódio de filmes e programas infantis, e infalivelmente escoltados por uma série de brinquedos, livros, vídeos e vestuário relacionados. (LINN, 2006). Diante das influências do consumismo que a mídia a cada dia proporciona as crianças e as famílias, consequências estão abalando a vida familiar destas crianças, onde as mesmas são induzidas inocentemente pela ilusão da mídia e aos seus ensinamentos. As crianças estão cada vez mais sendo manipuladas pelo mundo da publicidade, que privilegia um único interesse, a geração de lucro, através da inocência infantil. 5 A mídia ideológica A publicidade não se satisfaz na construção de imagens pela qual o consumidor é persuadido a identificar-se. Ela as apresenta “[...] como realização de desejos que o consumidor sequer sabia ter e que agora, seduzido pelas imagens, passa a ter [...]” (CHAUÍ, 2006, p. 40). Assim, um alimento ou produto destinado às crianças é apresentado como garantia de saúde e felicidade infantil,fazendo com que a criança deseje consumi-lo e, levando a sua aquisição pelos pais, pois os mesmos esperam adquirir tranquilidade e a boa alimentação para os seus filhos. A mídia ideológica, neste caso a propaganda, apresenta a excelência do produto ou serviço, com todas as características e primazia. Assim sendo, a ideologia inserida na mídia tem como objetivo fazer com que as pessoas confiem no que está sendo apresentando e transmitido, camuflando-se de maneira enganosa diante dos telespectadores. Marx apud Löwy (1998, p. 12) estabelece significado a palavra ideologia: “[...] conceito crítico que implica ilusão, ou se refere à consciência deformada da realidade que se dá através da ideologia dominante: as ideias das classes dominantes são as ideologias dominantes da sociedade”. A dialética marxista é uma teoria cientifica que explica e caracteriza o comportamento dos indivíduos por seus interesses materiais, e necessariamente econômicos. A ideologia é transmitida por meio de ideias da classe dominante, com alvo em obter lucro, por isso de maneira enganosa. A propaganda visualizada e ouvida no cotidiano tem como principal objetivo a divulgação de marketing, bem como expansão de informações de determinados produtos, serviços, novidades, ideias, entre outros, estimulando desta maneira, o telespectador a adquirir bens que não desejava, mas pela influência passa a desejar. Lemos (2007) enfatiza neste caso, que os investimentos estão na produção de valores, propagandeados a todo segundo, cujo interesse direciona-se ao lucro e não ao bem estar do telespectador. As propagandas são criadas a partir de estratégias significativas a marca, exaltando suas qualidades e vantagens, e necessitando ser divulgadas para contagiar a o maior número de pessoas. Complementando este contexto Chauí (2006, p. 37) define a palavra propaganda: [...] deriva do verbo “propagar”, que significa: multiplicar uma espécie por meio da reprodução, espalhar-se por um território, aumentar numericamente por contágio, irradiar-se, difundir-se e, por extensão, divulgar. A propaganda é uma difusão e uma divulgação de idéias, valores, opiniões, informações para o maior número de pessoas no mais amplo território possível. A autora prossegue seus comentários fomentando que as pesquisas de mercados direcionavam que as vendas dependiam da capacidade de manipular desejos do consumidor e de criar desejos nele. Entretanto a propaganda comercial foi abandonando a apresentação do produto propriamente dito e apresentando ao consumidor apenas a fantasia de que o que era apresentado realizaria os seus desejos, que se traduziriam em sucesso, segurança, felicidade, beleza, etc. Assim a propaganda ou publicidade comercial passou a realizar a venda de imagens e signos e não os próprios produtos. Na sociedade contemporânea tudo se transforma e desaparece rapidamente, e para a propaganda é necessário que este ritmo seja acompanhado. Com isso, realiza-se a ideia que a sua eficiência e concorrência serão maiores não pela ação sobre os desejos existentes, mas pela competência em criar novos desejos e assim manipulá-los para sempre haver o consumo de produtos novos e com pouca durabilidade. (CHAUÍ, 2006). Diante da sociedade consumista em que vivemos, o produto que adquirimos na atualidade já não é mais o propriamente dito pela propaganda. A partir de instrumentos ideológicos, a mídia transmite ilusão na medida em que apresenta características enganosas dos produtos. Desta maneira, o telespectador deposita confiança no produto e passa a desejá- lo, acreditando que o mesmo, como é demonstrado na propaganda, tornará sua vida mais saudável. 6 Considerações Finais Na atualidade, relacionando às mudanças na sociedade quanto ao consumismo, estamos vivendo em novos momentos e com novas relações sociais. A criança anônima evoluiu historicamente, sendo hoje um ser com direitos e que devem ser respeitados. É notável como a infância está perdendo sua essência e a totalidade, devido à evolução tecnológica. Pois a publicidade e o processo de marketing estão instigando as crianças contemporâneas ao antecipamento de seus processos naturais de desenvolvimento, quando a induzem ao consumismo. Desde que o capitalismo percebeu a criança como possível cliente e consumidora, o mesmo passa a investir e a lucrar com ela. Visando a lucratividade, o capitalismo descobriu que o papel das crianças no núcleo familiar transformou-se, pois agora, as crianças são seres que opinam, ditam palpites e conseguem manipular seus pais até o momento em que conseguem sanar o desejo. A partir deste momento, a publicidade sem medida de esforços investe fortunas na mídia, na tentativa de interagir com o público infantil através das propagandas, seduzindo-as e implantando nelas o desejo pelo ato de consumir. As crianças estão sendo transformadas em seres humanos incultos na geração atual que prosseguirá para a geração do futuro. Consentir o capitalismo, publicitários e a mídia manipularem a infância e a vida das nossas crianças é o mesmo que consentir com um futuro trágico. As nossas crianças diante do universo da propaganda estão recebendo informações que as conduzem na aquisição de produtos e as fazem acreditar que o mesmo lhe satisfará e trará felicidade. Toda criança necessita de uma infância saudável, onde possa brincar e expressar-se de uma maneira proveitosa. Por isso a manipulação de crianças pela mídia necessita ter um fim, e não podemos mais entregá-las ao serviço da busca constante pelo lucro. Referências AGUIAR, Mirella C. S. de. A influência da propaganda e a participação das crianças na tomada de decisão de compra na família. Disponível em http://pt.scribd.com/doc/14424520/A-INFLUENCIA-DA- PROPAGANDA-E-A-PARTICIPACAO-DAS-CRIANCAS-NA-TOMADA-DE-DECISAO-DE-COMPRA-NA- FAMILIA Acessado em 10.08.2011 ARIÈS, Philippe. História social da Criança e da Família. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1981. CHAUÍ, Marilena. Simulacro e poder: uma análise da mídia. São Paulo: Edit. Fundação Perseu Abramo, 2006. GADE, Christiane. Psicologia do consumidor e da propaganda. São Paulo: EPU, 1998. KARSAKLIAN, Eliane. O comportamento do consumidor. São Paulo: Atlas, 2004. LEMOS, Inês. Pedagogia do consumo: família, mídia e educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. LINN, Susan. Crianças do Consumo: a infância roubada. Tradução Cristina Tognelli. São Paulo: Instituto Alana, 2006. LÖWY, Michael. Ideologias e ciência social: elementos para uma análise marxista. São Paulo: Cortez, 1998. PENTEADO, H. D. Televisão e Escola: conflito ou cooperação?. São Paulo: Cortez, 1991. PINTO, Alessandra M. M. de S. Pequenos grandes consumidores: uma abordagem sobre o consumo infantil na sociedade contemporânea. Disponível em http://www.alana.org.br/banco_arquivos/arquivos/docs/educacao/bolsas-de-estudo/alessandra_moina.pdf Acessado em 15.07.2012 SAMPAIO, Inês S. V.. Publicidade e infância: uma relação perigosa. IN: Infância e Consumo: estudos no campo da comunicação. Brasília, DF: ANDI; Instituto Alana, 2009. SANT’ANNA, Armando. Propaganda: teoria, técnica e prática. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. SARMENTO, Manuel. As culturas da infância nas encruzilhadas da 2ª Modernidade. Disponível em http://cedic.iec.uminho.pt/textos_de_trabalho/textos/encruzilhadas.pdf Acessado em 15.07.2012 SILVA, Sônia das G. O. A televisão e a criança: a grande influência dos meios eletrônicos na vida das crianças em especial a TV. Disponível em http://www.artigonal.com/ciencia-artigos/a-televisao-e-a-crianca-a-grande- influencia-dos-meios-eletronicos-na-vida-das-criancas-em-especial-a-tv-478107.html Acessado em 09.08.2011 SOARES, N. F.; SARMENTO, M. J.; TOMÁS, C.Investigação da infância e crianças como investigadoras: metodologias participativas dos mundos sociais das crianças. Disponível em http://cedic.iec.uminho.pt/Textos_de_Trabalho/textos/InvestigacaoDaInfancia.pdf Acessado em 15.07.2012 SOUZA JR., J. E. G. de; FORTALEZA, C. H. G.; MACIEL, J. de C. Publicidade infantil: o estímulo à cultura de consumo e outras questões. IN: Infância e Consumo: estudos no campo da comunicação. Brasília, DF: ANDI; Instituto Alana, 2009. VELOSO, Andre R. Estratégias de segmentação e posicionamento direcionadas para o mercado infantil. São Paulo, 2008. 300 p. Tese (Doutorado) Universidade de São Paulo, 2008.
Compartilhar