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fichamento texto 24/7 – Capitalismo tardio e os fins do sono. Johnathan Crary

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA 
INSTITUTO LATINO-AMERICANO DE TECNOLOGIA, INFRAESTRUTURA E TECNOLOGIA - ILATIT 
 
Fichamento do texto: 
CRARY, Jonathan. 24/7 – Capitalismo tardio e os fins do sono. São Paulo: Cosac Naify, 2014. 
Elaborado por: João Miguel Da Silva
O presente texto é uma análise sobre a realidade da sociedade contemporânea subordinada a ordem do sistema 24/7. Uma ordem sistemática que negligência as necessidades humanas de um real descanso e forma natural e saudável de existir. O sistema capitalista domina cada vez mais todas as esferas do cotidiano dos indivíduos e como resultado, transforma os agentes da sociedade em verdadeiros objetos técnicos. O sistema 24/7 reflete indiretamente como forma de intimidação, comparada aqui pelo autor, como uma sentença de morte. Crary referência Deluze e Guattari para afirmar que essa ordem “é um comando, uma instrumentalização de linguagem que tem como objetivo preservar ou criar a realidade social, e cujo efeito, ao fim, é gerar medo”. Uma das principais características do mundo atual que podemos exemplificar é a adoção de tecnologias de redes sem fio (wireless), na qual o autor afirma “que aniquilam a singularidade dos lugares e dos acontecimentos, é simplesmente um efeito colateral de novas exigências institucionais” (p. 40). Tais aparelhos perceptivelmente alteram a sociabilidade dos indivíduos, nas refeições, em meio a conversas, salas de aulas entre outras situações do cotidiano. Uma realidade onde o mundo é visto através da tela de um dispositivo móvel, ou seja, a subjetividade dos indivíduos está contextualizada entre o tempo humano e as temporalidades dos sistemas. Aqui podemos entender essa realidade pela notável mudança de comportamento social na qual as relações dos indivíduos, estão cada vez mais introduzidas na esfera digital, onde as relações se resumem em adicionar, curtir, excluir ou bloquear. “24/7 não apenas incita no indivíduo um foco exclusivo em adquirir, ter, ganhar, desejar ardentemente, mas está totalmente entremeado a mecanismo de controle que tornam supérfluo e impotente o sujeito de suas demandas” (p. 41). Ou seja, os indivíduos convertidos em objeto de regulação ininterrupta, pressa em um continuum da dominação absoluta sobre a sociedade.
O autor exemplifica melhor outras grandes características da perversidade do sistema 24/7, como o modelo militar atual dos países hegemônicos, que com sistemas técnicos avançados, tem maior rentabilidade nos recursos de levantamento de dados e informações logísticas fornecida pelos satélites de vigilância, helicópteros silenciosos, drones, entre outros atributos técnicos que atuam dia e noite ou dentro de diferentes fatores climáticos, ou seja, atributos técnicos que são transformados em formas mecanizadas de terror (aqui como exemplo, o autor se refere especificamente ao caso do Afeganistão). Estamos expostos a objetos óticos e mecanizados de observação e administração, “em meio à amnésia coletiva instigada pela cultura do capitalismo global (p. 44).
O pseudo “era digital”, vem com discurso de que estamos em meio a uma fase de transição, faz com que muitos aspectos da realidade contemporânea sejam aceitos e visto como uma necessidade inalteráveis e ao mesmo tempo ignora a história e omite o desenvolvimento da técnica nos últimos 150 anos, “a realidade bastante diversa de nosso tempo se caracteriza pela manutenção calculada de um estado de transição contínuo. Diante de exigências tecnológicas em transformação constante, jamais haverá um momento em que finalmente as alcançaremos’. Crary dialoga com Marx em seu entendimento sobre a incompatibilidade do capitalismo com formações sociais estáveis, no qual o capitalismo exige uma “revolução contínua” das formas de produção. Uma constante redefinição da percepção pelos ritmos, velocidades e formas de consumo acelerado intensificado. Discursos sobre novas técnicas feitos a cinco anos por exemplo já são considerados absoletos, o que demonstra um desenvolvimento técnico competitivo e radical, produtos novos como revolucionários e logo descartáveis. Um sistema marcado por invenções e rupturas que “tornaram mais fáceis a perpetuação do mesmo exercício banal de consumo ininterrupto, isolamento social e impotência política, em vez de representar um ponto de virada historicamente relevante" (p.49). Aqui a forma de progresso contemporânea está em reduzir o tempo de tomada de decisões, eliminando o tempo de reflexão e contemplação, resultado de uma integração intensa de atividades aos parâmetros eletrônicos, uma dependência aos objetos cada vez mais automatizados. 
O autor analisa a forma contemporânea de consumo comparando o desenvolvimento do capitalismo e suas fases sequências de modernização desde o século XIX até os dias de hoje. Crary afirma que "Uma lógica mais antiga de obsolescência programada continua em funcionamento, dando impulso à demanda por substituição ou aprimoramento" (p.51). Essa dinâmica dotada de competitividade e margem de lucro está fortemente vinculada a intensificação do controle dos indivíduos. Há um ritmo acelerado em que um item absoleto é rapidamente substituído. Processo que multiplica as experiências e requer novas tarefas nos quais os indivíduos são convertidos numa aplicação de novos sistemas e esquemas de controle. Consequentemente os seres humanos que vivem abaixo do nível de pobreza e não podem se integrar as inovações do mercado, são consideradas insignificantes. "A morte em seus muitos disfarces, é um dos subprodutos do neoliberalismo: quando as pessoas já não têm nada a perder, sejam recursos ou forças de trabalho, elas se tornam simplesmente descartáveis" (p. 53). 
O fluxo acelerado de produção e consumo desenfreado, afeta diretamente a memória coletiva, levando consigo a significação histórica e construindo um presente fantasmagórico, onde se privatiza tarefas através de aplicativos e objetos cada vez mais automatizados que roubam a subjetividade de cada indivíduo. Modos de vida que estão cheios de rotinas e necessidades que não são escolhidas pelos mesmos, "A ilusão de escolha e autonomia é uma das bases desse sistema global de autoregulação" (p.55), consequentemente, logo estarão fardados a frustações, ansiedade e depressão, resultado de um modo de viver superficial, de aparências, competitiva e regadas pelo temor ao fracasso social e econômico.
Vivemos dentro de uma atmosfera cada vez mais automatizada, hoje já se usa sistemas de vigilância já utilizadas pelas agências de inteligência para recolhimento de dados detalhado do comportamento individual para estratégia de marketing das empresas. "A instrumentalização da percepção sensorial é apenas um dos elementos envolvidos nas atividades cumulativas de acesso, armazenamento, formatação, manipulação, circulação e troca" (p.56). Tais capacidades tecnológicas já citadas ao invés de serem usadas em prol do desenvolvimento social, servem as exigências do capital e do império. "Estão proibidas as opções de vida criáveis ou visíveis fora das demandas de comunicação e consumo 24/7" (p. 58).
O autor cita o filósofo Bernard Stiegler que faz dura crítica ao desenvolvimento global desde os anos 90, onde há uma compreensão equivocada da ideia de processo de globalização no fim da modernidade, época que abriu caminho para uma era hiperindustrial e não pós-industrial. Crary crítica fortemente o sistema técnico informacional, aponta o problema para à ampla colonização sistêmica da experiência individual exercida pela mídia e como os arranjos compulsórios desses elementos são consumidos. Esses conteúdos em sua maioria são efêmeros e substituível colocados em condição de mercadoria. Estamos num estágio com possibilidades maximizadas de diversas fontes e escolhas (apostas, games, pornografia entre outros), que ao mesmo tempo garantem acumulação contínua de informações a respeito do usuário. "Os impulsos e apetites em jogo aqui, com suas ilusões de domínio, vitória e posse, são modelos cruciais para intensificação do consumo 24/7 (p.61).O autor chama atenção a outras formas contemporâneas de sincronização de massas como por exemplo o tráfico de drogas psicoativas legais e ilegais para diversas designações, o problema das drogas pode ser comparado a mesma dificuldade trazida pelos objetos de mídia. "Existem compostos mutáveis e indistintos de elementos tanto na ingestão de fluxos eletrônicos quanto na de neuroquímicos" (p.63). Chama atenção também, "para como os padrões de consumo gerados pela mídia e pelos produtos de comunicação atuais estão também presentes em outros mercados globais em expansão" (p. 63), no caso a indústria farmacêutica, há uma multiplicação dos estados físicos e psicológicos para os quais cada nova droga é produzida, assim como nos serviços digitais, há uma pseudonecessidade para novas mercadorias em forma de soluções são aplicadas, ou seja, novas necessidades, novas soluções. A indústria farmacêutica em parceria com as neurociências à serviço de patologizar os estados emocionais convertendo-os em distúrbios em prol da formação de novos mercados extremamente lucrativos. Assim "uma nova insipidez floresce em quase todos os lugares onde o consumo acelerado se tornou norma" (p.65).
Os sistemas modernos de trabalho se desenvolveram por via de novos valores, por meio a industrialização se substituiu os fundamentos dos trabalhos manuais e artesanais. Surgiram novas formas de se identificar com os processos mecânicos, "A ubiquidade das interfaces tecnológicas inevitavelmente conduz o usuário a busca maior de fluência e adaptação" (p.66), se trata de uma maior harmonização com as exigências funcionais que ao se aprimorar, reduz o tempo de cada operação. "há um nivelamento generalizado de todos os usuários, transformados em objetos indistintos da mesma expropriação em massa de tempo e práxis" (p.67).
O autor finaliza o texto refletindo sobre a mudança na forma de comportamento da sociedade contemporânea que submete sua vida, tempo e suas relações, à uma administração operacional de gestos maquínicos. A vida cotidiana está atrelada aos fins quantitativos e aquisitivos. O indivíduo que não estiver alinhado com essa condição do sistema, logo será considerado desprezível e dispensável. O medo do fracasso social e econômico faz com que a sociedade obrigatoriamente viva em ritmo de competição e consumo, sem tempo para refletir sobre sua existência e subjetividade e os reais problemas do mundo. Uma sociedade entorpecida pela fórmula 24/7, ingerida de forma ininterrupta com efeitos colaterais de ilusão de poder e autonomia, alienação em massa e apatia com sua própria natureza.
Questão: 
Que ralação há entre o fato de os objetos técnicos serem veículos de ideologias com a seguinte frase do texto: "há uma proibição real não apenas à crítica do consumo tecnológico obrigatório, como também à elaboração técnica de maneiras de empregar os recursos e capacidades tecnológicas existentes a serviço de necessidades humanas e sociais, em vez de servirem às exigências do capital e do império" (p.58)? 
A relação entre os objetos técnicos serem veículos de ideologia e a crítica do consumo tecnológico obrigatório, é o fato de que o mercado utilizar meios de comunicação com tecnologias cada vez mais aprimoradas de controle, onde os usuários cada vez mais sedentos pelas inovações tecnológicas, colaboram para sua própria vigilância e acumulação de dados sobre os seus comportamentos e necessidades. Os meios de controle tecnológico estão a serviço do capital e do império.
 "Muitos dos que celebram o potencial transformador das redes de comunicação se esquecem das formas opressivas do trabalho humano e da devastação ambiental dos quais suas fantasias de virtualidade e desmaterialização dependem" (Crary, 2014, p. 58).

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