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Conferência II A verdade e as formas jurídicas

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ – UESPI
CAMPUS POETA TORQUATO NETO
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS – CCSA
COODENAÇÃO DO CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO DISCIPLINA: SOCIOLOGIA JURÍDICA
PROFESSOR: EMANUELLE
RESUMO DA CONFERÊNCIA II DO LIVRO: A Verdade e as Formas Jurídicas
JÚLIO CÉSAR LOPES MARTINS
TERESINA / PI
JULHO / 2017
CONFERÊNCIA II
A abordagem realizada sobre o Complexo de Édipo, traz-nos uma analogia relacionada à mitologia grega e ao que vivemos hoje em dia. Além disso, observa-se que há uma relação entre desejo e inconsciente e que esta relação é individual, mas pode ser expandido para situações coletivas em que a própria sociedade deve ser analisada baseado neste complexo. Segundo Deleuze e Guattari, não é o conteúdo secreto do nosso inconsciente, mas a forma de coação que a psicanálise tenta impor na cura o nosso desejo e a nosso inconsciente.
Sobre a tragédia de Édipo, podemos afirmar que foi o primeiro testemunho que temos das práticas judiciárias gregas. Esta esteve relacionada à uma corrida de carros entre Antíloco e Menelau, em que o último contestou Antíloco por conta de sua volta e que havia cometido uma irregularidade. Nesta volta havia uma testemunha, mas Menelau não quis usar a testemunha como artifício de prova de sua contestação. O que ocorreu em seguida foi que Menelau criou uma confissão de Antíloco não pela testemunha, mas por uma espécie de jogo, de prova. Por um desafio lançado de um adversário ao outro.
Em outra situação, trabalha-se duas metades, a primeira que revela na história da morte do Rei Laio, onde é preciso obter a resposta de quem foi assassinado e na segunda o nome do autor do assassinato. Depois disso, observa-se que essas metades ainda fora divididas em outras metades. Depois disso a história foi se fechando devido aos encaixes que foram necessários para que a história fosse relatada de forma verdadeira e coerente com o que realmente ocorreu, onde descobriu-se que Édipo matara o seu próprio pai, mesmo sem saber. É pelo ajustamento dessas duas metades que se poderá reconhecer a autenticidade da mensagem.
Observa-se que a peça de Édipo é uma maneira de deslocar a enunciação da verdade de um discurso de tipo profético e prescritivo a um outro discurso, de ordem retrospectiva, não mais da ordem da profecia, mas do testemunho. Um dos traços fundamentais é a comunicação entre os pastores e os deuses, como ocorre na história e que afirma a importância dos fatos, pois Édipo considerado cego, de memória bloqueada, era o homem do esquecimento, homem do não-saber, homem do inconsciente para Freud.
Já em Édipo-Rei, um personagem de Sófocles, Édipo não se defende de forma alguma ao nível de sua inocência. O que assusta Édipo não é a ter matado o seu pai ou o rei, mas a possibilidade de perder o poder, já que acusa Creonte de ter reivindicado seu poder. Mesmo ao final, quando o escravo fala que Édipo não é filho de Políbio, na sua defesa, Édipo afirma que o escravo está tentando o envergonhar e que tenta fazer com que as pessoas acreditem que ele não seja o filho do rei para que o seu poder não seja legítimo e mais uma vez percebe-se a luta de Édipo pelo poder, pouco importante se era verdadeiramente filho de seu pai.
Neste diapasão, observamos as vontades de Édipo prevalecendo sobre as leis, assim como ocorre com os tiranos, em suas épocas de comando das cidades gregas. Destaca-se Cípselo de Corinto, umas das histórias de Heródoto, em que Cípselo julgava possuir a cidade e, consequentemente, poderia tomar as decisões de acordo com suas convicções e conjecturas. Em uma de suas frases, Édipo afirma: “Pouco me importa que seja justo ou não; é preciso obedecer assim mesmo”.
A tirania grega era exercida não somente pela detenção do poder, mas por um certo tipo de saber que o tirano possuía. Édipo dizia a todo momento que venceu os outros, que resolveu o enigma da esfinge e que curou a cidade por meio de seu conhecimento. O saber de Édipo é esta espécie de saber de experiência, solitário, de conhecimento, do homem que, sozinho sem se apoiar no que se diz, sem ouvir ninguém, quer ver com seus próprios olhos. Saber autocrático do tirano que por si só, pode e é capaz de governar a cidade e que, ao final, caiu na armadilha. Finalmente o que ocorreu com o Édipo foi que por saber demais, nada sabia. O poder político não está ausente do saber, ele é tramado com o saber e por isso foi dissolvido o saber e o poder político nas civilizações.

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