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Protocolo para diagnóstico e tratamento de DST Pela sua magnitude, transcendência, vulnerabilidade e factibilidade de controle, as Doenças Sexualmente Transmissíveis devem ser priorizadas enquanto agravos em saúde pública. Como em qualquer epidemia, os princípios básicos para atenção às DST, visam interromper a cadeia de transmissão e prevenir novas ocorrências. O paciente deve ser abordado, atentando‐se para suas particularidades. Em uma única consulta deve‐se chegar ao diagnóstico, oferecer o tratamento e fazer o aconselhamento adequado. O exame físico e a anamnese do paciente e de seus contatos sexuais devem constituir‐se nos principais elementos diagnósticos das DST, tendo em vista a dificuldade de acesso imediato aos exames laboratoriais. O exame físico deve englobar exame da pele, atentando‐se para mãos e pés, mucosa orofaríngea e linfonodos. O exame genital masculino deve ser feito com o paciente em pé, com as pernas afastadas, atentando‐se para desvios de eixo peniano, abertura anômala da uretra, assimetria testicular, sinais flogísticos em escroto, terminando‐se com toque retal, onde podemos evidenciar tumorações e avaliar a próstata. Examinando‐se a mulher, em posição ginecológica, observamos a anatomia normal, distrofias, discromias, tumorações e ulcerações, no exame estático. Ao introduzir o espéculo vaginal, avaliamos o colo uterino, coletando material para citopatológico em caso de ausência de corrimento, e procedemos à limpeza com ácido acético e lugol (teste de Schiller) para evidenciar lesões do colo e ectopia. Procedemos, então, com o toque vaginal, para avaliar a elasticidade vaginal, tumorações e abaulamentos, consistência e tamanho do colo uterino, sensibilidade e anomalias do útero e anexos. Quando necessário, procedemos ao toque retal, avaliando o septo retovaginal, o fundo de saco de Douglas e o fundo uterino posterior. A abordagem sindrômica é adotada pelo Ministério da Saúde, pois classifica os principais agentes etiológicos, segundo as síndromes clínicas por eles causados; utiliza fluxogramas que ajudam o profissional a identificar as causas de uma determinada síndrome; indica o tratamento para os agentes etiológicos mais freqüentes na síndrome; inclui atenção dos parceiros, o aconselhamento e a educação sobre redução de risco, a adesão ao tratamento e o fornecimento e orientação para utilização adequada de preservativos, além da oferta da sorologia para sífilis, hepatites e para o HIV. Principais Síndromes em DST Síndrome Sintomas mais comuns Sinais mais comuns Etiologias mais comuns Corrimento vaginal Corrimento vaginal Prurido Dor à micção Dor durante a relação sexual Odor fétido Edema de vulva Hiperemia de vulva corrimento vaginal e/ou cervical Vulvovaginite infecciosa: • Tricomoníase • Vaginose bacteriana • Candidíase Cervicite: • Gonorréia • Infecção por Clamídia Corrimento uretral Corrimento uretral Prurido Estrangúria Polaciúria Odor fétido Corrimento uretral (se necessário, peça para o paciente ordenhar a uretra) Gonorréia Infecção por Clamídia Tricomoníase Micoplasma Ureoplasma Úlcera genital Úlcera genital Úlcera genital Aumento de linfonodos inguinais Sífilis Cancro mole Herpes genital Donovanose Desconforto ou dor pélvica na mulher Dor ou desconforto pélvico Dor durante a relação sexual Corrimento cervical Dor à palpação abdominal Dor à mobilização do colo Temperatura >37,5ºC Gonorréia Infecção por Clamídia Infecção por germes anaeróbios Úlceras genitais *Em caso de herpes, tratar sífilis se VDRL ou FTAbs reagentes, o que será visto no retorno. Se o quadro não é sugestivo de herpes, tratar sífilis e cancro mole **Se forem lesões ulcerosas múltiplas e soroprevalência de herpes for maior ou igual que 30% na região, deve‐se tratar herpes concomitante à sífilis e cancro mole Tratamento ‐ Herpes genital: Primoinfecção: aciclovir 200mg, 4/4h, 5x dia, 7 dias ou 400mg VO, 8/8h, 7 dias; Recorrência: aciclovir 200mg, 4/4h, 5x dia, 5 dias ou 400mg VO, 8/8h, 5 dias; Herpes e HIV: Aciclovir 5 a 10mg/kg, EV, 8/8h, 5 a 7 dias ou até resolução clínica; Casos recidivantes: aciclovir 400mg, 12/12h, por até 6 anos ‐ Sífilis 1ª. opção: Penicilina G benzatina, 2,4milhões U, IM, DU (1,2 milhão em cada nádega) 2ª. Opção: doxiciclina 100mg, VO, 12/12h, 14 dias ou até cura clínica Alergia à penicilina: estearato de eritromicina 500mg, VO 6/6h, 15 dias ‐ Cancro mole 1ª. Opção: azitromicina 1g, VO, dose única ou ciprofloxacina 500mg, VO, 12/12h, 3 dias (contra‐indicado para gestantes, nutrizes e menores de 18 anos) ou eritromicina (Estearato) 500mg, VO, 6/6h, 7 dias 2ª. Opção: ceftriaxona 250mg, IM, dose única Paciente com queixa de úlcera genital Anamnese e exame físico História ou evidências de lesões vesiculosas? SIM SIM NÃO NÃO Lesões com mais de 4 semanas? Tratar Herpes genital* Tratar Sífilis e Cancro mole** Tratar Sífilis, Cancro mole e Donovanose. Fazer biópsia Aconselhar, oferecer anti‐HIV, VDRL, sorologia para hepatite B e C. Vacinar contra hepatite B, enfatizar a atenção ao tratamento, notificar, convocar parceiros e agendar retorno. Corrimento uretral Tratamento ‐ Clamídia 1ª. Opção: azitromicina 1g, VO, dose única ou doxiciclina 100mg, VO, 12/12h, 7 dias 2ª. Opção: eritromicina (Estearato) 500mg, VO, 6/6h, 7 dias ou tetraciclina 500mg, oral, 6/6h, 7 dias ou ofloxacina 400mg, oral, 12/12h, 7 dias (contra‐indicada em menores de 18 anos, grávidas e nutrizes) + ‐ Gonorréia 1ª. Opção: Ciprofloxacina 500mg, VO, dose única ou ceftriaxona 250mg, IM, dose única 2ª. Opção: cefixima 400mg, VO, dose única ou ofloxacina 400mg, VO, dose única ou espectinomicina 2g, IM, dose única No retorno, em caso de persistência do corrimento ou recidiva, tratar com eritromicina (Estearato) 500mg, VO, 6/6h, 7 dias + metronidazol 2g, VO, dose única Paciente com queixa de corrimento uretral Anamnese e exame físico Bacterioscopia disponível no momento da consulta? NÃO SIM SIM NÃO Diplococos gram negativos intracelulares presentes? Tratar clamídia e gonorréia Tratar clamídia e gonorréia Aconselhar, oferecer anti‐HIV, VDRL, sorologia para hepatite B e C. Vacinar contra hepatite B, enfatizar a atenção ao tratamento, notificar, convocar parceiros e agendar retorno. Corrimento vaginal e cervicite Tratamento ‐ Clamídia e gonorréia 1ª. Opção: azitromicina 1g, VO, dose única ou doxiciclina 100mg, VO, 12/12h, 7 dias 2ª. Opção: eritromicina (Estearato) 500mg, VO, 6/6h, 7 dias ou tetraciclina 500mg, oral, 6/6h, 7 dias ou ofloxacina 400mg, oral, 12/12h, 7 dias (contra‐indicada em menores de 18 anos, grávidas e nutrizes) + Paciente com queixa de corrimento vaginal Anamnese e avaliação de risco + exame ginecológico • Parceiro com sintoma? • Pct com múltiplos parceiros? • Pct pensa ter sido exposta a uma DST? • Paciente proveniente de região de alta prevalência de gonococo e clamídia? (pelo menos um sim) Critérios de risco positivo e/ou sinais de cervicite com mucopus/teste do cotonete/friabilidade/sangramento do colo Não Não Sim Tratar gonorréia e clamídia pH vaginal– teste do KOH a 10% pH ≥ 4,5 e/ou KOH (+) pH < 4,5 e/ou KOH (‐) Tratar vaginose bacteriana e tricomoníase Aspecto de corrimento grumoso ou eritema vulvar Tratar candidíase Causa fisiológica Aconselhar, oferecer anti‐HIV, VDRL, sorologia para hepatite B e C. Vacinar contra hepatite B, enfatizar a atenção ao tratamento, notificar, convocar parceiros e agendar retorno. Sim 1ª. Opção: Ciprofloxacina 500mg, VO, dose única ou ceftriaxona 250mg, IM, dose única 2ª. Opção: cefixima 400mg, VO, dose única ou ofloxacina 400mg, VO, dose única ou espectinomicina 2g, IM, dose única ‐ Tricomoníase: 1ª. Opção: Metronidazol 2g, VO, DU ou Metronidazol 400‐500mg, 12/12hs, 7 dias 2ª. Opção: Secnidazol 2g, VO, DU ou Tinidazol 2g VO, DU Gestantes após o 1º. Trimestre ou nutrizes: Metronidazol 400mg, 12/12hs, 7 dias ou Metronidazol 250mg, 8/8, 7 dias ou Metronidazol 2g, VO, DU ‐ Vaginose bacteriana 1ª. Opção: Metronidazol 400‐500mg, 12/12hs, 7 dias 2ª.Opção: Metronidazol 2g, VO, DU ou metronidazol gel 0,75% uma aplicação vaginal, 2x dia, 5 dias; ou clindamicina creme 2%, uma aplicação à noite, 7 dias ou clindamicina 300mg, VO, 12/12h, 7 dias ‐ Candidíase 1ª. Opção: Miconazol, creme a 2%, via vaginal, uma aplicação à noite ao deitar, por 7 dias; ou Clotrimazol, creme vaginal a 1%, uma aplicação via vaginal, à noite ao deitar‐se, durante 6 a 12 dias; ou Clotrimazol, óvulos de 100 mg, uma aplicação via vaginal, à noite ao deitar‐se, por 7 dias; ou Tioconazol creme a 6,5%, ou óvulos de 300mg, uma aplicação única, via vaginal ao deitar‐se; ou Nistatina 100.000 UI, uma aplicação, via vaginal, à noite ao deitar‐ se, por 14 dias 2ª. Opção: Fluconazol‐ 150mg VO em dose única ou Itraconazol 200 mg VO 12/12 h em 24 horas ou Cetoconazol 400 mg VO/dia por 5 dias Os parceiros não precisam ser tratados, exceto os sintomáticos ou em caso de recidiva; Portadores de HIV devem ser tratados com os mesmos esquemas. Obs: candidíase e vaginose bacteriana não são sexualmente transmissíveis, devendo‐se orientar os pacientes. Desconforto ou dor pélvica Paciente com queixa de desconforto ou dor pélvica Anamnese e exame clínico‐ ginecológico Sangramento vaginal ou atraso menstrual ou parto/aborto recente? Quadro abdominal grave: defesa muscular ou dor à descompressão ou febre >37,5º C? Suspeita de DIP: dor à mobilização do colo e dor ao toque vaginal? Iniciar tratamento para DIP e agendar retorno para reavaliação após 3 dias ou antes, se necessário Sim Sim Não Não Não Sim Investigar outras causas Encaminhar para serviço de referência hospitalar Não Houva melhora? Sim Manter conduta e enfatizar adesão ao tratamento Aconselhar, oferecer anti‐HIV, VDRL, sorologia para hepatite B e C. Vacinar contra hepatite B, enfatizar a atenção ao tratamento, notificar, convocar parceiros e agendar retorno. Após a alta, encaminhar para seguimento ambulatorial Tratamento de DIP Ceftriaxona 250mg, IM, dose única ou ofloxacina 400mg, VO, 12/12h, 14 dias ou ciprofloxacina 500mg, VO, 12/12h, 14 dias + Doxiciclina 100mg, VO, 12/12h, 14 dias + Metronidazol 500mg, VO, 12/12h, 14 dias Condiloma acuminado No condiloma acuminado as lesões são verrucosas e podem ser únicas ou múltiplas, restritas ou difusas e de tamanho variável, localizando‐se, mais freqüentemente, no homem, na glande, sulco bálano‐prepucial e região perianal, e na mulher, na vulva, períneo, região perianal, vagina e colo. A biópsia está indicada quando: • existir dúvida diagnóstica ou suspeita de neoplasia • as lesões não responderem ao tratamento convencional. • as lesões aumentarem de tamanho durante ou após o tratamento. • paciente for imunodeficiente. Tratamento • Podofilotoxina 0,15% creme: Aplica‐se duas vezes ao dia, somente sobre as lesões, por 3 dias. Se necessário, o ciclo poderá ser repetido por não mais que 4 vezes, com intervalos de 4 dias de repouso. O volume do medicamento não deve ultrapassar 0,5ml por dia. Áreas superiores a 10 cm2 devem ter o tratamento realizado pelo médico assistente. Está contra‐indicadoo uso em crianças e mulheres grávidas. • Imiquimod 5% creme: Deve ser feita aplicação tópica à noite, ao deitar, três vezes por semana, em dias alternados, por 16 semanas no máximo. A área de tratamento deve ser lavada com sabão neutro e água 6 a 10 horas depois da aplicação. • Podofilina 10‐25% em solução alcoólica ou em tintura de Benjoim: Aplicar em cada verruga, e deixar secar. Repetir semanalmente se necessário. Recomenda‐se autilização de até 0,5 ml em cada aplicação ou a limitação da área tratada a 10 cm2 por sessão. • Ácido tricloroacético (ATA) a 80‐90% em solução Alcoólica: Aplicar pequena quantidade somente nos condilomas e deixar secar, após o que a lesão ficará branca. Repetir semanalmente se necessário. Esse método poderá ser usado durante a gestação, quando a área lesionada não for muito extensa. Do contrário, deverá ser associado a exérese cirúrgica. • Eletrocauterização ou Eletrocoagulação ou Eletrofulguração • Criocauterização ou Crioterapia ou Criocoagulação: É útil quando há poucas lesões ou nas lesões muito ceratinizadas. Podem ser necessárias mais de uma sessão terapêutica, respeitando um intervalo de 1 a 2 semanas. • Exérese cirúrgica: Esse método traz maiores benefícios aos pacientes que tenham grande número de lesões ou extensa área acometida, ou ainda, em casos resistentes a outras formas de tratamento. Paciente com quadro de condiloma acuminado Tratamento Aconselhar, oferecer anti‐HIV, VDRL, sorologia para hepatite B e C. Vacinar contra hepatite B, enfatizar a atenção ao tratamento, notificar, convocar parceiros e agendar retorno. Bibliografia Controle das doenças sexualmente transmissíveis, Manual de bolso – Ministério da Saúde – Brasil, Brasília –DF, 2006
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