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Informativo 579-STJ (17/03 a 01/04/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
Julgado não comentado por ter menor relevância para concursos públicos: REsp 1.286.209-SP. Leia-o ao final, se quiser. 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
SERVIDORES PÚBLICOS 
 Restituição à Administração Pública de proventos depositados a servidor público falecido. 
 
DIREITO CIVIL 
BEM DE FAMÍLIA 
 Impenhorabilidade do imóvel em nome da sociedade empresária, mas no qual reside o sócio. 
 
POSSE 
 Ajuizamento de ação possessória por invasor de terra pública contra outros particulares. 
 
ALIMENTOS 
 Protesto e inscrição do nome do devedor de alimentos em cadastros de inadimplentes. 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO 
 Ausência de dano moral in re ipsa pela mera inclusão de valor indevido na fatura de cartão de crédito. 
 
BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES 
 Requisitos para a propositura de ação de exibição de documentos relativos ao Crediscore. 
 
DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL 
PROTESTO 
 Intimação por edital e necessidade de esgotamento dos meios de localização do devedor. 
 Local onde deverá ser realizado o protesto de crédula de crédito bancário garantida por alienação fiduciária. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
PROCESSO COLETIVO 
 Legitimidade ativa de associação para defender os interesses de seus filiados. 
 
DIREITO PENAL 
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 Advogado que atua como advogado dativo, por força de convênio com o Poder Público, é funcionário público para 
fins penais 
 
DOSIMETRIA DA PENA 
 Vulnerabilidade emocional e psicológica da vítima como circunstância negativa na dosimetria da pena. 
 
 
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CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA 
 Tipicidade da omissão na apresentação de declaração ao Fisco. 
 A extinção do crédito tributário pela prescrição não influencia na ação penal por crime contra a ordem tributária. 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
NULIDADES 
 Inexigibilidade de termo de recurso ou de renúncia na intimação pessoal do acusado. 
 
RECURSOS 
 Sentença de absolvição sumária e vedação de análise do mérito da ação penal em apelação. 
 
RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL 
 Possibilidade excepcional de interposição de recurso ordinário contra decisão concessiva de HC. 
 
MEDIDA DE SEGURANÇA 
 Medida de segurança imposta por conta de um fato não obriga que se converta também a pena privativa de 
liberdade imposta por outro crime. 
 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
SERVIDORES PÚBLICOS 
Restituição à Administração Pública de proventos depositados a servidor público falecido 
 
Importante!!! 
Os herdeiros devem restituir os proventos que, por erro operacional da Administração 
Pública, continuaram sendo depositados em conta de servidor público após o seu falecimento. 
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.387.971-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 
15/3/2016 (Info 579). 
 
SERVIDOR QUE RECEBE INDEVIDAMENTE VALORES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
Se o servidor público recebe valores por força de decisão administrativa posteriormente revogada, tal 
quantia poderá ser exigida de volta pela Administração Pública? 
NÃO. O STJ possui entendimento pacífico no sentido de que é incabível a restituição ao erário dos valores 
recebidos de boa-fé pelo servidor público em decorrência de errônea ou inadequada interpretação da lei 
por parte da Administração Pública. 
Em virtude do princípio da legítima confiança, o servidor público, em regra, tem a justa expectativa de que 
são legais os valores pagos pela Administração Pública, porque jungida à legalidade estrita. 
Assim, diante da ausência da comprovação da má-fé no recebimento dos valores pagos indevidamente por 
erro de direito da Administração, não se pode efetuar qualquer desconto na remuneração do servidor 
público, a título de reposição ao erário. 
STJ. 1ª Seção. REsp 1.244.182-PB, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 10/10/2012 (recurso repetitivo). 
 
Posição do TCU sobre o tema 
Vale a pena conhecer também o entendimento do TCU, que é parecido com o do STJ, apesar de um pouco 
mais rigoroso com o servidor ao exigir que o erro seja escusável. 
Súmula 249 do TCU: É dispensada a reposição de importâncias indevidamente percebidas, de boa-fé, por 
servidores ativos e inativos, e pensionistas, em virtude de erro escusável de interpretação de lei por parte do 
órgão/entidade, ou por parte de autoridade legalmente investida em função de orientação e supervisão, à vista 
da presunção de legalidade do ato administrativo e do caráter alimentar das parcelas salariais. 
 
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Recebimento de valores indevidos em decorrência de erro operacional 
No exemplo acima, o servidor recebeu os valores indevidamente por causa de erro da Administração na 
interpretação da lei. Vale ressaltar, no entanto, que, segundo a posição majoritária no STJ, este mesmo 
entendimento deve ser aplicado nos casos em que o servidor recebe as quantias indevidas por força de 
erro operacional da Administração. Confira: 
(...) 1. A Primeira Seção do STJ, no julgamento do Recurso Especial Representativo da Controvérsia 
1.244.182/PB, firmou o entendimento de que não é devida a restituição de valores pagos a servidor 
público de boa-fé, por força de interpretação errônea ou má aplicação da lei por parte da Administração. 
2. O mesmo entendimento tem sido aplicado por esta Corte nos casos de mero equívoco operacional da 
Administração Pública, como na hipótese dos autos. Precedentes. 
3. O requisito estabelecido para a não devolução de valores pecuniários indevidamente pagos é a boa-fé 
do servidor que, ao recebê-los na aparência de serem corretos, firma compromissos com respaldo na 
pecúnia (...) 
STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1447354/PE, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 16/09/2014. 
 
(...) Esta Corte firmou entendimento no sentido de não ser devida a devolução de verba paga 
indevidamente a servidor em decorrência de erro operacional da Administração Pública, quando se 
constata que o recebimento pelo beneficiado se deu de boa-fé, como no caso em análise. (...) 
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1560973/RN, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 05/04/2016. 
 
Em suma: valores recebidos pelo servidor em decorrência de errônea interpretação da lei e em virtude de 
erro operacional estão sujeitos ao mesmo tratamento. Assim, houve boa-fé do servidor, não se restitui; 
não houve boa-fé, deve-se restituir. 
 
HERDEIRO DE SERVIDOR QUE RECEBE VALORES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DECORRENTE DE ERRO OPERACIONAL 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Maria era servidora pública aposentada e recebia todos os meses seus proventos na conta bancária. 
Determinado dia, Maria faleceu e seus dois filhos informaram ao departamento de pessoal do Estado a 
morte da mãe. 
Com o falecimento da servidora, o correto seria que cessasse o pagamento dos proventos, já que os filhos 
não tinham direito à pensão por morte, considerando que eram maiores e capazes. 
Ocorre que, por uma falha no programa de computador do órgão público, os proventos continuaram a ser 
depositados na conta bancária da falecida, o que perdurou por três meses. 
Os filhos de Maria tinham o cartão e a senha da conta bancária e, à medida que os valores iam sendo 
depositados, eles sacavam as quantias. 
A Administração, enfim, percebeu o erro, cessou os novos pagamentos e cobrou dos filhos a restituição 
dos três meses pagos. 
 
O pleito da Administração Pública deverá ser atendido? Os herdeiros da servidora deverão devolver o dinheiro? 
SIM. 
 
Os herdeiros devem restituir os proventos que, por erro operacionalda Administração Pública, 
continuaram sendo depositados em conta de servidor público após o seu falecimento. 
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.387.971-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 15/3/2016 
(Info 579). 
 
Como vimos acima, o STJ tem o entendimento pacificado no sentido de que as verbas alimentares pagas 
ao servidor de boa-fé não podem ser repetidas (pedidas de volta) mesmo que tenham sido pagas 
indevidamente por erro da Administração Pública na interpretação da lei. Isso porque gera uma falsa 
 
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expectativa no servidor de que os valores recebidos são legais e definitivos, o que decorre, em certo grau, 
pela presunção de validade e de legitimidade do ato administrativo que ordenou a despesa. Veja o recurso 
repetitivo que consolidou a posição: 
(...) quando a Administração Pública interpreta erroneamente uma lei, resultando em pagamento indevido 
ao servidor, cria-se uma falsa expectativa de que os valores recebidos são legais e definitivos, impedindo, 
assim, que ocorra desconto dos mesmos, ante a boa-fé do servidor público. (...) 
(STJ. 1ª Seção. REsp 1244182/PB, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 10/10/2012) 
 
Contudo, no caso de as quantias indevidas terem sido pagas aos herdeiros do falecido, a situação deverá 
ser analisada sob outro ângulo e merece uma conclusão diferente. Isso porque, nesse caso, os valores 
pagos já não mais possuem caráter alimentar. Os salários ou proventos do servidor possuem natureza 
alimentar somente em relação ao próprio servidor. Se ele já morreu, tais valores são considerados como 
herança e herança não é remuneração nem aposentadoria. Logo, não é uma verba alimentícia. 
 
Pelo princípio da saisine, com a morte, houve a transferência imediata da titularidade da conta bancária da 
falecida aos seus herdeiros e os valores que foram nela depositados (por erro) não tinham mais qualquer 
destinação alimentar. Logo, por não se estar diante de verbas de natureza alimentar, não é nem mesmo 
necessário analisar se os herdeiros estavam ou não de boa-fé ao sacar o dinheiro. A boa-fé aqui não 
importa. Os herdeiros têm o dever de restituir as quantias porque eles não possuem nenhum direito sobre 
as verbas. O fundamento aqui para que ocorra a devolução está baseado no princípio da proibição do 
enriquecimento sem causa, previsto no art. 884 do CC: 
Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir o 
indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários. 
 
Resumindo a distinção que foi feita pelo STJ neste julgado: 
Verba paga indevidamente ao SERVIDOR 
Verba paga indevidamente ao HERDEIRO do 
servidor em decorrência de erro operacional 
A quantia recebida possui natureza alimentar. A quantia recebida não possui natureza alimentar. 
Servidor não tem o dever de restituir. Herdeiro tem o dever restituir. 
A análise que é feita aqui é se o servidor estava ou 
não de boa-fé. 
 
Quando a Administração Pública interpreta 
erroneamente uma lei, resultando em pagamento 
indevido ao servidor, cria-se uma falsa expectativa 
de que os valores recebidos são legais e definitivos, 
impedindo, assim, que ocorra desconto dos mesmos, 
ante a boa-fé do servidor público (STJ. 1ª Seção. REsp 
1244182/PB, julgado em 10/10/2012). 
 
Não é devida a devolução de verba paga 
indevidamente a servidor em decorrência de erro 
operacional da Administração Pública, quando se 
constata que o recebimento pelo beneficiado se 
deu de boa-fé (STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 
1560973/RN, julgado em 05/04/2016. 
 
Não se analisa aqui se o herdeiro estava ou não de 
boa-fé. Isso não importa. 
 
O herdeiro é obrigado a devolver porque ele não 
tem qualquer razão jurídica para ficar com aquele 
dinheiro em prejuízo da Administração Pública. 
Não havia nenhuma relação jurídica entre o 
herdeiro e o Estado. 
 
O fundamento aqui é o princípio que veda o 
enriquecimento sem causa (art. 884 do CC). 
 
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.387.971-DF, Rel. 
Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 
15/3/2016 (Info 579). 
 
 
 
 
 
 
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DIREITO CIVIL 
 
BEM DE FAMÍLIA 
Impenhorabilidade do imóvel em nome da sociedade empresária, mas no qual reside o sócio 
 
Importante!!! 
A impenhorabilidade do bem de família no qual reside o sócio devedor não é afastada pelo fato 
de o imóvel pertencer à sociedade empresária. 
STJ. 4ª Turma. EDcl no AREsp 511.486-SC, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 3/3/2016 (Info 579). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
A empresa "XX" ingressou com execução cobrando R$ 500 mil da empresa "JJ". 
Foi encontrado um único imóvel em nome da empresa executada: um apartamento. 
O juiz determinou, então, a penhora desse imóvel para pagamento da dívida. 
João, sócio da empresa "JJ", apresentou embargos de terceiro provando que mora neste apartamento, de 
forma que o imóvel se constitui em bem de família. 
A exequente impugnou o pedido afirmando que o imóvel está em nome da empresa devedora e que a 
dívida é da pessoa jurídica. Dessa forma, não há motivo para se conferir a proteção da impenhorabilidade 
do bem de família. 
 
Qual das duas teses prevaleceu no STJ? O imóvel que está em nome da pessoa jurídica, mas onde reside 
o sócio também goza da proteção como bem de família? 
SIM. 
 
A impenhorabilidade do bem de família no qual reside o sócio devedor não é afastada pelo fato de o 
imóvel pertencer à sociedade empresária. 
STJ. 4ª Turma. EDcl no AREsp 511.486-SC, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 3/3/2016 (Info 579). 
 
O STJ entende que, mesmo nos casos em que o imóvel pertence à pessoa jurídica, é possível conferir a ele 
a proteção como bem de família se ele é utilizado como residência pelos sócios. 
 
Nesse sentido: 
(...) É impenhorável a residência do casal, ainda que de propriedade de sociedade comercial, da qual os 
cônjuges são sócios exclusivos. (...) 
(STJ. 3ª Turma. REsp 356.077/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 30/08/2002). 
 
O bem de família é um instituto que visa a assegurar o direito fundamento à moradia (art. 6º, caput, da 
CF/88), sendo um corolário da dignidade da pessoa humana, razão pela qual é preciso que seja dada uma 
interpretação ampliativa à proteção legal. 
 
O benefício conferido pela Lei nº 8.009/90 se trata de norma cogente, que contém princípio de ordem 
pública, e sua incidência somente é afastada se caracterizada alguma hipótese descrita no art. 3º do 
mesmo diploma. 
 
 
 
 
 
 
 
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POSSE 
Ajuizamento de ação possessória por invasor de terra pública contra outros particulares 
 
Tema polêmico! 
É cabível o ajuizamento de ações possessórias por parte de invasor de terra pública contra 
outros particulares. 
A ocupação de área pública, sem autorização expressa e legítima do titular do domínio, não 
pode ser confundida com a mera detenção. 
Aquele que invade terras e nela constrói sua moradia jamais exercerá a posse em nome alheio. 
Não há entre ele e o proprietário uma relação de dependência ou subordinação. 
Ainda que a posse não possa ser oposta ao ente público, senhor da propriedade do bem, ela 
pode ser oposta contra outros particulares, tornando admissíveis as ações possessórias entre 
invasores. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.484.304-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 10/3/2016 (Info 579). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Um grupo de "sem-terras" invadiu um terreno pertencente ao Estado-membro (terras públicas). 
O Governo do Estado, preocupado com a repercussão política do evento, não ingressou com nenhuma 
medida judicialcontra os invasores e apenas iniciou um período de negociação para que eles saíssem 
voluntariamente das terras. 
O grupo limpou o mato que havia no local e dividiu o terreno em "lotes" informais. 
João, um dos invasores, ficou com um desses lotes e ali construiu sua casa, onde passou a morar. 
Determinado dia, João viajou de férias para o interior do Estado a fim de visitar sua mãe. 
Quando retornou, verificou que Mário havia invadido sua casa e estava morando no local. 
Diante disso, João procurou a Defensoria Pública, que ajuizou ação de reintegração de posse contra Mário. 
O juiz, contudo, extinguiu a ação sem resolução do mérito afirmando que, pelo fato de a terra pertencer 
ao Estado (terra pública), João nunca teve a posse da área, mas sim uma mera detenção. Dessa forma, por 
não ser possuidor, ele não poderia ingressar com ação possessória contra Mário, sendo esta a via 
inadequada (art. 485, VI, do CPC/2015). 
 
Agiu corretamente o magistrado? 
NÃO. 
 
É cabível o ajuizamento de ações possessórias por parte de invasor de terra pública contra outros 
particulares. 
 
Realmente, existem acórdãos do STJ no sentido de que a ocupação de área pública sem autorização 
expressa e legítima do titular do domínio constitui mera detenção (STJ. 3ª Turma. REsp 998.409-DF, DJe 
3/11/2009). Contudo, neste julgado, a 3ª Turma do STJ, mesmo reconhecendo a existência desses 
precedentes, decidiu chegar a uma posição diferentes e entender que há sim posse. 
 
O conceito de detenção está previsto no art. 1.198 do CC: 
Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, 
conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. 
 
Ao ler esse artigo, percebe-se que o invasor de uma terra pública não pode ser enquadrado neste 
conceito, ou seja, não pode ser considerado detentor. 
 
 
 
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O art. 1.198 fala em "relação de dependência", de forma que a posse deve ser exercida em nome de 
outrem que ostenta o jus possidendi ou o jus possessionis. É o caso, por exemplo, de um "caseiro" que 
mora no sítio. Este, sim, é considerado "detentor" porque possui uma relação de dependência com o 
possuidor e conserva a posse em nome deste e em cumprimento de suas ordens. 
 
Por outro lado, em sentido contrário, não se pode dizer que a pessoa que invade terra pública e nela 
constrói sua moradia esteja exercendo a posse em nome do Poder Público. Não está. Além disso, não há 
entre ele e o ente público uma relação de dependência ou de subordinação. Logo, não há que se falar que 
o invasor tenha mera detenção. 
 
O invasor possui animus domni, ou seja, age como se fosse o dono. Sabe-se que as terras públicas não 
estão sujeitas à usucapião, no entanto, mesmo assim o invasor age como se fosse o dono. Isso é 
indiscutível. Na prática, o invasor, na maioria das vezes, nem sabe quem é o proprietário da terra e 
também desconhece que não poderá adquiri-la. Ele simplesmente age como se fosse o dono, de forma 
que isso caracteriza a posse. 
 
Diante desse contexto, é perfeitamente possível que o invasor de terras públicas proponha interditos 
possessórios caso um outro particular tente ou efetivamente consiga tomar-lhe a posse. 
 
Resumindo: 
É cabível o ajuizamento de ações possessórias por parte de invasor de terra pública contra outros 
particulares. 
A ocupação de área pública, sem autorização expressa e legítima do titular do domínio, não pode ser 
confundida com a mera detenção. 
Aquele que invade terras e nela constrói sua moradia jamais exercerá a posse em nome alheio. Não há 
entre ele e o proprietário uma relação de dependência ou subordinação. 
Ainda que a posse não possa ser oposta ao ente público, senhor da propriedade do bem, ela pode ser 
oposta contra outros particulares, tornando admissíveis as ações possessórias entre invasores. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.484.304-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 10/3/2016 (Info 579). 
 
Vale ressaltar que o tema é polêmico e, como se trata apenas de uma decisão da 3ª Turma, não se pode 
afirmar, com convicção, que tenha havido uma mudança de entendimento do STJ sobre o assunto. 
 
 
 
ALIMENTOS 
Protesto e inscrição do nome do devedor de alimentos em cadastros de inadimplentes 
 
Importante!!! 
Em execução de alimentos devidos a filho menor de idade, é possível o protesto e a inscrição 
do nome do devedor em cadastros de proteção ao crédito. 
Mostra-se juridicamente possível o pedido do credor para que seja realizado protesto e 
inclusão do nome do devedor de alimentos nos cadastros de proteção ao crédito (SPC e 
Serasa), como medida executiva a ser adotada pelo magistrado para garantir a efetivação dos 
direitos fundamentais da criança e do adolescente. 
No CPC 2015 existe previsão expressa nesse sentido (art. 528, § 1º e art. 782, §§ 3º e 4º). 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.469.102-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 8/3/2016 (Info 579). 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.533.206-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17⁄11⁄2015. 
 
 
Informativo 579-STJ (17/03 a 01/04/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
O juiz, por meio de sentença em ação de alimentos, determinou que João pagasse R$ 2 mil, mensalmente, 
em favor de seu filho Lucas (17 anos). 
João vinha cumprindo a obrigação. Ocorre que, por estar enfrentando dificuldades financeiras, o pai 
atrasou os últimos pagamentos. 
Diante disso, Lucas ingressou com cumprimento de sentença, nos termos do art. 528 do CPC 2015, 
cobrando a quantia em atraso. 
O juiz mandou intimar o executado pessoalmente para, em 3 dias: 
a) pagar o débito; 
b) provar que o fez (provar que já pagou a dívida); ou 
c) justificar a impossibilidade de efetuá-lo (provar que não tem condições de pagar). 
 
Art. 528. No cumprimento de sentença que condene ao pagamento de prestação alimentícia ou de decisão 
interlocutória que fixe alimentos, o juiz, a requerimento do exequente, mandará intimar o executado 
pessoalmente para, em 3 (três) dias, pagar o débito, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de 
efetuá-lo. 
 
O executado permaneceu inerte, ou seja, não pagou a dívida nem apresentou qualquer justificativa idônea 
para o inadimplemento. 
 
Neste caso, é possível que esta decisão judicial que fixou os alimentos seja levada a protesto e que o 
nome do devedor seja incluído no SPC/SERASA? 
SIM. 
 
Em execução de alimentos devidos a filho menor de idade, é possível o protesto e a inscrição do nome 
do devedor em cadastros de proteção ao crédito. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.469.102-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 8/3/2016 (Info 579). 
 
Há previsão legal para isso? 
CPC 1973 CPC 2015 
Não havia previsão expressa. 
Mesmo assim, o STJ afirmava que isso seria 
possível, sob o argumento de que não havia 
nenhum impedimento legal para que se 
determinasse a negativação do nome do devedor 
de alimentos. 
O art. 19 da Lei de Alimentos (Lei nº 5.478/68) 
prevê que incumbe ao juiz da causa adotar as 
providências necessárias para a execução da 
sentença ou do acordo de alimentos. Isso deve ser 
interpretado da forma mais ampla possível, tendo 
em vista a natureza do direito em discussão, o 
qual, em última análise, visa garantir a 
sobrevivência e a dignidade da criança ou 
adolescente alimentando. 
Ademais, o princípio do melhor interesse da 
criança e do adolescente encontra respaldo 
constitucional (art. 227 da CF/88). 
Se a inscrição do nome do devedor no SPC/SERASA 
pode ser utilizada para resguardar interesses 
Esta possibilidade passou a ser expressamente 
prevista. Veja o que diz o novo CPC: 
Art. 528 (...) 
§ 1º Caso o executado, no prazo referido no caput, 
não efetue o pagamento, não prove que o efetuou 
ounão apresente justificativa da impossibilidade 
de efetuá-lo, o juiz mandará protestar o 
pronunciamento judicial, aplicando-se, no que 
couber, o disposto no art. 517. 
 
Art. 782. Não dispondo a lei de modo diverso, o 
juiz determinará os atos executivos, e o oficial de 
justiça os cumprirá. 
(...) 
§ 3º A requerimento da parte, o juiz pode 
determinar a inclusão do nome do executado em 
cadastros de inadimplentes. 
§ 4º A inscrição será cancelada imediatamente se 
for efetuado o pagamento, se for garantida a 
execução ou se a execução for extinta por 
 
Informativo 579-STJ (17/03 a 01/04/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
bancários e empresariais em geral, com maior 
razão esta medida pode ser utilizada para dívidas 
alimentícias. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.469.102-SP, Rel. Min. Ricardo 
Villas Bôas Cueva, julgado em 8/3/2016 (Info 579). 
qualquer outro motivo. 
§ 5º O disposto nos §§ 3º e 4º aplica-se à execução 
definitiva de título judicial. 
 
 
Obs: vale ressaltar que as decisões do STJ sobre o tema falam em alimentos devidos a filho menor. No 
entanto, o texto do novo CPC traz a previsão de protesto de forma ampla, não se limitando aos casos de 
alimentos devidos a filho menor. 
 
 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO 
Ausência de dano moral in re ipsa pela mera inclusão de valor indevido na fatura de cartão de crédito 
 
Importante!!! 
Não configura dano moral in re ipsa a simples remessa de fatura de cartão de crédito para a 
residência do consumidor com cobrança indevida. 
Para configurar a existência do dano extrapatrimonial, é necessário que se demonstre que a 
operadora de cartão de crédito, além de ter incluído a cobrança na fatura, praticou outras 
condutas que configurem dano moral, como por exemplo: 
a) reiteração da cobrança indevida mesmo após o consumidor ter reclamado; 
b) inscrição do cliente em cadastro de inadimplentes; 
c) protesto da dívida; 
d) publicidade negativa do nome do suposto devedor; ou 
e) cobrança que exponha o consumidor, o submeta à ameaça, coação ou constrangimento. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.550.509-RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 3/3/2016 (Info 579). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João foi surpreendido quando chegou em sua casa a fatura do cartão de crédito. Isso porque ele estava 
sendo cobrado por uma suposta compra de R$ 3 mil, que ele não realizou. 
O consumidor entrou em contato com o serviço de atendimento ao cliente e contestou a cobrança. 
A atendente da operadora do cartão afirmou que iria ser aberto um procedimento interno para apurar o 
ocorrido e que, durante esse período, ele não precisaria pagar essa dívida. 
Depois de dois meses, João foi informado que seu cartão havia sido "clonado" e a cobrança foi 
definitivamente cancelada. 
Vale ressaltar que João não pagou os R$ 3 mil e que a instituição financeira não inscreveu o seu nome nos 
serviços de proteção de crédito (SPC/SERASA). 
 
Ação de indenização por danos morais 
Mesmo tendo recebido a notícia de que a cobrança foi cancelada, João ingressou com ação de indenização 
por danos morais contra a operadora do cartão de crédito alegando que o simples fato de ter sido incluída 
indevidamente a compra em sua fatura já lhe gerou inúmeros transtornos e preocupações. 
O juiz julgou improcedente o pedido, argumentando que João não provou o dano moral sofrido e que o 
simples fato de a empresa ter incluído a dívida na fatura do cartão não é suficiente para caracterizar o 
abalo extrapatrimonial. 
 
Informativo 579-STJ (17/03 a 01/04/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
O autor não desistiu e recorreu contra a sentença sustentando a tese de que o simples fato de a operadora 
do cartão de crédito incluir na fatura uma cobrança indevida contra o consumidor gera dano moral in re 
ipsa (dano moral com prejuízo presumido), não sendo necessária nenhuma outra comprovação. 
 
A tese do autor encontra amparo na jurisprudência do STJ? 
NÃO. 
 
Não configura dano moral in re ipsa a simples remessa de fatura de cartão de crédito para a residência 
do consumidor com cobrança indevida. 
Para configurar a existência do dano extrapatrimonial, é necessário que se demonstre que a operadora 
de cartão de crédito, além de ter incluído a cobrança na fatura, praticou outras condutas que 
configurem dano moral, como por exemplo: 
a) reiteração da cobrança indevida mesmo após o consumidor ter reclamado; 
b) inscrição do cliente em cadastro de inadimplentes; 
c) protesto da dívida; 
d) publicidade negativa do nome do suposto devedor; ou 
e) cobrança que exponha o consumidor, o submeta à ameaça, coação ou constrangimento. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.550.509-RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 3/3/2016 (Info 579). 
 
O simples recebimento de fatura de cartão de crédito na qual incluída cobrança indevida não constitui 
ofensa a direito da personalidade (honra, imagem, privacidade, integridade física); não causa, portanto, 
dano moral objetivo, in re ipsa. 
 
A configuração do dano moral dependerá da consideração de peculiaridades do caso concreto, a serem 
alegadas e comprovadas nos autos. 
 
Esse entendimento é mais compatível com a dinâmica atual das formas de pagamento por meio de cartões 
e internet, os quais facilitam a circulação de bens, mas, por outro lado, ensejam fraudes, as quais, quando 
ocorrem, devem ser coibidas, propiciando-se o ressarcimento do lesado na exata medida do prejuízo. 
 
A banalização do dano moral, em caso de mera cobrança indevida, sem repercussão em direito da 
personalidade, aumentaria o custo da atividade econômica, o qual oneraria, em última análise, o próprio 
consumidor. 
 
Por outro lado, a indenização por dano moral, se comprovadas consequências lesivas à personalidade 
decorrentes da cobrança indevida, como, por exemplo, inscrição em cadastro de inadimplentes, desídia do 
fornecedor na solução do problema ou insistência em cobrança de dívida inexistente, tem a benéfica 
consequência de estimular boas práticas do empresário. 
 
 
 
BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES 
Requisitos para a propositura de ação de exibição de documentos relativos ao Crediscore 
 
Em relação ao sistema credit scoring, o interesse de agir para a propositura da ação cautelar de 
exibição de documentos exige, no mínimo, a prova de: 
i) requerimento para obtenção dos dados ou, ao menos, a tentativa de fazê-lo à instituição 
responsável pelo sistema de pontuação, com a fixação de prazo razoável para atendimento; e 
ii) que a recusa do crédito almejado ocorreu em razão da pontuação que lhe foi atribuída pelo 
sistema Scoring. 
Assim, o consumidor só poderá ingressar com ação cautelar de exibição de documentos pedindo 
 
Informativo 579-STJ (17/03 a 01/04/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
o extrato de sua pontuação no sistema Crediscore se provar esses dois requisitos acima. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.304.736-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/2/2016 (recurso 
repetitivo) (Info 579). 
 
O que é Cresdiscore? 
“Credit scoring”, também chamado de “crediscore” é um sistema ou método utilizado para analisar se será 
concedido ou não crédito ao consumidor que pedir a concessão de um empréstimo ou financiamento. 
No “credit scoring”, a pessoa que está pedindo o crédito é avaliada por meio de fórmulas matemáticas, 
nas quais são consideradas diversas variáveis como a idade, a profissão, a finalidade da obtenção do 
crédito etc. Tais variáveis são utilizadas nas fórmulas matemáticas e, por meio de ferramentas da 
estatística, atribui-se uma espécie de pontuação (nota) para a pessoa que está pedindo o crédito. Quanto 
maior a nota, menor seria o risco de se conceder o crédito para aquele consumidor e, consequentemente,mais fácil para ele conseguir a liberação. 
Algumas das informações que são consideradas como variáveis na fórmula matemática do “credit 
scoring”: idade, sexo, estado civil, profissão, renda, número de dependentes, endereço, histórico de outros 
créditos que pediu etc. 
Com base em estudos estatísticos, concluiu-se que pessoas de determinado sexo, profissão, estado civil, 
idade etc. são mais ou menos inadimplentes. Logo, se o consumidor está incluído nos critérios 
considerados como de “bom pagador”, ele recebe uma pontuação maior. 
 
O “credit scoring” pode ser utilizado no Brasil como sistema de avaliação do risco de concessão de crédito? 
SIM. O STJ entendeu que essa prática comercial é LÍCITA, estando autorizada pelo art. 5º, IV e pelo art. 7º, 
I, da Lei n. 12.414/2011 (Lei do Cadastro Positivo), que, ao tratar sobre os direitos do cadastrado nos 
bancos de dados, menciona indiretamente a possibilidade de existir a análise de risco de crédito. 
Vale ressaltar, no entanto, que para o “credit scoring” ser lícito, é necessário que respeite os limites 
estabelecidos pelo sistema de proteção do consumidor no sentido da tutela da privacidade e da máxima 
transparência nas relações negociais, conforme previsão do CDC e da Lei n. 12.414/2011. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.419.697-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 12/11/2014 (recurso 
repetitivo) (Info 551). 
 
A pessoa que tem seus dados registrados no crediscore tem direito de pedir para saber quais as 
informações a seu respeito que lá constam? 
SIM. Apesar de ser possível a inserção de dados do consumidor no crediscore mesmo sem o seu prévio 
consentimento, caso este solicite, a empresa deverá fornecer esclarecimentos sobre as fontes dos dados 
considerados (histórico de crédito), bem como sobre as informações pessoais que foram valoradas (STJ. 2ª 
Seção. REsp 1419697/RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 12/11/2014. Nesse sentido: 
Súmula 550-STJ: A utilização de escore de crédito, método estatístico de avaliação de risco que não 
constitui banco de dados, dispensa o consentimento do consumidor, que terá o direito de solicitar 
esclarecimentos sobre as informações pessoais valoradas e as fontes dos dados considerados no 
respectivo cálculo. 
 
Feitos os devidos esclarecimentos, imagine a seguinte situação: 
João tentou fazer um crediário em uma loja e esta, após consultar o nome do cliente no Crediscore da 
Câmara de Dirigentes Lojistas (associação de lojistas), negou a concessão do crédito. 
Insatisfeito, João voltou para casa, entrou no site da CDL e no campo chamado “fale conosco” pediu para 
saber qual seria a sua pontuação no Crediscore e a metodologia que eles utilizam. 
A CDL respondeu que atenderia o pleito, mas que esse pedido, por envolver dados pessoais, só poderia ser 
fornecido se fosse feito pessoalmente com a identificação do requerente. 
João não concordou e ajuizou ação cautelar de exibição de documentos contra a CDL requerendo fosse 
disponibilizado extrato contendo sua pontuação e os critérios utilizados pelas lojas no Crediscore. 
A CDL contestou a ação afirmando que falta interesse de agir na demanda. 
 
Informativo 579-STJ (17/03 a 01/04/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
 
O pedido de João deve ser aceito? Existe interesse de agir no caso concreto? 
NÃO. 
 
Em relação ao sistema credit scoring, o interesse de agir para a propositura da ação cautelar de exibição 
de documentos exige, no mínimo, a prova de: 
i) requerimento para obtenção dos dados ou, ao menos, a tentativa de fazê-lo à instituição responsável 
pelo sistema de pontuação, com a fixação de prazo razoável para atendimento; e 
ii) que a recusa do crédito almejado ocorreu em razão da pontuação que lhe foi atribuída pelo sistema 
Scoring. 
Assim, o consumidor só poderá ingressar com ação cautelar de exibição de documentos pedindo o 
extrato de sua pontuação no sistema Crediscore se provar esses dois requisitos acima. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.304.736-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/2/2016 (recurso repetitivo) 
(Info 579). 
 
Em nosso exemplo, o consumidor comprovou que existiu recusa na concessão do crédito em virtude da 
pontuação que ele recebeu no Crediscore. No entanto, não houve resistência em fornecer as informações 
requeridas pelo consumidor. Apenas exigiu-se que ele fizesse o pedido pessoalmente, o que não 
caracteriza recusa. 
 
Além de saber a sua pontuação, o consumidor tem direito de saber qual foi a metodologia utilizada no 
cálculo? 
NÃO. O consumidor terá direito de saber a sua pontuação e as informações pessoais utilizadas. No 
entanto, nem o consumidor nem ninguém terá direito de saber a metodologia de cálculo, ou seja, qual foi 
a fórmula matemática e os dados estatísticos utilizados no “credit scoring”. Isso porque essa fórmula é 
fruto de estudos e investimentos, constituindo segredo da atividade empresarial (art. 5º, IV, da Lei n. 
12.414⁄2011: ..."resguardado o segredo empresarial”). 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.419.697-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 12/11/2014 (recurso 
repetitivo) (Info 551). 
 
 
 
DIREITO NOTARIAL E 
REGISTRAL 
 
PROTESTO 
Intimação por edital e necessidade de esgotamento dos meios de localização do devedor 
 
O tabelião, antes de intimar o devedor por edital, deve esgotar os meios de localização, 
notadamente por meio do envio de intimação por via postal, no endereço fornecido por aquele 
que procedeu ao apontamento do protesto. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.398.356-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Luis 
Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 24/2/2016 (recurso repetitivo) (Info 579). 
 
O que é um protesto de título? 
Protesto de títulos é o ato público, formal e solene, realizado pelo tabelião, com a finalidade de provar a 
inadimplência e o descumprimento de obrigação constante de título de crédito ou de outros documentos 
de dívida. 
O protesto é regulado pela Lei nº 9.492/97. 
 
Informativo 579-STJ (17/03 a 01/04/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
 
Quem é o responsável pelo protesto? 
O tabelião de protesto. 
"O particular não pratica o protesto, mas solicita ao Tabelião que o pratique. Este pode, depois de 
analisar os requisitos formais do documento, negar-se a tal lavratura, caso encontre vício que 
justifique a negativa. 
(...) 
O protesto é, pois, ato do tabelião de Protesto, que o pratica por provocação do interessado, 
depois de respeitado o procedimento legal." (BUENO, Sérgio Luiz. O protesto de títulos e outros 
documentos de dívida. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2011, p. 20 e 21) 
 
Quais são as vantagens do credor realizar o protesto? 
Existem inúmeros efeitos que decorrem do protesto; no entanto, as duas principais vantagens para o 
credor são as seguintes: 
a) serve como meio de provar que o devedor está inadimplente; 
b) funciona como uma forma de coerção para que o devedor cumpra sua obrigação sem que seja 
necessária uma ação judicial (como o protesto lavrado gera um abalo no crédito do devedor, que é inscrito 
nos cadastros de inadimplentes, a doutrina afirma que o receio de ter um título protestado serve como um 
meio de cobrança extrajudicial do débito; ao ser intimado do protesto, o devedor encontra uma forma de 
quitar seu débito). 
 
Procedimento até ser registrado o protesto do título: 
1) o credor leva o título até o tabelionato de protesto e faz a apresentação, pedindo que se proceda ao 
protesto e informando os dados e endereço do devedor; 
2) o tabelião de protesto examina os caracteres formais do título; 
3) se o título não apresentar vícios formais, o tabelião realiza a intimação do suposto devedor no 
endereço apresentado pelo credor (art. 14 da Lei nº 9.492/97); 
4) a intimação é realizada para que o apontado devedor, no prazo de 3 dias, pague ou providenciea 
sustação do protesto antes de ele ser lavrado; 
 
Após a intimação, poderão ocorrer quatro situações: 
4.1) o devedor pagar (art. 19); 
4.2) o apresentante desistir do protesto e retirar o título (art. 16); 
4.3) o protesto ser sustado judicialmente (art. 17); 
4.4) o devedor ficar inerte ou não conseguir sustar o protesto. 
 
5) se ocorrer as situações 4.1, 4.2 ou 4.3: o título não será protestado; 
6) se ocorrer a situação 4.4: o título será protestado (será lavrado e registrado o protesto). 
 
Intimação 
Como vimos acima, o tabelião irá determinar a intimação do devedor para que, no prazo de 3 dias, pague 
ou providencie a sustação do protesto antes de ele ser lavrado. 
As regras da intimação estão previstas nos arts. 14 e 15 da Lei nº 9.492/97. 
 
Regras sobre a intimação: 
 Depois que o apresentante protocoliza no cartório o título ou documento de dívida, o Tabelião de 
Protesto expedirá uma intimação ao devedor. 
 O tabelião pode ir entregar pessoalmente a intimação, pode mandar por um funcionário seu ou 
remeter pelos Correios (o mais comum). 
 A intimação deverá ser entregue no endereço fornecido pelo apresentante do título ou documento. 
Assim, quando uma pessoa vai pedir para que um título seja protestado, ela já tem que levar o 
 
Informativo 579-STJ (17/03 a 01/04/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
endereço do devedor. 
 Para que seja válida, é necessário que fique comprovado que uma pessoa maior e capaz recebeu a 
intimação no endereço do devedor. Para isso, é indispensável que a pessoa que recebeu assine um 
protocolo, aviso de recepção (AR) ou outro documento equivalente. 
 Vale ressaltar, mais uma vez, que, para que a intimação seja válida, basta que ela tenha sido entregue 
para alguém no endereço fornecido pelo apresentante do título ou documento como sendo do 
devedor. A lei não exige que o próprio devedor receba a intimação, bastando que ela seja entregue em 
seu endereço. 
 A intimação deverá conter nome e endereço do devedor, elementos de identificação do título ou 
documento de dívida, e prazo limite para cumprimento da obrigação no Tabelionato, bem como 
número do protocolo e valor a ser pago. 
 
Formas de intimação 
Há duas formas de intimação: 
a) mediante remessa pelo tabelião e entrega no endereço do devedor; 
b) por edital (art. 15). 
 
Hipóteses de intimação por edital 
A intimação será feita por edital se a pessoa indicada para aceitar ou pagar (devedor) for: 
a) desconhecida; 
b) tiver sua localização incerta ou ignorada; 
c) for residente ou domiciliada fora da competência territorial do Tabelionato; ou 
d) caso ninguém se disponha a receber a intimação no endereço fornecido. 
 
Esgotar todos os meios 
Segundo a jurisprudência do STJ, a intimação do protesto por edital somente pode ser considerada meio 
hábil para a caracterização da mora se tiverem sido esgotadas todas as possibilidades de se localizar o 
devedor. 
Assim, se o apresentante tiver fornecido algum endereço do devedor, o tabelião só poderá intimá-lo por 
edital se primeiro tentar enviar a intimação para este endereço e não conseguir que ninguém o receba. 
Este entendimento foi agora reiterado sob a sistemática do recurso repetitivo, fixando-se a seguinte tese: 
 
O tabelião, antes de intimar o devedor por edital, deve esgotar os meios de localização, notadamente 
por meio do envio de intimação por via postal, no endereço fornecido por aquele que procedeu ao 
apontamento do protesto. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.398.356-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Luis Felipe 
Salomão, Segunda Seção, julgado em 24/2/2016 (recurso repetitivo) (Info 579). 
 
Como será a publicidade do edital 
O edital será: 
 afixado no quadro de avisos do cartório do Tabelionato de Protesto; e 
 publicado pela imprensa local onde houver jornal de circulação diária. 
 
Má-fé do apresentante 
Se o apresentante fornecer endereço incorreto, agindo de má-fé, responderá por perdas e danos, sem 
prejuízo de outras sanções civis, administrativas ou penais (art. 15, § 2º). 
 
 
 
 
 
 
Informativo 579-STJ (17/03 a 01/04/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
PROTESTO 
Local onde deverá ser realizado o protesto de cédula de crédito bancário 
garantida por alienação fiduciária 
 
É possível, à escolha do credor, o protesto de cédula de crédito bancário garantida por 
alienação fiduciária, no tabelionato em que se situa a praça de pagamento indicada no título 
ou no domicílio do devedor. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.398.356-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Luis 
Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 24/2/2016 (recurso repetitivo) (Info 579). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João recebeu mútuo bancário de R$ 100 mil e emitiu em favor da instituição financeira uma Cédula de 
Crédito Bancário (CCB). 
Além disso, como garantia, ele fez a cessão fiduciária para o banco de um caminhão. Em outras palavras, 
João cedeu fiduciariamente o veículo para o banco. Se ele pagasse o empréstimo, o banco "devolveria" o 
bem; caso se tornasse inadimplente, o banco se tornaria, em definitivo, proprietário do caminhão. 
 
Cédula de Crédito Bancário com garantia 
A Cédula de Crédito Bancário (CCB) é um título de crédito extremamente comum na atividade empresarial, 
estando disciplinada nos arts. 26 a 45 da Lei nº 10.931/2004. 
Quando uma pessoa física ou jurídica adquire um empréstimo bancário, a instituição financeira exige que 
este mutuário emita, em favor do banco, uma cédula de crédito bancário, que é um papel no qual o 
emitente se compromete a pagar para o beneficiário determinada quantia ali prevista. 
Este papel (CCB) fica em poder do credor. Caso o emitente não cumpra a sua promessa e não pague a dívida no 
prazo, o credor poderá executar a CCB, que é um título de crédito e, portanto, título executivo extrajudicial. 
A CCB poderá ser emitida com ou sem garantia (art. 27 da Lei nº 10.931/2004). Em caso de empréstimo de 
pequenos valores, os bancos normalmente não exigem garantia, bastando a CCB, que é, como vimos, 
título executivo. No entanto, se a quantia for grande, as instituições exigem que o mutuário, além de 
emitir a cédula, forneça uma garantia (ex: hipoteca de um bem imóvel, cessão fiduciária de bens móveis 
etc.). Em nosso exemplo, o banco exigiu a garantia. 
 
Voltando ao exemplo: 
João deixou de pagar as prestações do empréstimo e tornou-se inadimplente. 
Diante disso, o banco levou o título para ser protestado pelo Tabelionato de Protesto. 
Vale ressaltar que João morava em Campinas, o banco se situava em São Bernardo e, no título, estava 
indicado São Paulo (capital) como praça (local) de pagamento do título. 
 
Diante desta diversidade de locais, indaga-se: onde deverá ser lavrado este protesto? 
Em São Paulo (capital) ou em Campinas. 
 
Segundo tese fixada pelo STJ em recurso repetitivo: 
É possível, à escolha do credor, o protesto de cédula de crédito bancário garantida por alienação fiduciária, 
no tabelionato em que se situa a praça de pagamento indicada no título ou no domicílio do devedor. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.398.356-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Luis Felipe 
Salomão, Segunda Seção, julgado em 24/2/2016 (recurso repetitivo) (Info 579). 
 
A determinação para que o protesto seja feito no local indicado pelo título como praça de pagamento está 
prevista no art. 28, parágrafo único, do Decreto 2.044/1908: 
Art. 28. A letra que houver de ser protestada por falta de aceite ou de pagamento deve ser entregue ao 
oficial competente, no primeiro dia útil que se seguir ao da recusa do aceite ou ao do vencimento, e o 
respectivo protesto, tirado dentro de três dias úteis. 
 
Informativo 579-STJ (17/03 a 01/04/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
Parágrafoúnico. O protesto deve ser tirado do lugar indicado na letra para o aceite ou para o pagamento. 
Sacada ou aceita a letra para ser paga em outro domicílio que não o do sacado, naquele domicílio deve ser 
tirado o protesto. 
 
Também pode ser admitido que o protesto ocorra no domicílio do devedor porque isso se mostra mais 
vantajoso para ele, de forma que não poderá invocar qualquer nulidade no ato. 
 
 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
 
PROTESTO 
Intimação por edital e necessidade de esgotamento dos meios de localização do devedor 
 
O tabelião, antes de intimar o devedor por edital, deve esgotar os meios de localização, 
notadamente por meio do envio de intimação por via postal, no endereço fornecido por aquele 
que procedeu ao apontamento do protesto. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.398.356-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Luis 
Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 24/2/2016 (recurso repetitivo) (Info 579). 
 
Veja comentários em Direito Notarial e Registral. 
 
 
 
PROTESTO 
Local onde deverá ser realizado o protesto de cédula de crédito bancário 
garantida por alienação fiduciária 
 
É possível, à escolha do credor, o protesto de cédula de crédito bancário garantida por 
alienação fiduciária, no tabelionato em que se situa a praça de pagamento indicada no título 
ou no domicílio do devedor. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.398.356-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Luis 
Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 24/2/2016 (recurso repetitivo) (Info 579). 
 
Veja comentários em Direito Notarial e Registral. 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
PROCESSO COLETIVO 
Legitimidade ativa de associação para defender os interesses de seus filiados 
 
Importante!!! 
A associação não tem legitimidade ativa para defender os interesses dos associados que 
vierem a se agregar somente após o ajuizamento da ação de conhecimento. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.468.734-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 1º/3/2016 (Info 579). 
 
Informativo 579-STJ (17/03 a 01/04/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
 
AÇÃO COLETIVA PROPOSTA POR ASSOCIAÇÃO EM FAVOR DE SEUS FILIADOS 
As associações podem propor ações coletivas em favor dos seus associados? 
SIM. A CF/88 autoriza que as associações façam a defesa, judicial ou extrajudicial, dos direitos e interesses 
individuais e coletivos de seus associados (art. 5º, XXI, da CF/88). 
 
A associação precisa da autorização dos associados para propor a ação na defesa de seus interesses? 
SIM. O inciso XXI do art. 5º da CF/88 exige que as associações tenham sido expressamente autorizadas. Veja: 
Art. 5º (...) 
XXI — as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar 
seus filiados judicial ou extrajudicialmente; 
 
Qual é a amplitude da locução “expressamente autorizadas”? Essa autorização pode ser genericamente 
prevista no estatuto ou deverá ser uma autorização para cada ação a ser proposta? 
Para o STF, a autorização estatutária genérica conferida à associação não é suficiente para legitimar a sua 
atuação em juízo na defesa de direitos de seus filiados. Assim, para cada ação a ser proposta, é 
indispensável que os filiados a autorizem de forma expressa e específica. 
 
Vejamos o seguinte exemplo (com adaptações): 
A Associação do Ministério Público de Santa Catarina (ACMP) ajuizou ação pedindo o pagamento de 
determinada verba aos seus filiados. Acompanhando a petição inicial, a ACMP juntou declarações de 
diversos associados autorizando que fosse proposta a ação. 
O pedido foi julgado procedente e transitou em julgado. 
Diante disso, vários Promotores de Justiça ingressaram com execuções individuais cobrando a gratificação 
reconhecida na sentença. 
Ocorre que o juiz somente aceitou a execução proposta pelos filiados que haviam autorizado expressamente o 
ajuizamento da ação. Quanto aos associados que não assinaram a autorização, a execução não foi conhecida 
pelo juiz sob o argumento de que os efeitos da sentença judicial transitada em julgado somente alcançam os 
associados (no caso, Promotores) que, na data da propositura da ação de conhecimento, autorizaram 
expressamente que a associação ingressasse com a demanda. Em suma, para o magistrado, somente tem 
direito de executar a decisão os filiados que autorizaram a propositura da ação. 
 
Tese dos associados 
Os filiados prejudicados com a decisão recorreram alegando que o estatuto social já autoriza que a 
associação ingresse com ações em favor de seus filiados, de forma que não seria necessária uma 
autorização específica para cada demanda a ser proposta. 
Sustentaram que o art. 5º, XXI, da CF/88 não exige que se colha uma autorização individual dos filiados 
para cada ação ajuizada pelas associações, sob pena de se esvaziar a atribuição de tais entidades na defesa 
dos seus membros. 
Aduziram, ainda, que a associação atuou na qualidade de substituto processual, razão pela qual não seria 
necessária a autorização, considerando que isso já consta expressamente de seu estatuto. 
 
O STF concordou com os argumentos invocados pelos filiados? 
NÃO. Segundo decidiu o STF, a autorização estatutária genérica conferida à associação não é suficiente 
para legitimar a sua atuação em juízo na defesa de direitos de seus filiados. Assim, para cada ação a ser 
proposta, é indispensável que os filiados autorizem de forma expressa e específica a demanda. 
Essa é a interpretação que deve ser dada ao inciso XXI do art. 5º da CF/88: 
Art. 5º (...) 
XXI — as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar 
seus filiados judicial ou extrajudicialmente; 
 
Informativo 579-STJ (17/03 a 01/04/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
 
O tema foi decidido pelo STF em sede de repercussão geral, tendo sido firmada a seguinte tese: 
O disposto no artigo 5º, inciso XXI, da Carta da República encerra representação específica, não 
alcançando previsão genérica do estatuto da associação a revelar a defesa dos interesses dos 
associados. 
As balizas subjetivas do título judicial, formalizado em ação proposta por associação, é definida pela 
representação no processo de conhecimento, presente a autorização expressa dos associados e a lista 
destes juntada à inicial. 
STF. Plenário. RE 573232/SC, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, 
julgado em 14/5/2014 (Info 746). 
 
Como deverá ser feita essa autorização? 
A autorização poderá ser manifestada: 
 por declaração individual do associado; ou 
 por aprovação na assembleia geral da entidade. 
 
Logo, no caso concreto, como não foi aprovada na assembleia geral da entidade, somente os associados 
que apresentaram, na data da propositura da ação de conhecimento, autorizações individuais expressas, 
puderam executar o título judicial proferido na ação coletiva. 
 
Conforme deixou claro o STF, essa autorização é um traço que distingue a legitimidade das entidades 
associativas (art. 5º, XXI) em relação à legitimidade das entidades sindicais (art. 8º, III). 
 
A regra acima exposta apresenta alguma exceção? A associação precisará da autorização expressa para 
toda e qualquer ação a ser proposta? 
Existe exceção. No caso de impetração de mandado de segurança coletivo, a associação não precisa de 
autorização específica dos filiados. Veja o que diz a CF/88: 
Art. 5º (...) 
LXX — o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: 
(...) 
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há 
pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados; 
 
Súmula 629-STF: A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos 
associados independe da autorização destes. 
 
Quadro-resumo: 
As associaçõesprecisam de autorização específica de seus filiados 
para o ajuizamento de ações em defesa destes? 
Regra geral: SIM 
A autorização estatutária genérica conferida à 
associação não é suficiente para legitimar a sua 
atuação em juízo na defesa de direitos de seus 
filiados. Para cada ação, é indispensável que os 
filiados autorizem, de forma expressa e específica, 
a demanda. 
Exceção: MS coletivo 
No caso de impetração de mandado de segurança 
coletivo, a associação não precisa de autorização 
específica dos filiados. 
 
O inciso XXI do art. 5º da CF/88 exige autorização 
expressa. 
Trata-se de hipótese de legitimação processual (a 
associação defende, em nome dos filiados, direito 
dos filiados que autorizaram). 
O inciso LXX do art. 5º da CF/88 NÃO exige 
autorização expressa. 
Trata-se de hipótese de legitimação extraordinária 
(substituição processual), ou seja, a associação 
defende, em nome próprio, direito dos filiados. 
 
Informativo 579-STJ (17/03 a 01/04/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
 
AÇÃO COLETIVA PROPOSTA POR ASSOCIAÇÃO EM FAVOR DE SEUS FILIADOS ATUAIS E FUTUROS: IMPOSSIBILIDADE 
A associação dos Auditores Fiscais ajuizou ação coletiva pedindo que a União fosse condenada a pagar a 
gratificação "X" a todos os Auditores filiados à associação, bem como àqueles que vierem a se associar 
até o momento da execução do título judicial. Esse pedido poderá ser conhecido? 
NÃO. 
 
A associação não tem legitimidade ativa para defender os interesses dos associados que vierem a se 
agregar somente após o ajuizamento da ação de conhecimento. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.468.734-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 1º/3/2016 (Info 579). 
 
Conforme foi definido pelo STF, "as balizas subjetivas do título judicial, formalizado em ação proposta por 
associação, é definida pela representação no processo de conhecimento, presente a autorização expressa 
dos associados e a lista destes juntada à inicial." (STF. Plenário. RE 573232/SC, rel. orig. Min. Ricardo 
Lewandowski, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em 14/5/2014. Info 746). 
 
Em palavras mais simples, no momento em que a associação ajuíza a demanda, ela deverá juntar aos 
autos autorização expressa dos associados para a propositura dessa ação e uma lista com os nomes de 
todos as pessoas que estão associadas naquele momento. 
 
A associação não tem legitimidade ativa para defender os direitos de pessoas que, depois da propositura 
da ação, vierem a se agregar à entidade. 
 
Caso a ação seja julgada procedente, o título executivo irá beneficiar apenas os associados cujos nomes 
estão na lista de filiados juntada com a petição inicial. Só essas pessoas é que poderão executar o título. 
 
 
 
DIREITO PENAL 
 
DOSIMETRIA DA PENA / CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
Advogado que atua como advogado dativo, por força de convênio com o Poder Público, é 
funcionário público para fins penais 
Vulnerabilidade emocional e psicológica da vítima como circunstância negativa na dosimetria da pena 
 
Neste julgado, foram expostas duas conclusões que merecem destaque: 
I - O advogado que, por força de convênio celebrado com o Poder Público, atua de forma 
remunerada em defesa dos hipossuficientes agraciados com o benefício da assistência judiciária 
gratuita, enquadra-se no conceito de funcionário público para fins penais. Sendo equiparado a 
funcionário público, é possível que responda por corrupção passiva (art. 312 do CP). 
II - O fato de o agente ter se aproveitado, para a prática do crime, da situação de 
vulnerabilidade emocional e psicológica da vítima decorrente da morte de seu filho em razão 
de erro médico pode constituir motivo idôneo para a valoração negativa de sua culpabilidade. 
STJ. 5ª Turma. HC 264.459-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/3/2016 (Info 579). 
 
Convênio do Estado de SP com a OAB/SP para prestação de serviços jurídicos enquanto não havia DPE 
Em São Paulo, durante um bom tempo, não havia Defensoria Pública estruturada. Diante disso, havia um 
convênio do Governo do Estado com a OAB/SP, por meio do qual advogados se cadastravam para atuar 
como "defensores dativos". 
 
Informativo 579-STJ (17/03 a 01/04/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
Assim, quando uma pessoa hipossuficiente precisava de assistência jurídica, como ainda não havia 
Defensoria Pública, ela procurava a OAB/SP, que a encaminhava a um advogado conveniado. Este 
advogado prestava assistência jurídica e sua remuneração por este serviço não seria paga pela pessoa 
interessada, mas sim pelos cofres públicos. 
 
Feito esse esclarecimento, imagine a seguinte situação hipotética: 
Maria procurou a OAB/SP para ajuizar ação de indenização por danos morais contra determinado médico 
que, por negligência, causou a morte de seu filho. Foi, então, designado o Dr. João para atender Maria. 
Conforme já explicado, o Dr. João iria ser remunerado pelo Governo do Estado. Apesar disso, solicitou R$ 2 
mil diretamente de Maria para ajuizar a demanda alegando que seriam seus honorários. 
A cobrança indevida foi descoberta e o advogado foi denunciado pela prática do crime de corrupção 
passiva (art. 312 do CP). 
Em sua defesa, alegou que não poderia ter cometido corrupção passiva, considerando que não se 
enquadrava no conceito de funcionário público. 
 
A tese do advogado foi aceita pelo STJ? 
NÃO. 
 
O advogado que, por força de convênio celebrado com o Poder Público, atua de forma remunerada 
em defesa dos hipossuficientes agraciados com o benefício da assistência judiciária gratuita, enquadra-
se no conceito de funcionário público para fins penais. 
Sendo equiparado a funcionário público, é possível que responda por corrupção passiva (art. 312 do CP). 
STJ. 5ª Turma. HC 264.459-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/3/2016 (Info 579). 
 
Retornando ao exemplo: 
Na primeira fase da dosimetria da pena, o juiz aumentou a pena-base sob o argumento de que o réu, 
sabedor da situação de vulnerabilidade emocional da assistida, mãe, que acabara de perder seu filho e que 
objetivava a reparação por danos morais e materiais contra àqueles que haviam sido os responsáveis pela 
morte de seu filho, se aproveitou desta situação de abalo psicológico para perpetrar sua conduta e obter 
maior ganho que aquele que já lhe era devido pela celebração do convênio. 
Assim, o magistrado afirmou que a culpabilidade, assim entendida como reprovabilidade do crime, foi 
intensa (muito elevada). 
 
Esse argumento é válido? O juiz poderia ter decidido dessa forma? 
SIM. 
 
O fato de o agente ter se aproveitado, para a prática do crime, da situação de vulnerabilidade emocional 
e psicológica da vítima decorrente da morte de seu filho em razão de erro médico pode constituir 
motivo idôneo para a valoração negativa de sua culpabilidade. 
STJ. 5ª Turma. HC 264.459-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/3/2016 (Info 579). 
 
É possível a valoração negativa da circunstância judicial da culpabilidade com base em elementos 
concretos e objetivos, constantes dos autos, que demonstrem que o comportamento do réu é merecedor 
de maior reprovabilidade, de maneira a restar caracterizado que a conduta delituosa extrapolou os limites 
naturais próprios à execução do crime. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Informativo 579-STJ (17/03 a 01/04/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA 
Tipicidade da omissão na apresentação de declaração ao Fisco 
 
Se o contribuinte deixa de apresentar declaração ao Fisco com o fim de obter a redução ou 
supressão de tributo e consegue atingir o resultado almejado, tal conduta consubstancia crime 
de sonegação fiscal, na modalidade do inciso I do art. 1º da Lei nº 8.137/90. 
A constituição do crédito tributário,por vezes, depende de uma obrigação acessória do 
contribuinte, como a declaração do fato gerador da obrigação tributária (lançamento por 
declaração). Se o contribuinte não realiza tal ato com vistas a não pagar o tributo devido ou a 
reduzir o seu valor, comete o mesmo crime daquele que presta informação incompleta. 
A circunstância de o Fisco dispor de outros meios para constituir o crédito tributário, ante a 
omissão do contribuinte em declarar o fato gerador, não afasta a tipicidade da conduta; o 
arbitramento efetivado é uma medida adotada pelo Fisco para reparar a evasão decorrente da 
omissão e uma evidência de que a conduta omissiva foi apta a gerar a supressão ou, ao menos, 
a redução do tributo na apuração. 
Assim, segundo entendeu o STJ, a omissão na entrega da antiga Declaração de Informações 
Econômico-Fiscais da Pessoa Jurídica (DIPJ) consubstanciava conduta apta a firmar a 
tipicidade do crime de sonegação fiscal previsto no art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90, ainda que o 
Fisco dispusesse de outros meios para a constituição do crédito tributário. Obs: a DIPJ foi 
substituída pela Escrituração Contábil Fiscal (ECF). 
STJ. 6ª Turma. REsp 1.561.442-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/2/2016 (Info 579). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João, sócio-gerente da empresa "XX", deixou de apresentar, no exercício de 2010, a Declaração de 
Informações Econômico-Fiscais da Pessoa Jurídica (DIPJ) relativa ao ano-calendário 2009, omitindo a 
escrituração necessária de tal período referente ao faturamento da referida empresa, acarretando 
supressão de tributos (IRPJ, Cofins, PIS, IPI e CSLL). 
Diante disso, a Receita Federal instaurou processo administrativo-tributário e, ao final, fez a constituição 
definitiva do crédito tributário. 
O Ministério Público Federal denunciou João pela suposta prática do crime tipificado no art. 1º, I, da Lei nº 
8.137/90: 
Art. 1º Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e 
qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: 
I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias; 
(...) 
Pena - reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. 
 
Em que consiste o delito: 
- O agente deixa de fornecer uma informação que deveria fazer; 
- ou presta declaração errada 
- às autoridades responsáveis pela arrecadação tributária 
- e, por conta disso, ele acaba deixando de pagar o tributo 
- ou pagando um valor menor do que seria o devido. 
 
DIPJ 
A Declaração de Informações Econômico-Fiscais da Pessoa Jurídica (DIPJ) era uma declaração que deveria 
ser prestada por quase todas as pessoas jurídicas de direito privado domiciliadas no País, registradas ou 
não, estivessem ou não sujeitas ao pagamento do imposto de renda. Existiam algumas pessoas jurídicas 
que estavam dispensadas, mas não interessa para o caso. 
Por meio da DIPJ, as pessoas jurídicas apresentavam, anualmente, a declaração de seus rendimentos (DIPJ) 
 
Informativo 579-STJ (17/03 a 01/04/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
compreendendo o resultado das operações do período de 01 de janeiro a 31 de dezembro do ano anterior 
ao da declaração. 
A partir de 2014, a DIPJ foi extinta e em seu lugar surgiu a ECF – Escrituração Contábil Fiscal. 
 
Tese defensiva 1 
A defesa alegou que a omissão na entrega da Declaração de Informações Econômico-Fiscais da Pessoa 
Jurídica (DIPJ) não configura, por si só, a omissão fraudulenta descrita na norma penal. 
Para a defesa, só haveria o crime se o agente tivesse apresentado a DIPJ, mas omitido nela as informações 
acerca dos fatos geradores da obrigação tributária. 
A não apresentação da declaração, em sua integralidade, não consubstancia o tipo penal, que somente se 
aperfeiçoa quando há uma conduta fraudulenta do contribuinte que presta informações em 
desconformidade com a realidade, com o fim de reduzir a base de cálculo da exação e, 
consequentemente, eximir-se, total ou parcialmente, de pagar o tributo. 
 
Tese defensiva 2 
O outro argumento sustentado pela defesa foi o de que o Fisco conseguiu arbitrar o valor do tributo 
devido mesmo na falta da declaração. Logo, segundo alegou o réu, essa declaração era desnecessária para 
a constituição do crédito tributário, não tendo o condão de evitar o pagamento do tributo. 
 
As teses da defesa foram aceitas pelo STJ? 
NÃO. 
 
Quanto à tese 1 
O art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90 não pune apenas a conduta do contribuinte que presta a declaração e nela omite 
informação ou presta informação falsa que leve à supressão ou redução de tributo. Referido tipo penal pune 
também a conduta do contribuinte que deixa de prestar a declaração que devia prestar, acarretando, da 
mesma forma, com sua conduta omissiva a supressão ou redução de tributo, como no caso. 
 
Ao descumprir a obrigação tributária de entregar a declaração ao Fisco, o agente incidiu no crime em 
questão, na modalidade omissão (1ª parte do inciso I), que se consuma independente da prestação de 
informações falsas. 
 
O crime de sonegação fiscal, na modalidade do inciso I do art. 1º da Lei nº 8.137/90, dispensa a 
demonstração de que houve fraude ou falsidade, já que, pela leitura do dispositivo, é possível deduzir que 
a simples omissão, apta a acarretar a supressão ou redução de tributo, revela-se suficiente, em tese, para 
a prática do crime. 
 
Quando o inciso I fala em "omissão", isso pode acontecer de duas formas: 
 o agente apresenta a declaração, mas omite uma informação que nela deveria constar; ou 
 o agente simplesmente não apresenta a declaração. 
 
Se, ao praticar uma dessas duas espécies de omissão, o agente atingir o resultado almejado (supressão ou 
redução de tributo), o crime estará consumado. 
 
Muitas vezes, a constituição do crédito tributário depende de uma obrigação acessória do contribuinte, 
como declarar um fato gerador da obrigação tributária (lançamento por declaração). Se o contribuinte não 
realiza tal ato a fim de evitar o pagamento do tributo devido, ele comete o mesmo crime daquele que 
presta informação incompleta. 
 
A tese da defesa não merece prosperar, já que não tem lógica punir quem apresenta a declaração, mas 
omite alguma informação e livrar aquele que nem sequer apresenta a declaração. 
 
 
 
Informativo 579-STJ (17/03 a 01/04/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
Para configurar o crime, exige-se: não apresentação + dolo + resultado material 
É importante fazer um esclarecimento: nem sempre que a pessoa deixar de apresentar a declaração que a 
lei exige haverá a consumação do crime do art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90. Isso porque é indispensável que o 
Ministério Público também demonstre o dolo do agente, ou seja, é necessário que fique provado que o 
réu praticou essa conduta com o objetivo de suprimir ou reduzir tributo. 
Além disso, é preciso que o resultado almejado tenha sido efetivamente alcançado porque se trata de 
crime material. 
 
Quanto à tese 2 
O Fisco sempre possuirá meios de apurar o valor do tributo devido mesmo que o contribuinte tenha deixado 
de prestar a declaração. Isso porque a administração tributária cria mecanismos para evitar a evasão fiscal. 
Vale ressaltar, no entanto, que o simples fato de existirem tais mecanismos não significa que a omissão do 
contribuinte seja atípica, até porque eles podem falhar e, de fato, ocorrer a supressão do tributo. 
Além disso, o arbitramento realizado pelo Fisco para constituir o crédito tributário diante da omissão do 
contribuinte em declarar o fato gerador é uma medida para reparar o dano causado pela omissão, sendo 
uma evidência de que a conduta omissiva gerou uma supressão ou redução do tributo. 
 
Resumindo: 
Se o contribuinte deixa de apresentar declaração ao Fisco com o fim de obter a redução ou supressão de 
tributo e consegue atingiro resultado almejado, tal conduta consubstancia crime de sonegação fiscal, na 
modalidade do inciso I do art. 1º da Lei nº 8.137/90. 
A constituição do crédito tributário, por vezes, depende de uma obrigação acessória do contribuinte, 
como a declaração do fato gerador da obrigação tributária (lançamento por declaração). Se o 
contribuinte não realiza tal ato com vistas a não pagar o tributo devido ou a reduzir o seu valor, comete 
o mesmo crime daquele que presta informação incompleta. 
A circunstância de o Fisco dispor de outros meios para constituir o crédito tributário, ante a omissão do 
contribuinte em declarar o fato gerador, não afasta a tipicidade da conduta; o arbitramento efetivado é 
uma medida adotada pelo Fisco para reparar a evasão decorrente da omissão e uma evidência de que a 
conduta omissiva foi apta a gerar a supressão ou, ao menos, a redução do tributo na apuração. 
Assim, segundo entendeu o STJ, a omissão na entrega da antiga Declaração de Informações Econômico-
Fiscais da Pessoa Jurídica (DIPJ) consubstanciava conduta apta a firmar a tipicidade do crime de sonegação 
fiscal previsto no art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90, ainda que o Fisco dispusesse de outros meios para a 
constituição do crédito tributário. Obs: a DIPJ foi substituída pela Escrituração Contábil Fiscal (ECF). 
STJ. 6ª Turma. REsp 1.561.442-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/2/2016 (Info 579). 
 
 
 
CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA 
A extinção do crédito tributário pela prescrição não influencia 
na ação penal por crime contra a ordem tributária 
 
Importante!!! 
O reconhecimento de prescrição tributária em execução fiscal não é capaz de justificar o 
trancamento de ação penal referente aos crimes contra a ordem tributária previstos nos 
incisos I a IV do art. 1º da Lei nº 8.137/90. 
A constituição regular e definitiva do crédito tributário é suficiente para tipificar as condutas 
previstas no art. 1º, I a IV, da Lei nº 8.137/90, não influenciando em nada, para fins penais, o 
fato de ter sido reconhecida a prescrição tributária. 
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 202.617/DF, Rel. Min. Campos Marques (Des. Conv. do TJ/PR), julgado 
em 11/04/2013. 
STJ. 6ª Turma. RHC 67.771-MG, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 10/3/2016 (Info 579). 
 
Informativo 579-STJ (17/03 a 01/04/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
 
Lei 8.137/90 
A Lei n. 8.137/90, em seus arts. 1º e 3º, define crimes contra a ordem tributária. 
O art. 1º prevê o delito de sonegação fiscal, que é um crime tributário MATERIAL (com exceção do inciso V, 
que é formal). 
Art. 1º Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e 
qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: 
I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias; 
II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de qualquer 
natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal; 
III - falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro documento relativo 
à operação tributável; 
IV - elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ou inexato; 
V - negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento equivalente, relativa a 
venda de mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em desacordo com a 
legislação. 
Pena - reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. 
 
Quando se consuma o crime tributário material? 
O crime tributário material somente se consuma quando houver a constituição definitiva do crédito 
tributário, nos termos da SV 24-STF: 
Súmula vinculante 24-STF: Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no artigo 1º, 
incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo. 
 
Termo inicial da prescrição penal 
Como antes da constituição definitiva do crédito tributário ainda não existe crime, somente com o 
lançamento definitivo é que se inicia a contagem do prazo de prescrição penal. 
Assim, a fluência do prazo prescricional dos crimes contra a ordem tributária, previstos no art. 1º, incisos I 
a IV, da Lei n. 8.137/90, somente tem início após a constituição do crédito tributário, o que se dá com o 
encerramento do procedimento administrativo-fiscal e o lançamento definitivo (STJ. 5ª Turma. AgRg no 
REsp 1217773/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 20/05/2014). 
No caso do inciso V, por se tratar de crime formal, não se exige a constituição definitiva do crédito 
tributário para início da prescrição. 
 
Feitos esses esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética: 
João suprimiu imposto de renda prestando declaração falsa às autoridades fazendárias. 
Em 2010, o processo administrativo-fiscal foi concluído e houve a constituição definitiva do crédito 
tributário. 
Em virtude do excesso de trabalho, a Receita Federal somente em 2016 comunicou o MPF e a 
Procuradoria da Fazenda Nacional que houve a constituição definitiva, enviando cópia integral do processo 
administrativo. 
A PFN ingressou com execução fiscal contra João cobrando a dívida tributária. 
O MPF ofereceu denúncia criminal contra João pela prática do art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90. 
 
Há prescrição no presente caso? 
Sob o ponto de vista tributário, sim. Isso porque o art. 174 do CTN prevê o prazo prescricional de 5 anos, 
nos seguintes termos: 
Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos, contados da data da sua 
constituição definitiva. 
 
 
Informativo 579-STJ (17/03 a 01/04/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 25 
Sob o ponto de vista penal, não. Como a pena máxima do delito é de 5 anos, a pretensão punitiva somente 
prescreve em 12 anos, conforme previsto no art. 109, III, do CP: 
Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1º do art. 110 
deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: 
(...) 
III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a oito; 
 
O juiz da vara de execuções fiscais julgou improcedente a execução fiscal, extinguindo o processo com 
resolução do mérito em virtude da prescrição. 
O juiz da vara criminal recebeu a denúncia. 
 
Diante disso, a defesa de João impetrou habeas corpus contra a decisão do juiz criminal alegando que a a 
prescrição tributária tem duplo efeito: 
 processual, porque extingue a possibilidade de cobrança judicial da dívida (art. 174 do CTN); e 
 material, considerando que a prescrição no direito tributário extingue o próprio crédito tributário, nos 
termos do art. 156, V, do CTN: 
Art. 156. Extinguem o crédito tributário: 
V - a prescrição e a decadência; 
 
Assim, quando é reconhecida a prescrição tributária, o próprio crédito tributário deixa de existir. Não 
havendo crédito tributário, o direito penal, ultima ratio, não deve atuar. 
 
A tese da defesa encontra amparo na jurisprudência do STJ? 
NÃO. 
 
O reconhecimento de prescrição tributária em execução fiscal não é capaz de justificar o trancamento de 
ação penal referente aos crimes contra a ordem tributária previstos nos incisos II e IV do art. 1º da Lei nº 
8.137/90. 
A constituição regular e definitiva do crédito tributário é suficiente para tipificar as condutas previstas 
no art. 1º, I a IV, da Lei nº 8.137/90, não influenciando em nada, para fins penais, o fato de ter sido 
reconhecida a prescrição tributária. 
STJ. 6ª Turma. RHC 67.771-MG, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 10/3/2016 (Info 579). 
 
As esferas penal e tributária são independentes. Assim, o fato de ter escoado o prazo para a cobrança do 
crédito tributário em razão da prescrição, não significa que o crime tributárionão se consumou. Ao 
contrário, a prescrição no direito tributário é um fenômeno que só ocorre após ter havido a constituição 
do crédito tributário. 
 
O delito de sonegação fiscal se consuma no momento do trânsito em julgado do processo administrativo-
fiscal. Neste instante, há a constituição definitiva do crédito tributário e o crime tributário se consuma. 
 
Por essa razão, uma vez regular e definitivamente constituído o crédito tributário, sua eventual extinção 
na esfera tributária, pela prescrição (art. 156 do CTN), em nada afeta o jus puniendi estatal, que também 
resta ileso diante da prescrição para a ação de cobrança do referido crédito (art. 174 do CTN). 
 
Em suma, as instâncias administrativo-tributária, cível e penal são independentes, o que significa que a 
extinção do crédito tributário pela prescrição não implica, necessariamente, a extinção da punibilidade do 
agente (STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 202.617/DF, Rel. Min. Campos Marques (Des. Conv. do TJ/PR), 
julgado em 11/04/2013). 
 
Precedente citado do STJ: AgRg no AREsp 202.617-DF, Quinta Turma, DJe 16/4/2013. Precedente citado do 
STF: HC 116.152-PE, Segunda Turma, DJe de 7/5/2013. 
 
 
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DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
NULIDADES 
Inexigibilidade de termo de recurso ou de renúncia na intimação pessoal do acusado 
 
No momento da intimação pessoal do acusado acerca de sentença condenatória ou de 
pronúncia, a não apresentação do termo de recurso ou de renúncia não gera nulidade do ato. 
Essa exigência não está prescrita em lei, de modo que a sua ausência não pode ser invocada 
como hábil a anular o ato de intimação. 
Dessa forma, a ausência desse documento não é causa de nulidade, especialmente quando há 
advogado constituído que, embora regularmente cientificado, não interpôs o recurso voluntário. 
STJ. 5ª Turma. RHC 61.365-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 3/3/2016 (Info 579). 
 
Imagine a seguinte situação adaptada: 
João foi pronunciado pela prática de homicídio. 
O juiz determinou a intimação pessoal do réu (preso) e do seu advogado, nos termos do art. 420 do CPP: 
Art. 420. A intimação da decisão de pronúncia será feita: 
I – pessoalmente ao acusado, ao defensor nomeado e ao Ministério Público; 
II – ao defensor constituído, ao querelante e ao assistente do Ministério Público, na forma do disposto no 
§ 1º do art. 370 deste Código. 
Parágrafo único. Será intimado por edital o acusado solto que não for encontrado. 
 
Tanto o réu como seu advogado foram intimados. Passou o prazo e o réu, por intermédio de seu 
advogado, não interpôs recurso contra a decisão de pronúncia. 
 
Alguns dias depois, o advogado impetrou habeas corpus alegando que, no momento da intimação do réu, 
o oficial de justiça deveria ter indagado a ele se desejava ou não recorrer da decisão. 
Caso o réu afirmasse que queria recorrer, o oficial deveria fazê-lo assinar um termo de recurso. 
Se o acusado, por outro lado, revelasse que não tinha esta intenção, o meirinho deveria lhe dar um termo 
de renúncia para assinar. 
Como não houve este procedimento, a intimação teria sido nula. 
 
A tese do advogado encontra amparo na jurisprudência do STJ? 
NÃO. 
 
No momento da intimação pessoal do acusado acerca de sentença condenatória ou de pronúncia, a não 
apresentação do termo de recurso ou de renúncia não gera nulidade do ato. Essa exigência não está 
prescrita em lei, de modo que a sua ausência não pode ser invocada como hábil a anular o ato de intimação. 
Dessa forma, a ausência desse documento não é causa nulidade, especialmente quando há advogado 
constituído que, embora regularmente cientificado, não interpôs o recurso voluntário. 
STJ. 5ª Turma. RHC 61.365-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 3/3/2016 (Info 579). 
 
Esse é o entendimento consolidado no STJ: 
(...) A ausência do termo de recurso no ato de intimação pessoal do réu não acarreta a nulidade do 
processo, por não se tratar de providência legal obrigatória. Ademais, o advogado constituído, 
regularmente intimado, pode apresentar apelação independentemente do apenado, conforme a Súmula 
n.º 705 do Supremo Tribunal Federal. (...) 
STJ. 5ª Turma. HC 183.332/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 19/06/2012. 
 
 
 
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RECURSOS 
Sentença de absolvição sumária e vedação de análise do mérito da ação penal em apelação 
 
No julgamento de apelação interposta pelo Ministério Público contra sentença de absolvição 
sumária, o Tribunal não poderá analisar o mérito da ação penal para condenar o réu. Isso viola os 
princípios do juiz natural, do devido processo legal, da ampla defesa e do duplo grau de jurisdição. 
Neste caso, entendendo que não era hipótese de absolvição sumária, o Tribunal deverá dar 
provimento ao recurso para determinar o retorno dos autos ao juízo de primeiro grau, a fim 
de que o processo prossiga normalmente, com a realização da instrução e demais atos 
processuais, até a prolação de nova sentença pelo magistrado. 
STJ. 6ª Turma. HC 260.188-AC, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 8/3/2016 (Info 579). 
 
Etapas do procedimento comum: 
Vejamos algumas etapas do procedimento comum (ordinário e sumário): 
1) Denúncia. 
2) Ao analisar a denúncia apresentada, o juiz terá duas opções: 
2.1) Recebimento da denúncia. 
2.2) Rejeição da denúncia (art. 395 do CPP). 
3) Sendo a denúncia recebida, é determinada a citação do réu para responder a acusação em 10 dias. 
4) O acusado apresenta, então, uma peça defensiva chamada de resposta escrita ou resposta preliminar, 
conforme prevê o art. 396-A do CPP (obs: esta resposta não tem uma nomenclatura pacífica. O CPP chama 
de “resposta escrita”. Boa parte da doutrina e da jurisprudência denomina “resposta preliminar”. Muitos 
julgados do STJ falam em “defesa preliminar”. 
5) Com base no que foi alegado pelo acusado na resposta escrita, o juiz poderá: 
5.1) Absolver sumariamente o réu (art. 397 do CPP). 
5.2) Rejeitar a absolvição sumária e designar audiência de instrução e julgamento. 
6) Realização da audiência de instrução e julgamento. 
7) Debates orais. 
8) Sentença. 
 
Imagine agora a seguinte situação hipotética: 
João foi denunciado pela prática de um crime. 
O juiz recebeu a denúncia. 
O réu foi citado e apresentou resposta à acusação. 
Analisando a peça de defesa, o magistrado concluiu que o fato imputado era atípico e absolveu 
sumariamente o réu. 
 
O Ministério Público deseja interpor recurso contra esta decisão. Qual é o recurso cabível? 
Apelação. O recurso cabível contra a absolvição sumária é a apelação, amoldando-se ao art. 593, I, do CPP: 
Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: 
I - das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular; 
 
O que o Tribunal de Justiça fez: 
O Promotor de Justiça interpôs apelação contra a sentença de absolvição sumária. 
O Tribunal de Justiça entendeu que a tese do MP estava correta e que o fato narrado é típico. 
Diante disso, o TJ pensou o seguinte: o juiz entende que não é crime; logo, não adianta mandar o processo 
de volta para ele; vou logo julgar o feito. 
Assim, por razões de celeridade e economia processual, o TJ resolveu decidir desde logo a causa e julgou o 
réu, condenando-o pela prática do crime e aplicando a pena correspondente. 
 
 
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Agiu corretamente o TJ? 
NÃO. 
 
No julgamento de apelação interposta pelo Ministério Público contra sentença de absolvição sumária, o 
Tribunal não poderá analisar o mérito da ação penal para condenar o réu. 
Neste caso, entendendo que não era hipótese de absolvição sumária, o Tribunal deverá dar provimentoao recurso para determinar o retorno dos autos ao juízo de primeiro grau, a fim de que o processo 
prossiga normalmente, com a realização da instrução e demais atos processuais, até a prolação de nova 
sentença pelo magistrado. 
STJ. 6ª Turma. HC 260.188-AC, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 8/3/2016 (Info 579). 
 
Se o Tribunal de segunda instância enfrenta antecipadamente o mérito da ação penal, isso afronta a 
competência do Juízo de primeiro grau, havendo, neste caso, supressão de instância, o que viola o 
princípio do juiz natural (art. 5º, LIII, CF) e os princípios do devido processo legal, da ampla defesa e do 
duplo grau de jurisdição. 
 
Vale ressaltar que, se o réu havia sido absolvido sumariamente, isso significa que não foram ouvidas 
testemunhas nem realizado interrogatório. Assim, não foi produzida nenhuma prova em juízo, não 
podendo, portanto, haver condenação neste caso. 
 
Em um caso envolvendo recurso contra rejeição da denúncia, o STJ já havia decidido de forma semelhante: 
(...) Viola os princípios do juiz natural, devido processo legal, ampla defesa e duplo grau de jurisdição, a 
decisão do tribunal a quo que condena, analisando o mérito da ação penal em apelação ministerial 
interposta ante mera rejeição da denúncia. (...) 
STJ. 6ª Turma. HC 299.605/ES, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 18/06/2015. 
 
 
 
RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL 
Possibilidade excepcional de interposição de recurso ordinário contra decisão concessiva de HC 
 
Não tem nos livros!!! 
É admissível a interposição de recurso ordinário para impugnar acórdão de Tribunal de 
Segundo Grau concessivo de ordem de habeas corpus na hipótese em que se pretenda 
questionar eventual excesso de medidas cautelares fixadas por ocasião de deferimento de 
liberdade provisória. 
A CF/88 não prevê o cabimento de recurso ordinário contra a decisão concessiva de HC. No 
entanto, ainda que a liberdade provisória tenha sido concedida, se as medidas cautelares 
impostas ao réu se mostram excessivas, ele terá interesse em interpor recurso ordinário, 
sendo este o instrumento adequado para impugnar a decisão. 
STJ. 5ª Turma. RHC 65.974-SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/3/2016 (Info 579). 
 
Veja quais são os recursos cabíveis contra as decisões em habeas corpus 
 
Decisão proferida em HC impetrado em 1ª instância 
Prazo do 
recurso 
Quem julga 
o recurso? 
 Decisão que concede ou nega o HC: cabe RESE 
Ex: HC contra ato do Delegado de Polícia. 
Obs: da sentença que conceder HC, caberá reexame necessário. Assim, ainda que não 
haja recurso, o juiz deverá submeter, de ofício, sua sentença à apreciação do Tribunal. 
5 dias TJ ou TRF 
 
 
Informativo 579-STJ (17/03 a 01/04/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 29 
Decisão proferida em HC impetrado no TJ ou TRF 
Prazo do 
recurso 
Quem julga 
o recurso? 
 Decisão que concede o HC: em regra, cabe RESP e/ou RE 15 dias STJ ou STF 
 Decisão que nega o HC: cabe recurso ordinário (art. 105, II, "a", CF/88) 5 dias STJ 
 
Decisão proferida em HC impetrado no STJ 
Prazo do 
recurso 
Quem julga 
o recurso? 
 Decisão concede o HC: em regra, cabe RE 15 dias STF 
 Decisão que nega o HC: cabe recurso ordinário (art. 102, II, "a", CF/88) 5 dias STF 
 
Recurso ordinário constitucional 
Conforme exposto, caso o TJ, o TRF ou o STJ neguem o pedido de habeas corpus, será cabível a 
interposição de recurso ordinário, que tem previsão na própria CF/88: 
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: 
(...) 
II - julgar, em recurso ordinário: 
a) o "habeas-corpus", o mandado de segurança, o "habeas-data" e o mandado de injunção decididos em 
única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão; 
 
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: 
(...) 
II - julgar, em recurso ordinário: 
a) os "habeas-corpus" decididos em única ou última instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos 
tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão for denegatória; 
 
Vale ressaltar que o recurso ordinário é um instrumento previsto em benefício apenas do indivíduo, não 
servindo para proteger os interesses do Estado-acusação. Dito de outro modo, o MP ou o assistente de 
acusação não podem interpor recurso ordinário em desfavor do réu. Ex: o TJ, ao julgar um habeas corpus, 
concedeu a liberdade a um réu que estava preso. O Ministério Público não poderá interpor recurso 
ordinário contra esta decisão. Terá que manejar REsp ou RE. 
 
É cabível a interposição de recurso ordinário contra decisão concessiva de habeas corpus? 
Em regra, não. A CF/88 não prevê o cabimento de recurso ordinário contra a decisão concessiva de HC. 
Existe, contudo, uma exceção: se a decisão conceder o habeas corpus, mas não exatamente na forma 
como requerida pelo impetrante, será possível interpor recurso ordinário a fim de defender os interesses 
do réu. Foi o que decidiu o STJ: 
É admissível a interposição de recurso ordinário para impugnar acórdão de Tribunal de Segundo Grau 
concessivo de ordem de habeas corpus na hipótese em que se pretenda questionar eventual excesso de 
medidas cautelares fixadas por ocasião de deferimento de liberdade provisória. 
STJ. 5ª Turma. RHC 65.974-SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/3/2016 (Info 579). 
 
Ainda que o acórdão recorrido não tenha sido denegatório, como prevê o art. 105, II, "a", da CF/88, 
eventual excesso contido na concessão da ordem do habeas corpus pode ser impugnado por meio de 
recurso ordinário. 
Em outras palavras, ainda que a liberdade provisória tenha sido concedida, caso as medidas cautelares 
impostas ao réu se mostrem excessivas, ele terá interesse em interpor recurso ordinário, sendo este o 
instrumento adequado para impugnar a decisão. Ex: proibição de sair de casa depois das 18h, fiança muito 
elevada, recolhimento durante finais de semana etc. 
O recurso ordinário constitucional, como já afirmado, é uma garantia processual idealizada em favor do 
réu, de sorte que se a decisão foi concessiva, mas ainda assim gera riscos à liberdade do paciente, é 
natural que ele possa se utilizar deste recurso para impugnar a decisão. 
 
 
Informativo 579-STJ (17/03 a 01/04/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 30 
 
MEDIDA DE SEGURANÇA 
Medida de segurança imposta por conta de um fato não obriga que se 
converta também a pena privativa de liberdade imposta por outro crime 
 
Se o réu estava cumprindo pena privativa de liberdade pelo crime 1 e, em outra ação penal, 
recebeu medida de segurança de internação pela prática do crime 2, isso não significa que a 
pena privativa de liberdade que estava sendo executada deva ser convertida em medida de 
segurança. 
Neste caso, após terminar de cumprir a medida de internação, não há óbice que seja 
determinado o cumprimento da pena privativa da liberdade remanescente. 
Isso não viola o sistema vicariante, considerando que este somente proíbe a imposição 
cumulativa ou sucessiva de pena e medida de segurança referente a um mesmo fato. No caso 
concreto, eram dois fatos distintos. 
STJ. 6ª Turma. HC 275.635-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 8/3/2016 (Info 579). 
 
NOÇÕES GERAIS SOBRE A MEDIDA DE SEGURANÇA 
Conceito e natureza jurídica 
Sanção penal é a resposta dada pelo Estado à pessoa que praticou uma infração penal. 
Existem duas espécies de sanção penal: 
a) pena; 
b) medida de segurança. 
 
“Medida de segurança é a modalidade de sanção penal com finalidade exclusivamente preventiva, e de 
caráter terapêutico, destinada a tratar inimputáveis e semi-imputáveis portadores de periculosidade, com 
o escopo de evitar a prática de futuras infrações penais.” (MASSON, Cleber. Direito Penal esquematizado. 
São Paulo: Método, 2012, p. 815).Assim, a medida de segurança é aplicável para o indivíduo que praticou uma conduta típica e ilícita, mas, 
no tempo do fato, ele era totalmente incapaz (inimputável) ou parcialmente capaz (semi-imputável) de 
entender o caráter ilícito de sua conduta e de se autodeterminar segundo tal entendimento. Em razão 
disso, em vez de receber uma pena, ele estará sujeito a receber uma medida de segurança (AVENA, 
Norberto. Execução penal esquematizado. São Paulo: Método, p. 363). 
 
Qual é o procedimento necessário para se constatar a necessidade ou não de aplicação da medida de 
segurança? 
Se houver séria dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz determina a instauração de um 
incidente de insanidade mental. 
O réu será submetido a um exame médico-legal que irá diagnosticar se ele, ao tempo da ação ou da 
omissão criminosa, tinha capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo 
com esse entendimento. 
 
Quais as conclusões a que o juiz pode chegar com o incidente de insanidade? 
Após o incidente e com base nas conclusões do médico perito, o juiz poderá concluir que o réu é... 
 imputável: nesse caso, ele será julgado normalmente e poderá ser condenado a uma pena; 
 inimputável: se ficar provado que o agente é inimputável, ou seja, que por doença mental ou 
desenvolvimento mental incompleto ou retardado ele era, ao tempo da ação ou da omissão, 
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse 
entendimento, ficará isento de pena (art. 26 do CP) e poderá ou não receber uma medida de 
segurança, a depender de existirem ou não provas de que praticou fato típico e ilícito; 
 
Informativo 579-STJ (17/03 a 01/04/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 31 
 semi-imputável: se ficar provado que, em virtude de perturbação de saúde mental ou por 
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, o agente não era inteiramente capaz de entender 
o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, ele poderá: 1) ser 
condenado, mas sua pena será reduzida de 1/3 a 2/3, nos termos do parágrafo único do art. 26 do CP; 
OU 2) receber medida de segurança, se ficar comprovado que necessita de especial tratamento 
curativo (art. 98 do CP). 
 
Espécies de medida de segurança 
Existem duas espécies de medida de segurança (art. 96 do CP): 
Detentiva (internação) Restritiva (tratamento ambulatorial) 
Consiste na internação do agente em um hospital 
de custódia e tratamento psiquiátrico. 
Obs.: se não houver hospital de custódia, a 
internação deverá ocorrer em outro 
estabelecimento adequado. 
Consiste na determinação de que o agente se 
sujeite a tratamento ambulatorial. 
É chamada de detentiva porque representa uma 
forma de privação da liberdade do agente. 
O agente permanece livre, mas tem uma restrição em 
seu direito, qual seja, a obrigação de se submeter a 
tratamento ambulatorial. 
 
Critério para a escolha da internação ou o tratamento ambulatorial 
O caput do art. 97 do CP determinou os seguintes critérios para guiar o juiz no momento de fixar a medida 
de segurança cabível: 
 se o agente praticou fato punido com RECLUSÃO, ele receberá, obrigatoriamente, a medida de internação; 
 por outro lado, se o agente praticou fato punido com DETENÇÃO, o juiz, com base na periculosidade 
do agente, poderá submetê-lo à medida de internação ou tratamento ambulatorial. 
 
Obs.: esse critério é alvo de críticas da doutrina e da jurisprudência e você encontrará julgados 
abrandando o rigor e concedendo tratamento ambulatorial para pessoas que praticaram fatos punidos 
com reclusão. No entanto, em provas, o mais comum é ser cobrada a redação do art. 97 do CP. 
 
Imagine agora a seguinte situação hipotética: 
João cumpria pena privativa de liberdade por ter sido condenado pelo crime 1 (praticado em 2012). 
Enquanto estava cumprindo pena, ele foi julgado pelo crime 2 (cometido em 2013). 
No processo do crime 2, o juiz proferiu sentença de absolvição imprópria, aplicando-lhe medida de 
segurança de internação. 
Diante disso, João, que estava em um presídio, foi transferido para um hospital de custódia. 
Em 2016, o Juiz da Vara das Execuções Criminais, com base em laudo psiquiátrico, constatou que havia 
cessado a periculosidade de João e autorizou a sua desinternação. 
Até aí, tudo bem. Ocorre que o Juiz determinou que o réu cumprisse a pena privativa de liberdade 
remanescente pelo crime 1. 
A defesa não concordou, alegando que a partir do momento em que, no segundo processo, constatou-se a 
inimputabilidade do réu, o juiz deveria ter convertido (transformado) a pena privativa de liberdade que ele 
estava cumprindo pelo crime 1 em medida de segurança, a fim de que o agente cumprisse, ao mesmo 
tempo, a internação pelos fatos 1 e 2. 
Dessa forma, a defesa argumentou que o juiz agiu de forma ilegal ao determinar o cumprimento 
novamente da pena pelo crime 1 depois que acabou a internação do fato 2. Segundo a defesa, isso viola o 
sistema vicariante, tendo o magistrado ressuscitado o sistema do duplo binário. 
 
 
 
 
Informativo 579-STJ (17/03 a 01/04/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 32 
Inicialmente, o que são os sistemas do duplo binário e vicariante? 
No sistema do duplo binário, o réu, após cumprir a pena pela prática de um crime, era submetido a uma 
perícia e, se ainda fosse considerado perigoso, deveria cumprir medida de segurança de internação. Por 
isso, era chamado de “duplo trilho” ou “dupla via”, considerando que o réu semi-imputável perigoso 
cumpria pena e mais a medida de segurança. 
O sistema do duplo binário foi extinto com a Lei nº 7.209/84, que alterou a Parte Geral do Código Penal, 
dando lugar ao sistema vicariante (ou unitário). Por meio desse sistema, o juiz, ao constatar que o réu é semi-
imputável perigoso irá decidir se aplica pena (com causa de diminuição) ou se determina que ele cumpra 
medida de segurança. Trata-se de uma opção: ou uma ou outra. É o que está previsto no art. 98 do CP. 
 
A tese da defesa foi acolhida pelo STJ? 
NÃO. 
 
Se o réu estava cumprindo pena privativa de liberdade pelo crime 1 e, em outra ação penal, recebeu 
medida de segurança de internação pela prática do crime 2, isso não significa que a pena privativa de 
liberdade que estava sendo executada deva ser convertida em medida de segurança. 
Neste caso, após terminar de cumprir a medida de internação, não há óbice que seja determinado o 
cumprimento da pena privativa da liberdade remanescente. 
STJ. 6ª Turma. HC 275.635-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 8/3/2016 (Info 579). 
 
Inimputabilidade deve ser examinada em cada processo 
A inimputabilidade não pode ser presumida e estendida a outras infrações penais. Ela é analisada e 
declarada, caso a caso, ou seja, em relação a cada crime, em cada processo a que responde o réu. 
Quanto ao primeiro delito, entendeu-se que o réu não era inimputável e, por essa razão, foi imposta pena 
privativa de liberdade. No que tange ao segundo fato típico, o juiz reputou que o agente era inimputável, 
aplicando, por consequência, apenas uma medida de segurança. 
Em cada infração penal sopesou-se o estado psíquico do réu e se não foi declarada sua semi-
imputabilidade ou inimputabilidade naquele momento, não se pode declará-la agora, de forma genérica. 
 
Não houve violação ao sistema vicariante nem retorno ao duplo binário 
O sistema vicariante, adotado na Reforma do CP de 1984, proibiu a imposição cumulativa ou sucessiva de 
pena e medida de segurança. O legislador tomou essa decisão porque percebeu que a aplicação conjunta 
de pena mais medida de segurança por um único fato significava violação ao princípio do ne bis in idem, já 
que o indivíduo suportaria duas consequências negativas em razão do mesmo fato. 
No entanto, o sistema vicariante não proíbe que haja imposiçãosucessiva de medida de segurança por 
fatos diversos. 
No caso acima relatado, houve imposição de pena pelo fato 1 e de medida de segurança pelo fato 2. Logo, 
a medida de internação foi cumprida apenas quanto ao fato 2. 
 
Situação não se enquadrou no art. 183 da LEP 
Por fim, ressalta-se que, na hipótese, não ficou provado que ocorreu superveniência de doença mental no 
curso da execução da pena, situação em que poderia ser aplicado o disposto no art. 183 da LEP, o qual 
determina a substituição da reprimenda privativa de liberdade resgatada pelo reeducando por medida de 
segurança: 
Art. 183. Quando, no curso da execução da pena privativa de liberdade, sobrevier doença mental ou 
perturbação da saúde mental, o Juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público, da Defensoria Pública 
ou da autoridade administrativa, poderá determinar a substituição da pena por medida de segurança. 
 
Isso porque o réu não se tornou doente mental durante a execução da pena. Apenas ficou comprovado 
que, no momento da prática do fato 2, ele era totalmente incapaz (inimputável) de entender o caráter 
ilícito de sua conduta e de se autodeterminar segundo tal entendimento. 
 
 
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JULGADO NÃO COMENTADO 
 
DIREITO CIVIL. SOBRE-ESTADIA (DEMURRAGE) NO CASO DE APREENSÃO DE CONTÊINER PELA ALFÂNDEGA. 
Mesmo que o valor devido a título de pagamento de sobre-estadias (demurrages) seja muito maior do que 
o preço médio de venda de um contêiner idêntico ao locado, não é será possível limitar esse valor se o seu 
patamar elevado apenas foi atingido em razão da desídia do locatário do bem, o qual, diante da apreensão 
alfandegária do contêiner e das mercadorias contidas neste, quedou-se inerte. Consoante se extrai do art. 
2.035 do CC, a intangibilidade do contrato compreende integralmente os planos de sua existência e 
validade, mas, apenas parcialmente, o plano de sua eficácia, podendo sua força obrigatória vir a ser 
mitigada. E essa mitigação terá lugar quando a obrigação assumida, diante das circunstâncias postas, 
mostrar-se inaceitável do ponto de vista da razoabilidade e da equidade, comprometendo a função social 
do contrato e a boa-fé objetiva, valores expressamente tutelados pela lei civil e pela própria CF. A situação 
presente, contudo, não configura hipótese justificadora da relativização do princípio do pacta sunt 
servanda. Ora, é certo que o container não se confunde com a mercadoria transportada nem constitui 
embalagem dela, mas sim é uma parte ou acessório do veículo transportador, de modo que inexiste 
amparo jurídico para sua apreensão juntamente com a mercadoria (REsp 678.100-SP, Terceira Turma, DJ 
5/9/2005; REsp 526.767-PR, Primeira Turma, DJ 19/9/2005; REsp 908.890-SP, Segunda Turma, DJ 
23/4/2007). Além disso, os embaraços aduaneiros sequer podem ser caracterizados como fortuito, à vista 
de sua previsibilidade. Assim, não reflete a boa-fé, que deve pautar as relações contratuais, a conduta do 
locatário de container que, além de deter a responsabilidade pelo desembaraço de mercadoria, também 
poderia ter diligenciado por obter a liberação do contêiner perante as autoridades alfandegárias, para que, 
dessa maneira, pudesse cumprir sua obrigação de restituí-lo ao locador. Nesse sentido, a Primeira Turma 
do STJ já se manifestou no sentido de que: "Por força do art. 1.210, § 2º, do Código Civil, o locatário de 
contêiner, por ser detentor da posse direta, tem legitimidade ativa ad causam para discutir sua liberação, 
quando apreendido, juntamente com as mercadorias nele contidas, pela administração pública" (REsp 
1.295.900-PR, DJe 19/4/2013). Salienta-se, ainda, que a eventual circunstância de o valor da indenização 
pelo descumprimento contratual poder atingir montante expressivo em razão, unicamente, da desídia da 
parte locatária não justifica sua redução pelo Poder Judiciário, sob pena de se premiar a conduta faltosa de 
devedor. De fato, não há falar na incidência do art. 412 do CC, uma vez que as demurrages têm natureza 
jurídica de indenização, e não de cláusula penal. Entende-se, perante esse contexto, que deve ser aplicado, 
analogicamente, o entendimento do STJ de que: "A análise sobre o excesso da multa deve ser pensada de 
acordo com as condições enfrentadas no momento em que a multa incidia e com o grau de resistência do 
devedor. Não se pode analisá-la na perspectiva de quem, olhando para fatos já consolidados no tempo, 
depois de cumprida a obrigação, procura razoabilidade quando, na raiz do problema, existe um 
comportamento desarrazoado de uma das partes" (REsp 1.135.824-MG, Terceira Turma, DJe 14/3/2011). 
REsp 1.286.209-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 8/3/2016, DJe 14/3/2016.

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