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Caderno de Direito Civil

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Caderno de Direito Civil
Direito Civil I: Direito romano; LINDB e Parte Geral do Código Civil
LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DE DIREITO BRASILEIRO – Lei n. 4.657 de 1942
Normas que disciplina todos os ramos do Direito. Trata-se de uma norma sobre normas. Trata da aplicabilidade das normas no Brasil, contendo disposições de natureza material interna e de natureza de Direito Internacional Privado.
1 – Vigência 
Em regra, a lei entra em vigor 45 dias após a sua publicação, caso não haja disposição em sentido diverso na própria lei. No exterior a lei entra em vigor depois de três meses.
Vacatio legis: Período em que a lei já está regular mas ainda não entrou em vigor.
Se houver alteração na lei durante a vacatio, recomeça o prazo de contagem para sua entrada em vigor; se houver alteração após a vacatio, considera-se lei nova.
2 – Contagem do prazo
A Lei Complementar 107 de 2001 passou a incluir a data da publicação e o último dia do prazo, entrando em vigor no dia seguinte ao último dia do prazo. Não faz ressalva a dia não útil.
3 – Aplicação, interpretação e integração
Subsunção: Fato típico (adequação integral da norma à situação real)
Interpretação: Hermenêutica
Integração (art. 4º da LINDB)
a) Analogia: Fonte formal imediata do direito, utilizada com a finalidade de integração da lei, ou seja, a aplicação de dispositivos legais relativos a casos análogos, ante a ausência de normas que regulem o caso concretamente apresentado à apreciação jurisdicional, a que se denomina anomia.
b) Costume: Sustenta-se que o costume jurídico é formado por dois elementos necessários: o uso e a convicção jurídica, sendo, portanto a norma jurídica que deriva da longa prática uniforme, constante, pública e geral de determinado ato com a convicção de sua necessidade jurídica. A convicção da obrigatoriedade do costume funda-se no processo de institucionalização, que repousa no engajamento pelo silêncio presumidamente aprovador e caracteriza-se como parte integrante do sistema pelas regras estruturais que assim se expressam: “conforme usos e costumes”, em “respeito aos bons costumes”.
O juiz ao aplicar o costume deverá levar em conta os fins sociais deste e as exigências do bem comum, ou seja, os ideais de justiça e de utilidade comum, considerando-o sempre na unidade de seus dois elementos essenciais.
c) Princípios gerais do Direito: Princípios do direito são postulados que se encontram implícita ou explicitamente no sistema jurídico, contendo um conjunto de regras.
Quando a analogia e o costume falham no preenchimento da lacuna, o magistrado supre a deficiência da ordem jurídica, adotando princípios gerais do direito, que, às vezes, são cânones que não foram ditados, explicitamente, pelo elaborador da norma, mas que estão contidos de forma imanente no ordenamento jurídico.
Entende-se, então, que os princípios gerais de direito são a última salvaguarda do intérprete, pois este precisa se socorrer deles para integrar o fato ao sistema.
d) Equidade: Consiste na adaptação da regra existente a situação concreta, observando-se os critérios de justiça e igualdade. É o respeito pelo direito de cada pessoa, adequando a norma ao caso concreto, pelo que se considera justo. É a apreciação e julgamento justo em virtude do senso de justiça imparcial, visando a igualdade no julgamento. Utiliza-se a equidade para auxiliar no julgamento imparcial de pedidos idênticos.
4 – Conflitos de lei no tempo
Em regra, as leis terão vigência por tempo indeterminado
Vigência temporária das leis:
a) Advento do termo fixado. Ex.: Lei Geral da Copa.
b) Implemento de condição resolutiva
c) Consecução de seus fins.
Revogação da lei
a) Ab rogação: total
b) Derrogação: Parcial
Lei nova que estabelece disposições gerais ou especiais a par das já existentes não revoga lei anterior. Exemplo: Código Civil e Código de Defesa do Consumidor.
Repristinação: Dar nova vigência a lei revogada.
A regra é a irretroatividade da lei, devendo-se preservar:
a) O ato jurídico perfeito: Ato jurídico consumado sob a vigência de determinada lei, apto a produzir todos os seus efeitos;
b) Direito adquirido: direito que alguém pode exercer e incorpora seu patrimônio, não sendo passível de contestação.
c) Coisa julgada: Quando não é mais passível de revisão judicial.
CÓDIGO CIVIL – Lei n. 10.406 de 2002
Parte Geral
Das pessoas
Personalidade
Segundo Carlos Roberto Gonçalves: O conceito de personalidade está umbilicalmente ligado ao de pessoa. Todo aquele que nasce com vida torna-se uma pessoa, ou seja, adquire personalidade. Esta é, portanto, qualidade ou atributo do ser humano. Pode ser definida como aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações ou deveres na ordem civil. É pressuposto para a inserção e atuação da pessoa na ordem jurídica.
Direitos da personalidade
São direitos que conferem proteção ao sujeito de direitos.
Características:
a) Absolutismo: Oponibilidade erga omnes;
b) Irrenunciabilidade: Não é possível a renúncia ou o abandono dos direitos da personalidade, mesmo que isto seja objeto de declaração.
c) Intransmissibilidade/inalienabilidade: Não é possível se alienar um direito da personalidade. Os efeitos decorrentes do uso do direito são passíveis de exploração econômica. O direito também é impenhorável.
d) Imprescritibilidade: Não há que se falar em prescrição aquisitiva sobre um direito da personalidade. 
Disposições:
~> É proibida a disposição do próprio corpo quando importar diminuição permanente da integridade física ou contrariar os bons costumes;
> A disposição gratuita após a morte é permitida, podendo ser revogada a qualquer tempo;
> Ninguém pode ser constrangido a submeter-se a tratamento médico ou intervenção cirúrgica;
> Toda pessoa tem direito ao nome (prenome e sobrenome) e este não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que suponham o desprezo público ainda quando não haja intenção de difamação;
> Sem que haja autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial;
> O pseudônimo goza da proteção que se dá ao nome;
> A utilização da imagem pode ser proibida se atingir a sua honra, boa fama e respeitabilidade;
> A vida privada é inviolável. 
Nome
Elemento identificador no meio social, capaz de possibilitar o direito à identidade, a que um indivíduo tenha singularidade reconhecida por todos.
I – Elementos essenciais do nome:
a) Prenome: Nome individual ou nome próprio; é o primeiro nome, que identifica o indivíduo na família;
b) Nome: Patronímico, cognome, sobrenome ou apelido de família – Identifica o indivíduo na sociedade.
II – Elementos secundários (podem ou não compor o nome)
a) Agnome: Partícula, componente do nome, utilizada para diferenciar parentes com o mesmo nome, possibilitando que o nome completo seja diferente: Junior, Filho, Sobrinho, etc.
b) Alcunha ou epíteto: É o que vulgarmente se denomina epíteto, baseado em características singulares ou especiais da pessoa.
III – Nome vocatório: Quando determinada pessoa é aclamada mais por parte do nome do que pela designação completa do nome, que muitas vezes é desconhecida (Pontes de Miranda – Francisco Cavalcante Pontes de Miranda);
IV – Títulos: Títulos nobiliárquicos, honoríficos, eclesiásticos, acadêmicos.
Capacidade
Possibilidade de exercer os direitos da personalidade.
a) Capacidade de direito ou gozo: Tem o direito mas não o exercício.
b) Capacidade de fato ou de direito: Capacidade plena – pode exercer todos os seus deveres e direitos.
Incapacidade
1 – Absoluta
Menores de 16 anos.
2 – Relativa
a) Menores de 18 e maiores de 16 anos. A incapacidade cessa com a maioridade civil.
b) Os ébrios habituais e os viciados em tóxico
c) Aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade:
d) Os pródigos: Pródigo é aquele que gasta seu patrimônio de forma desregrada, pondo em risco seu sustento e de sua família. Somente será incapaz para assuntos de ordem patrimonial, podendo realizar todos os outros atos quenão tenham cunho patrimonial.
*A Lei 13.146 de 2015 alterou as disposições vigentes quanto a capacidade de pessoas portadoras de deficiência, sendo que agora as disposições legais sobre elas é regida unicamente pelo Estatuto do Deficiente.
Emancipação
Instituto jurídico de concessão da plena capacidade civil antes da maioridade. Só se aplica aos que possuem incapacidade derivada do elemento temporal (menores relativamente incapazes). Hipóteses (art. 5º, CC/02):
Fim da personalidade
Morte real: Fim das atividades cerebrais
Morte presumida:
> Sem decretação da ausência: Quando é provável a morte de quem estava em iminente perigo de vida (a qualquer tempo), desaparecido em campanha ou feito prisioneiro de guerra, se não encontrado em até dois anos após o término da guerra.
> Com decretação de ausência: Pessoas que desaparecem, se encontram em locais incertos ou não sabidos.
AUSÊNCIA
Conceito 
“Ausente é todo aquele que está fora de seu domicílio, mas no sentido em que agora toma o vocábulo, é aquela pessoa cuja habitação se ignora ou de cuja existência se duvida, e cujos bens ficaram ao desamparo” (Clóvis Bevilacqua).
Só pode ser considerado ausente por decisão judicial. São efeitos:
a) Abertura da sucessão: Os bens do ausente se transmitem, pois, para efeitos legais, ele é morto;
b) Fim da personalidade natural;
c) Extinção de vínculo conjugal, se houver.
Fases da ausência
1 – Curadoria dos bens (art. 25 CC)
Ocorre entre um e três anos do sumiço; nomeia-se um curador, que tem a mera detenção dos bens, sem propriedade legítima. Se a pessoa desapareceu deixando representante que não pode ou não quer ou não tem poderes para administrar o patrimônio, o prazo será de três anos de curadoria após a decretação de ausência. Do contrário, não deixando ninguém, será de um ano.
São legitimados para requerer a declaração da ausência qualquer interessado ou o MP.
São aplicáveis ao curador as disposições referentes à tutela e à curatela, no que forem cabíveis *muito embora não se confundam, pois o primeiro concerne a bens e os dois últimos a pessoas!*.
O cônjuge do ausente tem preferencia em ser curador, em seguida seus pais, e depois os descendentes; não havendo, será nomeado um terceiro.
2 – Sucessão provisória: Um ano da arrecadação ou três anos se existe representante. Efeitos se produzem em 180 dias da sentença. Para o credor exige
3 – Sucessão definitiva: 
PESSOAS JURÍDICAS
Conceito: A unidade de pessoas naturais ou de patrimônio, que visa à consecução de certos fins, reconhecida pela ordem jurídica como sujeito de direitos e obrigações. São 3 os seus requisitos: organização de pessoas ou de bens; licitude de seus propósitos ou fins; capacidade jurídica reconhecida por norma. Pessoas jurídicas de direito público externo: países estrangeiros, organismos internacionais, como ONU, OEA, etc..
Classificação
1 – Pessoas jurídicas de direito público externo
> Estados estrangeiros e organismos internacionais.
2 – Pessoas jurídicas de direito público interno
a) União
b) Estados
c) DF
d) Territórios
e) Municípios
f) Autarquias e associações públicas
g) Demais entidades de caráter público criadas por lei;
3 – Pessoas jurídicas de direito privado
a) Associações: União de pessoas que se organizam para fins não econômicos (art. 53 do CC). Pode ter atividade lucrativa desde que o lucro seja revertido para o patrimônio da associação e não seja dividido entre os sócios.
b) Sociedades: Conjunto de pessoas físicas que se unem para a prática de determinada atividade, podendo ser simples – de mera prestação de serviços – ou empresarial – produção e comercialização de bens e serviços ou comércio. Tem finalidade lucrativa.
c) Fundações: Dotação especial de bens livres, feita por escritura pública ou testamento. É sem fins lucrativos, tem finalidade religiosa, moral, cultural, ou de assistência. O MP atua como fiscal.
d) Organizações religiosas: Não tem fins lucrativos e se baseiam na liberdade de crença, sendo que o Estado não pode interferir. 
e) Partidos políticos: Tem como base uma ideologia ou orientação política, e igualmente não tem finalidade lucrativa.
f) Empresas individuais ou de responsabilidade limitada
Início da personalidade e capacidade
Art. 45: Nasce a pessoa jurídica com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização do Poder Executivo.
Entes despersonalizados – Despersonalização
Sociedades de fato: Sanção pela irregularidade a responsabilidade solidária e ilimitada entre seus sócios (ler artigos 986 a 989 do Código Civil).
Desconsideração da personalidade jurídica
Incidente processual, previsto no CC/02 e no CPC/15, que visa desconsiderar a personalidade jurídica para se ter acesso a seus bens. Não se confunde com o instituto anterior.
Despersonalização – Extingue a personalidade
Desconsideração – Passa por cima da personalidade para ter acesso aos bens, mas não extingue.
Direitos da personalidade
Às pessoas jurídicas ficam resguardados os direitos da personalidade no que lhes couber (Súmula 227 do STJ).
DOMICÍLIO
Trata-se de um vínculo jurídico especial estabelecido em relação ao local em que se estabelece a residência habitual. Abrange as relações sociais e jurídicas de uma pessoa, do que decorre a possibilidade de que se tenha mais de um domicílio. A lei brasileira não admite que a pessoa não tenha domicílio, por mais que ela não tenha pouso habitual, pois será considerado domiciliado no lugar onde for encontrado e, processualmente, no lugar onde for acionado.
Domicílio da pessoa natural
O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece residência com ânimo definitivo (art. 70 CC/02).
Domicílio das pessoas jurídicas de direito público
a) União: Distrito Federal;
b) Estados: Capital estadual;
c) Municípios: Lugar onde funciona a administração municipal.
Domicílio das pessoas jurídicas de direito privado
> Local de funcionamento das respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos;
> Se há diversos estabelecimentos, pode-se considerar cada um dos locais para os atos nele praticados.
> Se tem sede no estrangeiro, o domicílio é o lugar de estabelecimento no Brasil (agência).
Espécies de domicílio
1 – Domicílio de origem: Primeiro domicílio de uma pessoa; coincide com o de seus pais.
2 – Domicílio legal ou necessário: Decorre de disposição legal, em atenção à condição especial de determinadas pessoas (art. 71 CC/02).
3 – Domicílio voluntário: Domicílio escolhido pela pessoa.
BENS JURÍDICOS
Conceito
Bens são definidos como coisas ou objetos – recursos materiais – que possuem utilidade e servem para atender as necessidades humanas. Para que algo se qualifique como um bem jurídico, deve possuir um valor econômico – não há bem jurídico sem valor econômico.
Classificação
1 – Bens móveis e imóveis
Bens móveis por determinação legal: São presunções legais – são móveis as energias, os direitos pessoais e as ações que lhes asseguram;
Bens móveis por antecipação: Todo imóvel objeto de uma relação jurídica obrigacional (contrato, p ex.) que vise este bem num futuro quando ele for mobilizado (uma floresta cujo objeto do contrato é a madeira) será considerado, para o contrato, móvel.
Bens imóveis por determinação legal: Herança e os direitos e ações que recaem sobre bens imóveis.
Bens imóveis por acessão física: Qualquer bem que se agregar a um imóvel principal será imóvel também (mesmo que transitoriamente).
2 – Bens fungíveis e infungíveis
Classe baseada na possibilidade de troca e/ou substituição de um bem por outro da mesma qualidade ou quantidade.
Se um bem possui características que o tornam único, trata-se de um bem infungível. A infungibilidade pode decorrer da natureza e da volição (vontade).
3 – Bens divisíveis ou indivisíveis
A divisibilidade concerne ao fracionamento sem perda da função sócio-econômica. A indivisibilidade pode decorrer da naturezado bem, da vontade ou da lei.
4 – Consumíveis ou inconsumíveis
Os bens consumíveis são os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substância, bem como aqueles destinados à alienação, como bem se observa no disposto no artigo 86 do Código Civil, sendo divididos em consumíveis de fato, como os alimentos, e consumíveis de direito, como o dinheiro.
Os bens inconsumíveis são aqueles que suportam uso continuado, sem prejuízo do seu perecimento ou destruição progressiva e natural, como um carro, pois, a característica da durabilidade é imprescindível nesta diferenciação.
5 – Bens singulares e coletivos
Bens singulares são aqueles considerados em sua individualidade, representado por uma unidade autônoma. Os bens singulares podem ser divididos em simples e compostos.
Os bens coletivos são aqueles que, sendo compostos de vários bens singulares, acabam por formar um todo homogêneo. Como, por exemplo, o gado formado por diversos bois, uma pinacoteca formada por várias pinturas, ou uma biblioteca formada de vários livros.
6 – Principais e acessórios
Principal é o bem que, dentro de um conjunto ou dualidade de bens, tem mais importância ou relevância para a sua finalidade ou no aspecto econômico, sendo acessório aquele que simplesmente adere, agrega ou integra o principal.
TEORIA DO FATO JURÍDICO
1. Fato jurídico
É todo acontecimento relevante para o Direito, seja ele decorrente da vontade ou atitude humana ou não.
1. 1. Fato jurídico natural
Os Fatos Jurídicos Naturais, também denominados Fatos Jurídicos em sentido estrito, são as situações sociais juridicamente relevantes que decorrem, em regra, da própria natureza, sem intervenção humana.
a) Ordinário: São os fatos naturais “previsíveis” ou “comuns”, como o nascimento, maioridade, morte, decurso do tempo, aluvião, avulsão.
b) Extraordinário: São os fatos naturais que decorrem de “eventos não previsíveis” ou “especiais”, tais como terremoto, maremoto, raio, tempestade destruidoras, ou seja, casos fortuitos ou força maior.
1. 2. Fato jurídico humano
São, por sua vez, as situações juridicamente relevantes que tem origem em uma vontade humana, que as criam, modificam, transferem ou extinguem direitos.
1. 2. 1. Fato jurídico lícito
São os fatos cujos efeitos almejados pelo agente a lei defere. São praticados conforme determina o ordenamento jurídico, produzindo o resultado querido pelo agente.
a) Ato jurídico em sentido estrito: O Ato Jurídico em Sentido Estrito, ou meramente lícito, é um ato praticado pelo agente, com manifestação de vontade, predeterminado pela norma, sem que o agente possa qualificar diferente a sua vontade.
b) Ato-fato jurídico: Alguns autores qualificam certas ações que não são frutos da vontade, nem da intenção do autor, mas que geram consequências tipificadas pela norma como atos-fatos jurídicos. Pode-se ter como exemplo uma pessoa, que sem a intenção, acha um tesouro. A pessoa, nesta hipótese, não tinha qualquer intenção de adquirir a metade do que encontrou, mas a norma inadvertidamente confere-lhe a propriedade (artigo 1.264 do Código Civil).
1. 2. 2. Ato jurídico ilícito
São considerados ilícitos por contrariarem ao ordenamento jurídico. Ação ou omissão voluntária, negligente ou imprudente, que viola direito e/ou causa dano. Artigo 187: Também comete ato ilícito aquele que extrapola os limites do seu direito. Excludentes
a) Legítima defesa
b) Exercício regular de direito
c) Deterioração ou destruição de coisa alheia, ou lesão à pessoa, a fim de remover perigo iminente. *Não extrapolar os limites do indispensável para a remoção do perigo*.
Direito Civil II: Teoria Geral do Negócio Jurídico
NEGÓCIOS JURÍDICOS
1. Conceito
Acordo de vontades entre duas pessoas capazes que tem por finalidade criar, extinguir e/ou modificar relações jurídicas. São pautados pelos princípios da boa-fé e da função social.
2. Validade 
a) Partes: Agentes capazes (art. 105 CC/02).
b) Objeto lícito, possível, determinado ou determinável.
c) Forma prescrita e não defesa em lei.
d) Vontade tácita (quando a lei não exigir, o silêncio vale como consentimento) ou expressa.
Faltando esses requisitos o NJ será considerado inexistente.
3. Eficácia
Produzidos os efeitos, almejados ou não, poderão ser inseridos elementos acidentais, condicionando a eficácia.
a) Condição: Evento futuro e incerto, podendo ser suspensivo (que suspende o exercício e a aquisição) ou resolutiva (ex. retrovenda). Será invalida se contrariar a lei, os bons costumes, ordem pública, que privem todo o negócio jurídico ou que deixem ao arbítrio de uma das partes.
b) Termo: Concerne aos prazos – lapso temporal suspensivo (que suspende o exercício e a aquisição) ou resolutiva.
c) Encargo: Em regra não suspende nem interrompe a eficácia do negócio jurídico. É um ônus: Obrigação de fazer, não fazer e/ou dar. Inexiste se for ilícito ou impossível. Comum em testamentos e doações.
4. Interpretação dos Negócios Jurídicos
Artigo 112 do Código Civil de 2002: Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que tenham por finalidade a constituição, modificação, transferência/renúncia de direitos reais sobre imóveis.
5. Vícios e defeitos do Negócio Jurídico
a) Erro ou ignorância: Percepção falsa do que é real. O erro deve ser escusável e essencial – recair sobre elementos fundamentais à realização do negócio jurídico – como característica do objeto, das partes envolvidas ou desconhecimento/compreensão errônea da lei. 
O falso motivo 
Direito Civil III: Do Direito das Obrigações
Direito Civil IV: Teoria Geral dos Contratos e Responsabilidade Civil
TEORIA GERAL DOS CONTRATOS
FORMAÇÃO DOS CONTRATOS
1. Conceito de contrato e natureza jurídica
Contratos são todos os tipos de convenções ou estipulações que possam ser criados pelo acordo de vontades e por outros fatores acessórios. Trata-se de ato jurídico bilateral, dependente de pelo menos duas declarações de vontade, cujo objetivo é a criação, alteração ou até mesmo a extinção de direitos e deveres de conteúdo patrimonial. O contrato é a fonte principal do Direito das Obrigações, revestindo-se como instituto primordial do Direito Privado.
Em geral, o contrato, na sua formação, é bilateral. Pressupõe a convergência de duas vontades contrapostas que se unem. Existem figuras que escapam essa regra, a exemplo do contrato de formação sociedade com cinco sócios.
Num conceito de Paulo Nalim, o contrato é uma relação jurídica subjetiva, nucleada na solidariedade constitucional, destinada à produção de efeitos jurídicos existenciais e patrimoniais, não só entre os titulares subjetivos da relação, como também perante terceiros.
2. Formação do contrato no Código Civil
O contrato nasce da conjunção de duas ou mais vontades coincidentes. É possível identificar duas fases na formação do contrato civil:
a) Fase de negociações preliminares ou de puntuação: É a chamada fase “pré-contratual”, onde as partes deliberam sobre um contrato que ainda não foi formalizado. Não está expressa no Código Civil; portanto, não vincula as partes. Parte da doutrina aponta que é possível a responsabilização contratual em que não se observando o princípio da boa-fé objetiva. Período de negociações preliminares anterior à formação do contrato; as partes analisam as circunstâncias para chegar numa proposta definitiva. A característica básica desta fase é justamente a não vinculação das partes a uma relação jurídica obrigacional.
b) Fase da proposta, policitação ou oblação: Constitui manifestação da vontade de contratar, por uma das partes, que solicita a concordância da outra. Trata-se de uma declaração de vontade unilateral receptícia, ou seja, que só produz efeitos ao ser recebida pela outra parte.
O caráter receptício da declaração é mantido se a promessa for direcionada ao público (art. 429 CC/02), hipótese em que o oblato é determinável, mas não determinado.São partes de uma proposta: 
O policitante, proponente ou solicitante, que é aquele que formula a proposta;
De outro lado, temos o policitado, oblato ou solicitado, que é aquele que recebe a proposta. Este, se acatar a proposta, torna-se aceitante, o que gera o aperfeiçoamento do contrato.
CONSIDERE-SE
Proposta (ou oferta, ou policitação ou oblação): deve ser séria, clara, precisa e definitiva (art. 427 CC/02). Aceitação: deve ser pura e simples.
Perda da eficácia cogente:
Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta:
I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante;
II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente;
III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado;
IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente.
↝ Proposta sem prazo
Entre presentes – pessoas que mantém contato imediato, direto e simultâneo: Se a resposta ou aceitação não for imediata, verfica-se a anulação ou perda de eficácia.
Entre ausentes pessoas que se comunicam por meio de correspondência epistolar: A proposta enviada, sem referência a prazo, não é respondida no que se supõe ser tempo razoável e suficiente para tal.
↝ Proposta com prazo: A expedição da resposta não é feita dentro do prazo estipulado.
↝ Retratação: Antes da proposta ou junto com ela chega ao conhecimento da outra parte a retratação do proponete.
c) Contrato preliminar (arts. 462 a 466 do CC/02): É aquele cujo objeto consiste na celebração de outro contrato (o definitivo). Em geral, porque um fato jurídico cuja verificação escape ao controle das partes é reputado por eles elemento essencial para o negócio. Deve conter todos os requisitos essenciais do definitivo. São espécies:
I – Compromisso unilateral de contrato ou contrato de opção (art. 466): As duas partes assinam, mas uma delas assume a obrigação de fazer o contrato definitivo.
II – Compromisso bilateral de contrato (art. 463 CC/02): As duas partes assinam e assumem a obrigação. Efeitos do não registro: art. 461 do CPC, 464 e 465 do CC/02. Se for registrado configura direito real de aquisição (art. 1.125, VIII, do CC/02).
d) Conclusão: Momento em que se configura o acordo recíproco entre as partes, e, a partir daí, o contrato passa a reproduzir seus devidos efeitos jurídicos.
DIÁLOGO DAS FONTES: O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E O CÓDIGO CIVIL DE 2002
I – Os contratos no Código de Defesa do Consumidor:
O Código de Proteção e Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90) garante uma uniformidade nas relações contratuais, uniformidade esta implícita no caput do artigo 5º da Constituição Federal “[...] todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza [...]”, possibilitando uma alteração nas cláusulas tidas como “abusivas”, quando gerarem um desequilíbrio entre Consumidor e Fornecedor.
Segundo artigo 4º do CDC: “a política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo [...]’’. 
Analisando detalhadamente este artigo, percebe-se de imediato, três princípios de essencial relevância para a efetivação do contrato: Princípio da Vulnerabilidade do consumidor, Princípio da boa-fé e Princípio da harmonização de interesses.
O contrato surge com a disponibilização da oferta no mercado, por isso pode-se dizer que na oferta já está implícito um pré-contrato, faltando apenas à adesão do mesmo por parte do consumidor. Por tanto o contrato seria uma espécie de acordo, entre pessoas (físicas ou jurídicas) que assumem obrigações entre si, podendo estes ser verbais ou escritos.
O contrato de adesão sempre será escrito, constando as principais informações da contratação no mesmo (dados das partes, dados do bem, valores e características do produto e do serviço, prazo do contrato, localidade e data da contratação com assinatura dos interessados), em síntese funciona como uma apresentação do contrato formal (final), esse contrato também é conhecido como “Pré-Contrato”.
O contrato, de acordo com o CDC deve:
a. Apresentar letra em tamanho de fácil leitura;
b. Apresentar mais detalhadamente os dados expressos no contrato de adesão;
c. Destacar de preferência em negrito as cláusulas que limitem os direitos do consumidor;
d. Deve ser sempre no idioma nacional da contratação;
e. O que sempre deve constar: Informações das partes e do bem contratado, CNPJ da empresa, se houver, os valores e as características do produto ou serviço, prazo do contrato, localidade e data da contratação com assinatura dos interessados.
O CDC estabelece o equilíbrio dos direitos e obrigações elencadas na efetivação da relação contratual. São tidas como cláusulas abusivas as que:
1. Diminuam a responsabilidade do Fornecedor em casos de dano ao Consumidor;
2. Proíbam o consumidor nos termos do artigo 18, §1ºCDC (em caso de vício): de devolver o produto (prazo especificado em nota fiscal), substituir o mesmo por outro (novo) de mesma espécie ou reaver a quantia eventualmente antecipada devidamente corrigida;
3. Estabeleçam obrigações para terceiros estranhos à lide, que não sejam fornecedor e consumidor;
4. Apresentem vantagem manifestamente excessiva art. 39, V, do CDC;
5. Estabeleçam a obrigatoriedade de que somente o consumidor deve apresentar as provas necessárias no processo judicial;
6. Aplicam multas que ultrapassam o valor total do contrato;
7. Proíbam o consumidor de recorrer diretamente aos órgãos de Proteção do Consumidor e ao judiciário, sem antes contactar o fornecedor; 
8. Autorizem o fornecedor a alterar o preço; 
9. Possibilitem ao fornecedor alteração contratual, sem prévia autorização do consumidor; 
10. Estabeleçam a perda das prestações já pagas, por algum tipo de descumprimento obrigacional por parte do consumidor;
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO CONTRATO
I – Elementos essenciais 
a) Gerais: Capacidade do agente, objeto lícito, possível, determinável ou determinado e consentimento
↝ Capacidade do agente: para que um ato seja considerado válido é necessário que o agente tenha capacidade, nos termos do Código Civil (art. 3º CC/02); por esse motivo, os relativamente incapazes (art. 4º CC/02) são assistidos, e os absolutamente incapazes são representados. Na falta de representação o ato será nulo (CC. art. 166, I), e na falta de assistência, o ato será anulável (CC. art. 171, I).
Convém observar que, salvo os atos personalíssimos, todos os demais podem ser praticados por representantes (CC. art. 116) e são três as espécies de representação:
Legal: A quem a norma confere poderes para administrar bens alheios, como os pais, em relação aos bens dos filhos menores (CC. art. 115, 1ª parte), tutores quanto aos pupilos (CC. art. 1747, I), e curadores pelos curatelados (CC. art. 1774) 
Judicial: Quando são nomeados pelo magistrado como o curador de herança jacente, o síndico, o inventariante, caso em que temos uma representação imprópria pois foge da noção de dupla vontade. 
Convencional: Quando se verifica o instrumento de mandato (CC/02, arts. 115, art. 2ª parte, 653 a 692 e 120, 2ª parte). 
Além da capacidade geral existe, também, para a prática de certos atos, a necessidade de uma capacidade especial em certos casos: 
Outorga uxória ou marital: CC/02, art. 1647, I – regra específica da compra e venda e contratos assimilados;
Proibição de venda de bem a descendente sem ciência dos demais: CC. art. 496, parágrafo único – regra da compra e venda;
Casos de indignidade: CC arts. 1814 a 1818 – regra do contrato de doação;
Impedimento de o curador adquirir bens do curatelado: CC. art. 497, I;
↝ Objeto lícito e possível: É necessário que o objetoenvolvido no ato jurídico seja física e juridicamente possível e mais, que não ofenda a lei.
Objeto lícito: A prestação deve ser lícita, ou seja, deve estar de conformidade com a moral, os bons costumes e à ordem pública e, principalmente, com as disposições legais vigentes. Ilícitas são as convenções que objetivem usura, contrabando, câmbio negro, e etc. Ilícito ou impossível o objeto, nula será a obrigação (CC, art. 166, II), não produzindo qualquer efeito o ato. 
Objeto possível: Porque o objeto da obrigação tem que ser possível, pois do contrário não é suscetível de cumprimento. Distingue-se a possibilidade material da possibilidade jurídica. Possibilidade material diz respeito à realização do objeto em si mesmo. E a possibilidade jurídica pretende que a obrigação realize-se em conformidade com a ordem jurídica. O requisito da possibilidade esta presente em toda prestação, positiva ou negativa, pois é intuitivo que, em cada caso, se o sujeito devedor de uma ação, ou de uma omissão, a nada pode se obrigar se a prestação não for possível de ser realizada. Se a impossibilidade for concomitante à constituição do vínculo, este não se forma. 
Mas, se, no entanto, a impossibilidade for superveniente, torna a obrigação inexeqüível. Se a impossibilidade for provocada por caso fortuito ou força maior, ela libera a obrigação. Se, no entanto, a obrigação se impossibilitar por causa de alguém, a este responsável caberá arcar com ela. A impossibilidade pode ser física ou material, legal ou jurídica.
Haverá impossibilidade física ou material sempre que a estipulação concernir a prestação que jamais poderá ser obtida ou efetuada, por contrariar as leis da natureza (loteamento da lua, comprar o oceano), ultrapassa as forças humanas. 
Haverá impossibilidade legal ou jurídica sempre que a estipulação se refira a objeto proibido por lei como, por exemplo, a alienação de bens públicos, de bem de família, de bens onerados com cláusula de inalienabilidade e etc. A impossibilidade deve ser real e absoluta.
Consentimento: (CC, art. 111) sendo o consentimento ato voluntário, poderá dar-se de forma expressa ou tácita. Será expresso quando explícito e tácito quando implícito, isto é, quando se praticar algum ato que demonstre aceitação, como, por exemplo, o ato de um indivíduo que ao receber uma proposta de prestação de serviços de consultoria jurídica, passa a utilizar os serviços oferecidos sem manifestar o seu “de acordo”. 
b) Particulares: formas e solenidades previstas em lei como diz o CC., art. 104, III, já mencionado, que diz forma prevista ou não defesa em lei. Neste sentido podemos afirmar que existem: 
↝ Formas livres ou gerais: Aquelas que podem se dar com a manifestação da vontade de forma escrita ou oral, expressa ou tácita, desde que não contrarie os preceitos acima; e as formas especiais ou solenes: aqui encontramos um conjunto de solenidades que a própria lei estipula para a concretização de um ato e dentre elas citamos. 
Forma única: Aquela que não pode ser preterida por outra, como a exigência de escritura pública para certos atos (CC, arts. 108, 215, 1653, 1227 e 1245), as exigências para os casamentos (CC, arts. 1534 a 1542), dentre outras, e a 
Forma plural: Quando a lei faculta a prática de um ato por diversos modos, excludentes, porém não livres (CC, arts. 1609; 62; 1806 e 1417 por exemplo) 
Forma genérica: Quando temos uma imposição de uma solenidade geral dentro de uma faculdade contratual possível de ser exercida ou não, por exemplo, sempre que a lei disser que algo deve ser ou não feito “salvo disposição em contrário” estará genericamente indicando o modo de praticar o ato, mas facultando às partes como querem agir. 
Forma contratual: É o modo eleito pelas partes para fazer valer as obrigações que pactuam, ou seja, convencionam, antes do ato principal a forma como será feito o contrato entre elas (CC., art. 104).
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO CONTRATUAL
I – Perspectiva civil-constitucional dos contratos
Em uma perspectiva civil-constitucional, devemos ter em conta que o contrato, espécie mais importante de negócio jurídico, apenas se afirma socialmente se entendido como um instrumento de conciliação de interesses contrapostos, manejado com vistas à pacificação social e ao desenvolvimento econômico.
Não podemos, dessa forma, considerá-lo como um instrumento de opressão, mas sim de realização.
Lamentavelmente, não é raro um dos contraentes pretender utilizá-lo como açoite, visando a subjugar a parte economicamente mais fraca, em franco desrespeito à sua função social. Isso mesmo: todo contrato deve observar a uma função social.
Ora, se nós já constatamos que este negócio jurídico serve como inegável veículo de manifestação do direito de propriedade, e este último fora, na Carta Magna de 1988, devidamente socializado, por consequência, o contrato também acabaria por sofrer o mesmo processo (Pablo Stolze Gagliano).
 “Em verdade, se é certo que a Carta Magna de 1988, de forma explícita, condiciona que a livre-iniciativa deve ser exercida em consonância com o princípio da função social da propriedade (art. 170, III), e, uma vez entendida que a propriedade representa o segmento estático da atividade econômica, não é desarrazoado entender que o contrato, enquanto segmento dinâmico, implicitamente também está afetado pela cláusula da função social da propriedade, pois o contrato é um instrumento poderoso da circulação da riqueza, ou melhor, da própria propriedade”. (JOÃO HORA NETO)
Em nosso sentir, na medida em que o processo de constitucionalização do Direito Civil conduziu-nos a um repensar da função social da propriedade, toda a ideologia assentada acerca do contrato passou a ser revista, segundo um panorama de respeito à dignidade da pessoa humana.
Em um Estado verdadeiramente democrático de direito, o contrato somente atenderá à sua função social no momento em que, sem prejuízo ao livre exercício da autonomia privada:
1) respeitar a dignidade da pessoa humana — traduzida sobretudo nos direitos e garantias fundamentais;
2) admitir a relativização do princípio da igualdade das partes contratantes — somente aplicável aos contratos verdadeiramente paritários, que atualmente são minoria;
3) consagrar uma cláusula implícita de boa-fé objetiva — ínsita em todo contrato bilateral, e impositiva dos deveres anexos de lealdade, confiança, assistência, confidencialidade e informação;
4) respeitar o meio ambiente;
5) respeitar o valor social do trabalho.
 Há um importante aspecto que deve ser ressaltado: o reconhecimento deste princípio não significa negação da autonomia privada e da livre-iniciativa. Pelo contrário. Significa sua reeducação.
 “A função social do contrato não se contrapõe à autonomia privada, mas com ela se coaduna e se compatibiliza. À conclusão semelhante se chegou na ‘23ª Jornada de Direito Civil’: ‘A função social do contrato, prevista no art. 421 do Código Civil, não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio, quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana’”. (NELSON NERY JR).
II – Principiologia contratual
1. Princípio da dignidade da pessoa humana
Por se tratar de cláusula geral, de natureza principiológica, a sua definição é missão das mais árduas, muito embora arrisquemo-nos em dizer que a noção jurídica de dignidade traduz um valor fundamental de respeito à existência humana, segundo as suas possibilidades e expectativas, patrimoniais e afetivas, indispensáveis à sua realização pessoal e à busca da felicidade.
Mais do que garantir a simples sobrevivência, este princípio assegura o direito de se viver plenamente, sem quaisquer intervenções espúrias — estatais ou particulares — na realização desta finalidade.
Nessa mesma linha, e com absoluta precisão, ALEXANDRE DOS SANTOS CUNHA, discorrendo a respeito de tão importante tema, acentua:
“O princípio da dignidade da pessoa humana, não obstante a sua inclusão no texto constitucional, é,tanto por sua origem quanto pela sua concretização, um instituto basilar do direito privado. Enquanto fundamento primeiro da ordem jurídica constitucional, ele o é também do direito público. Indo mais além, pode-se dizer que é a interface entre ambos: o vértice do Estado de Direito.
O seu reconhecimento, enquanto direito fundamental, leva à necessidade de requestionamento de uma série de dogmas civilísticos, em especial aqueles que constituem seu núcleo central: a autonomia, os bens, o patrimônio, a pessoa e a propriedade”.
Vê-se, portanto, que o princípio da dignidade da pessoa humana culmina por descortinar a nova vocação do Direito Privado, qual seja, a de redirecionar o alcance de suas normas para a proteção da pessoa, sem prejuízo dos mecanismos reguladores da proteção ao patrimônio.
Conforme lembram CRISTIANO CHAVES DE FARIAS e PABLO STOLZE GAGLIANO, a sua dimensão é especialmente ampla, com assento, inclusive, na jurisprudência de outros Estados do mundo:
“Veja-se, nesse diapasão, importante precedente do Tribunal Constitucional de Portugal, asseverando que ‘a ideia de dignidade da pessoa humana, no seu conteúdo concreto — nas exigências em que se desmultiplica — não é algo puramente apriorístico, mas que necessariamente tem de concretizar-se histórico-culturalmente’ (Acórdão 90-105-2, de 29.3.90, rel. Bravo Serra)”.
Traduz-se, pois, em uma diretriz de inegável solidarismo social, imprescindível à implantação efetiva do Estado Democrático de Direito.
Não é por outro motivo, aliás, que a Constituição da República, em seu art. 1.º, III, dispõe:
“Art. 1.º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
(...)
III — a dignidade da pessoa humana”.
A sua magnitude constitucional, portanto, denota o seu conteúdo essencialmente político, transcendente, pois, de qualquer tentativa de contenção pelo Direito Público ou Privado. Nessa linha de raciocínio é o pensamento de GUSTAVO TEPEDINO:
“Com efeito, a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento da República, associada ao objetivo fundamental de erradicação da pobreza e da marginalização, e de redução das desigualdades sociais, juntamente com a previsão do § 2.º do art. 5.º, no sentido da não exclusão de quaisquer direitos e garantias, mesmo que não expressos, desde que decorrentes dos princípios adotados pelo Texto Maior, configuram uma verdadeira cláusula geral de tutela e promoção da pessoa humana, tomada como valor máximo pelo ordenamento7.
Nesse diapasão, tomando-se em contato os reflexos do princípio da dignidade da pessoa humana no plano infraconstitucional, verificamos a necessidade da efetiva proteção aos direitos da personalidade, atualmente disciplinados pelos arts. 11 a 21 do Código Civil.
Essa tutela, portanto, afigura-se indispensável para que o comando constitucional de “promoção da pessoa humana”, para utilizarmos a precisa definição de TEPEDINO, tenha plena aplicabilidade.
O reconhecimento jurídico formal dos direitos da personalidade é relativamente recente, sendo, inclusive, sintomático que somente agora venham a ser consagrados no Código Civil.
Alguns dos direitos da personalidade, porém, se examinados em relação ao Estado (e não em relação aos outros indivíduos), ingressam no campo das liberdades públicas, consagradas pelo Direito Constitucional.
O reconhecimento de tais direitos liga-se com a consagração constitucional do princípio da dignidade da pessoa humana, e, consequentemente, acaba por se refletir no campo do Direito Contratual.
Não se concebe mais, portanto, nesse diapasão, que o tratamento dispensado ao contratante subjugue o respeito que se deve ter em face da pessoa humana. Valores tais como a vida, a imagem, a privacidade, a integridade física etc. não podem ser desconsiderados a pretexto de se exigir determinada prestação.
Ao se exigir o cumprimento forçado de uma prestação inadimplida, o credor não pode pretender lançar mão de mecanismos atentatórios à dignidade da pessoa humana, senão quando a própria Constituição expressamente admitir o sacrifício de um valor individual tendo em vista fins superiores.
E a prevalência do ditame constitucional de tutela da dignidade da pessoa humana, em face de quaisquer outros princípios, de natureza econômica ou não, é resultado da aplicação do princípio da proporcionalidade, que tem nítida função regulatória em nosso sistema jurídico.
2. Princípio da função social
Observa o bem coletivo e as garantias constitucionais.
3. Princípio da autonomia privada
O princípio da autonomia da vontade se alicerça exatamente na ampla liberdade contratual, no poder dos contratantes de disciplinar os seus interesses mediante acordo de vontades, suscitando efeitos tutelados pela ordem jurídica. Serve de fundamento para a celebração dos contratos atípicos. Contrato atípico é o que resulta de um acordo de vontades não regulado no ordenamento jurídico, mas gerado pelas necessidades e interesses das partes (Carlos Roberto Gonçalves).
Consiste na liberdade de as pessoas regularem, através de contratos, seus interesses, respeitados os limites legais. Os contratos são fenômeno da autonomia privada, em que as partes se impõem normas de conduta. São seus sub-princípios:
a) Princípio da liberdade de contratar: A esfera que o particular tem de optar por celebrar o contrato – ou não;
b) Princípio da liberdade contratual: A liberdade para estabelecer o conteúdo do contrato;
c) Princípio da relatividade contratual: O contrato, em princípio, só obriga as partes, apesar de, em determinados casos, poder se opor a terceiros;
d) Princípio do consensualismo: Basta a convenção das vontades para que o contrato se considere celebrado;
e) Princípio da imutabilidade ou intangibilidade: Determina que o contrato só poderá ser alterado por mútuo acordo das partes.
4. Princípio da boa-fé contratual (boa-fé objetiva)
É dever das partes agirem de acordo com certos padrões de correção e lealdade (art. 113, 187 e 422 CC/02). Esse princípio apresenta as seguintes funções:
a) Interpretativa: O princípio manda que os contratos devam ser interpretados de acordo com o seu sentido objetivo aparente, salvo quando o destinatário conheça a vontade real do declarante.
b) Integrativa: O contrato contém deveres, poderes, direitos e faculdades primários e secundários, integrados pelo princípio da boa-fé.
c) De controle: Se refere às limitações da liberdade de contratar, da autonomia privada da vontade em geral e do abuso de direito.
5. Princípio da obrigatoriedade (intangibilidade) dos contratos (pacta sunt servanda)
O referido princípio representa a força vinculante das convenções. A ordem jurídica concede a cada um a liberdade de contratar e definir os termos e objeto da avença. Os que o fizerem, porém, sendo o contrato válido e eficaz, devem cumpri-lo, não podendo se forrarem às suas consequências, a não ser com a anuência do outro contraente. Como foram as partes que escolheram os termos do ajuste e a ele se vincularam, não cabe ao juiz preocupar-se com a severidade das cláusulas aceitas, que não podem ser atacadas sob a invocação dos princípios de equidade. O princípio da força obrigatória do contrato significa, em essência, a irreversibilidade da palavra empenhada (Carlos Roberto Gonçalves).
O aludido princípio tem por fundamentos: 
a) A necessidade de segurança nos negócios, que deixaria de existir se os contratantes pudessem não cumprir a palavra empenhada, gerando a balbúrdia e o caos; 
b) A intangibilidade ou imutabilidade do contrato, decorrente da convicção de que o acordo de vontades faz lei entre as partes, personificada pela máxima pacta sunt servanda (os pactos devem ser cumpridos), não podendo ser alterado nem pelo juiz. Qualquer modificação ou revogação terá de ser, também, bilateral. O seu inadimplemento confere à parte lesada o direito de fazer uso dos instrumentos judiciários para obrigar a outra a cumpri-lo, ou a indenizar pelasperdas e danos, sob pena de execução patrimonial (CC/02, art. 389).
A única limitação a esse princípio, dentro da concepção clássica, é a escusa por caso fortuito ou força maior, consignada no art. 393 e parágrafo único do Código Civil. A suavização do princípio da obrigatoriedade, no entanto, não significa o seu desaparecimento. Continua sendo imprescindível que haja segurança nas relações jurídicas criadas pelo contrato, tanto que o Código Civil, ao afirmar que o seu descumprimento acarretará ao inadimplente a responsabilidade não só por perdas e danos, mas também por juros, atualização monetária e honorários advocatícios (art. 389), consagra tal princípio, ainda que implicitamente. O que não se tolera mais é a obrigatoriedade quando as partes se encontram em patamares diversos e dessa disparidade ocorra proveito injustificado.
6. Princípio da boa-fé objetiva
O princípio da boa-fé exige que as partes se comportem de forma correta não só durante as tratativas, como também durante a formação e o cumprimento do contrato. Guarda relação com o princípio de direito segundo o qual ninguém pode beneficiar-se da própria torpeza. Recomenda ao juiz que presuma a boa-fé, devendo a má-fé, ao contrário, ser provada por quem a alega. Deve este, ao julgar demanda na qual se discuta a relação contratual, dar por pressuposta a boa-fé objetiva, que impõe ao contratante um padrão de conduta, de agir com retidão, ou seja, com probidade, honestidade e lealdade, nos moldes do homem comum, atendidas as peculiaridades dos usos e costumes do lugar.
A regra da boa-fé é uma cláusula geral para a aplicação do direito obrigacional, que permite a solução do caso levando em consideração fatores metajurídicos e princípios jurídicos gerais. O sistema civil implantado no país fornece ao juiz um instrumental que privilegiava os princípios da autonomia da vontade e da obrigatoriedade dos contratos, seguindo uma diretriz individualista. A reformulação operada com base nos princípios da socialidade, eticidade e operabilidade deu nova feição aos princípios fundamentais dos contratos, como se extrai dos novos institutos nele incorporados, verbi gratia: o estado de perigo, a lesão, a onerosidade excessiva, a função social dos contratos como preceito de ordem pública (CC, art. 2.035, parágrafo único) e, especialmente, a boa-fé e a probidade. De tal sorte que se pode hoje dizer, sinteticamente, que as cláusulas gerais que o juiz deve rigorosamente aplicar no julgamento das relações obrigacionais são: a boa-fé objetiva, o fim social do contrato e a ordem pública.
O princípio da boa-fé se biparte em boa-fé subjetiva, também chamada de concepção psicológica da boa-fé, e boa-fé objetiva, também denominada concepção ética da boa-fé.
A boa-fé subjetiva diz respeito ao conhecimento ou à ignorância da pessoa relativamente a certos fatos, sendo levada em consideração pelo direito, para os fins específicos da situação regulada. Serve à proteção daquele que tem a consciência de estar agindo conforme o direito, apesar de ser outra a realidade. A expressão “boa-fé subjetiva” denota estado de consciência, ou convencimento individual da parte ao agir em conformidade ao direito, sendo aplicável, em regra, ao campo dos direitos reais, especialmente em matéria possessória. Diz-se “subjetiva” justamente porque, para a sua aplicação, deve o intérprete considerar a intenção do sujeito da relação jurídica, o seu estado psicológico ou íntima convicção.
Em sua concepção psicológica (subjetiva), a boa-fé sempre se baseia numa crença ou numa ignorância. Num primeiro plano, a boa-fé subjetiva implica a noção de entendimento equivocado, em erro que enreda o contratante. A situação é regular e a ignorância escusável reside no “próprio estado (subjetivo) da ignorância (as hipóteses de casamento putativo, da aquisição da propriedade alheia mediante a usucapião), seja numa errônea aparência de certo ato (mandato aparente, herdeiro aparente etc.)”.
Todavia, a boa-fé que constitui inovação do Código de 2002 e acarretou profunda alteração no direito obrigacional clássico é a objetiva, que se constitui em uma norma jurídica fundada em um princípio geral do direito, segundo o qual todos devem comportar-se de boa-fé nas suas relações recíprocas. Classifica-se, assim, como regra de conduta. Incluída no direito positivo de grande parte dos países ocidentais, deixa de ser princípio geral de direito para transformar-se em cláusula geral de boa-fé objetiva. É, portanto, fonte de direito e de obrigações.
Denota-se, portanto, que a boa-fé é tanto forma de conduta (subjetiva ou psicológica) como norma de comportamento (objetiva). Nesta última acepção, está fundada na honestidade, na retidão, na lealdade e na consideração para com os interesses do outro contraente, especialmente no sentido de não lhe sonegar informações relevantes a respeito do objeto e conteúdo do negócio.
A boa-fé objetiva constitui um modelo jurídico, na medida em que se reveste de variadas formas. Não é possível catalogar ou elencar, a priori, as hipóteses em que ela pode configurar-se, porque se trata de uma norma cujo conteúdo não pode ser rigidamente fixado, dependendo sempre das concretas circunstâncias do caso. No entanto, essa imprecisão se mostra necessária, num sistema aberto, para que o intérprete tenha liberdade de estabelecer o seu sentido e alcance em cada caso56.
VÍCIOS CONTRATUAIS
I – VÍCIOS REDIBITÓRIOS
1. Conceito (arts. 441 a 446 CC/02)
São vícios aparentes (de fácil constatação) ou ocultos (que somente podem ser conhecidos mais tarde), que desvalorizam a coisa ou a tornam imprópria para o uso. Também pode ser vício ou defeito oculto aqueles que tornam a coisa imprópria para o uso a que se destina, ou lhe acarreta diminuição do valor.
2. Requisitos
a) Que a coisa tenha sido recebida em virtude de contrato cumulativo ou de doação onerosa;
b) O defeito deve ser substancial, ou seja, que afete diretamente a finalidade da coisa e/ou o seu valor;
c) Que os defeitos existam no momento da celebração do contrato e que perdurem até o momento da reclamação: o alienante não responde pelos vícios supervenientes à aquisição, pois estes fazem presumir o mau uso da coisa;
d) Que os defeitos sejam desconhecidos pelo adquirente: Se os conhecia ao tempo da compra, entende-se que renunciou a garantia. 
3. Ações cabíveis
a) Ação redibitória: É a ação do comprador ou adquirente contra o vendedor para que este responde pelos vícios redibitórios da coisa vendida, os quais eram dele ocultos ou por ele desconhecidos. Decorre da obrigação do vendedor de assegurar ao comprador não somente a posse pacífica, mas a posse útil da coisa vendida.
b) Ação quanti minoris: Ação em que o adquirente reclama apenas o abatimento do preço da coisa viciada. Decorre do princípio da preservação do contrato.
4. Responsabilidade do alienante
a) Conhecimento ou não do vício – grau (art. 443): A responsabilidade do adquirente subsiste independentemente do conhecimento do vício; no entanto, fica condicionada à comprovação de boa ou má-fé.
b) Ciência prévia: Se ficar comprovado que o alienante já tinha conhecimento do vício antes da tradição, deverá este restituir o que recebeu, com o acréscimo de perdas e danos; ignorando-o, restituirá apenas o valor recebido e o das despesas contratuais (RT 447/216).
c) Perecimento ou desaparecimento da coisa (art. 444): A responsabilidade do alienante subsiste quando, já em poder do adquirente, a coisa alienada perece em virtude do vício oculto, desde que este preexista à tradição da coisa. Não se aplica, neste caso, o art. 442.
5. Decadência
Regra geral: art. 445, caput;
II – Evicção
1. Conceito
Perda da coisa em virtude de sentença judicial, que atribui a outrem por causa jurídica preexistente ao contrato. Defeito de direito.
Funda-se no mesmo princípio de garantia em que se assenta a teoria dos vícios redibitórios. Esse princípio que vincula o alienante a garantir o uso e gozo da coisa e protege o adquirente contra defeitos ocultos, se estende também aosdefeitos de direito transmitidos.
2. Requisitos
a) Perda total ou parcial da propriedade, posse ou uso da coisa alienada: Constitui pressuposto da evicção o recebimento da coisa em condições de perfeito uso devido à ausência de qualquer defeito oculto e a sua posterior perda, total ou parcial, conforme se veja dela despojado.
b) Onerosidade da aquisição.
c) Ignorância, pelo adquirente, da litigiosidade da coisa. Não pode o adquirente demandar pela evicção, se sabia que a coisa era alheia ou litigiosa (art. 457 CC/02).
d) Anterioridade do direito do evictor: O alienante só responde pela perda decorrente de causa já existente ao tempo da alienação.
3. Sujeitos
a) Evictor: Terceiro prejudicado e reinvindicante; verdadeiro/legítimo dono da coisa;
b) Evito: Adquirente lesado e vencido;
c) Alienante: Responsável pela transmissão do bem ou direito reinvindicado e que responde pelos riscos da evicção.
RESPONSABILIDADE CIVIL
Introdução
“Em princípio, toda atividade que acarreta um prejuízo gera responsabilidade ou dever de indenizar. Haverá, por vezes, excludentes que impedem indenização. O termo responsabilidade é utilizado em qualquer situação na qual alguma pessoa, natural ou jurídica, deva arcar com as consequências de um ato, fato ou negócio danoso. Sob essa noção, toda atividade humana, portanto, pode acarretar o dever de indenizar. Desse modo, o estudo da responsabilidade civil abrange todo o conjunto de normas que regem a obrigação de indenizar” (Silvio de Salva Venosa).
Diferenças entre responsabilidade civil e criminal
José de Aguiar Dias: Toda manifestação humana gera responsabilidade; não necessariamente gera crime.
Miguel Fenech: A diferença não está na causa ou no ato ou na conduta; o ponto está no desdobramento de dois aspectos:
1 – Seriedade da sanção penal (princípio da intervenção mínima);
2 – Exigência de tipicidade para a resposta sancionatória (princípio da legalidade).
No Direito Civil, há que se verificar comportamentos genéricos para os ilícitos civis.
Conceito
Oriunda da transgressão ou violação de uma norma jurídica pré-existente, legal ou contratual, impondo ao causador do dano o dever jurídico de indenizar.
Dependendo da natureza da norma jurídica violada, fala-se em responsabilidade civil contratual ou extra contratual. Exemplos: Deixar de pagar mensalidade de faculdade – responsabilidade contratual; acidente de trânsito – responsabilidade extra contratual.
Regra geral:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Abuso de direito:
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Obrigação de reparar o dano.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
O que se entende por abuso de direito
Quando o sujeito excede o exercício de um direito de que dispõe, gerando dano e dever de indenizar (art. 187). Desvirtua-se a finalidade do direito. Independe de dolo ou culpa.
Elementos fundamentais da responsabilidade civil
1. Conduta humana: Ação e/ou omissão. Fato praticado por ser humano.
2. Nexo de causalidade: Há de se verificar dano ou prejuízo obrigatoriamente. Ligação direta entre conduta e dano. É possível a responsabilidade civil por ato lícito. Ex.: desapropriação, servidão de passagem forçada, etc.
3. Teoria da conditio sine qua non (equivalência das condições): Leva em consideração tudo o que concorreu para aquele resultado. É uma teoria não adotada pelo atual Código Civil.
4. Teoria da causalidade adequada: Apenas o antecedente abstratamente idôneo antes do resultado será considerado. Define-se uma causa determinada para o resultado.
5. Teoria da causalidade direta e imediata: Há de se verificar se o nexo de causalidade apresenta vínculo direto e imediato. Causa é o antecedente que determina o resultado como consequência sua, direta e imediatamente (art. 403 CC/02).
Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual.
6. Dano: Devem ser observados os seguintes requisitos para que o dano seja indenizável:
I – Violação de um interesse jurídico patrimonial;
II – Observância de dano;
III – O dano deve ser concreto. Não há dano hipotético, abstrato.
QUESTÕES ESPECIAIS
1. Como mensurar o redutor indenizatório de dano previsto no art. 944 do Código¿
A função da indenização é recuperar o status quo ante. Ao aplicar o redutor indenizatório o juiz deve considerar os danos efetivos da vítima e se essa não exige indenização abusiva, buscando valor menos oneroso para o devedor, uma vez que não se tem em vista puni-lo.
2 O que é dano indireto
É a série de danos sofridos pela mesma vítima – dano em cadeia.
3. O que é dano in re ipsa
É uma espécie de dano moral que não necessita de prova em juízo.
4. O que é dano reflexo ou em ricochete¿
É um prejuízo sofrido por uma segunda vítima, ligada à vítima direta do ato.
Direito Civil V: Dos Direitos Reais
Direito Civil VI: Direito de família
FILIAÇÃO
Art. 1.596. Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.
Relação de parentesco consanguíneo, em primeiro grau e em linha reta que liga uma pessoa àquelas que a geraram ou que a receberam como se tivessem gerado (Carlos Roberto Gonçalves).
A Constituição Federal estabelece a igualdade entre os filhos, não havendo que se falar em filiação legítima e ilegítima como no Código Civil de 1916 (art. 227, da CF/88).
Presunção legal de paternidade
Baseado no que comumente acontece, presume-se que a prole havida da mulher casada é fruto de sua relação com o marido, sendo filho deste. Art. 1.597 do Código Civil: Os dois primeiros incisos se baseiam nos períodos máximo e mínimo de gestação viável. O prazo começa a fluir do momento em que se estabelece a convivência conjugal (inc. I) ou da data da separação de fato devidamente comprovada. Tais presunções se estendem à união estável.
Em regra, a presunção de paternidade é juris tantum, admitindo prova em contrário. Pode, pois, ser elidida pelo marido, mediante ação negatória de paternidade, que é imprescritível (art. 1.601 do CC/02). Não incidirá se o filho nascer antes de a convivência conjugal completar 180 dias.
Fecundação homóloga
Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos:
III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido;
O vocábulo fecundação indica a fase de reprodução assistida consistente na fertilização do óvulo pelo espermatozóide. O material genético é, neste caso, pertencente ao casal. A fecundação post mortem é realizada com o embrião ou sêmen conservado, após a morte do doador, por meio de técnicas especiais.
Embriões excedentários
 Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos:
IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga;
Embriões excedentários são aqueles oriundos da fecundação artificial de gametas humanos que não são introduzidos no corpo feminino, sendo conservados por meio de técnicas especializadas. A Resolução 1.358/92 do Conselho Federal de Medicina faz a definição em termos legais de embrião.
Apenas é admitida a concepção de embriões excedentários se estes foremconcebidos em fecundação homóloga – ou seja, a filiação deve ser sanguínea. 
Ver também: Resolução 2013 de 2013 do Conselho Federal de Medicina, que dispõe sobre a reprodução assistida.
Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos:
V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido.
Ocorre tal modalidade de inseminação quando é utilizado sêmen de outro homem, normalmente doador anônimo, para a fecundação do óvulo da mulher. Exige-se, para tanto, que o marido tenha previamente autorizado a utilização de sêmen estranho ao seu. Pergunta: e como isso funciona na união estável?
Ação negatória de paternidade e de maternidade
Destina-se a excluir a presunção legal de paternidade. A legitimidade ativa é privativa do marido (CC, art. 1.601). Só ele tem a titularidade, a iniciativa de ação, mas, uma vez iniciada, passa a seus herdeiros (art. 1.601, parágrafo único) se vier a falecer durante o seu curso.
Legitimado passivamente é o filho, mas, por ter sido efetuado o registro pela mãe – e porque se objetiva desconstituir um ato jurídico, retirando do registro civil o nome que figura como pai – deve ela também integrar a lide, na posição de ré.
Sobre isso, ver: Lei 8.560 de 1992 e o ECA, em seu artigo 27.
A mãe pode contestar o termo de nascimento, mediante ação impugnatória, se puder demonstrar que o mesmo é falso, segundo o artigo 1.608 do Código Civil, uma vez que paira no ordenamento jurídico a presunção mater in jure semper certa est (a maternidade sempre é certa).
Gestação por substituição
Resolução 2013 de 2013 do CFM
1 - As doadoras temporárias do útero devem pertencer à família de um dos parceiros num parentesco consanguíneo até o quarto grau (primeiro grau – mãe; segundo grau – irmã/avó; terceiro grau – tia; quarto grau – prima), em todos os casos respeitada a idade limite de até 50 anos.
2 - A doação temporária do útero não poderá ter caráter lucrativo ou comercial.
A gestação por substituição, vulgarmente conhecida como barriga de aluguel, é meio previsto em lei que permite com que um casal que tenha limitações fisiológicas com relação à gravidez da mulher ceda o material genético para que terceira tenha a gestação, sendo que a prole será registrada no nome dos concessores do material genético.
Sobre isso dispõe a Resolução 2013 de 2013 do Conselho Federal de Medicina que a gestação por substituição não deve ter caráter lucrativo ou remuneratório para aquela que cede o ventre, e a substituição deve se dar, preferencialmente, em parentes consangüíneas em até quarto grau, respeitando-se a idade limite de 50 anos.
Filiação homoparental
Caso de reprodução assistida em que se utiliza o material genético do casal homossexual. Caso seja um casal de homens, utiliza-se o gameta de um ou de ambos com material genético feminino comprado (melhor dizendo: fornecido pela clínica especializada, que de qualquer forma não é barata). Caso seja um casal de mulheres, utiliza-se o material genético de uma com gameta masculino anônimo ou doado, sendo que a outra cede o ventre para gestação. Se não for assim será caracterizada a adoção unilateral.
RECONHECIMENTO DOS FILHOS
Os filhos de pais casados não precisam ser reconhecidos pois a paternidade pelo sistema do Código Civil decorre do casamento dos pais. Se estes são casados e por desídia ou outra razão não providenciaram o registro do filho, assegura-se a este a ação de prova de filiação (art. 1.606 do Código Civil).
O filho havido fora do casamento não é beneficiado pela presunção de paternidade, devendo haver o reconhecimento. Se a mãe comparece sozinha ao cartório para registrar a criança, não pode exigir o lançamento do nome do pai, salvo se este estiver presente e consentir, ou salvo se ela tiver a procuração com a autorização dele.
Formas de reconhecimento
Art. 1.609. O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito:
I - no registro do nascimento;
II - por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório;
III - por testamento, ainda que incidentalmente manifestado;
IV - por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o contém.
Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou ser posterior ao seu falecimento, se ele deixar descendentes.
As formas de reconhecimento voluntário da filiação estão previstas no artigo supra mencionado. Qualquer que seja a forma, será sempre irrevogável. Podem ser utilizados tanto pelo pai quanto pela mãe, embora seja mais freqüente sua aplicação no tocante ao pai.
O reconhecimento voluntário ou perfilhação pode ser feito, portanto:
a) No registro de nascimento
No próprio termo, mediante declaração por um ou por ambos os pais. Se o filho já estiver registrado em nome de um deles, o outro também poderá fazer o reconhecimento no próprio termo, mediante averbação por determinação judicial, ou a pedido da parte (art. 1.609, I, CC/02).
b) Por escritura pública ou particular a ser arquivada em cartório
A escritura pode ser lavrada especificamente para o reconhecimento ou este pode fazer-se incidentemente em escritura que tenha outros objetivos imediatos, desde que a manifestação seja expressa e não deixe margem a nenhuma dúvida.
c) Por testamento, ainda que incidentalmente manifestado
Não se exige a feitura do testamento para o fim específico de reconhecimento do filho. As formas válidas de testamento ordinário são as mencionadas no art. 1.862 do Código Civil. Podem os pais valer-se, ainda, em situações de viagem ou guerra, dos testamentos especiais: o marítimo, o aeronáutico e o militar (art. 1.886 do CC/02).
d) Por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o contém
O ato no qual se dá a manifestação voluntária de reconhecimento de filho pode resultar de qualquer depoimento em juízo prestado pelo genitor, incidentalmente e tomado por termo, ainda que a finalidade desse depoimento seja outra. O juiz, diante do reconhecimento manifestado, encaminhará certidão ao Cartório do Registro Civil, para que seja providenciada a averbação no registro de nascimento do filho.

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