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AULA Nº 31: CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 1 - INTRODUÇÃO Trataremos, a partir da aula de hoje, de um assunto que, já há alguns anos, tem constado de quase todos os editais de concursos da área fiscal e cuja importância proporcional é hoje, bastante significativa nos programas de certames dessa natureza: o controle da Administração Pública. O tema "controle da Administração" não é de sistematização fácil, pois não existe um diploma único que o discipline e nem a Constituição dele tratou concentradamente em um título ou capítulo. O que se observa, contrariamente, é que diferentes modalidades, hipóteses, instrumentos, órgãos etc. de controle encontram-se previstos e regrados em diversos atos normativos, sendo, ainda, de grande importância o estudo do tema o conhecimento das orientações doutrinárias e jurisprudenciais a ele relativas. O mais amplo controle possível da atuação da Administração Pública é um corolário dos Estados de Direito, nos quais somente a lei deve pautar a atividade da Administração, atividade esta cujo fim mediato deve sempre ser o mesmo: defesa e tutela do interesse público. Sob esta orientação, já o Decreto-Lei 200/67, que instrumentalizou a denominada "Reforma Administrativa Federal" (não confundir com a "Reforma Administrativa", cujas diretrizes encontram-se plasmadas na Emenda Constitucional nº 19/98, aplicável a todas as esferas de governo da Federação, e que vem sendo implementada aos poucos, por meio de atos normativos infraconstitucionais) elegeu o controle como um dos princípios fundamentais da Administração. 2 - CONCEITO Conceituaremos controle como o poder-dever de vigilância, orientação e correção que a própria Administração, ou outro Poder, diretamente ou por meio de órgãos especializados, exerce sobre sua atuação administrativa. Garante-se, mediante o amplo controle da Administração, a legitimidade de seus atos, a adequada conduta funcional de seus agentes e a defesa dos direitos dos administrados. O poder-dever de controle é exercitável por todos os Poderes da República, estendendo-se a toda a atividade administrativa (em todos os Poderes) e abrangendo todos os seus agentes. Por esse motivo, diversas são as formas pelas quais o controle se exercita, sendo, destarte, inúmeras as denominações adotadas. Seguiremos, aqui, a classificação proposta pelo Professor Hely Lopes Meirelles. 3 - CLASSIFICAÇÃO DAS FORMAS DE CONTROLE 3.1 – CONFORME A ORIGEM 3.1.1 – Controle Interno O controle interno é aquele exercido dentro de um mesmo Poder, automaticamente ou por meio de órgãos integrantes de sua própria estrutura. Assim, o controle que as chefias exercem sobre os atos de seus subordinados dentro de um órgão público é classificado como controle interno. Da mesma forma, o controle que o Conselho de Contribuintes do Ministério da Fazenda, quando provocado, exerce sobre as decisões proferidas pelas Delegacias de Julgamento da Secretaria da Receita Federal, é modalidade de controle interno, exercido por órgão especializado. Ainda exemplificando, o controle que o Ministério da Previdência e Assistência Social exerce sobre determinados atos administrativos praticados pela autarquia Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) é forma de controle interno. O mesmo raciocínio vale para os demais Poderes. Sempre que um agente ou órgão do Poder Legislativo possuir atribuição de fiscalizar a prática de determinado ato administrativo praticado pelo mesmo Poder Legislativo estaremos diante de hipótese de controle interno. Igualmente, quando órgãos ou agentes do Poder Judiciário verificam a legitimidade e a regularidade dos atos administrativos praticados pelo próprio Judiciário, a hipótese será de controle interno. O art. 74 da Constituição de 1988 determina que os Poderes mantenham sistemas de controle interno, estabelecendo os itens mínimos a serem objeto deste controle, como abaixo se lê: "Art. 74 - Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma integrada, sistema de controle interno com a finalidade de: I - avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plurianual, a execução dos programas de governo e dos orçamentos da União; II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da administração federal, bem como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado; III - exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, bem como dos direitos e haveres da União; IV - apoiar o controle externo no exercício de sua missão institucional." O parágrafo primeiro desse artigo estabelece que "os responsáveis pelo controle interno, ao tomarem conhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade, dela darão ciência ao Tribunal de Contas da União, sob pena de responsabilidade solidária". 3.1.2 – Controle Externo Diz-se externo o controle quando exercido por um Poder sobre os atos administrativos praticados por outro Poder. São exemplos de atos de controle externo a sustação, pelo Congresso Nacional, de atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar (CF, art. 49, V); a anulação de um ato do Executivo por decisão judicial; O julgamento anual, pelo Congresso Nacional, das contas prestadas pelo Presidente da República e a apreciação dos relatórios, por ele apresentados, sobre a execução dos planos de governo (CF, art. 49, IX); a auditoria realizada pelo Tribunal de Contas sobre despesas realizadas pelo Executivo etc. 3.1.3 – Controle Popular Uma vez que a Administração deve sempre atuar visando à satisfação do interesse público, nada mais lógico (e necessário) do que a existência de inúmeros mecanismos, constitucionalmente previstos, à disposição dos administrados, que possibilitem a verificação da regularidade da atuação da Administração e impeçam a prática de atos ilegítimos, lesivos ao indivíduo ou à coletividade, ou possibilitem a reparação dos danos decorrentes da prática destes atos. Assim, o art. 31, § 3º, da CF, determina que as contas dos Municípios fiquem, durante sessenta dias, anualmente, à disposição de qualquer contribuinte, para exame e apreciação, o qual poderá questionar-lhes a legitimidade, nos termos da lei. Ainda exemplificando, no art. 5º, LXXIII, da CF/88, fica estabelecido que "qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural". Também o parágrafo 2º do acima transcrito art.74 da CF estatui que "qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte legítima para, na forma da lei, denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União". E assim por diante. 3.2 – CONFORME O MOMENTO DE EXERCÍCIO 3.2.1 – Controle Prévio ou Preventivo (a priori) Diz-se prévio o controle quando exercido antes do início da prática ou antes da conclusão do ato administrativo, constituindo-se em requisito para a validade ou para a produção de efeitos do ato controlado. Exemplo de controle prévio é a autorização do Senado Federal necessária para que a União, os estados, o DF ou os municípios possam contrair empréstimos externos. É também exemplo a aprovação, pelo Senado Federal, da escolha de ministros dos tribunais superiores, do Procurador-Geral da República, do presidente do Banco Central etc., conforme previsto no art. 52 da CF. A aprovação ali referida é um ato de controle prévio, pois precede a nomeação dos citados agentes públicos, conforme se depreende da leitura do art. 84, XIV, da CF. Por último, pode-se citar como controle prévio a concessão de uma medida liminar em mandado de segurança preventivo que impeça a prática ou a conclusão de um ato administrativo que o administrado entenda ferir direito líquido e certo seu. 3.2.2 – Controle ConcomitanteO controle concomitante, como o nome indica, é exercido durante a realização do ato e permite a verificação da regularidade de sua formação. São exemplos de controle concomitante a fiscalização da execução de um contrato administrativo, a realização de uma auditoria durante a execução do orçamento, o acompanhamento de um concurso pela corregedoria competente etc. 2.3 – Controle Subseqüente ou Corretivo O controle subseqüente, talvez a mais comum das modalidades, é exercido após a conclusão do ato. Mediante o controle subseqüente é possível a correção de defeitos do ato, a declaração de sua nulidade ou mesmo conferir eficácia ao ato. Exemplos são a homologação de um procedimento licitatório, a homologação de um concurso público, a sustação, pelo Congresso Nacional, de atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar etc. O controle judicial dos atos administrativos é, regra geral, um controle subseqüente. QUESTÕES SOBRE O ASSUNTO 1 - (CESPE/Papiloscopista PF/1997) Qualquer cidadão pode, em princípio, promover, pessoalmente, o controle da administração pública. ( ) 2 – A Constituição determina que os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário mantenham sistema de controle interno. ( ) 3 – A sustação, pelo Congresso Nacional, de atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar é exemplo de controle prévio ou preventivo. ( ) 4 – A sustação, pelo Congresso Nacional, de atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar é exemplo de controle externo. ( ) 5 - A autorização do Senado Federal necessária para que a União, os estados, o DF ou os municípios possam contrair empréstimos externos é exemplo de controle concomitante. ( ) 6 - O poder-dever de controle é exercitável por todos os Poderes da República. Entretanto, somente os atos praticados pelo Poder Executivo podem ser objeto de controle pelos Poderes Legislativo e Judiciário. ( ) 7 - Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte legítima para denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União. ( ) 8 - A anulação, por decisão judicial, de um ato do Poder Executivo é exemplo de controle interno. ( ) 9 - (CESPE/Procurador INSS/1998) O ordenamento jurídico investe o cidadão de meios para desencadear o controle externo da omissão abusiva de um administrador público. Não há, porém, previsão legal específica que autorize um cidadão a suscitar o controle da omissão pela própria administração. ( ) GABARITO 1 – C; 2 – C; 3 – E; 4 – C; 5 – E; 6 – E; 7 – C; 8 – E; 9 - E AULA Nº 32: CLASSIFICAÇÃO DAS FORMAS DE CONTROLE – PARTE II 3.3 – QUANTO AO ASPECTO CONTROLADO 3.3.1 – Controle de Legalidade ou de Legitimidade Por este controle verifica-se se o ato foi praticado em conformidade com a lei. Ressalte-se que o controle de legalidade e legitimidade não verifica apenas a compatibilidade entre o ato e a literalidade da norma legal positivada. Devem, também, ser apreciados os aspectos relativos à obrigatória observância dos princípios administrativos, como o princípio da moralidade ou o da finalidade (impessoalidade). Este controle pode ser exercido pela própria Administração que praticou o ato. Pode, também, ser exercido pelo Poder Judiciário, no exercício de sua função precípua jurisdicional, ou pelo Poder Legislativo, nos casos previstos na Constituição (ambas as hipóteses são de controle externo). Como resultado do exercício do controle de legalidade pode ser declarada a existência de vício no ato que implique a declaração de sua nulidade. A anulação (mais precisamente a declaração de nulidade) ocorre nos casos em que existe ilegalidade no ato administrativo e, por isso, pode ser feita pela própria Administração (controle interno) ou pelo Poder Judiciário (controle externo). A anulação do ato, uma vez que este ofende a lei ou princípios administrativos, opera efeitos retroativos, ex tunc, isto é, retroage à origem do ato, desfazendo as relações dele resultantes. Para os principais autores, o ato administrativo somente podia ser ou válido ou nulo, neste caso, não passível de correção e incapaz de produzir efeitos, exceto perante terceiros de boa-fé. A possibilidade de a Administração editar um ato anulável, passível, portanto, de convalidação, era negada pela doutrina administrativista tradicional. Pois bem, com a edição da Lei 9.784/1999, que regulou, de forma genérica, os processos administrativos na esfera federal, passou a ser expressamente admitida a convalidação de atos administrativos defeituosos. A Lei, explicitamente, trouxe duas hipóteses de convalidação de atos administrativos defeituosos, o que nos permite falar, pelo menos em um caso, em ato administrativo anulável (aquele eivado de "defeitos sanáveis"). São as seguintes as hipóteses de convalidação: 1) Quando os efeitos do ato viciado forem favoráveis ao administrado, a Administração dispõe de cinco anos para anulá-lo, prazo este decadencial. Findo este prazo sem manifestação da Administração, convalidado estará o ato e definitivos serão os efeitos dele decorrentes, salvo comprovada má-fé (do beneficiário). Trata-se de hipótese de convalidação tácita. 2) O art. 55 prevê a possibilidade de convalidação expressa, por iniciativa da Administração, quando dos defeitos do ato não resulte lesão ao interesse público ou a terceiros. A Lei expressamente utiliza o termo "defeitos sanáveis", para referir-se a tais vícios. Em resumo, mediante o controle de legalidade ou legitimidade, a Administração, ou o Poder Judiciário e, nos casos expressos na Constituição, o Poder Legislativo, declararam a nulidade de atos administrativos ilegais ou ilegítimos. No âmbito desse controle é possível, ainda, a convalidação do ato, pela Administração, na hipótese de atos praticados com defeitos sanáveis (que não acarretem lesão ao interesse público ou a terceiros). 3.3.2 – Controle de Mérito O controle de mérito visa a verificar a eficiência, a oportunidade e a conveniência do ato controlado. O controle de mérito compete, normalmente, ao próprio Poder que editou o ato. Muito excepcionalmente, apenas nos casos expressos na Constituição, o Poder Legislativo pode exercer controle de mérito sobre atos praticados pelo Poder Executivo. Esse entendimento decorre da previsão ampla estatuída no art. 49, X, da CF/88, segundo o qual, compete exclusivamente ao Congresso Nacional, "fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta". O Poder Judiciário não pode, em nenhuma hipótese, exercer controle de mérito sobre atos praticados pelo Poder Executivo. Como resultado do controle de mérito, a Administração pode proceder à revogação de atos por ela própria editados. A revogação retira do mundo jurídico atos válidos, legítimos, perfeitos, mas que se tornaram inconvenientes, inoportunos, desnecessários, ineficientes. Na lição do professor Hely Lopes Meirelles, "revogação é a supressão de um ato administrativo legítimo e eficaz, realizada pela Administração – e somente por ela – por não mais lhe convir sua existência." Entende a Administração que o ato tornou-se inconveniente ao interesse público. A revogação tem por fundamento o poder discricionário, somente pode ser realizada pela própria Administração e pode, em princípio, alcançar qualquer ato desta espécie, resguardados, entretanto, os direitos adquiridos. Em todos os casos, como o ato revogado era um ato perfeito e operante, sua revogação somente pode produzir efeitos proativos, ex nunc. Cabe aqui um esclarecimento muito importante: todos os Poderes têm competência para revogar os atos administrativos por eles próprios editados. É sempre oportuno lembrar que, embora os atos administrativos sejam tipicamente atos do Poder executivo (em virtude de sua função precípua), todos os Poderes, em exercício de funçõesatípicas ou acessórias, editam atos administrativos. Assim, é correto afirmarmos, como acima fiz, que o Poder Judiciário jamais revogará um ato administrativo no exercício de sua função típica jurisdicional (o Poder Judiciário jamais revogará um ato administrativo editado pelo Poder Executivo ou pelo Poder Legislativo). Entretanto, os atos administrativos editados pelo próprio Poder Judiciário, no exercício de suas funções administrativas (acessórias), somente poderão ser revogados por ele próprio (Judiciário), ressaltando-se que ao revogar seus próprios atos administrativos o Judiciário não estará exercendo função jurisdicional, mas sim administrativa (estará considerando inoportuno ou inconveniente o ato por ele editado). 3.4 – QUANTO À AMPLITUDE 3.4.1 – Controle Hierárquico O controle hierárquico é típico do Poder Executivo, sendo, sempre, um controle interno. Resulta o controle hierárquico do escalonamento vertical dos órgãos da Administração Direta ou das unidades integrantes das entidades da Administração Indireta. Assim, na Administração Direta Federal, os ministérios exercem controle hierárquico sobre sua secretarias, as quais, por sua vez, controlam hierarquicamente suas superintendências, que exercem controle hierárquico sobre suas delegacias e assim por diante. No âmbito interno de uma entidade da Administração indireta é, também exercido o controle hierárquico. Assim, o presidente de uma autarquia controla os atos dos superintendentes seus subordinados. Esses exercem controle hierárquico sobre os atos dos chefes de departamentos a eles subordinados e assim por diante. Em resumo, sempre que, dentro da estrutura de uma mesma pessoa jurídica (no caso da Administração Direta Federal, a União) houver escalonamento vertical de órgãos, departamentos, ou quaisquer outras unidades desconcentradas e, portanto, despersonalizadas, haverá controle hierárquico do superior sobre os atos praticados pelos subalternos. Em razão de sua natureza, o controle hierárquico é pleno (irrestrito), permanente e automático (não depende de norma específica que o estabeleça ou autorize). Por meio do controle hierárquico podem ser verificados todos os aspectos concernentes à legalidade e ao mérito de todos os atos praticados pelos agentes ou órgãos subalternos a determinado agente ou órgão. Conforme ensina Hely Lopes Meirelles, para o exercício do controle hierárquico são necessárias as faculdades de supervisão, coordenação, orientação, fiscalização, aprovação, revisão e avocação das atividades controladas. É também fundamental que os agentes responsáveis pelo controle possuam meios corretivos dos desvios e irregularidades verificados. 3.4.2 – Controle Finalístico O controle finalístico é aquele exercido pela Administração Direta sobre as pessoas jurídicas integrantes da Administração Indireta. Como resultado da denominada descentralização administrativa, passam a integrar a Administração Pública Federal não só a União, pessoa política representante da Administração Direta (centralizada), mas também outras pessoas jurídicas, com autonomia administrativa e financeira, vinculadas (e não subordinadas) à Administração Direta por meio de um ministério relacionado às atividades desenvolvidas pela pessoa jurídica. Em razão da autonomia administrativa mencionada, o controle das entidades da Administração Indireta, consubstanciado na denominada supervisão ministerial, em muito difere do controle hierárquico pleno e automático acima descrito. Com efeito, o controle finalístico depende de norma legal que o estabeleça, determine os meios de controle, os aspectos a serem controlados e as ocasiões de realização do controle. Deve, ainda, ser indicada a autoridade controladora e as finalidades objetivadas. Em resumo, o controle finalístico, uma vez que fundamentado numa relação de vinculação entre pessoas (e não em subordinação entre órgãos ou agentes), é um controle limitado e teleológico, ou seja, restringe-se à verificação do enquadramento da entidade controlada no programa geral do governo e à avaliação objetiva do atingimento, pela entidade, de suas finalidades estatutárias. Vista essa classificação didática das forma controle, passaremos à análise do controle exercido pelo Poder Executivo sobre seus próprios atos, denominado controle administrativo. Após o estudo do controle administrativo, trataremos do controle exercido pelo Poder Legislativo sobre os atos praticados pelo Poder Executivo, denominado controle legislativo. Por último, estudaremos o controle exercido pelo Poder Judiciário sobre os atos praticados pelo Poder Executivo, denominado controle judicial. Na ula que vem estudaremos o controle exercido pelo Poder Executivo sobre seus próprios atos (controle administrativo), o controle legislativo e o controle judicial. Até lá. QUESTÕES SOBRE O ASSUNTO 1 - (CESPE/Escrivão PF/1998) O ato discricionário da administração pública não poderá ser objeto de controle pelo Poder Judiciário. ( ) 2 - (CESPE/Escrivão PF/1998) Não se verifica poder hierárquico na relação existente entre a administração direta centralizada e a administração descentralizada. ( ) 3 - (CESPE/Agente PF/1997) Sabendo que o Serviço Federal de Processamento de Dados (SERPRO), que tem a natureza de empresa pública, foi criado porque a União concluiu que lhe conviria criar uma pessoa jurídica especializada para atuar na área de informática, é correto afirmar que a União praticou, nesse caso, descentralização administrativa. ( ) 4 - (CESPE/Agente PF/1997) Tendo o Departamento de Polícia Federal (DPF) criado, nos estados da Federação, Superintendências regionais (SRs/DPF), é correto afirmar que o DPF praticou a desconcentração administrativa. ( ) 5 - (CESPE/Agente PF/1997) As pessoas jurídicas integrantes da administração pública indireta constituem um produto do mecanismo da desconcentração administrativa. ( ) 6 - (CESPE/Agente PF/1997) Tanto na descentralização quanto na desconcentração, mantém-se relação de hierarquia entre o Estado e os órgãos e pessoas jurídicas dela surgida. ( ) 7 - (CESPE/Agente PF/1997) O ato praticado no exercício de poder discricionário é imune a controle judicial. ( ) 8 - (CESPE/Agente PF/1997) A hierarquia implica, como regra geral, as faculdades de o superior delegar ou avocar atribuições. ( ) 9 - (CESPE/Agente PF/1997) A hierarquia implica o dever de obediência do subalterno, dever que, no entanto, não é absoluto. ( ) GABARITO 1 – E; 2 – C; 3 – C; 4 – C; 5 – E; 6 – E; 7 – E; 8 – C; 9 – C AULA Nº 33: CONTROLE ADMINISTRATIVO, CONTROLE LEGISLATIVO E CONTROLE JUDICIAL 4 - CONTROLE EXERCIDO PELO PODER EXECUTIVO SOBRE SEUS PRÓPRIOS ATOS (CONTROLE ADMINISTRATIVO) O controle que o próprio Poder Executivo realiza sobre suas atividades, por ser a forma mais comum de controle, é simplesmente denominado controle administrativo, expressão que utilizaremos de agora em diante com esse significado. O controle administrativo é um controle de legalidade e de mérito. O controle administrativo deriva do poder-dever de autotutela que a Administração tem sobre seus próprios atos e agentes. O controle administrativo, como se depreende de sua definição, é sempre um controle interno, uma vez que dele não participam órgãos estranhos ao Poder Executivo. Os exercício do controle administrativo, de uma forma geral, se dá mediante as atividades de fiscalização e os recursos administrativos. Conforme o órgão que realize o controle administrativo podemos ter: 1) Controle hierárquico próprio: realizado pelos órgãos superiores, sobre os órgãos inferiores, pelas chefias, sobre os atos de seus subordinados, e pelas corregedorias, sobre os órgãos e agentes sujeitos à sua correição. 2) Controle hierárquico impróprio: realizado por órgãos especializados no julgamento de recursos, como, por exemplo, as Delegacias de Julgamento da Receita Federal e os Conselhos de Contribuintes do Ministério da Fazenda. 3) Controlefinalístico: realizado pela Administração Direta sobre as entidades da Administração Indireta (autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista). Esse controle é principalmente realizado pelos ministérios sobre as entidades da Administração Indireta a eles vinculadas (p. ex., o controle exercido pelo Ministério da Previdência e Assistência Social sobre o INSS, autarquia vinculada). A denominada supervisão ministerial encontra-se prevista no Decreto-Lei nº 200/67 e tem por fundamento a relação de vinculação existente entre a Administração Direta, centralizada, e a Indireta. Não há, aqui, relação hierárquica (de subordinação), uma vez que as pessoas jurídicas integrantes da Administração Indireta, descentralizada, gozam de autonomia administrativa e financeira. 5 - CONTROLE LEGILATIVO O controle legislativo, ou parlamentar, é o exercido pelos órgãos legislativos ou por comissões parlamentares sobre determinados atos do Poder Executivo. O controle parlamentar, em respeito ao princípio da independência e harmonia dos Poderes, cláusula pétrea de nosso ordenamento, insculpido no art. 2º da CF/88, somente se verifica nas situações e nos limites expressamente previstos no próprio texto constitucional. Como indica sua definição, o controle legislativo é um controle externo. O controle legislativo configura-se, sobretudo, como um controle político, razão pela qual podem ser controlados aspectos relativos à legalidade e à conveniência pública dos atos do Poder Executivo que estejam sendo controlados. A previsão genérica da possibilidade de controle dos atos do Poder Executivo pelo Poder Legislativo encontra-se no art. 49, X, da CF/88, segundo o qual compete ao Congresso Nacional "fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta". Embora a literalidade deste dispositivo pudesse gerar a impressão de que o controle parlamentar fosse ilimitado, não podemos esquecer a natureza política desse controle, uma vez que não há poder de hierarquia ou de tutela do Legislativo sobre o Executivo e, sobretudo, repise-se, há que sempre ser respeitada a independência e a harmonia entre os Poderes, o que não seria possível se relações de subordinação entre eles houvesse. Feitas essas observações, passaremos a enumerar, acompanhados dos comentários que se fizerem necessários, os principais dispositivos da CF/88 que estabelecem hipóteses ou mecanismos de controle legislativo. O art. 49, V, da CF/88 estabelece a competência do Congresso Nacional para "sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa". Esse importantíssimo inciso deve ser interpretado em conjunção com o art. 84, IV, da Constituição, que declara o Presidente da República competente para editar decretos e regulamentos visando a assegurar o fiel cumprimento das leis. O poder regulamentar, estritamente considerado, costuma ser definido como a faculdade de que dispõem os Chefes de Poder Executivo de expedir atos administrativos gerais e abstratos, de efeitos externos, que explicitem o disposto nas leis a fim de garantir sua fiel execução. Um dos principais pontos que devemos anotar relativamente ao exercício deste poder é o que diz respeito à sua amplitude. A doutrina tradicional costuma dividir os decretos ou regulamentos em "de execução" e "autônomos". Regulamento de execução seria aquele que, estritamente limitado às disposições legais expressas e implícitas, serviria para explicitar comandos nela contidos, aclarar pontos demasiadamente genéricos, enfim, sem desbordar de seus lindes e muito menos ir contra suas disposições, garantisse sua fiel execução. Já o regulamento (ou decreto) autônomo seria o expedido para disciplinar situações ainda não previstas pela lei (sempre respeitadas, obviamente, as matérias expressamente submetidas a reserva legal, sobre as quais é, incontroversamente, vedada a edição de atos administrativos normativos autônomos). Não há consenso na doutrina sobre a possibilidade de existirem decretos autônomos após a promulgação da CF/88. O art. 49, inciso V da CF, ao estabelecer a competência exclusiva do Congresso nacional para "sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa" não auxilia no esclarecimento da questão por não deixar claro que limites seriam esses (que há limites não há dúvida, pois ninguém defende a possibilidade de edição de decreto contra a lei, nem que amplie ou restrinja sua disposições). Parece-me que o inciso IV do art. 84 acima transcrito teria banido o decreto autônomo de nosso ordenamento. Tal entendimento seria, ademais, consentâneo com o art. 5º, II, da CF, ao estatuir que "ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei". De qualquer forma, o controle exercido pelo Poder Legislativo, com base nesse inciso V do art. 49, será um controle de legalidade e legitimidade, e não de mérito, uma vez que não se está autorizando o Legislativo apreciar a oportunidade ou a conveniência dos atos praticados pelo Executivo, mas, sim, a sustar aqueles que extrapolem ou contrariem as leis em razão das quais sejam editados. Outra importante, e bastante ampla, previsão de controle legislativo é a plasmada no art. 58, § 3º da CF/88, que trata das comissões parlamentares de inquérito CPI. Este dispositivo constitucional estabelece que as comissões parlamentares de inquérito terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais e serão criadas para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores. Conforme entendimento do STF, a CPI pode, por ato próprio, desde que motivadamente: (a) convocar investigados e testemunhas a depor, incluindo autoridades públicas federais, estaduais e municipais; (b) determinar as diligências que entender necessárias (é muito comum a solicitação de diligências ao Tribunal de Contas da União, à Secretaria da Receita Federal e à Polícia Federal, nas respectivas áreas de competência); (c) requisitar de repartições públicas informações e documentos de seu interesse; (d) determinar a quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico das pessoas por ela investigadas; (e) convocar juízes para depor, desde que a respeito de sua atuação como administrador público (função não-jurisdicional). Por outro lado, entende o STF que a CPI não pode, por autoridade própria: (a) decretar a busca e apreensão domiciliar de documentos; (b) determinar a indisponibilidade de bens do investigado; (c) decretar a prisão de qualquer pessoa, ressalvada a hipótese de flagrância; (d) determinar a interceptação (escuta) telefônica (não confundir com a quebra do sigilo dos registros telefônicos); (e) impedir a presença de advogados dos investigados nas Sessões da CPI; (f) convocar magistrados para depor a respeito de sua atuação típica, na função jurisdicional. Além das hipóteses de controle parlamentar dos atos do Poder Executivo até aqui descritas, há um considerável número de outras situações disciplinadas no texto constitucional, especialmente nos artigos 49 e 52 da Carta. Cito algumas das que entendo mais importantes: 1) Ao Congresso Nacional compete julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da República e apreciar os relatórios sobre a execução dos planos de governo (art. 49, IX); 2) Ao Senado Federal compete aprovar a escolha de magistrados, ministros do TCU, Procurador Geral da República e outras autoridades (art. 52, III); 3) Ao Senado Federal compete autorizar operações externas de natureza financeira, de interesse da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios (art. 52, V); 4) À Câmara dos Deputados compete proceder à tomada de contas do Presidenteda República, quando não apresentadas ao Congresso Nacional dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa. (art. 51, II). Além disso, ao Congresso Nacional, nesta hipótese auxiliado pelo TCU, compete, mediante controle externo, a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas (art. 70). Dessa importante função de controle exercida Poder Legislativo trataremos separadamente a seguir. 5.1 - A FISCALIZAÇÃO CONTÁBIL, FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA NA CF/88 A fiscalização financeira e orçamentária é exercida sobre os atos de todas as pessoas que administrem bens ou dinheiros públicos. O art. 70, situado no Capítulo da Constituição relativo ao Poder Legislativo, preceitua: "Art. 70 - A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder. Parágrafo único - Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiro, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária." Observa-se que há previsão de um controle interno, exercido pelo próprio Poder que esteja gerindo determinado recurso público objeto do controle, e um controle externo, exercido pelo Poder Legislativo com auxílio dos Tribunais de Contas. O controle interno é um controle pleno, de legalidade, conveniência, oportunidade e eficiência. O controle externo visa a comprovar a probidade da Administração e a regularidade do emprego dos bens e dinheiros públicos, sendo um controle político de legalidade contábil e financeira. 5.1.1 - ATRIBUIÇÕES DOS TRIBUNAIS DE CONTAS Questão complexa é determinar a posição dos Tribunais de Contas perante os demais Poderes. Não são eles órgãos do Poder Executivo. Tampouco seriam órgãos do Poder Judiciário, uma vez que a Constituição a eles não outorga a função jurisdicional formal. Conforme a posição dominante na doutrina os Tribunais de Contas são órgãos auxiliares do Poder Legislativo que não praticam, no entanto, atos de natureza legislativa, mas apenas atos de controle. Algumas das principais atribuições dos Tribunais de Contas, estabelecidas no art. 71 da CF/88, são: 1) Apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da República, mediante elaboração de parecer prévio (art. 71, I); OBS: O responsável pelo julgamento das contas do Presidente da República é o Congresso Nacional, conforme estabelecido no art. 49, IX, da CF/88. 2) Julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público (art. 71, II); 3) Apreciar a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a qualquer título, na administração direta e indireta, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas e pensões. Excetuam-se dessa apreciação as nomeações para cargo de provimento em comissão. (art. 71, III) 4) Aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano causado ao erário (art. 71, VIII); 5) Determinar prazo, se verificada ilegalidade, para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias ao exato cumprimento da lei e, se não atendido, sustar a execução do ato impugnado, comunicando a decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal. (art. 71, IX e X). O controle dos Tribunais de Contas sobre os atos ou contratos da Administração é feito a posteriori, salvo as inspeções e auditorias, que podem ser realizadas a qualquer tempo. Hely Lopes Meirelles ensina que as atividades dos Tribunais de Contas manifestam-se nas funções técnicas opinativas, verificadoras, assessoradoras e jurisdicionais administrativas. 6 - CONTROLE JUDICIÁRIO O controle judiciário, ou judicial, é o exercido pelos órgãos do Poder Judiciário sobre os atos administrativos praticados pelo Poder Executivo, pelo Poder Legislativo ou pelo próprio Poder Judiciário, quando realiza atividades administrativas. O controle judicial é sempre a posteriori, somente relativo à legalidade dos atos administrativos. O controle judicial é, sobretudo, um meio de preservação de direitos individuais dos administrados (nisso diferindo do controle político, exercido pelo Legislativo). O Poder Judiciário, no exercício de sua atividade jurisdicional, sempre age mediante provocação do interessado ou do legitimado (em casos como o da ação popular ou a ação civil pública pode não existir interesse direto do autor relativamente ao bem ou direito lesado). Mediante o exercício do controle judicial dos atos administrativos pode-se decretar a sua anulação (nunca a revogação, decorrente do controle de mérito). A anulação ocorre nos casos em que existe ilegalidade no ato administrativo e, por isso, pode ser feita pela própria Administração (controle interno) ou pelo Poder Judiciário. A anulação do ato, uma vez que este ofende a lei ou princípios administrativos, opera efeitos retroativos, ex tunc, isto é, retroage à origem do ato, desfazendo as relações dele resultantes. O ato nulo não gera direitos ou obrigações para as partes, não cria situações jurídicas definitivas e não admite convalidação (a doutrina ortodoxa não admite a existência de atos administrativos anuláveis, os quais seriam passíveis de saneamento). Essa regra – o ato nulo não gera efeitos -, porém, há que ser excepcionada para com os terceiros de boa-fé que tenham sido atingidos pelos efeitos do ato anulado. Em relação a esses, em face da presunção de legitimidade que norteia toda a atividade administrativa, devem ser amparados os direitos nascidos na vigência do ato posteriormente anulado. É o caso, p. ex., do servidor que é ilegitimamente nomeado para um cargo público. Anulada a sua nomeação, deverá ele, em princípio, repor todos os vencimentos percebidos ilegalmente, mas, em amparo aos terceiros de boa-fé, permanecerão válidos todos os atos por ele praticados no desempenho (ilegítimo) de suas atribuições funcionais. Já foi aqui afirmado que não se admite a aferição do mérito administrativo pelo poder Judiciário. Não faria sentido o juiz, órgão voltado à atividade jurisdicional, muitas vezes distante da realidade e necessidade administrativas, substituir, pela sua, a ótica do administrador. Significa que, se fosse dado ao juiz decidir sobre a legitimidade da valoração de oportunidade e conveniência realizada pelo administrador na prática de atos discricionários de sua competência, estaria esse mesmo juiz substituindo o administrador no exercício dessa atividade valorativa, vale dizer, substituindo o juízo de valor do administrador, mais afeito às coisas da Administração, pelo seu próprio juízo valorativo, evidentemente distanciado deste cotidiano. Não se deve, entretanto, confundir a vedação de que o Judiciário aprecie o mérito administrativo com a possibilidade de aferição pelo Poder Judiciário da legalidade dos atos discricionários. O que o Judiciário não pode é invalidar, devido ao acima explicado, a escolha pelo administrador (resultado de sua valoração de oportunidade e conveniência administrativas) dos elementos motivo e objeto desses atos, que formam o chamado mérito administrativo, desde que feita, essa escolha, dentro dos limites da lei. Ora, no ato administrativo discricionário, além dessesdois, temos outros três elementos que são vinculados (competência, finalidade e forma) e, por conseguinte, podem, e devem, ser aferidos pelo poder Judiciário quanto à sua legalidade. Vale repisar: o ato discricionário, como qualquer outro ato administrativo, está sujeito à apreciação judicial; apenas em relação a dois de seus elementos – motivo e objeto - não há, em princípio, essa possibilidade. A seguir, mencionarei, resumidamente, alguns dos princiapais meios judiciais de controle dos atos da Administração, alguns acessíveis a todos os administrados, outros restritos a legitimados específicos. Em qualquer hipótese, entretanto, devemos ter em mente a regra básica do nosso ordenamento jurídico, plasmada no art. 5º, XXXV, da CF, segundo a qual "a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito" (princípio da inafastabilidade de jurisdição judicial). A) MANDADO DE SEGURANÇA É o remédio constitucional previsto no art. 5º, LXIX, da CF, destinado a proteger direito líquido e certo, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. O mandado de segurança é basicamente regulado pela Lei nº 1.533/51. Trata-se de uma ação civil, de natureza mandamental e rito sumário. Entende-se como ato de autoridade (ato coator), suscetível de impugnação pelo mandado de segurança, qualquer ação ou omissão do Poder Público, ou de seus delegados (ex., concessionárias e permissionárias de serviços públicos) que, no exercício de suas funções (ou a pretexto de exercê-las), acarretem lesão a direito individual líquido e certo. Hely Lopes Meirelles define direito líquido e certo como aquele que se apresenta manifesto na sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser exercitado no momento da impetração. Por esse motivo, a lesão a tal direito deve ser comprovada por meio de documentos, não se admitindo, no mandado de segurança, a prova testemunhal. O prazo para impetração do mandado de segurança é de 120 dias contados do conhecimento oficial do ato a ser impugnado. É um prazo decadencial, não admitindo interrupção nem suspensão. O mandado de segurança pode ser impetrado individualmente, pelo administrado que tenha sofrido o ato coator, ou coletivamente, por partido político com representação no Congresso Nacional; organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados. No primeiro caso, temos o mandado de segurança individual e, no segundo, o mandado de segurança coletivo, inovação introduzida pela CF/88, prevista em seu art. 5º, LXX. A liminar, no mandado de segurança coletivo, somente pode ser concedida após a prestação de informações pela pessoa jurídica de direito público. B) AÇÃO POPULAR A ação popular encontra-se prevista no art. LXXIII da CF/88, nos seguintes termos: "qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência". O inciso é auto explicativo. Por meio da ação popular obtém-se a anulação do ato lesivo. A ação popular encontra-se disciplinada pela Lei nº 4.717/65. A ação popular é um instrumento de defesa dos interesses da coletividade. Não visa a proteger direito próprio do autor, mas sim interesses de toda a comunidade. Pode ser utilizada preventivamente (antes da prática ou da consumação do ato lesivo) ou de forma repressiva (posteriormente ao ato lesivo). C) AÇÃO CIVIL PÚBLICA A ação civil pública visa a reprimir ou impedir lesão a interesses difusos e coletivos, como os relacionados à proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente, do consumidor etc. A ação civil pública deve ser promovida pelo Ministério Público (CF, art. 129, III). A lei 7.347/85, que disciplina essa ação, prevê, ainda, como legitimados, a União, os Estados, o DF e os Municípios, suas autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de economia mista, além de associações que atendam aos requisitos da lei. Admite-se concessão de medida liminar na ação civil pública. FIM. QUESTÕES SOBRE O ASSUNTO 1 - (ESAF/AFTN/98) - O controle afeto ao Tribunal de Contas da União compreende, entre outros, o dos (das) PRIVATE�a) gastos municipais em geral b) partidos políticos c) admissões de pessoal na Administração Pública Federal d) admissões de pessoal no Serviço Público em geral e) obras públicas em geral 2 - (AFCE-TCU/2000) Entre as funções do Tribunal de Contas da União, no exercício do controle externo, incluem-se PRIVATE�a) o registro prévio das despesas públicas b) fiscalizar a aplicação pelos Estados dos recursos que a União lhes repassa mediante convênios c) o julgamento das contas anuais do Presidente da República d) o registro prévio dos contratos administrativos e) decretar a anulação de atos e contratos dos órgãos jurisdicionados considerados ilegais 3 - (AFCE-TCU/2000) A fiscalização contábil, financeira e orçamentária exercida pelo Tribunal de Contas da União, atualmente, PRIVATE�a) faz-se sentir no julgamento das contas dos responsáveis sujeitos à sua jurisdição b) exaure-se nas auditorias e inspeções feitas in loco c) manifesta-se no registro prévio de licitações e contratos d) não alcança os órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário e) não alcança as entidades da Administração Indireta Federal 4 - (AFCE-TCU/2000) A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial dos atos da Administração Pública, exercida pelo Tribunal de Contas da União, no desempenho das suas funções institucionais de controle externo, conforme previsto na Constituição, expressamente, comporta exame quanto aos aspectos de legalidade, legitimidade, economicidade, conveniência e oportunidade dos atos de gestão. PRIVATE�a) Incorreta esta assertiva, porque não comporta exame quanto à conveniência e oportunidade. b) Incorreta esta assertiva, porque não comporta exame quanto à conveniência e economicidade. c) Correta esta assertiva. d) Incorreta esta assertiva, porque não comporta exame quanto à legitimidade e conveniência. e) Incorreta esta assertiva, porque não comporta exame quanto à legitimidade e economicidade. 5 - (AFCE-TCU/2000) Por força de disposição constitucional expressa, o controle externo da Administração Pública Federal é exercido pelo Congresso Nacional com o auxílio do Tribunal de Contas da União, decorrendo desse contexto normativo a assertiva de que este órgão (TCU) é subordinado e dependente daquele (CN), sem funções próprias e privativas. PRIVATE�a) Correta esta assertiva. b) Incorreta esta assertiva, porque essas funções de controle externo são todas próprias do TCU e da sua competência exclusiva. c) Incorreta esta assertiva, porque as funções próprias e privativas do TCU se restringem às administrativas de sua economia interna. d) Incorreta esta assertiva, porque essas funções de controle externo são todas próprias do CN e da sua competência privativa. e) Incorreta esta assertiva, porque esse controle é exercido pelo Congresso Nacional com a participação do TCU, que detém e exerce algumas funções de controle, as quais lhe são próprias e privativas. 6 - (AFCE-TCU/2000) O Tribunal de Contas da União, no âmbito de sua competência e jurisdição, como órgão de controle externo, dispõe de poder regulamentar, em razão do qual pode expedir atos e instruções de caráter normativo PRIVATE�a) que não excedam os limites próprios e peculiares do seu Regimento Interno b) interpretando e disciplinando a execução de leis que disponham a respeito dequalquer matéria sujeita a seu exame e julgamento c) que não excedam os limites de funcionamento dos seus serviços auxiliares internos d) sobre matéria de suas atribuições e organização dos processos que lhe devam ser submetidos e) sobre quaisquer matérias relativas ao controle externo 7 - (AFCE-TCU/2000) No âmbito do controle externo, não compete ao Tribunal de Contas da União: PRIVATE�a) aplicar multas aos responsáveis por ilegalidades de despesa pública b) fiscalizar aplicação de qualquer recurso federal a Estado ou Município c) apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal por concurso público d) fiscalizar as contas internacionais de empresas supranacionais de cujo capital social a União participe e) suster, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal 8 – (ESAF/PFN/1998) No exercício do controle financeiro externo, incumbe ao Tribunal de Contas da União verificar se a despesa realizada ocorreu de modo a atender a uma adequada relação custo-benefício, entre o seu valor e o respectivo resultado para a população. Este controle denomina-se: a) fidelidade funcional b) cumprimento de metas c) legitimidade d) economicidade e) legalidade 9 – (ESAF/AGU/1998) Se o Tribunal de Contas da União, no exercício da sua função de controle externo da atividade financeira do Estado, verificar alguma ilegalidade, em órgão ou entidade do Poder Executivo, poderá fixar prazo para as providências necessárias ao exato cumprimento da lei mas, se não for atendido, poderá de imediato sustar a execução do respectivo ato, a) mesmo no caso de contrato b) exceto no caso de contrato, cuja sustação compete à Câmara dos Deputados c) exceto no caso de contrato, cuja sustação compete ao Senado Federal d) exceto no caso de contrato, cuja sustação compete ao Congresso Nacional e) exceto no caso de contrato cuja sustação compete ao Presidente da República 10 – (ESAF/AGU/1999) São pressupostos do mandado de segurança, exceto: a) lesão ou ameaça de lesão b) dano ao patrimônio público c) ilegalidade ou abuso de poder d) ato de autoridade e) direito líquido e certo não amparado por habeas-corpus ou habeas-data 11 – (ESAF/AGU/1999) No âmbito do processo administrativo, o princípio que autoriza a instituição do processo por iniciativa da Administração, sem necessidade de provocação, denomina-se princípio a) da gratuidade b) do contraditório c) da oficialidade d) da legalidade e) da observância à forma 12 - (CESPE/Procurador INSS/1998) O ordenamento jurídico investe o cidadão de meios para desencadear o controle externo da omissão abusiva de um administrador público. Não há, porém, previsão legal específica que autorize um cidadão a suscitar o controle da omissão pela própria administração. ( ) 13 - (CESPE/Papiloscopista PF/2000) Se o Tribunal de Contas da União constatar o cometimento de ato ilegal por parte de órgão federal, poderá determinar-lhe a imediata revogação do ato, sem prejuízo da responsabilização daqueles que lhe deram causa; nesses casos de ilegalidade, o Ministério Público também pode ajuizar ação para a supressão do ato. ( ) 14 - (CESPE/Papiloscopista PF/1997) As ações judiciais utilizáveis para o controle judicial da administração podem ser utilizados pelo particular tanto no caso de lesão como no de simples ameaça de lesão a direito seu. ( ) 15 - (CESPE/Papiloscopista PF/1997) A ação de mandado de segurança apresenta, entre outras, a particularidade de exigir que se destine à tutela de direito líquido e certo, que se considera, em geral, como aquele provado desde a propositura da ação, por meio de prova documental pré-constituída, isto é, anexada à petição inicial da ação. ( ) 16 - (CESPE/Papiloscopista PF/1997) A ação civil pública é um relevante instrumento de controle judicial da administração. ( ) 17 - (CESPE/Papiloscopista PF/1997) O controle da administração pública federal pelo Poder Legislativo é exercido apenas por meio das comissões especializadas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. ( ) GABARITO 1 – c; 2 – b; 3 – a; 4 – a; 5 – e; 6 – d; 7 – d; 8 – d; 9 – d; 10 – b;11 – c; 12 – E (errado); 13 – E; 14 – C (certo); 15 – C; 16 – C; 17 - E CAPÍTULO VI - O CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 6.1 - Controle Interno e Externo a) Controle Interno - art. 74, CF - Secretaria de Controle Interno - Supervisão Ministerial b) Controle Externo b.1) Controle Parlamentar Direto - art. 49, V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa. - art. 50 - convocar Ministros ou subordinados para prestarem requerimentos e informações. - art. 50, § 2º - mesas do Senado e da Câmara poderão encaminhar pedidos escritos de informação a Ministros de Estado ou a qualquer das pessoas referidas no caput do artigo. - art. 58, § 2º, IV - comissões permanentes e temporárias do CN e suas Casas podem receber petições, reclamações e representações ou queixas de qualquer pessoa contra atos ou omissões das autoridades ou entidades públicas. - art. 58, § 2º, V - Comissões podem solicitar depoimento de qualquer autoridade ou cidadão. - art. 58, § 3º - Comissões Parlamentares de Inquérito com poderes de investigação próprios de autoridade judicial para apuração de fato determinado. - Autorizações ou Aprovação do CN de atos do Executivo (art. 49, I, XII, XIII, XVI e XVII) - Resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais. - Apreciar atos de concessão e renovação de concessão de emissoras de televisão. - Escolher 2/3 dos Ministros do TCU. - Aproveitamento em terras indígenas e exploração de recursos hídricos ou minerais. Poderes Controladores do Senado (art. 52): - aprovar por voto secreto, após argüição pública, a escolha de magistrados, nos casos estabelecidos na Constituição, dos Ministros do TCU indicados pelo Presidente da República, Presidente e Diretores do BACEN, Procurador-Geral da República, a escolha dos Chefes de Missão Diplomática de caráter permanente (argüição secreta) (III); - fixar, por proposta do Presidente, limites globais para o montante da dívida consolidada da União, dos Estados, do DF e dos Municípios (VI); - dispor sobre limites globais e condições para as operações de crédito externo e interno da União, Estados, Municípios, DF, autarquias e demais entidades controladas pelo Poder Público federal (VII); - dispor sobre limites globais e condições para a concessão de garantia da União em operações de crédito externo e interno (VIII), bem como para o montante da dívida mobiliária dos Estados, DF e Municípios (IX). Poderes Controladores do Congresso Nacional (art. 49, IX) - julgar anualmente as contas do Presidente e apreciar os relatórios sobre a execução dos planos de governo. - Câmara dos Deputados toma as contas 60 dias após a abertura de sessão legislativa (15 de fevereiro), se o Presidente da República não apresentá-las (art. 51, II). - art. 85 e 86 - suspensão e destituição do Presidente e Ministro. Presidente comete crime de responsabilidade e a Câmara (2/3 de seus membros) acolhe a acusação de qualquer cidadão e o Senado julga e condena => impeachment. - art. 85 - Crimes de responsabilidade - atos que atentem contra: - existência da União; - livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação; - exercício dos direitos políticos, individuais e sociais; - segurança interna do País; - probidade da administração; - lei orçamentária; - cumprimento das leis e das decisões federais. - Lei especial regula o processo de julgamento (Lei nº 1.079/80) 6.2 - Controle Jurisdicional- Sistema de jurisdição única. 6.3 - Remédios Constitucionais - habeas corpus (art. 5º, LXVIII) => sempre que sofrer ou achar-se ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; - mandado de segurança (art. 5º, LXIX e LXX - Lei 1533, de 31.12.51) => protege direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus, quando o responsável pela ilegalidade for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do poder público; - habeas data (art. 5º, LXXII) => conhecimento de informações relativas ao impetrante em registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público; - mandado de injunção (art. 5º, LXXI) => sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania; - ação popular (art. 5º, LXXIII) => Lei 4.717, de 29.6.65 => visa a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural; - ação civil pública (art. 129, III) => Lei 7.347, de 24.7.85 => ajuizada pelo Ministério Público, visa a proteger o patrimônio público e social, do meio ambiente e outros direitos difusos e coletivos; - ação direta de inconstitucionalidade (art. 102, I, a, e 103) => visa a expurgar do ordenamento jurídico normas incompatíveis com a Constituição Federal. 6.4 - Controle Exercido pelo TCU a) compostura e composição do TCU (art. 73, CF); b) parecer prévio sobre as contas do Presidente (art. 71, I, CF); c) julgamento das contas dos administradores públicos (art. 71, II, CF); d) exame, para fins de registro, da legalidade dos atos de admissão e de concessão (art. 71, III, CF); e) inspeções e auditorias (art. 71, IV, CF); f) fiscalização de recursos federais repassados a Estado, Município ou Distrito Federal (art. 71, VI, CF); g) aplicar sanções nos casos de ilegalidade, na forma da lei (art. 71, VIII, CF e Lei nº 8.443/92, arts. 57 e 58); h) sustar atos ilegais (art.71, X, CF); i) sustar contratos, caso o Congresso Nacional ou o Poder Executivo não adotem as medidas pertinentes (art. 71, § 2º, CF) 6.4.1. Atividades do TCU fiscalizadora; consultiva; informativa; judicante; sancionadora; corretiva; normativa; ouvidoria. 6.4.2. Tipos de Processo no TCU contas – ordinárias e especiais; fiscalização; admissão e concessão; especiais. 6.5 - Tomada e Prestação de Contas Os processos de contas diferenciam-se dos demais tipos de processo, basicamente, pelo tipo de atividade exercida pelo Tribunal. Por meio desta espécie processual, o TCU exerce sua função judicante. Julga as contas dos responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos. A Constituição Federal e a Lei nº 8.443/92, ao retratar a função judicante do Tribunal, distinguiu o exame das contas ordinárias dos administradores públicos da apreciação pontual referente àquelas situações em que há omissão no dever de prestar contas, da ocorrência de desfalque ou desvio de dinheiros, bens ou valores públicos, da não comprovação da aplicação dos recursos repassados pela União mediante convênio ou outros instrumentos congêneres. Na primeira hipótese, têm-se os processos de tomada ou prestação de contas, que decorre do dever geral que todo adminsitrador público tem de prestar contas. Todo aquele que gere bens de terceiros tem a obrigação de comprovar que o fez de forma regular, máxime quando se trata de bens públicos. O art. 7º da Lei nº 8.443/92 estabelece que as contas dos administradores e demais responsáveis submetidos ao controle externo exercido pelo Congresso com o auxílio do TCU serão submetidas a julgamento do Tribunal.O principal objetivo destes processos é informar à sociedade acerca da gestão dos bens e recursos públicos em determinado período. Na segunda hipótese, têm-se as tomadas de contas especiais. Conceito – processo administrativo que objetiva apurar a responsabilidade daquele que der causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte dano ao Erário (art. 3º da IN 13/96, com a redação dada pela IN nº 35/00). Casos de instauração (art. 8º da Lei nº 8.443/92): omissão no dever de prestar contas; não-comprovação da aplicação dos recursos repassados pela União, ou qualquer de seus entes da administração indireta; prática de ato ilegal, ilegítimo ou antieconômico de que resulte dano ao Erário; ocorrência de desfalque ou desvio de dinheiro. Pressupostos de constituição de TCE: competência; existência de dano; responsável; relação jurídica administrativa; possibilidade de apuração dos fatos; esgotamento das vias administrativas internas (art. 1º, § 2º, da IN 13/96 com a redação da IN nº 35/00); economicidade. � Fases do Processo no TCU: recebimento do processo dos órgãos da administração, quando o caso. Juízo de admissibilidade (aferição do preenchimento dos pressupostos de constituição); citação do responsável para apresentar defesa ou recolher o débito. Quatro são as possibilidades: b.1) recolhimento integral do débito. Verificação da existência de boa-fé para fins de julgamento e quitação; b.2) alegações de defesa e recolhimento do débito. Exame da defesa. Julgamento e quitação; b.3) alegações de defesa sem recolhimento do débito. Exame da defesa. Acolhimento. Não acolhimento => Rejeição da defesa e novo prazo para recolher o débito; b.4) não atendimento à citação. Revelia; julgamento; cobrança executiva. 6.6 - Convênio a) Conceitos – “acordos firmados por entidades públicas de qualquer espécie, ou entre estas e organizações particulares, para realização de objetivos de interesse comum dos partícipes.” (Hely Lopes Meirelles) - "Instrumento de realização de um determinado e específico objetivo, em que os interesses não se contrapõem – ainda que haja prestações específicas e individualizadas, a cargo de cada partícipe." (Marçal Justen Filho) b) Definição da IN nº 1/97/STN – "instrumento que disciplina a transferência de recursos públicos e tenha como partícipe órgão da administração pública federal direta ou indireta visando à execução de programas de trabalho, projeto/atividade ou evento de interesse recíproco, em regime de mútua cooperação." c) Convênio x Contrato – a principal diferença entre os institutos reside no fato de que no convênio os interesses são comuns e coincidentes, enquanto que nos contratos os interesses são diversos e opostos. d) Requisitos da IN nº 1/97/STN: - motivos; - objeto; - metas; - etapas de execução; - plano de aplicação dos recursos; - cronograma; - declaração de adimplência; - propriedade do imóvel, quando o caso. e) Assessoria jurídica do concedente devem apreciar as minutas de convênio com os seguintes documentos: - extrato do SIAFI; - prova da capacidade jurídica, técnica e da regularidade fiscal; - comprovação de inexistência de pendência junto à União ou suas entidades; - certificado do Registro de Entidade de Fins Filantrópicos, se o caso. f) Conteúdo do instrumento: - objeto e seus elementos característicos; - obrigação de cada um dos partícipes; - vigência; - obrigação de prorrogação de ofício, no caso de atraso na liberação; - prerrogativa da União de conservar a autoridade normativa e a fiscalização sobre a execução; - classificação das despesas; - liberação dos recursos, conforme cronograma de desembolso; - obrigatoriedade de apresentação dos relatórios; - definição sobre a propriedade dos bens remanescentes; - faculdade de denúncia ou rescisão a qualquer tempo; - restituição do saldo; - obrigação de restituição do valor repassado; - compromisso de recolhimento do valor corrigido da contrapartida; - recolhimentode rendimentos de aplicação do mercado financeiro; - indicação de cada parcela da despesa; - recursos de despesas futuras incluídos no plano plurianual; - obrigações do interveniente e do executor; - livre acesso ao controle interno; - movimentação dos recursos em conta específica; - indicação do foro. g) Vedações: - taxa de administração; - gratificação, consultoria, ou outro pagamento a servidor de qualquer dos entes partícipes; - alteração do objeto ou das metas; - desvio de finalidade; - despesas antes ou depois da vigência; - vigência ou efeitos financeiros retroativos; - despesas com encargos relativos a pagamentos intempestivos; - transferência dos recursos para clubes, associações de servidores, salvo creches e escolas para o atendimento pré-escolar; - despesas com publicidade. Publicidade – imprensa oficial e ciência ao Poder Legislativo respectivo. Casos de suspensão da liberação dos recursos: - não comprovação da boa e regular aplicação de parcela já recebida; - desvio de finalidade; - atraso injustificado no cumprimento das etapas; - violação aos princípios da Administração Pública; - descumprimento de cláusula ou condição do convênio. j) Prestação de contas – final e parcial: j.1) Elementos que devem integrar a prestação de contas final: - plano de trabalho; - cópia do termo de convênio; - relatório de execução físico-financeira; - demonstrativo da execução da receita e despesa; - relação de pagamentos; - relação de bens; - extrato da conta bancária; - cópia do termo de aceitação definitiva; - comprovante de recolhimento do saldo bancário; - cópia da adjudicação e da homologação das licitações realizadas ou justificativa de sua dispensa ou inexigibilidade; j.2) despesas comprovadas por documentos originais fiscais ou equivalentes, mantidos em arquivo no órgão/entidade beneficiário por cinco anos; j.3) análise sob o aspecto técnico e financeiro; j.4) irregularidades na prestação de contas => instauração de TCE; j.5) prestação de contas parcial – relativa a cada uma das parcelas de recursos liberados; j.6) elementos que integram a prestação parcial: - relatório de execução físico-financeira; - demonstrativo da execução da receita e da despesa; - relação de pagamentos; - relação de bens; - extrato da conta bancária; - cópia do termo de aceitação definitiva da obra; - cópia da adjudicação e da homologação das licitações realizadas ou justificativa da dispensa ou da inexigibilidade; l) Causas de rescisão: - utilização dos recursos em desacordo com o plano de trabalho; - aplicação dos recursos no mercado financeiro em instituição bancária diversa daquelas estabelecidas pela IN 1/97/STN; - ausência das prestações de contas parciais e final. m) Rescisão do convênio enseja instauração de TCE. CONTROLE DA ATIVIDADE ADMINISTRATIVA 1) NOÇÕES GERAIS Entre a Administração e os Administrados travam-se relações das mais variadas naturezas, onde aquela está na maior parte delas em posição vantajosa. Contudo o Poder Público deve atuar (art. 37, da CF/88), em todas as suas manifestações, com legitimidade, isto é, segundo as normas pertinentes a cada ato por ele próprio editadas e de acordo com a finalidade e o interesse coletivo na sua realização. Até mesmo nos atos discricionários a conduta de quem os pratica há de ser legítima, conforme as opções permitidas em lei e as exigências do bem comum. Ultrapassando a sua competência ou infringindo as normas legais, o agente público vicia o ato de ilegitimidade, expondo-o à anulação. 2) CONCEITO DE CONTROLE Controle, em tema de Administração Pública, é a faculdade de vigilância, orientação e correção que um Poder, órgão ou autoridade exerce sobre a conduta funcional de outro (heterocontrole) ou de sua própria atuação (autocontrole), visando confirmá-lo ou desfazê-la, conforme seja ou não legal, conveniente, oportuna e eficiente. No âmbito da Administração Direta ou centralizada, o controle decorre da subordinação hierárquica e, no campo da Indireta ou descentralizada, resulta da vinculação administrativa nos termos da lei instituidora das entidades que a compõem. Daí por que o controle hierárquico é pleno e ilimitado, e o controle das autarquias e das entidades paraestatais em geral, sendo apenas um controle finalístico é sempre restrito e limitado aos termos da lei que o estabelece. 3) CLASSIFICAÇÃO Tais controles podem ser: a) interno, quando realizado pela entidade ou órgão responsável pela atividade controlada, no âmbito da própria Administração, b) externo, o realizado por órgão estranho a Administração responsável pelo ato controlado, como por exemplo, a apreciação das contas do Executivo e do Judiciário, pelo Legislativo, c) prévio ou preventivo, o que antecede a conclusão operatividade do ato, como requisito para sua eficácia, v.g.: a liquidação da despesa, para oportuno pagamento. ou, autorização do Senado Federal para o Estado-membro ou um Município contrair empréstimo externo, etc., d) controle concomitante ou sucessivo, que é o que acompanha a realização do ato para verificar a regularidade de sua formação, como por exemplo, a realização de uma auditoria durante a execução do orçamento; fiscalização de um contrato em andamento, etc. e) subseqüente ou corretivo, feito a posteriori e efetiva-se após a conclusão do ato controlado com fim de corrigi-lo nos eventuais defeitos ou dar-lhe eficácia, como a homologação do julgamento de uma concorrência; o visto das autoridades superiores em geral; f) controle de legalidade ou de legitimidade, que objetiva verificar unicamente a conformação do ato ou do procedimento administrativo com as normas legais e demais preceitos que o regem. Pode ser realizado tanto pela Administração Pública como pelo Poder Judiciário. h) controle de mérito, que é todo aquele que visa à comprovação da eficiência, do resultado, da conveniência ou oportunidade do ato controlado, mediante critérios técnicos e científicos de aferição do resultado e comprovação da eficiência. Sua realização, em razão disso, está a cargo da Administração Pública. Não cabe esse controle ao Judiciário. A revogação de uma permissão de uso de bem público, por não mais convir ao permitente, é controle de mérito, como é de mérito a desativação de uma caldeira considerado obsoleta. É bom lembrar também que um ato do Executivo, sujeito a controle externo e prévio do Legislativo, pode ser submetido posteriormente ao controle interno e concomitante da própria Administração e, a final, sujeitar-se a controle de legalidade do Judiciário, caso seja argüido de lesivo ao direito individual do postulante de sua anulação, ou ao patrimônio público. 4) ESPÉCIES Os tipos e formas de controle da atividade administrativa variam segundo o Poder, órgão ou autoridade que o exercita, ou o fundamento, o modo e momento de sua efetivação. Assim, temos o controle da própria Administração sobre seus atos e agentes, chamados controle administrativo, auto controle ou executivo. Depois, vem o do Poder Legislativo sobre determinados atos e agentes do Executivo (controle parlamentar ou legislativo) e, finalmente, a correção dos atos ilegais de qualquer dos Poderes, pelo Poder Judiciário (controle judiciário ou judicial). Vejamos cada um deles: a) Controle Administrativo ou Autocontrole É todo aquele que o Executivo e os órgãos de administração dos demais Poderes exercem sobre suas próprias atividades, visando mantê-las dentro da lei, segundo as necessidades do serviços e as exigências técnicas e econômicas de sua realização, pelo que é um controle de legalidade e de mérito. O controle administrativo deriva do poder-dever de autotutela que a Administração tem sobre seus próprios atos e agentese que é exercido pelos órgãos superiores sobre os inferiores (controle hierárquico próprio das chefias e Corregedorias), com auxílio de órgãos incumbidos do julgamento de recursos (controle hierárquico impróprio) ou ainda de órgãos especializados em determinadas verificações (controle técnico de auditorias, etc.), integrantes da mesma Administração, caracterizado como controle interno. É através do controle administrativo que a Administração pode anular, revogar ou alterar os seus próprios atos e punir os seus agentes com as respectivas penalidades estatutárias, quando considerados atos ilegais ou ineficientes. Os meios de controle administrativo dividem-se em fiscalização hierárquica e recursos administrativos, embora a lei possa especificar outras modalidades mais adequadas para certos órgãos da administração direta e indireta. A fiscalização hierárquica é exercida pelos órgãos superiores sobre os inferiores da mesma Administração, visando ordenar, coordenar, orientar e corrigir suas atividades e agentes. Exercita-se permanentemente e sem descontinuidade em todos os órgãos do Executivo e tem como características a permanência e automaticidade. É dever-poder de chefia e o chefe que não a exerce comete inexação funcional. Os recursos administrativos caracterizam-se como todos os meios hábeis de propiciar o reexame de decisão interna pela própria Administração. Assim, no exercício de sua jurisdição a Administração aprecia e decide as pretensões de seus administrados e de seus servidores, aplicando o direito que entenda cabível, segundo a interpretação de seus órgãos técnicos e jurídicos. Os referidos meios hábeis de propiciar o reexame da atividade administrativa são a representação, a reclamação e o pedido de reconsideração. Representação administrativa é a denúncia formal e assinada de irregularidades internas ou de abuso de poder na, prática de atos administrativos, feita por quem quer que seja à autoridade competente para conhecer e coibir tal ilegalidade apontada. O direito de representar é garantido constitucionalmente (art. 5.", XXXIV, a) e é incondicionado, imprescritível e independente do pagamento de taxas e pode ser exercido por qualquer pessoa, a qualquer tempo e em quaisquer circunstâncias. Quem, no entanto, fizer denúncia com falsidade de imputação poderá sofrer ação de responsabilidade civil e criminal. Reclamação administrativa é a oposição expressa a atos da Administração que afetam direitos e interesses legitimes do administrado. O direito de reclamar é amplo e se estende a toda pessoa física ou jurídica que se sentir lesada ou ameaçada de lesão pessoal ou patrimonial por atos ou fatos administrativos. Pedido de Reconsideração é a solicitação da parte dirigida à mesma autoridade que expediu o ato para que o invalide ou o modifique nos termos da pretensão do requerente. Deferido ou indeferido, total ou parcialmente, não admite novo pedido nem possibilita nova modificação. Cumpre observar, por fim, o que se deve entender por coisa julgada administrativa que, na verdade, não tem o alcance da coisa julgada judicial, tratando-se apenas de urna preclusão de efeitos internos visto que o ato administrativo não deixa de ser um simples ato de decisão, sem força conclusiva, como o ato jurisdicional do Poder Judiciário. Por outro lado, a Administração Pública, para registro de seus atos, controle da conduta de seus agentes e solução de controvérsias dos administrados, utiliza-se de diversos procedimentos que recebem a denominação comum do processo administrativo. Mas, inicialmente há que se distinguir os dois conceitos: Processo é o conjunto de atos coordenados para a obtenção de decisão sobre uma controvérsia no âmbito judicial ou administrativo. Procedimento é o modo de realização do processo, ou seja, é o rito processual. Assim, o processo pode realizar-se por diferentes procedimentos, embora haja inúmeros procedimentos administrativos que não constituem um processo, propriamente dito, como as licitações e os concursos.. O caracteriza um processo mesmo é o ordenamento de atos para a solução de um contraditório; e o que tipifica o procedimento de um processo é o modo específico do ordenamento desses atos. Processo Administrativo é então o gênero que se reparte em várias espécies, dentre as quais destacam-se o processo disciplinar e o processo fiscal ou tributário, chamado de contencioso tributário. Além do mais, o processo administrativo está sujeito a certos princípios, entre os quais: legalidade objetiva, no qual só pode ser instaurado com base na lei e para preservação dela, a oficialidade, que é o princípio pelo qual sempre se atribui o processo à Administração, oficialmente, ainda que tenha sido provocado por particular; informalismo, pelo qual o processo administrativo dispensa ritos sacramentais e formas rígidas, verdade material ou liberdade da prova, o qual autoriza a Administração a valer-se de qualquer prova de que autoridade julgadora ou processante tenha conhecimento, desde que a faça transladar para o processo garantia do processo. assegurado pela Constituição (art. 5°, LV) em decorrência do princípio do devido processo legal ("due process of taw "), também garantido pela CF/88 (art. 5°, LIV), do direito anglo norte americano, garantindo o direito do contraditório (de defesa). O Processo Administrativo Disciplinar, também chamado impropriamente de inquérito administrativo, é o meio de apuração e punição de faltas graves dos servidores públicos e demais pessoas sujeitas ao regime funcional de determinadas repartições públicas. O processo disciplinar é sempre necessário para imposição da pena de demissão ao funcionário estável (CF/88, art. 41 § 1°) e, segundo a jurisprudência, também para o funcionário efetivo, mesmo em estágio probatório. E é instaurado por portaria da autoridade competente e poderá ser revisto a qualquer tempo por parte do interessado, sempre que surgirem fatos novos ou que outras circunstâncias justificarem a inocência do acusado, ou que a pena a ele aplicada for considerada inadequada. O Processo Administrativo Tributário ou Fiscal, é todo aquele que se destina à determinação, exigência ou dispensa do crédito tributário e também de consulta sobre a aplicação da legislação tributária, previsto na respectiva legislação fiscal (na federal, pelo Decreto n° 70.235, de 06/03/72). b) Controle Legislativo ou Parlamentar É o controle exercido pelos órgãos parlamentares ou legislativos, tanto federais, como estaduais e municipais, ou seja, pelo Congresso Nacional, Assembléias Legislativas, Câmara Legislativa (DF) e Câmara dos Vereadores (dos Municípios). No regime federativo brasileiro, os Poderes do Estado não se confundem nem se subordinam, mas se harmonizam, cada qual realizando sua atribuição precípua. Cabe ao Executivo a realização das atividades administrativas, mas em algumas delas depende da cooperação do Legislativo, dada a relevância do ato e suas extensas repercussões políticas internas ou externas, que só o Parlamento está em condições de bem valorar e decidir sobre sua legitimidade e conveniência. O instrumento mais conhecido posto a cargo do Poder Legislativo para atos de controle é a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). O controle do Legislativo sobre o Executivo é de efeito indireto, não cabendo ao Congresso anular os atos administrativos ilegais e nem tem hierarquia sobre as autoridades executivas, mas a Constituição Federal de 1988 ampliou sensivelmente as atribuições do Legislativo para a fiscalização e controle dos atos da Administração em geral (direta ou indireta) nos termos do inciso X do art. 49. Além dessas, há outras missões de controle político deferidas ao Congresso Nacional sobre a Administração, tais como: a de aprovação de tratados e convenções internacionais (art. 49, I); autorização ao Presidente da República para declarar a guerra e fazer a paz (art. 49, II); aprovação ou suspensão de intervenção federal ou deestado de sítio (art. 49, IV), julgamento das contas do Presidente da República (art. 49, IX); a fiscalização financeira e orçamentária da União (art. 70 e 71), nessa parte auxiliado pelo Tribunal de Contas da União (TCU - órgão técnico de apoio ao Poder Legislativo, que integra a sua estrutura), além de outras funções, como as privativas do Senado Federal (art. 52 da CF/88), como a de escolher Magistrados, Membros do TCU, Governador de Território, Presidente e Diretores do Banco Central, Procurador-Geral da República e titulares de outros cargos. O Congresso Nacional tem também, em termos amplos, de fiscalização financeira e orçamentárias sobre a Administração, auxiliado pelo TCU (art. 70 a 75, da CF), em seu controle externo. Os Tribunais de Contas do Brasil (tanto o TCU, como o dos estados-membros, do DF e dos Município - atualmente só o Município de São Paulo o tem) exercem funções técnicas opinativas, verificadoras e de jurisdição administrativas em relação ao controle dos gastos dos respectivos Poderes, por meio de auditoria (controle a posteriori). c) Controle Judiciário ou Controle Judicial Conceito: É controle de legalidade exercido privativamente pelos órgãos do Poder Judiciário, em caráter definitivo, visando compor os conflitos de interesse que lhe são submetido, tendo como objeto processual as controvérsias versando sobre os atos administrativos do Executivo, do Legislativo e do próprio Judiciário, quando realiza atividade administrativa. Características: O controle jurisdicional é externo, provocado, direto e repressivo (realizado a posteriori). É externo por se realizar por órgão que não integra a estrutura organizacional da Administração Pública. É provocado porquanto não atua de ofício, atuando apenas ante a provocação daqueles que se sintam por eles lesados É direto porque incide, precípua e imediatamente, sobre os atos e atividades administrativas. Além disso, é, notadamente, repressivo, dado incidir sobre medida que já produziu ou está produzindo efeitos, quer dizer, é exercido a posteriori. Extraordinariamente, pode ser preventivo. É o que ocorre, por exemplo, com a ação declaratória, o habeas corpus e o mandado de segurança preventivos. Por essas medidas previne-se a atuação da Administração Pública havida por ilegal. Objetivo e Extensão É bem de ver que a competência do Poder Judiciário para a revisão de atos administrativos ou atividades administrativas restringe-se, pois, unicamente ao controle da legalidade e da legitimidade do ato impugnado, confirmando um e outra, se legais, ou os desfazendo, se contrários ao Direito. Entende-se por legalidade aqui, a conformidade do ato com a norma que o rege, e, por legitimidade a conformidade do ato com a moral administrativa e com o interesse coletivo (princípios da moralidade e da finalidade), indissociáveis de toda a atividade pública. O controle jurisdicional, no entanto, não ocorre em matérias de conteúdo discricionário para a Administração Pública, vez que os aspectos de conveniência e oportunidade não podem ser objeto da análise jurisdicional, que não adentra nos juízos de valor. Em suma, a autoridade jurisdicional pode dizer o que é legal ou ilegal, mas não pode dizer o que é oportuno ou conveniente e o que é inoportuno ou inconveniente. Segundo o insigne Seabra Fagundes: Ao Poder Judiciário é vedado apreciar, no exercício do controle jurisdicional, o mérito dos atos administrativos. ........................................................................................................................... O mérito é de atribuição exclusiva do Poder Executivo, e o Poder Judiciário nele penetrando, faria obra de administrador, violando, com isso, o princípio de separação e independência dos poderes. (O Controle dos Atos Administrativos, pág. 116/7) No mesmo sentido, sustenta o ilustre Lafayette Pondé: O controle judicial é um controle de legalidade: verifica apenas se o ato é legal, ou ilegal. Na primeira hipótese, há de ser mantido o ato. Não há como o possa desfazer o judiciário, a menos que, subvertendo a ordenação constitucional, desfaça este a lei em que se fundou o ato. Mas se o ato é ilegal, o judiciário, longe de invadir a órbita administrativa impedirá que a Administração, ela própria usurpando a competência mesmo do legislativo, revogue a lei, pois a tanto equivaleria a subsistência do ato ilegal.(RDA 35/1954). O antigo Tribunal Federal de Recursos, no julgamento dos embargos à apelação 3.244, seguindo o voto do Min. Macedo Ludolf, assim se manifestou: não compete ao julgador perquerir da justiça ou injustiça do ato atacado, eis que, do contrário, haveria invasão franca das atribuições inerentes ao Poder Executivo. Isto é ponto pacífico. (RDA 34/229) Fundamento É o próprio exercício da função jurisdicional, isto é, de determinar o direito aplicável a cada caso. Atos Sujeitos a Controle Especial pelo Judiciário Os atos que sujeitos ao controle especial do Poder Judiciário são: os atos políticos, os atos legislativos e os atos interna corporis, nos quais a Justiça os aprecia com maiores restrições quanto aos motivos ou à via processual adequada. Os atos políticos são os que, praticados por agentes do Governo, no uso de competência constitucional, fundam-se na ampla liberdade de apreciação da conveniência ou oportunidade de sua realização, sem se aterem a critérios jurídicos preestabelecidos. São atos governamentais por excelência, e não apenas de administração, os quais conduzem negócios públicos e não serviços públicos. O Executivo pratica ato político, v. g., quando veta um projeto de lei, ou quando nomeia um Ministro de Estado, ou ainda quando concede indulto, pois aí sempre entra a conveniência ou não do Estado em praticá-lo. Mas, como ninguém pode contrariar a Constituição, segue-se que qualquer ato do Poder Público poderá ser examinado pelo Judiciário, ainda mais quando argüido de inconstitucional ou de lesivo de direito de alguém. Os atos legislativos, quer dizer, as leis propriamente ditas (normas em sentido formal e material) não ficam sujeitas a anulação judicial pelos meios processuais comuns, porém, podem ser anuladas pela via especial da ação direta de inconstitucionalidade (ADIN), tanto para a lei em tese como para os demais atos normativos, pois que estes, enquanto regras gerais abstratas, não atingem os direitos individuais e permanecem inatacáveis por ações ordinárias ou, mesmo, por mandado de segurança. Contudo, as leis e decretos de efeitos concretos podem ser invalidados em procedimentos comuns, em mandado de segurança ou em ação popular, porque já trazem em si os resultados administrativos objetivados, como por exemplo, as leis que criam um Município, ou as que extinguem vantagens para os servidores públicos, ou as que concedem anistia fiscal, entre outras. O atual processo legislativo previsto na Constituição (arts. 59 a 69), de observância obrigatória em todas as Câmaras, bem como as normas regimentais próprias de cada corporação, estão sujeitas ao controle judicial visando resguardar-lhe a legalidade de sua tramitação e legitimidade da elaboração da lei. Assim também o processo de cassação de mandato pelas Câmaras Legislativas, vinculados às respectivas leis, tomou-se passível de controle de legalidade pela Justiça Comum. Os interna corporis também são vedados à revisão judicial comum, mas é preciso que se entenda em seu exato conceito, e nos seus justos limites, o significado de tais atos. Em sentido técnico jurídico (conforme Hely L. Meirelles), interna corporis não é tudo que provém do seio da Câmara ou de suas deliberações internas, mas apenas aquelas questões ou assuntos que digam respeito direta e imediatamente com a economia interna da corporação Legislativa, com seus privilégios e com a formação ideológica da lei que, por sua própria natureza são reservados a exclusiva apreciação e deliberação do Plenário da Câmara, como os atos de escolha da Mesa (eleições internas),cassação de mandatos, concessão de licenças, etc. Sistemas São os regimes de controle da legalidade dos atos e das atividades administrativas, adotados pelo Estado com o fito de mantê-los, se legítimos, ou de desfazê-los, se ilegais. A doutrina costuma distinguir três sistemas: a) Sistema de administração-juiz: As funções de julgar e administrar, nesse sistema, encontravam-se integradas no mesmo órgão ou atividade. Nesse sistema, que não existe mais em nossos dias, quem executa também julga. A título de alegoria o Filme O Juiz, com Silverst Staloni, nos dá uma boa idéia deste sistema. b) Sistema de Jurisdição Única: As funções de julgar e administrar, no sistema de jurisdição única, também chamado de sistema judiciário ou inglês, em razão de suas origens, são desempenhadas por órgãos distintos, pertencentes a Poderes diversos. Assim, os órgãos do Executivo administram, enquanto os do Judiciário julgam. Por esse sistema, todos os litígios são resolvidos, em caráter definitivo, pelo Judiciário. Desse modo, tanto os conflitos entre particulares como entre os particulares e o Estado ou entre duas entidades públicas são solucionados por juizes e Tribunais do Poder Judiciário. Através do Judiciário, portanto, resolvem-se todos os litígios, sejam quais forem as partes interessadas ou a matéria de direito ou de fato que se discute. Afeiçoa-se ao princípio da tripartição das funções do Estado. Com efeito, por esse princípio cada Poder há de exercer função própria. Quem for encarregado, de uma não pode desempenhar outra. Nisso está seu fundamento. Existe na Inglaterra, seu local de nascimento, nos Estados Unidos da América do Norte e no Brasil, entre outros países. No Direito brasileiro, vigora a regra: "A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito" (CF, art. SP, XXXV). Suas decisões fazem coisa julgada. c) Sistema de jurisdição dual: Também chamado sistema de jurisdição dupla, sistema do contencioso administrativo ou sistema francês, em razão de sua origem. Tal sistema consagra duas ordens jurisdicionais. Uma dessas ordens cabe ao Judiciário, outra a organismo próprio do Executivo, chamado de Contencioso Administrativo. O Contencioso Administrativo incumbe-se de conhecer e julgar, em caráter definitivo, as lides em que a Administração Pública é parte (autora ou ré) ou terceira interessada, cabendo a solução das demais pendências ao Poder Judiciário. Nesse sistema, vê-se que a Administração Pública tem uma Justiça própria, localizada fora do Judiciário. Do mesmo modo que o sistema de jurisdição única, também se funda no princípio da separação dos Poderes. Essa separação impede o julgamento de um Poder por outro. Suas decisões, como as do Judiciário, fazem coisa julgada. Nasceu na França e é hoje acolhida na Itália, na Alemanha Ocidental e no Uruguai, entre outros países. No Brasil, durante o Império, tentou-se sua instituição e na Constituição de 1967 previu-se um mecanismo com esse nome, mas sem seus principais atributos, que nunca chegou a ser implantado. Instrumentos do Controle Jurisdicional Os meios de controle judiciário dos atos administrativos de qualquer dos Poderes são as vias processuais de procedimento ordinário, sumaríssimo ou especial de que dispõe o titular do direito lesado ou ameaçado de lesão, para poder obter a anulação do ato ilegal em ação contra a Administração Pública, como a ação de mandado de segurança individual regra esta excepcionada pela ação popular e pela ação civil pública, onde o direito defendido não é apenas de um titular mas da própria coletividade, ou seja, de interesses difusos, além da já mencionada ação direta de inconstitucionalidade. A quase unanimidade destes instrumentos de controle jurisdicional de Administração Pública são exercitados na instância civil, enquanto o habeas corpus, também instrumento desse controle, é utilizado na instância penal. Na verdade, contra a Fazenda Pública cabem quaisquer procedimentos judiciais contenciosos aptos a impedir, reprimir ou invalidar ato ilegal ou abusivo contra o cidadão ou seu patrimônio, mas há ações especiais e rápidas, entre as quais as seguintes: Mandado de Segurança Individual que é o meio constitucional, writ dos ingleses, posto à disposição de toda a pessoa física, jurídica e órgão com capacidade processual (Assembléia Legislativa, Câmara de Vereadores) para proteger direito individual próprio, liquido e certo, não amparado por habeas corpus, lesado ou ameaçado de lesão por ato de qualquer autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça (CF/88, art. 5.°, LXIX). O instituto do mandado de segurança está regulado pela Lei n.° 1.533, de 31/12/51 e é ação civil de rito sumário especial, sujeita a normas procedimentais próprias. As disposições do CPC só supletivamente lhe são aplicáveis. Suas partes, na relação jurídico-processual que se instaura com a impetração, são o impetrante, isto é, o titular do direito lesado ou ameaçado de lesão, o impetrado, ou seja, a autoridade responsável pela ilegalidade ou abuso de poder, também chamada de autoridade coatora, e o Ministério Público (Parquet), além, por certo, dos litisconsortes, do impetrante ou impetrado. São atos de autoridade, suscetíveis dessa medida, todos os que consubstanciam uma ação ou omissão da Administração Pública, ou de quem lhe faça as vezes, no desempenho de suas funções ou a pretexto do seu desempenho. Por outro lado, entende-se como autoridade coatora aquela que pratica o ato impugnado. Assim, não é coatora a autoridade que recomenda a prática do ato ou expede normas para a sua edição e execução. Apesar disso, não se considera coator o agente público subalterno, responsável pela mera execução material do ato. Diga-se, ainda, que não se impetra a medida contra quem não pode atender, por falta de competência, a determinação judicial. "Direito líquido e certo", na bem elaborada definição de Hely Lopes Meirelles (Direito administrativo, cit., p. 614), "é o que se a apresenta manifesto na sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser exercitado no momento da impetração", ou, de forma mais simples, "é o que se apoia em fatos incontroversos, fatos incontestáveis", na lição de Carlos Mário da Silva Velloso (Mandado de segurança, RDP, 55/56:333). Para a interposição da ordem o impetrante tem somente cento e vinte dias, contados da data do ato a ser impugnado. Esse é o prazo para a impetração. Após o seu decurso, esta não mais caberá. Nesse caso, a defesa do direito há de se fazer pelas vias ordinárias. O mandado de segurança é ação judicial que admite, quando relevantes os fundamentos da impetração, e se concedida a ordem final, esta for ineficaz, a suspensão liminar, pelo prazo de noventa dias, da medida tomada pela Administração Pública e que se quer ver impugnada. A liminar, quando concedida, tem efeito mandamental e imediato, não podendo ser obstada na sua execução por qualquer recurso comum, salvo pelo Presidente do Tribunal competente para a apreciação da decisão inferior. Poderá ser mantida ou cassada na sentença do mandamus, isto é, na decisão do mandado de segurança. Impetrada a segurança, a autoridade coatora é notificada para, no prazo de dez dias, oferecer as informações sobre a matéria versada pelo writ. Atendido, ou não, o pedido de informações e com o transcurso do prazo, ouve-se o Ministério Público. Após, ocorrerá a sentença. Da decisão, conforme a circunstância, cabem os recursos: agravo de petição, recurso ordinário, recurso extraordinário, além, é evidente, dos embargos de declaração. Se a sentença conceder a segurança, é obrigatório, por parte do juiz, o recurso de ofício. Mandado de Segurança Coletivo é uma inovação da CF/88 (art. 5.°, LXX), e também remédio posto à disposição de partido poli tico com representação no Congresso Nacional, ou de organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída, e em funcionamento há pelo menosum ano, em defesa do interesse de todos os seus membros ou associados, inclusive quanto ao direito líquido e certo, mas coletivo e não individual, tratado na Lei n.° 8.437,de 01/07/92. Ação Popular: É o instrumento judicial posto à disposição de qualquer cidadão (eleitor) por via constitucional (art. 5° LXXIII) para obter a invalidação de atos, contratos e outros medidas da Administração Pública e de suas autarquias, das entidades da administração indireta ou das entidades subvencionadas pelos cofres públicos, ilegais e lesivos aos respectivos patrimônios, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural. Está prevista no inciso LXXIII do art. 59 da Constituição Federal, e regulada pela Lei federal n° 4.717/65, no que não afrontar a Constituição Federal. Não é medida posta a serviço de pessoa jurídica. Só o cidadão, portador de título de eleitor, pode usá-la. A ação popular é de rito ordinário, com as modificações introduzidas pela sua lei regulamentadora. São partes na relação jurídico-processual que se estabelece, como sujeito ativo, o cidadão, isto é, a pessoa física no gozo de seus direitos políticos, ou seja, o eleitor, como sujeito passivo, um dos mencionados no art. 6°, o Ministério Público e os litisconsortes, se houver. Pela ação popular o autor não protege direitos próprios, mas interesses da comunidade. O beneficiário é o povo, titular do direito subjetivo a um governo honesto, conforme ensina Hely Lopes Meirelles. Pode ser repressiva ou preventiva na defesa do patrimônio público, que é entendido como sendo os bens e direitos de valor econômico, artístico, estético ou histórico. Por essa razão a Constituição Federal o isenta de custas judiciais e da sucumbência, salvo comprovada má-fé (art. 5°, LXX III). O juízo competente para conhecer e julgar a ação popular é o indicado pelo art. 5° da Lei da Ação Popular, que prescreve: "Conforme a origem do ato impugnado, é competente para conhecer da ação, processá-la e julgá-la o juiz que, de acordo com a organização judiciária de cada Estado, o for para as causas que interessam à União, ao Distrito Federal, ao Estado ou ao Município". A condenação do réu nessa ação consistirá na invalidação da medida impugnada, com a conseqüente restituição dos bens ou valores, ou, ainda, no pagamento de perdas e danos. Por essa ação o então Prefeito de São Paulo, Paulo Salim Maluf, foi condenado a ressarcir o tesouro municipal pela ilegal e lesiva doação de carros a jogadores de futebol que haviam ganho o campeonato mundial nessa modalidade esportiva, em 1970. Ação Civil Púbica, disciplinada pela Lei n° 7.347, de 24/07/85, é o instrumento processual adequado para reprimir ou impedir danos ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e a qualquer outro interesse difuso ou coletivo (art. 1°). Não se presta para amparar direito individual e nem a reparar prejuízos causados a particulares pela conduta comissiva ou omissiva do réu. A ação pode ser proposta pelo Ministério Público, União, Estados, Municípios, autarquia, empresa pública, fundação, sociedade de economia mista ou associação que esteja constituída há pelo menos cinco anos e inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico, e paisagístico, consoante estabelece o art. 5° da citada lei, contra as pessoas físicas e jurídicas, e estas públicas (União, Estado-membro, Município, Distrito Federal e autarquia), privadas (sociedade mercantil e industrial) ou governamentais (sociedades de economia mista, empresa pública, fundação) responsáveis por fatos, atos e situações que violem normas de proteção ao meio ambiente e ao consumidor. A ação civil pública deve ser proposta no foro do local onde ocorrer o dano, conforme estabelece o art. 2° da referida lei. Nesse foro também deve ser ajuizada qualquer medida cautelar. O rito dessa ação é o ordinário, e admite liminar quando solicitada pelo autor. Com a liminar fica suspensa a atividade que ensejou a medida. A responsabilidade do réu é objetiva, isto é, não há necessidade de o autor demonstrar que o réu agiu com dolo ou culpa. É suficiente a demonstração do dano que esse foi causado pelo réu. Ao réu, em defesa, só cabe, dada a natureza de sua responsabilidade, demonstrar que não é o responsável pelo fato, ato ou situação que causa lesão ao meio ambiente ou ao consumidor, ou que o fato, o ato ou a situação lesiva não aconteceu, ou, finalmente, que seu comportamento não é lesivo e sua conduta é legal e está autorizada pela autoridade competente. A sentença poderá condenar o réu a uma obrigação de fazer não fazer, ou a uma indenização. Aos membros da Ministério Público cabe promover o inquérito e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos, consoante dispõe o art. 129, III, da Constituição. Apesar disso, terceiros também podem propor essa ação, nos termos do § 1° desse artigo. Mandado de Injunção: Nem todas as normas constitucionais são auto-aplicáveis. Algumas, e são muitas, dependem de regulamentação complementar. A falta dessa complementação legal pode ser o motivo que inibe o destinatário de fruir o benefício consignado na regra constitucional. Assim ocorre com certos direitos assegurados no art. 7° da Constituição Federal aos trabalhadores urbanos e rurais, a exemplo dos direitos a um piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho, à licença-paternidade, consignados, respectivamente, nos incisos V e XIX. Quando isso ocorrer, diz o inciso LXXI do art. 5° da Constituição Federal, conceder-se-á mandado de Injunção". O mandado de Injunção é ação civil constitucional de natureza mandamental, posto à disposição de quem se sentir prejudicado por falta de norma legal ou regulamentadora que torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes a direitos e liberdades, à nacionalidade, à soberania e à cidadania. Se houver a regulamentação, entendemos não caber a impetração. O impetrado é o Poder Público federal, estadual, distrital e municipal, que deveria ter promovido a complementação legal e não o fez. Habeas-data é, igualmente, o meio constitucional posto à disposição de toda a pessoa física ou jurídica para lhe assegurar o conhecimento de registros concernentes ao postulante e existentes em repartições públicas ou particulares, acessíveis ao público, ou para retificação de seus dados pessoais (art. 5°, LXXII, a e b).. A CF/88 acolheu este instituto já conhecido de outros, povos, por força de suas Cartas Constitucionais, de que são exemplos a Constituição portuguesa de 1976 (art. 35) e da Espanhola de 1978 (art. 105), ou em razão de suas leis ordinárias, como ocorre na França e nos Estados Unidos da América do Norte. Obviamente que só caberá "habeas corpus" se houver recusa por parte da autoridade administrativa em fornecer as informações desejadas pelo particular postulante. A retificação, cremos, pode visar uma correção ou uma complementação O inciso referido deixa entrever que o mesmo direito pode ser conseguido por processo sigiloso, judicial ou administrativo. Pode ser impetrado por qualquer pessoa física ou jurídica, nacional ou estrangeira. São sujeitos passivos da impetração as pessoas públicas ou privadas. Estas só se mantiverem registros ou bancos de dados de natureza pública (Serviço de Proteção de Crédito). O rito processual, dada a grande semelhança desse instituto com o mandado de segurança, é o instituído para este writ, com a aplicação subsidiária do Código de Processo Civil. Ação direta de Inconstitucionalidade (ADIN) de lei ou ato normativo federal ou estadual, prevista na Constituição/88, em seu art. 102, I, a, como competência originária do STF, é procedimento especial regulamentado pela Lei n° 4.337, de 01/06/64,com alteração dada pela Lei n° 5.778, de 15/05/72, que pode ser ajuizada a qualquer tempo pelo Procurador-Geral da República ou por qualquer das autoridades, das entidades ou dos órgãos que a própria CF/88 enumera em seu art. 103, contra a lei em tese ou qualquer ato normativo, antes mesmo de produzir seus efeitos concretos. Há ainda a medida cautelar (CF/88, art. 102, I, p) e outras ações especiais ou ordinárias contra atos da Administração. 5) A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EM JUÍZO Em juízo, a Administração Pública recebe a denominação de Fazenda Pública. Assim, é a Fazenda Pública federal, estadual ou municipal que como ré ou autora, comparece para defender os interesses públicos. De regra tem foro próprio e juízo privativo, nos termos da Constituição Federal, da Lei de Organização da Justiça Federal e das Leis de Organização da Justiça Estadual. A União, suas autarquias e empresas públicas, em primeira instância, demandam perante a Justiça Federal, sediada na capital de cada Estado-membro, salvo as exceções, e, em segunda instância, junto ao Tribunal Regional Federal, onde vão ter os recursos ordinários. A ação decorrente das relações de trabalho entre a União, as autarquias federais, as empresas públicas, as sociedades de economia mista e as fundações federais e seus respectivos servidores, independentemente da natureza do vínculo que os liga a uma dessas entidades, processa-se perante a Justiça do Trabalho, onde também são decididos os recursos eventualmente interpostos. Os Estados federados, nas causas de competência da Justiça Estadual, litigam na respectiva capital, em juízo, privativo ou comum, salvo em relação às ações reais e aos mandados de segurança, cujo foro é, respectivamente, o da situação do bem ou da sede da autoridade coatora. Os seus servidores celetistas demandam perante a Justiça do Trabalho (Junta de Conciliação e Julgamento) ou no juízo comum do local de trabalho. Na Comarca, demandam os Municípios que, conforme a organização judiciária estadual, podem ter, ou não, juízo ou Vara privativa. O Município da Capital de São Paulo tem Vara privativa, por exemplo. A representação da Fazenda Pública federal, em juízo, é feita por seus Procuradores e advogados. Os advogados da Fazenda Pública não carecem de qualquer procuração judicial para o desempenho de suas atribuições junto aos órgãos do Judiciário, por se presumir incita na nomeação. Necessitam de autorização legislativa para confessar, transigir ou desistir, dado excederem tais atos dos poderes de guarda, conservação e aprimoramento dos bens, interesses e direitos da Administração Pública. Assim é, em razão da indisponibilidade desses interesses. Como autora, ré, assistente ou oponente a Fazenda Pública litiga em juízo tal qual o particular, embora goze de alguns privilégios, como prazos maiores para contestar (quádruplo) e recorrer (dobro). As despesas judiciais (custas, emolumentos, salários de peritos e honorários) devidas pela Fazenda Pública federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal serão pagas, a final, pelo vencido no pleito (CPC, art. 27). Até mesmo do preparo de seus recursos está dispensada.