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Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ 17/06/2012 Valéria Cecília Dorado Lisondo A Continuidade das Empresas Familiares: Governança, Sucessão e Desafios TCC – Apresentado na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, para obtenção do certificado de conclusão do curso em especialização em Administração de Empresas Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ 17/06/2012 Valéria Cecília Dorado Lisondo A Continuidade das Empresas Familiares: Governança, Sucessão e Desafios Professor (a) da Disciplina e convidados Avaliação Prof. Dr. José Kugler Satisfatório Não Satisfatório 1º Professor Convidado (a): __________ Satisfatório Não Satisfatório 2º Professor Convidado (a): __________ Satisfatório Não Satisfatório Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ 17/06/2012 Valéria Cecília Dorado Lisondo A Continuidade das Empresas Familiares: Governança, Sucessão e Desafios O trabalho se propõe a investigar as Empresas Familiares no que se refere à: modelos de Governança Corporativa e Familiar e processo Sucessório. A pesquisa foi embasada em conceitos teóricos relativos a essas questões e entrevistas semi-dirigidas nas quais foram entrevistados cinco membros de distintas empresas familiares. Os resultados da investigação serão apresentados nas suas dimensões qualitativa e quantitativa. Finalmente, serão resumidos os principais fatores elucidativos do problema de pesquisa, bem como explicitados questionamentos e considerações correlatas à compreensão do objeto de estudo em questão. Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ 17/06/2012 SUMÁRIO Introdução: ........................................................................................................................ 1 Capítulo 1- Conceitos Fundamentais ............................................................................ 4 1.1- PME´s e Empresa Familiar .................................................................................... 4 1.2- A Evolução dos Estudos no Campo das Empresas Familiares: breve resumo histórico ........................................................................................................................ 9 1.3- O Modelo dos Três Círculos e O Modelo Tridimensional do Desenvolvimento 10 1.3.1- A dimensão de desenvolvimento da propriedade ............................................. 13 1.3.2- A dimensão de desenvolvimento da família ..................................................... 14 1.3.3- A dimensão de desenvolvimento da gestão ...................................................... 15 1.4- Governança na Empresa Familiar ....................................................................... 16 1.4.1- Governança Corporativa: .................................................................................. 17 1.4.2 – Governança Familiar: ..................................................................................... 18 1.4.3- Governança Jurídico- Sucessória: .................................................................... 21 1.5- Vantagens e Desvantagens da Empresa Familiar ................................................ 23 Capítulo 2 - Escopo e Método da Pesquisa ................................................................. 28 Capítulo 3 - Resultados Qualitativos e Quantitativos da Pesquisa ............................. 33 3.1- Limites da Pesquisa ............................................................................................. 33 3.2 – O Perfil das Empresas: PME`S ou Holdings Familiares ................................... 33 3.3 – Considerações Gerais ......................................................................................... 34 3.4 – Resultados Qualitativos ..................................................................................... 35 3.5- Resultados Quantitativos: .................................................................................... 50 3.6-Análise dos Dados Quantitativos .......................................................................... 54 Capítulo 4 – Discussão e Conclusão ........................................................................... 59 Referências Bibliográficas: ......................................................................................... 66 ANEXO 1 ................................................................................................................... 69 Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 1 de 79 17/06/2012 Introdução: Esse estudo tem como objetivo fundamental mapear o cenário das pequenas e médias empresas (PME`S) familiares paulistanas no que se refere ao modelo de governança existente bem como à maneira como é concebido e conduzido o processo sucessório das mesmas. Pretende-se retratar como estão equacionadas as dimensões GESTÃO – FAMÍLIA – PROPRIEDADE 1 e quais são as vulnerabilidades e pontos nevrálgicos das organizações no sentido de assegurar a continuidade das mesmas. Considera-se o tema relevante e oportuno em função de diversos aspectos. Sabe- se da importância capital dessas organizações para o país em muitos sentidos (desde o ponto de vista histórico, social, político, econômico, etc.). Vidigal (1996) é muito feliz na seguinte contribuição nesse sentido: A não ser as criadas pelo governo, todas as empresas, na origem tiveram um fundador ou um pequeno grupo de fundadores, que eram seus donos. As ações ou cotas da empresa seriam provavelmente herdadas por seus filhos. Praticamente todas as empresas foram familiares na origem... Podemos ter certeza que as empresas familiares representam mais de 99% das empresas não estatais brasileiras (VIDIGAL, 1996, p. 15). Segundo Prado (2011), os dados do Departamento Nacional de Registro do Comércio (DNRC) mostram que entre os anos de 1985 e 2005 foram constituídas 8.915.890 empresas no Brasil. Desse montante, estima-se que a expressiva parcela de 90% corresponda a empresas familiares, que, por sua vez, seriam (segundo as mesmas estimativas) responsáveis pela criação de 2 milhões de empregos diretos no País. A 1 Essas dimensões referem-se ao Modelo Tridimensional ou dos 3 círculos concebido em Harvard no início dos anos 80 por John Davis e Renato Tagiuri com o intuito de retratar o quadro das Empresas Familiares como 3 subsistemas independentes, mas superpostos : Gestão; Família e Propriedade. No Capítulo 1 o Modeloserá novamente explorado. Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 2 de 79 17/06/2012 título de ilustração, somente no ano de 2002 as micro e pequenas empresas brasileiras foram responsáveis por: No caso brasileiro, as micro e pequenas empresas detinham, em 2002, 20%de participação no PIB e geravam 60% dos empregos formais no setor privado. Em conjunto, elas responderam, naquele mesmo ano por 99,2% do número total de empresas formais, 57,2% dos empregos totais e 26% da massa salarial. (GUERRA & TEIXEIRA, 2010, p.125). É importante sublinhar também que via de regra, se conhece relativamente pouco o universo das PME`S, o que também motiva o presente estudo investigar sobre esse território: Apesar da importância de pesquisa sobre pequenas e médias empresas, boa parte das teorias administrativas e dos modelos de mudanças organizacionais são derivados de pesquisas realizadas em empresas de grande porte (MACEDO, 1999, p. 16). Outro vetor fundamental que norteou o problema da presente pesquisa diz respeito ao elevado índice de mortalidade característico das empresas familiares brasileiras (PRADO, 2011): de acordo com dados do SEBRAE, no Brasil, de cada 100 empresas familiares, somente 30% chegam à segunda geração e 5% à terceira (GESTARE, 2012) 2 . A cada dia consolida-se uma maior consciência da relevância econômica, social e inclusive política que essas empresas desempenham no mundo capitalista, bem como da dificuldade, em termos percentuais, que esses tipos empresariais têm em se 2 - Outros dados ilustrativos desse fenômeno podem ser encontrados no site <http:// www.gestare.com.br/> tais como: de cada 100 fortunas brasileiras atuais, apenas 18 são fruto de herança; 66% das empresas privadas brasileiras que estavam na lista das 50 maiores há 30 anos desapareceram do ranking; só 15% dos herdeiros dos maiores empresários do Brasil do século passado continuam no mundo dos negócios; 65% das empresas familiares desaparecerem devido a conflitos entre membros da família e 44% das organizações familiares no Brasil saem do mercado devido a conflitos familiares e não por problemas de administração. Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 3 de 79 17/06/2012 manter vivos, saudáveis e atuantes por várias gerações (PRADO, 2011, p. 23). Dessa forma, identificar como estão estruturadas as PME´s familiares no que se refere à adoção de modelos de governança bem como à organização do processo sucessório nos parece um problema de pesquisa precioso no sentido de iluminar quais os determinantes, desafios e limitantes que permeiam e afetam a sobrevida e sucesso das organizações envolvidas nesse campo. O presente estudo também pode resultar útil na medida em que expõe um campo multifacetado e interdisciplinar, e, dessa forma, pode ampliar os conhecimentos relativos ao campo da gestão propriamente dita ao alinhavá-los e articulá-los com outros saberes e paradigmas que compõem a tessitura desse complexo emaranhado (em termos jurídicos, psicológicos e sociais) em jogo na empresa familiar. Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 4 de 79 17/06/2012 Capítulo 1- Conceitos Fundamentais 1.1- PME´s e Empresa Familiar Primeiramente, faz-se importante assinalar os conceitos e definições que caracterizam: as PME`s e as empresas familiares. Embora pareça algo elementar, não se trata de trata de tarefa simples. São inúmeras as controvérsias, divergências e nuances que atravessam as noções desses conceitos. O estabelecimento de distintas categorias de empresas (pequena, média e grande) está relacionado com o desenho e regulação de regimes contábeis- tributários diferenciados. Segundo o Wikipedia 3 as pequenas e médias empresas: São empresas com características distintivas, tendo uma dimensão com determinados limites de empregados e financeiros fixados pelos Estados ou Regiões administrativas. São agentes com lógicas, culturas, interesses e espírito empreendedor próprios (...). Estes critérios não possuem fundamentação legal. A pesquisa por critérios claros e específicos que definam o escopo das PME´s (tendo em vista as particularidades de cada contexto: industrial, serviços, comercial etc.) revelou a falta de consistência e clareza acerca desse conceito. Em estudo de 1987 publicado na REA (Revista de Administração de São Paulo) Campino e Rolim já alertavam: A discussão relativa ao tema Pequena e Média Empresa, apesar de bastante intensa, tem sido dificultada pela grande imprecisão com que o termo é utilizado. Nem sempre fica claro que setores econômicos estão sendo abrangidos e nem formas de classificação utilizadas, que são as mais variadas possíveis. 3 - Seguinte Link: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pequena_e_m%C3%A9dia_empresa Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 5 de 79 17/06/2012 Muitas dessas classificações apresentam pouca sustentação teórica ou empírica, de forma que bastam pequenas alterações no conceito utilizado para que qualquer tese sobre o papel das PM seja aceita ou rejeitada. (CAMPINO & ROLIM, 1987, p.57). Guerra e Teixeira (2010), por sua vez, evidenciam outra vertente de inconsistência conceitual derivada dos parâmetros (números de funcionários e valor de faturamento) classificatórios: As pequenas empresas são tradicionalmente definidas pela sua dimensão, medida em termos do número de empregados e/ou do faturamento. No entanto, esse tipo de procedimento pode redundar em problemas tanto de ordem estatística, como de ordem teórica... Ao definir a pequena empresa como aquela que emprega um número reduzido de trabalhadores, estar‑se‑ia conferindo a uma realidade empírica o status de teoria. Assim, uma empresa altamente capitalizada e lucrativa, mas que emprega poucas pessoas, devido ao seu alto grau de automação e terceirização, seria classificada como pequena. (GUERRA & TEIXEIRA, 2010, p.134 e 135). Consideram-se pertinentes as observações anteriormente assinaladas por serem reveladoras das limitações e arbitrariedades implicadas na escolha de um recorte que visa iluminar um campo tão vago e confuso (como, nesse caso, apresenta-se o das PMEs). Tendo em vista esse cenário, serão usados como referência os parâmetros definidos segundo a Recomendação da Comissão Europeia da União Europeia de seis de maio de 2003 4 : É importante assinalar que se entende a inadequação de transpor um Modelo criado para o contexto empresarial Europeu à realidade Brasileira. Ainda assim, optou-se por fazê-lo dados os limites claros e didáticos elencados para categorizar o porte das organizações: 4 - baseado na Carta da Pequena Empresa emitida no Conselho Europeu de Santa Maria da Feira em junho de 2000. Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________Página 6 de 79 17/06/2012 Figura 1: Categorias de Micro, Pequena e Média Empresa segundo a Recomendação da Comissão Europeia da União Europeia de 6 de maio de 2003 Tipo de empresa Empregados Faturação (Milhões de €) Total do Ativo (Milhões de €) Microempresa <10 e ≤ 2 ou ≤ 2 Pequena empresa <50 e ≤ 10 ou ≤ 10 Média empresa <250 e ≤ 50 ou ≤ 43 O passo seguinte corresponde à definição do campo da empresa familiar. Que território é esse? Novamente encontra-se um universo de definições plurais e múltiplas cuja diversidade vale a pena ser explorada na medida em que elenca e elucida questões chaves envolvidas na temática em questão. Segundo Donnelley (apud Bernhoeft, 1989) e Fritz (1993) uma companhia pode ser considerada familiar no caso de estar perfeitamente identificada com uma família há pelo menos duas gerações. Esse ponto de vista sustenta que é a segunda geração que marca definitivamente a empresa com a conotação de familiar ao assumir a propriedade e a gestão da mesma conferindo-lhe certos valores institucionais próprios e características oriundas dessa cultura familiar (que implicam em derivações diversas- por exemplo: na correlação reputação da empresa/ reputação da família). Já o estudioso Lodi (1993) conceitua a empresa familiar como àquela na qual a sucessão da gestão está ligada ao fator hereditário: Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 7 de 79 17/06/2012 A empresa familiar é aquela em que a consideração da sucessão da diretoria está ligada ao fator hereditário e onde os valores institucionais da firma identificam-se com um sobrenome da família ou com a figura de um fundador. O conceito de empresa familiar nasce geralmente com a segunda geração de dirigentes, ou porque o fundador pretende abrir caminhos para eles entre os seus antigos colaboradores, ou porque os futuros sucessores precisam criar uma ideologia que justifique a sua ascensão ao poder (LODI, 1993, p. 6). Tais definições suscitam certos questionamentos: a empresa de fundador, sem herdeiros, não seria familiar? Em outras palavras: uma firma “individual” não pode ser considerada uma empresa familiar? Alguns autores problematizam a existência do processo sucessório como critério sine qua non para definir a empresa enquanto familiar. De acordo com essa perspectiva, o enfoque do processo sucessório como caracterizador da organização familiar seria transferido para a conjugação entre capital e controle por parte de dada família, ou seja: a empresa seria familiar na medida em que interferisse no seu controle administrativo graças à legitimidade assegurada pela concentração de um grau mínimo da propriedade de capital da mesma: Conforme as estatísticas disponíveis, 70% das empresas não chegam à segunda geração. Um critério mais adequado se encontra na relação entre propriedade e controle. Com base nesse enfoque, pode-se definir empresa familiar tradicional como aquela em que um ou mais membros de uma família exerce considerável controle administrativo sobre a empresa, por possuir parcela expressiva da propriedade do capital. Assim existe estreita ou considerável relação entre propriedade e controle, sendo que o controle é exercido justamente com base na propriedade (LANZANA, 1999, p. 33). Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 8 de 79 17/06/2012 Essa definição nos parece valiosa na medida em que amplia as possibilidades de escopo do fenômeno Empresa Familiar. Por outro lado, ilumina novos dilemas e recortes. Por exemplo: a família exclusivamente investidora (sem qualquer participação na gestão) não seria uma família empresária? Há controvérsias entre os autores nesse sentido. Gonçalves (2000), por exemplo, diria que não. Segundo o autor, a empresa familiar é caracterizada pela existência simultânea de três situações (que independem da gestão se encontrar na 1ª geração dos fundadores ou nas subsequentes): a) A totalidade ou maioria das ações ou quotas da empresa é de propriedade de uma família, a qual detém, portanto, o seu controle econômico; b) Detentora da gestão, a família é quem define os objetivos, as diretrizes e políticas da empresa; c) A família administra o empreendimento, através de um ou mais de seus membros, no nível executivo mais alto. Essa série de definições visa estimular a reflexão acerca das variáveis e desafios intrínsecos à definição desse campo. Também objetivam estimular o exercício de mapear os elementos comuns existentes nessas distintas acepções. Em grandes linhas, são eles: o fato da empresa familiar se referir a uma organização na qual as relações familiares dos dirigentes permeiam e afetam a sua dinâmica de funcionamento. Bernhoeft (1989) sustenta que uma empresa é familiar quando tem sua origem e história vinculadas a uma família, ou, ainda, quando mantém membros da família na administração do negócio. O autor destaca também um aspecto essencial ao nosso modo de ver: o fato da empresa familiar materializar uma contradição, ser resultante de uma confluência de dois sistemas opostos cuja intersecção dificilmente não implica em alguma forma de conflito: Empresa e família continuam sendo instituições antagônicas, aparentemente envolvidas num jogo de soma zero: o que uma ganha a outra perde. No entanto, o hábil jogo de cintura da empresa permite-lhe adotar estratégias que visam a Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 9 de 79 17/06/2012 conservar sua prioridade sobre a família, sem, todavia dar essa impressão (BERNHOEFT, 1989, p.12). Macedo (1999) também nos dá subsídios para compreender a delicada lógica dicotômica em jogo um uma organização na qual estão plasmados paradigmas referentes à realidade e interesses empresariais ao mesmo tempo em que estão atuantes paradigmas e concepções referentes à manutenção da instituição familiar: Como se pode perceber, esse antagonismo ocorre em nível da sociedade também, uma vez que a força propulsora da indústria e do comércio, numa economia capitalista, é a competição e, em contraste, a força propulsora de uma família é a sua unidade, mesmo quando estão presentes conflitos. Numa empresa familiar, a cultura interna de aglutinação da família e a realidade externa de competição são frequentemente incompatíveis (MACEDO, 1999, p. 32). É importante sublinhar que tal tensão é considerada como uma das marcas mais expressivas da identidade das empresas familiares. 1.2- A Evolução dos Estudos no Campo das Empresas Familiares: breve resumo histórico Esse item é baseado fundamentalmente na obra de Gimeno (2010): Family Business Models – Practical Solutions for the Family Business na qual se apresenta a trajetória de investigação e teorização sobre o campo das Empresas Familiares ao longo do tempo. Inicialmente convém contextualizar que a história do Business Management está relacionada com as profundas transformações econômicas, sócias e políticas decorrentes da Revolução Industrial no Mundo Ocidental que resultaram na emergência da empresa moderna. Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC_____________________________________________________________________ Página 10 de 79 17/06/2012 A 1ª escola de negócios no mundo surgiu nos Estados Unidos em 1881 (graças à doação do industrial e filantropo Joseph Wharton). Entretanto, foi apenas no ano de 1976 que as Empresas Familiares foram, em certa medida, legitimadas enquanto Objeto de estudo e atenção, graças a dois professores de Harvard: Louis Barnes e Simon Hershon. Eles publicaram um artigo na Harvard Business Review na qual defendiam que as Empresas Familiares eram organizações estáveis e competitivas, e que, portanto, não deveriam ser consideradas formas rudimentares e menos evoluídas de gestão. Desde então, uma série de abordagens e enfoques tem caracterizado o viés de estudo e problematizarão acerca da Empresa Familiar. Na sequência, serão destacados alguns desses Modelos considerados pertinentes para o presente estudo. 1.3- O Modelo dos Três Círculos e O Modelo Tridimensional do Desenvolvimento Figura 2: O Modelo de Três Círculos da Empresa Familiar Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 11 de 79 17/06/2012 O Modelo dos três Círculos 5 descreve o sistema da Empresa Familiar enquanto três subsistemas independentes, mas entrelaçados: gestão, propriedade e família. Essa representação é um ícone importante de referência nesse sentido: A razão pela qual o modelo dos três círculos teve uma aceitação tão ampla é que ele é teoricamente elegante e também imediatamente aplicável. (GERSICK, 2006, p.7). Dessa forma, todos os membros envolvidos em uma empresa familiar podem ser identificados e posicionados de acordo com o papel desempenhado em relação aos três subsistemas. O modelo elucida a pluralidade e sobreposições de funções exercidas e a delicadeza inerente a um sistema tão complexo e multifacetado no qual se aglutinam esferas de interesses diversos. Na sequência a descrição da posição dos gestores, familiares e proprietários da Empresa Familiar em relação aos 3 subsistemas: 1) Familiares sem participação nos outros subsistemas; 2) Sócios –proprietários não gestores e não familiares; 3) Gestores não proprietários e não familiares; 4) Familiares proprietários sem participação na gestão; 5) Proprietários gestores não- familiares; 6) Gestores familiares não proprietários; 7) Familiares gestores e proprietários. É interessante articular o Modelo dos três Círculos ao Modelo Tridimensional de Desenvolvimento das Empresas Familiares: 5 - Derivado dos Estudos de Renato Tagiuri e John Davis em Harvard no início dos anos 80. Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 12 de 79 17/06/2012 Figura 3: O Modelo de Desenvolvimento Tridimensional da Empresa Familiar O Modelo Tridimensional realça fundamentalmente a dimensão temporal pelas quais passam esses três domínios (Propriedade, Família e Gestão- Empresa) no decorrer dos anos, apresentando de forma clara e abrangente alguns dos principais desafios implicados nesse percurso, conforme comenta Gersick (2006): Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 13 de 79 17/06/2012 Muitos dos mais importantes dilemas enfrentados pelas empresas familiares são causados pela passagem do tempo, e envolvem mudanças na organização, na família e na distribuição da propriedade (GERSICK, 2006, p. 16). Como todo Modelo, descreve uma tentativa de se aproximar da realidade – que enquanto tal é sempre míope e insuficiente. Na prática a dinâmica das Empresas Familiares não pode ser tão facilmente desmembrada em termos dessas fases. Ainda assim, o Modelo Tridimensional configura-se enquanto dispositivo prático e didático para alargar nossa compreensão, e por esse motivo, será aprofundado a seguir: 1.3.1: A dimensão de desenvolvimento da propriedade Segundo Gersick (2006), as questões fundamentais do desenvolvimento da propriedade estão elencadas em três etapas: empresas com Proprietário controlador; Sociedade entre irmãos e Consórcio de primos 6 . A maioria das Empresas Familiares é fundada como empreendimentos de um Proprietário Controlador, nas quais a propriedade é controlada por um dono ou casal. Assim sendo, nesse estágio o controle fica circunscrito na mão do fundador (ou do casal fundador): outros proprietários, quando existem têm participações simbólicas e não exercem autoridade. Os principais desafios nesse momento são o da capitalização e da escolha de uma propriedade para a geração seguinte. A seguinte etapa -Sociedade entre Irmãos- caracteriza-se pelo controle partilhado por dois ou mais irmãos e irmãs que podem ou não exercer papeis de gestão na empresa. Os desafios-chave nessa situação correspondem a desenvolver um processo para controle dividido entre os sócios, definir o papel dos sócios não funcionários; reter o capital na empresa; controlar a orientação das facções dos ramos da família. 6 - Evidentemente nem todas as empresas familiares passam linearmente por esses três estágios. Há casos nas quais a empresa é fundada por uma Sociedade entre Irmãos – como aconteceu em uma das Empresas da Amostra pesquisadas do setor de Construção Civil. Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 14 de 79 17/06/2012 Finalmente, no estágio do Consórcio entre Primos, o controle da empresa é exercido por muitos primos de diferentes ramos da família. Nenhum ramo é detentor isolado de ações suficientes com direito a voto para controlar as decisões. Nessa circunstância, a empresa familiar clássica inclui pelo menos dez ou mais proprietários, o que delimita um cenário bastante complexo. Dois são os principais desafios que caracterizam essa etapa: administrar a complexidade da família e do grupo de acionistas e criar um mercado de capital para a empresa familiar. 1.3.2: A dimensão de desenvolvimento da família O eixo de Desenvolvimento da Família é caracterizado nesse Modelo pelas fases: Jovem Família Empresária; Entrada na Empresa; Trabalho Conjunto; Passagem de Bastão. Estão em jogo nesse domínio fatores tais quais: uniões estáveis, uniões homoafetivas, casamentos, paternidade; relacionamento entre irmãos, cunhados, sogros, enteados (entre outros), padrões de comunicação, papéis familiares. A primeira fase, da Jovem Família Empresária é um período de intensa atividade. Trata-se do momento de afirmar uma parceria conjugal que possa suportar o papel de proprietário-gerente: da decisão sobre ter ou não filhos; de como criá-los; de estabelecer um novo relacionamento com os pais que envelhecem. No seguinte momento, de Entrada na Empresa, cada geração é (em geral) de dez a quinze anos mais velha do que aquela no estágio da Jovem Família Empresária. Nesse estágio, as famílias estão preocupadas com a criação de critérios de entrada dos familiares e com o planejamento de carreiras para a geração de jovens adultos (incluindo a decisão de entrar ou nãona empresa). Posteriormente, quando a geração dos pais avança na direção dos 50 anos e a mais jovem está na faixa dos 20, 30 anos, a família se encontra no estágio do Trabalho Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 15 de 79 17/06/2012 em Conjunto, marcado pela complexidade das relações entre pais, irmãos, cunhados, primos e crianças de idades amplamente variadas. Na etapa subsequente da Passagem do Bastão, todos estão focados na Sucessão. Essa passagem costuma causar intrigas, discussões e disputas entre os membros das famílias e deve ser pensada como um dos elementos capitais para a continuidade do empreendimento. 1.3.3: A dimensão de desenvolvimento da gestão No que se refere à dimensão do desenvolvimento da gestão na Empresa Familiar, o Modelo Identifica três etapas fundamentais denominadas: Início; Expansão Formalização e Maturidade. O Início da Empresa familiar abrange o momento de sua fundação e os próximos anos, no quais está em jogo o desafio da sobrevivência da organização. O segundo estágio da Expansão/Formalização diz respeito a um amplo espectro de empresas. Descreve o momento a partir do qual as empresas familiares se afirmaram no mercado, e estabilizaram suas operações dentro de uma rotina previsível, adquirindo níveis de complexidade organizacional crescentes até o ponto no qual as mudanças organizacionais caem drasticamente de velocidade. A Maturidade, estágio final desse eixo, expressa no contexto da gestão a noção associada à avaliação de mercado. Descreve o ponto em que o produto deixa de evoluir e as dinâmicas competitivas em cena mudam para batalhas pela participação no mercado cada vez menos competitivas. Nesse cenário, existem duas saídas para a Empresa Familiar: renovação e reciclagem ou a morte da empresa. Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 16 de 79 17/06/2012 1.4- Governanças na Empresa Familiar A Governança também é um dos pilares que constituem o arcabouço de conhecimentos acerca da Empresa Familiar. Um dos marcos que definem esse viés pode ser associado ao livro (de 1988) do John Ward, um dos grandes especialistas no tema, denominado: Keeping The Family Business Healthy. Nessa obra, o autor enfatiza a importância de um dos elementos que compõe o Modelo da Governança Corporativa: o Conselho de Administração enquanto organismo vivo e operante na Empresa Familiar. A noção de Governança Corporativa atrelada ao contexto da Empresa Familiar é muito bem descrita por Werner (2011): O termo governança refere-se ao trabalho de conduzir um empreendimento, por meio do controle de sua administração, direção, comando e outros fatores. Assim, a governança relativa a uma empresa familiar consiste na relação que uma família tem com a estrutura empresarial, mais precisamente a forma com que direciona o seu poder de mando aos acionistas, funcionários, herdeiros, entre outros membros da estrutura empresarial (WERNER, 2011, p.186). Conforme fundamentado anteriormente, a condução da Empresa Familiar não se trata de tema trivial. É permeado constantemente pela interpenetração dos três subsistemas da Gestão; Família e Propriedade (anteriormente descritos no Modelo dos 3 Círculos) somado aos desafios postos em cena pelo decorrer dos anos e novas configurações que tais âmbitos apresentam ( graficamente ilustrado através do Modelo Tridimensional de Desenvolvimento da Empresa Familiar) . Em outras palavras, a condução de uma empresa familiar é, em geral, um percurso marcado por dilemas, conflitos de interesses e tensões de várias ordens. Nesse sentido, o Modelo de Governança visa proteger a Empresa Familiar dos potenciais efeitos maléficos inerentes à sua estrutura, identidade e composição. De acordo com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC, 2009), a concepção e implementação de estruturas e Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 17 de 79 17/06/2012 instrumentos da boa governança corporativa têm como objetivo: “alinhar interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor da organização, facilitando seu acesso a recursos e contribuindo para sua longevidade”. Prado (2011) assinala a existência de três tipos de governança na Empresa Familiar: a governança corporativa, a governança familiar e a governança jurídica- sucessória. 1.4.1- Governança Corporativa: A Governança Corporativa diz respeito à esfera da gestão da empresa. O Código de melhores práticas de Governança Corporativa (IBGC, 2009) destaca as seguintes estruturas e instrumentos componentes desse sistema: a estrutura da propriedade; o conselho de administração; o conselho executivo/gestão; a auditoria independente; o conselho fiscal e a conduta e o conflito de interesses 7 . Dentre esse conjunto de elementos, serão definidas as noções de Conselho de Administração e Conselho Executivo de acordo com a perspectiva de Gimeno (2010). De acordo com a tese sustentada por esses autores, a principal função do Conselho de Administração é a de governar a Companhia em consonância com as diretrizes estabelecidas pela Família. As atribuições desse órgão correspondem a: construir ou contribuir com a formulação estratégica da empresa; monitorar os níveis gerencias seniores assegurando a cultura da prestação de contas e de análise crítica de indicadores diversos; desenvolver, manter e controlar recursos e capacidades distintivas da organização; assegurar o processo sucessório; impor restrições à família (na medida em que suas interferências na gestão afetem negativamente a excelência da mesma). 7 - O Código de melhores práticas de governança corporativa (IBGC, 2009) também salienta a necessidade de que tais instrumentos e ferramentas sejam norteados pelos quatro princípios básicos de governança corporativa: Transparência; Equidade; Prestação de Contas e Responsabilidade Corporativa. Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 18 de 79 17/06/2012 Já o Conselho Executivo é caracterizado por tais autores como um órgão formado por um colegiado gerencial. Esse corpo é definido como espaço no qual as informações gerenciais são analisadas e compartilhadas norteando as decisões dos gestores de mais alto escalão. As vantagens de uma Governança Corporativa eficaz e consistente impactam positivamente a esfera particular da gestão e o sistema mais amplo da Empresa Familiar como um todo: Ademais, do ponto de vista da empresa, vários são os benefícios que a governança corporativa tende a trazer para a sociedade, familiar ou não, dentre os quais citamos, também exemplificativamente: (i) a melhora na organização entre acionistas formadores do bloco de controle e minoritários; (ii) o incremento no processo decisório da alta gestão e nos processos internos de forma geral; (iii) maior capacidade de atrair e reter talentos; (iv) melhora nos critérios de avaliação de desempenho e política de remuneração, além de, no caso especifico de empresas familiares, proporcionartranquilidade para os fundadores se afastarem e buscarem novos projetos de vida ( PRADO, 2011, p. 35) 1.4.2 – Governança Familiar: A Governança Familiar refere-se aos interesses e questões correlatas à Empresa Familiar que respondem à lógica diferente à do negócio: são os interesses pessoais, os problemas familiares, entre outros dessa natureza. Segundo Prado (2001): a governança familiar, primordialmente relativa ao círculo da família, pode ser definida como o conjunto de regras e estruturas privadas que tem por objetivo administrar questões relativas às relações pessoais e sociais entre os familiares ligados a uma empresa ( PRADO, 2011, p. 40) Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 19 de 79 17/06/2012 As estruturas que compõem esse sistema de acordo com Prado (2011) são: Conselho de Família; Family Office; Comitês de Família, Código de Ética e Protocolo Familiar. De acordo com a lógica da Governança Familiar, O Conselho de família é um foro minimamente regulamentado formalmente (no qual atas são redigidas e arquivadas, periodicidade de reuniões são definidas; e regras são estabelecidas). Nesse âmbito podem vir à tona questões tais quais: problemas de relacionamentos familiares, carreiras dos filhos, dificuldades e necessidades financeiras pessoais, casamentos e separações, problemas de saúde de familiares, entre outras. O Family Office muitas vezes é definido de maneira muito próxima ao Conselho de Família, como se observa na definição de Werner (2011): É uma estrutura criada por uma ou mais famílias com vista a administrar os ativos tangíveis e intangíveis que não fazem parte da operação da empresa familiar. É, portanto, o espaço que a família tem para discutir seus problemas financeiros pessoais e outros que não dizem respeito à operação do empreendimento empresarial (WERNER, 2011, p. 190). Constata-se que os limites entre essas estruturas da Governança Familiar, muitas vezes são tênues e delicados. Prado (2011) nos dá pistas para avançarmos nessa definição de Family Office ao dizer que tal estrutura é mais frequentemente associada a um escritório no qual a família administra a sua vida pessoal de um ponto de vista mais pragmático, concreto (por exemplo: pagamentos de contas pessoais, manutenção de residências familiares, organização de viagens a lazer, entre outros). Tal qual o Conselho de Família, o Family Office também deve ter um regramento formal que especifique em quais circunstâncias os membros podem fazer uso de seus serviços, qual a forma de rateio desses custos, qual a forma de contratação de profissionais. A Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 20 de 79 17/06/2012 transparência, explicitação e formalização dessas regras é um processo salutar para a família empresária. Nessa direção, Prado (2011) aponta: Em suma, o importante é que o Conselho de Família, ou o Family Office, seja um foro apto a, em maior ou menor escala, facilitar, e de alguma forma profissionalizar, as relações da família com a empresa, separando claramente o que é patrimônio, responsabilidade, cultura, missão, problema etc. relativo ao âmbito da família, e o que é relativo ao âmbito da empresa, sempre tendo em vista proporcionar aos herdeiros e aos seus familiares um melhor conhecimento do negócio e das suas particularidades, enquanto família empresária (...) Em resumo, essas estruturas devem ser uma fonte de esclarecimento de que os objetivos , os interesses e os problemas da família não podem ser confundidos com os objetivos, os interesses e os problemas da empresa, devendo os primeiros circunscreverem-se às estruturas da governança familiar enquanto os últimos às estruturas de governança corporativa, como o conselho de administração, ou outros órgãos e comitês da sociedade ( PRADO, 2011, p. 43 e 44) A Governança Familiar também é caracterizada pelas estruturas de Comitês em alguns casos. Comitês são formados por membros específicos da família com um objetivo bem delimitado. Alguns exemplos nesse sentido são o Comitê de Líderes ou o Conselho Junior (formado pela geração mais jovem de acionistas ou futuros acionistas familiares). Outras ferramentas da Governança Familiar são o Código de Ética (também denominado em algumas situações Protocolo ou Acordo Familiar). Segundo Prado (2011) esse documento tem como finalidade estabelecer os princípios, valores, costumes, condutas pessoais, condutas sociais, condutas patrimoniais, condutas empresariais, da família na empresa e na sociedade. Dentre as inúmeras matérias que podem ser tratadas nesse foro, podem ser citadas, por exemplo, as recomendações, não vinculadas à lei, quanto aos familiares/ acionistas não serem fiadores de terceiros, que Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 21 de 79 17/06/2012 se casem em regime de separação de bens, que não tenham negócios próprios utilizando o sobrenome da família, dentre outros. O ideal é que toda a família, por si ou legitimamente representada, participe da sua feitura, concorde com o documento e o assine. 1.4.3- Governança Jurídico- Sucessória: Já a Governança Jurídica- Sucessória corresponde à adequação da estrutura de planejamento sucessório nas esferas dos Direitos Societário e da Família e das Sucessões. Segundo Prado (2011), no que diz respeito ao Direito Societário, os principais instrumentos que podem ser utilizados: Consubstanciam-se em clausulas constantes de contratos e estatutos sócias de holding e de acordos de quotistas ou de acionistas, regrando o exercício do direito de voto e do controle e gestão familiar, o direito de preferência na alienação de quotas e ações para familiares e terceiros, e as formas de saída voluntária da empresa e respectiva apuração de haveres (PRADO, 2011, p. 46). Dentre esses instrumentos, convém destacar a noção de Holding. Essa estrutura representa uma forma de sociedade criada com o objetivo de administrar um grupo de empresas (conglomerado). De acordo com a definição de Nusdeo (2001) uma Holding consiste em: sociedade cuja a totalidade ou parte de seu capital é aplicada em ações de outra sociedade gerando controle sobre a administração das mesmas. Por essa forma assegura-se uma concentração do poder decisório nas mãos da empresa mãe - holding. Note-se, porém que nem sempre a holding é usada para esse fim. (NUSDEO 2001, p. 276). Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 22 de 79 17/06/2012 No caso do Brasil, a Holding também recebe a denominação de Participação Societária e/ou Administração de bens. É importante salientar que as Holdings Familiares constituem-se enquanto importante ferramenta de organização e planejamento fiscal, societário e de proteção patrimonial. Nesse sentido, Kignel e Werner (2007) elucidam: A holding é uma sociedade que tem por objeto deter bens, que podem ser não apenas participações em outras sociedades mas também imóveis e também outros bens e direitos. Ela poderá ser constituída tanto sob a formade sociedade limitada quanto sob a forma de sociedade por ações, tornando-se uma excelente ferramenta no planejamento sucessório e societário, pois, por um lado, permite a concentração da capacidade de investimento de uma ou mais pessoas físicas ou jurídicas, prestando-se basicamente a instrumento de controle societário, e, por outro, a segregação de ativos ou atividades, podendo assim segmentar o patrimônio com regras específicas (KIGNEL & WERNER, 2007, p. 154). Já em relação ao Direito de Família e das Sucessões, Prado (2011) situa os seguintes principais instrumentos de governança nesse sentido: os pactos antenupciais, os contratos de convivência, os testamentos, as doações modais, com cláusulas de reversão ou gravadas com cláusula de incomunicabilidade, impenhorabilidade, inalienabilidade e /ou usufruto, em conformidade com as disposições de Direito Civil e Societário. De acordo com Prado (2011) esse eixo de Governança também engloba a racionalização da incidência tributária, denominada elisão tributária, isto é, a redução lícita e racional da carga tributária na qual através de meios legais se escolhe o caminho que elimina tributos ou no qual há incidência em menor escala Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 23 de 79 17/06/2012 1.5- Vantagens e Desvantagens da Empresa Familiar Outra linha de abordagem quanto ao fenômeno das Empresas Familiares consiste em mapear quais são os pontos positivos e negativos decorrentes do arranjo organizacional típico de uma Empresa Familiar. Sobre esse assunto, destaca-se a contribuição de João Bosco Lodi, renomado especialista brasileiro nesse campo. Lodi (1994) através de um estudo comparativo entre empresas familiares e subsidiárias multinacionais ou estatais alcançou tal distinção acerca das vantagens e desvantagens que caracterizam as empresas familiares. De acordo com o autor, as vantagens das empresas familiares (em relação às subsidiárias multinacionais ou estatais) correspondem a sete fatores: 1- A lealdade dos empregados, que é mais acentuada na empresa familiar, pois os colaboradores se identificam com pessoas concretas que estão o tempo todo presentes, e não com dirigentes eleitos por mandatos de assembleias; 2- O nome da família, que por ter reputação na região ou no país inteiro implica em cobertura econômica e política; 3- A continuidade da administração: a sucessão de familiares competentes na direção do negócio proporciona um grande respeito pela empresa; 4- A união entre acionistas e os dirigentes, de modo que estes sustentem a empresa mesmo quando há perdas, gerando indiretamente certa estabilidade de emprego para os funcionários; 5- O processo decisório mais ágil ou menos burocrático, pois ocorre no escritório central, três, no máximo, quatro níveis acima do nível de execução; Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 24 de 79 17/06/2012 6- A sensibilidade social e política do grupo familiar dirigente; 7- As gerações familiares em sucessão, que permitem um traço de união entre o passado e o presente. As desvantagens das empresas familiares (em relação às outras organizações) identificadas foram expressas em termos de cinco vetores: 1- Conflitos de interesse entre família e empresa, que se materializam da seguinte forma: descapitalização, falta de disciplina, utilização ineficiente dos administradores não familiares e excesso de personalização dos problemas administrativos. 2- Uso indevido de recursos da empresa por membros da família, transformando a companhia em um erário dos familiares; 3- Falta de sistemas de planejamento financeiro e de apuração de custo e de outros procedimentos de contabilidade e de orçamento; 4- Resistência à modernização do marketing; 5- Critérios de familiaridade para empregar, promover e premiar usando parentes por favoritismo e não por competência anteriormente provada. Werner (2004) é outro pensador nesse campo que contribuiu substancialmente com esse esforço de discriminar os pontos positivos e negativos que permeiam o universo das empresas familiares. A esse respeito, o autor comenta: No momento de definir a empresa familiar, não se pode ser excessivamente otimista nem invariavelmente pessimista. As Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 25 de 79 17/06/2012 características positivas de um negócio familiar estão relacionadas, em geral, às qualidades do empreendedor. Pontos negativos costumam ser consequência das dificuldades dos processos sucessórios e da transferência de patrimônio e da gestão para futuras gerações. Os críticos da empresa familiar tendem a enfatizar seus aspectos negativos, as dificuldades e a taxa de mortalidade. No entanto, eles se esquecem de que aquelas que vão além da fase do empreendedor e consolidam o processo sucessório representam verdadeiras histórias de sucesso e dessa forma devem ser tratadas (WERNER, 2004, p. 9). Segundo Werner (2004) os pontos positivos da Empresa Familiar estão relacionados aos seguintes fatores: 1) Valores: as empresas familiares reconhecem que sua sobrevivência está atrelada aos seus valores, e, tradicionalmente os cultivam com harmonia, união, senso de equipe e ética; 2) Sentido de Missão: a empresa familiar, em geral está muito claramente apropriada acerca de seus objetivos e competências: a organização sabe exatamente qual o seu papel na sociedade. A capacidade de foco no negócio desde a fundação, suprimindo uma lacuna no mercado ou exprimindo a competência de seus fundadores, tem sido um fator essencial para a manutenção e sobrevivência das empresas familiares; 3) Estruturas bem dimensionadas: as empresas familiares são caracterizadas por gente que produz e foi a contribuição desses empreendedores à moderna administração que permitiu a consolidação de conceitos como remuneração participativa e distribuição de lucros. Muito antes de os grandes conglomerados adotarem princípios de gestão que valorizam uma visão global dos processos, os empreendedores já transmitiam a seus familiares a Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 26 de 79 17/06/2012 necessidade de serem polivalentes para atuar em todas as áreas da organização. 4) Poder de Decisão- Capacidade de Reação: exercitar decisões de forma abrangente e global, sem ter de responder a terceiros, implica, em muitos momentos de crise, a sobrevivência da empresa e do patrimônio e um dos grandes fatores de sucesso. Em uma situação de crise repentina, grupos familiares têm mais chances de agir em tempo hábil do que grandes empresas multinacionais. Nas empresas familiares, sempre existe alguém que toma as decisões mais difíceis durante a crise. 5) Informalidade: o conhecimento profundo de todos os aspectos da empresa e de sua estrutura por parte do empreendedor elimina, na prática, a necessidade de burocratizar ações administrativas e/ou criar excessivos processos de controle e normas que comprometessem a criatividade individual na gestãode negócios. 6) Conhecimento de mercado: o empreendedor conhece de maneira muito íntima e completa o seu mercado, quais são seus maiores clientes, seus mais importantes fornecedores (e assim por diante). Conhecer o negócio e saber analisá-lo sem necessariamente depender de computadores para fazê-lo é uma importante vantagem da empresa familiar e seus empreendedores; Por outro lado, os pontos negativos da empresa familiar dizem respeito a: 1) Gestão Centralizada: as características centralizadoras do empreendedor muitas vezes são nocivas para a continuidade da empresa. Em muitos casos, equipes de trabalho deixam de aprender e decidir e passam a confiar exclusivamente na posição do empreendedor, sem compartilhar responsabilidades. Nesse cenário, a transição é significativamente dificultada. Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 27 de 79 17/06/2012 2) Estruturas difusas e limites subjetivos de autoridade: dado o alto grau de conhecimento de todos os envolvidos, a estrutura da empresa familiar tende a ser difusa e expressar muito mais as relações interpessoais entre os detentores do poder e do capital do que as funções e cargos propriamente ditos. Estruturas difusas significam que é impossível saber exatamente quem na empresa familiar responde pelo quê. Os limites subjetivos de autoridade implicam em alocar em funcionários que desempenham funções homogêneas alçadas de responsabilidades bastante heterogêneas (a partir de um critério pessoal de confiança, afinidade, etc.). Práticas dessa natureza podem acarretar uma série de problemas para a empresa: minar a motivação dos funcionários é um deles. 3) Excesso de Informalidade: a informalidade também é um fator negativo quando significa ausência de planejamento formal. Em determinadas circunstâncias a empresa familiar até pode prescindir de tal recurso, mas em outras, o planejamento formal se faz vital para a organização. Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 28 de 79 17/06/2012 Capítulo 2 - Escopo e Método da Pesquisa A pesquisa visou investigar como estão estruturadas as PMEs familiares em São Paulo no que se refere ao Modelo de Governança Corporativa e Familiar adotado, bem como à maneira como se concebe e /ou conduz o Processo Sucessório nas mesmas. É importante observar que para os presentes propósitos da pesquisa, utilizou-se uma definição abrangente de Empresa Familiar: uma organização na qual as relações familiares dos dirigentes permeiam e afetam a sua dinâmica de funcionamento. Para tanto, foi desenvolvido um questionário (ANEXO 1) Semi- Estruturado abrangendo os seguintes tópicos: 1- Informações Gerais (sobre a empresa e sobre a família proprietária); 2- Opiniões acerca da relação Empresa-Família 3- Descrição da Empresa Familiar Foram entrevistados cinco sujeitos representativos de cinco distintas empresas familiares. O critério fundamental de seleção desses sujeitos foi o de que eles pertencessem à uma organização familiar na qual as dimensões “ Gestão” e “ Propriedade” estivessem conjugadas , ou seja, nas quais a família não se configurasse apenas como acionista proprietária, mas tivesse alguns de seus membros executando funções executivas nas mesmas. Alguns (3) dos entrevistados não pertenciam propriamente à Pequenas e Médias Empresas Familiares (segundo os critérios expostos no Capítulo I) mas a grandes Corporações. (Esse fato será discutido no Capítulo III). Optou-se por entrevistá-los mesmo assim, dada a dificuldade de encontrar outros sujeitos e a conveniência no que se refere à abertura e disponibilidade de agenda expressa pelos mesmos. Uma observação importante é a de que no decorrer do Processo de busca por sujeitos membros de Empresas Familiares, a pesquisadora recebeu 3 pedidos negados ( por parte de 3 distintas PME`s) com a justificativa de que a Empresa estava em um Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 29 de 79 17/06/2012 processo crítico e delicado quanto ao fenômeno da Sucessão e preferiria não participar do processo investigativo em função disso. As entrevistas resultaram em dados qualitativos e quantitativos (extraídos das respostas aos questionários e demais informações emergentes no decorrer das entrevistas). Assim sendo, os resultados serão apresentados em termos desses dois eixos: qualitativos (sob a forma de pequenos estudos de caso que contemplarão respostas ao questionário e outras informações e contribuições emergentes no processo) e quantitativos (no qual serão expostos em forma de gráficos comparativos qual o posicionamento dos entrevistados frente a determinados aspectos chave assinalados acerca do universo da Governança Corporativa e do Processo Sucessório). Faz-se importante pontuar que a pesquisadora observou disponibilidade, abertura e transparência por parte dos entrevistados. As entrevistas foram permeadas por certo “clima” de intimidade e confiança – o que favoreceu a riqueza da pesquisa no sentido de proporcionar diversos elementos para os dados qualitativos que ultrapassaram o âmbito circunscrito e definido pelo questionário. Em média as entrevistas levaram por volta de 90 minutos com cada um dos entrevistados. Cada um dos sujeitos participantes da pesquisa foi entrevistado apenas uma vez. A seguir, apresenta-se quadro resumido sinalizando, em grandes linhas, o perfil das organizações familiares e a posição do sujeito entrevistado no contexto das mesmas. As duas primeiras colunas correspondem a casos de PME´s enquanto que as três últimas refletem cenários de grandes corporações 8 . 8 - Tendo em vista que nem todos os entrevistados forneceram dados quanto ao faturamento anual, o principal critério distintivo nesse sentido foi a tabela apresentada no Capítulo I segundo a qual um dos parâmetros que caracteriza PME`s é o número de funcionários igual ou inferior a 250. Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 30 de 79 17/06/2012 Figura 4: Quadro Resumido retratando Perfil das Organizações Familiares Entrevistadas: Setor do Negócio Indústria e Comércio Papel Serviços Eventos Comércio (Varejo Especializado ) Indústria (Construçã o Civil) Varejo (Vestuário ) Ano no qual foi fundado 1998 (14 anos) 2005 (7 anos) 1928 (84 anos) 1961 (51 anos) 2000 (12 anos) Faturament o Anual R$ 3.500.000,0 0 R$ 1.100.000,0 0 Não Informou Não Informou Não Informou Número de Funcionário s 50 Não Informou 1250 500 700 Atual número de Acionistas 4 2 4 7 9 Atual número de Acionistas que trabalham na empresa 2 2 4 6 7 Número estimado de Acionistas 2 2 11 8 4 Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 31 de 79 17/06/2012 na Próxima GeraçãoGeração do sujeito entrevistado 9 2ª Geração 1ª Geração 3ª Geração 2ª Geração 2ª Geração Geração Dominante (a que detém mais poder) 1ª Geração 1ª Geração 3ª Geração 1ª Geração 1ª Geração Relação dominante entre principais acionistas Pai- Filho Esposo- Esposa Irmãos- Irmãs Pais- Filhos Pais- Filhos 9 - Considerando-se os Fundadores como 1ª Geração Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 32 de 79 17/06/2012 Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 33 de 79 17/06/2012 Capítulo 3 - Resultados Qualitativos e Quantitativos da Pesquisa 3.1- Limites da Pesquisa A presente pesquisa foi baseada em uma amostra estatisticamente insuficiente para quaisquer conclusões definitivas sobre o fenômeno estudado em questão. Os resultados devem ser analisados levando em consideração essa limitação intrínseca ao Modelo de Pesquisa adotado. Por outro lado, os dados quantitativos e qualitativos coletados fornecem subsídios para tecer considerações relevantes sobre aspectos chaves relativos à como se dá o Processo Sucessório e quais os Modelos de Governança em cena nas Empresas Familiares. Também sinalizam novos questionamentos e provocações pertinentes à temática das Empresas Familiares. 3.2 – O Perfil das Empresas: PME`S ou Holdings Familiares A amostra adotada partiu fundamentalmente de um critério de conveniência. Ou seja, uma vez, identificados sujeitos membros de empresas familiares disponíveis a serem entrevistados, realizou-se a pesquisa com os mesmos – o que resultou em uma amostra de 2 PME`s familiares e 3 Holdings 10 Familiares. Todos os entrevistados (exceto o da Empresa de Comércio – Varejo Especializado) apontaram que poderiam ser classificados enquanto PME´s. Os casos da Indústria/Comércio de Papel e da Empresa de Serviços efetivamente correspondem a essa classificação de acordo com o critério estabelecido 11 (anteriormente no Capítulo I). Já os casos da Indústria no setor de Construção Civil, de Varejo no setor de Vestuário e de Comércio (Varejo Especializado) se tratam de Organizações estruturadas em termos de Holdings. 10 - A noção de Holding é explicitada no Capítulo 1, item 1.4.3. 11 - Consultar Figura 1 Capítulo 1. Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 34 de 79 17/06/2012 Assim sendo, os entrevistados representativos das empresas do setor de Construção Civil e do Varejo/ Vestuários responderam que poderiam ser classificadas enquanto PME`s desde o ponto de vista de um braço especifico (integrante da Estrutura Holding). Ao responderam às perguntas do questionário, no entanto, assinalaram dados correspondentes à realidade global da Holding. Faz-se interessante sublinhar que a pesquisadora observou que determinada pergunta do questionário 12 foi respondida da mesma maneira pelos 2 entrevistados pertencentes à PMEs familiares e de outra forma pelos 3 entrevistados pertencentes à Holdings Familiares. Quando indagados se os fundos da empresa poderiam ser utilizados para finalidades particulares da família, os sujeitos das PME´s responderam: “Sim, em caso de Necessidade”, enquanto os demais sujeitos pertencentes à Holdings Familiares responderam: “ Não, de forma alguma”. Esse aspecto foi destacado na medida em que pode ser revelador da diferença no seguinte sentido entre esses dois grupos de empresas: enquanto PME´s familiares se caracterizariam por fronteiras menos rígidas entre os interesses da empresa e os interesses particulares da família ; Holdings Familiares teriam esses limites mais bem definidos e regrados. 3.3 – Considerações Gerais Convém traçar algumas considerações gerais sobre o contexto geral das Empresas pesquisadas ilustrado na Figura 4 do Capítulo anterior. O primeiro deles já foi explorado no item anterior apontando que das 5 empresas familiares analisadas duas correspondem ao universo de PME`s e três estruturam-se em termos de Holdings Familiares . A facilidade maior de encontrar sujeitos pertencentes a Grandes Empresas familiares (do que ao universo de PME`s familiares) disponíveis para participarem de entrevistas acerca de questões da ordem da Sucessão e da Governança Corporativa (a pesquisadora mencionou dessa forma o escopo da entrevista, uma vez que todos os sujeitos abordados questionaram previamente qual 12 - Pergunta numero 11 do questionário em anexo (Do bloco: “ Descrição da Empresa Familiar”). Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 35 de 79 17/06/2012 seria o mesmo) poderia nos dar elementos para a seguinte hipótese: empresas familiares de pequeno ou médio porte estão menos abertas e receptivas ao tema da Sucessão e Governança Corporativa do que Holdings Familiares. Os demais pontos a serem assinalados dizem respeito ao caráter preponderantemente jovem das Empresas Familiares analisadas, bem como a sinalização da 1ª Geração enquanto detentora de Maior Poder por parte de 4 dos 5 sujeitos entrevistados 13 . Esse perfil, em certa medida, endossa o argumento previamente sustentado por inúmeros autores quanto à dificuldade de uma Organização Empresarial Familiar efetivamente superar o processo sucessório e perdurar no decorrer de várias gerações 14 . 3.4 – Resultados Qualitativos Os resultados qualitativos serão expostos seguindo a lógica de pequenos Estudos de Caso. Abordarão aspectos de destaque emergentes no decorrer da entrevista que podem contribuir no sentido de elucidar o presente problema de pesquisa, bem como sinalizar desafios, impasses e novas questões relativas ao tema. Serão apresentados de acordo com a ordem apresentada na Figura 3 do Capítulo 2. Os sujeitos entrevistados receberão nomes fictícios em cada caso. A) Indústria de Comércio e Papel: O sujeito entrevistado, Felipe, é filho do fundador da Empresa (dedicada à Indústria e Comércio de Papel) criada em 1998. Atualmente a Empresa familiar tem apenas pai (60 anos) e filho (26 anos) ocupando simultaneamente o papel de proprietários e gestores do negócio. Felipe tem apenas uma irmã arquiteta (de 23 anos que não exerce 13 - Observa-se que a Indústria de Construção Civil fundada em 1961 (e, portanto, não tão jovem assim) também foi caracterizada com a 1ª geração (Fundador) enquanto detentora de maior poder. 14 - O Modelo de Desenvolvimento Tridimensional exposto na Figura 3 do Capítulo I representa graficamente a dificuldade da Empresa Familiar perdurar ao longo das gerações. Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 36 de 79 17/06/2012 nenhuma função executiva na empresa e está em intercâmbiona Itália). A mãe é sócia proprietária do negócio, mas tampouco atua no mesmo. A pesquisadora observou Felipe como o sujeito com maior período de latência nas respostas (em relação aos demais entrevistados). Frequentemente, Felipe escolhia determinada alternativa de resposta, e em seguida, mudava de ideia assinalando outra resposta. Parecia um pouco surpreso com o teor de certas perguntas e em alguns momentos explicitou claramente isso: “Puxa! É uma boa pergunta! Nunca parei para pensar isso!” foi um de seus comentários 15 nesse sentido. A pesquisadora também observou que várias das respostas de Felipe eram formuladas a partir de uma argumentação fundamentada na experiência passada. Por exemplo: ao responder a pergunta sobre normas estabelecidas para o emprego de familiares 16 , Felipe mencionou: Não há, porque nunca houve problema quanto a isso. Certa vez um primo meu trabalhou na empresa e quis sair. Foi um processo muito tranquilo. Considera-se interessante destacar esse ponto, pois é emblemático de certo paradigma comum ao campo da Empresa Familiar: a dificuldade de efetivamente antecipar potenciais cenários adversos que possam vir a comprometer futuramente o equilíbrio das relações entre os 3 círculos discutidos no Capítulo 1, e estruturar-se no sentido de definir diretrizes claras e consistentes para enfrentá-los e superá-los. Em outras palavras, pode-se fazer o exercício de interpretar “caricaturalmente” a fala de Felipe no seguinte sentido: “se não tivermos problemas, não faz sentido criarmos essas regras”. A entrevista com Felipe trouxe à tona outros elementos ricos. No que se refere ao Processo Sucessório, a pesquisadora observou incongruências, contradições, 15 - Comentário expresso em resposta à pergunta numero 12 do questionário em anexo (No Bloco: “ Descrição da Empresa Familiar”) que indaga a respeito da eventual incorporação de sócios. 16 - Pergunta numero 8 do questionário em anexo ( No Bloco: “ Descrição da Empresa Familiar”) Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 37 de 79 17/06/2012 desalinhamentos entre o conteúdo das respostas expostos (opiniões expressas X realidade concreta da organização). Ao ser questionado sobre como se pensou em conduzir a passagem de uma geração à outra na empresa 17 , Felipe escolheu as alternativas: “Não, não é necessário ainda” e “Não, ainda não foi pensado”. Por outro lado, Felipe respondeu em outra pergunta 18 discordar completamente da afirmação: “O processo Sucessório é algo que acontece espontaneamente. Não há necessidade de ser planejado antecipadamente”. Na sequência, em momento posterior da entrevista, mencionou algo diferente: manifestou sua crença de que a sucessão se daria naturalmente: não há nenhum plano formal, mas acho que a sucessão vai ocorrer de maneira natural. Funcionários e gerentes sentem que eu vou assumir o negócio 19 No final da entrevista, Felipe mencionou outras perspectivas dissonantes dessa concepção “naturalista” acerca do tema. Agradeceu ser sensibilizado no decorrer da entrevista e comentou que, de fato, a empresa estava cega para a questão da Sucessão: Meu pai é um homem que trabalhou muitos anos nesse segmento em outras empresas antes de abrir a próprio negócio. Ele é muito conhecido no mercado e acredito que perante os clientes, é alguém extremamente fundamental enquanto sinal de credibilidade e seriedade. Não sei se eu seria capaz de inspirar o mesmo nos clientes, e acredito que teríamos que trabalhar nesse sentido. Ainda completou: mas eu não sei muito bem como fazer isso. Como abordar com ele isso? Vou falar para ele pensar em pescar e organizarmos a sucessão? Eu sei também que pode acontecer uma tragédia e ele pode morrer amanhã, por exemplo. Mas é muito delicado falar essas coisas com ele. Também, de repente, eu tenho que me sentir muito preparado e me sentir 17 - Pergunta numero 2 do questionário em anexo ( No Bloco: “Descrição da Empresa Familiar) 18 - Pergunta numero 2 do questionário em anexo (No Bloco: “ Opiniões acerca da relação empresa e família”) 19 - Acrescenta-se a informação de que a Empresa tampouco nunca colocou em pauta a profissionalização do negócio de acordo com a resposta à pergunta numero 15 (No Bloco: “Descrição da Empresa Familiar”). Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 38 de 79 17/06/2012 capaz de tocar o barco sozinho para tocar isso da Sucessão. E ainda não é esse o caso. É delicado. A fala de Felipe ilustra muito bem a complexidade e delicadeza em jogo nas Empresas Familiares. Também a vulnerabilidade que lhes é característica: Felipe assinala não apenas que não teria condições de ocupar o papel exercido pelo Pai atualmente, como o fato de que são escassos os esforços no sentido de prepará-lo para tanto (perante os clientes, por exemplo). As respostas vacilantes e contraditórias sobre esse fenômeno nos dão indícios para pensar como o tema é nebuloso, confuso e, também, porque não dizer, angustiante para Felipe. Também convém explorar que a fala de Felipe transmite a noção de Sucessão enquanto algo necessariamente atrelado à saída de cena do pai da empresa (“...vou falar para ele pescar e organizarmos a sucessão?...”) , enquanto um feito pontual abrupto e não um processo contínuo co- criado, lento e delicado. No que se refere à questão da Governança Corporativa, a entrevista com Felipe também foi elucidativa. Ele comentou concordar com a afirmação de que “instituições como Conselho de Administração, Conselho de Família, Conselho Executivo só fazem sentido para empresas maiores e mais complexas” 20. (Vale resgatar que a empresa em questão corresponde a uma PME). No caso de sua empresa, não existem nenhuma dessas instituições. Felipe apontou o Custo como a variável fundamental inviabilizadora da criação e manutenção de estruturas dessa natureza no caso das Pequenas e Médias Empresas Familiares: seria ótimo se tivéssemos chances de pagar um Conselho gabaritado de fora da nossa família para compor um Conselho de Administração, mas não temos recursos financeiros para tanto. A entrevista com Felipe permitiu certas considerações, hipóteses e perguntas: Será que as PME´s familiares estão conscientes acerca dos preceitos e fundamentos das boas práticas em termos de Governança Corporativa? Até que ponto as consideram como fonte de vantagem competitiva e investimento e até que ponto são consideradas enquanto custo, mera burocratização inócua e desnecessária? 20 - Pergunta numero 3 do questionário em anexo (no Bloco: “Opiniões acerca da relação entre empresa e família”). Curso de Especialização em Administração para Graduados Trabalho de Conclusão de Curso – TCC _____________________________________________________________________ Página 39 de 79 17/06/2012 B) Empresa de Eventos Henrique foi o sujeito entrevistado. Junto à esposa é o responsável pela criação da empresa no ano de 2005. O casal tem 2 filhas de 11 e 10 anos de idade. Não vieram à tona elementos relevantes em termos qualitativos no que se refere ao fenômeno da Sucessão. Henrique mostrou-se preocupado atualmente com a sustentação do negócio independentemente
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