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Bautista Vidal, Gleisi Hoffmann e Roberto Requião Ed. AGO.17

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Edição 245; AGO/2017
Coluna do Gilberto Felisberto Vasconcellos
Bautista Vidal, Gleisi Hoffmann e Roberto Requião
BACHAREL bem sucedido num País de fracassados, terno azul cabralino em meio à vil e apagada tristeza do parlamento. Roberto Requião é um político a quem não se deve jogar pedras. Diria até o contrário, merece ser elogiado por denunciar quão nocivo ao povo tem sido o capital estrangeiro.
Bautista Vidal, meu saudoso amigo, foi também seu amigo e, quando enfartou-se, estressado por causa do x feagace na Petrobax, Requião prestou-lhe ajuda para que não morresse. Poderia tê-lo convidado em seu governo no Paraná para materializar o programa ecológico e energético da biomassa. Eu, levado por impulso quixotesco, debalde mandei-lhe um imeiu: “olha, meu caro Requião, põe o Bautista aí para tocar o álcool e os óleos combustíveis em pequenas propriedades. O Paraná tornar-se-ia a vanguarda mundial, prelúdio do solcialismo: o socialismo do sol”.
O povo ia vendo e sentindo no cotidiano os efeitos das microdestilarias a álcool. Autodesenvolvimento. Sem importar nada do exterior. Todavia, Bautista ficou a ver navios. Requião, tal qual Stedile desenvolvimentista, é fascinado por Celso Furtado que se enredou no fetiche da moeda. Ambos não sacaram que a natureza é o corpo do homem. Se a natureza é violada, o corpo do homem também o é. Celso Furtado nunca entendeu o conceito de mais-valia. Gunder Frank, autor de O desenvolvimento do subdesenvolvimento, dizia-o temeroso da revolução socialista. Celso Furtado nunca o perdoou.
Bautista Vidal escreveu A Dialética dos Trópicos contra Celso Furtado e a Cepal. A cabeça colonizada não admite que haja tecnologia na mandioca e na carne seca.
Celso Furtado e FHC foram considerados gênios. Requião leu Celso Furtado e não deu atenção ao que escrevera Bautista Vidal acerca do capitalismo sujeira do petróleo e o trópico como epicentro energético.
O poder multinacional está de olho na energia vegetal, o seu alvo vai além do Pré-sal. Ainda que não fosse marxista, Bautista Vidal mostrou que a luta de classes é mediatizada pela contradição cósmica entre trópico e imperialismo. É esse o desafio do proletariado urbano e rural: a civilização da fotossíntese.
A corrupção premiada desmoraliza a Petrobras a fim de convertê-la em empresa internacional, não apenas do petróleo, mas da energia do futuro que é a biomassa. Eis a pergunta crucial que não é feita pelo Senado nubívago: o que é o nacionalismo na fase da financeiriza-ção da acumulação de capital?E a questão do petróleo antiecológico?
Requião é nacionalista, mas não anti-imperialista. De suas falas tem-se a impressão de que poderia existir capitalismo sem imperialismo. Trata o capitalismo rentista como se fosse uma escolha subjetiva de governantes. O rentismo não procede da malícia dos capitalistas. Remember Lênin em 1916: o imperialismo é insuprimível do capitalismo. Requião, diria Marx, é o Proudhon requentado que acredita no lado bom e no lado ruim do capitalismo. A mentalidade rentista, segundo Requião, é o diabo, mas a economia real do capital produtivo não é ruim. Assim louva-se a burguesia da produção e não a burguesia da finança. Todavia, é impossível o retorno ao capitalismo competitivo.
O capital monopolista comanda a economia e a cultura. É a acumulação financeira do capital. O banco manda na indústria e no palácio. Não se deve ao acaso que o seu coração curitibano pende mais para Roosevelt do que para Getúlio Vargas. Requião vê a nação alheia à luta de classes.
Abelardo Ramos ironizou na Argentina a existência de uma “esquerda rooseveltiana”. Lembro Glauber Rocha: Samuel Wainer era menos Vargas e mais Roosevelt, democrata imperialista que queria eliminar a língua castelhana em Porto Rico. Não é diferente da metodologia do PT, para quem Vargas era o Mussolini de São Borja.
Abstraído o tabuleiro regional com James Lerner no Paraná, fato é que o rooseveltiano Requião não se aproximou do anti-imperialista Leonel Brizola, preferiu o liberal entreguista Ulisses Guimarães que em 1964 costeou e pulou o alambrado janguista, depois esticou o exílio de Leonel Brizola. Este deveria ser punido por se indispor com as multinacionais da energia no Rio Grande do Sul. Requião lamentavelmente evoca com saudades “o velho PMDB do doutor Ulisses”, que também é badalado em Niterói pela ponte da falcatrua do Moreirinha Franco.
O que pega mal neste estribilho entoado por Requião (“o velho democrata Ulisses”) é que a gurizada senatorial é inoculada com o perdão ao golpe de 1964. Afinal, Ulisses se deu bem ou se deu mal com o golpe das multinacionais em 1964? É deprimente separar a democracia da classe social.
Folguei em saber que Gleisi Hoffmann votara em Leonel Brizola. Nessa esteve à frente de seu guru, Roberto Requião. Oxalá estude a vida do caudilho gaúcho, e lendo Marx abandonará a idiotice acadêmica de identificar espírito republicano com democracia e conquista dos trabalhadores. Cuidado, senadora: a urticária antimarxista que tomou conta do PT é responsável pelos erros analíticos e conduta desastrosa na prática política.
O comunismo nasceu, como dizia Trotsky, da cabeça de dois jovens eruditos: Marx e Engels. O PT renascerá ou está sepultado de vez? Não me venha com a conversa mole de que sou lulofóbico. Votei nele e em Dilma. O problema é que inexiste para eles a contradição entre capital e trabalho assalariado.
Tampouco existe o conceito de exploração, que é substituído pela ladainha religiosa que separa pobres de ricos. Os cristãos iguais no céu e desiguais na terra. O que isso difere do pop Edir Macedo?
O espectro de Lula continua sendo FHC, por isso enfatiza a origem de classe e a oportunidade educacional. Nisso parece o pusilânime Cristovam Buarque. Enfim, fica enredado na perfídia da burguesia bandeirante e é vítima dela. Não adianta declarar: eu sou inocente. Claro que o triprequis é um embuste montado pela magistratura, a qual responde à lógica de classe e não é imparcial.
O impiti de Dilma somente irá completar-se com Lula no xilindró.
Gilberto Felisberto Vasconcellos é jornalista, sociólogo e escritor.

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