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Soberania dos Veredictos do Tribunal do Júri

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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 
FACULDADE DE DIREITO DE RIBEIRÃO PRETO 
 
 
 
PAULO PEREIRA DE MIRANDA HERSCHANDER 
 
 
 
A SOBERANIA DOS VEREDICTOS DO TRIBUNAL DO JÚRI 
 
 
 
 
 
 
 
RIBEIRÃO PRETO 
2014 
 
PAULO PEREIRA DE MIRANDA HERSCHANDER 
 
 
 
 
A SOBERANIA DOS VEREDICTOS DO TRIBUNAL DO JÚRI 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado à 
Faculdade de Direito de Ribeirão Preto – USP, como 
requisito parcial para obtenção de grau de bacharel 
em Direito, sob orientação do Prof. Dr. Cláudio do 
Prado Amaral. 
 
 
 
 
RIBEIRÃO PRETO 
2014 
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio 
convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Herschander, Paulo Pereira de Miranda 
 A Soberania dos Veredictos do Tribunal do Júri. Ribeirão Preto, 
2014. 
 83 p. ; 30 cm 
 Trabalho de Conclusão de Curso, apresentada à Faculdade de 
Direito de Ribeirão Preto/USP. 
 Orientador: Amaral, Cláudio do Prado. 
 
1. Soberania dos Veredictos. 2. Impossibilidade de Substituição 
das Decisões do Júri. 3. Estado Democrático de Direito. 4. Limites 
 
 
 
Nome: HERSCHANDER, Paulo Pereira de Miranda. 
Título: A Soberania dos Veredictos do Tribunal do Júri. Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado à Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo para 
obtenção do título de Bacharel em Direito. 
 
Aprovado em: 
 
Banca Examinadora 
 
Prof. Dr. _______________________Instituição: ______________________ 
Julgamento:_____________________Assinatura:______________________ 
 
 
Prof. Dr. _______________________Instituição: ______________________ 
Julgamento:_____________________Assinatura:______________________ 
 
 
Prof. Dr. _______________________Instituição: ______________________ 
Julgamento:_____________________Assinatura:______________________ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Deus, primeiramente. Aos meus pais, que são tudo para mim, à minha grande 
família, que é a base da minha vida e aos meus amigos pelos momentos inesquecíveis que 
juntos vivemos durante a graduação. 
 
AGRADECIMENTOS 
Agradeço, primeiramente, à minha mãe e ao meu pai pelo incondicional apoio 
desde sempre e, em especial, por ocasião da minha aprovação na Faculdade de Direito de 
Ribeirão Preto. Não fosse o encorajamento por eles me dado, provavelmente não teria 
vivenciado essa experiência única e de inestimável valor, que foi a graduação longe de casa. 
Agradeço especialmente aos grandes amigos que fiz no transcorrer desses cinco 
anos, dos quais faço questão de citar os nomes: Raphael Silva, Fernando Oliveira, Isabela 
Sauer, Eduardo Prigenzi, Henrique Chamas, Igor Fabiani, Bruno Dario, Júlio Cesar Azevedo 
e Jamil Júnior Gonçalves do Nascimento. Agradeço pelos momentos inesquecíveis que juntos 
passamos, pela força nos momentos difíceis e pelas lembranças e amizade, que serão para 
sempre. Agradeço de forma ainda mais especial aos que comigo dividiram moradia. 
Agradeço, também, àqueles – não foram poucos - que tanto me ajudaram durante 
esse período. Desde aqueles que, no início, me auxiliaram na adaptação à cidade, até aqueles 
que, quando precisei, me proporcionaram oportunidade de estágio, com os quais, aliás, eu 
muito aprendi. Enfim, agradeço a todos que, de uma maneira ou de outra, comigo 
colaboraram nesse tempo de faculdade. 
Faço um especial agradecimento a todos os professores e funcionários da 
Faculdade de Direito de Ribeirão Preto, os quais serão aqui representados na pessoa do 
Professor Doutor Cláudio do Prado Amaral. Agradeço a ele individualmente pela orientação 
do meu trabalho e pelas ótimas aulas, que muito me influenciaram no gosto pelo Processo 
Penal. 
Por fim, mais uma vez agradeço ao meu pai, agora não como pai, mas como 
profissional que é. Agradeço pela inspiração que representa para mim e pela influência que, 
sem querer, tem exercido nesse meu início profissional. Espero que, se Deus quiser e assim 
permitir, possa eu também um dia alcançar o êxito profissional que ele alcançou. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"LUTA. Teu dever é lutar pelo Direito. Mas no dia em que encontrares o Direito em conflito 
com a Justiça, luta pela Justiça". 
(Eduardo Couture) 
 
 
RESUMO 
A Constituição Federal traz em seu artigo 5º, no rol dos direitos e garantias fundamentais, a 
garantia da Soberania dos Veredictos prolatados pelo Tribunal do Júri. Tal garantia, em breve 
análise, impõe que as decisões proferidas pelo tribunal popular jamais poderão ser 
substituídas por outra decisão exarada por diferente órgão jurisdicional. Em verdade, a 
Soberania dos Veredictos constitui verdadeiro sustentáculo da instituição do Júri, uma vez 
que, como as decisões do conselho de sentença não se apoiam em fundamentos jurídicos, caso 
não gozassem de tal prerrogativa, frequentemente seriam objeto de reforma por parte dos 
tribunais togados. Temos, pois, que a recorribilidade mitigada das decisões do Júri tem sua 
razão de ser. A instituição do Júri tem como escopo o julgamento livre das amarras do direito 
e, nesse compasso, a Soberania dos Veredictos surge como instrumento garantidor desse 
objetivo. Entretanto, é preciso notar que, no âmbito do Estado democrático de direito, 
convivem uma série de princípios norteadores, os quais deverão se manter sempre em 
harmonia, ora privilegiando-se um, ora privilegiando-se outro, mas sempre se mantendo um 
equilíbrio entre eles. Nesse ínterim, conceber-se que a Soberania dos Veredictos fosse um 
princípio absoluto, sem restrições, indubitavelmente feriria a harmonia ora referida. Não há 
como se imaginar, por exemplo, a total impossibilidade de revisão decisória em um sistema 
que prevê o princípio do duplo grau de jurisdição. Desse modo, cumpre-nos estabelecer que a 
garantia da Soberania deve ser relativa. Ademais, desde a Revolução Francesa não se fala 
mais em direitos absolutos. E, como se sabe, é frequente que princípios estejam em conflito, 
situação que se resolve através da sobre posição de um em relação ao outro no caso concreto. 
O objetivo do trabalho se faz, então, na análise dos limites impostos à garantia da Soberania 
dos Veredictos pela própria legislação processual penal, bem como na proposição de outros 
mecanismos com potencialidade de tornar mais harmoniosa a convivência entre os princípios 
constantes da Constituição Federal, notadamente o do duplo grau de jurisdição e o da 
Soberania dos Veredictos. 
 
Palavras-chave: Soberania dos Veredictos. Impossibilidade de Substituição das Decisões do 
Júri. Estado Democrático de Direito. Limites. 
 
 
 
 
ABSTRACT 
The Federal Constitution provides in its article 5, on the list of fundamental rights and 
guarantees, the sovereignty of the Jury’s. Such guarantee, in brief analysis, implies that 
decisions made by the people's Court can never be replaced by another decision issued by any 
different court. In fact, the sovereignty of verdicts is the main idea behind the Jury, since, as 
its decisions do not rely on legal norms, if it wasn’t for such prerogative, often it would be 
object of reform by magisterial courts. We have, therefore, that the mitigated appealability of 
the Jury's decisions has its reason to be. The institution of the Jury has its scope in a trial free 
from the restraints oflaw and, therefore, the sovereignty of verdicts emerges as means for that 
goal. However, it should be pointed out that, in the context of the democratic State of law, 
there are a handful of guiding principles, which should always remain harmonically, in a way 
of keeping balance between all of them. In the meantime, conceived that the sovereignty of 
the verdicts were an absolute principle, without restrictions, that fact would undoubtedly hurt 
the aforementioned harmony. There is no way to imagine, for instance, the total impossibility 
of decision-making review in a system that guarantees a double degree of jurisdiction. 
Thereby, we must establish that the guarantee of sovereignty should be relative. Moreover, 
since the French Revolution is not spoken in absolute rights. And as we know, it is normal 
that principles are in conflict, a situation that is resolved through about overlap to one another 
in concrete case. The objective of this work is, therefore, to analyze the limits imposed by the 
criminal procedural legislation to the sovereignty of the verdicts, as well as to propose other 
mechanisms which can potentially make it more harmonic for the principles laid down in the 
Federal Constitution to coexist, specially the double degree of jurisdiction and the sovereignty 
of the verdicts. 
 
Keywords: Sovereignty of the Verdicts. Irreplaceability of the Jury's decisions. Democratic 
State of law. Limits. 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 19 
1. A INSTITUIÇÃO DO JÚRI ............................................................................................. 21 
1.1 A Instituição do Júri no Sistema de Justiça ................................................................. 21 
1.2 O Contexto Atual da Instituição do Júri ......................................................................... 22 
2. A HISTÓRIA DO JÚRI ....................................................................................................... 24 
2.1 A Origem do Júri no Direito Estrangeiro ........................................................................ 24 
2.2. O Júri no Brasil .............................................................................................................. 27 
3. O JÚRI COMO GARANTIA FUNDAMENTAL ............................................................... 31 
3.1. A Inserção do Júri no Rol das Garantias Fundamentais ................................................ 31 
3.2. As Subgarantias do Tribunal do Júri .............................................................................. 33 
3.2.1. Plenitude de Defesa ................................................................................................. 34 
3.2.2 Sigilos das Votações................................................................................................. 36 
3.2.3. Competência para o Julgamento dos Crimes Dolosos contra a Vida ...................... 37 
3.2.4 Soberania dos Veredictos ......................................................................................... 38 
4. OS JURADOS ...................................................................................................................... 40 
4.1. Os Requisitos para que um indivíduo possa ser alistado como Jurado ......................... 40 
5. CASUÍSTICA ....................................................................................................................... 45 
5.1. Apelação Nº 1.0216.10.008633-1/002 – TJMG ............................................................ 46 
6. SOBERANIA DOS VEREDICTOS .................................................................................... 49 
6.1 O Conceito de Soberania ................................................................................................ 49 
6.2 Delimitação do Princípio ................................................................................................ 50 
6.3 Histórico da Soberania dos Veredictos ........................................................................... 52 
6.4 Limites ao Princípio da Soberania dos Veredictos ......................................................... 53 
6.5 Mecanismos de Limitação à Soberania dos Veredictos .................................................. 55 
6.5.1 Apelação ................................................................................................................... 55 
6.5.2 Revisão Criminal ...................................................................................................... 65 
6.5.3 Dos Mecanismos hábeis a conferir maior Justiça à Instituição do Júri .................... 76 
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 80 
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................... 82 
 
19 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
É certo que a Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso XXXVIII, alínea “c”, 
expressamente estabelece a soberania dos veredictos prolatados pelo Tribunal do Júri. 
Contudo, insta que se estabeleçam os limites a que se sujeita referida soberania, visto que, se 
admitida sem qualquer restrição, consubstanciar-se-ia em prerrogativa absolutamente 
contrária aos preceitos do Estado Democrático de Direito. 
Temos, pois, que, principalmente em decorrência do cenário controvertido no qual 
se encontra a instituição do Júri nos dias atuais, tal problemática adquire extremada 
importância. 
Nesse sentido, o que se busca é delimitar as possibilidades de interpretação, bem 
como a aplicação prática do referido preceito constitucional. Para tanto, questão de maior 
relevância, e que será tomada como ponto de partida, consiste na busca da “mens legis” da 
norma em questão, atendo-se, principalmente, ao conceito do termo “soberania” empregado 
no referido dispositivo legal. Identificar-se-á, conseguintemente, o posicionamento 
majoritário da jurisprudência e da doutrina brasileira quanto aos limites balizadores dessa 
prerrogativa e, após, serão propostas sugestões para uma melhor adequação da instituição do 
Tribunal do Júri aos ditames do Estado Democrático de Direito, bem como aos princípios e 
valores que permeiam nosso ordenamento jurídico pátrio. 
O trabalho terá seu desenvolvimento primeiramente pautado pela pontuação das 
bases fundamentais do Júri, pelo seu enquadramento no ordenamento jurídico e 
estabelecimento de sua posição constitucional e pela sua contextualização nos dias atuais, 
período bastante conturbado para a instituição, que é constante alvo de críticas por parte da 
doutrina e da sociedade em geral. 
Após, dedicar-se-á à história do Tribunal do Júri, partindo de seu surgimento no 
direito estrangeiro e chegando ao nascimento da instituição no Brasil, atendo-se a sua 
consolidação no transcorrer da vigência de cada Constituição; sempre se estabelecendo os 
pontos de influência do direito estrangeiro para o direito nacional. 
Conseguintemente, será realizada a análise da instituição como garantia 
fundamental, momento em que se aterá à perquirição do motivo pelo qual o Júri reveste-se de 
tal qualificação, bem como as razões para que essa qualificação perdure até os dias de hoje, 
seguindo-se o estudo das subgarantias conferidas ao Tribunal do Júri pela Constituição 
Federal. 
20 
Por fim, serão analisados os critérios estabelecidos pelo Código de Processo Penal 
para que um indivíduo possa ser alistado como jurado, questionando-se a conveniência desses 
parâmetros, principalmente à luz da responsabilidade que recai sobre a figura dos jurados por 
força da soberania dos veredictos.Outrossim, serão estudados os mecanismos de limitação ao 
princípio previstos em lei, bem como serão propostas sugestões no intuito de tornar a 
instituição do Júri mais justa e equilibrada. 
 
 
21 
 
 
1. A INSTITUIÇÃO DO JÚRI 
 
 1.1 A Instituição do Júri no Sistema de Justiça 
 
A instituição do Júri, mesmo que sob a vestimenta de distintos modelos, está 
presente em grande parte dos sistemas jurídicos modernos. Tal fato se justifica, 
principalmente, na medida em que, através dela e em decorrência de sua elementar 
participação popular, obtém-se uma verdadeira legitimação do sistema jurídico, de modo a 
serem introduzidos no sistema processual valores de cunho fortemente democrático.1 
A ideia de legitimação do sistema refere-se ao fato de que, ao se afastar a 
competência para julgar da égide de um juiz togado e transferi-la para cidadãos comuns, o que 
se procura é a obtenção de uma “aceitação popular” daquilo que diz respeito ao resultado 
obtido no processo. O verdadeiro fim a ser alcançado, ou seja, a justiça a que se visa chegar 
ao final de um julgamento no plenário do Júri, é o “justo” aos olhos da sociedade. Desse 
modo, a busca pela aceitação da sociedade perante as decisões de julgamentos de crimes 
dolosos contra a vida – crimes que atentam contra valores sociais fundamentais – constitui o 
principal enfoque da instituição do Júri. 
Não se pode olvidar, ainda, que o ideal de legitimação possui relação direta com 
valores de caráter amplamente democrático. Ora, a preocupação com a aceitação da sociedade 
diante de atos do poder público – tais quais os relacionados ao jus puniendi – somente faz 
sentido em um sistema democrático. Não há, pois, como se conceber um modelo de Júri sem 
que haja em seu entorno um sistema verdadeiramente democrático. O Estado Democrático de 
Direito funda-se na soberania popular, no princípio democrático da participação do povo nas 
atividades estatais como meio legitimador do poder e assim o temos no Júri, como expressão 
máxima dessa premissa.2 A instituição do Júri e o sistema democrático de direito se 
entrelaçam de tal forma a não haver a possibilidade da existência do primeiro sem a vigência 
do segundo.3 Dessa forma, o Tribunal do Júri apresenta-se como verdadeiro mecanismo 
democrático de controle do poder estatal.4 
 
1 BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 451. 
2 ZAPPALA, Amália Gomes. Estudos de Processo Penal. São Paulo: Scortecci, 2011, p. 235 
3 AZEVEDO, André Mauro Lacerda. Tribunal do Júri: Aspectos Constitucionais e Procedimentais. São Paulo: 
Verbatim, 2011, p. 13. 
4 Ibid., p. 14. 
22 
Nesse compasso, a partir da ótica da instituição do Júri como um mecanismo de 
controle do poder estatal e do viés democrático de que se reveste, o julgamento pelo plenário 
do Júri apresenta-se como verdadeiro direito do cidadão. Denota-se, pois, que a instituição 
não se configura como fruto de mera discricionariedade do Estado que, para os crimes dolosos 
contra a vida, estabelece que sejam julgados pelo Tribunal do Júri, mas, sim, como verdadeiro 
direito dos cidadãos de que nesses casos sejam julgados por seus pares. 
Nesse ínterim, a fim de garantir referido direito a todos os cidadãos, a 
Constituição Federal de 1.988 conferiu à instituição do Júri o status de garantia fundamental. 
Desse modo, o Tribunal do Júri caracteriza-se como mais do que simples órgão do poder 
Judiciário, correspondendo, também, a uma garantia e a um direito fundamental de cada 
indivíduo.5 Sendo assim, a previsão da instituição do Júri vem expressa no capítulo da 
Constituição Federal destinado aos direitos e garantias fundamentais, precisamente no artigo 
5º, XXXVIII, como evidente demonstração de que, pela posição topográfica que ocupa, 
constitui verdadeira garantia fundamental.6 
 
 1.2 O Contexto Atual da Instituição do Júri 
 
É importante pontuar que, principalmente nos dias atuais, a instituição do Júri 
vive um contexto bastante controvertido. Muitas críticas são no sentido da carência de técnica 
empregada nos julgamentos pelo plenário e da enorme influência exercida por fatores 
externos, capazes de, muitas vezes, direcionarem o resultado obtido ao fim do processo. 
Vive-se hoje uma época de grande e incontestável influência midiática. Muito em 
decorrência do estrondoso desenvolvimento dos mecanismos de telecomunicação, a mídia 
passou a exercer um poder nunca antes visto. Devido à facilidade e à rapidez de propagação 
das informações hoje existentes, um fato de âmbito regional, em um curto intervalo de tempo, 
torna-se um evento nacional ou até mesmo mundial. A instantaneidade com que se propagam 
informações, bem como o enorme espectro de indivíduos que atingem, tornou a mídia, nos 
dias atuais, um instrumento de força incalculável na formação da opinião pública. Essa 
influência dos mecanismos midiáticos, como não poderia deixar de ser, afeta sobremaneira o 
 
5 BONFIM, 2006, op. cit., p. 452. 
6 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 33. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 4, p.143. 
23 
 
 
resultado obtido findo o procedimento do Júri e, por esse motivo, representa fator de ensejo a 
muitas críticas à instituição do Júri. 
Existem, pois, certos delitos que, pela repercussão midiática que causam, tornam-
se objeto de discussão da sociedade como um todo. Através dos mecanismos de 
telecomunicação, muitas especulações se criam ao redor do crime, de modo que, muitas das 
vezes, acaba-se por criar, ou melhor, recriar fatos ou elementos delitivos que não ocorreram 
efetivamente, ou de forma muito diversa da que ocorreram. A mídia, na feroz disputa pelo 
público, por diversas vezes veicula a notícia de forma precipitada e fragmentada, utilizando 
uma linguagem destinada a envolver os receptores, despertando emoções, provocando reações 
e, principalmente, criando e alimentando um clima de comoção social.7 
Os instrumentos midiáticos, por forçoso sensacionalismo, frequentemente 
acrescentam aos fatos narrados circunstâncias de violência não reais, criando, assim, um 
cenário fictício do crime praticado. A violência midiática, não corresponde à violência 
efetivamente empregada no cometimento do delito. Desse modo, não há como passar 
despercebida a crítica de que os jurados, em certos casos, têm em mente uma cena delitiva 
totalmente diversa da real. 
Apesar, então, de haver perdurado desde há muito tempo e estar, ainda hoje, 
presente em grande parte dos sistemas jurídicos modernos, nota-se que a instituição do Júri 
não é imune a críticas, muitas delas, diga-se já, com fundamentos extremamente relevantes. 
 
 
7 ZAPPALA, op. cit., p. 247. 
24 
2. A HISTÓRIA DO JÚRI 
 
2.1 A Origem do Júri no Direito Estrangeiro 
 
A origem do Júri é tema bastante polêmico e controverso na doutrina. Não há, 
pois, entre os historiadores, consenso acerca do efetivo surgimento da instituição. Apesar de 
muitos se deterem no estudo do assunto, tudo o que se tem são, na verdade, verdadeiras 
especulações. Nota-se que desde há muito se encontram experiências rudimentares de 
julgamentos populares com características muito semelhantes às que temos hoje no Tribunal 
do Júri; entretanto, a instituição, assim como a concebemos atualmente, não se sabe ao certo 
quando surgiu. 
Nesse âmbito, embora alguns doutrinadores remetam a origem da instituição à 
época das ordálias inglesas, é inconteste que já há muitos séculos havia vestígios do que hoje 
conhecemos como Tribunal do Júri.8 
Há, por esse motivo, aqueles que atribuem os primeiros indíciosdo Júri a épocas 
bastante remotas, com os judices jurati, dos romanos, os diskastas gregos e os centeni 
comites, dos germanos.9 
Outros, no entanto, estabelecem as questiones perpetuae, vigorantes no ano de 
149 a.C. em Roma, como marco inicial da instituição do Júri. As questiones perpertuae, 
como pontuam Nádia de Araújo e Ricardo R. Almeida, eram um tribunal absolutamente 
aristocrático, no qual somente os senadores compunham a lista de jurados, configurando, 
assim, uma justiça elitista e antipopular, e nisso se distanciando do Tribunal do Júri 
contemporâneo.10 Não são poucos, também, os que remetem o Júri à Grécia antiga que, com a 
Heliléia, deu os primeiros passos à concretização de uma estrutura de tribunal popular, em sua 
essência bastante semelhante ao que hoje temos por Júri. 
A Heliléia, surgida através da inspiração dos ideais republicanos e democráticos 
em voga àquela época, constituiu o primeiro tribunal popular grego, perdurando desde o ano 
2501 até o ano 201 a.C., servindo, inclusive, de forte inspiração ao Júri inglês, que, após 
 
8 AZEVEDO, op. cit., p. 17. 
9 TOURINHO FILHO, op. cit., p. 137. 
10 ARAÚJO, Nádia de. ALMEIDA, Ricardo R. apud AZEVEDO, op. cit., p. 17. 
25 
 
 
quase um milênio da extinção do tribunal grego, concretizou-se como tribunal popular na 
Grã-Bretanha. 
Apesar de sua estrutura não condizer exatamente com a que concebemos hoje no 
Tribunal do Júri, a Heliléia possuía certas características ainda hoje elementares à instituição 
moderna do Júri. Tem-se, por exemplo, como traços marcantes do tribunal grego, a primazia 
pela oralidade e a ampla participação democrática. Outro elemento marcante e já presente 
àquela época é a Soberania dos Veredictos, que, pela sua elevada importância até os dias de 
hoje, constitui o objeto do nosso trabalho. 
Da Grécia, e em decorrência de sua influência, o Júri seguiu trajeto rumo à 
Inglaterra, onde teve concretizada sua introdução no sistema de justiça no ano de 1066.11 
A partir do surgimento do Júri inglês, passa a existir certo consenso na doutrina 
acerca das origens do Júri, uma vez que aqueles que não atribuem os primórdios do tribunal à 
Antiguidade afirmam, quase todos, seu surgimento na experiência inglesa. 
Apesar de introduzido no sistema inglês no ano de 1066, somente com o IV 
Concílio de Latrão, em 1215, é que a instituição do Júri adquiriu o modelo sob o qual vigora 
nos dias de hoje. Por ocasião do referido Concílio, o Papa Inocêncio III proibiu o julgamento 
pelas Ordálias, substituindo-o por um novo modelo de Justiça, em muito semelhante à atual 
concepção de Júri, no qual o número de jurados era doze, em alusão aos doze apóstolos.12 
As Ordálias eram um tribunal no qual o julgamento era afeto à Divindade. No 
transcurso do processo os acusados eram submetidos aos Juízos de Deus, ou ordálios, que 
através de duras provas, notadamente a do ferro em brasa e a da água fria, indicavam para o 
verdadeiro culpado.13 
Nos dizeres de Fredrick G. Kempis Jr, as Ordálias caracterizavam-se pela 
submissão do réu a provas físicas; situações essas, nas quais se acreditava que a intervenção 
divina imprimiria no corpo do verdadeiro criminoso a sua culpa.14 
O novo modelo criado em substituição às Ordálias foi o sistema do Jury. Nesse 
modelo de tribunal, os homens bons da comunidade se reuniam para, sob juramento, julgar o 
 
11 AZEVEDO, op. cit., p. 18. 
12 BONFIM, 2006, op. cit., p. 452. 
13 TOURINHO FILHO, op. cit., p. 138. 
14 KEMPIS JR, Fredrick G. apud AZEVEDO, op. cit., p. 18. 
26 
cidadão acusado de cometer algum delito. O sistema era constituído de dois Tribunais do Júri: 
o grande e o pequeno (Grand Jury e Petty Jury), cada qual com competência para julgamento 
em fases distintas do procedimento. A competência do primeiro restringia-se à análise da 
adequação ou não da ida do acusado ao tribunal popular; tratava-se, pois, de um juízo de 
admissibilidade, no qual vinte e quatro cidadãos, através do voto, determinavam se era cabível 
ou não o julgamento pelo Tribunal. Em caso de resposta afirmativa, então, o réu era remetido 
ao Petty Jury, formado, este sim, por doze jurados (termo esse utilizado em decorrência de os 
julgadores desempenharem sua função sob julgamento), momento no qual se analisava 
propriamente o mérito da questão.15 
É na Inglaterra, então, que primeiramente o Júri encontra o seu apogeu e, 
posteriormente, nos Estados Unidos, onde o Júri foi utilizado para os mais diversos tipos de 
julgamentos, tanto criminais como cíveis. Apesar de poderem ser considerados, ambos os 
países, como os nascedouros da instituição do Júri, o tribunal seguiu caminhos distintos no 
sistema inglês e no sistema americano. Atualmente, o Júri, na Inglaterra, não conta mais com 
o poder e com o prestígio de outras épocas, como se constata do indicador de que, hoje em 
dia, menos de cinco por cento dos julgamentos são realizados pelo tribunal popular. Em outra 
direção, nos Estados Unidos o Júri tem grande importância até os dias de hoje, competindo-
lhe decidir sobre a maioria dos casos em matéria criminal. O Júri, inclusive, assim como 
ocorre no Brasil, é garantia fundamental do cidadão americano, com previsão expressa na 
Constituição no artigo 3º, seção II, item 3 e na 6ª e 7ª emendas constitucionais.16 
Após a adoção da instituição do Júri pela Inglaterra, depois da Revolução 
Francesa, de 1789, tendo por finalidade o combate às ideias e métodos esposados pelos 
magistrados do regime monárquico, estabeleceu-se o Júri na França e de lá se espalhou para 
os demais países da Europa como ideal de liberdade e democracia.17 
A criação do Tribunal do Júri francês se deu através do Decreto de 30 de abril de 
1790, sendo posteriormente consolidado na própria Constituição Francesa de 1791, 
constituindo fonte de grande influência ao Júri brasileiro, quando da entrada dos ideais 
políticos-burgueses do século XVIII no território nacional. 18 
 
15 TOURINHO FILHO, op. cit., p. 138. 
16 AZEVEDO, op. cit., p. 18. 
17 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 2. ed. São Paulo: Ed. Revista 
dos Tribunais, 2006, p. 687. 
18 AZEVEDO, op. cit., p. 20. 
27 
 
 
2.2. O Júri no Brasil 
 
A partir da adoção da instituição pelos países da Europa, é de se questionar o que 
teria feito o Júri haver chegado ao Brasil. Santi Romano, no intuito de explicar esse fenômeno 
de transmigração do direito - que, do seu país de origem acaba por se difundir por outros -, 
credita tal fato principalmente à colonização, que, de uma forma ou de outra, impõe ao 
colonizado ideias e leis. Ele também o atribui à característica natural de “contagiosidade do 
direito”, nas palavras de Emerico Amari.19 
Entretanto, o motivo “colonização”, no que diz respeito ao Tribunal do Júri, não 
parece encontrar substrato na história brasileira. Isso porque a instituição foi incorporada ao 
ordenamento brasileiro antes mesmo que constasse do sistema de justiça português. Tal fato 
pode ser explicado a partir do contexto histórico vivido entre Brasil e Portugal no momento 
dessa incorporação. 
No período anterior à sua independência, o Brasil passou a editar leis contrárias 
aos interesses da Coroa ou, se não contrárias, pelo menos dissonantes do ordenamento 
jurídico português, como forma de, desde já, “preparar terreno” para a futura e iminente 
independência.20 
Foi nesse contexto, então, que a instituição do Júri foi incorporada ao 
ordenamento jurídico brasileiro. Assim, em 18 de junho de 1822, por decreto do Príncipe 
Regente, criou-se o Tribunal do Júrino Brasil, seguindo-se a tendência difundida pela 
Inglaterra e espalhada por toda a Europa e, principalmente, guiando-se pelos ares vividos no 
contexto pós-revolução francesa, período no qual os ideais de liberdade e democracia haviam 
sido amplamente difundidos pelo mundo, fazendo com que surgisse a ideia de que, se o Júri 
“era bom para a França o era também para o resto do mundo”.21 
Em um primeiro momento, o Júri foi criado com competência exclusiva para 
julgar os crimes de imprensa, notadamente os crimes de abuso de liberdade de imprensa. 
Somente com o advento da Constituição de 1824 a competência do Tribunal do Júri foi 
estendida também às causas cíveis e criminais. 
 
19 ROMANO, Santi apud NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do Júri. São Paulo: Ed. Revista dos 
Tribunais, 2008, p. 42. 
20 NUCCI, 2008, op. cit., p. 43. 
21 Ibid., p. 43. 
28 
A Constituição Imperial inseriu a instituição no capítulo pertinente ao Poder 
Judiciário, atribuindo-lhe, pois, competência para julgar fatos, nos moldes da lei 
infraconstitucional. Entretanto, ao tratar das garantias dos direitos civis e políticos dos 
cidadãos, a carta constitucional não fez menção ao tribunal popular, do que se depreende que, 
à época do Império, o Júri não figurou no Brasil como garantia constitucional, mas apenas 
como órgão do Poder Judiciário.22 
Com o advento da proclamação da República, a instituição do Júri manteve-se no 
ordenamento jurídico brasileiro. Ademais, criou-se, ainda, através do Decreto 848, de 1890, o 
Júri Federal. A Constituição Republicana representou um grande passo à solidificação do Júri 
no sistema brasileiro, pois foi com ela, e em decorrência de forte influência da Constituição 
Americana, que a instituição do Júri foi elevada ao patamar de garantia constitucional, 
passando a constar, então, do rol das garantias e direitos fundamentais da Constituição 
Republicana de 1891.23 
Entretanto, com a promulgação da Constituição de 1934, parece ter havido um 
retrocesso no que diz respeito à consagração do Júri como garantia constitucional. Isso porque 
a nova Constituição, assim como estabelecia a Carta de 1824, voltou a inserir a instituição no 
Capítulo destinado ao trato do Poder Judiciário. Apesar disso, ao se estabelecer sobre a 
composição do Judiciário, não foi inserida a instituição popular como um de seus órgãos 
componentes, de maneira a não se poder afirmar que o legislador a vislumbrou como órgão do 
Poder Judiciário. Entretanto, também não é menos certo que o texto constitucional, ao inseri-
lo no capítulo “Do Poder Judiciário”, conferiu ao Júri uma nítida feição judiciária.24 
O que se denota desse dispositivo é uma clara incerteza por parte do legislador em 
estabelecer, de forma definitiva, qual a posição constitucional ocupada pela instituição do 
Júri. Percebe-se, pois, que paira uma dúvida acerca da caracterização do Júri; se como uma 
instituição do Judiciário ou como um órgão autônomo, vinculado apenas à sociedade, a qual 
representa, aproximando-se do Judiciário apenas para se revestir da imprescindível roupagem 
jurisdicional.25 
Por sua vez, a Constituição do Estado Novo, de 1937, não estabelece disposição 
alguma sobre a instituição do Júri. Quer seja como elemento do Poder Judiciário, quer seja 
 
22 AZEVEDO, op. cit., p. 32. 
23 NUCCI, 2008, op. cit., p. 43. 
24 AZEVEDO, op. cit., p. 36. 
25 Ibid., p. 37. 
29 
 
 
como garantia fundamental, a Carta Constitucional em nenhum dispositivo previu o Tribunal 
do Júri, demonstrando, desse modo, sua nítida feição autoritária. Conforme já pontuado no 
presente trabalho, não há como conceber a instituição do Júri no seu estado mais puro sem 
que haja em seu entorno um sistema democrático, e isso é o que, de maneira ilustrativa, 
notamos do texto da Constituição Federal do Estado Novo. No ano de 1938, através do 
Decreto nº 167, o Júri foi regulamentado. Contudo, em uma clara limitação da instituição, 
estabeleceu-se que seus decretos não eram revestidos da soberania dos veredictos. 
Após o término do Estado Novo, no contexto de redemocratização do país, a 
Constituição de 1946 ressuscitou o Tribunal do Júri, voltando a inserir a instituição no 
capítulo dos direitos e garantias fundamentais. Nesse quadro, tornou-se clara a intenção do 
legislador de fazer do Júri um verdadeiro estandarte na luta contra o autoritarismo vigorante 
no regime anterior.26 
Importantes foram, também, as inovações trazidas pela Carta Constitucional em 
relação ao tribunal popular. Com a Constituição de 1946 foram assegurados e consagrados os 
princípios fundamentais informadores do Júri no sistema constitucional nacional, ainda em 
voga no texto constitucional atual. A Carta previu o sigilo das votações, a plenitude de defesa 
do réu, a soberania dos veredictos, bem como a competência mínima para o julgamento dos 
crimes dolosos contra a vida. Temos, pois, como uma das principais novidades, o 
estabelecimento da competência do Júri para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, 
não antes previstas pelas outras Constituições.27 
Já no período da ditadura militar, a nova ordem constitucional, que emerge em 
1967, praticamente em nada altera a estrutura e as garantias da instituição do Júri. Não 
obstante, se comparada às Cartas constitucionais anteriores, nota-se no novo texto uma 
evidente redução do alcance da instituição popular. Isso porque, apesar de haver defendido a 
manutenção da instituição do Júri, garantindo-lhe a soberania de seus veredictos, bem como 
haver estabelecido sua competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, a 
nova Constituição claramente suprimiu os princípios informadores do sigilo das votações e da 
plenitude de defesa.28 
 
26 NUCCI, 2008, op. cit., p. 43. 
27 AZEVEDO, op. cit., p. 41. 
28 Ibid., p. 44. 
30 
Em que pese a Constituição de 1967 pouco haver alterado na estrutura da 
instituição do Júri, esse cenário perdurou por pouco tempo, já que, através da Emenda de 
1969, em um contexto de profundas transformações políticas no Estado Brasileiro, novamente 
o Júri deixou de constar do texto reformado. Instaurou-se, a partir de então, um regime de 
traços fortemente autoritários e limitadores dos direitos e garantias individuais, influenciando, 
também e sobremaneira, a instituição popular, que, com a grave crise de eficácia sofrida pela 
soberania dos veredictos, viu-se praticamente morta. Com isso, até a década de 80, a 
instituição do Júri teve sua relevância muito diminuída na sociedade brasileira.29 
Entretanto, no ano de 1988, na consolidação do dito “Estado Democrático de 
Direito”, surge a chamada “Constituição Cidadã”. Em busca da redemocratização do Estado 
Brasileiro, a ideia do legislador constituinte foi retomar o status quo anterior à ditadura 
militar. Desse modo, o que fez a nova Carta constitucional foi, basicamente, reviver os 
princípios e ditames constitucionais que vigoravam em 1946, de modo que, no que diz 
respeito à instituição, a estrutura prevista pelo antigo texto foi renascida, trazendo com ela os 
princípios da soberania dos veredictos, do sigilo das votações, da plenitude de defesa, bem 
como a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida. Destaca-se, também, 
o fato de o Júri novamente haver sido inserido no capítulo “Dos direitos e garantias 
fundamentais”.30 
É de se concluir que a instituição do Júri no Brasil foi marcada por uma intensa 
oscilação entre períodos de crise e momentos áureos, conforme se vê desde sua consolidação 
até os dias atuais. Em verdade, no mundo todo o Júri sempre teveessa feição; ora respeitado e 
imponente, ora desacreditado e decadente. No Brasil, isso não foi diferente, já que, como se 
percebe, a cada Constituição a instituição teve seu tratamento bastante diverso, tendo sua 
importância restringida, ou então gozando de extrema relevância.31 
 
 
29 AZEVEDO, op. cit., p. 45. 
30 NUCCI, 2008, op. cit., p. 44. 
31 AZEVEDO, op. cit., p. 20. 
31 
 
 
3. O JÚRI COMO GARANTIA FUNDAMENTAL 
 
3.1. A Inserção do Júri no Rol das Garantias Fundamentais 
 
Conforme já anteriormente destacado, a instituição do Júri vem prevista em nossa 
Constituição no capítulo “Dos direitos e garantias fundamentais”. O artigo 5º, XXXVIII, 
expressamente prevê: “é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, 
assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos; 
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida”. 
Situado, então, no contexto dos direitos e garantias fundamentais, convém 
explicitar qual seria realmente a posição constitucional do Tribunal Popular; se um direito 
individual ou uma garantia individual. Considerando-se direito individual aquele que declara 
situação inerente à personalidade humana (como por exemplo: vida, liberdade, integridade 
física, etc.) e garantia individual aquela cuja finalidade é assegurar que o direito seja, com 
eficácia, efetivamente fruído, adotamos a posição doutrinária majoritária de que a instituição 
corresponde a uma garantia individual.32 
Temos, pois, que a instituição do Júri tem como finalidade precípua assegurar a 
efetivação de um direito, tem por fim a garantia da perfeita fruição de um direito. Ora, que 
direito é esse? Certo é que o Júri constitui uma garantia individual, mas garantia relacionada a 
quê? 
Muitos são os doutrinadores que entendem que o direito assegurado pela 
instituição do Júri é o direito à liberdade. Fernando da Costa Tourinho Filho, por exemplo, 
expressamente estabelece: 
Quando se diz que o seu traço fundamental consiste em ser uma garantia de 
tutela maior ao direito de liberdade, o que se quer dizer, a nosso juízo, é que, 
ficando o julgamento nas mãos da sociedade, representada por 7 de seus 
membros, longe das peias da lei, de precedentes, sumulas e doutrina, haverá 
mais garantia para o direito de liberdade.33 
 
A nosso ver, entretanto, tal posição apresenta grande equívoco. Compartilhamos a 
opinião de Guilherme de Souza Nucci, segundo a qual, uma vez considerado o Júri como 
 
32 NUCCI, 2006, op. cit., p. 689. 
33 TOURINHO FILHO, op. cit., p. 143. 
32 
garantia de uma tutela maior ao direito à liberdade, forçosamente teremos que admitir ser o 
júri um escudo protetor do criminoso que atenta contra a vida humana; essa, aliás, igualmente 
protegida pela Constituição Federal, de forma que o Júri jamais poderia proteger um em 
detrimento do outro.34 Se assim não fosse, por que os delitos dolosos contra a vida 
mereceriam um tribunal especial, com maior grau de proteção à liberdade? Um simples autor 
de furto, por exemplo, dada a menor relevância de seu ato, não mereceria maior proteção a 
seu direito de liberdade do que um autor de crime doloso contra a vida?35 
Entendemos, pois, tratar-se a instituição do Júri de uma garantia ao devido 
processo legal, este sim, uma garantia ao direito de liberdade. Não se trata, por conseguinte, 
da garantia direta à liberdade do acusado, mas sim do devido processo legal. Logo, 
independentemente de o réu haver sido condenado ou absolvido pelo plenário do Júri, a 
garantia terá cumprido sua função de assegurar o devido processo legal. Sob essa visão, temos 
como claro que o Júri não constitui um escudo protetor dos criminosos, já que sua função é 
meramente garantir que o processo siga os ditames estabelecidos pela lei, independentemente 
se for para concessão ou restrição da liberdade do acusado.36 
É preciso que se tenha em mente, e assim afirma a doutrina majoritária, que a 
instituição do Júri constitui apenas uma garantia fundamental formal, de modo que, de 
maneira alguma, se poderá considerá-la uma garantia fundamental essencial. Note-se, pois, 
que nos países em que o Júri não é previsto em seus ordenamentos – e não são poucos – 
também é perfeitamente cabível a subsistência de um Estado democrático de direito. Fosse o 
Tribunal Popular essencial ao pleno exercício da democracia, deveria também ele ser 
empregado no julgamento de todos os delitos tipificados e não apenas os dolosos contra a 
vida.37 
O Júri tornou-se uma garantia fundamental em nosso sistema de justiça por mera 
influência do constitucionalismo americano, o qual era muito apreciado pelos nossos 
legisladores. A Constituição americana previa a instituição como garantia indispensável ao 
cidadão e, tomando-a como base, assim também dispuseram nossos legisladores constituintes. 
Acontece que a previsão da instituição como garantia essencial tem razão de ser 
no sistema jurídico americano, onde o Júri realmente figura como uma garantia fundamental 
 
34 NUCCI, 2006, op. cit., p. 689. 
35 NUCCI, 2008, op. cit., p. 40. 
36 Ibid., p. 689. 
37 Ibid., p. 39. 
33 
 
 
material. A razão se dá pelo fato de que lá, muitos dos magistrados são eleitos pelo povo, de 
modo que se cria grande obstáculo à efetiva imparcialidade dos juízes. Ora, como poderá ser 
efetivamente imparcial um juiz cuja posse no cargo de magistrado resultou de uma campanha 
eleitoral? Como poderia julgar com imparcialidade o magistrado que soubesse, por exemplo, 
que aquele réu o apoiara em sua campanha? 
No Brasil, por outro lado, a maioria dos julgamentos é realizada por juízes 
togados e concursados, sem que haja qualquer influência política sobre seus cargos. 
Excepcionalmente, os magistrados das cortes superiores e aqueles advindos do chamado 
“quinto constitucional” são nomeados pelo Poder Executivo, não obstante, após tomarem 
posse no cargo, passam a gozar das mesmas garantias estendidas a todos os magistrados, tal 
qual a vitaliciedade. Esta e as demais garantias que envolvem o cargo de magistrado 
contribuem sobremaneira para a desvinculação política dos juízes. Não existe, pois, renovação 
de mandato, campanha eleitoral, nem qualquer tipo de demagogia populista, de forma que é 
plenamente plausível um julgamento absolutamente imparcial realizado por um juiz togado.38 
Desse modo, temos como certo que, no Brasil, o estabelecimento do Júri como 
garantia fundamental não encontra razão segura de ser, restando para justificá-la, apenas a 
influência do constitucionalismo norte-americano. A instituição como garantia individual, 
então, foi incorporada ao sistema em decorrência única de um ato meramente político, 
enquanto que sua manutenção como tal até os dias de hoje é fruto de um exacerbado 
tradicionalismo. É de se notar a influência que tal tradição exerce sobre nosso ordenamento, 
tendo em vista que a garantia da instituição do Júri, em decorrência da magnitude que 
alcançou, restou consagrada como cláusula pétrea em nossa constituição, de forma que nem 
mesmo uma emenda constitucional será capaz de suprimi-la do sistema. 
 
3.2. As Garantias Decorrentes do Tribunal do Júri 
 
Certo é que a Constituição Federal, em seu artigo 5º, além de prever a instituição 
do Júri, estabeleceu em seu favor garantias que são verdadeiros princípios constitucionais. 
Estes devem reger o procedimento do Júri de modo a garantirem sua efetividade – daí serem 
ditas garantias decorrentes, pois garantem a efetividade do Júri enquanto garantia38 NUCCI, 2008, op. cit., p. 40. 
34 
constitucional. São elas: Plenitude de Defesa, Sigilo das Votações, Competência para o 
Julgamento dos Crimes Dolosos contra a Vida e Soberania dos Veredictos. 
 
3.2.1. Plenitude de Defesa 
 
Um dos princípios mais importantes do processo penal é o da ampla defesa. Todo 
procedimento penal, de uma maneira geral, deverá ser regido pelo referido princípio, de sorte 
que jamais se conceberá qualquer acusação sem que haja correspondente direito de defesa. 
No cenário do Tribunal do Júri, tal princípio adquire forma peculiar. Trata-se o 
Júri de um procedimento penal e, por conseguinte, deverá ser regido pelo princípio da ampla 
defesa. Entretanto, o legislador constituinte, ao tratar das subgarantias da instituição, 
estabeleceu que, mais do que ampla, no Júri a defesa deverá ser plena. 
Muitos são os que afirmam não haver distinção substancial entre “ampla defesa” e 
“plenitude de defesa” e que creditam o termo “plenitude”, empregado pelo constituinte, ao 
simples fato de que a atual Carta, no que diz respeito ao Júri, incorporou o texto da 
Constituição de 1946, a qual também utilizava o referido termo. 
Entretanto, não nos parece correta essa visão. Mesmo que não tenha sido 
incorporado ao texto de maneira proposital pelo legislador, não se pode negar que a inserção 
do termo “plenitude de defesa” no texto constitucional foi bastante providencial, tendo em 
vista que seu significado vai muito além do termo “ampla defesa”. Nas palavras de Guilherme 
de Souza Nucci, “amplo é algo vasto, largo, copioso, enquanto que pleno equivale a completo, 
perfeito, absoluto”39. Desse modo, enquanto nos procedimentos penais gerais se busca a mais 
aberta possibilidade de defesa pelo acusado, possibilitando-o, para tal, de se utilizar de todos 
os recursos previstos em lei, no procedimento do Júri, a defesa deve ser perfeita. Dentro das 
limitações humanas, todos os meios com potencial para absolver o acusado deverão ser 
empregados, ou seja, a defesa deve ser verdadeiramente completa. 
Nesse compasso, no processo-crime comum, nem sempre que houver falhas na 
defesa técnica realizada pelo advogado, precisará o juiz declarar o réu indefeso e nomear 
outro defensor, já que, muitas das vezes, o próprio juiz poderá sanar o erro de ofício. No 
 
39 NUCCI, 2008, op. cit., p. 25. 
35 
 
 
procedimento do Júri, entretanto, percebendo o juiz qualquer defeito ou ausência de algum 
meio de prova útil ao acusado, deverá declarar o acusado indefeso. 
A explicação para tal reside no fato de que, como no Júri os jurados são juízes 
leigos, nada conhecendo sobre teses e argumentos jurídicos, não poderiam de forma alguma 
suprir qualquer deficiência da defesa. Por isso, então, no plenário do Júri a defesa deve se dar 
de forma perfeita, completa, sendo que uma defesa apenas regular terá grandes chances de 
colocar em risco a liberdade do acusado.40 
Outros, no entanto, defendem a tese de que jamais poderá dizer-se irrestrita a 
defesa, nem mesmo no âmbito do Júri. Caso assim o fosse, o princípio da plenitude de defesa 
restaria em absoluta contradição às normas que, por exemplo, estabelecessem prazos para a 
defesa, limites de testemunhas ou quaisquer outras limitações ao direito de defesa do acusado. 
Desse modo, segundo essa corrente, o termo “plenitude de defesa” refere-se ao fato de que, no 
Júri, goza-se da possibilidade de utilização, perante os jurados, de argumentos extrajurídicos, 
tais como religiosos, filosóficos, morais, emocionais, etc. Na Tribuna do Júri, qualquer 
argumentação é válida no exercício da defesa do acusado, seja essa argumentação jurídica ou 
extrajurídica. 
É nesse sentido, por exemplo, que se posiciona Elaine Borges Ribeiro dos Santos: 
A Constituição anterior falava em ampla defesa. A atual também trata do 
assunto, mas atribui, de forma extraordinária, exclusivamente para o Júri, a 
figura da “plenitude de defesa” (art. 5.º, XXXVIII, “a”), e este é o ponto 
nodal a frisar neste artigo: há uma diferença enorme entre “ampla defesa” e 
“plenitude de defesa”, sendo a última muito mais ampla e complexa. (...) É 
por causa disso que existe, só no Júri, plenitude de defesa, pois o defensor 
poderá usar de todos os argumentos lícitos para convencer os jurados. No 
Tribunal do Povo, todas as ponderações, indagações e atitudes do advogado 
estão ligadas umbilicalmente à plenitude defensória exercida no Júri.41 
 
A nosso ver, entretanto, tais correntes devem complementares, e não excludentes. 
Ao dizer irrestrito o direito de defesa do acusado, quer-se traduzir a ideia de que, dentro dos 
ditames previstos pela lei, é claro, e das limitações humanas, deverão ser utilizados todos os 
meios possíveis para a absolvição do réu. 
 
 
40 NUCCI, 2008, op. cit., p. 26. 
41 SANTOS, Elaine Borges Ribeiro dos. A plenitude defensória perante o tribunal do Povo. 2005. Disponível 
em: <http://www.amprs.org.br/arquivos/comunicao_noticia/elaineb2.pdf>. Acesso em: 31 mar. 14. p. 1. 
36 
3.2.2 Sigilos das Votações 
 
A garantia do Sigilo das Votações estabelece que a votação pelos jurados deverá 
se realizar em local reservado, de preferência na chamada “sala especial”, distante da vista do 
público. Note-se que o texto refere-se ao “sigilo das votações” e não ao “sigilo do voto”, de 
forma que o que se visa garantir pelo referido princípio é o ato de votar e não o voto 
propriamente dito. Isso quer dizer que o que se busca resguardar por essa garantia em 
específico, não é a cédula individual colocada pelo jurado, contendo “sim” ou “não”, mas o 
momento do jurado apor o voto na urna.42 Entretanto, cumpre notar que, a nosso ver, 
atualmente o “sigilo” estende-se tanto à votação quanto ao voto propriamente dito. Assim o é, 
pois, no momento da apuração, uma vez constatado pelo juiz o sentido majoritário dos votos, 
deverá ele encerrar a apuração sem que sejam apurados os votos restantes. Assim, por 
exemplo, se os quatro primeiros votos apurados apontarem no mesmo sentido, deverá o juiz 
pôr fim à apuração, já que os três votos faltantes não alterarão o resultado obtido. 
Dessa forma, temos como evidente o objetivo de resguardar o sigilo dos votos 
apostos pelos jurados. Uma vez não apurados todos os votos, torna-se impossível conhecer o 
voto individual de cada jurado, o que não aconteceria caso todos os votos fossem apurados e 
apontassem para uma unanimidade, por exemplo. Portanto, a nosso ver, o princípio do “sigilo 
das votações” abarca tanto o momento da votação quanto o conteúdo das cédulas apostas na 
urna pelos jurados. 
A finalidade de tal preceito é clara no sentido de eliminar qualquer tipo de 
influência ou pressão exercida sobre os jurados. Se os jurados proferissem seus votos na 
frente do público assistente, facilmente seriam tomados pela pressão exercida pelos presentes 
– que, aliás, comumente se manifestam durante a sessão do Júri – e teriam seus votos 
maculados pela influência externa. 
Apesar de já superada, houve discussão acerca da constitucionalidade de tal 
preceito, já que, segundo muitos afirmavam, o sigilo das votações afrontava claramente o 
princípio da publicidade. Entretanto, insta que se note que o próprio texto constitucional prevê 
a possibilidade de se limitar a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade 
ou o interesse social ou público assim o exigirem. Na questão em comento, tem-se como 
evidente o interesse social envolvido no fato de que os jurados devam estar plenamente livres 
 
42 NUCCI, 2008, op. cit., p. 31. 
37 
 
 
e isentos no momento da prolaçãode seus votos, de maneira que não mais se justifica essa 
discussão.43 Note-se que o sigilo das votações implica apenas e tão somente na restrição da 
publicidade do ato, como expressamente autoriza a Constituição nos casos de interesse 
público; não há que se dizer secreta a votação, tendo em vista que é realizada na presença do 
juiz, do promotor e do advogado do acusado. 
 
3.2.3. Competência para o Julgamento dos Crimes Dolosos contra a Vida 
 
O artigo 5º, XXXVIII, d, da Constituição Federal expressamente estabelece a 
competência do Tribunal do Júri para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida. Muito se 
discutiu na doutrina – hoje em dia o tema é praticamente pacífico - acerca da extensão da 
competência conferida ao Júri. Muitos afirmavam que se tratava de uma competência fixa, de 
forma que não caberia ao Júri o julgamento de nenhum delito que não os dolosos contra a 
vida. Entretanto, a doutrina majoritária, quase totalitária na atualidade e à qual nos filiamos, 
acredita que o texto constitucional impõe apenas uma competência mínima à instituição do 
Júri. Assim, todos os crimes dolosos cujo objeto jurídico é a vida – salvo os casos de foro 
privilegiado – deverão ser julgados pelo Tribunal do Júri; isso não impede, todavia, que 
outros delitos por ele também sejam julgados. 
Essa nos parece, sem dúvidas, a melhor posição. A Carta constitucional assegura 
o julgamento dos crimes dolosos contra a vida pelo Tribunal do Júri, não obstante, não 
estabelece que somente a eles será destinado o Tribunal Popular. Bem por isso, a lei ordinária 
pode atribuir ao Júri a competência para julgar crimes conexos aos dolosos contra a vida. 
Tendo em vista a frequente conexão entre os crimes dolosos contra a vida e outros 
delitos, não há como se conceber outra interpretação senão essa por nós adotada. Na conexão 
entre um crime de estupro e um de homicídio, por exemplo, muito frequente no cotidiano de 
nosso país, haveria necessidade de que cada um dos delitos fosse julgado em apartado, por 
juízos distintos, em muito comprometendo a celeridade processual. Temos, pois, que a 
competência do Tribunal do Júri não se limita apenas aos crimes dolosos contra a vida, mas se 
estende também aos a eles conexos. 
 
43 Ibid., p. 30. 
38 
Outra questão de relevante importância diz respeito à opção pelos crimes dolosos 
contra a vida no contexto do Tribunal do Júri. Guilherme de Souza Nucci, por exemplo, 
afirma tratar-se exclusivamente de uma questão de política legislativa. Para garantir que a 
instituição do Júri figurasse em nosso ordenamento, era preciso que um grupo qualquer de 
crimes fosse o eleito; desse modo, com respaldo na Constituição de 1946, sem maiores 
motivos, optou-se pelos crimes dolosos contra a vida.44 
Conforme já pontuado no início do trabalho, entretanto, não nos parece tratar-se 
de uma questão meramente política. A opção pelos crimes dolosos contra a vida, a nosso ver, 
deve-se ao fato de essa categoria delitiva possuir estreita relação com valores 
fundamentalmente sociais. O bem “vida” é, sem dúvida, o mais expressivo e relevante dos 
bens, e o direito à vida é, inquestionavelmente, o primordial dentre aqueles previstos pela 
nossa Constituição, de modo que se torna perfeitamente compreensível a opção pela 
intervenção da sociedade no julgamento dessas condutas.45 
É preciso que se consigne, todavia, a exceção quanto à competência para o 
julgamento do crime de latrocínio. Muito embora figure como delito da maior gravidade e 
atente também contra o bem “vida”, trata-se de crime complexo, de forma que atinge tanto o 
bem “vida” quanto o “patrimônio”. Dessa sorte, a competência para o julgamento do crime de 
latrocínio será da justiça comum e não do Júri. 
 
3.2.4 Soberania dos Veredictos 
 
A garantia da Soberania dos Veredictos, como objeto principal do presente 
trabalho, terá seu momento oportuno para uma análise mais detida, de maneira que possamos 
privilegiar suas peculiaridades e atermo-nos às relevantes questões que a circunscrevem. Por 
ora, cumpre-nos estabelecer que a referida garantia deve ser entendida como a 
impossibilidade de a decisão prolatada pelos jurados ser substituída por outra, de outro órgão 
judiciário.46 
Contudo, cumpre notar que a abrangência dessa garantia limita-se ao mérito da 
causa. Isso quer dizer que jamais outro órgão judiciário poderá proferir outra decisão de 
 
44 NUCCI, 2008, op. cit., p. 35. 
45 Ibid., p. 36. 
46 BADARÓ, Gustavo. Processo Penal. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012, p. 467. 
39 
 
 
mérito, substituindo aquela proferida pelos jurados. Entretanto, não caracterizará afronta à 
Soberania dos Veredictos a decisão de formação de novo conselho de sentença para reanálise 
da questão, dentro das hipóteses previstas em lei. Para tanto, a legislação ordinária 
expressamente prevê as hipóteses – bastante limitadas, é verdade - de cabimento de Apelação 
e Revisão Criminal, que em adequado momento serão analisadas. Não obstante, não é inútil 
pontuar que a jurisprudência, com grande frequência, acaba por ignorar a previsão legal e, de 
maneira contundente, interferir no mérito da decisão dos jurados. 
 
40 
4. OS JURADOS 
 
Antes de nos determos à análise da Soberania dos Veredictos, faz-se necessário 
que foquemos a pessoa do jurado, que é quem prolata a decisão soberana. Nesse intuito, 
questão de suma importância é a perquirição dos requisitos, previstos pelo Código de 
Processo Penal, para que um indivíduo figure como jurado em uma sessão do Júri, e a 
indagação acerca da conveniência desses parâmetros, tendo em vista as circunstâncias que 
rodeiam um julgamento pelo Júri e, principalmente, o poder outorgado à decisão dos jurados 
pela garantia da Soberania dos Veredictos. Dados, pois, a importância e o poder conferido às 
decisões do Júri pela garantia da Soberania dos Veredictos, extremada é a responsabilidade 
que recai sobre a pessoa dos jurados, de forma que muito cautelosa deverá ser a seleção do 
corpo julgador, sendo, portanto, imprescindível que se questionem os requisitos de 
recrutamento dos jurados. 
 
4.1. Os Requisitos para que um indivíduo possa ser alistado como Jurado 
 
O Código de Processo Penal é bastante sucinto no estabelecimento dos requisitos 
para que um indivíduo possa ser jurado. O texto, cujo vigor teve início em 1941, outorgou o 
direito-dever de ser jurado aos cidadãos maiores de 21 anos, isentos os maiores de 60 anos, 
escolhidos dentre aqueles de notória idoneidade. Contudo, a Lei 11.689/08, dando nova 
redação ao artigo 436 do CPP, modificou a idade mínima para 18 anos e elevou para 70 anos 
o limite para a concessão da isenção, mantendo, todavia, o requisito da notória idoneidade. 
Desde já atendo-nos à conveniência dos parâmetros previstos pelo texto legal, não 
nos soa razoável a citada redução da idade mínima para se ser jurado. Primeiramente, tendo 
em vista o requisito da notória idoneidade, ainda em vigor, independentemente do conceito 
tomado, se relacionado à capacidade ou às condutas dos indivíduos, mostra-se bastante 
dissonante a idade mínima de 18 anos prevista pela Lei de 2008. Ora, como pode alguém com 
apenas 18 anos já possuir notória idoneidade? Nas palavras de Edilson Mougenot Bonfim, 
não há que se duvidar que alguém nessa idade possa gozar de idoneidade, não obstante, não 
há como se conceber que, nessa idade, um indivíduo possua notória idoneidade. O grau de 
idoneidade está diretamente relacionado à experiência de vida do indivíduo, às ações por ele 
41 
 
 
praticadas no decorrer de sua vida, de forma que não há como se constatar “notoriedade”nos 
atos de um indivíduo que acaba de iniciar sua vida adulta.47 
Outrossim, embora o indivíduo já possa ser considerado civil e penalmente capaz 
para diversos atos aos 18 anos, parece-nos clara a inadequação do estabelecimento da referida 
idade como limite para se ser jurado. Como já mencionado anteriormente, o cenário do Júri é 
envolvido por um grande espectro de fatores de influência que, se não filtrados, podem guinar 
o veredicto final no plenário do Júri. Nesse compasso, inevitavelmente os jurados serão 
expostos ao “bombardeio” de informações veiculadas pela mídia, carregadas, na maioria das 
vezes, de uma violência sem tamanho e sem fundo verídico. Desse modo, é corriqueiro que se 
crie nos jurados uma percepção disforme em torno do delito. Igualmente poderosa é a pressão 
sob a qual atuam os jurados; a sociedade, representada por aqueles que os circundam, cobra-
lhes a tomada de posição que lhes parece correta. Cabe, pois, ao jurado, filtrar os fatores de 
influência – na medida do possível, é claro - para que possa prolatar seu veredicto baseado 
exclusivamente em sua íntima convicção. É nesse ponto, então, que, a nosso ver, esbarra a 
adoção da idade mínima de 18 anos, já que nos parece evidente a incompatibilidade entre a 
percepção necessária de que ora tratamos e a imaturidade de um indivíduo de 18 anos. 
Vale lembrar que, após a Emenda Constitucional 45/2004, passou-se a demandar 
dos candidatos à carreira da magistratura o mínimo de três anos de atividade jurídica, após o 
bacharelado em direito, de forma que, para que esteja capacitado para exercer a tarefa 
judicante, o candidato deverá ter por volta de 25 anos. O intuito da mudança foi claro no 
sentido de atribuir ao julgador um maior grau de maturidade, em vista da enorme 
responsabilidade exigida por sua função. Ora, no contexto do Tribunal Popular não é 
diferente, pois a responsabilidade é exatamente a mesma. Embora leigos, os jurados, mesmo 
que não baseados em regras de direito, deverão valer-se de enorme ponderação, necessitando, 
portanto, de alto grau de maturidade. Ora, por que, então, exige-se um período de experiência 
aos juízes togados e, quanto aos jurados, permite-se que já aos 18 anos possam encarregar-se 
da tarefa de julgar? Definitivamente, não há explicação plausível para tal.48 
Outro tanto se diga acerca da majoração da idade limite permissiva de isenção. 
Conforme dispõe a Lei 10.741/03, considera-se idoso aquele que possui idade igual ou 
superior a 60 anos, de sorte que o antigo texto coadunava-se ao conceito estipulado pela 
 
47 BONFIM, Edilson Mougenot. Júri: do Inquérito ao Plenário. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 187. 
48 NUCCI, 2008, op. cit., p. 122. 
42 
referida Lei. Ora, por qual motivo foi alterado esse parâmetro? Vale lembrar que a idade a que 
nos referimos diz respeito ao limite para que se possa requerer a isenção do serviço do Júri; 
não se está a impedir que um cidadão de 71 anos, por exemplo, caso queira, esteja 
possibilitado de servir ao Júri. Com a já citada alteração legal, passou-se a impor que todos os 
cidadãos com idade até 69 anos estejam obrigados à atividade jurisdicional, caso alistados 
como jurados. Mais uma vez atendo-se à “enxurrada” de circunstâncias que tocam a 
instituição do Júri, parece-nos imprudente a imposição do serviço jurisdicional a todos com 
idade inferior a 70 anos. Há, é verdade, inúmeras pessoas que, aos 70 anos, possuem perfeito 
poder de raciocínio e irretocável estabilidade emocional, entretanto, também não é menos 
certo que não são poucos aqueles que chegam a essa idade com o mecanismo mental bastante 
comprometido. Por essa razão, parece-nos ilógica a imposição do dever da atividade do Júri a 
todos aqueles que não alcançaram a idade de 70 anos, sendo que, após essa idade, caso 
queiram, poderão prosseguir no exercício jurisdicional.49 
Quanto ao requisito da notória idoneidade, a doutrina, a exemplo de Guilherme de 
Souza Nucci, tem entendido que tal termo refere-se à aptidão manifesta ou à competência 
publicamente reconhecida de um cidadão.50 
Outros, no entanto, dentre os quais se destaca Julio Fabrini Mirabete, posicionam-
se no sentido de que o termo “idoneidade” está relacionado à “conduta socialmente 
escorreita” por parte do indivíduo, de forma que o quesito não se completaria através da 
análise da aptidão do jurado, mas sim na perquirição do proceder social durante o transcorrer 
da vida de cada cidadão.51 A notória idoneidade, então, consistiria no reconhecimento pela 
sociedade da civilidade do indivíduo candidato a jurado. 
Entretanto, a prática tem demonstrado que tal requisito não passa de verdadeira 
utopia. Em uma pequena comarca, onde os indivíduos se conhecem uns aos outros, até seria 
factível a análise acerca da idoneidade de alguém, não obstante, nos grandes centros, onde as 
comarcas abrangem milhares ou até milhões de pessoas, torna-se absolutamente impraticável 
o rigor desse parâmetro. Dessa sorte, o que se tem feito é, a bem da verdade, ignorar tal 
requisito. No cotidiano forense, o alistamento é feito basicamente com base nos dados dos 
 
49 NUCCI, 2008, op. cit., p. 123. 
50 Ibid., p. 124. 
51 MIRABETE, Julio Fabrini apud ANSANELLI JÚNIOR, Angelo. O Tribunal do Júri e a Soberania dos 
Veredictos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, p. 77. 
43 
 
 
cartórios eleitorais e em listas absolutamente aleatórias, de maneira que o se leva realmente 
em conta é o quesito idade.52 
Além desses requisitos, exige-se, também, assim como ocorre para os cargos de 
magistrado, que o indivíduo seja cidadão brasileiro e que esteja no pleno gozo de seus direitos 
políticos. É bastante razoável, aliás, tal imposição, já que os jurados, no exercício de sua 
função, são verdadeiros juízes de fato, tendo em vista que a justiça que se busca no Júri não 
difere daquela visada pela magistratura organizada em carreira.53 
Existem, ainda, outros requisitos que, mesmo não previstos em lei, têm sido 
exigidos para que uma pessoa possa ser jurado. Nesse compasso, questão de extremada 
importância é a exigência da alfabetização para os jurados. Não obstante o Código de 
Processo Penal estabelecer que não serão excluídos os cidadãos em razão do grau de 
instrução, temos que, no caso dos analfabetos, estes não possuem grau de instrução algum. 
Devido à exigência da incomunicabilidade dos jurados, faz-se absolutamente necessário que 
eles sejam alfabetizados, caso contrário, como poderiam entender os quesitos que lhe são 
ofertados para que prolatem seus votos?54 
São levados em consideração, também, os problemas de ordem física e mental. 
Não será, por exemplo, concebível que um surdo-mudo figure como jurado em uma sessão do 
Júri, apesar de não consistir qualquer problema o fato de um indivíduo a que falte uma perna 
possa participar do Tribunal Popular. Temos, pois, que, com o máximo de razoabilidade, cada 
caso deva ser analisado individualmente, assim como ocorre nos casos de deficiência mental, 
em que o cidadão somente será impedido de ser jurado se constatado que o problema poderá 
comprometer sua perfeita percepção do caso. 
Nesse sentido, muito se tem discutido acerca da exigência de um nível cultural 
mínimo aos jurados. Enquanto alguns afirmam que tal requisito feriria frontalmente o caráter 
democrático do Júri, outros o entendem perfeitamente aceitável. A nosso ver, deve-se exigir 
que o jurado tenha, no mínimo, capacidade para compreender o caso e as teses que lhe são 
apresentadas, para que assim possa verdadeiramente julgar o acusado. Entretanto, ressalte-se 
que análise do cumprimento desse quesito deve, mais uma vez, ser realizadacom o máximo 
possível de razoabilidade. 
 
52 NUCCI, 2008, op. cit., p. 124. 
53 BONFIM, 2012, op. cit., p. 190. 
54 NUCCI, 2008, op. cit., p. 124. 
 
44 
Acerca da conveniência dos parâmetros estabelecidos, concluímos, portanto, não 
serem de todo adequados. Mostram-se, ainda, fruto de escassa reflexão do legislador sobre o 
tema, que, por sua importância, exigiria um maior cuidado legislativo. Outrossim, entendemos 
que outros que não os expressamente previstos pela legislação deverão ser também utilizados, 
no intuito de minimizarmos os riscos de comprometimento do resultado dos julgamentos pelo 
Júri. 
 
45 
 
 
5. CASUÍSTICA 
 
A questão da soberania dos veredictos, objeto primordial do presente trabalho, é 
tema de numerosos contornos. Vasta é a problemática que se cria a partir da contextualização 
do princípio na atuação prática do Tribunal do Júri e, nesse cenário, é muito importante o 
estabelecimento dos limites balizadores do referido preceito. 
A inquirição acerca da limitação da soberania dos veredictos se impõe 
principalmente em decorrência do confronto que existe entre a formação leiga dos jurados e o 
direito propriamente dito, tendo em vista que o julgamento por eles realizado perfaz-se de 
maneira absolutamente desvinculada de quaisquer ditames jurídicos. É especialmente em 
função dessa dicotomia que, em determinadas hipóteses, se torna necessária a mitigação do 
princípio em comento, já que, muitas das vezes, a decisão tomada pelo juiz leigo acaba se 
chocando frontalmente com o ordenamento jurídico vigente, de modo a ignorar o complexo 
de princípios e valores previstos pela Constituição Federal, com os quais, sem exceção, todas 
as decisões judiciárias deveriam harmonizar-se. 
Nesse cenário, perquire-se, ainda, se o Júri, enquanto tribunal popular, soberano e 
livre de amarras jurídicas, não teria justamente como escopo a possibilidade de proferir 
veredictos em sentidos contrários àqueles indicados pelo ordenamento jurídico, já que se vale 
de elementos de convicção totalmente díspares dos utilizados pelos tribunais togados, tal 
como a comoção social, por exemplo. 
Nesses casos, então, configura-se de grande relevância o estudo da Soberania dos 
Veredictos, para que, através da imposição dos limites ao princípio, possa-se estabelecer se o 
confronto criado entre a decisão prolatada pelos jurados e o direito está ou não abarcado pelo 
preceito da Soberania dos Veredictos. 
A título de ilustração dessa situação, expõe-se um caso em que a decisão dos 
jurados foi manifestamente contrária à prova dos autos, sendo, portanto, contrária também ao 
direito propriamente dito. 
 
46 
5.1. Apelação Nº 1.0216.10.008633-1/002 – TJMG 
 
No caso em questão, insurgiu-se o Ministério Público contra sentença prolatada na 
comarca de Diamantina, que absolveu o acusado da imputação do delito do art. 121, § 2º, 
inciso IV, c/c art. 14, inciso II, ambos do CP, nos termos do artigo 386, VI, do CPP. 
Em breve síntese, pugna o Ministério Público pela cassação da decisão ora 
referida, fundamentando o recurso apelatório ao argumento de que o Conselho de Sentença se 
distanciou da prova dos autos ao absolver o acusado. Desse modo, o órgão acusatório sustenta 
que a decisão dos jurados se deu de maneira manifestamente contrária à prova dos autos, 
sendo passível, portanto, de anulação via o recurso de apelação. 
Segundo a denúncia, no dia 08 de novembro de 2010, por volta das 19:00 horas, 
no município de Diamantina/MG, o então denunciado, consciente e voluntariamente, com 
animus necandi, impelido por motivo fútil e de maneira a dificultar a defesa, tentou ceifar a 
vida de sua esposa, desferindo-lhe vários golpes de marreta na cabeça, causando-lhe sérias 
lesões corporais, não a levando a óbito por razões alheias à vontade do agente. 
Consta dos autos que, na data supracitada, a vítima estava em sua residência 
tomando banho, quando foi surpreendida pelo acusado, o qual, armado com uma marreta, 
desferiu cerca de cinco golpes contra sua cabeça, com o claro objetivo de matá-la, só não 
atingindo seu intento por razões alheias à sua vontade, em virtude de a vítima haver 
conseguido fugir e receber pronto atendimento médico. 
Ao ser interrogado em juízo, o réu prontamente afirmou que: "os fatos narrados na 
denúncia são verdadeiros; que o depoente perdeu a cabeça; que o acusado pegou um 
martelinho e bateu na cabeça da vítima; que a vítima estava tomando banho; que o depoente 
fez isso por tentação da vítima; que o depoente viu a vítima no carro com outro homem (...)". 
Em seus depoimentos, tanto a vítima como todas as testemunhas ouvidas foram 
uníssonas no sentido de que não fora a primeira vez que o acusado a agredira por razões de 
ciúmes. Afirmaram ainda que o réu frequentemente bebia e que todos já imaginavam que o 
episódio iria acontecer uma hora ou outra, tendo em vista o ciúme descontrolado do acusado. 
Pois bem, conforme narrado, temos que o réu expressamente confessou a autoria 
do crime, apenas justificando sua atitude em razão do suposto adultério por parte da vítima. 
47 
 
 
Tem-se como certo, então, que o conjunto probatório indica de maneira absolutamente 
harmônica para a condenação do acusado. 
Entretanto, esse não foi o entendimento adotado pelo Conselho de Sentença no 
julgamento do caso. Os jurados, após responderem afirmativamente aos 1º, 2º e 3º quesitos, 
que indagavam a respeito da materialidade e da autoria do crime, quanto ao 4º quesito, que 
inquiria se absolviam o acusado, por maioria de votos, entenderam positivamente. Ora, 
infere-se, pois, que os jurados acolheram a tese da legítima defesa da honra sustentada pelo 
apelado. Após confessar a autoria delitiva, a única ressalva feita pelo apelado e pela tese 
defensiva, é a de que agira no sentido de defender a sua honra, já que havia suspeitas de que a 
esposa o traía, de modo que esse foi o único fundamento que sustentou a decisão dos jurados. 
Portanto, é evidente e manifesta a contrariedade existente entre a decisão dos 
jurados e as provas dos autos, de modo que não foi outro o entendimento do Tribunal de 
Justiça de Minas Gerais, que, em excelente acórdão, determinou a realização de novo 
julgamento.55 
Cumpre frisar que a legítima defesa da honra, na qual se apoiaram os jurados no 
intuito de inocentar o réu, não foi recepcionada pelo Código de Processo Penal, de forma que, 
além de haverem julgado o caso em contrariedade com as provas colhidas, o julgaram, 
também, em contrariedade com o direito vigente. 
Nesse compasso, mostram-se absolutamente claras as implicações da formação 
leiga dos jurados, que julgam totalmente desprendidos de quaisquer ditames jurídicos, 
levando em conta em seus fundamentos decisórios, muitas das vezes, elementos 
absolutamente ignorados pelo direito positivado, tal qual a honra ferida do marido, como no 
caso em questão, ou, às vezes, sentimentos de vingança, ou tantos outros. 
 
55 APELAÇÃO CRIMINAL - JÚRI - TENTATIVA DE HOMICÍDIO QUALIFICADO - LEGÍTIMA DEFESA 
DA HONRA - EXCLUDENTE DE ILICITUDE QUE PRESSUPÕE A COEXISTÊNCIA DOS REQUISITOS 
ALINHADOS NO ART. 25 DO CÓDIGO PENAL - NÃO OCORRÊNCIA - DECISÃO MANIFESTAMENTE 
CONTRÁRIA A PROVA DOS AUTOS - CASSAÇÃO DO VEREDICTO POPULAR - SUBMISSÃO DO 
RÉU A NOVO JULGAMENTO - RECURSO MINISTERIAL PROVIDO. I- E manifestamente contrária à 
prova dos autos a decisão do Conselho de Jurados que absolve o acusado do delito de tentativa de homicídio, 
ante o acolhimento da tese de legítima defesa, haja vista que restou provado a ausência dos requisitos necessários 
para se reconhecer referida excludente. II- A possibilidade

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